Este documento resume os principais pontos sobre o diagnóstico laboratorial das hepatites virais. Aborda os tipos de hepatites virais mais comuns, os achados laboratoriais e marcadores sorológicos relacionados a cada tipo de hepatite viral, incluindo os vírus A, B, C, D e E. Também discute os testes bioquímicos, sorológicos e de biologia molecular utilizados no diagnóstico destas hepatites.
1. Faculdade Dom Bosco
Imunologia Clínica
DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DAS
HEPATITES VIRAIS
Prof. Esp. Vitor Y. Obara
vitorobara@gmail.com
2. Nesta aula veremos:
O que é hepatite?
Quais são os tipos de hepatites virais mais
comuns e quais as características de cada
uma?
Como de dá o processo de patogenia das
hepatites?
Quais são os achados laboratoriais
relacionados?
Quais são as fases e quais os marcadores
sorológicos de cada fase da infeccção?
4. 1 INTRODUÇÃO
Funções Hepáticas:
Metabolismo de carboidratos, lipídeos e proteínas;
Excreção da Bile (Bilirrubina, Colesterol, Ácidos
biliares, outros);
Armazenamento de vitaminas (A, D e B12), ferro e
outros minerais, glicogênio, lipídeos;
Biotransformação de Xenobióticos e hormônios.
Hepatite: Lesão inflamatória do fígado.
5. 1 INTRODUÇÃO
5 vírus diferentes cusadores das principais
hepatites virais: A, B, C, D e E;
Diagnóstico laboratorial se baseia em três
pontos:
Testes bioquímicos,
Testes sorológicos e
Teste de Biologia Molecular.
6. 1.1 Testes Bioquímicos
Determinação dos níveis séricos de atividade
(NSA) enzimáticas das aminotransferases;
Determinação dos NSA da Fosfatase Alcalina
(FAL) e Gama-glutamiltransferase (γ-GT);
Concentração sérica das Bilirrubinas;
7. 1.1.1 ALT e AST
Aspartato Aminotransferase (AST) e Alanina
Aminotransferase;
Enzimas do citoplasma de hepatócitos;
ALT: Mais específica do fígado;
AST: Mitocondrial;
Aumento de 10 a 100 vezes;
10 dias antes de surgirem o sintoma;
Pico em uma semana após o surgimento dos
sintomas;
Indicam compromentimento hepático →
acompanhamento do curso da infecção.
8. 1.1.1 ALT e AST
Casos benignos:
NSA retornam ao normal no prazo de poucas
semanas;
ALT>AST;
Casos crônicos:
Persistência do aumento enzimático por período
superior a seis meses;
AST>ALT → comprometimento mitocondrial e
necrose;
Casos fulminantes: ↓ brusca → destruição total
do parênquima hepático.
9. 1.1.2 FAL e γ-GT
Indicam colestase;
Hepatites virais: Aumento discreto;
Índice ALT/γ-GT:
Hepatite viral: >2;
Icterícia obstrutiva: <1.
↑ γ-GT:
Ação do álcool e drogas;
Obstrução dos ductos biliares;
Tumores hepáticos;
Hepatopatias alcoólicas.
19. 1.3 Marcadores sorológicos
Busca de Ag e/ou Ac;
Determinam fase da infecção (VHB);
Somados aos outros testes, servem de
parâmetro para prognóstico e monitoramento;
Especifica o vírus que está causando a
infecção.
21. 2.1 Hepatite por vírus A
RNA vírus;
Família Picornaviridae, Gênero Hepatovírus;
Presente nas fezes de pacientes infectados;
Transmissão fecal-oral (alimentação, água
contaminada);
Não ocorre transmissão parenteral ou por via
transfusão sanguínea;
Não evolui para a cronicidade nem para o
estado de portador assintomático.
22. 2.1 Hepatite por vírus A
RNA vírus;
Família Picornaviridae, Gênero Hepatovírus;
Presente nas fezes de pacientes infectados;
Transmissão fecal-oral (alimentação, água
contaminada);
Não ocorre transmissão parenteral ou por via
transfusão sanguínea;
Não evolui para a cronicidade nem para o
estado de portador assintomático.
