1. RESUMO CULTURA CORPORAL DA PAG. 1 ATÉ 14
Tratar as questões sobre “corpo e movimento” a partir da área
da cultura corporal, significa tratar de atividades humanas que foram sendo
historicamente constituídas e que expressam uma relação não-utilitária do
homem com as ações corporais.
A perspectiva da cultura corporal (BRACHT, 1992) emerge a
partir da preocupação em contextualizar as manifestações expressivas
corporais nas aulas, considerando os significados a elas atribuídos pelos
alunos. Como explicitam Mattos e Neira (2003) é o gesto carregado de sentido,
significado e intenção, capaz de promover aprendizagens.
Partimos da premissa de que não é possível conhecer o mundo
somente pelo pensamento, ou seja, pela razão, sem recorrer à percepção dos
sentidos do nosso corpo. O reconhecimento do mundo que nos cerca depende
da nossa experimentação desse mundo. Para a criança, especialmente nos
primeiros anos de vida, o movimento constitui-se na primeira forma de
expressão, sua principal linguagem. A criança expressa pelo movimento os
seus sentimentos, emoções, alegrias, tristezas, prazeres, noções de
aproximação ou distanciamento, enfim, revelando situações físicas, emocionais
e mentais (ROSSI, 2013).
Diante dessas discussões pedagógicas sobre o corpo e
movimento é comum nos depararmos com propostas que atribuem à escola o
papel de propiciar “a máxima liberdade de movimentar-se para as crianças”. É
indiscutível que a escola deva contribuir para o desenvolvimento dessa
“máxima liberdade” por parte das crianças nas diferentes esferas da vida,
dentre elas a da “cultura corporal”. Contudo, liberdade aqui é concebida muito
mais como um produto do trabalho pedagógico do que como uma “premissa” e
uma suposta orientação didática direcionada a “deixar a criança expressar-se
livremente”. Liberdade, aqui, não se contrapõe à restrição, do contrário, surge
muitas vezes desta. Assim, promover a máxima liberdade de movimentar-se é
alcançada como produto de uma ação pedagógica adequada em relação ao
movimento, garantindo sua aprendizagem por parte das crianças. Lembrando
que não há desenvolvimento cognitivo ou afetivo-social fragmentado do
movimento corporal, tampouco há um desenvolvimento físico e motor
fragmentado de um desenvolvimento cognitivo e afetivo.
2. Quando a restrição vira liberdade...
Vamos imaginar que alguém nos proponha o seguinte objetivo: “pule
livremente”. Como a maioria de nós iria cumprir esse objetivo? Como a maioria de nós
iria efetivar essa liberdade? Provavelmente na forma de uma grande restrição! Iríamos
pular monotonamente no mesmo lugar. Nossa aparente liberdade para pular “do jeito
que quiséssemos” resultaria, assim, em uma grande restrição. Em contrapartida, ao
“restringirmos” esse movimento de pular, propondo que o sujeito aprenda, por
exemplo, as diferentes técnicas, objetivos e desafios desenvolvidos e encarnados nos
saltos do balé ou na ginástica olímpica, ah! Quanta liberdade e possibilidades de
criação poderíamos alcançar!
Assim, as “restrições” presentes nas atividades de cultura corporal (nas regras,
nas técnicas, nos objetivos etc.) e presentes no trato pedagógico com tais atividades é
o que, paradoxalmente, nos garante mais liberdade para nos relacionarmos com as
ações corporais.
As máximas possibilidades de liberdade com as ações corporais realizam-se
na medida em que o sujeito se aproprie daquelas atividades que lhe exijam
maximamente um auto-controle de sua conduta. Menos liberdade, aqui, vira mais
liberdade.
Façamos mais um exercício:
Podemos dizer que a área de Cultura Corporal abarca aquelas
atividades que historicamente foram se constituindo a partir: a) de relações
não-utilitárias dos homens com as ações corporais (relação não produtivas
e/ou imediatamente úteis) e ao mesmo tempo b) relações voluntárias com as
ações corporais, relações cada vez mais conscientes e criadoras com as ações
corporais.
