SlideShare uma empresa Scribd logo
Fundamentos existenciais da
Pesquisa em Design
Frederick van Amstel @usabilidoido
Design de Serviços e Design de Experiências
DADIN - UTFPR, Brasil
www.usabilidoido.com.br
Sou um trabalhador científico localizado num país subdesenvolvido que
não dá prioridade à ciência para o seu desenvolvimento.
A minha condição existencial é o ponto de partida para as minhas
questões e projetos de investigação.
Quais são os objetivos das
ciências do design? Quem se
interessa por essas ciências? O que
pode ser feito com o conhecimento
produzido por essas ciências?
As pesquisas sobre opressão realizadas por Paulo Freire e outros tornou a
Educação e a pesquisa nas ciências sociais mais conscientes das
desigualdades estruturais da América Latina.
Por outro lado, a pesquisa sobre raça, gênero e cultura foi utilizada para
justificar a opressão de grupos sociais considerados inferiores (A
Redenção de Cam, 1895).
Como a ciência pode ser
projetada contra a opressão e a
favor da libertação?
O filósofo brasileiro Álvaro Vieira Pinto (1909-1987) escreveu sobre as
relações existenciais entre ciência e design.
Para ele, o mundo em que vivemos é produzido socialmente por nossas
mãos. Não temos contato imediato com a natureza, mas sim através de
mediações.
Para produzir nossa existência e continuar existindo, precisamos dominar
as mediações entre nossa consciência e nosso mundo: linguagem, técnica,
ferramentas, design e muitas outras.
Vieira Pinto define a ciência como autoconsciência máxima possível em
cada cultura humana. Assim, ele reconhece que há uma forma de ciência
em todas as culturas, embora com outros nomes.
A autoconsciência expande o domínio das mediações empregadas pelo
trabalho para transformar o mundo. Por sua vez, a transformação do
mundo cria novas possibilidades de consciência.
Todo trabalho é científico, mas algumas formas de trabalho são
legitimadas como mais científicas. A colonialidade do conhecimento
estabelece hierarquias entre as pessoas através de dicotomias.
trabalho científico
trabalho intelectual
ciência pura
ciência desenvolvida
teoria
trabalho técnico
trabalho manual
ciência aplicada
ciência subdesenvolvida
prática
Para superar essas dicotomias, Vieira Pinto recomenda incluir a condição
existencial do pesquisador como parte do problema de pesquisa e também
como uma mediação metodológica.
Se reconhecermos que nossa condição é subdesenvolvida e que não
podemos fazer a mesma ciência que as metrópoles coloniais, podemos
então nos debruçar sobre os problemas de nossos povos.
A colonialidade do conhecimento nos leva a pensar que as soluções para
nossos problemas estão sempre em outro lugar, em outro tempo, mas
nunca aqui e agora.
Junto com as soluções estrangeiras vêm também os problemas
estrangeiros. Habituamo-nos a resolver os problemas científicos de outros
países e ignoramos as nossas próprias ciências.
Para descobrir o que é possível no aqui e agora, devemos entender as
origens históricas de nossos problemas. Eu utilizo o conceito metodológico
de contradição para capturar esta historicidade.
Fome
Obesidade
Trabalho
Capital
Minha tese de doutorado identificou uma prática expansiva de design que
inclui contradições como fonte de mudança nas atividades e nos espaços
