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1 de 96
SALVADOR
2015
C O G I TOANTOLOGIA
POÉTICA
VOL. II
Organização
Ivan de Almeida
C676
Cogito – Antologia Poética / Ivan de Almeida (organizador). –
	 Salvador: Cogito, 2015.
96 p.; v. II
ISBN:
Literatura brasileira. 2. Poesia brasileira - coletânea. 3. Antologia
	 poética. I. Almeida, Ivan (organizador). II. Título.
		 CDD: 869.91
		 CDU: 869.0(81) -1
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Organização:
Ivan de Almeida
Imagem da Capa:
Old pen and letter – 38662711
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Usado sob licença da Shutterstock.com
Revisão:
Solange Fonsêca
Projeto gráfico, editoração eletrônica e capa:
Ivan de Almeida
Impressão e acabamento:
Halley Gráfica S/A
Ficha catalográfica
(Bibliotecária: Iramaia Ferreira Santana Santos – CRB1303/05)
SUMÁRIO Adão Cunha
Adolfo Stinziani
Adriana Lombardo
Alberto Lima
André Castro
Ana Moreira
Andreia Costa
Antonietta Iacobelli
Antônio Sanches
Audelina Macieira
Augusto Broasky
Bohumila Araujo
Carlos AC Liberal
Carlos Conrado
Carlos Witalo
Cecília de Paula
Cecília Peixoto
Celeste Farias
Celina Sheila Macome
Cilene Canda
Ciro Daniel Campos
Clara Maria Alves
Cláudio Hermínio
Cristiano Sousa
Elder Carlos dos Santos
Elenilson Nascimento
Elisenilda Cristina de Almeida
Elita Barreto Pires
Elisa Garcia
Ely Carvalho
Ery Cruz
Eulampio José da Silva Neto
Fábio Haendel
Fabio Shiva
Geraldo Portela
Giovanna Vita
Guilherme Meyer
Handherson Damasceno
Herick Rios
Iramaia Santana
Jacquinha Nogueira
Jailson Santos
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Jairo Pinto
Jamesson Cardoso Ribeiro
Jeane Sánchez
Janaina Lopo
José Eduardo Cavalheiro da Silva
Josue Ramiro Ramalho
Laura Liberato
Leandro Flores
Leira Renata Carvalho Santos
Leonia Teixeira
Lino Mukurruza
Lucas Santos do Nascimento
Luciene Lima
Luiz Alberto Cavalcanti Filho
M. Souza
Maddalena Spina
Manollo Ferreira
Marchal Jr.
Marly Ramos
Maria Célia Bosh
Maria Clara Aquino Damasceno
Maria das Graças Prates Maia
Maria José Matos
Michelle Saimon
Mora Alves
Morgana Gazel
Nara Barreto
Newton Silva
Noêmia Duque
Patrícia Lins
Paulo Balôba
Rai Blue
Roberto Rodrigues
Rogério Araujo (ROFA)
Rosana Paulo
Sérgio Guerra
Sueli Lopo
Suely Saba
Susana Campos
Taíssa Cazumbá
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COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
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ADÃOCUNHA
SALVADOR/BA
SONHOS FLÁCIDOS
lembro de uma lágrima
que, quando menino, escapuliu
no instante da fotografia
3x4
uma lágrima se propondo eterna
esfera líquida, apreendida
por uma invenção impressionista
abre aspas – os que
com lágrimas semeiam
com júbilo ceifarão – fecha aspas
mas,
para minha surpresa,
não saiu na foto
a lágrima
escorreu, pulando
da ponta do queixo,
suicidou-se
a lágrima
na foto
é um rastro brilhante
na maçã do rosto
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
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	ADOLFOSTINZIANI
LARINO/CBMOLISE–ITÁLIA
SOU
Jogo de luz em seus olhos,
aroma de tília no ar,
passos pertos na calçada arvoreada,
uma folha cai.
Sou o amanhecer procurando o dia,
fios de pérolas as teias de aranha cobertas de orvalho,
cinza tela de Arachne brilha e pega,
a presa é imolada no prefácio da urdidura e trama.
Eu sou o areal, joguete de espumas salgadas.
Castelos de areia e castelos do nada, uma memória que desliza.
Entre os dedos, cócego dolce o fluxo de grãos dourados.
Sou o viandante procurando descanso,
avenida arborizada de cinzas cortiças, multidão de folhas
cansadas
voltando para a terra, ligeiras no ar de metal .
Eu sou o vidente, que outros destinos queria para si,
anseia o auge, inevitável e magnífico é o íngreme
e o Olympus sagrado sempre banqueteia com néctar e ambrosia,
morada divina, aceita esse homem.
Eu sou o fio de erva, o orvalho é a minha joia,
o astro do dia, minha decepção, a estrela preferida,
o meu tratamento.
Entre as pedras brancas de sal verdejo
E as ondas acariciam os frescos arenil.
A noite se aproxima,
encrespam o vermelho os suspiros do mar.
O sol beija o horizonte, em seguida, extingue-se para dentro
da água.
Entre as pedras resplandecentes da luz refletida,
como um pináculo gótico ergo-me,
eu quero o céu, eu quero a minha estrela.
E a minha estrela brilha lá em cima, a minha estrela,
não nega o meu olhar trêmulo de amor e esperança.
Tradução: Rosanna Lapenna
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
7
	ADRIANALOMBARDO
BRASÍLIA/DF
ORIGENS
As nossas origens nem sempre são lembradas.
Também não são esquecidas.
Permanecem latentes.
Cheiros, sabores, sons, cores.
Vivos. Mortos. Verdadeiros em nós.
Ainda que não sejam palpáveis, concretos.
Eternizam-se em nossos gestos.
Estão presentes em nossas escolhas.
A forma se repete, a atitude se repete, a vida se repete.
De tão repetida, cansa.
Precisa viver de novo.
Precisa achar-se diferente.
Melhor é encontrar-se.
Juntar os cacos, costurar os remendos.
Estar completo.
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
8
	ALBERTOLIMA
SALVADOR/BA
PÓSTATA
São deveras cristalinas essas tuas
Facetas de atalhos retumbantes
Há de entender tálita tua
Face tácitamente redundante.
Eter minadouro novo auge flua
Re-Re-signo, desconfigurante
Em território se perpetua
Reside porosa rua, torturante.
Com tantas vidas; lidas, na estrada
Regurgitar é importante e durante
Contactar as boas livreiras letradas
Tanta passagem livre de sua quadra
Reta girante, aponte, vá adiante
Próstata bem irritada, ela ladra!
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
9
	ANDRÉCASTRO
SALVADOR/BA
TRISTE SALVADOR
A cidade urra, a cidade se contorce,
E, sob o tropel das multidões apressadas,
Ante o caos das avenidas lotadas,
A cidade estremece.
Seus prédios históricos agora arqueados
Sobre espáduas cansadas, despidas de glória,
Com suas belas fachadas, enfim descarnados,
Entregues, derrotados, à vadia escória.
A cidade apodrece,
E padece por não ter memória.
A cidade dissimula e se esgueira,
Tateia por suas vielas encardidas.
A cidade fede a urina
E respira os miasmas das suas esquinas.
A cidade sufoca com o ar viciado,
Suas artérias e veias estão entupidas
Por hordas de carros que lhe abrem feridas.
A cidade enfarta.
E lamenta.
E lambe suas chagas de favelas purulentas.
A cidade é refém de agressores travestidos
De vítimas.
A cidade é um amontoado esquecido de
Gente, coisas e destroços,
Que suplica por salvação.
Área de anexos.
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
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	ANAMOREIRA
SALVADOR/BA
ESCRAVIDÃO
Eu parei no tempo
Não vivi absolutamente nada
Em que século estamos?
Meu Deus!
Quanto tempo perdi
Fui contar as estrelas...
O que aconteceu com vocês?
Cadê a revolução?
Onde está o poeta?
Este não é o meu País!
Castro Alves!
Cadê você, amigo?
Para onde levaram os escravos?
E a nossa esperança?
Por que você partiu, amigo?
Por que me deixou aqui?
Que lugar é esse?
Onde está o mar?
De que lado fica a África?
Eu preciso voltar
Por mais que seja tarde
Eu preciso voltar
Para rever minha raça
Matar saudades...
Rever minha mãe e dizer: que felicidade!
Felicidade estar pisando de novo nessa terra
Apesar de não poder trazer ninguém
Acorda, poeta!
Leva-me para a África!
Tira-me daqui!
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
11
	ANDREIACOSTA
ARACATI/CE
MEIO SEM QUERER
Meio sem querer
estava a caminhar, quando me encontrei com seu olhar.
Meio sem querer
você invadiu meu viver para cuidar e me proteger.
Meio sem querer
entrou no meu coração e fez morada sem nenhuma razão.
Meio sem querer
fica dias e noites velando e rogando pelo meu ser.
Meio sem querer
cuida de mim sem nada esperar , sem cobrar.
Meio sem querer
sua voz acalma e afaga minha alma nos momentos de aflição.
Meio sem querer
lhe encontrei em meio à multidão e alimentou de esperan-
ça o meu coração.
Meio sem querer
hoje lhe vejo partir, sem escolha de desistir.
Meio sem querer
vejo uma lágrima surgir, a dor consumir e a tristeza invadir.
Meio sem querer
ficarei aqui a lhe esperar, para trazer de volta a alegria do
meu olhar.
Meio sem querer
tenho necessidade de lhe ver
Meio sem querer
você faz parte do meu viver.
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
12
	ANTONIETTAIACOBELLI
LARINO/CBMOLISE–ITÁLIA
A PIPA
Eu nunca tive uma pipa
Nunca corri em uma praia NO PÔR DO SOL
mas...
Eu sempre sonhei com os olhos ABERTOS...
Uma praia DESERTA e um mar em tempestade.
Um dia também eu encontrei
Uma Pipa toda minha, de mil cores
e, em seguida, a partir desse dia o meu coração se enlaçou
fortemente a uma Simples Pipa ...
Tradução: Rosanna Lapenna
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
13
	ANTÔNIOSANCHES
LISBOA–PORTUGAL
SAUDADES
Sentado ali na Orla, num recanto
olhei o meu querido mar
sentindo a magia e doce encanto
de o poder amorosamente abraçar.
Mirei toda a suave rebentação
desde o Porto da Barra até Itapuã
e tentei nas cordas do meu violão
tocar o som dolente daquela manhã.
Boêmio de mil sonhos e madrugadas
vi sereias lindas de esculturais encantos
cantando belos feitiços, doces toadas
na mágica Baía de Todos-os-Santos.
Saudades já eu vou há muito sentindo
dessa magia tão soteropolitana
onde queria ver meu olhar se refletindo
no doce mirar da uma dengosa baiana.
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
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	AUDELINAMACIEIRA
SALVADOR/BA
CAPITÃO DO MATO
É você negro
que serve
à autoridade do branco
e esmola as sobras da mesa
da elite escravocrata
Estamos fugidos
ainda pelos matagais sem saída
Estamos sendo perseguidos
e vamos para o tronco
cada vez que calamos a nossa voz
que quer gritar
Chega!
Não precisamos mais
apanhar, estamos livres!
Somos cidadãos civis
da sociedade
Podemos ir e vir
Podemos votar
Podemos pendurar
nosso diploma
Em qualquer
parede
ou lugar
por aí
Mas e aí negro?
Você se vendeu ao sistema
depois de tantas lutas
tantas resistências
depois de comer caviar
e dizer a palavra reparação já!
E você é negro
com diploma na mão e tudo
Lembre dos seus irmãos
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
15
os negros que estão arrumando este País
Pare de puxar o saco desta raça de vagabundos
que nem cor tem
xingue eles, não baixe a cabeça
Quanto eles lhe pagam
para ir atrás dos perdidos?
Aqueles que não calam seu grito
e ainda estão com seus cabelos
rebeldes, e seu sorriso límpido
negros de verdade
sem dinheiro
muito menos vaidade
Você tem preço???
Você entregou
o ouro e a prata
por nada?
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
16
AUGUSTOBROASKY
ARACATI/CE
COISAS DA BAHIA
Os coqueiros de Itapuã, o frio gostoso de Amaralina, as
estrelas que brilham em Plakafor, o perfume delícia da
menina.
O samba do Tororó, não me deixe só!
Terreiro de Jesus, coisa linda! Me encanta, me fascina.
O elevador meu amor, o bate-papo na esquina.
A sorte está sempre presente, para a alegria de Nanã. Tem
festa pra toda a gente, na paz de Iansã.
Castro Alves virou Praça e é do povo, quero te ver de novo
no Carnaval da alegria, com o seu jeito manhoso, me
amando todo dia.
Na terça-feira de zoeira, vou para o embalo do Ilê, me
perco na madrugada, mas me acho com você.
Na quarta estou de ressaca, mas, não fiz nada ruim, por
isso, livre de culpa, vou seguindo para o Bonfim. Por lá
você está, e tudo fica gostoso na paz de Oxalá.
Abençoado sigo em frente, indo parar no Abaeté, lá tem
lagoa bonita, abará e acarajé.
Me falaram de outros pontos, aonde anda o Baticum e com
a morena no requebra, fiz a festa no Olodum.
Na Liberdade tem pagode, quem não samba também
pode, a mulata se sacode no ritmo pra valer, tem artista de
todo lado, quem não viu, precisa ver.
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
17
De repente, surge gente andando pra lá e pra cá e fugindo
da multidão, você quer me namorar. Que venha com todo
o gás, me traga um olhar fugaz, me dê carinho e amor, só
isso me satisfaz.
Na Terra da magia, quem nasceu tem que crescer, seja
noite, seja dia, Salvador meu bem querer.
Não posso me esquecer da ginga da Capoeira, que loucura
sem besteira, a bênção e a armada de frente, a meia-lua
diferente, Salve mestre Pastinha, mestre Bimba e Caiçara.
A raça do baiano tá no sangue, tá na cara.
Misturas que dão prazer, convido você turista, chegue perto
e venha ver: azul, vermelho e branco, são cores de energia,
com Carlinhos Brow e Ivete faço a festa da Bahia.
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
18
BOHUMILAARAUJO
SALVADOR/BA
METAMORFOSE
Tudo o que se foi
Tudo o que está no passado
Está mudando
Perdendo a forma
Perdendo a cor
Empalidecendo
O bem e o mal
Se misturam
O pecado é esquecido
O sonho vem para ficar
O desejo de ser e ver
As asas fazem nascer
O voo é uma bela canção
Do eterno regresso.
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
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	CARLOSACLIBERAL
PORTO/PT–PORTUGAL
ORA A UM DEUS
Ora um Deus te salve nas ruínas de uma penúria
ou solidão do tédio
no consolo do pão
ou amarguras do verão
ou castigo da desocupação
ou momentos de apatia
ou fazendeiras grosserias
porque os males vem por males
não consumas o álcool
ou por onde andas sem pedras
não nos enchas de sermões
ou longe do sol e sertões
há almofadas e colchões
e o ódio e alegria
ou sexo e covardia
já um elmo habita a moda
se confunde e anda à roda
se és o mar de ervilha
a sopa será a tia e a noite
se conforto a guia
e por bem mal feitos vêm outros e por ti
todos defeitos
corrigir as posturas de cabrão
a ovelha excolhe o mel
o rebanho dá o leite
e o dia de novo Bill Gates tudo fará
e uma nova trilha começará"
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
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	CARLOSCONRADO
SALVADOR/BA
RELENTO
A árvore que fielmente nos acolhe
guardará todas as nossas confissões.
Afogo minha dor no Mar do Esquecimento,
ao teu cruzar de pernas estou atento,
decifro os gestos que espreitam meu gozo.
Tua alma se debruça na janela,
teus sentimentos espalham fogo,
teu ser é o meu refúgio.
A negruma dos teus olhos,
envolve-me a decifrá-los.
vejo-te numa redoma de sonhos
com alguns cortes no espírito,
querendo dedicadamente saná-los.
Tenho também os meus retalhos,
quero a tua ajuda para salvá-los.
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
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	CARLOSWITALO
SALVADOR/BA
VERSOS VÃOS
Estimo a tua pele como estimo
A seda que há nas pétalas da rosa,
E a fim de eternizar-te eu canto e rimo,
Ou tento pôr-te inteira numa prosa.
E goza o meu delírio...e como goza...
Ao ver que, quanto mais amor reprimo,
Ao ver que, quanto mais és desdenhosa,
Eu mais te quero perto e te sublimo.
Até quem longe passa, do outro lado,
Enxerga o meu semblante ensolarado,
Estando o dia cinza e sem sabor.
E quem me vê de perto ri calado,
Achando o meu sorriso abestalhado,
Ou digno de pena o meu amor.
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
22
	CECÍLIADEPAULA
SALVADOR/BA
CANUDOS
Bolha
Sopro
Guincho
Lua
Estrela
Cadente
No açude
Seco
Sede
De ar.
