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Ética e estética da experiência
projetada para o Outro
Frederick van Amstel @usabilidoido
Design de Serviços e Design de Experiências
DADIN - UTFPR
www.usabilidoido.com.br
Aviso: o objetivo desta fala não é vender nenhum
produto, consultoria ou ideologia. Seu objetivo é
estimular profissionais que projetam experiências a
fazerem seus próprios questionamentos éticos e
chegar a conclusões diferentes das conclusões de um
pesquisador que deixou o mercado de UX há 10 anos.
É possível projetar a
experiência do usuário?
Os Experimentos 68 e 69 que realizei com estudantes de
design sugerem que sim.
E quando usuários não são
designers, ainda é possível
projetar suas experiências?
O MESMO
Pessoas de grupo
social similar
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O OUTRO
Pessoas de grupo
social diferente
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negros, indígenas,
etc)
Experiência do designer
Experiência do usuário
Projetar a experiência do
Outro é anti-ético?
Os experimentos realizados pela CIA no projeto MKUltra
sugerem que sim. Documentário Wormwood (2017).
Porém, projetar é o mesmo
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O Bar do Arante em Florianópolis é um exemplo de que é
possível projetar sem controlar a experiência.
Designers têm
responsabilidade sobre a
experiência projetada, uma
vez que não têm controle
sobre ela?
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Como assumir a
responsabilidade pela
experiência projetada para o
Outro?
Defender a autoridade de profissionais experientes é bom,
mas não é suficiente.
Diversificar as equipes de projeto é bom, mas não é
suficiente.
Construir e debater códigos de éticas através de associações
profissionais é bom, mas não é suficiente.
Comercializar treinamentos sobre ética no design é bom,
mas não é suficiente.
Fundar uma organização sem fins lucrativos para promover
ética no design é bom, mas não é suficiente.
Fundar sindicatos profissionais para defender trabalhadores
éticos é bom, mas não é suficiente.
Pagar impostos para financiar pesquisas acadêmicas sobre
ética no design é bom, mas não é suficiente.
Ética Moral
Suficiente é continuar
fazendo esse tipo de
questionamento ético
enquanto moralizamos
nossas práticas.
Mesmo que os processos de UX partam de princípios
morais, facilmente eles se tornam imorais na prática.
O impacto ambiental das minas de diamante (Dillon Marsh,
2015) é similar ao impacto social do Duplo Diamante.
O Duplo Diamante é frequentemente usado para extrair
informações sem que o Outro seja ouvido de verdade.
Não é à toa que uma das técnicas utilizadas para extrair
informações se chame mineração de dados.
Como ouvir e fazer ser ouvida
a voz do Outro ao projetar a
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O Outro pode se sentir mais à vontade para falar em
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cuidadosa para não silenciar ou diminuir nenhuma voz.
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não estiver presente para se defender.
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Como questionar eticamente
aquilo que é considerado moral?
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van Amstel, F. M. (2019). Teatro do Oprimido na Educação em Design de Interação. In Anais Estendidos do XVIII
Simpósio Brasileiro sobre Fatores Humanos em Sistemas Computacionais (pp. 11-12). SBC.
E quando não podemos eliminar
a funcionalidade anti-ética?
Podemos repassar o questionamento ético ao Outro, embora
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Quando a interface representa ações humanas ao invés de
conceitos computacionais, o Outro pode antecipar com
maior precisão as consequências sociais de suas ações.
E o que podemos fazer
quando não podemos nem
mudar o texto das interfaces?
A estética também expressa a moralidade das interações
(Salmazo, 2021).
Mas o que é que ética tem a
ver com estética?
Por trás de toda estética, há uma ética implícita, ou seja,
um modo de viver em sociedade. Por exemplo, animojis
permitem expressar emoções para outras pessoas sem
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A máscara esconde a identidade do ator e permite que ele
interaja como se fosse um personagem, tal como o bloco
dos Bate-Bola no Rio de Janeiro. Isso é moral ou imoral?
Depende. É anti-ético? Sim.
A estética pode ou não acompanhar o debate sobre ética.
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Designers de experiência
precisam se tornar metadesigners
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Frederick van Amstel @usabilidoido
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Ética e estética da experiência projetada para o Outro

  • 1. Ética e estética da experiência projetada para o Outro Frederick van Amstel @usabilidoido Design de Serviços e Design de Experiências DADIN - UTFPR www.usabilidoido.com.br
  • 2. Aviso: o objetivo desta fala não é vender nenhum produto, consultoria ou ideologia. Seu objetivo é estimular profissionais que projetam experiências a fazerem seus próprios questionamentos éticos e chegar a conclusões diferentes das conclusões de um pesquisador que deixou o mercado de UX há 10 anos.
  • 3. É possível projetar a experiência do usuário?
  • 4. Os Experimentos 68 e 69 que realizei com estudantes de design sugerem que sim.
  • 5. E quando usuários não são designers, ainda é possível projetar suas experiências?
  • 6. O MESMO Pessoas de grupo social similar (designers, diretores, clientes, etc) O OUTRO Pessoas de grupo social diferente (usuários, pobres, negros, indígenas, etc) Experiência do designer Experiência do usuário
  • 7. Projetar a experiência do Outro é anti-ético?
  • 8. Os experimentos realizados pela CIA no projeto MKUltra sugerem que sim. Documentário Wormwood (2017).
  • 9. Porém, projetar é o mesmo que controlar a experiência?
  • 10. O Bar do Arante em Florianópolis é um exemplo de que é possível projetar sem controlar a experiência.
