O documento discute como o ensino da língua portuguesa nas escolas ainda é muito focado na gramática descontextualizada e precisa se concentrar mais nas habilidades de falar, ouvir, ler e escrever textos reais. Também propõe como as aulas poderiam desenvolver essas habilidades por meio de atividades como contar histórias, debates, produção de cartas e outros gêneros textuais.
1. O ENSINO DA LÍNGUA PORTUGUESA
ANTUNES, Irandé. Aula de Português. Encontro &
interação. São Paulo: Parábola, 2003.
2. REFLETINDO SOBRE A PRÁTICA DA AULA DE
PORTUGUÊS
Persistência de uma prática pedagógica que, em
muitos aspectos, ainda mantém a perspectiva
reducionista do estudo da palavra e da frase
descontextualizadas.
Consequências: insucesso escolar, aversão às
aulas de português, repetência e evasão escolar.
3. “É evidente que causas externas à escola
interferem, de forma decisiva, na determinação
desse resultado.”
“É possível documentar, atualmente, uma série de
ações que instituições governamentais, em todos
os níveis, têm empreendido a favor de uma escola
mais formadora e eficiente.”
4. Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) .
Sistema Nacional de Avaliação da Educação
Básica (SAEB) – avalia o desempenho escolar de
alunos de todas as regiões do país.
Programa Nacional do Livro Didático (PNLD).
5. PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS
(PCN)
Privilegiam a dimensão interacional e discursiva da
língua e definem o domínio dessa língua como uma
das condições para a plena participação do
indivíduo em seu nível social.
Estabelecem que os conteúdos de língua
portuguesa devem se articular em torno de dois
grandes eixos: o do uso da língua oral e escrita e
o da reflexão acerca desses usos. Nenhuma
atenção é concedida aos conteúdos gramaticais,
na forma e na sequência tradicional das classes de
palavras, tal como aparecia nos programas de
ensino de antes.
6. SISTEMA NACIONAL DE AVALIAÇÃO DA
EDUCAÇÃO BÁSICA (SAEB)
Em relação ao SAEB, a orientação não é diferente:
os pontos – chamados de descritores – que
constituem as matrizes de referência para a
elaboração das questões das provas – contemplam
explicitamente apenas um conjunto de habilidades
e competências em compreensão e nada de
definições ou classificações gramaticais.
7. PROGRAMA NACIONAL DO LIVRO DIDÁTICO
(PNLD)
Vale ressaltar também o trabalho que é realizado
pelo programa, que pelo menos em relação à
língua portuguesa, tem oferecido ótimas pistas
para a produção de manuais de ensino.
8. CONSTATAÇÕES SOBRE O ENSINO DA LÍNGUA
PORTUGUESA
Oralidade
Escrita
Leitura
Gramática
9. O TRABALHO COM A ORALIDADE
Uma quase omissão da fala como objeto de
exploração no trabalho escolar;
Uma equivocada visão da fala, como o lugar
privilegiado para violação de regras da gramática;
Uma concentração das atividades em torno dos
gêneros da oralidade informal, peculiar às
situações da comunicação privada. (predominam
os registros coloquiais).
10. O TRABALHO COM A ESCRITA
A prática de um escrita mecânica e periférica,
centrada, inicialmente, nas habilidades motoras de
produzir sinais gráficos e, mais adiante na
memorização pura e simples de regras
ortográficas.
A prática de uma escrita artificial e inexpressiva:
exercícios de criar listas de palavras soltas, formar
frases.
A prática de uma escrita sem função, destituída de
qualquer valor interacional, sem autoria e sem
recepção (apenas para exercitar).
11. A prática de uma escrita que se limita a
oportunidades de exercitar aspectos não relevantes
da língua. (fixação de exercícios de separação
silábica, encontros vocálicos e consonantais...)
A prática de uma escrita improvisada, sem
planejamento e sem revisão.
12. O TRABALHO COM A LEITURA
Uma atividade de leitura centrada nas habilidades
mecânicas de decodificação da escrita;
Uma atividade sem interesse, sem função, pois
aparece inteiramente desvinculada dos diferentes
usos sociais que se faz da leitura atualmente; Uma
atividade puramente escolar, sem gosto, sem
prazer, convertida em momento de treino, de
avaliação ou em oportunidade para futuras
cobranças;
13. Uma atividade de leitura cuja interpretação se limita
a recuperar os elementos literais e explícitos
presentes na superfície do texto.
Uma atividade incapaz de suscitar no aluno a
compreensão das múltiplas funções sociais da
leitura (muitas vezes o que se lê na escola não
coincide com o que se precisa ler fora dela);
Uma escola “sem tempo para leitura”.
14. O TRABALHO COM A GRAMÁTICA
Uma gramática descontextualizada, desvinculada
dos usos reais da língua escrita ou falada na
comunicação do dia a dia.
Uma gramática fragmentada, de frases inventadas,
da palavra e da frase isoladas, sem sujeitos
interlocutores, sem contexto, sem função; frases
para virar lição, para virar exercício;
15. Uma gramática da irrelevância, com primazia em
questões sem importância para a competência
comunicativa dos falantes.
Uma gramática voltada para a nomenclatura e a
classificação das unidades; portanto, uma
gramática dos “nomes” das unidades, das classes
e subclasses dessas unidades (e não das regras
de seus usos).
