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Fibromialgia


     Licia Maria Henrique da Mota




Hospital Universitário de Brasília – HUB



FARMACOLOGIA CLÍNICA APLICADA
"Onde é que dói na minha vida
para que eu me sinta tão mal?"




                   Cecília Meireles
Fibromialgia - Introdução


• Síndrome dolorosa musculoesquelética crônica
  caracterizada por dor difusa e presença de
  pontos dolorosos

•   Amplificação central da dor
•   Sem evidência de inflamação ou lesão tecidual
•   Exame físico e laboratorial normais
•   90% mulheres com pico 30-50 anos
•   Susceptibilidade: familiar/ agentes “estressores”
Fibromialgia-Introdução

Características:
• Dor crônica musculoesquelética generalizada
• Dor em determinados locais “tender points”
• Outros sintomas: fadiga, alterações do sono, cefaleia,
  sínd colon irritável, parestesias, Fenômeno Raynaud,
  depressão e ansiedade
• Tratamento
   – Exercícios     aeróbicos     /   terapia cognitiva
     comportamental
   – Drogas neuroativas: analgésicos, antidepressivos
     e anticonvulsivantes
Fibromialgia - Histórico

• 1800: relatos de casos sugestivos
• 1904 Foriep e Gowers
   – “fibrosite x tensão x reumatismo psicogênico”
• 1970 Smythe e Moldfsky – definiram os pontos
  dolorosos e alteração no estágio 4 do sono
• 1981 Yunus: Manifestações clínicas
• 1980- debate sobre critérios diagnósticos
• 1990 ACR (Wolfe e cols)-
   – 293 fibromialgia x 265 controles
Fibromialgia- Epidemiologia

• Prevalência 1980:
  Clínica médica 4 %
      Hospitalar 6 %
  Reumatologia 20%
• População geral EUA em 1995 - 2% (3,4% fem e
  0,5% masc). População rural = cidade
Fibromialgia- Epidemiologia

• Prevalência aumenta com a idade - 7% em
  mulheres 60-80 anos
• Risco 8 vezes maior em parentes de 1º grau
• 25% dos pacientes com Lupus, Artrite reumatoide e
  Espondilite anquilosante
• 10% população com dor difusa em algum período
Fibromialgia - Diagnóstico


• Critérios classificatórios ACR

   - Dor difusa: 4 quadrantes (bilateral, acima e abaixo
     do quadril) e axial (tronco ou um dos segmentos da
     coluna) por 3 meses consecutivos

   - 11 dos 18 pontos dolorosos – “tender points”

   - Sensibilidade 88,4%. Especificidade 81,1%
As Três Graças
Pieter Paul Rubens
Fibromialgia- Diagnóstico


• ACR 1990 (293 pacientes)

-   Idade média:   49 anos
-   Mulheres:      89%
-   Caucasianas:   93%
-   Hispânicas:    5%
-   Negras:        1%
Fibromialgia – “tender points”
• 9 pares = 18
• Dor ou desconforto – 4kg de pressão
• Serve apenas para classificar pacientes em
  estudos clínicos
• Na pratica diária não são necessários 11 pontos
  para o diagnóstico
• Parecem avaliar o grau de ansiedade
• Não se correlacionam com o nível de dor
• Critérios classificatórios no Brasil, Homens??
Fibromialgia - clínica
• Dor :
   - Início localizada (nuca e ombros)
   - Mal localizada e mal definida
   - Intensidade variável > Artrite Reumatoide
   - Grau de incapacidade > Artrite Reumatoide
   - Limiar de dor menor para estímulos térmicos, elétricos
     ou de pressão
   - Modulação: exercícios, clima, psicológico
   - Sensação de edema
   - Associado ou não à dor miofascial (“trigger points”)
Fibromialgia - clínica
•   Fadiga (ao acordar e no final da tarde)
•   Rigidez matinal
•   Problemas do sono
•   Cefaleia (tensional, migrânea)
•   Síndrome do colon irritável
•   Dificuldade de concentração
•   Síndrome sicca
Fibromialgia - clínica

