1. OS HOLANDESES E A VIDA URBANA
RESUMO
A primeira metade do século XVII caracterizou-se como um dos períodos mais
importantes e intrigantes da História do Brasil. Isso porque, entre os anos de 1630 e
1654 esta parte da colônia portuguesa esteve sob o domínio holandês, patrocinado
e operacionalizado pelo capital da Companhia das Índias Ocidentais (West Indische
Compagnie - WIC), poderosa instituição voltada aos interesses militares e
comerciais do expansionismo econômico neerlandês. Durante o período da
ocupação, os holandeses estabeleceram-se em grande parte do litoral nordestino
compreendendo a região situada entre os Estados de Alagoas e do Maranhão e
mantendo o Recife como foco militar, administrativo e político. Dentre os aspectos
de sua ocupação destaca-se o governo do Conde Maurício de Nassau, que trouxe
consigo uma forma exitosa de governar e administrar bem como cientistas e artistas,
os quais produziram uma rica documentação sobre esse período da história
brasileira.
Palavras-chave: Urbanização. Holandeses. Maurício de Nassau.
INTRODUÇÃO
Durante os primeiros anos de colonização do Brasil, praticamente não houve
urbanização no país tendo em vista que Portugal praticou em relação ao novo território
uma política colonizadora baseada na economia predatória da extração de pau-brasil. Os
benefícios oriundos dessa política de colonização estavam atrelados ao controle das
linhas de comércio que quase sempre implicava no surgimento de novas aglomerações
urbanas ou na transformação das já existentes, provando sua ineficácia na promoção de
resultados em face das condições socioeconômicas presentes na colônia da América.
Entretanto, a política de colonização dos portugueses no Brasil até meados do século
XVII foi idêntica a política utilizada pelos holandeses durante os anos de sua colonização
do Nordeste, ou seja, concentração de recursos nos maiores núcleos - para os
holandeses apenas o Recife - e controle indireto das demais povoações.
As transformações ocorridas a partir do processo de colonização provocaram o
interesse dos colonos para novas atividades econômicas ampliando a dispersão
crescente da população no interior visando formas de economia de subsistência, gerando
um setor desvinculado dos interesses de exportação e de outro lado a ampliação do
setor comercial e manufatureiro reforçado nos centros urbanos pelo aumento da
população permanente. Gilberto Freyre afirmava que o domínio holandês no Brasil
2. oferece oportunidade para um estudo dos dois tipos de colonização: a rural e a urbana.
Mello (2003) ressalta alguns pontos característicos dentre os quais está a separação das
duas zonas rural e urbana, constituindo-se em dois mundos distintos, duas zonas
artificiosamente agregadas.
A ocupação holandesa do Recife
O Recife era a porta de entrada da capitania e para o porto do Recife
convergiam as naus da Companhia Privilegiada das Índias Ocidentais. Na manhã de
15 de fevereiro de 1630, uma das maiores armadas cruzou a equinocial. Mello
(2003) afirma que os flamengos, após terem tentado dominar o centro político da
colônia portuguesa – a Bahia – tentaram apossar-se de seu centro econômico. Há
anos vinham sendo reunidos na Holanda dados e informações sobre a capitania de
Pernambuco, a configuração da sua costa, os portos, dsembarcadouros, regime dos
ventos, sua riqueza e agricultura. Navios holandeses visitavam pacificamente portos
pernambucanos no intuito de se transformar em piratas. Com isso, os holandeses
perceberam a vulnerabilidade das colônias portuguesas instaladas no Brasil
decidindo invadir a região Nordeste do Brasil nas primeiras décadas do século XVII.
De fato, os holandeses contavam na época, com uma poderosa tecnologia
naval e a utilizaram como estratégia para invadir o Recife. Loureiro e Amorim (2000)
afirmam que com a ocupação pelos holandeses, a partir de 1630, a povoação finca
raízes consolidando-se como fato urbano de modo que a área ocupada passa a
experimentar grandes transformações urbanas. Vale salientar que a opção pela
ocupação holandesa no recife se deu pelas informações obtidas acerca das riquezas
provenientes da Capitania de Pernambuco, que no período em questão, era a mais
rica e poderia “adoçar” os cofres holandeses (FREITAS, 2012, p. 269). A autora
destaca que dentre as vantagens de ocupação do lugar estavam ainda a quantidade
de mercadorias que o Brasil produziria e forneceria como o açúcar, o pau-brasil,
entre outros produtos como o tabaco, o gengibre, xaropes, doces, com um lucro de
três a quatro toneladas de ouro anualmente, além dos problemas financeiros que
tais atividades sob o domínio holandês acarretariam ao rei de Espanha.
3. A chegada de Maurício de Nassau
Em 1637 chega ao Brasil o Conde Maurício de Nassau (Johann Moritz Zu
Nassau-Siegen) cuja atuação, no período em que permaneceu como governador foi
marcante para a história do país tendo em vista a busca de uma política conciliatória
entre holandeses e portugueses, além de conceder liberdade restrita de credo para
católicos e judeus. Freitas (2012) ressalta que ao instalar-se em Recife, o Conde de
Nassau buscou estabelecer laços de harmonia com o povo, com o propósito de
desestimular ódios e ressentimentos entre os habitantes portugueses. Além disso, a
política do Conde motivou diversos avanços culturais e estruturais ao Recife,
combatendo a oligarquia local incentivando o crescimento de uma nova classe
dominante, a burguesia, aliando a monocultura à fome e dessa maneira
reconfigurando-se na figura de colonizador, explorador e estadista presente na
história brasileira.
