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32 Arq Bras Endocrinol Metab vol 45 nº 1 Fevereiro 2001
RESUMO
A Doença de Graves (DG) é responsável por mais de 90% dos casos de
hipertireoidismo em crianças. Na DG, o hipertireoidismo é causado por
anticorpos estimuladores dirigidos contra o receptor do TSH, conhecidos
como TRAb (TRAb, Thyrotropin Receptor Antibody), que mimetizam os
efeitos do TSH. O hipertireoidismo pode, ainda, ser devido a mutações nos
genes do receptor do TSH ou da sub-unidade α da proteína G e secreção
inadequada de TSH, ao passo que tireotoxicose pode ser causada por
tireoidite de Hashimoto ou tireoidite sub-aguda. O tratamento inicial da
DG é feito com drogas antitireoidianas (DAT) e o tratamento definitivo
com DAT, tireoidectomia ou 131I. Nenhum oferece segurança, efetividade
e eutireoidismo permanente. β-bloqueadores podem ser usados para
diminuir os sinais adrenérgicos. As DAT inibem a síntese de T3 e T4 e agem
sobre o sistema imune; o propiltiouracil (PTU) diminui a conversão periféri-
ca de T4 a T3. Recomenda-se PTU, 5-10mg/kg/dia, em três tomadas; ou
metimazol, 0,5-1mg/kg/dia, em tomada única. L-tiroxina (100µg/m2/dia)
deve ser adicionada quando se obtém o eutireoidismo. A taxa de remis-
são é muito baixa. Efeitos adversos leves (rash cutâneo, náusea, cefaléia,
artralgias) são mais freqüentes, enquanto os mais graves (hepatite, vas-
culite, purpura fulminans e agranulocitose) raros. A recidiva pode ser
tratada com novo ciclo de DAT, tireoidectomia ou 131I. A taxa de morta-
lidade com a cirurgia é baixa (0,08%) e o índice de cura é de 80%. O 131I
é seguro e econômico. Ultimamente tem sido utilizado com maior fre-
qüência como primeira opção de terapia definitiva em vários países.
Doses elevadas são utilizadas para se obter ablação total da glândula.
Repete-se o 131I se necessário. O hipotireoidismo (pós-cirurgia ou 131I)
deve ser adequadamente tratado com l-tiroxina. A cirurgia e o 131I são
indicados nos hipertireoidismos por mutações nos genes do receptor do
TSH ou da sub-unidade α da proteína G. A cirurgia é a melhor opção nos
tumores produtores de TSH. Na síndrome de resistência ao hormônio
tireoidiano, T3 ou ácido tri-iodotiroacético (TRIAC) têm sido empregados.
Causas de tireotoxicose por ruptura folicular são manejadas apenas com
β-bloqueadores. (Arq Bras Endocrinol Metab 2001;45/1:32-36)
Unitermos: Doença de Graves; TRAb; Sub-unidade α; Proteína G; Anti-
tireoidianos; 131I-Iodo
ABSTRACT
Graves’ disease (GD) is responsible for more than 90% of all cases of
hyperthyroidism in children. Hyperthyroidism in GD is due to stimulating
antibodies directed to TSH receptors, known as TRAb (Thyrotropin Recep-
tor Antibody), that mimic the effects of TSH. Infrequent causes of hyper-
thyroidism include activating mutations of genes related to TSH receptors
and G protein α subunit and inadequate secretion of TSH seen in pituitary
TSH secreting tumors and thyroid hormone resistance syndrome (THRS)
while thyrotoxicosis is seen in Hashimoto’s and subacute thyroiditis. Initial
treatment of GD is done with antithyroid drugs (ATD) while definitive
treatment is accomplished with either ATD, radioactive iodine (131I) or
revisão
Tratamento do Hipertireoidismo na Infância
e Adolescência
Romolo Sandrini
Suzana Nesi França
Luiz de Lacerda
Hans Graf
UEP - Unidade de Endocrinologia
Pediátrica do Hospital de Clínicas da
Universidade Federal do Paraná
(RS,SNF,LL) e SEMPR -
Serviço de Endocrinologia e
Metabologia do Hospital de Clínicas
da Universidade Federal do Paraná
(HG), Curitiba, Paraná.
Recebido em 15/12/00
Aceito em 10/01/01
Tratamento do Hipertireoidismo na Infância
Sandrini et al.