•   Tontura, zumbidos
•   Palpitações
•   Parestesias
•   Fraqueza muscular
•   Somatização
•   Depressão
•   Ansiedade
Fibromialgia - Investigação
• Laboratório: normal
• Testes séricos de triagem e função tireoidiana
• Parestesias – normalmente com investigação
  e tratamento cirúrgico sem sucesso
• 10% pacientes com FM com FAN +
• História do sono (apneia do sono mais comum
  em homens com FM)
Fibromialgia – diagnóstico diferencial
      e condições associadas
• Fenômeno de Raynaud e sindrome sicca em 22 – 35%
• Hipotireoidismo (sem melhora com a correção da doença)
• Medicamentos (redutores do colesterol, anti-virais, retirada
  de corticosteroides)
• Polimialgia reumática
• Estenose de canal cervical
• LES, AR, EA
• Hepatite C, Parvovírus B19, Dç de Lyme
• Endócrinas: Addison, Hiperparatireoidismo, Cushing
Fibromialgia – Condições
             Psiquiátricas
• Maioria não têm Dç pisiquátrica (dor/alteração
  do humor) – viés da análise dos pacientes
• 75% sem psicopatologia – dor crônica
• 25% c/ depressão maior (Antecedentes)
• Muitos pacientes com humor deprimido e com
  ansiedade associada (típico de dor crônica)
• Não existe um tipo de personalidade definida
  para a doença
• Histórico de abuso sexual na infância
Fibromialgia - Etilogia
• Não se acredita que a FM seja causada por um
  evento único
• Evento precipitante
• Alterações neuro-hormonais e psicosociais
• Não comprovado a persistência de agente
  infeccioso
• Risco 8 x maior em parentes 1º grau
• Polimorfismo genético (T/T 5-HT2A, receptor 4
  dopamina)
Fibromialgia – Eventos
      potencialmente precipitantes
•   Síndromes dolorosas periféricas
•   Infecções (parvovírus, EBV, Lyme, febre Q, IVAS)
•   Trauma físico (acidentes automobilísticos)
•   Stress psíquico
•   Alterações hormonais
•   Drogas
•   Vacinas
•   Eventos catastróficos (desastres naturais, guerras)
Fibromialgia – Patogênese
•   Alteração no processamento da dor no SNC
•   Processamento da dor na medula espinhal
•   Periférica
•   Neurotransmissores da dor
•   Neuro-hormonais
•   Psíquicas
•   Sono
Fibromialgia – Patogênese
Neurotrasmissores e dor:
• Hipersensibilidade a dor
• Substância P 3x maior no liquor
• Deficiência de serotonina no SNC e SNP- redução da
  tolerância a dor a estímulos elétricos, calor e pressão
• SPECT: fluxo sanguíneo reduzido nos hemitálamos e
  no núcleo caudado (percepção da dor)
• RNM funcional: diminuição de atividade neuronal nas
  vias descendentes (subst periaquidutal cinza, núcleo
  rostal ventromedial)
Fibromialgia - Patogênese
• Músculo (inatividade e dor = falta            de
  condicionamento):
   - Atrofia fibras tipo II
   - Fibras reticulares anormais
   - Edema focal
   - Alterações nas mitocôndrias e glicogênio
   - ATP, ADP e fosfocreatina baixos
   - AMP e creatina alto
Fibromialgia - Patogênese
• Níveis aumentados dos receptores a 2 adrenérgicos
  plaquetários
• Stress físico ou psicológico (predisposição): aumento da
  atividade do sistema nervoso simpático – aumento dos
  sintomas
• Mudança no sistema nervoso autônomo periférico
   - Hipereatividade cutânea
   - Hipersensibilidade ao frio
   - Fenômeno de Raynaud
   - Síndrome sicca
Fibromialgia – Patogênese - SNC
Alteração no sono:
• Ondas lentas no sono alfa – delta ? Fase 4 do
   sono não REM
• Mioclonias no sono
• Apnéia do sono
Fibromialgia – Patogênese
Neurohormônios e dor:
• Redução do GH (homeostase muscular – fase 4
  sono)
• Nível baixo de cortisol livre urinário (resposta baixa
  ao CRH)
• Sem flutuação circadiana do nível de cortisol
• Baixa resposta adrenal ao stress agudo (stress
  crônico)
• Hiper-reatividade do eixo HHA
Fibromialgia - tratamento
•   Aumento da analgesia periférica e central
•   Melhorar alterações do sono
•   Diminuir transtornos do humor
•   Melhorar o fluxo sanguíneo muscular e dos tecidos
    superficiais