que habitamos (Van Amstel, 2015).
Desde que defendi minha tese na Holanda e retornei ao Brasil, tenho
focado minha pesquisa na contradição da opressão. Eu me pergunto:
como o design oprime e como ele liberta?
OPRESSORES
Grupos sociais
historicamente
privilegiados
OPRIMIDOS
Grupos sociais
historicamente
desprivilegiados
desumanização
subestimação
prescrição
negação
re-humanização
reação
crítica
afirmação
A contradição da opressão de acordo com Paulo Freire, Augusto
Boal e Vieira Pinto
interações
estéticas
DESIGNERS
grupo social
historicamente
privilegiado que
utiliza o
computador para
oprimir
USUÁRIOS
grupo social
historicamente
desprivilegiado
que usa o
computador para
libertar-se
A opressão dos usuários (Gonzatto & Van Amstel, 2022)
COMPUTA
DOR
desumanização
subestimação
prescrição
negação
re-humanização
reação
crítica
afirmação
Projetos de pesquisa em design
geralmente incluem
experimentos artísticos na
criação de situações.
A seguir, apresentarei os
experimentos que venho
realizando na minha pesquisa.
1. Primeiro experimento:
ver-se como uma pessoa
oprimida.
Teatro-Fórum sobre a precariedade do trabalho do designer para alunos
da USP (2020).
Inteligência artificial
que atende clientes e
distribui vagas na
plataforma
Designer
precarizado
trabalhando em
plataforma digital
Designer
precarizado que se
vê como empresário
2. Segundo experimento: ver-se
como uma pessoa opressora.
Oficina Arco-Íris do Desejo para examinar os opressores (os tiras) que
estão em nossas cabeças (2021).
3. Terceiro experimento:
subverter seus privilégios e
compartilhá-los com as lutas
de libertação.
Livros com histórias concretas de opressão escritas e projetadas por
estudantes da UTFPR (Editoração em Com. Org.).
3. Quarto experimento:
reconhecer que a nossa
liberdade depende da liberdade
dos grupos sociais a que
pertencemos.
Usando o baralho B.AKKA para questionar as condições existenciais de
nossos novos pesquisadores em design.
O que te impede de chegar lá?
O que está impedindo pessoas como você de chegar lá?
Quem é você? Quem você quer ser
depois do seu TCC?
4. Quinto experimento:
despertar a consciência social do
corpo coletivo com o design
participativo.
Os alunos da UTFPR escreverão um manifesto vestível sobre a
responsabilidade política do design em 2019.
Na versão digital do manifesto, quebraram quase todas as regras do
design que conheciam para se conscientizar da opressão do usuário.
Movimento iniciado pelo manifesto deu origem em 2021 ao Laboratório de
Design contra Opressões (LADO).
Os projetos de pesquisa do LADO são desenvolvidos em rede, a partir de
relações concretas entre muitas pessoas e grupos.
Segundo Vieira Pinto,
pesquisadores podem negar suas
origens e servir a outros corpos
coletivos, mas essa não é a
atitude moral mais consistente.
Na condição de
subdesenvolvimento,
pesquisadores devem se
identificar com o povo e com o
povo criar projetos de pesquisa
libertadores.
Assim, seu trabalho científico
contribuirá para um país mais
consciente de suas ciências, de suas
culturas e de seus mundos, enfim,
de quem somos enquanto uma
nação pluriversal.
Obrigado!
Frederick van Amstel @usabilidoido
Design de Serviços e Design de Experiências
DADIN - UTFPR, Brasil
www.usabilidoido.com.br

