1) O documento analisa como livros didáticos de Português do 8o ano abordam o ensino da oralidade.
2) É identificada a variedade de gêneros orais e como as atividades propõem desenvolver a oralidade.
3) As atividades observam as relações entre oralidade e escrita, embora gêneros orais públicos sejam pouco explorados.
CONHECIMENTOS LINGUÍSTICOS E A ORALIDADE NO 8º ANO DA EDUCAÇÃO BÁSICA: UMA ANÁLISE DO LIVRO DIDÁTICO DE LÍNGUA PORTUGUESA
1. CONHECIMENTOS LINGUÍSTICOS E A
ORALIDADE NO 8º ANO DA
EDUCAÇÃO BÁSICA:
UMA ANÁLISE DO LIVRO DIDÁTICO
DE LÍNGUA PORTUGUESA
Acadêmica: Luna Karoline Sousa Rocha
Orientadora: Profª. Drª. Bárbara Olímpia Ramos de Melo
2. INTRODUÇÃO
Trabalho situado no campo da Linguística Aplicada ao Ensino de
Língua Portuguesa.
A prioridade era o ensino da escrita
Reconhecimento da importância da oralidade
O apoio oferecido pelos livros didáticos
Justificativa:
Livro didático: recurso mais utilizado na prática docente
O trabalho adequado com os gêneros orais
Tornar os alunos capazes de reconhecer a importância da oralidade,
identificar suas características e adequar a linguagem à situação
comunicativa
3. OBJETIVOS
Geral:
Analisar o modo como os livros didáticos de Língua Portuguesa
do 8º ano da Educação Básica têm abordado o ensino da
modalidade oral de uso da linguagem.
Específicos:
Identificar os gêneros orais encontrados nos livros didáticos do 8º ano
da EJA e do Ensino Regular.
Apresentar de que forma as atividades propostas pelos LDs visam
desenvolver a oralidade.
Analisar se as atividades propostas estão de acordo com o que
recomendam a Proposta Curricular da EJA, os PCNs e o Guia PNLD.
4. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
ALGUMAS CONCEPÇÕES DE LINGUAGEM
Após um breve percurso histórico sobre a linguagem, destacaram-se
três concepções na visão de Travaglia (2003):
1) Linguagem como expressão do pensamento: “língua ideal”
2) Linguagem como instrumento de comunicação: língua vista como
“código”
3) Linguagem como interação
Para Bakthin (1992, p. 113): “a situação social mais imediata e o meio
social mais amplo determinam completamente e, por assim dizer, a partir
do seu próprio interior, a estrutura da enunciação.” .
Concepções sobre as relações entre a oralidade e a
escrita
A supremacia da escrita em relação à oralidade já não é mais a
mesma.
5. Na escola, o trabalho com a oralidade, apesar de demonstrar
tímidos avanços, ainda apresenta alguns problemas: Antunes
(2003).
Perspectivas que diferenciam a oralidade e a escrita, segundo
Marcuschi (2003):
1) Dicotômica
2) Culturalista
3) Variacionista
4) Sociointeracionista.
Condições de produção da fala e da escrita: Fávero (2003).
A fala tem de ser vista integradamente com a escrita: Marcuschi
(2003)
O ensino da oralidade
Não se considera como papel da escola “ensinar a falar”.
Marcuschi (1997, p. 41) afirmou que “trata-se de identificar a
imensa riqueza e variedades de uso da língua.”.
Equivocada visão da fala, conforme Antunes (2003).
Para Marcuschi (1997), a variação é um dos aspectos importantes
no estudo da fala.
6. O papel dos gêneros textuais na visão de Jauss apud Schneuwly
(2004) e em Bakhtin (1992).
Ramos (1997): consciência sobre o grau de formalidade e
informalidade da oralidade.
Preti (1999): o ensino da “norma culta” na oralidade.
Propostas de Antunes (2003), de Ramos (1997) e Fávero (2003)
para o trabalho com a oralidade.
Recomendações da Proposta Curricular da EJA
Criada pelo MEC para orientar a elaboração dos programas da EJA,
assim como os livros didáticos utilizados e a formação dos
educadores.
“O ambiente escolar deve propiciar situações comunicativas que
possibilitem aos educandos a ampliação dos seus recursos
linguísticos.” (MASSAGÃO, 2001, p. 51).
Os conteúdos selecionados devem promover atividades
relacionadas com o uso e reflexão da linguagem.
“Ensinar língua oral [...] Significa desenvolver o domínio dos
gêneros que apoiam a aprendizagem da Língua Portuguesa e das
outras áreas”. (BRASIL, 2002, p. 37)
7. Recomendações dos PCNs
Não se trata de “corrigir” a fala do aluno, mas de considerá-la no
contexto concreto de uso.
Planejamento de atividades de escuta e produção de textos orais no
eixo do uso e a prática de análise linguística no eixo da reflexão.
PCNs: a escola deve priorizar o ensino de gêneros orais públicos
(BRASIL, 2001).