  • 11. Designers têm responsabilidade sobre a experiência projetada, uma vez que não têm controle sobre ela?
  • 12. Minha experiência de criar um filho sugere que sim.
  • 13. Como assumir a responsabilidade pela experiência projetada para o Outro?
  • 14. Defender a autoridade de profissionais experientes é bom, mas não é suficiente.
  • 15. Diversificar as equipes de projeto é bom, mas não é suficiente.
  • 16. Construir e debater códigos de éticas através de associações profissionais é bom, mas não é suficiente.
  • 17. Comercializar treinamentos sobre ética no design é bom, mas não é suficiente.
  • 18. Fundar uma organização sem fins lucrativos para promover ética no design é bom, mas não é suficiente.
  • 19. Fundar sindicatos profissionais para defender trabalhadores éticos é bom, mas não é suficiente.
  • 20. Pagar impostos para financiar pesquisas acadêmicas sobre ética no design é bom, mas não é suficiente. Ética Moral
  • 21. Suficiente é continuar fazendo esse tipo de questionamento ético enquanto moralizamos nossas práticas.
  • 22. Mesmo que os processos de UX partam de princípios morais, facilmente eles se tornam imorais na prática.
  • 23. O impacto ambiental das minas de diamante (Dillon Marsh, 2015) é similar ao impacto social do Duplo Diamante.
  • 24. O Duplo Diamante é frequentemente usado para extrair informações sem que o Outro seja ouvido de verdade. Não é à toa que uma das técnicas utilizadas para extrair informações se chame mineração de dados.
  • 25. Como ouvir e fazer ser ouvida a voz do Outro ao projetar a sua experiência?
  • 26. O Outro pode se sentir mais à vontade para falar em entrevistas em profundidade (Change by Design, 2014).
  • 27. O Outro precisa sentir que sua voz será ouvida. Através do Design Participativo gera-se o compromisso.
  • 28. A síntese das múltiplas vozes do Outro precisa ser muito cuidadosa para não silenciar ou diminuir nenhuma voz.
  • 29. Designers precisam defender a voz do Outro quando este não estiver presente para se defender.
  • 30. E quando o Outro diz algo anti-ético?
  • 31. Passageiros e motoristas concordam com a opção de viajar em silêncio no Uber Comfort. Isso é anti-ético porque o motorista não pode expressar suas preferências da mesma maneira.
  • 32. Como questionar eticamente aquilo que é considerado moral?
  • 33. O Teatro do Oprimido Tecnológico é uma maneira de sensibilizar e debater implicações éticas do uso de tecnologias. van Amstel, F. M. (2019). Teatro do Oprimido na Educação em Design de Interação. In Anais Estendidos do XVIII Simpósio Brasileiro sobre Fatores Humanos em Sistemas Computacionais (pp. 11-12). SBC.
  • 34. E quando não podemos eliminar a funcionalidade anti-ética?
  • 35. Podemos repassar o questionamento ético ao Outro, embora isso não seja tão responsável.
  • 36. Quando a interface representa ações humanas ao invés de conceitos computacionais, o Outro pode antecipar com maior precisão as consequências sociais de suas ações.
  • 37. E o que podemos fazer quando não podemos nem mudar o texto das interfaces?
  • 38. A estética também expressa a moralidade das interações (Salmazo, 2021).
  • 39. Mas o que é que ética tem a ver com estética?
  • 40. Por trás de toda estética, há uma ética implícita, ou seja, um modo de viver em sociedade. Por exemplo, animojis permitem expressar emoções para outras pessoas sem mostrar o rosto, tal como máscaras de carnaval.
  • 41. A máscara esconde a identidade do ator e permite que ele interaja como se fosse um personagem, tal como o bloco dos Bate-Bola no Rio de Janeiro. Isso é moral ou imoral? Depende. É anti-ético? Sim.
  • 42. A estética pode ou não acompanhar o debate sobre ética.
  • 43. A estética da interação costuma atender aos gostos típicos de classe, raça e gênero. Barbieri, F., & Camacho-Collados, J. (2018, June). How gender and skin tone modifiers affect emoji semantics in Twitter. In Proceedings of the Seventh Joint Conference on Lexical and Computational Semantics (pp. 101-106).
  • 44. Priorizar o gosto estético de grupos privilegiados costuma prejudicar grupos desprivilegiados.
  • 45. O que fazer quando o gosto preconceituoso do Mesmo distingue, exclui, diminui e desumaniza o Outro?
  • 46. Não há uma resposta fácil para isso. O grupo de estudos da rede Design & Opressão é um espaço para discutir esse assunto.
  • 47. A live sobre Augusto Boal e seu livro Estética do Oprimido (2009) pode ser um bom começo para quem quer se engajar com esse assunto.
  • 48. E se nada disso for possível? E se o grau de liberdade para tomar decisões éticas for zero? E se o Mesmo existir só para oprimir o Outro?
  • 49. Quando não há decisões éticas a fazer, o trabalho está prestes a ser automatizado. É melhor pedir demissão logo do que esperar por ela.
  • 50. E se as máquinas acabarem com todos os nossos empregos?
  • 51. É possível delegar decisões éticas e estéticas para as máquinas, mas não é possível delegar a responsabilidade por estas decisões.
  • 52. Designers de experiência precisam se tornar metadesigners ou infradesigners para ter a liberdade de tomar decisões éticas em um cenário de automação das experiências.
  • 53. Obrigado! Frederick van Amstel @usabilidoido Design de Serviços e Design de Experiências DADIN - UTFPR www.usabilidoido.com.br