Conselhos
Conselheiros
Conselheiristas
Convergem
Pra todos os lados
Dos sertões.
Corte
Corpo
Cálice
Canudos
Degola:
Inundação
De Sangue.
Recheado
De Resistência.
Trasbordo
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
23
De jorros
Achados
No Sertão
Nordestino.
Contas
(A)pagar.
Ampulheta
Do tempo
Perdida
No vento.
Revés
De quase nada
Que no sol
Reflete
Pílulas
De indignação.
Brilhos
Da terra.
Gota no
Oceano
Que invade
O quarto
De dormir.
Sentença
De
Vida
Severina
Que continua
A lutar.
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
24
Do luto
À luta.
Sina
Da vez
Hora de
Despertar.
Apesar da morte
Escorrer entre
Grãos de
Areia.
E pedras
E memórias
Dos Corpos
Da Luta
Da Terra
Do Homem
Do Sertão.
Humanidades.
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
25
MULHER NEGRA
Sinto-me feliz, sou negra,
Sou descendente de reis e rainhas,
Ensinaram-me a negar minhas origens,
Mas hoje assumo as verdades que são minhas.
Sou mulher negra cheia de fibra e raça,
Minha cor não é uma questão de epiderme,
De cabelo, de traços, de costumes,
Minha cor é minha raiz em um corpo cheio de graça.
Cada qual com seu valor entre suas diferenças
Brancos, índios, negros, todos misturados,
Valor, atitude, coragem, crenças,
Sou negra, não sou inferior em um país miscigenado.
A falta de respeito, pudor e a intolerância,
São influências de falsas ideias concebidas
De preconceitos e racismo fruto da ignorância
Sou mulher negra aguerrida e jamais me darei por vencida.
O negro chegou a doutor, o trabalhador estudou,
As barreiras da discriminação devem ser vencidas,
Através da educação, informação e punição,
Esta mazela do nosso país será banida.
	CECÍLIAPEIXOTO
SALVADOR/BA
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
26
	CELESTEFARIAS
BELOHORIZONTE/MG
ÁPICE
Inebriada em goles
Do instigante cheiro
De homem inocente
Olhar apimentado
Sabor avassalador
Lanço-me insana
Sem folhas
Galgando
Abrandando
Latejando
Entre ais e uis
Apreciando em taças
O néctar do vinho
Tocando o apogeu
Desse inefável prazer.
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
27
	CELINASHEILAMACOME
MAHOTAS–MAPUTO–MOZAMBIQUE
POESIA
Inspiro-me dentro de ti
Liberto o meu ser
Ao encontro da verdade
As rimas caminham nos meus olhos
Desabafo entre versos internamente
Vivo ao teu redor entre estrofes
Declamo num palco poético
Adquirindo qualidade na escrita
Soletrando palavras de um poeta
Assumo a minha identidade poética
Valorizo a arte de escrever
Liberto-me no teu colo poético
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
28
	CILENECANDA
SALVADOR/BA
QUE DIZER?
o que dizer do mundo?
direção, farpas, concreto
o que dizer de mim?
teia, vento, árvore
o que digo ao mundo?
que penso devorá-lo
como se eu fosse árvore
arvoro-me
arvore-se!
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
29
	CIRODANIELCAMPOS
SALVADOR/BA
ÁRIDOS
Amavam-se áridos
Paradoxo de pó e lama
Irrigados de sangue agreste
Escasso, na óssea cama.
Um quadro de santo.
Nó destino canto.
Merencória prece.
Gemia a mulher empoeirada
E o macho sobre ela entrava
Fungando seu cangote cacto
Mandacaru a atravessava
Rasgando-lhe o ventre nu
Devotamente intacto.
Ela, de quatro, aquiesce
E ele conta estrelas
Nas vértebras acesas
De céu azul inceleste.
Era como comer a casca
Da mulher que lhe servia
A pele, o pelo e a lasca.
Era tudo um fogo fátuo:
Ela amada feito bicho
Ao desprazer da natureza.
Nada mais lhe restava
Do que a sede, dona da casa,
A escuridão e a dureza.
Amavam-se áridos
O couro batendo por dentro
Desumanos semoventes
Dois sertões se devorando
Securas chãs dependentes
Amantes. Caatingamente.
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
30
CLARAMARIAALVES
SALVADOR/BA
CONTO
Lágrima que jorra
Feito uma cachoeira
Rio que transborda
Na cabeceira
Braços abertos
Que tonteira
Queda d’água
Na banheira
Café quente
Na chaleira
Conto de lua
A noite inteira
Tonto de falar
Tanta besteira
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
31
	CLÁUDIOHERMÍNIO
BELOHORIZONTE/MG
FAÍSCAS
Procuro em ti aquilo que foras um dia
E que, ao meu pesar, já não existe mais.
Quero guardar enfim:
O sol e a lua,
A valsa da despedida,
O hálito quente que ousou queimar-me um dia.
Quero guardar enfim:
Histórias de um velho mundo,
Baladas sem fim,
Passos uniformes e sem formas.
Quero guardar enfim:
Ciladas traiçoeiras e constantes,
Noites tempestuosas que me viram ao avesso
Sem qualquer desfecho.
Quero guardar enfim:
Marcas cravadas sobre a pele,
Verdades dispersas e sem rumo
Cuja imensidão,
Sempre vi.
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
32
	CRISTIANOSOUSA
SALVADOR/BA
DEFICIENTES
Estou cansado de dizer
Muitas bobagens sem saber o porquê
E esgotado de ouvir
Tantas mentiras que falam pra mim
O empresário não me deixa trabalhar
A cadeira de rodas alguém tem de arrastar
No coletivo eu não posso entrar
E a visão é que há de me atrapalhar
Este mal que está em todos nós
Ninguém pode nem deve negar
Olhem só o pai que abandonou a filhinha
O menino que xingou a mãe
Bicho preguiça você tem de se virar
Para que mais tarde seu filho não venha a roubar
O mendigo que está na esquina
Ficou maluco sem o apoio da família
Deficiente, todos nós somos um
Eficiente, pode ser qualquer um
Deficiente, todos nós somos um
Deficientes, nos ensinem a amar
O aluno não gosta de estudar
Mas passa de ano, coincidência, vou tentar
Não vai à escola, não se esforça para entender nada
A preguiça é uma deficiência e uma roubada
Eu ouço muitos ateus falando em Deus
Deviam tomar vergonha na cara
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
33
E não tirar o dinheiro de quem
Ganhou suado o seu vintém
Encurtaram meu espaço
Me feriram no estímulo
Não dão valor a meu expressar
 
Algum dia vão perceber nossa vontade de vencer
E muitos braços vão se estender
Para os espaços poderem crescer
Deficiente, todos nós somos um
Eficiente, pode ser qualquer um
Deficiente, todos nós somos um
Deficientes, nos ensinem a amar
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
34
ELDERCARLOSDOSSANTOS
SALVADOR/BA
GRAAL
Descobri que minha sina
Apesar da dor e da agonia
É continuar em frente
Acreditando na vida
Minha incrível rotina
É parir da noite o dia
É buscar o grande cálice
A sagrada regalia
Dissipar a densa bruma
Ver a joia escondida
Despertar a antiga arte
Há muito tempo perdida
Erguer a copa sagrada
Mistério que me inicia
Vindo de uma antiga noite
Encanto que se recria
Para fazê-la brilhar
No eterno do instante
E de uma forma intensa
Como joia faiscante
Sentir seu poder oculto
Que atravessa a distância
Que possui fonte incerta
Inundada em radiância
Por mais que a mão me pese
Melhor coisa não seria
Manterei esta missão:
Celebrar a grande magia
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
35
NINGUÉM NOTOU
A noite acabou...
A chuva parou...
Mais um dia surgiu...
O sol no horizonte brilhou...
A árvore frutificou...
O mundo girou...
A música tocou...
A menina cresceu...
Meu coração sofreu...
O dinheiro acabou...
A roupa no varal secou...
Meu espírito acalmou...
E ninguém notou!
ELENILSONNASCIMENTO
SALVADOR/BA
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
36
OLHOS NOS OLHOS
Diga o que pensa
mas sem ofender...
Suas ideias são importantes
Mas ouça o que digo
entenda minha posição
mesmo se você discorda...
Fique sentado...
Não interrompa...
Não queira ser
o dono da palavra...
Fale o necessário,
faça perguntas
desperte meu interesse...
Não fuja, alheio
indiferente,não entendeu ?
Faça perguntas !
Mas pode comparar...
liberdade vou lhe dar
O que houve com sua
experiência?
Onde estão os exemplos ?
Fatos, casos, concretos ...
Se discorda... Diga!
Com bom humor, naturalidade...
Não deixe para depois
Notas, pontos obscuros
Tudo pode ajudar
Ficarei mais animada
também mais interessante...
Vou...Vem...Para beira do mar...
Ver o pôr do sol
Para refletir, estudar, assimilar
ELISENILDACRISTINADEALMEIDA
SALVADOR/BA
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
37
ELITABARRETO
SALVADOR/BA
TÃO EU...
Intensa, verdadeira, honesta...
Intensa, suave, amável...
Intensa, exigente, preocupada...
Intensa, rancorosa, amorosa...
Intensa, extensa, complexa,
Estável, indignável, afável...
Desejável, admirável, detestável...
Tamanha intensidade de virtudes, defeituosamente
qualificadas,
Complementares, contraditórias e jamais quantificadas,
Pela sua plenitude infinita e inconstante.
Tudo isso porque...
Não aprendi a
Fazer de conta,
Amar pela metade, enfeitar a verdade.
Não aprendi a
Negar o óbvio, superar o insuperável,
Tamponar a ferida aberta,
Perdoar o imperdoável.
Não aprendi a
Fechar os olhos para a injustiça, banalizar o preconceito,
Valorizar a busca pelo perfeito...
Perfeito de corpo, perfeito de alma; perfeito defeito?
Não aprendi a
Transformar sofrimento em alento,
Me contentar com o “não tem jeito”,
Priorizar somente o financeiro.
Não aprendi a
Suprimir o desejo, esconder o malfeito,
Negar meus desejos, conviver com o desrespeito,
Neutralizar minhas emoções.
Não aprendi a
Fazer de conta, aguardar “o curso da onda”,
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
38
Paralisar e esperar pela mudança:
Mudança de vida, mudança de clima, mudança de Fé?
Mudança de rumo, de caráter, de humor.
Mudança de alma, mudança que cala, transborda ou abala.
Não aprendi a
Ser superficial, copiar pela necessidade de ser igual,
Deixar de viver, por medo de sofrer,
Deixar de Ser, por ninguém reconhecer:
Ser de verdade, me entregar de verdade – aliando corpo,
mente, alma e coração.
Ser pessoa, ser filha, ser mãe, ser amante, ser profissão.
Não aprendi a
Praticar o desapego de princípios essenciais,
Conviver sem apreço e ter relações banais.
Não aprendi e não vou;
Não vou, por não querer!
Não quero deixar meu Ser, mas não abro mão de aprender.
Aprender a reaprender,
E, em eterno ciclo, me refazer.
Por quê?
Porque o tempo não volta, o tempo não para!
O meu tempo é o hoje, o seu tempo é AGORA.
Intensa, persistente, VIVA,
Insistente [social], também...
Em eterno estado de desconstrução, remodelagem,
Deformação para reconstrução ou, [re]constituição e
fortalecimento do Ser.
Tão seu, tão meu...
Tão nua, TÃO EU...!
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
39
ELISAGARCIA
SALVADOR/BA
ESMO
Andar a esmo.
Vagar por caminhos dentro de si,
não encontrando a si mesmo.
Asno!!!
Empacado no caminho,
vendo o sol bater em suas costas,
ferindo-o de tão quente,
mas continua empacado Inerte, imóvel.
Pé fincado ao chão.
Melhor caminhar a esmo.
Asno insano!!!
Caminhar por caminhos tortuosos,
mas que refresque seu corpo cansado,
e castigado pelo sol intenso.
Asno!!!
Torne-se um cavalo destemido e audaz,
Que caminha e corre entre a relva e as margens dos rios.
Desenterre essas patas desse chão,
marcado com sua teimosia.
Transforme-se num ser que caminha,
com tamanho ímpeto que parece flutuar.
Suas pegadas não marcaram o chão de tão suaves.
Caminhe selvagem e livre por todos os cantos de seu ser.
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
40
ELYCARVALHO
CANAVIEIRAS/BA
ÊXTASE
No toque mágico
Na embriaguês de almas
Que se encontram
Arroubo!
Árdego olhar
Moreno cor de jambo
Você!
No arquejar do toque
Do odor inefável
Do seu sexo contra o meu
Poesia!
Entrelaçar de carinhos
Suspiros inebriantes
Que afloram no meu peito
A ansiedade de você...
Poesia!
Na pele cor de jambo
toque de magia
No jeitinho maroto
Feito concha...
Mansinho se aconchega
Você e Eu!
Na beleza que eterniza
A aquiescência do toque
Poesia!
No corpo reacende a paixão...
E, no inebriante silêncio
De corpos saciados,
Êxtase!
Na pele seu cheiro
No corpo o desejo
Todo trabalhado na paixão.
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
41
ERYCRUZ
SALVADOR/BA
INGLÓRIA
Na vida se canta a sorte,
Se chora com medo da morte,
De uma vida sem respirar,
Dormindo se sobe o morro,
Sonhando se desce de novo
Pra vida recomeçar.
Nas manhãs o pobre labuta,
Nas tardes continua a luta,
Nas noites não dá pra sonhar,
É choro de gente miúda,
Uma dor na barriga aguda
São corpos a se acalentar.
E nasce no pobre a coragem
De viver sob a liberdade
E sobe alto na construção,
Pensando na família aflita,
Tropeça na própria marmita
E voa de encontro ao chão.
Uma vela ilumina as mentes
De quem passa tão displicente
E até de quem não quer olhar,
Um jornal esconde sua estória
Cobrindo seu rosto e a glória
Que um dia sonhou alcançar.
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
42
EULAMPIOJOSÉDASILVANETO
JOÃOPESSOA/PB
A DOR DA MORTE
Vejo em vários cadáveres
Mil faces e feições
Corpo magros
Outros não
Bocas contorcidas
Mas a vida não
Dor da morte?
A morte não dói, não
O que dói é morrer
A morte em sua ação indolor
Não é o mesmo que a o ato passivo
De sucumbir ao processo
A morte não dói, não
O que dói é falecer
O que representam essas feições?
Algumas com toques do doer
Mas a morte não dói, não
O que dói é não viver
Deixar-se olhar para trás
Estes cadáveres não lembram mais
Mas ainda trazem, na face, a dor
Mas morrer não dói, não
O que dói é não renascer
Ainda procuro entender suas contrações
Estampadas em sua máscara facial
Mas a morte não dói, não
E porque esta visão que tenho da dor?
Se o que dói é morrer?
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
43
FÁBIOHAENDEL
SALVADOR/BA
ALCOÓLETRAS
Vamos nos embriagar
Sem deixar derramar uma gota de palavra
Vamos secar as garrafas
Engolir todas as letras e sílabas
E já bêbados
Vomitar os textos nas calçadas
Trocar ideias até trocar as pernas
De frases tortas
No alfabeto da embriaguez
E que a palavra se desenrole
Em um gole de cada vez.
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
44
FABIOSHIVA
SALVADOR/BA
PRECES
*
Auto de Fé
Ver em tudo sempre Deus o Criador.
Ver em tudo sempre reverência e amor.
Na luz e na sombra, beleza e terror,
ver em tudo pétalas da mesma Flor.
**
Aos Pés de Mainha
Que bom poder voltar aos pés de minha Mãe,
diante dos quais eu já deitei tanta oração,
voltar aos mesmos pés com um novo coração,
com muito menos medo e bem mais gratidão!
***
Oração do Vaso
Mesmo sentado no trono
Onde todos os homens são iguais,
Mesmo fazendo cocô
Continuo sendo filho de meu Pai.
 
Mesmo na sarjeta do engano
Onde todo mundo um dia cai,
Mesmo que na lama eu me banhe
Continuo sendo amado por minha Mãe.
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
45
GERALDOPORTELA
SALVADOR/BA
REVERSO XXX
PAPHO
Para Zé Wilson Bacela
ah, poeta
ajunta os sonhos dispersos
nas madrugadas serenais
explora as fronteiras que teias
sem trilha atalho ou caminho
reescreve os enredos revela
os segredos em louca alquimia
ah, poeta
na transcrição da vida de dentro
olhando no olho do avesso
despetala a rosa dos ventos
despalavra os versos desvela
os acasos acima do nada
onde se cruzam e contrastam
metáforas
e
vestido de silêncio e branco
bebe em pequenos goles
o vinho esquecido por dionísio
na velha taça do tempo
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
46
GIOVANNAVITA
SALVADOR/BA
O AMOR
O amor
Dor; que me atormenta,
Dor; que, no infinito da existência, leva-o de perto de mim.