• Tentar Identificar fatores psicosociais que possam
  influenciar o tratamento
* Giescke e cols Arthritis Rheum 2003
Fibromialgia - tratamento
Educação ( 60 – 90 min):
• Condição não maligna não deformante
• Sem ameaça a vida
• Comparação com migrânea
• Orientação familiar
• Questão psicológica
• Sono e condicionamento físico
• Cuidado em rotular pessoas muito ansiosas
Fibromialgia – Tratamento não
          medicamentoso
• Forte evidência: condicionamento cardiovascular,
  terapia cognitiva comportamental, educação,
  abordagem multidisciplinar
• Razoável evidência: Treinamento de força,
  biofeedback, hipnoterapia
• Fraca     evidência:      acupuntura, quiropraxia,
  massagem, eletroterapia, ultrasom
• Sem evidência: infiltração de tender points,
  exercícios de flexibilidade
Fibromialgia – Tratamento
             Medicamentoso
• Drogas            neuroativas          (antidepressivos,
  anticonvulsivantes, miorelaxantes, hipnóticos etc)
• Melhoram: dor, sono, fadiga, humor e outras condições
• Efeito melhor que o placebo - modesto e pouco durador
• Inicio de ação – 1- 3 semanas

• Analgésicos
• Opioides (tramadol)
• AINE – Melhoram        apenas    condições   periféricas
  associadas
Fibromialgia – Tratamento
            Medicamentoso
• Forte      evidência:    tricíclicos     (amitriptilina,
  ciclobenzaprina), inibidores duais da recaptação
  (SNRI/NSRI venlaflaxina, duloxetina, milnacipran)
• Razoável evidência: tramadol, inibidores seletivos
  da recaptação da serotonina (SSRI- fluoxetiina)
  (a2t      ligantes-     pregabalina),        agonistas
  dopaminérgicos
• Fraca     evidência:     GH,       5-hidroxitriptamina,
  tropisetron
• Sem evidência: opioides, AINE, corticosteroides,
  hipnóticos, melatonina, DHEA, guanifenesina
Fibromialgia - Tratamento
•   Amitriptilina 10-50 mg/dia
•   Fluoxetine 20-60 mg/dia
•   Venlaflaxina 150-225 mg/dia
•   Duloxetine 30-60 mg/dia
•   Gabapentina 300-1800 mg/dia
•   Pregabalina 150-450 mg/dia
•   Topiramato 25- 200 mg/dia

• Hipnóticos em casos selecionados
Fibromialgia – Tratamento
            multidisciplinar
• Terapia física e ocupacional
   – Descondicionamento muscular
   – Dores regionais
   – Programas de assitência
• Saúde mental
   – Terapia cognitiva comportamental
   – Redução do stress
   – Cursos de auto-ajuda
   – Medicamentos
• Assistência médica
   – Educação
   – Manutenção da saúde
   – Medicamentos
Fibromialgia - Evolução
•  80% dos pacientes continuam usando a
  medicação
• 67% com pouca melhora (continuando com dor
  moderada a severa)
• Melhor prognóstico: Pacientes de unidade primária
• Pior prognóstico: Pacientes de unidades terciária
Fibromialgia - Evolução
• 9 - 44% abandonaram o emprego (dor e estado
  psicológico)
• HAQ = ou pior comparado aos pacientes com AR
Conclusão
• Doença muito prevalente

• Diagnóstico diferencial / Associação de doenças

• Perspectivas
   – Estratégias preventivas
   – Centros multidisciplinares
   – Estudo da dor
“Suporta-se com muita paciência a
      dor no fígado alheio.”




