1) O poema descreve um baile de máscaras em Veneza onde Arlequim, Colombina e Pierrot se apaixonam um pelo outro.
2) Colombina fica indecisa entre o beijo quente de Arlequim e o amor inocente de Pierrot.
3) No final, cai o pano no teatro da vida, deixando cada personagem sozinho com seus sentimentos.
2. 2004
Um palácio Veneziano
“Uma cortina
Um batom
Um violino
E cheiro de festa”
“Um plebeu
Uma Colombina
Um tolo Arlequim
Um miserável Pierrot!”
“Nos quatros cantos do salão
Um cantinho à parte
Plebeuzinho na janela
Espia em vão toda a arte!”
...Embriagados
Licores...
...Confetes
Serpentinas....
2
3. E muitos
Muitos mesmo,
Mascarados!!!!
Monólogo à Arlequim, Colombina e
Pierrot.
Anuncia o plebeu
Ao som popular em festa,
no dedilhar violinácio e escorrer da lua,
mil e lindos palácios encontram na bela Veneza,
3
4. em um baile de dores e alegrias,
Antagonismos em frenesi.
Um céu estrelado explode resquícios de saudades.
Um perfume de milhares de rosas inebria as nuvens tampoucas
ausentes na negra tingida cúpula.
Dançar no salão em festa é fazer poesias.
E em noites de verão...
Amar!
Amar ·é rasgar papéis em sonetos.
E nesse tilintar de notas benfazejas
encontram no salão mascarado
Três corações em conquista:
Um Arlequim fogoso e esperto,
um Pierrot apaixonado e iludido,
e uma Colombina.
Colombina por si só,
que só por ser Colombina
já basta tudo
e em tudo se encerra.
Arlequim traiçoeiro qual Juan,
amor fugaz,
tampouco amor.
Com juras e pormenores prometeu à Colombina,
num beijo roubado de vespa
Doeu os lábios da doce menina,
Que em seu corpo enterrou sua alma
E amou de desejo o efêmero Arlequim.
...
4
5. Pierrot tristonho, sem sorte no rosto,
lágrimas escondidas em esquerda face violeta.
chora seu amor impossível,
de uma colombina fantasiada
Em seu doces sonho à borboleta.
Chora no salão mascarado:
_ Quem viu Colombina?
Colombina quem viu?
Deixei com ela meu espírito,
e o beijo não dado à espera aqui
E chora tão triste
Doce Pierrot
...
Ela de ancas erguidas,
Cintura qual violino se toca,
Desabrocha seus raios de volúpia indomada,
e encharca o sonho duplo amante.
Apaixonou-se pelo beijo de Arlequim
Amou o espírito inocente de Pierrot.
Não sabe qual música dança.
Qual sonho rasga em literalidade.
Indecisa cobiçada Colombina:
Ou o beijo quente de Arlequim
Ou o rosto triste de Pierrot!
O beijo é a soma do seu prazer
A tristeza é a realidade do seu amor.
5
6. Linda Colombina
Dize pra mim quem sou,
Que ao simples bailar no salão
trago costurados em meus vestidos:
amores,
perjuros,
juramentos
juízos!
.
De uma noite linda e violeta.
Da cor do batom selado em meus lábios,
de doce menina inocente,
cobiçada,
amada e perdida
de corações em disparates.
Eu Colombina...
6
7. Que faço promessas a mim mesma
De nunca ter só um coração ao meu alcance
quero todos,
e ao mesmo tempo nada quero.
Pois ter é sinal de cobiça
e não ter é sinal de ignorância.
Dize pra mim quem sou
Pois eu mesma já não sei.
E se sei, nem a mim tenho audácia de revelar.
Certeza só tenho de algo
Que o meu desfilar no salão mascarado
É como deixar todo o espaço inebriado
de um perfume feminino
que não só domina o olfato
domina a alma
domina o corpo
domina os lábios e o peito
domina os cinco sentidos
E até o sexto se acaso tiver.
Sou jovem condenada ao acaso
De lambuzar os sonhos meninos
de desejo
de luxuria
de romantismo.
