O documento descreve o romance Vidas Secas de Graciliano Ramos, característico do regionalismo brasileiro dos anos 1930. A obra retrata de forma realista a dura realidade dos retirantes nordestinos vitimados pela seca através de personagens desumanizadas. Graciliano denuncia os problemas sociais do Brasil e da exploração do homem pelo sistema capitalista.
3. Regionalismo de 30
Características gerais
Caráter documental – registro da realidade
social;
denúncia da realidade brasileira – país
atrasado, vítima da colonização, fundamentado
no latifúndio;
diferença dos centros urbanos – consciência de
classe, organização das massas assalariadas;
influências do romance realista
4. Regionalismo de 30
Características gerais
relações entre literatura e realidade – função
literária ≅ função social;
expor a realidade – compromisso de transformá-
la;
tipos – coletivização das personagens a fim de
apresentar um amplo painel humano;
problemas individuais tornam-se problemas
coletivos.
6. Características do autor
Principal romancista da geração de 1930;
engajamento político de esquerda,
comunista;
ultrapassa tendências regionalistas –
atinge o universal;
PARTICULAR UNIVERSAL;
atinge dimensão universal a partir de um
exemplo individual.
8. Características do romance
Livro em terceira pessoa – maior objetividade;
capítulos relativamente independentes – cada
um apresenta um ritmo próprio;
o romance surge a partir de um conto que se
transformaria no capítulo “Baleia”;
característica circular e sem fim da “odisséia”
dos retirantes – começa em “Mudança” e
termina em “Fuga”.
9. “Na planície avermelhada os juazeiros alargavam duas
manchas verdes. Os infelizes tinham caminhado o dia inteiro,
estavam cansados e famintos.”
“Mudança”
10. Espaço físico
O espaço é indeterminado – caráter
universal da experiência da seca no
sertão;
simbiose entre paisagem hostil e vida
humana miserável;
determinismo - influência do meio sobre o
homem que o habita;
espaço hostil = homem animalizado.
11. Tempo
Indeterminado – confere caráter universal à
narrativa;
história em ciclo, espiral – inicia-se com a fuga de
uma seca e termina com a fuga de outra;
o tempo predominante não é cronológico, os fatos
não ocorrem na ordem em que são narrados;
tempo psicológico – os fatos se desenrolam a partir
da memória e da interioridade das personagens.
12. Linguagem
Linguagem enxuta e seca, como a
realidade retratada;
vocabulário pobre e mirrado como a
realidade morta do sertão;
economia de linguagem, dizer o mínimo
necessário – dificuldade de comunicação
das próprias personagens.
13. Personagens
Duplamente vitimados – pela seca e pela exploração
econômica;
ignorância, incapacidade verbal e falta de
autoconsciência – animalização;
carência total – não têm direito nem à terra nem à
linguagem;
desumanização – tornam-se seres brutos, coisificados,
reificados (do latim res, coisa);
perambulam por um mundo incompreensível, em busca
unicamente da sobrevivência;
suas trajetórias oscilam do nada ao nada
14. “— Você é um bicho, Fabiano.
Isto para ele era motivo de
orgulho. Sim senhor, um bicho,
capaz de vencer dificuldades.
Chegara naquela situação
medonha — e ali estava, forte,
até
gordo, fumando o seu cigarro de
palha.
— Um bicho, Fabiano.
Era. Apossara-se da casa porque
não tinha onde cair morto,
passara uns dias mastigando
raiz de imbu e sementes de
mucunã. Viera a trovoada.”
“Fabiano”
15. Fabiano
Significado do nome – indivíduo qualquer,
desconhecido, sem importância;
tipo – representa o sertanejo ignorante, sofredor e
explorado;
identifica-se com os animais – bicho;
coisa, escravo – não possui terra e é obrigado a
trabalhar para os outros;
sente-se mal perante outras pessoas – vive isolado do
mundo, acostumado à incomunicabilidade dos animais ;
interage com o mundo por meio da experiência
sensitiva;
incapaz de se comunicar verbalmente – utiliza uma
linguagem gestual
16. “Não possuíam nada: se se
retirassem, levariam a roupa, a
espingarda, o baú de folha e
troços miúdos. Mas iam
vivendo, na graça de Deus, o
patrão confia neles — e eram
quase felizes. Só faltava uma
cama. Era o que aperreava
Sinhá Vitória.”