33
Arq Bras Endocrinol Metab vol 45 nº 1 Fevereiro 2001
subtotal thyroidectomy. None of these alternatives is
totally safe, effective and able to afford a perma-
nent euthyroid state. β-blockers can be used in all
forms of hyperthyroidism to attenuate sympathetic
signs. ATD inhibit T3 and T4 synthesis and show
immunosuppressive effect. Propylthiouracil (PTU)
reduces the T4 to T3 conversion. PTU, 5-10mg/kg/d, or
methymazole, 0.5-1.0mg/kg, once a day, are com-
monly used. l-thyroxine, 100µg/m2/day should be
added once the child is euthyroid. Remission rate is
low. Mild adverse effects (rash, nausea, headache,
and arthralgia) are not infrequent, whereas severe
side effects (hepatitis, vasculitis, purpura fulminans
and agranulocytosis) are fortunately rare. Recur-
rences can be treated with a new cycle of ATD, 131I
or thyroidectomy. Mortality rate in thyroidectomy is
low (0.08%) and the cure rate is around 80%. 131I is
safe and cheap. It’s use as first choice therapy is
increasing in different countries. High enough doses
of 131I that lead to a complete ablation of the gland
are advocated. Hypothyroidism should be ade-
quately treated with l-thyroxine. Surgery and 131I are
indicated to patients with TSH receptor and G protein
α subunit gene mutations. Surgery also is the best
treatment for pituitary TSH secreting tumors. In
patients with THRS, T3 or triiodothyroacetic acid
(TRIAC) have been used. Thyrotoxicosis due to follic-
ular disruption is managed with β-blockers. (Arq Bras
Endocrinol Metab 2001;45/1:32-36)
Keywords: Graves disease; TRAb; α subunit; G pro-
tein; Anti-thyroid drugs; 131I-Iodine
CONSIDERAÇÕES GERAIS SOBRE O HIPER-
TIREOIDISMO EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES
A DOENÇA DE GRAVES (DG) é a causa mais comum de
hipertireoidismo em crianças. A prevalência da DG,
responsável por mais de 90% dos casos de hiper-
tireoidismo, é de aproximadamente 0,02% (1:5.000)
em crianças. A DG é pouco freqüente antes dos 5
anos, aumenta na puberdade e tem um pico máximo
entre 11 e 15 anos, sendo sua incidência na infância
menor que nos adultos (1,2). As meninas são aproxi-
madamente 5 vezes mais afetadas do que os meninos
(3). A DG é uma doença autoimune, na qual o hiper-
tireoidismo é causado pela produção de anticorpos
estimuladores dirigidos contra o receptor do TSH,
conhecidos como TRAb (TRAb, Thyrotropin Receptor
Antibody), que mimetizam os efeitos do TSH nas célu-
las foliculares da tireóide, estimulando a hiperpro-
dução de T4 e T3, bem como a hiperplasia da glându-
la (4). O hipertireoidismo por DG na infância geral-
mente se desenvolve de forma insidiosa, não sendo
facilmente diagnosticado nas fases iniciais da doença.
Em geral, em pré-púberes a duração dos sintomas é
mais longa do que em pacientes adolescentes. Isto
provavelmente se deve à dificuldade do diagnóstico e à
raridade da doença nas crianças menores (4). Pratica-
mente 100% dos pacientes apresentam bócio difuso e
sua ausência deixa dúvidas sobre o diagnóstico (5). As
alterações de comportamento são mais freqüentes na
criança do que no adulto e incluem irritabilidade, ner-
vosismo, alteração de conduta, intranqüilidade e
diminuição do rendimento escolar (4,5). Aumento da
idade estatural e da maturação esquelética são observa-
dos em mais da metade dos pacientes sem repercussão
na estatura final (6). Alterações oculares estão pre-
sentes na maioria dos casos, porém com menor gravi-
dade que nos adultos (7). O diagnóstico da DG, na
maioria dos casos, se baseia nos achados de história
clínica e de exame físico. A confirmação diagnóstica se
fundamenta na presença de T3 e T4 total e T4 livre
aumentados, associados a valores suprimidos de TSH.
Pacientes pré-púberes com DG costumam ter níveis
proporcionalmente mais elevados de T3 do que
pacientes púberes, refletindo a maior demora no diag-
nóstico (7). A presença de níveis elevados de TRAb
confirma o diagnóstico do hipertireoidismo por causa
auto-imune. A cintilografia de tireóide na doença de
Graves mostra uma distribuição difusa e homogênea
do isótopo com valores aumentados de captação com
131I (4). Mutações no gene do receptor do TSH ou do
gene da sub-unidade α da proteína G podem levar a
um hipertireoidismo por estimulação constitutiva da
adenilciclase e aumento dos níveis de AMPc intracelu-
lar (8). Se a mutação é germinativa, o quadro clínico
resultante pode ser de um hipertireoidismo congênito
intenso (8). Em outros casos pode ocorrer uma forma
menos exuberante de hipertireoidismo, que é transmi-
tida de forma autossômica nos casos de mutação do
receptor do TSH ou fazer parte da síndrome de
McCune Albright nos casos de mutação do gene da
sub-unidade α da proteína G (8). A mutação somática
do receptor do TSH pode levar à formação de um ade-
noma tóxico, situação raramente encontrada na cri-
ança e no adolescente (2). Outra causa rara de hiper-
tireoidismo em crianças inclui a produção inadequada
de TSH, por tumores hipofisários produtores de TSH
e na síndrome de resistência ao hormônio tireoidiano
(1,4). Nestes casos iremos encontrar níveis elevados de
T4 livre na presença de valores normais ou aumentados
de TSH (2). Causas de tireotoxicose por ruptura foli-
cular e liberação de hormônios tireoideanos incluem a
tireoidite de Hashimoto e, mais raramente, a tireoidite
sub-aguda. Caracteristicamente nestes casos encon-
Tratamento do Hipertireoidismo na Infância
Sandrini et al.
34 Arq Bras Endocrinol Metab vol 45 nº 1 Fevereiro 2001
traremos uma captação diminuída de iodo radioativo
pela tireóide (2). Deve ser lembrado que o uso de
doses farmacológicas de hormônios tireoidianos é uma
causa de tireotoxicose na ausência de bócio, com
quadro bioquímico semelhante ao da tireoidite sub-
aguda.
TRATAMENTO DO HIPERTIREOIDISMO DA
DOENÇA DE GRAVES
Como a imensa maioria dos casos de hipertireoidismo
na infância e na adolescência é causada pela DG, o
tratamento da última será abordado de forma mais
aprofundada. Os objetivos primordiais do tratamento
são a restauração e a manutenção, de forma rápida e
segura, de um estado eutireoideu permanente. O
tratamento inicial da DG deve ser com o uso de dro-
gas antitireoideanas (DAT) até se obter o eutireoidis-
mo, e o tratamento definitivo pode então ser realizado
por três formas: uso prolongado de DAT (tionami-
das), tireoidectomia ou iodo radioativo. Nenhuma das
três alternativas preenche todos os critérios de segu-
rança, efetividade e estabelecimento de um eutireoidis-
mo permanente. No tratamento medicamentoso, da
mesma forma como no hipertireoidismo em pacientes
adultos, as tionamidas são a escolha inicial. Mais de
90% dos pacientes são controlados em até 8 semanas.