Depende dos olhos que me vigiam.
Para uns, sou a borboleta selvagem
em busca da mais linda e cobiçada Dama da Noite.
7
8. Para outros, sou a lua espelhada no riacho
linda, prateada, e ingênua
Mas impossível de ser tocada.
Eu por mim só, sou a Colombina,
a dama que vagueia este salão populoso.
Em uma noite de esperanças,
a espera de um coração verdadeiro
que não seja muito triste
e nem assim muito fogoso.
Desgraçado Arlequim
Como sou desgraçado Arlequim
Ridículo, insano e medíocre.
De um rosto mofado a quebra de ilusões.
Minha face quente que arde
Apologia à infidelidade após
Só nele se encerra meu desejo
8
9. na quentura do meu corpo
E na frieza de meus beijos.
Como sofro sendo Arlequim por mim só.
Sem o coração que busquei sentir.
Na ousadia do aperto de meus braços,
busco enterrar meus dedos bruscos
em carnes fêmeas e largas
E assim me corrôo.
Não posso ser melhor
não quero ser melhor
nunca serei melhor.
Gosto de ser desgraçado Arlequim
Romantismo me falta há tempos tantos.
Há verões rasgados na saudade.
O que me sobra é este charco voluptuoso
quem exala luxúria
luzes fortes
Cheiro de Dama da Noite.
Como sou desgraçado Arlequim,
sem poemas nos lábios,
sem canções aos meus ouvidos,
sem sonhos em noites de lua cheia.
Gosto é da festa
da bebida qual Dionísio
do sonho sem camisa de Vênus
do suor em exposição.
Gosto é da jogatina
9
10. do olhar perdido sem brilho
Só mendigando esmolas de desejo.
Sou desgraçado Arlequim.
Não tenho mensagens na mente
não tenho alma no corpo
não tenho coração no peito
não tenho nada que me prove o contrário.
Pois sendo Arlequim,
no cheiro de alecrim que exalo,
alegro aquelas sedentas
que buscam alecrias,
nostalgias,
alegrias.
De um corpo viril de um moço
chamado
intimado
convocado
Desgraçado Arlequim.
Tristonho Pierrot
10
11. Eu sou um Pierrot...
Sim!
Eu sou um Pierrot apaixonado.
Meu rosto traz a lágrima do amor perdido,
Chora nas vielas do mundo
Um coração que não o pertence.
Sou um Pierrot de espírito lançado aos sonhos,
Com um corpo padecente em lágrimas,
Com a esperança de olhar de um sol que reluza gotas de alegria.
Como sou triste Pierrot!
Amo nas quimeras de meus dias
Uma alma não correspondente aos meus afetos.
A lua para mim é uma máscara
Uma fantasia de noites sonolentas,
sem brilho,
sem luzes,
sem anúncio de estrelas cadentes.
11
12. Sou um Pierrot apaixonado sim!
Que refrigera os minutos perdidos,
em cetins,
sedas,
sapatilhas,
botões,
broches e carmesins.
Choro meus dias sentado
De mão no rosto
E pé no céu.
Olhai minha face triste Pierrot,
Pierrot'ando
Pierrot'ei
Pierrot'vou,
Assim a minguar os dias
numa leva de ilusão e amor.
Como sofro sendo Pierrot,
Como sofro sendo homem,
Como sofro sendo eu por mim só.
Sou um pierrot decadente,
De final de carnaval,
De nariz vermelho quebrado,
encostado,
Na sarjeta de antigos sambas.
Caiu o pano ao palco,
a platéia há tempos se foi,
12
13. e eu doce e ingênuo personagem
Me vejo só no teatro da Colombina.
Sou eu Pierrot tristonho!
E amo tanto,
E canto tanto,
E poetizo um corpo dilacerado.
Sendo eu Pierrot tristonho,
Me alegro por segundos,
Sendo tristonho Pierrot.
Pois se na Piarréia de meus dias
Não sobrar doces devaneios de loucuras,
serei para sempre só triste sonho
Sem Pierrotear tantas venturas.
Cai o pano
13