“Sinha Vitória”
17. Sinha Vitória
Ironia do nome – “vitória” aponta para uma
existência feliz;
ambições pequenas e limites estreitos –
sua aspiração maior era ter uma cama;
18. Os meninos
Os meninos não têm nome – são
chamados apenas de “menino mais velho”
e “menino mais novo”;
desumanização total – são coisas, não
precisam de nomes;
por serem meninos, ainda não
“produzem”;
por não produzirem, nada significam.
19. Baleia
Função de guia, companheira e responsável
pela sobrevivência do grupo ao caçar;
seu nome é o contrário de si mesma – franzina
e habitante de um local árido e seco;
mais capaz de se comunicar que os seres
humanos;
apresenta sentimentos e pensamento;
animal humanizado – seres humanos
animalizados (zoomorfismo).
20. “Olhou-se de novo, aflita. Que lhe
estaria acontecendo? O nevoeiro
engrossava e aproximava-se.
Sentiu o cheiro bom dos preás que
desciam do morro, mas o cheiro
vinha fraco e havia nele partículas de
outros viventes. Parecia que o morro
se tinha distanciado muito.”
“Baleia”
21. Discurso indireto livre
Narrador revela o interior das
personagens;
atmosfera de imobilidade – pouca ação,
predomínio da análise psicológica;
22. Discurso indireto livre
Fabiano também não sabia falar. Às vezes largava nomes
arrevesados, por embromação. Via perfeitamente que tudo era
besteira. Não podia arrumar o que tinha no interior. Se
pudesse... Ah! Se pudesse, atacaria os soldados amarelos
que espancam as criaturas inofensivas. Bateu na cabeça,
apertou-a. Que faziam aqueles sujeitos acocorados em torno
do fogo? Que dizia aquele bêbado que se esgoelava como
um doido, gastando fôlego à toa?
Sentiu vontade de gritar, de anunciar muito alto que eles não
prestavam para nada. Ouviu uma voz fina. Alguém no xadrez das
mulheres chorava e arrenegava as pulgas. Rapariga da vida,
certamente, de porta aberta. Essa também não prestava para
nada. Fabiano queria berrar para a cidade inteira, afirmar ao
doutor juiz de direito, ao delegado, a seu vigário e aos
cobradores da prefeitura que ali dentro ninguém prestava para
nada. Ele, os homens acocorados, o bêbado, a mulher das
pulgas, tudo era uma lástima, só servia para agüentar facão. Era
o que ele queria dizer.
23. Estrutura dos capítulos:
1. Mudança
2. Fabiano
3. Cadeia
4. Sinhá Vitória
5. O Menino Mais
Novo
6. O Menino Mais
Velho
7. Inverno
8. Festa
9. Baleia
10. Contas
11Soldado Amarelo
12. Mundo coberto de
penas
13. Fuga
24. Personagens:
Fabiano: Homem animalizado, rude,
bruto. Vaqueiro sofrido, que se comunica
mal e não é muito esperto, sendo muitas
vezes humilhado. Está sempre a procura
de lugar para a família e de trabalho.
Sinhá Vitória: Esposa de Fabiano e mãe
dos dois meninos. É uma mulher
trabalhadora e mais esperta que o marido.
25. Sinhá Vitória: Esposa de Fabiano e mãe
dos dois meninos. É uma mulher
trabalhadora e mais esperta que o marido.
26. O filho mais velho: Menino esperto,
curioso e perguntador, sempre querendo
descobrir o significado de novas palavras.
O filho mais novo: Menino que admira
muito o pai e quer crescer e se tornar um
grande vaqueiro.
Baleia: É a cachorrinha que é também
membro da família. Ela pensa, sonha e
até mesmo age como se fosse humana.
27. Soldado Amarelo: Personagem que
prender Fabiano porque não gostou da
forma como ele se portou. Cometeu abuso
de autoridade.
Patrão: Fazendeiro desonesto que abusa
de Fabiano explorando-o
28. Considerações finais
Em Vidas secas, Graciliano denuncia não só
os problemas brasileiros, mas de todos os
homens explorados pelo sistema capitalista
excludente;
no âmbito brasileiro, há a denúncia do
sistema de concentração de terras nas mãos
de poucos, lançando milhares na indigência;
há também a denúncia do atraso do
Nordeste e da miséria dessa região, em
contraposição ao progresso do Sul.