Mais conteúdo relacionado

Semelhante a Fundamentos Existenciais da Pesquisa em Design

Pensando (dentro do) fora da caixa
Pensando (dentro do) fora da caixaPensando (dentro do) fora da caixa
Pensando (dentro do) fora da caixaUTFPR
 
Plano para direitos humanos e vozes da escola
Plano para direitos humanos e vozes da escolaPlano para direitos humanos e vozes da escola
Plano para direitos humanos e vozes da escolaSuelen Fabiano Aguiar
 
Design expansivo: pensar o possível para fazer o impossível
Design expansivo: pensar o possível para fazer o impossívelDesign expansivo: pensar o possível para fazer o impossível
Design expansivo: pensar o possível para fazer o impossívelUTFPR
 
O “Aprender a Aprender” e ilusões da “Sociedade do Conhecimento”
O “Aprender a Aprender” e ilusões da “Sociedade do Conhecimento” O “Aprender a Aprender” e ilusões da “Sociedade do Conhecimento”
O “Aprender a Aprender” e ilusões da “Sociedade do Conhecimento” UNESP Marília
 
Ideologias
IdeologiasIdeologias
IdeologiasGEO TABA
 
Movimentos da Consciência Crítica na Educação em Design
Movimentos da Consciência Crítica na Educação em DesignMovimentos da Consciência Crítica na Educação em Design
Movimentos da Consciência Crítica na Educação em DesignUTFPR
 
QUARTA - 1EM SOCIOLOGIA - Aprender a pesquisar.pptx
QUARTA - 1EM SOCIOLOGIA - Aprender a pesquisar.pptxQUARTA - 1EM SOCIOLOGIA - Aprender a pesquisar.pptx
QUARTA - 1EM SOCIOLOGIA - Aprender a pesquisar.pptxIsabellaGomes58
 
Escola sem partido ou escola do partido único?
Escola sem partido ou escola do partido único?Escola sem partido ou escola do partido único?
Escola sem partido ou escola do partido único?Arare Carvalho Júnior
 
Design e sustentabilidade [Entrega final].pdf
Design e sustentabilidade [Entrega final].pdfDesign e sustentabilidade [Entrega final].pdf
Design e sustentabilidade [Entrega final].pdfMariaCristinaIbarra1
 
Design e sustentabilidade [Entrega final].pdf
Design e sustentabilidade [Entrega final].pdfDesign e sustentabilidade [Entrega final].pdf
Design e sustentabilidade [Entrega final].pdfRuanLima41
 
Afinal, existe racismo no Brasil?
Afinal, existe racismo no Brasil?Afinal, existe racismo no Brasil?
Afinal, existe racismo no Brasil?André Santos Luigi
 
AVALIAÇÃO FINAL O QUE É FILOSOFIA - Prof.Ms. Noe Assunção.docx
AVALIAÇÃO FINAL O QUE É FILOSOFIA - Prof.Ms. Noe Assunção.docxAVALIAÇÃO FINAL O QUE É FILOSOFIA - Prof.Ms. Noe Assunção.docx
AVALIAÇÃO FINAL O QUE É FILOSOFIA - Prof.Ms. Noe Assunção.docxProf. Noe Assunção
 
Renovar a teoria crítica
Renovar a teoria críticaRenovar a teoria crítica
Renovar a teoria críticaLívia Willborn
 
Design de coisas públicas
Design de coisas públicasDesign de coisas públicas
Design de coisas públicasUTFPR
 
COLÉGIO OLAVO BILAC - 3ª série IV nota de filosofia
COLÉGIO OLAVO BILAC - 3ª série   IV  nota de filosofiaCOLÉGIO OLAVO BILAC - 3ª série   IV  nota de filosofia
COLÉGIO OLAVO BILAC - 3ª série IV nota de filosofiaJorge Marcos Oliveira
 

Semelhante a Fundamentos Existenciais da Pesquisa em Design (20)

Pensando (dentro do) fora da caixa
Pensando (dentro do) fora da caixaPensando (dentro do) fora da caixa
Pensando (dentro do) fora da caixa
 
Plano para direitos humanos e vozes da escola
Plano para direitos humanos e vozes da escolaPlano para direitos humanos e vozes da escola
Plano para direitos humanos e vozes da escola
 
Design expansivo: pensar o possível para fazer o impossível
Design expansivo: pensar o possível para fazer o impossívelDesign expansivo: pensar o possível para fazer o impossível
Design expansivo: pensar o possível para fazer o impossível
 
O “Aprender a Aprender” e ilusões da “Sociedade do Conhecimento”
O “Aprender a Aprender” e ilusões da “Sociedade do Conhecimento” O “Aprender a Aprender” e ilusões da “Sociedade do Conhecimento”
O “Aprender a Aprender” e ilusões da “Sociedade do Conhecimento”
 
6173 18856-1-sm
6173 18856-1-sm6173 18856-1-sm
6173 18856-1-sm
 
Ideologias
IdeologiasIdeologias
Ideologias
 
Ideologias1
Ideologias1Ideologias1
Ideologias1
 
Ideologias1
Ideologias1Ideologias1
Ideologias1
 
Movimentos da Consciência Crítica na Educação em Design
Movimentos da Consciência Crítica na Educação em DesignMovimentos da Consciência Crítica na Educação em Design
Movimentos da Consciência Crítica na Educação em Design
 