Políticas urbanas
A política colonizadora holandesa concentrou-se nas cidades, o que difere da
política basicamente agrária portuguesa. Esse fato acabou provocando diversos
problemas quanto ao abastecimento e ao modo de viver nas cidades, onde por diversos
momentos houve longos períodos de fome e epidemias. Na cidade encontravam-se os
diretores da Companhia e os agentes de firma da Holanda, dos quais dependiam os
senhores de engenhos (MELLO, 2003). Um dos problemas urbanos da época era o
habitacional, já que havia pouco espaço em Recife e as políticas habitacionais na Ilha de
Antônio Vaz - cidade Maurícia - só vieram a surtir e efeito quando da criação de uma
ponte juntando-a ao núcleo urbano do Recife. “Os aluguéis das casas no Recife eram
muito elevados: uma informação oficial indica que eram seis vezes mais altos do que em
Amsterdã” (MELLO, 2003, p. 88). O problema habitacional alcançava grandes camadas
da população e na cidade do Recife foram construídos sobrados de dois ou três andares,
bem como cortiços e quartos coletivos para acomodar os funcionários da WIC. Alguns
mangues foram também aterrados de modo que fosse ampliada a área habitável.
A nova cidade foi projetada por Nassau segundo planos urbanísticos definidos:
ruas cortadas regularmente, saneamento da zona, escoamento das camboas,
construção de pontos e diques [...] Nassau andava pela ilha de cordão em punho,
traçando as ruas e praças, demarcando limites, construindo parques arborizados,
“tudo à moda da Holanda” (MELLO, 2003, p. 89).
4. Durante o governo de Nassau, a ciência foi incentivada, criou-se uma política
de higiene e sanitarismo público. Foram construídos jardim botânico, zoológico,
museu artístico. A construção civil foi largamente introduzida e incentivada pelo
governo holandês onde foram construídos mercados, fortalezas, entre outros. De
acordo com Mello (2003) organizou-se, também, o serviço do porto do Recife assim
como um serviço de limpeza pública. Iniciou-se, ainda, no tempo de Nassau, a
pavimentação de algumas ruas do Recife, com tijolos holandeses. Havia vários
mercados, como o mercado de peixe, o mercado do Recife, o mercado de carne, o
de verduras e o mercado grande de Maurícia. Fundaram-se hospitais: um em Recife
– o mais antigo – e outro em Maurícia. Estes fatos tiveram grande influência no
modo como o governo holandês no Brasil é visto até hoje: um poder formado por
grandes construtores de benfeitorias públicas. A monumentalidade conferida aos
edifícios públicos, a arquitetura civil e religiosa, reflete sejam oficiais, sejam
particulares, indicam uma simplicidade e uma austeridade que em tudo
correspondem a essas condições da vida social.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Durante a redação deste trabalho ressalta-se, sobretudo, a relevância do
período em que parte do Brasil foi governada pelos holandeses (1630 a 1645, em
Pernambuco principalmente). As principais leituras basearam-se quase que
especificamente nos escritos de José Antônio Gonsalves de Mello em sua obra
intitulada "Tempo dos flamengos". Em sua obra, ressalta algumas características da
política holandesa, e principalmente do Conde Maurício de Nassau. Este, com sua
base urbana, trabalhou para impedir o poder dos senhores de engenho e das
oligarquias agrárias, incentivando assim a transformação da sociedade
pernambucana de agrária para urbana. Além disso, foram muitos os esforços em
melhorias para a população local, que viu em Nassau um governante que os ajudou
com suas políticas de combate à fome e à monocultura e de higiene e saneamento
básico.
REFERÊNCIAS
5. GOUVÊA, Fernando da Cruz. Maurício de Nassau e o Brasil Holandês:
Correspondência com os Estados Gerais. 2ª Ed. Recife: Ed. Universitária da
UFPE, 2006.
MELLO, José Antonio Gonsalves de. Tempo de flamengos. 5ª Ed. Rio de Janeiro:
Topbooks, 2003.
LOUREIRO, Claudia e AMORIM, Luiz. O mascate, o bispo, o juiz e os outros sobre a
gênese morfológica do Recife. Revista Brasileira de Estudos Urbanos e
Regionais. A.2, n.3. 2000. ñ Recife: Associação Nacional de Pós-graduação e
Pesquisa em Planejamento Urbano e Regional; editora Norma Lacerda: A
Associação, 2000.
FREITAS, Pâmela Travassos. Ressentimentos e (in)tolerância: Brasil holandês
(1630 – 1654). Monografias - Universidade Tuiuti do Paraná. Disponível em:
http://www.utp.br/historia/revista_historia/numero_7/pdf_7/art_8.pdf. Acesso em setembro
de 2013
6. GOUVÊA, Fernando da Cruz. Maurício de Nassau e o Brasil Holandês:
Correspondência com os Estados Gerais. 2ª Ed. Recife: Ed. Universitária da
UFPE, 2006.
MELLO, José Antonio Gonsalves de. Tempo de flamengos. 5ª Ed. Rio de Janeiro:
Topbooks, 2003.
LOUREIRO, Claudia e AMORIM, Luiz. O mascate, o bispo, o juiz e os outros sobre a
gênese morfológica do Recife. Revista Brasileira de Estudos Urbanos e
Regionais. A.2, n.3. 2000. ñ Recife: Associação Nacional de Pós-graduação e
Pesquisa em Planejamento Urbano e Regional; editora Norma Lacerda: A
Associação, 2000.
FREITAS, Pâmela Travassos. Ressentimentos e (in)tolerância: Brasil holandês
(1630 – 1654). Monografias - Universidade Tuiuti do Paraná. Disponível em:
http://www.utp.br/historia/revista_historia/numero_7/pdf_7/art_8.pdf. Acesso em setembro
de 2013