Dor; do amor impossível.
Que causa sofrimento no coração de quem ama.
Dor; que existe no meu ser, ao sentir falta dos seus beijos de
açoite, e carícias no meu corpo desnudo.
Dor, dor, dor!
Que sinto na separação de um amor proibido.
Até quando suportarei a ausência do amor que arrebata o
meu peito,
Sentindo a falta das suas carícias e dos beijos calientes de
seus lábios carnudos,
em busca do amor renascido,
entre dois seres que a eternidade separa;
O passado e o presente.
Nunca mais...
Dor, dor, dor! Eterna...
Me castiga pela falta do meu amor sublime e puro.
Dor, fim da existência, da minha vida...
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
47
GUILHERMEMEYER
PORTOALEGRE/RS
QUARTA-FEIRA,
25 DE MARÇO DE 2015
hoje mais do que nunca
queria você ao lado.
hoje sinto o gosto da morte na boca
como cerveja morna.
hoje compro o jornal na banca
pra ver se me distraio.
hoje as palavras são carcaças de automóvel
num ferro-velho.
hoje me sinto velho.
hoje os olhos pesam e as pernas fraquejam.
hoje não consigo
deixar de ver no espelho
o cabelo ralo.
os dentes amarelos.
hoje mais do que nunca
queria você ao lado.
hoje dói a falta de tudo que ainda
não perdi.
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
48
HANDHERSONDAMASCENO
SALVADOR/BA
O ESCRAVO DAS PALAVRAS
Gosto de escrever, pois alivia o meu sofrimento;
Gosto de escrever, pois é grande o meu tormento;
Gosto de escrever, porque do pesadelo sou libertado;
Gosto de escrever, porque já não me sinto aprisionado.
Escrevendo, os grilhões e as correntes se findam,
A tristeza e a amargura que me atormentam, terminam.
As regras e imposições que sou obrigado a seguir
São abolidas, infringidas: vejo meu sonho exaurir.
As palavras me dão imensurável poder!
Com elas, extrapolo os limites do meu ser:
Deixo de ser uma pessoa ínfima, covarde e banal,
E vejo-me como herói, sublime e imortal.
Estas palavras me dominam de modo imponderável.
Sou limítrofe entre o fictício, o tangível e o explicável.
De caráter circunspeto, sério e indissoluto,
Transformo-me em devasso, atrevido, sem atributos.
No meu sangue, as palavras latejam;
Estão sob a minha pele: me desejam!
Chego a ficar sobremodo sufocado
E quando se apoderam de mim, fico extasiado.
O meu corpo, elas fazem de instrumento;
São meu antídoto, minha polução, meu acalento.
Esvaziam a minha inquietude e sofreguidão...
Arrancam de mim o desânimo, a insatisfação.
Sem as palavras, minhas únicas amigas,
Seria uma pálida luz, de fé, desprovida.
Espantam o vulto fétido e tenebroso da morte
E por tenazes minutos, sou ser gracioso e forte!
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
49
HERICKRIOS
CAPIMGROSSO/BA
Amo você e não desanimarei
Ela tocava piano na sala
E eu no quarto procurando um pedacinho de papel
Com uma música de lembranças nossas
E lhe dei pra tocar
A canção que eu mesmo compus
“Amo você e não desanimarei”
Fiquei a olhar o mar e perdi os sentidos
As notas saíam do piano janela afora
Tomando conta de todos os ouvidos
A delicadeza dos seus dedos
Deslizava sobre as teclas
Meu amor, agora toque pra mim!
“Amo você e não desanimarei”
Quando a música invade você
Tudo fica diferente
As cores ficam mais vivas
Os raios do sol ficam mais fortes
E a lua fica está mais perto da gente
Meu amor, agora toque pra mim!
A música que eu lhe dei
“Amo você e não desanimarei”
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
50
IRAMAIASANTANA
SALVADOR/BA
LER
Ler é muito mais…
Mais que conhecer as palavras,
Ler as frases,
Ler os períodos,
Ler o texto.
Ler é muito mais…
Que decodificar palavras,
É entender o que está nas entrelinhas.
Ler é compreender o sentido,
É dar significado.
Ler é um estímulo…
Para alçar voos.
Aguçar a imaginação,
A criação, enriquecer vocabulário.
É ampliar conhecimentos.
Ler é muito mais…
Ler compreende a leitura de mundo,
Interpretar as experiências vividas
E tirar dela uma compreensão,
Uma lição.
Ler é interpretar e dar
Sentido a vida.
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
51
JACQUINHANOGUEIRA
SAPEAÇU/BA
(DES)CONHECIDO
Um papel rasgado ao chão é assim que me sinto
Rodeado e ao mesmo tempo só
Desgarrado da vida, do destino, jogado a própria sorte,
em crise
Já não sei mais quem sou, nem para onde vou nos
segundos seguintes
Quase um desconhecido, sem destino, sigo a questionar:
Quem sou? Quem sou?
No vazio, respostas vagas, especulações, mas nada, nada,
nada que descreva a minha alma
Nem sequer uma palavra rascunhada com meu nome, uma
fotografia, alguém que me grite pelo nome
Olho-me no espelho, tento me reconhecer, mas desconheço
esse rosto, esse corpo, esse ser
Volto à estrada sem a rua de mim mesmo
Olho para os cantos e não enxergo nada que possa me
descrever, olho-me, (re) olho-me, estranho-me, nem nu
me sinto
Assusto-me! Noto que ainda estou vestido. Desconheço-me!
Estou com um traje que não me veste. Mas como sei?
Indago novamente a vida: Quem sou? Quem sou? A que
raiz pertenço?
O silêncio se ocupa e fica, passam horas
Nada é revelado
Sigo só o corpo... frio, solitário e mudo
Permaneço, sem entender a alma.
Pistas vazias, desligadas, sem rastros, memória apagada
a silenciar para mim mesmo
O porquê, o porquê neste mundo já nem mais por mim
mesmo sou amado.
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
52
JAILSONSANTOS
SALVADOR/BA
CONTOS DE FADAS
Tens que acreditar nas minhas juras de amor,
Nas incontáveis loucuras que faço por ti tão somente.
Jamais saberás o tamanho da minha dor,
Pois não percebes que te amo desesperadamente.
Que tu és para mim um atentado ao pudor
Que me surge de repente
Com tentações embebidas em furor
Perturbando pouco a pouco a minha mente.
Deixa-me se não me amas
Antes que eu seja consumido pela fúria destas chamas
E faleça como muitas almas doentes
Tu mesmo me matas e não sentes
E cruelmente me abandonas por estas estradas...
E eu como poeta apaixonado continuo crendo nos teus
contos de fadas.
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
53
JAIROPINTO
SALVADOR/BA
POESIA CRÔNICA
D.Teê, como era conhecida,
Trabalhava para uma família remediada há alguns dias.
A patroa estava encantada
As crianças nunca estiveram tão bem.
Para o patrão, era pura simpatia,
Ela cozinhava como ninguém.
Todavia, sutilmente,
D.Teê foi despedida
Ao responder com um gentil 'axé'
Um 'deus te abençoe, querida'.
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
54
JAMESSONCARDOSORIBEIRO
SALVADOR/BA
MADEIRA
Voa o machado.
A dor viaja na lâmina
que o silêncio não contém.
Estanca a seiva,
o rio vira pó,
sangue seco, sofrido,
adormece, e a mata
acolhe a perda no seio.
Ninho, flor, lagarto, inseto e fruto,
fungos, pássaros, folhas e saguis
deslizam no vazio
em queda imponente.
Apenas um gemido
e o ribombar no chão
como revolta.
Anéis, canais de resina,
fibras e vasos se espantam
por trás da casca, que envolve
caos, tristeza e pranto.
O corte traçou seu plano no espaço,
em uma face a vida,
em outra face a morte.
Cai o tronco em dor horizontal.
Frutos futuros
furtados pelo furor
fenecem
e fornecem
sêmen, sementes,
à terra.
Hirto,
morto,
o tronco
despido da vaidade dos ares,
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
55
invade esquartejado
a autoclave
e transmuta-se em pasta
celulósica.
Viaja entre cilindros
e atavismo,
enrosca-se em tronco
de uma só folha.
Dela despertarão
livros, jornais e revistas,
onde se vai escrever
contra o criminoso abate das árvores.
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
56
JEANESÁNCHEZ
SALVADOR/BA
PETER PAN
A menina no balanço
Balança sua infância.
Imóvel como a estátua de Minerva
Permanece a lembrança.
Hoje é só café amargo
O doce do infante acabou
E a xícara está cheia
À espera da vítima.
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
57
JANAINALOPO
SALVADOR/BA
PAPEL EM BRANCO
Papel em branco e uma história para escrever.
É uma historia sofrida.
Bom, independe do ponto de vista.
Uma garota brincando até a má notícia chegar
A garota chorando,
De mão em mão até a cama chegar.
Enfim conseguiu dormir.
Quando acordou todos estavam se arrumando
E com dor no seu coração,
Se arrumou também.
Muito tempo passa
A dor se esconde,
Mas nunca vai desaparecer.
A dor aperta e a saudade também
E eu fico esperando até que posso ir.
Quando chego me deparo com ele deitado em uma cama
Cheio de cabos, aparelhos...
Mas fico feliz por vê-lo.
Então lhe pergunto:
Você está bem?
Está me escutando?
Então, eu ouço alguém que diz :
Calma! Calma! Calma...
Era a mamãe e ela me abraça forte
E aí descubro que por um tempo não poderei mais vê-lo.
Só o verei agora, oh meu papai amado,
Quando Deus lá no céu,
Que está aí, junto a ti
Me chamar também
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
58
JOSÉEDUARDOCAVALHEIRODASILVA
RIODEJANEIRO/RJ
NO MEIO EXISTE UM NOME
Encontrei o amor em uma J ovem linda e atraente que
apelidei Cristal.
A fragrância que ela tem é Ú nica que me embriaguei nessa
emoção.
Emoção que é como um L indo sonho sonhado guardado
no coração.
Teu beijo resume todas as I nspirações dos meus desejos
secretos;
O sabor sutil, o aroma, A cor, o frescor, a emoção dos
teus lábios;
Tocando uma canção e N avegando na melodia vinda
do teu beijo.
Surge assim na vida; A estrela cintilante do meu viver:
JULIANA!
Eu te amo! C om você tudo se transforma
em flores,
Tudo se torna alegre, einando a felicidade soberana.
Tu és aquela musa, nspirando em mim, tanta emoção.
Emoção forte, real e incera que pulsa em meu poeta
coração.
Teu jeito carinhoso, eu abraço caloroso, tudo me
fascina.
Tudo contribui para o mor crescer, florescer,
Vivendo apaixonado, ançando no papel o meu
amor cristalizado!
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
59
JOSUERAMIRORAMALHO
SALVADOR/BA
GOTAS
Ao desnudar-te
Beberte-ei
Em gotas de paixão
Saboreando cada sulco
Cada imaculada essência
Que de ti, se deramarão
Aos poucos
Vou deglutindo
Tudo que há em ti
Até sorver-te toda
E nada
Nada mais existir!
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
60
LAURALIBERATO
SALVADOR/BA
BALLET
Qual estafermo diante da vida,
levado por enganos e tropeços.
Vaguei sem a alegria devida,
devendo a mim mesmo um recomeço.
Vislumbrei hoje ao ver-te novamente,
horizontes coloridos, vi a luz.
Que delícia, amor, em meus braços ter-te.
Novamente como outrora te compus,
uma doce canção, alegremente,
renasce em mim, renasço juntamente,
no ballet do teu corpo junto ao meu.
Somos um no balanço do destino,
fico louco, já sou todo desatino,
fora ou dentro de ti, mas sempre teu!
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
61
LEANDROFLORES
BELOHORIZONTE/BH
O DESESPERO
Quanto drama!
Em sua frente, apenas pó e lama.
Não há o que comer,
Muito menos o que fazer.
Apenas rezar e esperar...
A última criação morre de sede
Nas barrancas de um tanque seco;
E a esperança,
Aquela que faz o verde acontecer,
O rio trasbordar e o pasto nascer,
Demora a chegar e a florescer.
O homem se desespera
Ao ver a vida se embrenhando assim,
Por entre as rachaduras de um poço de lama...
Ergue o seu chapéu ao céu e declama:
“Deus! Mande chuva no sertão,
Vamomorrêtudim de sede, se o sinhor
Num tivé compaixão!”
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
62
LEIRARENATACARVALHOSANTOS
SALVADOR/BA
DOR
Sinto dor
Não dói quando toca
Dói dentro
Alcança só as palavras
Alcança o efeito delas
Sinto dor
Dor dilacerante
Dor de quem se entrega
De quem a mágoa não alcança
Mas converte em guarda aberta
Dor por sentir a mesma dor
Dor por me importar
Dor pela traição da consciência
Que a introspecção esqueceu-se de processar
E a memória não soube buscar
A morte leva a dor
Mas prefiro viver sem ela
Quero poesia e o renascer das ondas até que o verdadeiro
amor venha e me leve
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
63
LEONIATEIXEIRA
SALVADOR/BA
SOU
Sou palavras sem sentido, olhar sem direção, frases
incompletas.
Sou o que me permito ser, mesmo sem permissão.
Sou saudade, sonhos, fantasia
Sou sentimento, ressentimento, descobrimento.
Sou pedra de um jogo, perdida!
Sou frase que falta em um poema
Sou verso que sobra em canção,
Sou a voz que vem da alma, mente...coração.
Sou um ser entre tantos: sem rumo, sem estrada, sem noção.
Sou alguém que sente, que se sente, que fala, que cala
Sou história contada pela metade, música tocada sem refrão
Sou do livro, página virada
Sou cena de um capítulo não passado
Sou breu, sou alguém que se perdeu
Sou amor, desejo, paixão.
Sou da lua o escuro, do sol o se pôr,
Sou do vento tempestade, do mar ondas sou.
Sou rio imenso, sem fim, perdida dentro de mim
Sou voz que não se escuta, do silêncio o grito.
Sou disfarce sem disfarce, verdade...mentira.
Sou amor, sonhado, recriado, inventado
Sou poema, poesia, verso, melodia
Sou solidão, melancolia.
Sou da terra, sou do mar, sou da lua, sou amar.
Sou um pouco de tudo que já fui
Sou do nada tudo que sou!
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
64
LINOMUKURRUZA
LICHINGA–NIASSA–MOÇAMBIQUE
COMPENETRAÇÃO
A Júlio Carvalho
eus
assus
leus
centra
metra
na meta
caneta
língua
pensamento
flexão
fluição
(re)flexão
(in)flação
papel
caminhos
ideias soltas
num (nus) nós
uma retórica
ao
avesso
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
65
LUCASSANTOSDONASCIMENTO
SALVADOR/BA
Nossas línguas
Nossas línguas amam estar juntas
trocando laços, trocando salivas,
trocando amasso,
trocando absolutamente beijos.
Tudo é tão bom.
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
66
LUCIENELIMA
SALVADOR/BA
AMOR INSANO
Amor insano, louco e desvairado...
Não me pertencem os meus desejos mais latentes,
os mais ocultos desvendados por você.
Quero me despir da volúpia que me toma
entre frases, gestos e olhares a me seduzir,
a me convidar, a me conduzir por entre abraços,
laços e de uma ternura que me cura de um beijo seu.
A insanidade dos gestos, das palavras,
da sua boca tola a me provocar,
a pronunciar delírios que só eu e você sabemos compreender.
Entre o querer e o não querer, por um momento,
o meu coração vacila...
neste exato momento, ele não me pertence mais.
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
67
LUIZALBERTOCAVALCANTIFILHO
PALHOÇA/SC
O AMOR
O amor é invisível correnteza
Que leva ao turbilhão sem se notar,
É no peito de lágrimas um mar
Batendo contra as rochas da tristeza.
O amor é estar certo na incerteza;
É do lado bem perto se encontrar
De quem vem entre nós a se ausentar;
É no peso da vida ver leveza.
É ter nos dias tristes a alegria
De o pranto em colo alheio vir secar;
É de amores perdido se encontrar.
E quem no seu viver assim seria
Mesmo que ele jamais possa explicar
Tão louco para o amor vir desprezar?
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
68
M.SOUZA
FEIRADESANTANA/BA
O ESCREVÍVEL
Escrever o escrevível
E poesiar o poesiável
É atingir o inatingível
Acreditar no inacreditável
Perceber o imperceptível
Desvendar o indesvendável
É produzir o improdutível
Calcular o incalculável
Poder ver o invisível
Aceitar o inaceitável
Tornar-se indissolvível
No ar mais respirável
E assim ser sobrevivível
Nesta vida infindável
Porém muito tangível
Com poesia agora imortável.