Essas relações não utilitárias e voluntárias com as ações
corporais foram desenvolvidas e estão objetivadas em atividades tais quais: o
Jogo, a Dança, a Ginástica, a Luta, o Atletismo, o Circo, a Mímica, a Capoeira
e – também – nas muitas formas de brincadeiras infantis.
“o conceito de Cultura Corporaltem como suporte a ideia de
seleção,organização e sistematização do conhecimento
acumulado historicamente”
as atividades da cultura corporal são atividades a serem usufruídas
pelos sujeitos na direção da humanização dos mesmos (tal qual as
atividades relacionadas à arte e à ciência). As atividades da cultura
corporal, assim, aproximam-se mais da ideia de “patrimônio da
3. humanidade”, que permite (pode permitir) aos sujeitos desenvolverem
uma maior consciência de suas ações, planejando o seu modo de ser e
estar no mundo, do que de “entretenimento”, “livre expressão” ou “puro
prazer”.
o “corpo” e o “movimento”, tomados em si mesmos, são CONDIÇÃO do ensino
na Educação Infantil e não diretamente um “conteúdo”, uma “área” a parte. O
movimento corporal não é uma “disciplina a parte”, mas aparece e se realiza
em TODAS as instâncias do trabalho pedagógico, na medida em que, como
vimos, o corpo e o movimento não são outra coisa que o próprio sujeito em
ação! Portanto, a qualidade desse “movimento” dependerá sempre da atividade
do sujeito (dos motivos e dos objetivos que organizam essa atividade).
O trabalho pedagógico com a área de cultura corporal permite que
formemos na criança uma consciência na execução de suas ações
motoras, pois como afirma Zaporózhets (1987) ao se referir à
“forma superior de movimento”, ressalta o seu caráter voluntário e
consciente. De forma consciente a criança aprende novos
movimentos, o que a difere do animal. . Esses movimentos, que em
crianças menores são considerados elementar tornam-se um esforço
consciente, conforme a criança se desenvolve. A aprendizagem de
novos movimentos em crianças de até três anos acontece nas situações
práticas e de vivências. (Ex: executar tarefas simples propondo
diferentes maneiras de caminhar: nas pontas dos pés como gigantes,
lento como tartarugas, agachados, arrastar como jacaré, saltar como
sapo etc..). Nas crianças com idade entre 4 e 5 anos essa apropriação
vai se tornando cada vez mais consciente e independente de seu uso
prático e imediato. Já durante o ensino fundamental tais movimentos
podem ir se autonomizando cada vez mais e, assim, permitindo que as
crianças se relacionem com outros aspectos das atividades da cultura
corporal
Consideramos que a área de conhecimento de cultura corporal deve
propiciar às crianças, numa perspectiva interdisciplinar, a
experienciação, apropriação e plurissignificação dos conteúdos
referentes às aprendizagens específicas da infância: alfabetização, arte
e movimento. Proporcionar assim uma gama de experiências para que
compreendam o mundo que a cercam pela ação dos movimentos e
gestos conscientes, significando e ressignificando suas vivências.
4. Assim, estudar o “corpo e movimento”, no ponto de vista da área/esfera
da cultura corporal é estudar as ATIVIDADES humanas que
historicamente foram sendo criadas e desenvolvidas pela humanidade e
que expressam uma relação não utilitária e, ao mesmo tempo, voluntária
com o movimento corporal.
Objetivo geral da área
AMPLIAR AS POSSIBILIDADES DE DOMÍNIO CONSCIENTE E VOLUNTÁRIA DAS AÇÕES
CORPORAIS DE NATUREZA LÚDICA, ARTÍSTICA E DE DESTREZA POR MEIO DA APROPRIAÇÃO
DE ATIVIDADES DA CULTURAL CORPORAL TAIS QUAIS AS BRINCADEIRAS DE JOGO, DE
DANÇA E DE GINÁSTICA
Para alcançar esse objetivo geral da área propomos organizar
o trabalho pedagógico em três eixos de conteúdos da Cultura Corporal 1)
brincadeiras de situações opositivas, 2) brincadeiras de destrezas e desafios
corporais e 3) brincadeiras de imitação/criação de formas artísticas.