Neste ínterim, os pacientes com sintomatologia muito
intensa devem ser tratados com β-bloqueadores. O
mais largamente utilizado é o propranolol, na dose de
1-2mg/kg/dia, dividido em 3 tomadas. As tionamidas
bloqueiam a síntese dos hormônios tireoidianos
porque inibem a oxidação e a organificação do iodeto
tireoideano, exercendo também um efeito supressivo
sobre o sistema imune. O propiltiouracil (PTU) adi-
cionalmente diminui a conversão periférica de T4 a T3.
Podem ser utilizados o PTU, na dose de 5-
10mg/kg/dia, em três tomadas ou o metimazol
(MTZ), na dose de 0,5-1,0mg/kg, em tomada única
diária. A aderência ao tratamento costuma ser melhor
com o último esquema, em dose única de MTZ, ao
qual se associa l-tiroxina no momento em que se
obtém o eutireoidismo. A dose de l-tiroxina gira ao
redor de 100µg/m2/dia e deve manter normais os
níveis plasmáticos de TSH. Este esquema, conhecido
como bloqueio/reposição, mantém a glândula inibida
sem o inconveniente do hipotireoidismo, e permite
utilizar com boa aderência o tratamento medicamen-
toso por vários anos. Além do mais, este último esque-
ma é vantajoso porque diminui a freqüência dos exa-
mes laboratoriais e de visitas médicas. A duração do
tratamento é variável, mas em geral preconiza-se um
período mínimo de 2 anos. Após a suspensão do
medicamento a criança deve ser examinada regular-
mente, pois a taxa de remissão (definida como mais de
1 ano em eutireoidismo) é muito baixa, da ordem de
25% após 2 anos de tratamento e de 50% após 5 anos
de uso da droga (11). A remissão em crianças pré-
púberes é mais rara comparada com pacientes já na
puberdade. Alguns pacientes poderão desenvolver
espontaneamente hipotireoidismo. Embora o desa-
parecimento do bócio e os valores normalizados de
TRAb possam apontar para uma taxa maior de remis-
são, não existem parâmetros que permitam predizer de
forma previsível o aspecto evolutivo da doença. Por
isto, cada paciente deve ser tratado de forma individu-
alizada. Apenas 19% de nossos 63 pacientes com DG
com menos de 18 anos entraram em remissão com uso
prolongado de DAT (12). O endocrinologista
pediátrico deve conhecer os riscos e benefícios das
tionamidas. Em torno de 2 a 5% dos pacientes desen-
volvem rash cutâneo, náusea, cefaléia, artralgias ou
febre, que costumam ser transitórios. Entretanto se
persistirem, deve-se trocar a tionamida. Efeitos
maiores incluem hepatite, vasculite, púrpura fulminans
e agranulocitose (13). As últimas podem levar a efeitos
secundários graves e mesmo ao óbito. Por esse moti-
vo, é importante prevenir aos familiares sobre o risco
de seu uso. A agranulocitose costuma ser acompanha-
da de faringite, febre e outros sinais e sintomas sistêmi-
cos de infecção. Uma vez diagnosticada, deve-se hos-
pitalizar o paciente e iniciar tratamento com antibióti-
co. Recomenda-se a realização de hemograma antes
do início da DAT e, durante o tratamento, quando é
encontrado qualquer um dos achados acima descritos.
Os efeitos secundários são mais freqüentes com doses
elevadas de MTZ e parece não existir dose dependên-
cia com o PTU. Os efeitos secundários das DAT são
mais freqüentes nas crianças que nos adultos, girando
em torno de 5% a 32% e costumam ocorrer mais fre-
qüentemente nos primeiros meses do uso da droga
(1,14). Com a falta de aderência às DAT, as compli-
cações após a reintrodução das DAT costumam ser
mais graves. Alguns pacientes, geralmente em uso de
PTU, podem apresentar uma síndrome semelhante ao
lupus sistêmico, com febre, púrpura, esplenomegalia e
granulocitopenia que, em alguns casos pode ser grave,
com glomerulonefrite e envolvimento pulmonar. A
pesquisa de células LE geralmente é positiva. Pode
ocorrer vasculite, associada com ANCA positivo (anti-
neutrophil cytoplasmic autoantibodies). Na nossa expe-
riência, de 52 meninas e 13 meninos, com menos que
18 anos de idade, encontramos 19% de efeitos
secundários que incluíam agranulocitose, artrite, púr-
Tratamento do Hipertireoidismo na Infância
Sandrini et al.
35
Arq Bras Endocrinol Metab vol 45 nº 1 Fevereiro 2001
pura, síndrome lupus-símile, hepatite e púrpura fulmi-
nans (12). Na recidiva do hipertireoidismo pode-se
optar por novo ciclo de antitireoidianos; indicar
tireoidectomia, após restauração do eutireoidismo ou
usar radioiodo. Em pacientes com bócios grandes a
cirurgia pode ser a melhor forma de tratamento,
podendo ser indicada como primeira opção de trata-
mento após a obtenção do eutireoidismo (1,10). A
tireoidectomia deve contemplar uma retirada quase
total da glândula, de forma a obter a cura da doença e
evitar a recorrência do hipertireoidismo. Os pacientes
devem estar eutireoidianos por ocasião da cirurgia e,
para tanto, se acrescenta às DAT lugol (5 a 10 gotas 3
vezes ao dia) ou solução saturada de iodeto de potás-
sio, (2 a 10 gotas ao dia). O iodo, além de bloquear a
liberação dos hormônios tireoidianos, reduz a vascu-
larização da glândula. A taxa de mortalidade com a
cirurgia é de 0,08% e leva a cura em torno de 80% dos
pacientes. Existem riscos potenciais no tratamento
cirúrgico, como hipoparatireoidismo permanente e
lesão dos nervos laríngeo recorrentes. Por isto, a
importância de que seja realizada por um cirurgião
com grande experiência. A terceira opção de trata-
mento, o radioiodo, parece ser uma forma segura e
econômica de tratar o hipertireoidismo em crianças e
adolescentes. Mais de 90% dos pacientes são curados e
raramente os efeitos secundários são importantes.