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
69
MADDALENASPINA
LARINO/CBMOLISE–ITÁLIA
TRANSPARENTE
Seus olhos olham para mim como se eu fosse transparente,
clara como a água que escorre
como estas minhas lágrimas que traçam linhas no minhas
bochechas,
umedecendo-as,
profusamente, como uma chuva incessante não para,
como eu não paro de sofrer, inutilmente tento me dar força
mas eu me sinto tão fraca como as folhas que caem
das árvores no outono,
para fazê-lo aparecer nu como eu me sinto completamente
despojada
e vazia de qualquer outro sentimento,
vulnerável como um pintinho acabado de sair de sua casca,
mas que deseja ficar parado dentro, a fim de se sentir mais
seguro,
Gostaria também de me sentir segura e protegida,
completamente confiante em quem me ama,
como um cão confia em seu dono,
então eu quero ter certeza de amar sem filtros,
ser eu mesma sem mudar só para agradar a quem eu amo,
e o mesmo deve ser para a outra pessoa que eu amarei
a mais certa, que me completará e me fará sentir única
e especial,
só assim eu não serei tão transparente como a água,
mas como um vidro que brilha na luz do sol,
que graças aos seus raios me dá a visibilidade e o seu calor
rico de esperança;
para que eu possa brilhar em toda a minha beleza
deslumbrante,
assim como o relâmpago e o clarão do céu cinza e preto
das tormentas
dando um choque de vitalidade energética que só o amor
verdadeiro pode dar,
sem pedir nada em troca, só de se destacar em toda a sua
felicidade luzente.
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
70
MANOLLOFERREIRA
JUAZEIRO/BA
SEMIÁRIDOS: NORDESTINOS,
SERTANEJOS, BRASILEIROS...!
O Semiárido não é só caatinga, não é só Nordeste, não é só
Sertão...
O Semiárido não é só calidez, seca, fome, sede e escassez...
O Semiárido não é a imagem única e exclusiva
estereotipada da miséria, do analfabetismo, da mortalidade
infantil, dos desnutridos, desdentados, pés rachados, terra
inóspita, à margem da civilização...
O Semiárido é muito mais do que tudo que já foi dito, des-
dito, atestado, retratado, mentido... Desprezivelmente
imaginado...
O Semiárido é sim, caatinga, é Nordeste, é Sertão...
O Semiárido é também verde, frescor, água, comida... Vida
em degustação...
O Semiárido é abastança, é arte, é cultura, é criança
crecendo sadia, é boca sorrindo o viver, mordendo a vida
sem tirar pedaço, com os pés bem firmados a sustentar o
chão...
O Semiárido é força, é dignidade, é beleza, é riqueza, é his-
tória, é orgulho, é superação... ! ... Um mundo de sentidos
em contextualização... !
O Semiárido é Brasil... !
Vidas vividas sem separação...
...O Semiárido é tudo isso e mais um pouco do que se diz
ser,
Nada diferente do que a vida em qualquer outro canto do
mundo pode oferecer.
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
71
MARCHALJR.
SANTARITA/SP
DESEJO
Quero te tomar no meu abraço
Domar tua boca adocicada
Cavalgar em teus sonhos, me faço
Pensar os meus lábios nos teus
Deixar a vida nos levar
Levar, pelos anseios meus!
Quero tocar o teu corpo tenso
Seguir pelas curvas sem pensar
E sentir o perfume intenso
Que flui na labuta do amar!
Vem me fazer feliz
Enveredar nas forças da esperança
Doar a mim o que sempre quis
O amor, sem cor, sem vingança
Seguir pelo trajeto que fiz
Sentir o apelo e o toque a avançar!
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
72
MARLYRAMOS
SALVADOR/BA
SONHOS... LEVO-OS
EM MINHA BAGAGEM
Viajo... numa viagem linda!
Feita de sonhos e luzes cristalinas
Levo as malas cheias de sonhos...
Dos sonhos d'alma menina
Embalo-me nos desejos dos sonhos
Sonhos meus tão meninos!
Riem e fazem muita algazarra...
Meus sonhos são felizes!
Nessa estrada em que viajo
Com estas bagagens tão pesadas!
Flutuo com meus sonhos d'alma
A viagem é longa...
Dá até tempo de ter mais sonhos!
Acho que precisarei comprar outras malas!
Alguns sonhos já deixaram de ser sonhos...
Realizei-os em uma parada
Num daqueles momentos
Que paramos em um lugar lindo...
Com montes verdes, fontes, pôr do sol...
Com tudo florindo!
Ah! Mas tenho um sonho especial!
Guardo-o a sete chaves
Dentro de um cofrinho que faz:
Tum-tum, tum-tum, tum-tum...
Quero muito concretizá-lo!
Mas não sei bem com é esse sonho!
Pois esse sonho, não é só meu...
É um sonho nosso...
De uma Luz
Que se chama Deus...
Nosso guia nesta grande viagem!
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
73
MARIACÉLIABOSH
SALVADOR/BA
A TRAÇA
Sou uma traça filha da guerra.
Mergulhei em antigos baús
Comi anquinhas e sedas
Senti o aroma de lavanda inglesa.
Procurei, procurei
Em velhos diários
Querendo encontrar
Mensagens antigas
Poemas de amor
Para devorar.
Não satisfeita
Fugi para o front
Sou filha da guerra.
Destruí tratados e base de canhão
Pensando o amo pra encontrar.
Eis que surge outra guerra
Sem papel e canhão
Armas pesadas por digitação
Homem máquina e vírus para exterminação
A paz longínqua como solução.
Meu apetite voraz
Fez-me raciocinar.
Juntei cartas
Perfumes e tratados
Transformei tudo
Em sublime manjar.
Fiquei gorda e politizada
Morrerei feliz
Poetizada.
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
74
MARIACLARAAQUINODAMASCENO
SALVADOR/BA
PARTE IDA
No dia em que perdi a evanescência
Das inúteis chegadas e dos remansos,
Foste tu e para ti o coronário da culpa.
Esqueci nossa aliança aos apelos da asma,
Num esforço contínuo de asfixia dos lírios,
Do quarto, cheirando a alecrim, fundei hospício.
Este ofício inaugural de mulher traída...
Reclamar a freguesia perdida, os ossos expostos
Para mais tarde ser recebida com estrume.
Se o é, peço que (re)conheças a porta de saída,
Porque todos os lençóis de setembro foram arrancados,
Antes dos suores, antes dos vapores, antes...
Do meu mijo... teu nome,
Teu nome... ingratidão!
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
75
MARIADASGRAÇASPRATESMAIA
SALVADOR/BA
O RETRATO
Retrato no retrato esse retrato
Real bem definido
Em minha mente.
Em meu coração.
Retratando em retrato
Cuja imagem presente eternamente.
Viva em minhas memória.
Posso reproduzir nitidamente.
Sentada em sia cadeira.
Defronte à sua máquina de costura.
Fico com aquela luz que não se apaga na escuridão.
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
76
MARIAJOSÉMATOS
SALVADOR/BA
PEDIDO
Traga meu coração
Que já não é seu.
E no entanto, insiste tanto
Em grudar-se ao seu.
Preso assim, como cola ao papel
Aconchegado às lembranças primaveris.
Esperançoso, aguarda gestos inesperados
Que não acontecerão.
Devolva-o, peço-lhe!
Ele é jovem e sonhador.
Quer viver a cumplicidade das emoções
Emaranhar-se nas paixões incontidas
Sentidas no calafrio da pele.
Quer o duplo milagre da vida
De dar e receber.
Sonha com isto, meu coração.
Se outrora sempre foi só
Amou só, sofreu só.
Agora deseja outra alvorada
Como um mancebo forte, desbravador.
Almeja – Este guerreiro
Mesclar-se a quem o deseje
Com a intensidade dos momentos eternos.
Vividos...
Correspondidos...
Traga de volta meu coração!
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
77
MICHELLESAIMON
SALVADOR/BA
COSMOS
Corpos iluminados
Ao nascer da aurora
Micro
Macro
Cosmos
E um sentimento de mundo
Que atravessa as
Fronteiras da matéria.
Corpos iluminados
Que tangem o incorpóreo
E só são por se esquecerem de
Pesar a densidade com que
Exprimiam seus universos.
Cósmico era tudo
Que seus dedos não alcançavam
Por ser parte deles
O corpo,
Dentro de um corpo,
Outro corpo celeste.
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
78
MORAALVES
BRASÍLIA/DF
O ANDARILHO
Sou um andarilho, caminho sem destino
Minha chegada é minha partida
Meus pés descalços, minhas mãos
trêmulas, tenho um olhar que não
Segue mais nenhuma direção
Caminho sem emoção.
Sou um andarilho, invisível aos
Olhos dos que passam e nem
Me notam, afastam-se de mim
Com certo medo no olhar
É triste não ter nenhum lugar
Para chegar, nenhum abraço
Para acalentar.
Carrego dentro de mim ainda
Histórias que jamais terei a quem
Contar, pois o mundo se calou
Ninguém mais se importa.
Caminho numa estrada deserta
Afinal sou um andarilho, não levo
Flores mas somente os espinhos.
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
79
MORGANAGAZEL
SALVADOR/BA
ORIGEM DA POESIA
Não é do nada
que surge a poesia.
Legítima ela vem
da alma aflita
ou da alma enraivecida
ou da alma apaixonada
por um animal,
por uma semelhante alma,
ou por um Deus idealizado.
Qualquer ente capaz
– supostamente –
de preencher a falta,
necessidade íntima de amor,
que tanto faz sofrer a humanidade.
Não, não é do nada.
Surge também a poesia
da alma compadecida,
em busca da cura de si mesma
e de companheiros de viagem.
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
80
NARABARRETO
SALVADOR/BA
INEFÁVEL
Nasceu misteriosamente,
Viveu,
Cresceu,
Reproduziu,
Transbordou,
Acolheu,
Abraçou,
Beijou,
Morreu silenciosamente
Em nós.
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
81
NEWTONSILVA
SALVADOR/BA
O PODER DO AMOR
Eu sofro com a sua dor!
Não posso viver sem você!
Não tenha um só instante, amor,
medo de eu esquecer você!...
Não choro mais do que chorei,
pois canto para não chorar...
Eu tento muito distrair
Mas meu pensar lhe é fiel!...
Há muito você mora em mim,
não saia nunca mais, amor!...
Há muito moro em você,
nem pense que eu quero sair!...
Não posso viver sem você,
você vai viver sem mim,
o amor tem o poder de Deus
faz dois se transformarem em Um
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
82
NOÊMIADUQUE
RIODEJANEIRO/RJ
VENHA
Um ser não me deixa dormir
Esteja lá ou aqui
No mundo da minha invenção
Sei que não posso mais
Negar você e ter paz
Como uma Fênix
Você ressurge
Banhado em água e luz
Pelas trevas me conduz
Venha,
Que agora é somente existir
Sentir, não tentar resistir
A esse gosto de tudo
Que é bom
Venha,
Não tente
Nem me deixe fugir
Queixa haverá de existir
Só não vale enganar e mentir.
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
83
PATRÍCIALINS
SALVADOR/BA
VEJO CORES EM P&B
Vejo cores em P&B
Vejo as cores. Quais cores?
Vejo as cores que ali não estão, estando.
Vejo as cores que ali são, não sendo.
Vejo tantas mensagens, na mesma imagem,
niveladas na mesma ausência de coloração
numa expressão que esconde sem esconder
revelando, sem revelar, o que ali de fato há.
Vejo cores em preto e branco
Vejo o que está. Vejo o que imagino estar...
Vejo com olhos de quem lembra. Vejo com olhos de quem vê.
Vejo com olhos de quem cria. Vejo para apenas admirar.
É preciso muita segurança para, em preto e branco, expressar
todas as cores, numa imagem congelada, num único plano,
chapada.
Enquadrada numa mesma posição, mas que traz o
movimento,
mesmo sem coloração, da lembrança, em forma de arte,
no registro daquela ação, com toda a mesma vívida emoção!
Vejo cores em preto e branco,
porque eu vejo o que está lá.
O que não está, ou me lembro, ou imagino: qual cor será?
Ou me dou a liberdade para inventar!
Vejo com o tato que não toca, porque não pode mais tocar
naquele tempo passado, parado, congelado, clicado,
num presente eternamente estampado.
De repente, já não vejo...
Sinto. Viajo. Estou lá!
Naquela imagem “pretobranqueada”,
Pelo tempo, amarelada, sem amarelar – pois amarelo não há...
Eu toco e revivo, tudo, sem sair do lugar!
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
84
PAULOBALÔBA
SALVADOR/BA
PODEMOS OU PERDEMOS
A paz dos homens!?
Vencer a ignorância
Vencer a alienação
Se, se fortalece pacificamente
Não se engana pelos fortes
A guerra dos homens...
Derrota... derrota... deteriora...
Na solidão do poder
Pacifica a força
Na fugaz derrocada do amor
Só resta lutar!
Pelo Amor
Pela dor
Pelo morrer
E Ressuscitar!
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
85
RAIBLUE
SALVADOR/BA
PADÊ DE CARNAVAL
Com unhas vermelhas cor de sangue
Arranho tuas negras colunas
Pilares do meu querer
Faço-me padê
Para o teu Exu
E em uma quarta-feira de cinzas
Serei teu carnaval ainda
Tu minha serpentina
A correr solta pelo meu corpo
A se enfiar na vagina
Que te devora como deusa carnívora
Orixá dona de tua cabeça (de baixo)
Serás meu macho
Senhor dos meus riachos
Serei múltipla
Menina, cortesã
Rainha, Nanã
Enquanto ri o dia
Serei tua fantasia
Então me vistas com tua carne em néon
Quero minhas cores no teu marrom
Quero teu tom recebendo a noite
No afoxé do meu corpo
Em estado de gozo
Nenhuma gaza dividindo nosso Ilê.
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
86
ROBERTORODRIGUES
SALVADOR/BA
MARIA VITÓRIA
O mês de junho dia 30, anuncia a chegada do anjo
MARIA VITÓRIA,
Vem para iluminar o caminho de todos nós.
Do seu pai Roberto Rodrigues Júnior, da sua mãe Andréia
Cardoso, dos seus tios e tias, de Bado e Annette, de Glória
e Roberto seus avós e bisavó Mafalda.
Criança presente de Deus seja bem-vinda,
Sinal de muita luz em um momento especial
Momento que se eternizará em minha vida
A sua chegada é uma superação essencial.
MARIA VITÓRIA chega com cheirinho de novidade
Vem como um sol morno após a chuva intensa
Revive nossas esperanças de paz e fraternidade
Representa o símbolo de uma alegria imensa.
Seu nascimento, minha neta, vem envolto de muita doçura
Dentro de mim explode de felicidade meu coração
Você será aconchegada por todos envolta em ternura.
Sua chegada coincide com meus momentos de conquistas
e superação
Acompanharei os seus passos segurando a sua mão
Assim como faço e farei com todos os meus netos
Cada de um de vocês, decerto, tem um lugar no meu
coração
Ser avô não é tarefa fácil mesmo sem estar todos os dia
perto.
Seu nome MARIA VITÓRIA, significa “Senhora soberana
vitoriosa”
É uma bênção alcançada por seus pais, uma luz divina,
Certamente será meiga, confiante, disciplinada, gloriosa,
Crescerá, será uma bela mulher com alma leve de menina.
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
87
ROGERIOARAUJO(ROFA)
SÃOGONÇALO/RJ
EU QUERIA...
A vida é uma eterna busca.
Busca do que sonhamos
E nunca conquistamos
Mas sempre lutamos
Em conquistar.
Eu queria amar
Eu queria namorar
Eu queria casar
Eu queria transar
Eu queria viver.
Viver a vida
Sarar as feridas
Enxugar as lágrimas
Dar boas risadas
Abraçar a felicidade,
Quando ela chegar
E nunca mais a largar
Seja em forma de gente
Ou em acontecimentos
Sem aborrecimentos.
Viver de verdade
E sair da realidade
Voando para os sonhos
E para os desejos...
Ah!..., eu queria....
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
88
ROSANAPAULO
SALVADOR/BA
RECADO PRA MOÇA DE CABELO
BLACK POWER E MINI SAIA EM
UM DIA CHUVOSO
Seu cabelo, moça
não é bandido
não prenda
nem amarre
seu cabelo, moça
não é ruim
assim como o tempo
está apenas chuvoso
seu cabelo, moça
 não é duro
como  diamante
mas acho joia
seu cabelo, moça
não é assanhado
e você de saia curta
também não é assanhada
é isso, moça
saia pra chuva
curta a vida
de saia curta
e cabelo solto
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
89
SÉRGIOGUERRA
SALVADOR/BA
NO TABULEIRO DA BAIANA
Quem me dera retornar
aos tempos do carvão,
a espera do Tempo da frigideira
a fazer delícias do abará, acarajé e
punheta. Eta!