                 Machado de Assis
"Espero alegremente a saída - e
espero nunca mais voltar - Frida"




                     Frida Kahlo
“A verdadeira medida de um homem não é como
ele se comporta em momentos de conforto e
conveniência, mas como ele se mantém em
tempos de controvérsia e desafio”

                           Martin Luther King

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  • 1. Fibromialgia Licia Maria Henrique da Mota Hospital Universitário de Brasília – HUB FARMACOLOGIA CLÍNICA APLICADA
  • 2. "Onde é que dói na minha vida para que eu me sinta tão mal?" Cecília Meireles
  • 3. Fibromialgia - Introdução • Síndrome dolorosa musculoesquelética crônica caracterizada por dor difusa e presença de pontos dolorosos • Amplificação central da dor • Sem evidência de inflamação ou lesão tecidual • Exame físico e laboratorial normais • 90% mulheres com pico 30-50 anos • Susceptibilidade: familiar/ agentes “estressores”
  • 4. Fibromialgia-Introdução Características: • Dor crônica musculoesquelética generalizada • Dor em determinados locais “tender points” • Outros sintomas: fadiga, alterações do sono, cefaleia, sínd colon irritável, parestesias, Fenômeno Raynaud, depressão e ansiedade • Tratamento – Exercícios aeróbicos / terapia cognitiva comportamental – Drogas neuroativas: analgésicos, antidepressivos e anticonvulsivantes
  • 5. Fibromialgia - Histórico • 1800: relatos de casos sugestivos • 1904 Foriep e Gowers – “fibrosite x tensão x reumatismo psicogênico” • 1970 Smythe e Moldfsky – definiram os pontos dolorosos e alteração no estágio 4 do sono • 1981 Yunus: Manifestações clínicas • 1980- debate sobre critérios diagnósticos • 1990 ACR (Wolfe e cols)- – 293 fibromialgia x 265 controles
  • 6. Fibromialgia- Epidemiologia • Prevalência 1980: Clínica médica 4 % Hospitalar 6 % Reumatologia 20% • População geral EUA em 1995 - 2% (3,4% fem e 0,5% masc). População rural = cidade
  • 7. Fibromialgia- Epidemiologia • Prevalência aumenta com a idade - 7% em mulheres 60-80 anos • Risco 8 vezes maior em parentes de 1º grau • 25% dos pacientes com Lupus, Artrite reumatoide e Espondilite anquilosante • 10% população com dor difusa em algum período
  • 8. Fibromialgia - Diagnóstico • Critérios classificatórios ACR - Dor difusa: 4 quadrantes (bilateral, acima e abaixo do quadril) e axial (tronco ou um dos segmentos da coluna) por 3 meses consecutivos - 11 dos 18 pontos dolorosos – “tender points” - Sensibilidade 88,4%. Especificidade 81,1%
  • 9.
  • 10.
  • 11. As Três Graças Pieter Paul Rubens
  • 12. Fibromialgia- Diagnóstico • ACR 1990 (293 pacientes) - Idade média: 49 anos - Mulheres: 89% - Caucasianas: 93% - Hispânicas: 5% - Negras: 1%
  • 13. Fibromialgia – “tender points” • 9 pares = 18 • Dor ou desconforto – 4kg de pressão • Serve apenas para classificar pacientes em estudos clínicos • Na pratica diária não são necessários 11 pontos para o diagnóstico • Parecem avaliar o grau de ansiedade • Não se correlacionam com o nível de dor • Critérios classificatórios no Brasil, Homens??
  • 14. Fibromialgia - clínica • Dor : - Início localizada (nuca e ombros) - Mal localizada e mal definida - Intensidade variável > Artrite Reumatoide - Grau de incapacidade > Artrite Reumatoide - Limiar de dor menor para estímulos térmicos, elétricos ou de pressão - Modulação: exercícios, clima, psicológico - Sensação de edema - Associado ou não à dor miofascial (“trigger points”)
  • 15.
  • 16. Fibromialgia - clínica • Fadiga (ao acordar e no final da tarde) • Rigidez matinal • Problemas do sono • Cefaleia (tensional, migrânea) • Síndrome do colon irritável • Dificuldade de concentração • Síndrome sicca
