1. Ficha formativa – 11º Ano FILOSOFIA
TEMA: O apriorismo de Kant
Texto
“Não resta dúvida de que todo o nosso conhecimento começa pela experiência; efectivamente, que outra coisa
poderia despertar e pôr em acção a nossa capacidade de conhecer senão os objectos que afectam os sentidos e que,
por um lado, originam por si mesmos as representações e, por outro lado, pôem em movimento a nossa faculdade
intelectual e levam-na a compará-las, ligá-las ou separá-las, transformando assim a matéria bruta das impressões
sensíveis num conhecimento que se denomina experiência? Assim, na ordem do tempo, nenhum conhecimento
precede em nós a experiência e é com esta que todo o conhecimento tem o seu início.
Se, porém, todo o conhecimento se inicia com a experiência, isso não prova que todo ele derive da
experiência. Pois bem poderia o nosso próprio conhecimento por experiência ser um composto do que recebemos
através das impressões sensíveis e daquilo que a nossa própria capacidade de conhecer (apenas posta em acção
por impressões sensíveis) produz por si mesma, acréscimo esse que não distinguimos dessa matéria-prima,
enquanto a nossa atenção não despertar por um longo exercício que nos torne aptos a separá-los.
Há pois, pelo menos, uma questão que carece de um estudo mais atento e que não se resolve à primeira vista, vem a
ser esta: se haverá um conhecimento assim, independente da experiência e de todas as impressões dos sentidos.
Denomina-se a priori esse conhecimento e distingue-se do empírico, cuja origem é a posteriori, ou seja, na
experiência.
Esta expressão não é, contudo, ainda suficientemente definida para designar de um modo conveniente todo o sentido
da questão apresentada. Na verdade, costuma dizer-se de alguns conhecimentos, provenientes de fontes da
experiência, que deles somos capazes ou os possuímos a priori, porque os não derivamos imediatamente da
experiência, mas de uma regra geral que todavia fomos buscar à experiência. Assim, diz-se de alguém, que minou os
alicerces da sua casa, que podia saber a priori que ela havia de ruir, isto é, que não deveria esperar, para saber pela
experiência, o real desmoronamento. Contudo, não poderia sabê-lo totalmente a priori, pois era necessário ter-lhe
sido revelado anteriormente, pela experiência, que os corpos são pesados e caem quando lhes é retirado o
sustentáculo.
Por esta razão designaremos, doravante, por juízos a priori, não aqueles que não dependem desta ou daquela
experiência, mas aqueles em que se verifica absoluta independência de toda e qualquer experiência. Dos
conhecimentos a priori, são puros aqueles em que nada de empírico se mistura. Assim, por exemplo, a proposição,
segundo a qual toda a mudança tem uma causa, é uma proposição a priori, mas não é pura, porque a mudança é um
conceito que só pode extrair-se da experiência.”
I.Kant, Crítica da Razão Pura, Fundação Calouste Gulbenkian, pp. 36 e 37.
- Posição de Kant face ao empirismo e racionalismo.
- Como entende Kant o conhecimento?
- O que se pode conhecer, segundo Kant?
Professora: Rosa Sousa