O tempo acelerado do bujão de gás,
a correria dos shoppings e estações
subtraíram o tamarineiro da infância,
o estacionamento me assaltou a praia
e o pôr do sol não existe nas falas fechadas,
onde o ar condicionado me sequestrou o tempo
que me trazia notícias do mundo e do Tempo.
Mas de repente...
Um cheiro me assalta no meio da rua,
as suas cores me alegram os olhos,
o seu sabor me sequestra rápido,
o calor me aquece por inteiro,
se a pimenta me aquece a alma,
o dendê me adoça os beijos.
Sou feliz: é por você
Que me bate a “passarinha”.
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
90
SUELILOPO
SALVADOR/BA
AMANHECEU TENHO
QUE PARTIR
Nunca pensei em me lamentar por um lindo amanhecer,
Mas lamentavelmente amanheceu, tenho que ir.
Levanto e olho você dormindo...
Nossa! Meu Deus como você é lindo!
Não tenho coragem de ir embora, porém o dever me chama.
Minha vontade mesmo é de voltar pra cama e cobrir você
de beijos, meu amor.
Mas a vida é assim tenho que partir;
Lá fora o mundo me espera tenho que seguir em frente,
Pois existem outros que dependem de mim,
Porém levo você em minha alma,
Seu cheiro está impregnado na minha pele exalando em
meus poros.
E nos meus pensamentos,
Eu jamais poderei ignorar as lembranças nos lençóis macios
em chamas,
Do desejo saciado que até Deus,
Acredito eu, ficou escandalizado com as cenas mais inusitadas,
Como a do elevador,
Loucos,
Loucos. Ah, isso nós somos!
Na hora em que nos amamos, somos totalmente insanos,
Mas louco mesmo é quem contém os desejos,
Deixando de viver um belo momento por medo de se entregar.
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
91
SUELYSABA
SALVADOR/BA
VOCÊ NÃO PODE ME DEFINIR
A minha idade não me define
A minha cor não me define
O que me define são as minhas atitudes
O meu caráter, a minha voz e até o meu silêncio.
Sou pedaços de mim
Flor em estado de observação
O mato, a relva quando em bagunça total
Visto-me tal qual a primavera quando chega
E passo a criar o inverno em mim em busca do verão
até o cansaço do outono em que as folhas caem e subtraem
com a força do vento
Sou suave e serena como a noite
Macia como o sol que doura a nossa pele nos seus primeiros
raios da manhã.
A minha pele não me define
O que sinto por você muito menos
O que me define não é nada
Mas tão somente é tudo
Sou seu experimento, seu acalento
Seu sabor de fruta mordida
Sua paixão desmedida
Seu mar na visão de um oceano
Seu peixe que brinca nas águas
A alegria de viver
O encontro casual
O amor que sucumbe em total entrega
Não, você não me define
Eu também não tenho essa pretensão
Sou definida pelo acaso diante de suas proporções
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
92
A minha boca não me define
Ela é a minha fantasia para quem...
O meu corpo não me define
Ele é o repouso e o encontro de almas
Meu desejo não me define
Pois é a própria sensação de entrega e definição
 
Você não me define
Você não sabe nem quem eu sou
E talvez nem queira realmente saber...
Por isso e muito mais é que você decididamente não me
define...
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
93
SUSANACAMPOS
COIMBRA–PORTUGAL
OS TEUS OLHOS
os teus olhos que sinto em mim quando te abraço
e se confundem na leveza do som
dos dedos que em mim sinto
e no sonho mostras que o amor é o maior
dos sentimentos que em mim emergem
será que a vida sofre
será que quero ter o meu momento
em ti?
achas que me contenho
e deslizo no teu sorriso sem dor?
difícil forma de amar, a minha que te desejo
sobre a espuma leve da magia
que em mim eclode
que em mim emerge
que em mim sublime sinto
são os teus dedos que me culpam
e os sinto como meus
e quero ter o meu momento
que julgo ser eleita
por nós
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
94
TAÍSSACAZUMBÁ
SALVADOR/BA
TERRENOS
Na ponte da realidade
Vive apenas um homem
Imagine essa realidade sem ponte
Agora pense no homem sem realidade
No vale dos sonhos
Vive apenas um ser
Imagine esses sonhos sem vale
Agora pense no ser sem sonhos
Na viela da vida
Vive apenas uma criança
Imagine essa vida sem viela
Agora pense na criança sem vida
No sítio do amor
Vive apenas uma família
Imagine esse amor sem sítio
Agora pense na família sem amor
COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA
95
UMBERTOCERIO
LARINO/CBMOLISE–ITÁLIA
OUTROS LABIRINTI
Ainda uma outra eclipse da luz
E rios me fluem sobre as mãos.
No coração do Estrimão
Desesperado para o canto de Orfeu,
do Estrimão o frio no coração
e labirintos na alma
e no escuro rapsódias inquietas.
Mas ele não conseguiu sacudir aquele canto
Astros e constelações e galáxias
Pôr os vórtices ligados para virar?
O tempo ao contrário da morte .
Quem foi que não queria que fosse?
Foi o roda de ĺxion
ou o feroz barco de Caronte
ou Eurídice que não queria voltar
à luz, à vida e à fuga?
Foi ela quem obrigou o Orfeu a virar,
pelo nome a implorar,
para mais uma vez tornar-se apenas uma sombra?
Mas os rapsodos queriam cantar.
E o sinal de um voo inquieto
E uma alma roubada
Um labirinto em risco, pôr o tempo?
Que permanece na luz.
Vamos ouvir aquel canto doloroso
– até o último astro –
Desesperado, por mil anos ainda.
E das voltas dos dias
a conta não retorna mais
e os fantasmas vão subir do Lete
sem uma Eurídice,
– que, não, ela não quer morrer duas vezes –
Orfeu em vão a esperar!
E permanece no coração o Struma,
e na alma todos os labirintos
até o fogo feroz das estrelas
Tradução: Rosanna Lapenna
www.cogitoeditora.com
Transformar pensamentos em realidade
é o nosso compromisso.
Esta obra foi impressa em ofsete sobre papel Alta Alvura LD
75g/m2 na Halley Gráfica S/A para a Cogito Editora
em julho de 2015.

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Cogito – antologia poética Vol II

  • 1. SALVADOR 2015 C O G I TOANTOLOGIA POÉTICA VOL. II Organização Ivan de Almeida
  • 2. C676 Cogito – Antologia Poética / Ivan de Almeida (organizador). – Salvador: Cogito, 2015. 96 p.; v. II ISBN: Literatura brasileira. 2. Poesia brasileira - coletânea. 3. Antologia poética. I. Almeida, Ivan (organizador). II. Título. CDD: 869.91 CDU: 869.0(81) -1 Todos os direitos estão reservados. É proibido a reprodução total ou parcial deste trabalho, seja por meio eletrônico ou impresso, inclusive fotocópia sem prévia autorização e consentimento dos autores e da editora. Copyright © by: Autores Todos os direitos reservados Organização: Ivan de Almeida Imagem da Capa: Old pen and letter – 38662711 Direito Autoral de Imagem – S-BELOV Usado sob licença da Shutterstock.com Revisão: Solange Fonsêca Projeto gráfico, editoração eletrônica e capa: Ivan de Almeida Impressão e acabamento: Halley Gráfica S/A Ficha catalográfica (Bibliotecária: Iramaia Ferreira Santana Santos – CRB1303/05)
  • 3. SUMÁRIO Adão Cunha Adolfo Stinziani Adriana Lombardo Alberto Lima André Castro Ana Moreira Andreia Costa Antonietta Iacobelli Antônio Sanches Audelina Macieira Augusto Broasky Bohumila Araujo Carlos AC Liberal Carlos Conrado Carlos Witalo Cecília de Paula Cecília Peixoto Celeste Farias Celina Sheila Macome Cilene Canda Ciro Daniel Campos Clara Maria Alves Cláudio Hermínio Cristiano Sousa Elder Carlos dos Santos Elenilson Nascimento Elisenilda Cristina de Almeida Elita Barreto Pires Elisa Garcia Ely Carvalho Ery Cruz Eulampio José da Silva Neto Fábio Haendel Fabio Shiva Geraldo Portela Giovanna Vita Guilherme Meyer Handherson Damasceno Herick Rios Iramaia Santana Jacquinha Nogueira Jailson Santos 05 06 07 08 09 10 11 12 13 14 16 18 19 20 21 22 25 26 27 28 29 30 31 32 34 35 36 38 39 40 41 42 43 44 45 46 47 48 49 50 51 52
  • 4. Jairo Pinto Jamesson Cardoso Ribeiro Jeane Sánchez Janaina Lopo José Eduardo Cavalheiro da Silva Josue Ramiro Ramalho Laura Liberato Leandro Flores Leira Renata Carvalho Santos Leonia Teixeira Lino Mukurruza Lucas Santos do Nascimento Luciene Lima Luiz Alberto Cavalcanti Filho M. Souza Maddalena Spina Manollo Ferreira Marchal Jr. Marly Ramos Maria Célia Bosh Maria Clara Aquino Damasceno Maria das Graças Prates Maia Maria José Matos Michelle Saimon Mora Alves Morgana Gazel Nara Barreto Newton Silva Noêmia Duque Patrícia Lins Paulo Balôba Rai Blue Roberto Rodrigues Rogério Araujo (ROFA) Rosana Paulo Sérgio Guerra Sueli Lopo Suely Saba Susana Campos Taíssa Cazumbá Umberto Cerio 53 55 56 57 58 59 60 61 62 63 64 65 66 67 68 69 70 71 72 73 74 75 76 77 78 79 80 81 82 83 84 85 86 87 88 89 90 91 93 94 95
  • 5. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 5 ADÃOCUNHA SALVADOR/BA SONHOS FLÁCIDOS lembro de uma lágrima que, quando menino, escapuliu no instante da fotografia 3x4 uma lágrima se propondo eterna esfera líquida, apreendida por uma invenção impressionista abre aspas – os que com lágrimas semeiam com júbilo ceifarão – fecha aspas mas, para minha surpresa, não saiu na foto a lágrima escorreu, pulando da ponta do queixo, suicidou-se a lágrima na foto é um rastro brilhante na maçã do rosto
  • 6. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 6 ADOLFOSTINZIANI LARINO/CBMOLISE–ITÁLIA SOU Jogo de luz em seus olhos, aroma de tília no ar, passos pertos na calçada arvoreada, uma folha cai. Sou o amanhecer procurando o dia, fios de pérolas as teias de aranha cobertas de orvalho, cinza tela de Arachne brilha e pega, a presa é imolada no prefácio da urdidura e trama. Eu sou o areal, joguete de espumas salgadas. Castelos de areia e castelos do nada, uma memória que desliza. Entre os dedos, cócego dolce o fluxo de grãos dourados. Sou o viandante procurando descanso, avenida arborizada de cinzas cortiças, multidão de folhas cansadas voltando para a terra, ligeiras no ar de metal . Eu sou o vidente, que outros destinos queria para si, anseia o auge, inevitável e magnífico é o íngreme e o Olympus sagrado sempre banqueteia com néctar e ambrosia, morada divina, aceita esse homem. Eu sou o fio de erva, o orvalho é a minha joia, o astro do dia, minha decepção, a estrela preferida, o meu tratamento. Entre as pedras brancas de sal verdejo E as ondas acariciam os frescos arenil. A noite se aproxima, encrespam o vermelho os suspiros do mar. O sol beija o horizonte, em seguida, extingue-se para dentro da água. Entre as pedras resplandecentes da luz refletida, como um pináculo gótico ergo-me, eu quero o céu, eu quero a minha estrela. E a minha estrela brilha lá em cima, a minha estrela, não nega o meu olhar trêmulo de amor e esperança. Tradução: Rosanna Lapenna
  • 7. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 7 ADRIANALOMBARDO BRASÍLIA/DF ORIGENS As nossas origens nem sempre são lembradas. Também não são esquecidas. Permanecem latentes. Cheiros, sabores, sons, cores. Vivos. Mortos. Verdadeiros em nós. Ainda que não sejam palpáveis, concretos. Eternizam-se em nossos gestos. Estão presentes em nossas escolhas. A forma se repete, a atitude se repete, a vida se repete. De tão repetida, cansa. Precisa viver de novo. Precisa achar-se diferente. Melhor é encontrar-se. Juntar os cacos, costurar os remendos. Estar completo.
  • 8. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 8 ALBERTOLIMA SALVADOR/BA PÓSTATA São deveras cristalinas essas tuas Facetas de atalhos retumbantes Há de entender tálita tua Face tácitamente redundante. Eter minadouro novo auge flua Re-Re-signo, desconfigurante Em território se perpetua Reside porosa rua, torturante. Com tantas vidas; lidas, na estrada Regurgitar é importante e durante Contactar as boas livreiras letradas Tanta passagem livre de sua quadra Reta girante, aponte, vá adiante Próstata bem irritada, ela ladra!
  • 9. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 9 ANDRÉCASTRO SALVADOR/BA TRISTE SALVADOR A cidade urra, a cidade se contorce, E, sob o tropel das multidões apressadas, Ante o caos das avenidas lotadas, A cidade estremece. Seus prédios históricos agora arqueados Sobre espáduas cansadas, despidas de glória, Com suas belas fachadas, enfim descarnados, Entregues, derrotados, à vadia escória. A cidade apodrece, E padece por não ter memória. A cidade dissimula e se esgueira, Tateia por suas vielas encardidas. A cidade fede a urina E respira os miasmas das suas esquinas. A cidade sufoca com o ar viciado, Suas artérias e veias estão entupidas Por hordas de carros que lhe abrem feridas. A cidade enfarta. E lamenta. E lambe suas chagas de favelas purulentas. A cidade é refém de agressores travestidos De vítimas. A cidade é um amontoado esquecido de Gente, coisas e destroços, Que suplica por salvação. Área de anexos.
  • 10. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 10 ANAMOREIRA SALVADOR/BA ESCRAVIDÃO Eu parei no tempo Não vivi absolutamente nada Em que século estamos? Meu Deus! Quanto tempo perdi Fui contar as estrelas... O que aconteceu com vocês? Cadê a revolução? Onde está o poeta? Este não é o meu País! Castro Alves! Cadê você, amigo? Para onde levaram os escravos? E a nossa esperança? Por que você partiu, amigo? Por que me deixou aqui? Que lugar é esse? Onde está o mar? De que lado fica a África? Eu preciso voltar Por mais que seja tarde Eu preciso voltar Para rever minha raça Matar saudades... Rever minha mãe e dizer: que felicidade! Felicidade estar pisando de novo nessa terra Apesar de não poder trazer ninguém Acorda, poeta! Leva-me para a África! Tira-me daqui!
  • 11. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 11 ANDREIACOSTA ARACATI/CE MEIO SEM QUERER Meio sem querer estava a caminhar, quando me encontrei com seu olhar. Meio sem querer você invadiu meu viver para cuidar e me proteger. Meio sem querer entrou no meu coração e fez morada sem nenhuma razão. Meio sem querer fica dias e noites velando e rogando pelo meu ser. Meio sem querer cuida de mim sem nada esperar , sem cobrar. Meio sem querer sua voz acalma e afaga minha alma nos momentos de aflição. Meio sem querer lhe encontrei em meio à multidão e alimentou de esperan- ça o meu coração. Meio sem querer hoje lhe vejo partir, sem escolha de desistir. Meio sem querer vejo uma lágrima surgir, a dor consumir e a tristeza invadir. Meio sem querer ficarei aqui a lhe esperar, para trazer de volta a alegria do meu olhar. Meio sem querer tenho necessidade de lhe ver Meio sem querer você faz parte do meu viver.
  • 12. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 12 ANTONIETTAIACOBELLI LARINO/CBMOLISE–ITÁLIA A PIPA Eu nunca tive uma pipa Nunca corri em uma praia NO PÔR DO SOL mas... Eu sempre sonhei com os olhos ABERTOS... Uma praia DESERTA e um mar em tempestade. Um dia também eu encontrei Uma Pipa toda minha, de mil cores e, em seguida, a partir desse dia o meu coração se enlaçou fortemente a uma Simples Pipa ... Tradução: Rosanna Lapenna
  • 13. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 13 ANTÔNIOSANCHES LISBOA–PORTUGAL SAUDADES Sentado ali na Orla, num recanto olhei o meu querido mar sentindo a magia e doce encanto de o poder amorosamente abraçar. Mirei toda a suave rebentação desde o Porto da Barra até Itapuã e tentei nas cordas do meu violão tocar o som dolente daquela manhã. Boêmio de mil sonhos e madrugadas vi sereias lindas de esculturais encantos cantando belos feitiços, doces toadas na mágica Baía de Todos-os-Santos. Saudades já eu vou há muito sentindo dessa magia tão soteropolitana onde queria ver meu olhar se refletindo no doce mirar da uma dengosa baiana.
