2. MAR PORTUGUÊS Ó mar salgado, quanto do teu sal São lágrimas de Portugal! Por te cruzarmos, quantas mães choraram, Quantos filhos em vão rezaram! Quantas noivas ficaram por casar Para que fosses nosso, ó mar! Valeu a pena? Tudo vale a pena Se a alma não é pequena. Quem quer passar além do Bojador. Tem que passar além da dor. Deus ao mar o perigo e o abismo deu, Mas nele é que espelhou o céu. Fernando Pessoa (Sofia Ferreira – 7ºA; Duarte – 9ºC) SEMANA DA POESIA
3.
4.
5.
6. CHOVE CHUVA Chove chuva chuva chove. Chove chuva chove cá. Já choveu uma chuvada numa chávena de chá. António Mota (Bruno Fernandes – 7ºC) SEMANA DA POESIA
7. LÁ NO ÁGUA GRANDE Lá no Água Grande a caminho da roça negritas batem que batem co'a roupa na pedra. Batem e cantam modinhas da terra. Cantam e riem em riso de mofa histórias contadas, arrastadas pelo vento. Riem alto de rijo, com a roupa na pedra e põem de branco a roupa lavada. As crianças brincam e a água canta. Brincam na água felizes... Velam no capim um negrito pequenino. E os gemidos cantados das negritas lá do rio ficam mudos lá na hora do regresso... Jazem quedos no regresso para a roça. Alda do Espírito Santo (Sara Ramos - 7ºD) SEMANA DA POESIA
8.
9. FUNDO DO MAR No fundo do mar há brancos pavores, Onde as plantas são animais E os animais são flores. Mundo silencioso que não atinge A agitação das ondas. Abrem-se rindo conchas redondas, Baloiça o cavalo-marinho. Um polvo avança No desalinho Dos seus mil braços, Uma flor dança, Sem ruído vibram os espaços. Sobre a areia o tempo poisa Leve como um lenço. Mas por mais bela que seja cada coisa Tem um monstro em si suspenso. Sophia de Mello Breyner Andresen (Jorge Dias - 7ºD) SEMANA DA POESIA
10. VOZES DO MAR Quando o sol vai caindo sobre as águas Num nervoso delíquio d'oiro intenso, Donde vem essa voz cheia de mágoas Com que falas à terra, ó mar imenso?... Tu falas de festins, e cavalgadas De cavaleiros errantes ao luar? Falas de caravelas encantadas Que dormem em teu seio a soluçar? Tens cantos d'epopeias? Tens anseios D'amarguras? Tu tens também receios, Ó mar cheio de esperança e majestade?! Donde vem essa voz, ó mar amigo?... ... Talvez a voz do Portugal antigo, Chamando por Camões numa saudade! Florbela Espanca (Bruna Monteiro – 7ºD) SEMANA DA POESIA
11. A GOTA DE CHUVA Uma gota de chuva suspensa de um telhado. Dá-lhe sol e parece pequena maravilha. É um berlinde, dizem crianças entre si. É uma bola, e bela, mas não rebola, brilha. É a lua? Uma bolha de sabão de brincar? Um balão? Um brilhante de uma estrela vaidosa? Diz a velhinha olhando: Quem chorou esta lágrima? Uma gota de chuva suspensa de um telhado. Chegou uma andorinha engoliu-a e voou. Maria Alberta Meneres (David Ferrugento – 7ºD) SEMANA DA POESIA
12. CHOVE Chove uma grossa chuva inesperada Que a tarde não pediu, mas agradece. Chove na rua já de si molhada Duma vida que é chuva e não parece. Chove, grossa e constante, Uma paz que há-de ser Uma gota invisível e distante, Na janela, a escorrer… Miguel Torga (Ana Cristina Dias - 7ºD) SEMANA DA POESIA
13. ONDINAS SUBINDO NO AR Vão cantando As águas do ribeiro Saltitando Nos seixos rolando Vai o dia Sendo Tão ligeiro… E a ondina Rindo, a mergulhar Vou ouvindo Seu riso tinindo Cristalina Na água a brilhar… Água em cascata Sininhos de prata E gotas d´água Subindo no ar Maria Luísa Barreto (Laura Duarte – 7ºD) SEMANA DA POESIA
14.
15.
16.
17.
18.
19.
20.
21.
22.
23.
24.
