2. ANTECEDENTES
segunda geração do modernismo brasileiro
o Manifesto Regionalista de 1926
Em
1926,
Gilberto
Freyre
lê
seu
“Manifesto
Regionalista”,
no
qual
defende
que
os
escritores
nordesAnos
se
voltem
para
as
tradições
de
sua
região
e
a
representem
arAsAcamente
na
literatura.
Na
verdade,
o
“Manifesto
Regionalista”
–
que
só
vem
a
público
na
década
de
1950
–
visa
a
atualizar
a
literatura
nordesAna
com
as
propostas
dos
modernistas
de
1922.
Atente-‐se
para
o
fato
de
que
a
literatura
regionalista
não
é
produzida
apenas
no
Nordeste.
Erico
Verissimo,
por
exemplo,
produz
uma
obra
de
caráter
regional
ambientada
no
RS.
3. LINHAS GERAIS DA PROSA
segunda geração do modernismo brasileiro
ROMANCE
PSICOLÓGICO
ROMANCE
SOCIAL
NEORREALISTA
OU
DE
TENSÃO
INTERIORIZADA
NEONATURALISTA
OU
DE
TENSÃO
EXTERIORIZADA
ambientação
urbana
classes
baixas
[em
geral]
análise
psicológica
[mecanismos
mentais
da
elite]
arrivismo
social
[aspectos
históricos
e
sociais]
discurso
indireto
livre
e
monólogo
interior
poucas
oportunidades
de
ascensão
social
origem:
romance
urbano
do
romanAsmo
origem:
romance
regional
do
romanAsmo
maturação:
prosa
realista
maturação:
naturalismo/pré-‐modernismo
mentalidade
da
elite:
conservadora
e
patriarcal
zoomorfismo;
termos
e
expressões
regionais
4. ASPECTOS GERAIS
segunda geração do modernismo brasileiro
procedimentos metafóricos
Ainda
hoje,
se
fingem
tolerar-‐me
um
romance,
observo-‐lhe
cuidadosamente
as
mangas,
as
costuras,
e
vejo
como
ele
é
realmente:
chinfrim
e
cor
de
macaco.
procedimentos zoomórficos
encadeamento
homem/animal,
herdado
do
Naturalismo
Eu
aparentava
pendurar
nos
ombros
um
casaco
alheio.
Bezerro
encourado.
Mas
não
me
fazia
tolerar.
Essa
injúria
revelou
muito
cedo
minha
condição
na
família:
comparado
ao
bicho
infeliz,
considerei-‐me
um
pupilo
enfadonho,
aceito
a
custo.
a personificação
Construía
uma
sociedade,
sapos
negociantes,
sapos
vaqueiros,
o
reverendo
sapo
João
Inácio,
o
sapo
José
da
Luz,
amigo
da
disAnta
farda,
sapos
traquinas,
filhos
do
cururu
Teotoninho
Sabiá,
o
sapo
alfaiate
mestre
Firmo,
a
sapa
Rosenda
lavadeira
a
tagarelar
os
mexericos
da
beira
da
água.
5. GRACILIANO RAMOS
segunda geração do modernismo brasileiro
Trepado
na
porteira
do
curral,
o
menino
mais
novo
torcia
as
mãos
suadas
(…)
ficou
assim
uma
eternidade,
cheio
de
alegria
e
medo
(…)
de
repente,
a
cilha
rebentou
e
houve
um
desmoronamento.
O
pequeno
deu
um
grito,
ia
tombar
na
porteira.
Mas
sossegou
logo.
Fabiano
Anha
caído
em
pé
e
recolhia-‐se
banzeiro
e
cambaio,
os
arreios
no
braço.
Subiu
a
ladeira,
chegou
em
casa
devagar,
entortando
as
pernas,
banzeiro.
Quando
fosse
homem,
caminharia
assim,
pesado,
cambaio,
importante,
as
rosetas
Alitando.
Saltaria
no
lombo
de
um
cavalo
brabo
e
voaria
na
caaAnga
como
pé-‐de-‐vento,
levantando
poeira.
Ao
regressar,
apear-‐se-‐ia
num
pulo
e
andaria
no
páAo
assim
torto,
de
perneiras
e
gibão,
guarda-‐peito
e
chapéu
de
couro
com
barbicacho.
O
menino
mais
velho
e
Baleia
ficariam
admirados.
RAMOS,
Graciliano.
Vidas
secas.
Rio
de
Janeiro:
Record,
2001.
regionalismo:
personagens,
ambientação
e
linguagem;
6. GRACILIANO RAMOS
segunda geração do modernismo brasileiro
A
voz
de
Madalena
conAnua
a
acariciar-‐me.
Que
diz
ela?