Existe hoje uma tendência em vários países para um
aumento do uso do radioiodo como primeira opção de
terapia definitiva após a recidiva com a suspensão da
DAT. Em geral administra-se o radioiodo após um
período de DAT e normalização do níveis de T4 total
e T4 livre, devendo-se suspender a DAT 5 dias antes
do 131I. No nosso serviço, inicialmente utilizávamos
doses relativamente baixas de radioiodo, em torno de
5mCi (calculadas em função do volume da glândula e
dos valores de captação de 131I) objetivando tornar a
criança ou o adolescente eutireóideo. Entretanto,
doses baixas podem levar à persistência do hiper-
tireoidismo. Além disso, o acidente de Chernobyl, na
Ucrânia, mostrou que a exposição ambiental a doses
baixas de 131I aumentava de forma importante a
incidência de carcinoma papilífero, especialmente em
crianças de pouca idade (9). Como um dos principais
objetivos do tratamento da doença de Graves em cri-
anças é a cura rápida, definitiva e com segurança do
hipertireoidismo, utilizamos atualmente doses mais
elevadas de 131I, em torno de 150-200µCi/g de teci-
do glandular, suficientes para promover uma ablação
total da glândula. Se houver persistência do hiper-
tireoidismo após 3 a 6 meses, deve ser feita uma segun-
da dose de 131I. Os pais dos pacientes devem estar
cientes da necessidade do tratamento definitivo com l-
tiroxina em dose adequada. Em adultos, o uso do
radioiodo nos últimos cinqüenta anos não mostrou
aumento da incidência de câncer de tireóide,
leucemias, diminuição da fertilidade, lesão das células
germinativas ou anomalias congênitas na prole de
pacientes tratados durante a infância (10). Na reali-
dade, a incidência de câncer de tireóide após 20 anos
de tratamento é maior em pacientes tratados com
DAT (1/132 pacientes tratados) do que com 131I
(1/783 pacientes tratados) (10). Em crianças com DG
o radioiodo é seguro, embora não se tenha uma expe-
riência acumulada como aquela de pacientes adultos.
As taxas de cura a longo prazo são superiores a 90%.
TRATAMENTO DE OUTRAS FORMAS DE
HIPERTIROIDISMO
A opção terapêutica ideal para nódulos hiperfuncio-
nantes de tireóide, por mutação somática do gene do
receptor do TSH, é a cirurgia, com retirada do lobo
ipsilateral (2). Recentemente tem sido utilizada, com
sucesso, a escleroterapia com etanol para nódulos tó-
xicos em adultos, podendo ser uma alternativa tera-
pêutica em casos selecionados em outras faixas etárias
(15). Nos quadros de mutação germinativa do recep-
tor do TSH com hipertireoidismo congênito intenso,
com bócio difuso, o tratamento inicial dever ser feito
com DAT, seguido de tireoidectomia subtotal ou 131I
(16). Os casos de produção inadequada de TSH por
tumor hipofisário produtor de TSH são tratados com
hipofisectomia (preferencialmente transfenoidal);
enquanto que na síndrome de resistência ao hormônio
tireoidiano com hipertireoidismo associado, o trata-
mento pode ser feito com T3 ou ácido tri-
iodotiroacético (TRIAC) (17). Causas de tireotoxi-
cose, por ruptura folicular e liberação de hormônios
tireoideanos, que incluem a tireoidite de Hashimoto e
mais raramente a tireoidite sub-aguda, devem ser trata-
dos com β-bloqueadores até a resolução da fase de
hipertireoidismo.
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Tratamento do Hipertireoidismo na Infância
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36 Arq Bras Endocrinol Metab vol 45 nº 1 Fevereiro 2001
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17. Refetoff S, Weiss RE, Usala SJ. The syndromes of resis-
tance to thyroid hormone. Endocr Rev 1993;14:348-99.