  • 17. Fibromialgia - clínica • Tontura, zumbidos • Palpitações • Parestesias • Fraqueza muscular • Somatização • Depressão • Ansiedade
  • 18.
  • 19.
  • 20.
  • 21.
  • 22. Fibromialgia - Investigação • Laboratório: normal • Testes séricos de triagem e função tireoidiana • Parestesias – normalmente com investigação e tratamento cirúrgico sem sucesso • 10% pacientes com FM com FAN + • História do sono (apneia do sono mais comum em homens com FM)
  • 23.
  • 24. Fibromialgia – diagnóstico diferencial e condições associadas • Fenômeno de Raynaud e sindrome sicca em 22 – 35% • Hipotireoidismo (sem melhora com a correção da doença) • Medicamentos (redutores do colesterol, anti-virais, retirada de corticosteroides) • Polimialgia reumática • Estenose de canal cervical • LES, AR, EA • Hepatite C, Parvovírus B19, Dç de Lyme • Endócrinas: Addison, Hiperparatireoidismo, Cushing
  • 25. Fibromialgia – Condições Psiquiátricas • Maioria não têm Dç pisiquátrica (dor/alteração do humor) – viés da análise dos pacientes • 75% sem psicopatologia – dor crônica • 25% c/ depressão maior (Antecedentes) • Muitos pacientes com humor deprimido e com ansiedade associada (típico de dor crônica) • Não existe um tipo de personalidade definida para a doença • Histórico de abuso sexual na infância
  • 26. Fibromialgia - Etilogia • Não se acredita que a FM seja causada por um evento único • Evento precipitante • Alterações neuro-hormonais e psicosociais • Não comprovado a persistência de agente infeccioso • Risco 8 x maior em parentes 1º grau • Polimorfismo genético (T/T 5-HT2A, receptor 4 dopamina)
  • 27. Fibromialgia – Eventos potencialmente precipitantes • Síndromes dolorosas periféricas • Infecções (parvovírus, EBV, Lyme, febre Q, IVAS) • Trauma físico (acidentes automobilísticos) • Stress psíquico • Alterações hormonais • Drogas • Vacinas • Eventos catastróficos (desastres naturais, guerras)
  • 28.
  • 29. Fibromialgia – Patogênese • Alteração no processamento da dor no SNC • Processamento da dor na medula espinhal • Periférica • Neurotransmissores da dor • Neuro-hormonais • Psíquicas • Sono
  • 30.
  • 31. Fibromialgia – Patogênese Neurotrasmissores e dor: • Hipersensibilidade a dor • Substância P 3x maior no liquor • Deficiência de serotonina no SNC e SNP- redução da tolerância a dor a estímulos elétricos, calor e pressão • SPECT: fluxo sanguíneo reduzido nos hemitálamos e no núcleo caudado (percepção da dor) • RNM funcional: diminuição de atividade neuronal nas vias descendentes (subst periaquidutal cinza, núcleo rostal ventromedial)
  • 32. Fibromialgia - Patogênese • Músculo (inatividade e dor = falta de condicionamento): - Atrofia fibras tipo II - Fibras reticulares anormais - Edema focal - Alterações nas mitocôndrias e glicogênio - ATP, ADP e fosfocreatina baixos - AMP e creatina alto
  • 33. Fibromialgia - Patogênese • Níveis aumentados dos receptores a 2 adrenérgicos plaquetários • Stress físico ou psicológico (predisposição): aumento da atividade do sistema nervoso simpático – aumento dos sintomas • Mudança no sistema nervoso autônomo periférico - Hipereatividade cutânea - Hipersensibilidade ao frio - Fenômeno de Raynaud - Síndrome sicca
  • 34. Fibromialgia – Patogênese - SNC Alteração no sono: • Ondas lentas no sono alfa – delta ? Fase 4 do sono não REM • Mioclonias no sono • Apnéia do sono