25. ÁRVORES DO ALENTEJO Horas mortas … Curvada aos pés do Monte A planície é um brasido … e, torturadas, As árvores sangrentas, revoltadas, Gritam a Deus a bênção duma fonte! E quando, manhã alta, o sol posponde A oiro a giesta, a arder, pelas estradas, Esfíngicas, recortam desgrenhadas Os trágicos perfis no horizonte! Árvores! Corações, almas que choram, Almas iguais à minha, almas que imploram Em vão remédio para tanta mágoa! Árvores! Não choreis! Olhai e vede: Também ando a gritar, morta de sede, Pedindo a Deus a minha gota de água! Florbela Espanca (Rodrigo Ferreira – 7ºD; Beatriz e Ana Sousa – 8ºB; Carolina Branco - 9ºB ) SEMANA DA POESIA
26. ÁRVORE A semente dorme na placenta, húmida, da Terra. Mas começam a percorrê-la murmúrios de água e primavera. Torna-se raiz e caule, que irrompe da sua prisão sem luz para beber os ventos e a claridade do dia. O tronco firma-se como um mastro e caminha para os céus, claros, num apelo a ninhos. Em breve, brevezinho, desfralda-se em ramos E folhas que atraem uma floração de asas e de cânticos. E a árvore começa a ser, a dar e a permitir vida. Luísa Dacosta (Maria Beatriz Silva - 7ºD ) SEMANA DA POESIA
27. ÁRVORE De muito pequenina te conheço. Lembras-te de brincarmos ao crescer? Tu me ganhavas sempre, que mais baixa fiquei eu sempre sendo, de assim ser. De muito amedrontada te conheço. Lembras-te das geadas e dos frios? Eu te ganhava sempre que fugindo em casa aconchegava os arrepios. De muito pequenina te conheço. E se algum dia me esquecer de ti, é de mim que me esqueço. Maria Alberta Menéres (Jacinta Francisco – 7ºD) SEMANA DA POESIA
28. FESTA DAS ÁRVORES Cavemos a terra, plantemos nossa árvore, que amiga bondosa ela aqui nos será! Um dia, ao voltarmos pedindo-lhe abrigo, ou flores, ou frutos, ou sombras dará! O céu generoso nos regue esta planta; o sol de Dezembro lhe dê seu calor; a terra que é boa, lhe firme as raízes e tenham as folhas frescura e verdor! Plantemos nossa árvore, que a árvore é amiga seus ramos frondosos aqui abrirá. Um dia, ao voltarmos em busca de flores, com as flores, bons frutos e sombras dará! Arnaldo Barreto (Bruno Coelho – 7ºD) SEMANA DA POESIA
29. CADA ÁRVORE É UM SER PARA SER EM NÓS Cada árvore é um ser para ser em nós Para ver uma árvore não basta vê-a a árvore é uma lenta reverência uma presença reminiscente uma habitação perdida e encontrada. À sombra de uma árvore o tempo já não é o tempo mas a magia de um instante que começa sem fim a árvore apazigua-nos com a sua atmosfera de folhas e de sombras interiores nós habitamos a árvore com a nossa respiração com a da árvore com a árvore nós partilhamos o mundo com os deuses. António Ramos Rosa (Luís Fontes – 7ºD; Beatriz Lourenço - 8ºC; Diogo Mendes – 9ºC) SEMANA DA POESIA
30. A Árvore Uma árvore floriu por detrás da casa Uma árvore dentro de Março Contra a rotina E contra o espaço Ela só capaz de flor E golpe de asa Deixai-me a árvore Por detrás da casa. Manuel Alegre (Júlio Dias – 7ºC) SEMANA DA POESIA
31.
32.
33.
34.
35.
36.
37.
38.
39.
40.
41.
42.
43.
44.
45.
46.
47.
48.
49.
50.
51.
52.
53.
54.
55.
56.
57.
58. O MENINO DA SUA MÃE No plaino abandonado Que a morna brisa aquece, De balas trespassado - Duas, de lado a lado -, Jaz morto, e arrefece. Raia-lhe a farda o sangue De braços estendidos, Alvo, louro, exangue, Fita com olhar langue E cego os céus perdidos. Tão jovem! Que jovem era! (agora que idade tem?) Filho único, a mãe lhe dera Um nome e o mantivera: «O menino de sua mãe». Caiu-lhe da algibeira A cigarreira breve Dera-lhe a mãe. Está inteira. É boa a cigarreira. Ele é que já não serve. De outra algibeira, alada Ponta a roçar o solo, A brancura embainhada De um lenço... deu-lho a criada Velha que o trouxe ao colo. Lá longe, em casa, há a prece: "Que volte cedo, e bem!" (Malhas que o Império tece") Jaz morto, e apodrece, O menino de sua mãe. Fernando Pessoa (Sofia Ferreira e Rodrigo Carvalho – 7ºA) SEMANA DA POESIA
59. RETRATO DA MINHA MÃE Minha mãe tem flores nos olhos. Sóis de estrelas Nas mãos, nos braços. Luas brancas são Seus seios de seda. E é grande como um mundo E eu chamo-lhe: Mãe! Matilde Rosa Araújo (Ana Rita Varandas - 7ºC) SEMANA DA POESIA
60. MARSUPIAL Ó mamã-canguru Tens tanta sorte! Escusas de juntar Como qualquer mamã-mulher No seu baú Camisas Casaquinhos Fraldas Mantas E tantas Tantas peças de agasalho Que dão tanto trabalho A coser A lavar A remendar!... Tu Canguru Transportas o baú Dentro da própria pele Forradinho do pêlo Que te aquece E aquece o teu menino. Lá o guardas Resguardas. És muito fino Canguru. Ninguém resolve o caso como tu. Alice Gomes (Ana Rita Varandas-7ºC) SEMANA DA POESIA
61.
62.
63. FIZ UM CONTO PARA ME EMBALAR Fiz com as fadas uma aliança. A deste conto nunca contar. Mas como ainda sou criança Quero a mim própria embalar. Estavam na praia três donzelas Como três laranjas num pomar. Nenhuma sabia para qual delas Cantava o príncipe do mar. Rosas fatais, as três donzelas A mão de espuma as desfolhou. Nenhuma soube para qual delas O príncipe do mar cantou. Natália Correia ( Mariana Ferreira António – 7ºC) SEMANA DA POESIA