Endereço para correspondência:
Romolo Sandrini
UEP – Unidade de Endocrinologia Pediátrica
Departamento de Pediatria da Universidade Federal do
Paraná
Rua Padre Camargo 250
80.060-240 Curitiba, PR
Fax: 55 (41) 360-5356
e.mail: sandrini@reitoria.ufpr.br

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  • 1. 32 Arq Bras Endocrinol Metab vol 45 nº 1 Fevereiro 2001 RESUMO A Doença de Graves (DG) é responsável por mais de 90% dos casos de hipertireoidismo em crianças. Na DG, o hipertireoidismo é causado por anticorpos estimuladores dirigidos contra o receptor do TSH, conhecidos como TRAb (TRAb, Thyrotropin Receptor Antibody), que mimetizam os efeitos do TSH. O hipertireoidismo pode, ainda, ser devido a mutações nos genes do receptor do TSH ou da sub-unidade α da proteína G e secreção inadequada de TSH, ao passo que tireotoxicose pode ser causada por tireoidite de Hashimoto ou tireoidite sub-aguda. O tratamento inicial da DG é feito com drogas antitireoidianas (DAT) e o tratamento definitivo com DAT, tireoidectomia ou 131I. Nenhum oferece segurança, efetividade e eutireoidismo permanente. β-bloqueadores podem ser usados para diminuir os sinais adrenérgicos. As DAT inibem a síntese de T3 e T4 e agem sobre o sistema imune; o propiltiouracil (PTU) diminui a conversão periféri- ca de T4 a T3. Recomenda-se PTU, 5-10mg/kg/dia, em três tomadas; ou metimazol, 0,5-1mg/kg/dia, em tomada única. L-tiroxina (100µg/m2/dia) deve ser adicionada quando se obtém o eutireoidismo. A taxa de remis- são é muito baixa. Efeitos adversos leves (rash cutâneo, náusea, cefaléia, artralgias) são mais freqüentes, enquanto os mais graves (hepatite, vas- culite, purpura fulminans e agranulocitose) raros. A recidiva pode ser tratada com novo ciclo de DAT, tireoidectomia ou 131I. A taxa de morta- lidade com a cirurgia é baixa (0,08%) e o índice de cura é de 80%. O 131I é seguro e econômico. Ultimamente tem sido utilizado com maior fre- qüência como primeira opção de terapia definitiva em vários países. Doses elevadas são utilizadas para se obter ablação total da glândula. Repete-se o 131I se necessário. O hipotireoidismo (pós-cirurgia ou 131I) deve ser adequadamente tratado com l-tiroxina. A cirurgia e o 131I são indicados nos hipertireoidismos por mutações nos genes do receptor do TSH ou da sub-unidade α da proteína G. A cirurgia é a melhor opção nos tumores produtores de TSH. Na síndrome de resistência ao hormônio tireoidiano, T3 ou ácido tri-iodotiroacético (TRIAC) têm sido empregados. Causas de tireotoxicose por ruptura folicular são manejadas apenas com β-bloqueadores. (Arq Bras Endocrinol Metab 2001;45/1:32-36) Unitermos: Doença de Graves; TRAb; Sub-unidade α; Proteína G; Anti- tireoidianos; 131I-Iodo ABSTRACT Graves’ disease (GD) is responsible for more than 90% of all cases of hyperthyroidism in children. Hyperthyroidism in GD is due to stimulating antibodies directed to TSH receptors, known as TRAb (Thyrotropin Recep- tor Antibody), that mimic the effects of TSH. Infrequent causes of hyper- thyroidism include activating mutations of genes related to TSH receptors and G protein α subunit and inadequate secretion of TSH seen in pituitary TSH secreting tumors and thyroid hormone resistance syndrome (THRS) while thyrotoxicosis is seen in Hashimoto’s and subacute thyroiditis. Initial treatment of GD is done with antithyroid drugs (ATD) while definitive treatment is accomplished with either ATD, radioactive iodine (131I) or revisão Tratamento do Hipertireoidismo na Infância e Adolescência Romolo Sandrini Suzana Nesi França Luiz de Lacerda Hans Graf UEP - Unidade de Endocrinologia Pediátrica do Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná (RS,SNF,LL) e SEMPR - Serviço de Endocrinologia e Metabologia do Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná (HG), Curitiba, Paraná. Recebido em 15/12/00 Aceito em 10/01/01
  • 2. Tratamento do Hipertireoidismo na Infância Sandrini et al. 33 Arq Bras Endocrinol Metab vol 45 nº 1 Fevereiro 2001 subtotal thyroidectomy. None of these alternatives is totally safe, effective and able to afford a perma- nent euthyroid state. β-blockers can be used in all forms of hyperthyroidism to attenuate sympathetic signs. ATD inhibit T3 and T4 synthesis and show immunosuppressive effect. Propylthiouracil (PTU) reduces the T4 to T3 conversion. PTU, 5-10mg/kg/d, or methymazole, 0.5-1.0mg/kg, once a day, are com- monly used. l-thyroxine, 100µg/m2/day should be added once the child is euthyroid. Remission rate is low. Mild adverse effects (rash, nausea, headache, and arthralgia) are not infrequent, whereas severe side effects (hepatitis, vasculitis, purpura fulminans and agranulocytosis) are fortunately rare. Recur- rences can be treated with a new cycle of ATD, 131I or thyroidectomy. Mortality rate in thyroidectomy is low (0.08%) and the cure rate is around 80%. 