  • 35. Fibromialgia – Patogênese Neurohormônios e dor: • Redução do GH (homeostase muscular – fase 4 sono) • Nível baixo de cortisol livre urinário (resposta baixa ao CRH) • Sem flutuação circadiana do nível de cortisol • Baixa resposta adrenal ao stress agudo (stress crônico) • Hiper-reatividade do eixo HHA
  • 36. Fibromialgia - tratamento • Aumento da analgesia periférica e central • Melhorar alterações do sono • Diminuir transtornos do humor • Melhorar o fluxo sanguíneo muscular e dos tecidos superficiais • Tentar Identificar fatores psicosociais que possam influenciar o tratamento
  • 37. * Giescke e cols Arthritis Rheum 2003
  • 38. Fibromialgia - tratamento Educação ( 60 – 90 min): • Condição não maligna não deformante • Sem ameaça a vida • Comparação com migrânea • Orientação familiar • Questão psicológica • Sono e condicionamento físico • Cuidado em rotular pessoas muito ansiosas
  • 39. Fibromialgia – Tratamento não medicamentoso • Forte evidência: condicionamento cardiovascular, terapia cognitiva comportamental, educação, abordagem multidisciplinar • Razoável evidência: Treinamento de força, biofeedback, hipnoterapia • Fraca evidência: acupuntura, quiropraxia, massagem, eletroterapia, ultrasom • Sem evidência: infiltração de tender points, exercícios de flexibilidade
  • 40. Fibromialgia – Tratamento Medicamentoso • Drogas neuroativas (antidepressivos, anticonvulsivantes, miorelaxantes, hipnóticos etc) • Melhoram: dor, sono, fadiga, humor e outras condições • Efeito melhor que o placebo - modesto e pouco durador • Inicio de ação – 1- 3 semanas • Analgésicos • Opioides (tramadol) • AINE – Melhoram apenas condições periféricas associadas
  • 41. Fibromialgia – Tratamento Medicamentoso • Forte evidência: tricíclicos (amitriptilina, ciclobenzaprina), inibidores duais da recaptação (SNRI/NSRI venlaflaxina, duloxetina, milnacipran) • Razoável evidência: tramadol, inibidores seletivos da recaptação da serotonina (SSRI- fluoxetiina) (a2t ligantes- pregabalina), agonistas dopaminérgicos • Fraca evidência: GH, 5-hidroxitriptamina, tropisetron • Sem evidência: opioides, AINE, corticosteroides, hipnóticos, melatonina, DHEA, guanifenesina
  • 42.
  • 43.
  • 44.
  • 45.
  • 46. Fibromialgia - Tratamento • Amitriptilina 10-50 mg/dia • Fluoxetine 20-60 mg/dia • Venlaflaxina 150-225 mg/dia • Duloxetine 30-60 mg/dia • Gabapentina 300-1800 mg/dia • Pregabalina 150-450 mg/dia • Topiramato 25- 200 mg/dia • Hipnóticos em casos selecionados
  • 47. Fibromialgia – Tratamento multidisciplinar • Terapia física e ocupacional – Descondicionamento muscular – Dores regionais – Programas de assitência • Saúde mental – Terapia cognitiva comportamental – Redução do stress – Cursos de auto-ajuda – Medicamentos • Assistência médica – Educação – Manutenção da saúde – Medicamentos
  • 48. Fibromialgia - Evolução • 80% dos pacientes continuam usando a medicação • 67% com pouca melhora (continuando com dor moderada a severa) • Melhor prognóstico: Pacientes de unidade primária • Pior prognóstico: Pacientes de unidades terciária
  • 49. Fibromialgia - Evolução • 9 - 44% abandonaram o emprego (dor e estado psicológico) • HAQ = ou pior comparado aos pacientes com AR
  • 50. Conclusão • Doença muito prevalente • Diagnóstico diferencial / Associação de doenças • Perspectivas – Estratégias preventivas – Centros multidisciplinares – Estudo da dor
  • 51. “Suporta-se com muita paciência a dor no fígado alheio.” Machado de Assis
  • 52. "Espero alegremente a saída - e espero nunca mais voltar - Frida" Frida Kahlo
  • 53. “A verdadeira medida de um homem não é como ele se comporta em momentos de conforto e conveniência, mas como ele se mantém em tempos de controvérsia e desafio” Martin Luther King