  • 14. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 14 AUDELINAMACIEIRA SALVADOR/BA CAPITÃO DO MATO É você negro que serve à autoridade do branco e esmola as sobras da mesa da elite escravocrata Estamos fugidos ainda pelos matagais sem saída Estamos sendo perseguidos e vamos para o tronco cada vez que calamos a nossa voz que quer gritar Chega! Não precisamos mais apanhar, estamos livres! Somos cidadãos civis da sociedade Podemos ir e vir Podemos votar Podemos pendurar nosso diploma Em qualquer parede ou lugar por aí Mas e aí negro? Você se vendeu ao sistema depois de tantas lutas tantas resistências depois de comer caviar e dizer a palavra reparação já! E você é negro com diploma na mão e tudo Lembre dos seus irmãos
  • 15. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 15 os negros que estão arrumando este País Pare de puxar o saco desta raça de vagabundos que nem cor tem xingue eles, não baixe a cabeça Quanto eles lhe pagam para ir atrás dos perdidos? Aqueles que não calam seu grito e ainda estão com seus cabelos rebeldes, e seu sorriso límpido negros de verdade sem dinheiro muito menos vaidade Você tem preço??? Você entregou o ouro e a prata por nada?
  • 16. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 16 AUGUSTOBROASKY ARACATI/CE COISAS DA BAHIA Os coqueiros de Itapuã, o frio gostoso de Amaralina, as estrelas que brilham em Plakafor, o perfume delícia da menina. O samba do Tororó, não me deixe só! Terreiro de Jesus, coisa linda! Me encanta, me fascina. O elevador meu amor, o bate-papo na esquina. A sorte está sempre presente, para a alegria de Nanã. Tem festa pra toda a gente, na paz de Iansã. Castro Alves virou Praça e é do povo, quero te ver de novo no Carnaval da alegria, com o seu jeito manhoso, me amando todo dia. Na terça-feira de zoeira, vou para o embalo do Ilê, me perco na madrugada, mas me acho com você. Na quarta estou de ressaca, mas, não fiz nada ruim, por isso, livre de culpa, vou seguindo para o Bonfim. Por lá você está, e tudo fica gostoso na paz de Oxalá. Abençoado sigo em frente, indo parar no Abaeté, lá tem lagoa bonita, abará e acarajé. Me falaram de outros pontos, aonde anda o Baticum e com a morena no requebra, fiz a festa no Olodum. Na Liberdade tem pagode, quem não samba também pode, a mulata se sacode no ritmo pra valer, tem artista de todo lado, quem não viu, precisa ver.
  • 17. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 17 De repente, surge gente andando pra lá e pra cá e fugindo da multidão, você quer me namorar. Que venha com todo o gás, me traga um olhar fugaz, me dê carinho e amor, só isso me satisfaz. Na Terra da magia, quem nasceu tem que crescer, seja noite, seja dia, Salvador meu bem querer. Não posso me esquecer da ginga da Capoeira, que loucura sem besteira, a bênção e a armada de frente, a meia-lua diferente, Salve mestre Pastinha, mestre Bimba e Caiçara. A raça do baiano tá no sangue, tá na cara. Misturas que dão prazer, convido você turista, chegue perto e venha ver: azul, vermelho e branco, são cores de energia, com Carlinhos Brow e Ivete faço a festa da Bahia.
  • 18. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 18 BOHUMILAARAUJO SALVADOR/BA METAMORFOSE Tudo o que se foi Tudo o que está no passado Está mudando Perdendo a forma Perdendo a cor Empalidecendo O bem e o mal Se misturam O pecado é esquecido O sonho vem para ficar O desejo de ser e ver As asas fazem nascer O voo é uma bela canção Do eterno regresso.
  • 19. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 19 CARLOSACLIBERAL PORTO/PT–PORTUGAL ORA A UM DEUS Ora um Deus te salve nas ruínas de uma penúria ou solidão do tédio no consolo do pão ou amarguras do verão ou castigo da desocupação ou momentos de apatia ou fazendeiras grosserias porque os males vem por males não consumas o álcool ou por onde andas sem pedras não nos enchas de sermões ou longe do sol e sertões há almofadas e colchões e o ódio e alegria ou sexo e covardia já um elmo habita a moda se confunde e anda à roda se és o mar de ervilha a sopa será a tia e a noite se conforto a guia e por bem mal feitos vêm outros e por ti todos defeitos corrigir as posturas de cabrão a ovelha excolhe o mel o rebanho dá o leite e o dia de novo Bill Gates tudo fará e uma nova trilha começará"
  • 20. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 20 CARLOSCONRADO SALVADOR/BA RELENTO A árvore que fielmente nos acolhe guardará todas as nossas confissões. Afogo minha dor no Mar do Esquecimento, ao teu cruzar de pernas estou atento, decifro os gestos que espreitam meu gozo. Tua alma se debruça na janela, teus sentimentos espalham fogo, teu ser é o meu refúgio. A negruma dos teus olhos, envolve-me a decifrá-los. vejo-te numa redoma de sonhos com alguns cortes no espírito, querendo dedicadamente saná-los. Tenho também os meus retalhos, quero a tua ajuda para salvá-los.
  • 21. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 21 CARLOSWITALO SALVADOR/BA VERSOS VÃOS Estimo a tua pele como estimo A seda que há nas pétalas da rosa, E a fim de eternizar-te eu canto e rimo, Ou tento pôr-te inteira numa prosa. E goza o meu delírio...e como goza... Ao ver que, quanto mais amor reprimo, Ao ver que, quanto mais és desdenhosa, Eu mais te quero perto e te sublimo. Até quem longe passa, do outro lado, Enxerga o meu semblante ensolarado, Estando o dia cinza e sem sabor. E quem me vê de perto ri calado, Achando o meu sorriso abestalhado, Ou digno de pena o meu amor.
  • 22. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 22 CECÍLIADEPAULA SALVADOR/BA CANUDOS Bolha Sopro Guincho Lua Estrela Cadente No açude Seco Sede De ar. Conselhos Conselheiros Conselheiristas Convergem Pra todos os lados Dos sertões. Corte Corpo Cálice Canudos Degola: Inundação De Sangue. Recheado De Resistência. Trasbordo
  • 23. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 23 De jorros Achados No Sertão Nordestino. Contas (A)pagar. Ampulheta Do tempo Perdida No vento. Revés De quase nada Que no sol Reflete Pílulas De indignação. Brilhos Da terra. Gota no Oceano Que invade O quarto De dormir. Sentença De Vida Severina Que continua A lutar.
  • 24. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 24 Do luto À luta. Sina Da vez Hora de Despertar. Apesar da morte Escorrer entre Grãos de Areia. E pedras E memórias Dos Corpos Da Luta Da Terra Do Homem Do Sertão. Humanidades.
  • 25. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 25 MULHER NEGRA Sinto-me feliz, sou negra, Sou descendente de reis e rainhas, Ensinaram-me a negar minhas origens, Mas hoje assumo as verdades que são minhas. Sou mulher negra cheia de fibra e raça, Minha cor não é uma questão de epiderme, De cabelo, de traços, de costumes, Minha cor é minha raiz em um corpo cheio de graça. Cada qual com seu valor entre suas diferenças Brancos, índios, negros, todos misturados, Valor, atitude, coragem, crenças, Sou negra, não sou inferior em um país miscigenado. A falta de respeito, pudor e a intolerância, São influências de falsas ideias concebidas De preconceitos e racismo fruto da ignorância Sou mulher negra aguerrida e jamais me darei por vencida. O negro chegou a doutor, o trabalhador estudou, As barreiras da discriminação devem ser vencidas, Através da educação, informação e punição, Esta mazela do nosso país será banida. CECÍLIAPEIXOTO SALVADOR/BA
  • 26. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 26 CELESTEFARIAS BELOHORIZONTE/MG ÁPICE Inebriada em goles Do instigante cheiro De homem inocente Olhar apimentado Sabor avassalador Lanço-me insana Sem folhas Galgando Abrandando Latejando Entre ais e uis Apreciando em taças O néctar do vinho Tocando o apogeu Desse inefável prazer.
  • 27. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 27 CELINASHEILAMACOME MAHOTAS–MAPUTO–MOZAMBIQUE POESIA Inspiro-me dentro de ti Liberto o meu ser Ao encontro da verdade As rimas caminham nos meus olhos Desabafo entre versos internamente Vivo ao teu redor entre estrofes Declamo num palco poético Adquirindo qualidade na escrita Soletrando palavras de um poeta Assumo a minha identidade poética Valorizo a arte de escrever Liberto-me no teu colo poético
  • 28. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 28 CILENECANDA SALVADOR/BA QUE DIZER? o que dizer do mundo? direção, farpas, concreto o que dizer de mim? teia, vento, árvore o que digo ao mundo? que penso devorá-lo como se eu fosse árvore arvoro-me arvore-se!
  • 29. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 29 CIRODANIELCAMPOS SALVADOR/BA ÁRIDOS Amavam-se áridos Paradoxo de pó e lama Irrigados de sangue agreste Escasso, na óssea cama. Um quadro de santo. Nó destino canto. Merencória prece. Gemia a mulher empoeirada E o macho sobre ela entrava Fungando seu cangote cacto Mandacaru a atravessava Rasgando-lhe o ventre nu Devotamente intacto. Ela, de quatro, aquiesce E ele conta estrelas Nas vértebras acesas De céu azul inceleste. Era como comer a casca Da mulher que lhe servia A pele, o pelo e a lasca. Era tudo um fogo fátuo: Ela amada feito bicho Ao desprazer da natureza. Nada mais lhe restava Do que a sede, dona da casa, A escuridão e a dureza. Amavam-se áridos O couro batendo por dentro Desumanos semoventes Dois sertões se devorando Securas chãs dependentes Amantes. Caatingamente.
  • 30. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 30 CLARAMARIAALVES SALVADOR/BA CONTO Lágrima que jorra Feito uma cachoeira Rio que transborda Na cabeceira Braços abertos Que tonteira Queda d’água Na banheira Café quente Na chaleira Conto de lua A noite inteira Tonto de falar Tanta besteira
  • 31. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 31 CLÁUDIOHERMÍNIO BELOHORIZONTE/MG FAÍSCAS Procuro em ti aquilo que foras um dia E que, ao meu pesar, já não existe mais. Quero guardar enfim: O sol e a lua, A valsa da despedida, O hálito quente que ousou queimar-me um dia. Quero guardar enfim: Histórias de um velho mundo, Baladas sem fim, Passos uniformes e sem formas. Quero guardar enfim: Ciladas traiçoeiras e constantes, Noites tempestuosas que me viram ao avesso Sem qualquer desfecho. Quero guardar enfim: Marcas cravadas sobre a pele, Verdades dispersas e sem rumo Cuja imensidão, Sempre vi.
  • 32. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 32 CRISTIANOSOUSA SALVADOR/BA DEFICIENTES Estou cansado de dizer Muitas bobagens sem saber o porquê E esgotado de ouvir Tantas mentiras que falam pra mim O empresário não me deixa trabalhar A cadeira de rodas alguém tem de arrastar No coletivo eu não posso entrar E a visão é que há de me atrapalhar Este mal que está em todos nós Ninguém pode nem deve negar Olhem só o pai que abandonou a filhinha O menino que xingou a mãe Bicho preguiça você tem de se virar Para que mais tarde seu filho não venha a roubar O mendigo que está na esquina Ficou maluco sem o apoio da família Deficiente, todos nós somos um Eficiente, pode ser qualquer um Deficiente, todos nós somos um Deficientes, nos ensinem a amar O aluno não gosta de estudar Mas passa de ano, coincidência, vou tentar Não vai à escola, não se esforça para entender nada A preguiça é uma deficiência e uma roubada Eu ouço muitos ateus falando em Deus Deviam tomar vergonha na cara
  • 33. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 33 E não tirar o dinheiro de quem Ganhou suado o seu vintém Encurtaram meu espaço Me feriram no estímulo Não dão valor a meu expressar   Algum dia vão perceber nossa vontade de vencer E muitos braços vão se estender Para os espaços poderem crescer Deficiente, todos nós somos um Eficiente, pode ser qualquer um Deficiente, todos nós somos um Deficientes, nos ensinem a amar
  • 34. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 34 ELDERCARLOSDOSSANTOS SALVADOR/BA GRAAL Descobri que minha sina Apesar da dor e da agonia É continuar em frente Acreditando na vida Minha incrível rotina É parir da noite o dia É buscar o grande cálice A sagrada regalia Dissipar a densa bruma Ver a joia escondida Despertar a antiga arte Há muito tempo perdida Erguer a copa sagrada Mistério que me inicia Vindo de uma antiga noite Encanto que se recria Para fazê-la brilhar No eterno do instante E de uma forma intensa Como joia faiscante Sentir seu poder oculto Que atravessa a distância Que possui fonte incerta Inundada em radiância Por mais que a mão me pese Melhor coisa não seria Manterei esta missão: Celebrar a grande magia
  • 35. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 35 NINGUÉM NOTOU A noite acabou... A chuva parou... Mais um dia surgiu... O sol no horizonte brilhou... A árvore frutificou... O mundo girou... A música tocou... A menina cresceu... Meu coração sofreu... O dinheiro acabou... A roupa no varal secou... Meu espírito acalmou... E ninguém notou! ELENILSONNASCIMENTO SALVADOR/BA
  • 36. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 36 OLHOS NOS OLHOS Diga o que pensa mas sem ofender... Suas ideias são importantes Mas ouça o que digo entenda minha posição mesmo se você discorda... Fique sentado... Não interrompa... Não queira ser o dono da palavra... Fale o necessário, faça perguntas desperte meu interesse... Não fuja, alheio indiferente,não entendeu ? Faça perguntas ! Mas pode comparar... liberdade vou lhe dar O que houve com sua experiência? Onde estão os exemplos ? Fatos, casos, concretos ... Se discorda... Diga! Com bom humor, naturalidade... Não deixe para depois Notas, pontos obscuros Tudo pode ajudar Ficarei mais animada também mais interessante... Vou...Vem...Para beira do mar... Ver o pôr do sol Para refletir, estudar, assimilar ELISENILDACRISTINADEALMEIDA SALVADOR/BA
  • 37. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 37 ELITABARRETO SALVADOR/BA TÃO EU... Intensa, verdadeira, honesta... Intensa, suave, amável... Intensa, exigente, preocupada... Intensa, rancorosa, amorosa... Intensa, extensa, complexa, Estável, indignável, afável... Desejável, admirável, detestável... Tamanha intensidade de virtudes, defeituosamente qualificadas, Complementares, contraditórias e jamais quantificadas, Pela sua plenitude infinita e inconstante. Tudo isso porque... Não aprendi a Fazer de conta, Amar pela metade, enfeitar a verdade. Não aprendi a Negar o óbvio, superar o insuperável, Tamponar a ferida aberta, Perdoar o imperdoável. Não aprendi a Fechar os olhos para a injustiça, banalizar o preconceito, Valorizar a busca pelo perfeito... Perfeito de corpo, perfeito de alma; perfeito defeito? Não aprendi a Transformar sofrimento em alento, Me contentar com o “não tem jeito”, Priorizar somente o financeiro. Não aprendi a Suprimir o desejo, esconder o malfeito, Negar meus desejos, conviver com o desrespeito, Neutralizar minhas emoções. Não aprendi a Fazer de conta, aguardar “o curso da onda”,
  • 38. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 38 Paralisar e esperar pela mudança: Mudança de vida, mudança de clima, mudança de Fé? Mudança de rumo, de caráter, de humor. Mudança de alma, mudança que cala, transborda ou abala. Não aprendi a Ser superficial, copiar pela necessidade de ser igual, Deixar de viver, por medo de sofrer, Deixar de Ser, por ninguém reconhecer: Ser de verdade, me entregar de verdade – aliando corpo, mente, alma e coração. Ser pessoa, ser filha, ser mãe, ser amante, ser profissão. Não aprendi a Praticar o desapego de princípios essenciais, Conviver sem apreço e ter relações banais. Não aprendi e não vou; Não vou, por não querer! Não quero deixar meu Ser, mas não abro mão de aprender. Aprender a reaprender, E, em eterno ciclo, me refazer. Por quê? Porque o tempo não volta, o tempo não para! O meu tempo é o hoje, o seu tempo é AGORA. Intensa, persistente, VIVA, Insistente [social], também... Em eterno estado de desconstrução, remodelagem, Deformação para reconstrução ou, [re]constituição e fortalecimento do Ser. Tão seu, tão meu... Tão nua, TÃO EU...!
