1. Brexit: entenda o significado do referendo que decidiu
retirar o Reino Unido da União Europeia
O que é Brexit?
O termo Brexit é a união das palavras Britain (Grã-Bretanha) e Exit (saída, em inglês). O que estava em
discussão no Reino Unido era a permanência ou não como membro da União Europeia (UE). As nações
do Reino Unido são a Inglaterra, a Irlanda do Norte, a Escócia e o País de Gales.
Com 52% dos votos a favor, o Reino Unido deixa a União Europeia após 43 anos de participação,
segundo resultado do referendo realizado nesta quinta-feira (23). O primeiro-ministro David Cameron
afirmou que a saída do país do bloco pode trazer graves consequências econômicas para o Reino Unido.
Ele anunciou que renunciará até outubro.O Reino Unido é o primeiro país a sair da União Europeia.
Quem perde com o Brexit: Reino Unido ou União Europeia?
Perdem todos. Simbolicamente, a saída do Reino Unido alimenta uma série de forças anti-integração em
todo o continente. Perde o Reino Unido em âmbito concreto - ao suprimir a possibilidade de mais laços
econômicos e de integração -; e do ponto de vista simbólico perdem todos porque é afastado o diálogo de
que “todos são europeus”.
Quais são os próximos passos?
A saída de um país de um bloco econômico não é uma questão simples e pode demorar anos para se
concretizar. O que se deve observar em um futuro próximo é a chegada de um novo governo que deve
estruturar esse processo. Há análises que dizem que esse processo pode durar de seis meses a um ano.
Outras falam em até dois ou mesmo quatro anos. O que sabemos efetivamente é que se tornou uma
decisão e ela terá de ser cumprida. A saída será encaminhada, a questão é como isso será feito.
A coesão do Reino Unido está ameaçada?
A Escócia, há dois anos, decidiu em um referendo por não se tornar independente do Reino Unido. Com o
resultado atual, já avalia a possibilidade de fazer uma nova consulta para poder se reintegrar à União
Europeia. A Europa não conseguiu de maneira profunda entrar nos corações e mentes dos cidadãos do
Reino Unido.
O referendo também representa uma “irresponsabilidade eleitoral”, já que foi promessa de campanha do
primeiro-ministro David Cameron realizar um referendo para dar aos britânicos o direito de decidirem se
queriam ou não sair do bloco.
O desafio do próximo primeiro-ministro é salvar o Reino Unido e convencer a população desses países
participantes de que vale apostar no Reino Unido e não na União Europeia. Os movimentos nacionalistas
e separatistas presentes em diversos países do Reino Unido pode ganhar força com a decisão, lembrando
que a Escócia e a Irlanda votaram pela permanência no bloco. O Brexit deu nova vida ao discurso dos
grupos nacionalistas dentro do Reino Unido.
Impactos econômicos
De acordo com especialistas, a saída do bloco afeta de forma fundamental e economia do Reino Unido
porque uma série de benefícios comerciais do bloco serão revistos. Mas ainda é cedo para traçar uma
2. previsão. Resta saber se a União Europeia vai querer negociar essas questões em separado e, ainda,
como as autoridade do Reino Unido vão organizar uma ofensiva comercial para conquistar novos
mercados..
A libra esterlina, moeda do Reino Unido, despencou e atingiu o menor valor frente ao dólar em 31 anos
logo após a divulgação do resultado do referendo. Para os economistas a possibilidade de revalorização
da moeda está diretamente vinculada à capacidade do novo governo em dizer e construir ações políticas
que demonstrem que a situação vai melhorar.
Como a decisão afeta a relação com o Brasil
Segundo especialistas no assunto, ainda é cedo para estabelecer um prospecto. Em alguns sentidos, toda
a classe política europeia está em choque; e no Brasil há uma necessidade de compreender o que essa
votação representa para a própria ideia de blocos regionais. O Mercosul já é alvo de críticas duras de
vários setores da sociedade brasileira e, “em âmbito imagético”, se espelhava na ideia de comunidade que
foi construída na Europa, agora colocada em xeque.
A política externa brasileira vai ter que lidar com dois elementos: uma política que seja direcionada para a
comunidade europeia e, por outro lado, entender esse novo posicionamento do Reino Unido nas relações
internacionais.
A decisão representa uma vitória do conservadorismo?
Mais do que conservadorismo, uma vez que em algum sentido David Cameron era representante de um
tipo de conservadorismo. É uma vitória que está além disso, muito vinculada ao movimento de
nacionalismo e de valores tradicionais, um discurso anti-migração.
Como a decisão do Reino Unido influencia outros países a
permancerem (ou não) no bloco?
Os grupos políticos nacionalistas de outros países da Europa devem ganhar mais espaço para o seu
discurso após a decisão do Reino Unido. Eles vão começar a bradar em vários países europeus: os
britânicos fizeram [saíram da UE] e, se eles saíram, tem algo errado. Isso vai “pipocar” na Europa.
O discurso de ódio nacionalista está muito calcado na ideia de que há “uma relativa pureza de valores e
que o cidadão está ameaçado por um elemento que é externo”. Esse discurso “colou” especialmente em
eleitores britânicos de zonas menos populosas pela percepção de que havia uma “tomada de empregos”.
Não é possível avaliar, entretanto, se as populações de outros países vão “comprar” esses discursos. Vai
depender se autoridades que defendem a União Europeia vão conseguir combater esse discurso.
Fonte: Adaptação de entrevista concedida ao Portal EBC pelo professor Creomar Souza Lima,
assessor de Relações Internacionais do Itamarati e professor da Universidade Católica de Brasília
(UCB)