23. 2.1 Hepatite por vírus A
Período de incubação: 2-7 semanas;
Grande parte ocorre de forma assintomártica ,
mas quando há sintomas, ocorrem de forma
abrupta;
Forma fulmantes são raras e a mortalidade é
muito baixa (<0,2%);
Testes sorológicos: anti-VHA IgM (diagnóstico da
infecção aguda) e anti-VHA IgG (estudos
epidemiológicos);
Métodos: ELISA, Quimioluminescência.
26. 2.2 Hepatite por vírus B
DNA vírus;
Família Hepadnaviridae;
Estrutura viral:
Antígenos:
C (core)
S (superfície)
E (envelope)
27. 2.2 Hepatite por vírus B
Período de incubação: 6 a 8 semanas;
Presença do vírus no sangue em todas as
fases da doença (aguda, crônica, durante o
período de convalescença);
Transmissão por via sanguínea, por meio de
relações sexuais e de forma vertical (mãe-
filho);
93% recuperação sorológica, bioquímica e
clínica, 5-7% forma crônica e 1% hepatite
fulminante.
29. 2.2.1 Diagnóstico laboratorial do
VHB
Testes sorológicos:
Superfície viral: HBsAg e anti-HBs;
Core viral: anti-HBc IgM ou IgG;
Antígeno ”e”: HBeAg e anti-HBe;
Métodos por Biologia Molecular:
Hibridação (b-DNA);
PCR (mais sensível).
30. 2.2.1.1 HBsAg
Indicador precoce (1 mês após a infecção);
Marcador mais fidedigno para VHB;
Persiste durante a fase aguda;
Desaparece após 1 a 3 semanas após as
anormalidades BQ;
Porém se > 6 meses: portador crônico;
Títulos não têm significado clínico;
31. 2.2.1.2 HBeAg
Indica estado altamente infeccioso (replicação
viral);
Aparece 1 semana depois do HBsAg;
Encontrado somente quando houver presença
de HBsAg;
Determina resolução da infecção;
Se >10 semanas: sugere progressão para
portador crônico;
32. 2.2.1.3 Anti-HBe
Diminuição da infectividade;
Sugere bom prognóstico da resolução da fase
aguda;
33. 2.2.1.4 Anti-HBc
Ocorre precocemente na fase aguda;
4 a 10 semanas após HBsAg, durante os sinais
clínicos;
Anti-HBc IgM é mais específico qie IgG para
doença aguda;
Único teste para infecção recente;
34. 2.2.1.5 Anti-HBs
Indica recuperação clínica e imunidade;
Não detectado em pacientes crônicos;
Pode ocorrer em transferência passiva;
80% dos pacientes depois da cura clínica;
Demontra eficácia em programas de
imunização;
35. 2.2.2 Padrões sorológicos
Infecção aguda pelo VHB;
Infecção crônica pelo VHB com soroconversão
Anti-HBe;
Infecção crônica pelo VHB sem soroconversão
Anti-HBe.
36. 2.2.2.1 Padrão sorológico durante
a Infecção aguda
Concentração
Relativa
Fase Aguda Convalescência Recuperação - Imunidade
ALT
IgG anti-HBc
Anti-HBs
IgM anti-HBc Anti-HBe
2 4 6 8 // → Anos
DNA viral Meses
Infecção
37. 2.2.2.2 Padrão sorológico durante a Infecção
crônica com soroconversão Anti-HBe
Concentração
Relativa
Fase Aguda Infecção Crônica
IgG anti-HBc
IgM anti-HBc
Anti-HBe
2 4 6 8 // → Anos
Meses
Infecção DNA viral
38. 2.2.2.3 Padrão sorológico durante a Infecção
crônica sem soroconversão Anti-HBe
Concentração
Relativa
Fase Aguda Infecção crônica
IgG anti-HBc
IgM anti-HBc
2 4 6 8 // → Anos
Meses
Infecção DNA viral
40. 2.2.3 Perfil sorológicos
Perfil 1: Fase prodrômica (assintomático):
HBsAg;
Perfil 2 e 3: Fase aguda: HBeAg;
Perfil 4: Estágio de recuperação (Anti-HBe) ou
fase crônica (HBeAg);
Perfil 5:
Janela Imunológica (exceto anti-HBc IgM);
Variantes VHB, HBsAg (-)vo, DNA do VHB (+)vo;
Transmissão vertical, por transfusão ou
transferência passiva;
Falso-positivo.