QUARTA - 1EM SOCIOLOGIA - Aprender a pesquisar.pptx
QUARTA - 1EM SOCIOLOGIA - Aprender a pesquisar.pptxQUARTA - 1EM SOCIOLOGIA - Aprender a pesquisar.pptx
QUARTA - 1EM SOCIOLOGIA - Aprender a pesquisar.pptx
 
Escola sem partido ou escola do partido único?
Escola sem partido ou escola do partido único?Escola sem partido ou escola do partido único?
Escola sem partido ou escola do partido único?
 
Design e sustentabilidade [Entrega final].pdf
Design e sustentabilidade [Entrega final].pdfDesign e sustentabilidade [Entrega final].pdf
Design e sustentabilidade [Entrega final].pdf
 
Design e sustentabilidade [Entrega final].pdf
Design e sustentabilidade [Entrega final].pdfDesign e sustentabilidade [Entrega final].pdf
Design e sustentabilidade [Entrega final].pdf
 
Afinal, existe racismo no Brasil?
Afinal, existe racismo no Brasil?Afinal, existe racismo no Brasil?
Afinal, existe racismo no Brasil?
 
AVALIAÇÃO FINAL O QUE É FILOSOFIA - Prof.Ms. Noe Assunção.docx
AVALIAÇÃO FINAL O QUE É FILOSOFIA - Prof.Ms. Noe Assunção.docxAVALIAÇÃO FINAL O QUE É FILOSOFIA - Prof.Ms. Noe Assunção.docx
AVALIAÇÃO FINAL O QUE É FILOSOFIA - Prof.Ms. Noe Assunção.docx
 
Renovar a teoria crítica
Renovar a teoria críticaRenovar a teoria crítica
Renovar a teoria crítica
 
Psicologia das redes sociais
Psicologia das redes sociais Psicologia das redes sociais
Psicologia das redes sociais
 
Design de coisas públicas
Design de coisas públicasDesign de coisas públicas
Design de coisas públicas
 
Fight Gravity Book
Fight Gravity BookFight Gravity Book
Fight Gravity Book
 
COLÉGIO OLAVO BILAC - 3ª série IV nota de filosofia
COLÉGIO OLAVO BILAC - 3ª série   IV  nota de filosofiaCOLÉGIO OLAVO BILAC - 3ª série   IV  nota de filosofia
COLÉGIO OLAVO BILAC - 3ª série IV nota de filosofia
 

Mais de UTFPR

Cascading oppression in design
Cascading oppression in designCascading oppression in design
Cascading oppression in designUTFPR
 
Inteligência artificial e o trabalho de design
Inteligência artificial e o trabalho de designInteligência artificial e o trabalho de design
Inteligência artificial e o trabalho de designUTFPR
 
Expanding the design object
Expanding the design objectExpanding the design object
Expanding the design objectUTFPR
 
Creating possibilities for service design innovation
Creating possibilities for service design innovationCreating possibilities for service design innovation
Creating possibilities for service design innovationUTFPR
 
Contradiction-driven design
Contradiction-driven designContradiction-driven design
Contradiction-driven designUTFPR
 
Metacriatividade: criatividade sobre criatividade
Metacriatividade: criatividade sobre criatividadeMetacriatividade: criatividade sobre criatividade
Metacriatividade: criatividade sobre criatividadeUTFPR
 
Gestão do conhecimento na pesquisa de experiências
Gestão do conhecimento na pesquisa de experiênciasGestão do conhecimento na pesquisa de experiências
Gestão do conhecimento na pesquisa de experiênciasUTFPR
 
Jogos Surrealistas e Inteligência Artificial
Jogos Surrealistas e Inteligência ArtificialJogos Surrealistas e Inteligência Artificial
Jogos Surrealistas e Inteligência ArtificialUTFPR
 