Pede-‐me
naturalmente
que
mande
algum
dinheiro
a
mestre
Caetano.
Isto
me
irrita,
mas
a
irritação
é
diferente
das
outras,
é
uma
irritação
anAga,
que
me
deixa
inteiramente
calmo.
Loucura
estar
uma
pessoa
ao
mesmo
tempo
zangada
e
tranquila.
Mas
estou
assim.
Irritado
contra
quem?
Contra
mestre
Caetano.
Não
obstante
ele
ter
morrido,
acho
bom
que
vá
trabalhar.
Mandrião!
A
toalha
reaparece,
mas
não
sei
se
é
esta
toalha
sobre
que
tenho
as
mãos
cruzadas
ou
a
que
estava
aqui
há
cinco
anos.
Rumor
do
vento,
dos
sapos,
dos
grilos.
A
porta
do
escritório
abre-‐se
de
manso,
os
passos
de
seu
Ribeiro
afastam-‐se.
Uma
coruja
pia
na
torre
da
Igreja.
Terá
realmente
piado
a
coruja?
Será
a
mesma
que
piava
há
dois
anos?
Talvez
seja
até
o
mesmo
pio
daquele
tempo.
RAMOS,
Graciliano.
São
Bernardo.
Rio
de
Janeiro:
Record,
2010.
narra=va
de
caráter
psicológico:
revelação
dos
pensamentos
da
personagem
via
discurso
indireto
livre
7. GRACILIANO RAMOS
segunda geração do modernismo brasileiro
Pisou
com
firmeza
no
chão
gretado,
puxou
a
faca
de
ponta,
esgaravatou
as
unhas
sujas.
Tirou
do
aió
um
pedaço
de
fumo,
picou-‐o,
fez
um
cigarro
com
palha
de
milho,
acendeu-‐o
ao
binga,
pôs-‐
se
a
fumar
regalado.
–
Fabiano,
você
é
um
homem,
exclamou
em
voz
alta.
Conteve-‐se,
notou
que
os
meninos
estavam
perto,
com
certeza
iam
admirar-‐se
ouvindo-‐o
falar
só.
[...]
Olhou
em
torno,
com
receio
de
que,
fora
os
meninos,
alguém
Avesse
percebido
a
frase
imprudente.
Corrigiu-‐a,
murmurando:
–Você
é
um
bicho,
Fabiano.
[...]
Agora
Fabiano
era
vaqueiro,
e
ninguém
o
Araria
dali.
Aparecera
como
um
bicho,
entocara-‐se
como
um
bicho,
mas
criara
raízes,
estava
plantado.
Olhou
as
quipás,
os
mandacarus
e
os
xiquexiques.
Era
mais
forte
que
tudo
isso,
era
como
as
caAngueiras
e
as
baraúnas.
Ele,
sinha
Vitória,
os
dois
filhos
e
a
cachorra
Baleia
estavam
agarrados
à
terra.
[...]
Fabiano,
uma
coisa
da
fazenda,
um
traste,
seria
despedido
quando
menos
esperasse.
RAMOS,
Graciliano.
Vidas
secas.
Rio
de
Janeiro:
Record,
2002.
p.
17-‐25.
8. ANÁLISE DO FRAGMENTO ANTERIOR
segunda geração do modernismo brasileiro
etapas da gradação
01 Fabiano
passa
de
homem
a
bicho;
02 de
bicho
a
planta;
03 e
de
planta
a
coisa
uma análise
a
coisificação
Fabiano
o
alija
da
condição
humana;
ele
e
as
demais
personagens
são
constantemente
humilhados,
tratados
como
meros
objetos
diante
dos
interesses
dos
poderosos
ou
dos
detentores
dos
utulos
de
propriedade;
eis
algumas
manifestações
dessa
desumanização:
01 sujeição
de
Fabiano
ao
dono
da
fazenda
[que
o
leva,
inclusive,
a
ser
roubado];
02 abusos
de
autoridade
do
Soldado
Amarelo
contra
Fabiano;
03 falta
do
domínio
da
linguagem
por
parte
dos
personagens.
9. A LINGUAGEM
segunda geração do modernismo brasileiro
o regionalismo
Tomava-‐se
de
pavores,
meAa-‐se
na
camarinha
[quarto
de
dormir].
Corríamos
dali
para
o
copiar
[varanda,
alpendre].
A
máquina
a
devorar
capulhos
[cápsulas
dentro
das
quais
se
forma
o
algodão].
O
aió
sujo
pesava-‐lhe
no
ombro
[bolsa
feita
de
fibras].
10. GRACILIANO RAMOS
segunda geração do modernismo brasileiro
principais obras
São Bernardo Vidas secas
Infância Memórias do cárcere