41. 2.2.3 Perfil sorológico
Perfil 6: Fase de recuperação: HBsAg e Anti-HBs;
Perfil 7: Evolução para cura e imunização: anti-
HBc e anti-HBs;
Perfil 8: Vacinação contra VHB, perfil 7 cujo anti-
HBc desapareceu com o tempo.
44. 2.3 Hepatite por vírus C
Identificada em 1989, por Choo e cols, até
então era identificada como não-A e não-B,
pós-transfusional e não-determinada;
RNA vírus;
Gênero Flaviviridae;
Transmissão: via parenteral; transfusão de
sangue e hemocomponentes, utilização de
agulhas e seringas contaminadas, transplante
de órgãos e tecidos contaminados.
45. 2.3.1 Variabilidade genética
Mutações frequentes → ↑ Variabilidade
genética;
6 tipos ou gneótipos, designados de 1 a 6;
30 subtipos diferentes, desgnados com letras;
Importância da identificação genética:
diversidade genética, epidemiologia, evolução
da doença, aplicações do diagnóstico
sorológico e molecular, resposta terapêutica
anti-viral e formas de transmissão.
47. 2.3.1 Epidemiologia
70-80% das pessoas infectadas tornam-se
crônicas;
Necessidade de testes com maior
sensibilidade;
Aprox. 60% casos crônicos são do genótipo 1a
e 15% do 1b.
48. 2.3.3 Diagnóstico Laboratorial do
VHC
Testes sorológicos de triagem: ELISA,
Quimioluminescência;
Testes confirmatórios: Immunoblot;
49. 2.3.3.1 Testes de Triagem
Detecção de anticorpos anti-HCV para
diagnóstico de infecção presente (IgM) ou
infecção passada (IgG);
MÉTODO CARACTERÍSTICA
ELISA 1ª Geração Ag NS4
Baixa sensibilidade especificidade
Rapidamente abandonados
Janela sorológica: 52 semanas
ELISA 2ª Geração Ag NS4, NS4 e core viral
Janela sorológica: 6-9 semanas
Falso negativo, resultados indeterminados
ELISA 3ª Geração Ag NS4, NS3, NS5 (epítodos dominantes)
Janela sorológica:4-8 semanas
ELISA 4ª Geração Ag core viral, NS3, NS4 de genotipo 1 e
não-1
Janela sorológica: 4 semanas.
52. 2.3.4 Testes de Monitorização
terapêutica e prognóstico
Teste qualitativo para detecção de RNA-HCV;
Carga viral (quantitativo);
Detecção do genótipo (definição do tempo de
tratamento combinado: interferon e ribavirina);
53. 2.3.5 Interpretação dos
resultados obitdos
RNA-VHC ANTICORPOS anti-VHC INTERPRETAÇÃO
NEGATIVO REAGENTE •Manuseio inadequado da
amostra (degradação do
RNA);
•Baixa viremia;
•Heterogeneidade genética do
VHC;
•Doença resolvida ou crônica
com baixos níveis de carga
viral
•Falso-positivo
POSITIVO REAGENTE Doença presente
POSITIVO NÃO REAGENTE Doença presente
NEGATIVO NÃO REAGENTE Ausência de doença ou
doença crônica com baixos
níveis de CV.