  • 39. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 39 ELISAGARCIA SALVADOR/BA ESMO Andar a esmo. Vagar por caminhos dentro de si, não encontrando a si mesmo. Asno!!! Empacado no caminho, vendo o sol bater em suas costas, ferindo-o de tão quente, mas continua empacado Inerte, imóvel. Pé fincado ao chão. Melhor caminhar a esmo. Asno insano!!! Caminhar por caminhos tortuosos, mas que refresque seu corpo cansado, e castigado pelo sol intenso. Asno!!! Torne-se um cavalo destemido e audaz, Que caminha e corre entre a relva e as margens dos rios. Desenterre essas patas desse chão, marcado com sua teimosia. Transforme-se num ser que caminha, com tamanho ímpeto que parece flutuar. Suas pegadas não marcaram o chão de tão suaves. Caminhe selvagem e livre por todos os cantos de seu ser.
  • 40. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 40 ELYCARVALHO CANAVIEIRAS/BA ÊXTASE No toque mágico Na embriaguês de almas Que se encontram Arroubo! Árdego olhar Moreno cor de jambo Você! No arquejar do toque Do odor inefável Do seu sexo contra o meu Poesia! Entrelaçar de carinhos Suspiros inebriantes Que afloram no meu peito A ansiedade de você... Poesia! Na pele cor de jambo toque de magia No jeitinho maroto Feito concha... Mansinho se aconchega Você e Eu! Na beleza que eterniza A aquiescência do toque Poesia! No corpo reacende a paixão... E, no inebriante silêncio De corpos saciados, Êxtase! Na pele seu cheiro No corpo o desejo Todo trabalhado na paixão.
  • 41. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 41 ERYCRUZ SALVADOR/BA INGLÓRIA Na vida se canta a sorte, Se chora com medo da morte, De uma vida sem respirar, Dormindo se sobe o morro, Sonhando se desce de novo Pra vida recomeçar. Nas manhãs o pobre labuta, Nas tardes continua a luta, Nas noites não dá pra sonhar, É choro de gente miúda, Uma dor na barriga aguda São corpos a se acalentar. E nasce no pobre a coragem De viver sob a liberdade E sobe alto na construção, Pensando na família aflita, Tropeça na própria marmita E voa de encontro ao chão. Uma vela ilumina as mentes De quem passa tão displicente E até de quem não quer olhar, Um jornal esconde sua estória Cobrindo seu rosto e a glória Que um dia sonhou alcançar.
  • 42. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 42 EULAMPIOJOSÉDASILVANETO JOÃOPESSOA/PB A DOR DA MORTE Vejo em vários cadáveres Mil faces e feições Corpo magros Outros não Bocas contorcidas Mas a vida não Dor da morte? A morte não dói, não O que dói é morrer A morte em sua ação indolor Não é o mesmo que a o ato passivo De sucumbir ao processo A morte não dói, não O que dói é falecer O que representam essas feições? Algumas com toques do doer Mas a morte não dói, não O que dói é não viver Deixar-se olhar para trás Estes cadáveres não lembram mais Mas ainda trazem, na face, a dor Mas morrer não dói, não O que dói é não renascer Ainda procuro entender suas contrações Estampadas em sua máscara facial Mas a morte não dói, não E porque esta visão que tenho da dor? Se o que dói é morrer?
  • 43. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 43 FÁBIOHAENDEL SALVADOR/BA ALCOÓLETRAS Vamos nos embriagar Sem deixar derramar uma gota de palavra Vamos secar as garrafas Engolir todas as letras e sílabas E já bêbados Vomitar os textos nas calçadas Trocar ideias até trocar as pernas De frases tortas No alfabeto da embriaguez E que a palavra se desenrole Em um gole de cada vez.
  • 44. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 44 FABIOSHIVA SALVADOR/BA PRECES * Auto de Fé Ver em tudo sempre Deus o Criador. Ver em tudo sempre reverência e amor. Na luz e na sombra, beleza e terror, ver em tudo pétalas da mesma Flor. ** Aos Pés de Mainha Que bom poder voltar aos pés de minha Mãe, diante dos quais eu já deitei tanta oração, voltar aos mesmos pés com um novo coração, com muito menos medo e bem mais gratidão! *** Oração do Vaso Mesmo sentado no trono Onde todos os homens são iguais, Mesmo fazendo cocô Continuo sendo filho de meu Pai.   Mesmo na sarjeta do engano Onde todo mundo um dia cai, Mesmo que na lama eu me banhe Continuo sendo amado por minha Mãe.
  • 45. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 45 GERALDOPORTELA SALVADOR/BA REVERSO XXX PAPHO Para Zé Wilson Bacela ah, poeta ajunta os sonhos dispersos nas madrugadas serenais explora as fronteiras que teias sem trilha atalho ou caminho reescreve os enredos revela os segredos em louca alquimia ah, poeta na transcrição da vida de dentro olhando no olho do avesso despetala a rosa dos ventos despalavra os versos desvela os acasos acima do nada onde se cruzam e contrastam metáforas e vestido de silêncio e branco bebe em pequenos goles o vinho esquecido por dionísio na velha taça do tempo
  • 46. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 46 GIOVANNAVITA SALVADOR/BA O AMOR O amor Dor; que me atormenta, Dor; que, no infinito da existência, leva-o de perto de mim. Dor; do amor impossível. Que causa sofrimento no coração de quem ama. Dor; que existe no meu ser, ao sentir falta dos seus beijos de açoite, e carícias no meu corpo desnudo. Dor, dor, dor! Que sinto na separação de um amor proibido. Até quando suportarei a ausência do amor que arrebata o meu peito, Sentindo a falta das suas carícias e dos beijos calientes de seus lábios carnudos, em busca do amor renascido, entre dois seres que a eternidade separa; O passado e o presente. Nunca mais... Dor, dor, dor! Eterna... Me castiga pela falta do meu amor sublime e puro. Dor, fim da existência, da minha vida...
  • 47. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 47 GUILHERMEMEYER PORTOALEGRE/RS QUARTA-FEIRA, 25 DE MARÇO DE 2015 hoje mais do que nunca queria você ao lado. hoje sinto o gosto da morte na boca como cerveja morna. hoje compro o jornal na banca pra ver se me distraio. hoje as palavras são carcaças de automóvel num ferro-velho. hoje me sinto velho. hoje os olhos pesam e as pernas fraquejam. hoje não consigo deixar de ver no espelho o cabelo ralo. os dentes amarelos. hoje mais do que nunca queria você ao lado. hoje dói a falta de tudo que ainda não perdi.
  • 48. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 48 HANDHERSONDAMASCENO SALVADOR/BA O ESCRAVO DAS PALAVRAS Gosto de escrever, pois alivia o meu sofrimento; Gosto de escrever, pois é grande o meu tormento; Gosto de escrever, porque do pesadelo sou libertado; Gosto de escrever, porque já não me sinto aprisionado. Escrevendo, os grilhões e as correntes se findam, A tristeza e a amargura que me atormentam, terminam. As regras e imposições que sou obrigado a seguir São abolidas, infringidas: vejo meu sonho exaurir. As palavras me dão imensurável poder! Com elas, extrapolo os limites do meu ser: Deixo de ser uma pessoa ínfima, covarde e banal, E vejo-me como herói, sublime e imortal. Estas palavras me dominam de modo imponderável. Sou limítrofe entre o fictício, o tangível e o explicável. De caráter circunspeto, sério e indissoluto, Transformo-me em devasso, atrevido, sem atributos. No meu sangue, as palavras latejam; Estão sob a minha pele: me desejam! Chego a ficar sobremodo sufocado E quando se apoderam de mim, fico extasiado. O meu corpo, elas fazem de instrumento; São meu antídoto, minha polução, meu acalento. Esvaziam a minha inquietude e sofreguidão... Arrancam de mim o desânimo, a insatisfação. Sem as palavras, minhas únicas amigas, Seria uma pálida luz, de fé, desprovida. Espantam o vulto fétido e tenebroso da morte E por tenazes minutos, sou ser gracioso e forte!
  • 49. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 49 HERICKRIOS CAPIMGROSSO/BA Amo você e não desanimarei Ela tocava piano na sala E eu no quarto procurando um pedacinho de papel Com uma música de lembranças nossas E lhe dei pra tocar A canção que eu mesmo compus “Amo você e não desanimarei” Fiquei a olhar o mar e perdi os sentidos As notas saíam do piano janela afora Tomando conta de todos os ouvidos A delicadeza dos seus dedos Deslizava sobre as teclas Meu amor, agora toque pra mim! “Amo você e não desanimarei” Quando a música invade você Tudo fica diferente As cores ficam mais vivas Os raios do sol ficam mais fortes E a lua fica está mais perto da gente Meu amor, agora toque pra mim! A música que eu lhe dei “Amo você e não desanimarei”
  • 50. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 50 IRAMAIASANTANA SALVADOR/BA LER Ler é muito mais… Mais que conhecer as palavras, Ler as frases, Ler os períodos, Ler o texto. Ler é muito mais… Que decodificar palavras, É entender o que está nas entrelinhas. Ler é compreender o sentido, É dar significado. Ler é um estímulo… Para alçar voos. Aguçar a imaginação, A criação, enriquecer vocabulário. É ampliar conhecimentos. Ler é muito mais… Ler compreende a leitura de mundo, Interpretar as experiências vividas E tirar dela uma compreensão, Uma lição. Ler é interpretar e dar Sentido a vida.
  • 51. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 51 JACQUINHANOGUEIRA SAPEAÇU/BA (DES)CONHECIDO Um papel rasgado ao chão é assim que me sinto Rodeado e ao mesmo tempo só Desgarrado da vida, do destino, jogado a própria sorte, em crise Já não sei mais quem sou, nem para onde vou nos segundos seguintes Quase um desconhecido, sem destino, sigo a questionar: Quem sou? Quem sou? No vazio, respostas vagas, especulações, mas nada, nada, nada que descreva a minha alma Nem sequer uma palavra rascunhada com meu nome, uma fotografia, alguém que me grite pelo nome Olho-me no espelho, tento me reconhecer, mas desconheço esse rosto, esse corpo, esse ser Volto à estrada sem a rua de mim mesmo Olho para os cantos e não enxergo nada que possa me descrever, olho-me, (re) olho-me, estranho-me, nem nu me sinto Assusto-me! Noto que ainda estou vestido. Desconheço-me! Estou com um traje que não me veste. Mas como sei? Indago novamente a vida: Quem sou? Quem sou? A que raiz pertenço? O silêncio se ocupa e fica, passam horas Nada é revelado Sigo só o corpo... frio, solitário e mudo Permaneço, sem entender a alma. Pistas vazias, desligadas, sem rastros, memória apagada a silenciar para mim mesmo O porquê, o porquê neste mundo já nem mais por mim mesmo sou amado.
  • 52. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 52 JAILSONSANTOS SALVADOR/BA CONTOS DE FADAS Tens que acreditar nas minhas juras de amor, Nas incontáveis loucuras que faço por ti tão somente. Jamais saberás o tamanho da minha dor, Pois não percebes que te amo desesperadamente. Que tu és para mim um atentado ao pudor Que me surge de repente Com tentações embebidas em furor Perturbando pouco a pouco a minha mente. Deixa-me se não me amas Antes que eu seja consumido pela fúria destas chamas E faleça como muitas almas doentes Tu mesmo me matas e não sentes E cruelmente me abandonas por estas estradas... E eu como poeta apaixonado continuo crendo nos teus contos de fadas.
  • 53. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 53 JAIROPINTO SALVADOR/BA POESIA CRÔNICA D.Teê, como era conhecida, Trabalhava para uma família remediada há alguns dias. A patroa estava encantada As crianças nunca estiveram tão bem. Para o patrão, era pura simpatia, Ela cozinhava como ninguém. Todavia, sutilmente, D.Teê foi despedida Ao responder com um gentil 'axé' Um 'deus te abençoe, querida'.
  • 54. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 54 JAMESSONCARDOSORIBEIRO SALVADOR/BA MADEIRA Voa o machado. A dor viaja na lâmina que o silêncio não contém. Estanca a seiva, o rio vira pó, sangue seco, sofrido, adormece, e a mata acolhe a perda no seio. Ninho, flor, lagarto, inseto e fruto, fungos, pássaros, folhas e saguis deslizam no vazio em queda imponente. Apenas um gemido e o ribombar no chão como revolta. Anéis, canais de resina, fibras e vasos se espantam por trás da casca, que envolve caos, tristeza e pranto. O corte traçou seu plano no espaço, em uma face a vida, em outra face a morte. Cai o tronco em dor horizontal. Frutos futuros furtados pelo furor fenecem e fornecem sêmen, sementes, à terra. Hirto, morto, o tronco despido da vaidade dos ares,
  • 55. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 55 invade esquartejado a autoclave e transmuta-se em pasta celulósica. Viaja entre cilindros e atavismo, enrosca-se em tronco de uma só folha. Dela despertarão livros, jornais e revistas, onde se vai escrever contra o criminoso abate das árvores.
  • 56. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 56 JEANESÁNCHEZ SALVADOR/BA PETER PAN A menina no balanço Balança sua infância. Imóvel como a estátua de Minerva Permanece a lembrança. Hoje é só café amargo O doce do infante acabou E a xícara está cheia À espera da vítima.
  • 57. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 57 JANAINALOPO SALVADOR/BA PAPEL EM BRANCO Papel em branco e uma história para escrever. É uma historia sofrida. Bom, independe do ponto de vista. Uma garota brincando até a má notícia chegar A garota chorando, De mão em mão até a cama chegar. Enfim conseguiu dormir. Quando acordou todos estavam se arrumando E com dor no seu coração, Se arrumou também. Muito tempo passa A dor se esconde, Mas nunca vai desaparecer. A dor aperta e a saudade também E eu fico esperando até que posso ir. Quando chego me deparo com ele deitado em uma cama Cheio de cabos, aparelhos... Mas fico feliz por vê-lo. Então lhe pergunto: Você está bem? Está me escutando? Então, eu ouço alguém que diz : Calma! Calma! Calma... Era a mamãe e ela me abraça forte E aí descubro que por um tempo não poderei mais vê-lo. Só o verei agora, oh meu papai amado, Quando Deus lá no céu, Que está aí, junto a ti Me chamar também
  • 58. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 58 JOSÉEDUARDOCAVALHEIRODASILVA RIODEJANEIRO/RJ NO MEIO EXISTE UM NOME Encontrei o amor em uma J ovem linda e atraente que apelidei Cristal. A fragrância que ela tem é Ú nica que me embriaguei nessa emoção. Emoção que é como um L indo sonho sonhado guardado no coração. Teu beijo resume todas as I nspirações dos meus desejos secretos; O sabor sutil, o aroma, A cor, o frescor, a emoção dos teus lábios; Tocando uma canção e N avegando na melodia vinda do teu beijo. Surge assim na vida; A estrela cintilante do meu viver: JULIANA! Eu te amo! C om você tudo se transforma em flores, Tudo se torna alegre, einando a felicidade soberana. Tu és aquela musa, nspirando em mim, tanta emoção. Emoção forte, real e incera que pulsa em meu poeta coração. Teu jeito carinhoso, eu abraço caloroso, tudo me fascina. Tudo contribui para o mor crescer, florescer, Vivendo apaixonado, ançando no papel o meu amor cristalizado!
  • 59. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 59 JOSUERAMIRORAMALHO SALVADOR/BA GOTAS Ao desnudar-te Beberte-ei Em gotas de paixão Saboreando cada sulco Cada imaculada essência Que de ti, se deramarão Aos poucos Vou deglutindo Tudo que há em ti Até sorver-te toda E nada Nada mais existir!
  • 60. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 60 LAURALIBERATO SALVADOR/BA BALLET Qual estafermo diante da vida, levado por enganos e tropeços. Vaguei sem a alegria devida, devendo a mim mesmo um recomeço. Vislumbrei hoje ao ver-te novamente, horizontes coloridos, vi a luz. Que delícia, amor, em meus braços ter-te. Novamente como outrora te compus, uma doce canção, alegremente, renasce em mim, renasço juntamente, no ballet do teu corpo junto ao meu. Somos um no balanço do destino, fico louco, já sou todo desatino, fora ou dentro de ti, mas sempre teu!
  • 61. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 61 LEANDROFLORES BELOHORIZONTE/BH O DESESPERO Quanto drama! Em sua frente, apenas pó e lama. Não há o que comer, Muito menos o que fazer. Apenas rezar e esperar... A última criação morre de sede Nas barrancas de um tanque seco; E a esperança, Aquela que faz o verde acontecer, O rio trasbordar e o pasto nascer, Demora a chegar e a florescer. O homem se desespera Ao ver a vida se embrenhando assim, Por entre as rachaduras de um poço de lama... Ergue o seu chapéu ao céu e declama: “Deus! Mande chuva no sertão, Vamomorrêtudim de sede, se o sinhor Num tivé compaixão!”