El hacer como quehacer: notas para un diseño libre
El hacer como quehacer: notas para un diseño libreEl hacer como quehacer: notas para un diseño libre
El hacer como quehacer: notas para un diseño libreUTFPR
 
Expressando a posicionalidade do cria-corpo
Expressando a posicionalidade do cria-corpoExpressando a posicionalidade do cria-corpo
Expressando a posicionalidade do cria-corpoUTFPR
 
Pensamento visual expansivo
Pensamento visual expansivoPensamento visual expansivo
Pensamento visual expansivoUTFPR
 
O segredo da criatividade no design
O segredo da criatividade no designO segredo da criatividade no design
O segredo da criatividade no designUTFPR
 
Making work visible in the theater of service design
Making work visible in the theater of service designMaking work visible in the theater of service design
Making work visible in the theater of service designUTFPR
 
Can designers change systemic oppression?
Can designers change systemic oppression?Can designers change systemic oppression?
Can designers change systemic oppression?UTFPR
 
Design contra opressão
Design contra opressãoDesign contra opressão
Design contra opressãoUTFPR
 
O papel da teoria na pesquisa de experiências
O papel da teoria na pesquisa de experiênciasO papel da teoria na pesquisa de experiências
O papel da teoria na pesquisa de experiênciasUTFPR
 
Diseño y la colonialidad del hacer
Diseño y la colonialidad del hacerDiseño y la colonialidad del hacer
Diseño y la colonialidad del hacerUTFPR
 
Problematizando a experiência do usuário (ExU)
Problematizando a experiência do usuário (ExU)Problematizando a experiência do usuário (ExU)
Problematizando a experiência do usuário (ExU)UTFPR
 
Pesquisa bibliográfica de experiências (desk research)
Pesquisa bibliográfica de experiências (desk research)Pesquisa bibliográfica de experiências (desk research)
Pesquisa bibliográfica de experiências (desk research)UTFPR
 
Ética Latino-Americana no Design de Serviços
Ética Latino-Americana no Design de ServiçosÉtica Latino-Americana no Design de Serviços
Ética Latino-Americana no Design de ServiçosUTFPR
 

Mais de UTFPR (20)

Cascading oppression in design
Cascading oppression in designCascading oppression in design
Cascading oppression in design
 
Inteligência artificial e o trabalho de design
Inteligência artificial e o trabalho de designInteligência artificial e o trabalho de design
Inteligência artificial e o trabalho de design
 
Expanding the design object
Expanding the design objectExpanding the design object
Expanding the design object
 
Creating possibilities for service design innovation
Creating possibilities for service design innovationCreating possibilities for service design innovation
Creating possibilities for service design innovation
 
Contradiction-driven design
Contradiction-driven designContradiction-driven design
Contradiction-driven design
 
Metacriatividade: criatividade sobre criatividade
Metacriatividade: criatividade sobre criatividadeMetacriatividade: criatividade sobre criatividade
Metacriatividade: criatividade sobre criatividade
 
Gestão do conhecimento na pesquisa de experiências
Gestão do conhecimento na pesquisa de experiênciasGestão do conhecimento na pesquisa de experiências
Gestão do conhecimento na pesquisa de experiências
 
Jogos Surrealistas e Inteligência Artificial
Jogos Surrealistas e Inteligência ArtificialJogos Surrealistas e Inteligência Artificial
Jogos Surrealistas e Inteligência Artificial
 
El hacer como quehacer: notas para un diseño libre
El hacer como quehacer: notas para un diseño libreEl hacer como quehacer: notas para un diseño libre
El hacer como quehacer: notas para un diseño libre
 
Expressando a posicionalidade do cria-corpo
Expressando a posicionalidade do cria-corpoExpressando a posicionalidade do cria-corpo
Expressando a posicionalidade do cria-corpo
 
Pensamento visual expansivo
Pensamento visual expansivoPensamento visual expansivo
Pensamento visual expansivo
 
O segredo da criatividade no design
O segredo da criatividade no designO segredo da criatividade no design
O segredo da criatividade no design
 
Making work visible in the theater of service design
Making work visible in the theater of service designMaking work visible in the theater of service design
Making work visible in the theater of service design
 
Can designers change systemic oppression?
Can designers change systemic oppression?Can designers change systemic oppression?
Can designers change systemic oppression?
 