54. 2.3.5.1 Importância clínica
O anti-corpo anti-HCV é de aparecimento tardio
(12 a 20 semanas após o aparecimento do
quadro clínico);
Hepatite C ativa: Maior potencial para cirrose;
Diagnóstico mais precoce por pesquisa de
HCV RNA por PCR;
Presença de Ac anti-HCV é mais indicativo de
replicação viral ativa e infectividade do que
imunidade;
HCV não pode ser cultivado in vitro;
55. Cirrose
Expansão do processo inflamatório para as
áreas portais, que são infiltradas por
mononucleares, linfócitos e plasmóticos, com
invasão da placa limitante e necrose em saca-
bocado, ao lado de necrose em ponte
(processo inflamatório interligando os espaços-
porta entre si ou à veia centro-lobular)
56. Cirrose
Expansão do processo inflamatório para as
áreas portais, que são infiltradas por
mononucleares, linfócitos e plasmóticos, com
invasão da placa limitante e necrose em saca-
bocado, ao lado de necrose em ponte
(processo inflamatório interligando os espaços-
porta entre si ou à veia centro-lobular)
60. 2.3.5.1 Importância clínica
Anti-HCV está presente em 70% dos usuários
de drogas endovenosas, 20% dos pacientes
hemodializados e 8% em homossexual
masculino positivo para HIV;
Anti-HCV posem ser detectados na hepatite
aguda ou crônica, em indivíduos possível
portador ou exposição passada (infecção);
61. 2.3.5.1 Importância clínica
FP: Doenças auto-imunes, fator reumatóide,
hipergamaglobulinemia, paraproteínemia,
armazenamento prolongado e congelamento e
descongelamento repetidos da mesma
amostra;
FN: Infecção aguda no início, imunossupressão
(hemodializados, transplantados),
imunodeficiência, armazenamento prolongado
e congelamento e descongelamento repetidos
da mesma amostra.
63. 2.3.5.2 Padrão sorológicos durante a
infecção aguda
Fase aguda
HVC RNA
ALT
V C
ti-H
An
Infecção
3 6 9 12 15 // 5 10
MESES ANOS
64. 2.3.5.2 Padrão sorológicos durante a
infecção aguda
Fase aguda Hepatite Crônica ativa Cirrose
HVC RNA
ALT
CV
ti-H
An
Infecção
3 6 9 12 15 // 5 10
MESES ANOS
67. 2.3.6 Tratamento com Interferon α
Respondedor Total: Evolui para cura
SVR: Resposta virológica sustentada
68. 2.4 Hepatites por vírus Delta
(VHD)
Vírus defectivo, depende da infecção prévia
pelo VHB para produção de Antígeno de
superfície;
Na presença do VHB, o vírus Delta utiliza o
HBsAg e consegue replicar-se;
Replicação enquanto durar a infecção pelo
VHB;
70. 2.4.1 Formas de associação VHD
e VHB
Coninfecção: Infecção ao mesmo tempo VHD e
VHB (transfusão sanguínea) → Hepatite D;
Superinfecção: Portador crônico do VHB pode
infectar-se pelo VHD;
Diagnóstico laboratorial: HDAg e anti-HDV IgM.
71. 2.5 Hepatite por vírus E (VHE)
Via entérica;
Semelhante ao VHA;
Alta taxa de mortalidade em mulheres
grávidas;
Não ocorre doença crônica;
Não existe terapia anti-retroviral nem vacina;
Diagnóstico por exclusão de HVA e outros.
72. REFERÊNCIAS
SÁEZ-ALQUÉZAR, A.; BASSIT, L.; SABINO, E.C.
Hepatites virais. In: FERREIRA, A.W.; ÁVILA,
S.L.M. Diagnóstico laboratorial das principais
doenças infecciosas e auto-imunes. 2.ed.
[Reimp] Rio de Janeiro: Gunabara Koogan, 2011.
Cap. 6. pp.74-91.
REICHE, E.M.V. et al. Manual de exames
imunológicos: procedimentos técnicos e
interpretação laboratorial. Londrina: EDUEL, s/d.
YUEN, M.; LAI, C. Treatment of chronic hepatitis B.
The Lancet Infectious Desease. v. 1, n.4, pp. 232-
241. 2001.