131I is safe and cheap. It’s use as first choice therapy is increasing in different countries. High enough doses of 131I that lead to a complete ablation of the gland are advocated. Hypothyroidism should be ade- quately treated with l-thyroxine. Surgery and 131I are indicated to patients with TSH receptor and G protein α subunit gene mutations. Surgery also is the best treatment for pituitary TSH secreting tumors. In patients with THRS, T3 or triiodothyroacetic acid (TRIAC) have been used. Thyrotoxicosis due to follic- ular disruption is managed with β-blockers. (Arq Bras Endocrinol Metab 2001;45/1:32-36) Keywords: Graves disease; TRAb; α subunit; G pro- tein; Anti-thyroid drugs; 131I-Iodine CONSIDERAÇÕES GERAIS SOBRE O HIPER- TIREOIDISMO EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES A DOENÇA DE GRAVES (DG) é a causa mais comum de hipertireoidismo em crianças. A prevalência da DG, responsável por mais de 90% dos casos de hiper- tireoidismo, é de aproximadamente 0,02% (1:5.000) em crianças. A DG é pouco freqüente antes dos 5 anos, aumenta na puberdade e tem um pico máximo entre 11 e 15 anos, sendo sua incidência na infância menor que nos adultos (1,2). As meninas são aproxi- madamente 5 vezes mais afetadas do que os meninos (3). A DG é uma doença autoimune, na qual o hiper- tireoidismo é causado pela produção de anticorpos estimuladores dirigidos contra o receptor do TSH, conhecidos como TRAb (TRAb, Thyrotropin Receptor Antibody), que mimetizam os efeitos do TSH nas célu- las foliculares da tireóide, estimulando a hiperpro- dução de T4 e T3, bem como a hiperplasia da glându- la (4). O hipertireoidismo por DG na infância geral- mente se desenvolve de forma insidiosa, não sendo facilmente diagnosticado nas fases iniciais da doença. Em geral, em pré-púberes a duração dos sintomas é mais longa do que em pacientes adolescentes. Isto provavelmente se deve à dificuldade do diagnóstico e à raridade da doença nas crianças menores (4). Pratica- mente 100% dos pacientes apresentam bócio difuso e sua ausência deixa dúvidas sobre o diagnóstico (5). As alterações de comportamento são mais freqüentes na criança do que no adulto e incluem irritabilidade, ner- vosismo, alteração de conduta, intranqüilidade e diminuição do rendimento escolar (4,5). Aumento da idade estatural e da maturação esquelética são observa- dos em mais da metade dos pacientes sem repercussão na estatura final (6). Alterações oculares estão pre- sentes na maioria dos casos, porém com menor gravi- dade que nos adultos (7). O diagnóstico da DG, na maioria dos casos, se baseia nos achados de história clínica e de exame físico. A confirmação diagnóstica se fundamenta na presença de T3 e T4 total e T4 livre aumentados, associados a valores suprimidos de TSH. Pacientes pré-púberes com DG costumam ter níveis proporcionalmente mais elevados de T3 do que pacientes púberes, refletindo a maior demora no diag- nóstico (7). A presença de níveis elevados de TRAb confirma o diagnóstico do hipertireoidismo por causa auto-imune. A cintilografia de tireóide na doença de Graves mostra uma distribuição difusa e homogênea do isótopo com valores aumentados de captação com 131I (4). Mutações no gene do receptor do TSH ou do gene da sub-unidade α da proteína G podem levar a um hipertireoidismo por estimulação constitutiva da adenilciclase e aumento dos níveis de AMPc intracelu- lar (8). Se a mutação é germinativa, o quadro clínico resultante pode ser de um hipertireoidismo congênito intenso (8). Em outros casos pode ocorrer uma forma menos exuberante de hipertireoidismo, que é transmi- tida de forma autossômica nos casos de mutação do receptor do TSH ou fazer parte da síndrome de McCune Albright nos casos de mutação do gene da sub-unidade α da proteína G (8). A mutação somática do receptor do TSH pode levar à formação de um ade- noma tóxico, situação raramente encontrada na cri- ança e no adolescente (2). Outra causa rara de hiper- tireoidismo em crianças inclui a produção inadequada de TSH, por tumores hipofisários produtores de TSH e na síndrome de resistência ao hormônio tireoidiano (1,4). Nestes casos iremos encontrar níveis elevados de T4 livre na presença de valores normais ou aumentados de TSH (2). Causas de tireotoxicose por ruptura foli- cular e liberação de hormônios tireoideanos incluem a tireoidite de Hashimoto e, mais raramente, a tireoidite sub-aguda. Caracteristicamente nestes casos encon-
  • 3. Tratamento do Hipertireoidismo na Infância Sandrini et al. 34 Arq Bras Endocrinol Metab vol 45 nº 1 Fevereiro 2001 traremos uma captação diminuída de iodo radioativo pela tireóide (2). Deve ser lembrado que o uso de doses farmacológicas de hormônios tireoidianos é uma causa de tireotoxicose na ausência de bócio, com quadro bioquímico semelhante ao da tireoidite sub- aguda. TRATAMENTO DO HIPERTIREOIDISMO DA DOENÇA DE GRAVES Como a imensa maioria dos casos de hipertireoidismo na infância e na adolescência é causada pela DG, o tratamento da última será abordado de forma mais aprofundada. Os objetivos primordiais do tratamento são a restauração e a manutenção, de forma rápida e segura, de um estado eutireoideu permanente. O tratamento inicial da DG deve ser com o uso de dro- gas antitireoideanas (DAT) até se obter o eutireoidis- mo, e o tratamento definitivo pode então ser realizado por três formas: uso prolongado de DAT (tionami- das), tireoidectomia ou iodo radioativo. Nenhuma das três alternativas preenche todos os critérios de segu- rança, efetividade e estabelecimento de um eutireoidis- mo permanente. No tratamento medicamentoso, da mesma forma como no hipertireoidismo em pacientes adultos, as tionamidas são a escolha inicial. Mais de 90% dos pacientes são controlados em até 8 semanas. Neste ínterim, os pacientes com sintomatologia muito intensa devem ser tratados com β-bloqueadores. O mais largamente utilizado é o propranolol, na dose de 1-2mg/kg/dia, dividido em 3 tomadas. As tionamidas bloqueiam a síntese dos hormônios tireoidianos porque inibem a oxidação e a organificação do iodeto tireoideano, exercendo