Design contra opressão
Design contra opressãoDesign contra opressão
Design contra opressão
 
O papel da teoria na pesquisa de experiências
O papel da teoria na pesquisa de experiênciasO papel da teoria na pesquisa de experiências
O papel da teoria na pesquisa de experiências
 
Diseño y la colonialidad del hacer
Diseño y la colonialidad del hacerDiseño y la colonialidad del hacer
Diseño y la colonialidad del hacer
 
Problematizando a experiência do usuário (ExU)
Problematizando a experiência do usuário (ExU)Problematizando a experiência do usuário (ExU)
Problematizando a experiência do usuário (ExU)
 
Pesquisa bibliográfica de experiências (desk research)
Pesquisa bibliográfica de experiências (desk research)Pesquisa bibliográfica de experiências (desk research)
Pesquisa bibliográfica de experiências (desk research)
 
Ética Latino-Americana no Design de Serviços
Ética Latino-Americana no Design de ServiçosÉtica Latino-Americana no Design de Serviços
Ética Latino-Americana no Design de Serviços
 

Fundamentos Existenciais da Pesquisa em Design

  • 1. Fundamentos existenciais da Pesquisa em Design Frederick van Amstel @usabilidoido Design de Serviços e Design de Experiências DADIN - UTFPR, Brasil www.usabilidoido.com.br
  • 2. Sou um trabalhador científico localizado num país subdesenvolvido que não dá prioridade à ciência para o seu desenvolvimento.
  • 3. A minha condição existencial é o ponto de partida para as minhas questões e projetos de investigação.
  • 4. Quais são os objetivos das ciências do design? Quem se interessa por essas ciências? O que pode ser feito com o conhecimento produzido por essas ciências?
  • 5. As pesquisas sobre opressão realizadas por Paulo Freire e outros tornou a Educação e a pesquisa nas ciências sociais mais conscientes das desigualdades estruturais da América Latina.
  • 6. Por outro lado, a pesquisa sobre raça, gênero e cultura foi utilizada para justificar a opressão de grupos sociais considerados inferiores (A Redenção de Cam, 1895).
  • 7. Como a ciência pode ser projetada contra a opressão e a favor da libertação?
  • 8. O filósofo brasileiro Álvaro Vieira Pinto (1909-1987) escreveu sobre as relações existenciais entre ciência e design.
  • 9. Para ele, o mundo em que vivemos é produzido socialmente por nossas mãos. Não temos contato imediato com a natureza, mas sim através de mediações.
  • 10. Para produzir nossa existência e continuar existindo, precisamos dominar as mediações entre nossa consciência e nosso mundo: linguagem, técnica, ferramentas, design e muitas outras.
  • 11. Vieira Pinto define a ciência como autoconsciência máxima possível em cada cultura humana. Assim, ele reconhece que há uma forma de ciência em todas as culturas, embora com outros nomes.
  • 12. A autoconsciência expande o domínio das mediações empregadas pelo trabalho para transformar o mundo. Por sua vez, a transformação do mundo cria novas possibilidades de consciência.
  • 13. Todo trabalho é científico, mas algumas formas de trabalho são legitimadas como mais científicas. A colonialidade do conhecimento estabelece hierarquias entre as pessoas através de dicotomias.
  • 14. trabalho científico trabalho intelectual ciência pura ciência desenvolvida teoria trabalho técnico trabalho manual ciência aplicada ciência subdesenvolvida prática
  • 15. Para superar essas dicotomias, Vieira Pinto recomenda incluir a condição existencial do pesquisador como parte do problema de pesquisa e também como uma mediação metodológica.
  • 16. Se reconhecermos que nossa condição é subdesenvolvida e que não podemos fazer a mesma ciência que as metrópoles coloniais, podemos então nos debruçar sobre os problemas de nossos povos.