A escolha do livro didático segundo o PNLD
Guia PNLD-EJA 2011: o livro didático deve ser considerado um
recurso a mais que pode ser utilizado em momentos específicos e
para fins determinados.
PNLD-2011: o livro didático deve apresentar atividades tanto de uso
da oralidade quanto de reflexões sobre suas particularidades.
8. METODOLOGIA
Contextualização da pesquisa:
Pesquisa bibliográfica de caráter descritivo e analítico.
Descrição das fontes:
Educação de Jovens e Adultos (Coleção Tempo de Aprender).
Para Viver Juntos: português, 8º ano: ensino fundamental.
Projeto Radix: português, 8º ano.
Corpus:
Gêneros orais no LD1: canção, teatro,causo, cordel e seminário.
Gêneros orais no LD2: texto dramáticos, causos, cantigas, anedotas
e seminário.
Gêneros orais no LD3: discussão, entrevista, roda de histórias,
exposição oral, comentário, debate e reconto.
Organização dos dados:
Recomendação do Manual do Professor de cada LD, disposição dos
gêneros orais encontrados, descrição e análise das atividades.
9. ANÁLISE DAS ATIVIDADES PROPOSTAS PELOS LDs
DE LÍNGUA PORTUGUESA DO 8º ANO DA EJA E DO
ENSINO FUNDAMENTRAL VOLTADAS PARA O
ENSINO-APRENDIZAGEM DA ORALIDADE
LD1: Educação de Jovens e Adultos (Coleção Tempo de
Aprender)
Em uma das atividades propostas pelo LD1, o autor trabalhou o
ensino-aprendizagem da variação linguística contemplando o
cuidado com a oralidade, e apresentou a canção abaixo como
texto-base:
10. Na seção Um Olhar Para a Língua, a atividade que o autor propôs
procurou relacionar os usos da oralidade com os usos da escrita .
Observe.
Pôde-se perceber:
A influência da fala na escrita;
Marcuschi (1997, p. 41): “noções como ‘norma’, ‘padrão’, ‘dialeto’,
‘variante’, ‘sotaque, ‘registro’, ‘estilo’, ‘gíria’ podem tornar-se centrais no
ensino de língua e ajudar a formar a consciência de que a língua não é
homogênea nem monolítica”.
11. LD3: Projeto Radix: português, 8º ano
O gênero em questão foi o reconto. O autor apresentou um episódio
de Dom Quixote chamado “A incrível batalha contra os moinhos de
vento”, pediu que os alunos lessem e fizessem o reconto do mesmo
deixando a escolha da linguagem por conta deles próprios. O trecho
abaixo evidenciou o tratamento dado à oralidade durante a atividade:
• Faça suspense para manter a atenção de seu público. Crie pausas, cuide do
ritmo, da narração dos fatos para dar a impressão da maneira como eles
aconteceram, de modo mais rápido ou mais lento.
• Dê especial atenção ao tom de voz, que pode se elevar ou abaixar
dependendo da situação. (TERRA, 2009, p. 188).
Atividade de escuta e produção de texto oral:
1) Identificar as marcas da oralidade.
2) Antunes (2003): implicações pedagógicas.
12. Após, o autor sugeriu que os alunos discutissem os aspectos
relacionados com a narração oral de histórias. Com esse intuito,
propôs algumas questões norteadoras:
•Que diferenças você percebe entre a narração escrita e oral?
•Que recursos cada modalidade utiliza para valorizar os fatos narrados?
•A linguagem de uma e de outra diferem muito? (TERRA, 2009, p. 118).
Para avaliar a atividade, o autor pediu que os alunos
estabelecessem as diferenças entre as duas modalidades, todavia
enfatizou que não se tratava de fazer julgamento sobre quem é
“melhor” ou “pior”.
13. CONSIDERAÇÕES FINAIS
As atividades propostas pelos três LDs analisados encontraram-se
apresentadas de forma organizada e trataram das relações entre a oralidade
e a escrita sempre as considerando como contínuas, e não evidenciando suas
diferenças.
Os livros também discutiram sobre a adequação da linguagem (nível de
formalidade e informalidade) às situações sugeridas por cada atividade, em
particular.
As atividades de escuta dos textos orais estiveram sempre voltadas para a
identificação das marcas da oralidade como as pausas, entonação, ritmo, e
para o respeito à fala do seu interlocutor.
A variedade de gêneros orais encontrada nos livros didáticos analisados, já
mostra que há um reconhecimento da importância de serem objeto de ensino
de LP, porém ainda são poucos se comparados com os gêneros escritos.
Houve falhas no tocante à seleção e a abordagem pedagógica dos gêneros
voltados ao domínio da fala pública, já que na maioria das vezes seus
aspectos composicionais não foram bem explicitados.
As lacunas deixadas pelos LDs podem ser preenchidas pelo professor criando
alternativas que desenvolvam melhor as atividades da oralidade na sua
prática pedagógica.
14. REFERÊNCIAS
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