também um efeito supressivo sobre o sistema imune. O propiltiouracil (PTU) adi- cionalmente diminui a conversão periférica de T4 a T3. Podem ser utilizados o PTU, na dose de 5- 10mg/kg/dia, em três tomadas ou o metimazol (MTZ), na dose de 0,5-1,0mg/kg, em tomada única diária. A aderência ao tratamento costuma ser melhor com o último esquema, em dose única de MTZ, ao qual se associa l-tiroxina no momento em que se obtém o eutireoidismo. A dose de l-tiroxina gira ao redor de 100µg/m2/dia e deve manter normais os níveis plasmáticos de TSH. Este esquema, conhecido como bloqueio/reposição, mantém a glândula inibida sem o inconveniente do hipotireoidismo, e permite utilizar com boa aderência o tratamento medicamen- toso por vários anos. Além do mais, este último esque- ma é vantajoso porque diminui a freqüência dos exa- mes laboratoriais e de visitas médicas. A duração do tratamento é variável, mas em geral preconiza-se um período mínimo de 2 anos. Após a suspensão do medicamento a criança deve ser examinada regular- mente, pois a taxa de remissão (definida como mais de 1 ano em eutireoidismo) é muito baixa, da ordem de 25% após 2 anos de tratamento e de 50% após 5 anos de uso da droga (11). A remissão em crianças pré- púberes é mais rara comparada com pacientes já na puberdade. Alguns pacientes poderão desenvolver espontaneamente hipotireoidismo. Embora o desa- parecimento do bócio e os valores normalizados de TRAb possam apontar para uma taxa maior de remis- são, não existem parâmetros que permitam predizer de forma previsível o aspecto evolutivo da doença. Por isto, cada paciente deve ser tratado de forma individu- alizada. Apenas 19% de nossos 63 pacientes com DG com menos de 18 anos entraram em remissão com uso prolongado de DAT (12). O endocrinologista pediátrico deve conhecer os riscos e benefícios das tionamidas. Em torno de 2 a 5% dos pacientes desen- volvem rash cutâneo, náusea, cefaléia, artralgias ou febre, que costumam ser transitórios. Entretanto se persistirem, deve-se trocar a tionamida. Efeitos maiores incluem hepatite, vasculite, púrpura fulminans e agranulocitose (13). As últimas podem levar a efeitos secundários graves e mesmo ao óbito. Por esse moti- vo, é importante prevenir aos familiares sobre o risco de seu uso. A agranulocitose costuma ser acompanha- da de faringite, febre e outros sinais e sintomas sistêmi- cos de infecção. Uma vez diagnosticada, deve-se hos- pitalizar o paciente e iniciar tratamento com antibióti- co. Recomenda-se a realização de hemograma antes do início da DAT e, durante o tratamento, quando é encontrado qualquer um dos achados acima descritos. Os efeitos secundários são mais freqüentes com doses elevadas de MTZ e parece não existir dose dependên- cia com o PTU. Os efeitos secundários das DAT são mais freqüentes nas crianças que nos adultos, girando em torno de 5% a 32% e costumam ocorrer mais fre- qüentemente nos primeiros meses do uso da droga (1,14). Com a falta de aderência às DAT, as compli- cações após a reintrodução das DAT costumam ser mais graves. Alguns pacientes, geralmente em uso de PTU, podem apresentar uma síndrome semelhante ao lupus sistêmico, com febre, púrpura, esplenomegalia e granulocitopenia que, em alguns casos pode ser grave, com glomerulonefrite e envolvimento pulmonar. A pesquisa de células LE geralmente é positiva. Pode ocorrer vasculite, associada com ANCA positivo (anti- neutrophil cytoplasmic autoantibodies). Na nossa expe- riência, de 52 meninas e 13 meninos, com menos que 18 anos de idade, encontramos 19% de efeitos secundários que incluíam agranulocitose, artrite, púr-
  • 4. Tratamento do Hipertireoidismo na Infância Sandrini et al. 35 Arq Bras Endocrinol Metab vol 45 nº 1 Fevereiro 2001 pura, síndrome lupus-símile, hepatite e púrpura fulmi- nans (12). Na recidiva do hipertireoidismo pode-se optar por novo ciclo de antitireoidianos; indicar tireoidectomia, após restauração do eutireoidismo ou usar radioiodo. Em pacientes com bócios grandes a cirurgia pode ser a melhor forma de tratamento, podendo ser indicada como primeira opção de trata- mento após a obtenção do eutireoidismo (1,10). A tireoidectomia deve contemplar uma retirada quase total da glândula, de forma a obter a cura da doença e evitar a recorrência do hipertireoidismo. Os pacientes devem estar eutireoidianos por ocasião da cirurgia e, para tanto, se acrescenta às DAT lugol (5 a 10 gotas 3 vezes ao dia) ou solução saturada de iodeto de potás- sio, (2 a 10 gotas ao dia). O iodo, além de bloquear a liberação dos hormônios tireoidianos, reduz a vascu- larização da glândula. A taxa de mortalidade com a cirurgia é de 0,08% e leva a cura em torno de 80% dos pacientes. Existem riscos potenciais no tratamento cirúrgico, como hipoparatireoidismo permanente e lesão dos nervos laríngeo recorrentes. Por isto, a importância de que seja realizada por um cirurgião com grande experiência. A terceira opção de trata- mento, o radioiodo, parece ser uma forma segura e econômica de tratar o hipertireoidismo em crianças e adolescentes. Mais de 90% dos pacientes são curados e raramente os efeitos secundários são importantes. Existe hoje uma tendência em vários países para um aumento do uso do radioiodo como primeira opção de terapia definitiva após a recidiva com a suspensão da DAT. Em geral administra-se o radioiodo após um período de DAT e normalização do níveis de T4 total e T4 livre, devendo-se suspender a DAT 5 dias antes do 131I. No nosso