  • 17. A colonialidade do conhecimento nos leva a pensar que as soluções para nossos problemas estão sempre em outro lugar, em outro tempo, mas nunca aqui e agora.
  • 18. Junto com as soluções estrangeiras vêm também os problemas estrangeiros. Habituamo-nos a resolver os problemas científicos de outros países e ignoramos as nossas próprias ciências.
  • 19. Para descobrir o que é possível no aqui e agora, devemos entender as origens históricas de nossos problemas. Eu utilizo o conceito metodológico de contradição para capturar esta historicidade. Fome Obesidade Trabalho Capital
  • 20. Minha tese de doutorado identificou uma prática expansiva de design que inclui contradições como fonte de mudança nas atividades e nos espaços que habitamos (Van Amstel, 2015).
  • 21. Desde que defendi minha tese na Holanda e retornei ao Brasil, tenho focado minha pesquisa na contradição da opressão. Eu me pergunto: como o design oprime e como ele liberta?
  • 23. DESIGNERS grupo social historicamente privilegiado que utiliza o computador para oprimir USUÁRIOS grupo social historicamente desprivilegiado que usa o computador para libertar-se A opressão dos usuários (Gonzatto & Van Amstel, 2022) COMPUTA DOR desumanização subestimação prescrição negação re-humanização reação crítica afirmação
  • 24.
  • 25. Projetos de pesquisa em design geralmente incluem experimentos artísticos na criação de situações.
  • 26. A seguir, apresentarei os experimentos que venho realizando na minha pesquisa.
  • 27. 1. Primeiro experimento: ver-se como uma pessoa oprimida.
  • 28. Teatro-Fórum sobre a precariedade do trabalho do designer para alunos da USP (2020). Inteligência artificial que atende clientes e distribui vagas na plataforma Designer precarizado trabalhando em plataforma digital Designer precarizado que se vê como empresário
  • 29. 2. Segundo experimento: ver-se como uma pessoa opressora.
  • 30. Oficina Arco-Íris do Desejo para examinar os opressores (os tiras) que estão em nossas cabeças (2021).
  • 31. 3. Terceiro experimento: subverter seus privilégios e compartilhá-los com as lutas de libertação.
  • 32. Livros com histórias concretas de opressão escritas e projetadas por estudantes da UTFPR (Editoração em Com. Org.).
  • 33. 3. Quarto experimento: reconhecer que a nossa liberdade depende da liberdade dos grupos sociais a que pertencemos.
  • 34. Usando o baralho B.AKKA para questionar as condições existenciais de nossos novos pesquisadores em design. O que te impede de chegar lá? O que está impedindo pessoas como você de chegar lá? Quem é você? Quem você quer ser depois do seu TCC?
  • 35. 4. Quinto experimento: despertar a consciência social do corpo coletivo com o design participativo.
  • 36. Os alunos da UTFPR escreverão um manifesto vestível sobre a responsabilidade política do design em 2019.
  • 37. Na versão digital do manifesto, quebraram quase todas as regras do design que conheciam para se conscientizar da opressão do usuário.
  • 38. Movimento iniciado pelo manifesto deu origem em 2021 ao Laboratório de Design contra Opressões (LADO).
  • 39. Os projetos de pesquisa do LADO são desenvolvidos em rede, a partir de relações concretas entre muitas pessoas e grupos.
  • 40. Segundo Vieira Pinto, pesquisadores podem negar suas origens e servir a outros corpos coletivos, mas essa não é a atitude moral mais consistente.
  • 41. Na condição de subdesenvolvimento, pesquisadores devem se identificar com o povo e com o povo criar projetos de pesquisa libertadores.
  • 42. Assim, seu trabalho científico contribuirá para um país mais consciente de suas ciências, de suas culturas e de seus mundos, enfim, de quem somos enquanto uma nação pluriversal.
  • 43. Obrigado! Frederick van Amstel @usabilidoido Design de Serviços e Design de Experiências DADIN - UTFPR, Brasil www.usabilidoido.com.br