16. EXPLORANDO A GRAMÁTICA
“...toda língua tem sua gramática, tem seu conjunto
de regras, independentemente do prestígio social
ou do nível de desenvolvimento econômico e
cultural da comunidade em que é falada. Quer
dizer, não existe língua sem gramática.”
17. “Aprender uma língua é, portanto, adquirir, entre
outras coisas, o conhecimento das regras de
formação dos enunciados dessa língua. Quer dizer,
não existe falante sem conhecimento de
gramática.”
Regras da gramática ≠ regras do uso da gramática
18. “A escola perde muito tempo com questões de
mera nomenclatura e de classificação, enquanto o
estudo das regras dos usos da língua em textos
fica sem vez, fica sem tempo.”
“...a questão maior não é ensinar ou não ensinar
gramática. Por sinal, essa nem é uma questão,
uma vez que não se pode falar nem escrever sem
gramática. A questão maior é discernir sobre o
objeto do ensino: as regras (mais precisamente as
regularidades) de como se usa a língua nos mais
variados gêneros de textos orais e escritos.”
19. REPENSANDO O OBJETO DE ENSINO DE UMA
AULA DE PORTUGUÊS
Antunes lembra que o professor parece estar
acostumado a esperar que lhe digam o que fazer.
Ressalta sobre a importância do professor ser visto
(inclusive pelas instituições competentes) como
alguém que, com os alunos (e não para os alunos),
pesquisa, observa, levanta hipóteses, analisa,
reflete, descobre, aprende, reaprende.
20. É POSSÍVEL CONSTATAR QUE AS COISAS
ACONTECEM MAIS OU MENOS ASSIM:
Conteúdo: pronome
Seleção das definições e classificações
Escolha de um texto em que apareçam pronomes,
para nele identificar suas várias ocorrências e
classificá-las conforme a nomenclatura gramatical.
O texto não é objeto de estudo
21. MAS DEVEM SER ASSIM:
Estudo, análise e compreensão do TEXTO
Ativação das noções e saberes gramaticais e
lexicais que são necessários para a compreensão.
O texto é que vai condicionar a escolha das
atividades pedagógicas.
22. COMO SERIAM AS AULAS DE PORTUGUÊS?
Seriam aulas de:
Falar
Ouvir
Ler, e
Escrever textos em língua portuguesa.
23. PARA O DESENVOLVIMENTO DAS HABILIDADES DE
FALAR E OUVIR, OS ALUNOS, COM A INTERVENÇÃO
DO PROFESSOR, PODERIAM:
Contar histórias, inventando-as ou reproduzindo-
as;
Relatar acontecimentos;
Debater, discutir, acerca dos temas mais variados;
Argumentar(concordando e refutando)
Emitir opiniões;
Justificar ou defender opções tomadas;
Criticar pontos de vista de outros;
24. Colher e dar informações;
Fazer e dar entrevistas;
Dar depoimentos;
Apresentar resumos;
Expor programações;
Dar avisos;
Fazer convites;
Apresentar pessoas etc.
25. “... Fazer os alunos perceberem as diferenças
(lexicais, sintáticas, discursivas) que caracterizam a
fala formal e a fala informal, destacando-se assim a
variabilidade de atualização que a língua pode
receber, de acordo com as diferenças concretas da
situação comunicativa.”
26. PARA O DESENVOLVIMENTO DA COMPETÊNCIA DE
ESCREVER, O PROFESSOR PODERIA PROVIDENCIAR
OPORTUNIDADES PARA OS ALUNOS PRODUZIREM:
Listas (de materiais, de livros, de assuntos estudados,
de eventos realizados etc.);
Pequenas informações aos pais e a outras pessoas da
comunidade escolar;
Programações de atividades curriculares e
extracurriculares;
Convites;
Avisos;
Cartas;
Anotações de ideias;
Pequenas narrativas;
Conclusões de debates;
27. Informações sobre a cidade, o bairro, a escola, lugares
visitados, eventos;
Cartazes;
Instruções diversas;
Projetos de pesquisa;
Resultados de consultas bibliográficas, de pesquisa de
campo;
Esquemas, resumos, sínteses, resenhas;
Relatórios de experiências ou de atividades realizadas;
Solicitações;
Requerimentos;
Saudações;
Atas;
Poemas;
Mensagens eletrônicas;
E outros textos em uso no momento.
28. É evidente que a escolha desses diferentes
gêneros de texto deverá acontecer,
gradativamente, na dependência do grau de
desenvolvimento que os alunos vão
demonstrando.
29. A LEITURA PODERIA ABRANGER TODOS
ESSES TEXTOS PRODUZIDOS PELOS
ALUNOS, ALÉM DE:
Histórias, com ou sem gravuras e em quadrinhos;
Fábulas;
Contos;
Crônicas;
Editoriais;
Comentários ou artigos de opinião;
Notícias de jornal;
Poemas;
Avisos;
30. Folhetos;
Cartazes;
Adivinhas;
Anedotas;
Provérbios populares;
Charadas;
Mapas, tabelas e gráficos;
Anúncios e mensagens publicitárias;
Instruções;
Esquemas;
Resumos;
Lições de outras disciplinas etc.