serviço, inicialmente utilizávamos doses relativamente baixas de radioiodo, em torno de 5mCi (calculadas em função do volume da glândula e dos valores de captação de 131I) objetivando tornar a criança ou o adolescente eutireóideo. Entretanto, doses baixas podem levar à persistência do hiper- tireoidismo. Além disso, o acidente de Chernobyl, na Ucrânia, mostrou que a exposição ambiental a doses baixas de 131I aumentava de forma importante a incidência de carcinoma papilífero, especialmente em crianças de pouca idade (9). Como um dos principais objetivos do tratamento da doença de Graves em cri- anças é a cura rápida, definitiva e com segurança do hipertireoidismo, utilizamos atualmente doses mais elevadas de 131I, em torno de 150-200µCi/g de teci- do glandular, suficientes para promover uma ablação total da glândula. Se houver persistência do hiper- tireoidismo após 3 a 6 meses, deve ser feita uma segun- da dose de 131I. Os pais dos pacientes devem estar cientes da necessidade do tratamento definitivo com l- tiroxina em dose adequada. Em adultos, o uso do radioiodo nos últimos cinqüenta anos não mostrou aumento da incidência de câncer de tireóide, leucemias, diminuição da fertilidade, lesão das células germinativas ou anomalias congênitas na prole de pacientes tratados durante a infância (10). Na reali- dade, a incidência de câncer de tireóide após 20 anos de tratamento é maior em pacientes tratados com DAT (1/132 pacientes tratados) do que com 131I (1/783 pacientes tratados) (10). Em crianças com DG o radioiodo é seguro, embora não se tenha uma expe- riência acumulada como aquela de pacientes adultos. As taxas de cura a longo prazo são superiores a 90%. TRATAMENTO DE OUTRAS FORMAS DE HIPERTIROIDISMO A opção terapêutica ideal para nódulos hiperfuncio- nantes de tireóide, por mutação somática do gene do receptor do TSH, é a cirurgia, com retirada do lobo ipsilateral (2). Recentemente tem sido utilizada, com sucesso, a escleroterapia com etanol para nódulos tó- xicos em adultos, podendo ser uma alternativa tera- pêutica em casos selecionados em outras faixas etárias (15). Nos quadros de mutação germinativa do recep- tor do TSH com hipertireoidismo congênito intenso, com bócio difuso, o tratamento inicial dever ser feito com DAT, seguido de tireoidectomia subtotal ou 131I (16). Os casos de produção inadequada de TSH por tumor hipofisário produtor de TSH são tratados com hipofisectomia (preferencialmente transfenoidal); enquanto que na síndrome de resistência ao hormônio tireoidiano com hipertireoidismo associado, o trata- mento pode ser feito com T3 ou ácido tri- iodotiroacético (TRIAC) (17). Causas de tireotoxi- cose, por ruptura folicular e liberação de hormônios tireoideanos, que incluem a tireoidite de Hashimoto e mais raramente a tireoidite sub-aguda, devem ser trata- dos com β-bloqueadores até a resolução da fase de hipertireoidismo. 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  • 5. Tratamento do Hipertireoidismo na Infância Sandrini et al. 36 Arq Bras Endocrinol Metab vol 45 nº 1 Fevereiro 2001 at diagnosis and responses to medical therapy. Thyroid 1997;7:755-60. 4. Foley Jr TP. Disorders of the Thyroid in Children. In: Sper- ling MA, ed. Pediatric Endocrinology. Philadelphia:WB Saunders Company, 1996:p.171-94. 5. Güell R. Hipertiroidismo. In: ___, ed. Enfermedades del Tiroides en Niños y Adolescentes. Barcelona: Permany- er Publications, 1998:p.89-105. 6. Péter F. Hyperthyroidism and puberty. The Thyroid and Age. Merck European Thyroid Symposium. Pinchera A, Mann K, Hostalek U, eds. Stuttgart:Schattauer, 1998:p.179-90. 7. Segni M, Leonardi E, Mazzoncini B. Special features of Graves’ disease in early childhood. Thyroid 1999;9:871-7. 8. Polak M. Activating mutations of the thyrotropin recep- tor: a short review with emphasis on some pediatric aspects. Eur J Endocrinol 1998;138:353-7. 9. Nikiforov Y, Genepp DR, Fagin JA. Thyroid lesions in chil- dren and adolescents after the Chernobyl disaster: implications for the study of radiation tumorigenesis. J Clin Endocrinol Metab 1996;81:9-14. 10. Rivkees AS, Sklar C, Freemark M. The management of Graves’ disease in children, with special emphasis on radioiodine treatment. J Clin Endocrinol Metab 1998;83:3767-76. 11. Lippe BM, Landaw EM, Kaplan AS. Hyperthyroidism in children treated with long term medical therapy: twen- ty-five percent remission every two years. J Clin Endocrinol Metab 1987;64:1241-5. 12. Khaled MP, Nesi-França S, Albino C. Graves’ disease in children and adolescents: critical evaluation of the ther- apeutic. The Proceedings of the 72nd Annual Meeting of the American Thyroid Association. Palm Beach, Florida, 1999, Abstract n.68. 13. Cooper DS. The side effects of antithyroid drugs. The Endocrinologist 1999;9:457-67. 14. Hamburger JI. Management of hyperthyroidism in chil- dren and adolescents. J Clin Endocrinol Metab 1985;60:1019-24. 15. Ferrari C, Reschini E, Paracchi D. Treatment of the autonomous thyroid nodule: A review. Eur J Endocrinol 1996;135:383-90. 16. Zimmerman D. Fetal and neonatal hyperthyroidism. Thy- roid 1999;9:727-33. 17. Refetoff S, Weiss RE, Usala SJ. The syndromes of resis- tance to thyroid hormone. Endocr Rev 1993;14:348-99. Endereço para correspondência: Romolo Sandrini UEP – Unidade de Endocrinologia Pediátrica Departamento de Pediatria da Universidade Federal do Paraná Rua Padre Camargo 250 80.060-240 Curitiba, PR Fax: 55 (41) 360-5356 e.mail: sandrini@reitoria.ufpr.br