  • 62. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 62 LEIRARENATACARVALHOSANTOS SALVADOR/BA DOR Sinto dor Não dói quando toca Dói dentro Alcança só as palavras Alcança o efeito delas Sinto dor Dor dilacerante Dor de quem se entrega De quem a mágoa não alcança Mas converte em guarda aberta Dor por sentir a mesma dor Dor por me importar Dor pela traição da consciência Que a introspecção esqueceu-se de processar E a memória não soube buscar A morte leva a dor Mas prefiro viver sem ela Quero poesia e o renascer das ondas até que o verdadeiro amor venha e me leve
  • 63. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 63 LEONIATEIXEIRA SALVADOR/BA SOU Sou palavras sem sentido, olhar sem direção, frases incompletas. Sou o que me permito ser, mesmo sem permissão. Sou saudade, sonhos, fantasia Sou sentimento, ressentimento, descobrimento. Sou pedra de um jogo, perdida! Sou frase que falta em um poema Sou verso que sobra em canção, Sou a voz que vem da alma, mente...coração. Sou um ser entre tantos: sem rumo, sem estrada, sem noção. Sou alguém que sente, que se sente, que fala, que cala Sou história contada pela metade, música tocada sem refrão Sou do livro, página virada Sou cena de um capítulo não passado Sou breu, sou alguém que se perdeu Sou amor, desejo, paixão. Sou da lua o escuro, do sol o se pôr, Sou do vento tempestade, do mar ondas sou. Sou rio imenso, sem fim, perdida dentro de mim Sou voz que não se escuta, do silêncio o grito. Sou disfarce sem disfarce, verdade...mentira. Sou amor, sonhado, recriado, inventado Sou poema, poesia, verso, melodia Sou solidão, melancolia. Sou da terra, sou do mar, sou da lua, sou amar. Sou um pouco de tudo que já fui Sou do nada tudo que sou!
  • 64. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 64 LINOMUKURRUZA LICHINGA–NIASSA–MOÇAMBIQUE COMPENETRAÇÃO A Júlio Carvalho eus assus leus centra metra na meta caneta língua pensamento flexão fluição (re)flexão (in)flação papel caminhos ideias soltas num (nus) nós uma retórica ao avesso
  • 65. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 65 LUCASSANTOSDONASCIMENTO SALVADOR/BA Nossas línguas Nossas línguas amam estar juntas trocando laços, trocando salivas, trocando amasso, trocando absolutamente beijos. Tudo é tão bom.
  • 66. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 66 LUCIENELIMA SALVADOR/BA AMOR INSANO Amor insano, louco e desvairado... Não me pertencem os meus desejos mais latentes, os mais ocultos desvendados por você. Quero me despir da volúpia que me toma entre frases, gestos e olhares a me seduzir, a me convidar, a me conduzir por entre abraços, laços e de uma ternura que me cura de um beijo seu. A insanidade dos gestos, das palavras, da sua boca tola a me provocar, a pronunciar delírios que só eu e você sabemos compreender. Entre o querer e o não querer, por um momento, o meu coração vacila... neste exato momento, ele não me pertence mais.
  • 67. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 67 LUIZALBERTOCAVALCANTIFILHO PALHOÇA/SC O AMOR O amor é invisível correnteza Que leva ao turbilhão sem se notar, É no peito de lágrimas um mar Batendo contra as rochas da tristeza. O amor é estar certo na incerteza; É do lado bem perto se encontrar De quem vem entre nós a se ausentar; É no peso da vida ver leveza. É ter nos dias tristes a alegria De o pranto em colo alheio vir secar; É de amores perdido se encontrar. E quem no seu viver assim seria Mesmo que ele jamais possa explicar Tão louco para o amor vir desprezar?
  • 68. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 68 M.SOUZA FEIRADESANTANA/BA O ESCREVÍVEL Escrever o escrevível E poesiar o poesiável É atingir o inatingível Acreditar no inacreditável Perceber o imperceptível Desvendar o indesvendável É produzir o improdutível Calcular o incalculável Poder ver o invisível Aceitar o inaceitável Tornar-se indissolvível No ar mais respirável E assim ser sobrevivível Nesta vida infindável Porém muito tangível Com poesia agora imortável.
  • 69. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 69 MADDALENASPINA LARINO/CBMOLISE–ITÁLIA TRANSPARENTE Seus olhos olham para mim como se eu fosse transparente, clara como a água que escorre como estas minhas lágrimas que traçam linhas no minhas bochechas, umedecendo-as, profusamente, como uma chuva incessante não para, como eu não paro de sofrer, inutilmente tento me dar força mas eu me sinto tão fraca como as folhas que caem das árvores no outono, para fazê-lo aparecer nu como eu me sinto completamente despojada e vazia de qualquer outro sentimento, vulnerável como um pintinho acabado de sair de sua casca, mas que deseja ficar parado dentro, a fim de se sentir mais seguro, Gostaria também de me sentir segura e protegida, completamente confiante em quem me ama, como um cão confia em seu dono, então eu quero ter certeza de amar sem filtros, ser eu mesma sem mudar só para agradar a quem eu amo, e o mesmo deve ser para a outra pessoa que eu amarei a mais certa, que me completará e me fará sentir única e especial, só assim eu não serei tão transparente como a água, mas como um vidro que brilha na luz do sol, que graças aos seus raios me dá a visibilidade e o seu calor rico de esperança; para que eu possa brilhar em toda a minha beleza deslumbrante, assim como o relâmpago e o clarão do céu cinza e preto das tormentas dando um choque de vitalidade energética que só o amor verdadeiro pode dar, sem pedir nada em troca, só de se destacar em toda a sua felicidade luzente.
  • 70. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 70 MANOLLOFERREIRA JUAZEIRO/BA SEMIÁRIDOS: NORDESTINOS, SERTANEJOS, BRASILEIROS...! O Semiárido não é só caatinga, não é só Nordeste, não é só Sertão... O Semiárido não é só calidez, seca, fome, sede e escassez... O Semiárido não é a imagem única e exclusiva estereotipada da miséria, do analfabetismo, da mortalidade infantil, dos desnutridos, desdentados, pés rachados, terra inóspita, à margem da civilização... O Semiárido é muito mais do que tudo que já foi dito, des- dito, atestado, retratado, mentido... Desprezivelmente imaginado... O Semiárido é sim, caatinga, é Nordeste, é Sertão... O Semiárido é também verde, frescor, água, comida... Vida em degustação... O Semiárido é abastança, é arte, é cultura, é criança crecendo sadia, é boca sorrindo o viver, mordendo a vida sem tirar pedaço, com os pés bem firmados a sustentar o chão... O Semiárido é força, é dignidade, é beleza, é riqueza, é his- tória, é orgulho, é superação... ! ... Um mundo de sentidos em contextualização... ! O Semiárido é Brasil... ! Vidas vividas sem separação... ...O Semiárido é tudo isso e mais um pouco do que se diz ser, Nada diferente do que a vida em qualquer outro canto do mundo pode oferecer.
  • 71. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 71 MARCHALJR. SANTARITA/SP DESEJO Quero te tomar no meu abraço Domar tua boca adocicada Cavalgar em teus sonhos, me faço Pensar os meus lábios nos teus Deixar a vida nos levar Levar, pelos anseios meus! Quero tocar o teu corpo tenso Seguir pelas curvas sem pensar E sentir o perfume intenso Que flui na labuta do amar! Vem me fazer feliz Enveredar nas forças da esperança Doar a mim o que sempre quis O amor, sem cor, sem vingança Seguir pelo trajeto que fiz Sentir o apelo e o toque a avançar!
  • 72. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 72 MARLYRAMOS SALVADOR/BA SONHOS... LEVO-OS EM MINHA BAGAGEM Viajo... numa viagem linda! Feita de sonhos e luzes cristalinas Levo as malas cheias de sonhos... Dos sonhos d'alma menina Embalo-me nos desejos dos sonhos Sonhos meus tão meninos! Riem e fazem muita algazarra... Meus sonhos são felizes! Nessa estrada em que viajo Com estas bagagens tão pesadas! Flutuo com meus sonhos d'alma A viagem é longa... Dá até tempo de ter mais sonhos! Acho que precisarei comprar outras malas! Alguns sonhos já deixaram de ser sonhos... Realizei-os em uma parada Num daqueles momentos Que paramos em um lugar lindo... Com montes verdes, fontes, pôr do sol... Com tudo florindo! Ah! Mas tenho um sonho especial! Guardo-o a sete chaves Dentro de um cofrinho que faz: Tum-tum, tum-tum, tum-tum... Quero muito concretizá-lo! Mas não sei bem com é esse sonho! Pois esse sonho, não é só meu... É um sonho nosso... De uma Luz Que se chama Deus... Nosso guia nesta grande viagem!
  • 73. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 73 MARIACÉLIABOSH SALVADOR/BA A TRAÇA Sou uma traça filha da guerra. Mergulhei em antigos baús Comi anquinhas e sedas Senti o aroma de lavanda inglesa. Procurei, procurei Em velhos diários Querendo encontrar Mensagens antigas Poemas de amor Para devorar. Não satisfeita Fugi para o front Sou filha da guerra. Destruí tratados e base de canhão Pensando o amo pra encontrar. Eis que surge outra guerra Sem papel e canhão Armas pesadas por digitação Homem máquina e vírus para exterminação A paz longínqua como solução. Meu apetite voraz Fez-me raciocinar. Juntei cartas Perfumes e tratados Transformei tudo Em sublime manjar. Fiquei gorda e politizada Morrerei feliz Poetizada.
  • 74. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 74 MARIACLARAAQUINODAMASCENO SALVADOR/BA PARTE IDA No dia em que perdi a evanescência Das inúteis chegadas e dos remansos, Foste tu e para ti o coronário da culpa. Esqueci nossa aliança aos apelos da asma, Num esforço contínuo de asfixia dos lírios, Do quarto, cheirando a alecrim, fundei hospício. Este ofício inaugural de mulher traída... Reclamar a freguesia perdida, os ossos expostos Para mais tarde ser recebida com estrume. Se o é, peço que (re)conheças a porta de saída, Porque todos os lençóis de setembro foram arrancados, Antes dos suores, antes dos vapores, antes... Do meu mijo... teu nome, Teu nome... ingratidão!
  • 75. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 75 MARIADASGRAÇASPRATESMAIA SALVADOR/BA O RETRATO Retrato no retrato esse retrato Real bem definido Em minha mente. Em meu coração. Retratando em retrato Cuja imagem presente eternamente. Viva em minhas memória. Posso reproduzir nitidamente. Sentada em sia cadeira. Defronte à sua máquina de costura. Fico com aquela luz que não se apaga na escuridão.
  • 76. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 76 MARIAJOSÉMATOS SALVADOR/BA PEDIDO Traga meu coração Que já não é seu. E no entanto, insiste tanto Em grudar-se ao seu. Preso assim, como cola ao papel Aconchegado às lembranças primaveris. Esperançoso, aguarda gestos inesperados Que não acontecerão. Devolva-o, peço-lhe! Ele é jovem e sonhador. Quer viver a cumplicidade das emoções Emaranhar-se nas paixões incontidas Sentidas no calafrio da pele. Quer o duplo milagre da vida De dar e receber. Sonha com isto, meu coração. Se outrora sempre foi só Amou só, sofreu só. Agora deseja outra alvorada Como um mancebo forte, desbravador. Almeja – Este guerreiro Mesclar-se a quem o deseje Com a intensidade dos momentos eternos. Vividos... Correspondidos... Traga de volta meu coração!
  • 77. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 77 MICHELLESAIMON SALVADOR/BA COSMOS Corpos iluminados Ao nascer da aurora Micro Macro Cosmos E um sentimento de mundo Que atravessa as Fronteiras da matéria. Corpos iluminados Que tangem o incorpóreo E só são por se esquecerem de Pesar a densidade com que Exprimiam seus universos. Cósmico era tudo Que seus dedos não alcançavam Por ser parte deles O corpo, Dentro de um corpo, Outro corpo celeste.
  • 78. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 78 MORAALVES BRASÍLIA/DF O ANDARILHO Sou um andarilho, caminho sem destino Minha chegada é minha partida Meus pés descalços, minhas mãos trêmulas, tenho um olhar que não Segue mais nenhuma direção Caminho sem emoção. Sou um andarilho, invisível aos Olhos dos que passam e nem Me notam, afastam-se de mim Com certo medo no olhar É triste não ter nenhum lugar Para chegar, nenhum abraço Para acalentar. Carrego dentro de mim ainda Histórias que jamais terei a quem Contar, pois o mundo se calou Ninguém mais se importa. Caminho numa estrada deserta Afinal sou um andarilho, não levo Flores mas somente os espinhos.
  • 79. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 79 MORGANAGAZEL SALVADOR/BA ORIGEM DA POESIA Não é do nada que surge a poesia. Legítima ela vem da alma aflita ou da alma enraivecida ou da alma apaixonada por um animal, por uma semelhante alma, ou por um Deus idealizado. Qualquer ente capaz – supostamente – de preencher a falta, necessidade íntima de amor, que tanto faz sofrer a humanidade. Não, não é do nada. Surge também a poesia da alma compadecida, em busca da cura de si mesma e de companheiros de viagem.
  • 80. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 80 NARABARRETO SALVADOR/BA INEFÁVEL Nasceu misteriosamente, Viveu, Cresceu, Reproduziu, Transbordou, Acolheu, Abraçou, Beijou, Morreu silenciosamente Em nós.
  • 81. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 81 NEWTONSILVA SALVADOR/BA O PODER DO AMOR Eu sofro com a sua dor! Não posso viver sem você! Não tenha um só instante, amor, medo de eu esquecer você!... Não choro mais do que chorei, pois canto para não chorar... Eu tento muito distrair Mas meu pensar lhe é fiel!... Há muito você mora em mim, não saia nunca mais, amor!... Há muito moro em você, nem pense que eu quero sair!... Não posso viver sem você, você vai viver sem mim, o amor tem o poder de Deus faz dois se transformarem em Um
  • 82. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 82 NOÊMIADUQUE RIODEJANEIRO/RJ VENHA Um ser não me deixa dormir Esteja lá ou aqui No mundo da minha invenção Sei que não posso mais Negar você e ter paz Como uma Fênix Você ressurge Banhado em água e luz Pelas trevas me conduz Venha, Que agora é somente existir Sentir, não tentar resistir A esse gosto de tudo Que é bom Venha, Não tente Nem me deixe fugir Queixa haverá de existir Só não vale enganar e mentir.
  • 83. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 83 PATRÍCIALINS SALVADOR/BA VEJO CORES EM P&B Vejo cores em P&B Vejo as cores. Quais cores? Vejo as cores que ali não estão, estando. Vejo as cores que ali são, não sendo. Vejo tantas mensagens, na mesma imagem, niveladas na mesma ausência de coloração numa expressão que esconde sem esconder revelando, sem revelar, o que ali de fato há. Vejo cores em preto e branco Vejo o que está. Vejo o que imagino estar... Vejo com olhos de quem lembra. Vejo com olhos de quem vê. Vejo com olhos de quem cria. Vejo para apenas admirar. É preciso muita segurança para, em preto e branco, expressar todas as cores, numa imagem congelada, num único plano, chapada. Enquadrada numa mesma posição, mas que traz o movimento, mesmo sem coloração, da lembrança, em forma de arte, no registro daquela ação, com toda a mesma vívida emoção! Vejo cores em preto e branco, porque eu vejo o que está lá. O que não está, ou me lembro, ou imagino: qual cor será? Ou me dou a liberdade para inventar! Vejo com o tato que não toca, porque não pode mais tocar naquele tempo passado, parado, congelado, clicado, num presente eternamente estampado. De repente, já não vejo... Sinto. Viajo. Estou lá! Naquela imagem “pretobranqueada”, Pelo tempo, amarelada, sem amarelar – pois amarelo não há... Eu toco e revivo, tudo, sem sair do lugar!
  • 84. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 84 PAULOBALÔBA SALVADOR/BA PODEMOS OU PERDEMOS A paz dos homens!? Vencer a ignorância Vencer a alienação Se, se fortalece pacificamente Não se engana pelos fortes A guerra dos homens... Derrota... derrota... deteriora... Na solidão do poder Pacifica a força Na fugaz derrocada do amor Só resta lutar! Pelo Amor Pela dor Pelo morrer E Ressuscitar!
  • 85. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 85 RAIBLUE SALVADOR/BA PADÊ DE CARNAVAL Com unhas vermelhas cor de sangue Arranho tuas negras colunas Pilares do meu querer Faço-me padê Para o teu Exu E em uma quarta-feira de cinzas Serei teu carnaval ainda Tu minha serpentina A correr solta pelo meu corpo A se enfiar na vagina Que te devora como deusa carnívora Orixá dona de tua cabeça (de baixo) Serás meu macho Senhor dos meus riachos Serei múltipla Menina, cortesã Rainha, Nanã Enquanto ri o dia Serei tua fantasia Então me vistas com tua carne em néon Quero minhas cores no teu marrom Quero teu tom recebendo a noite No afoxé do meu corpo Em estado de gozo Nenhuma gaza dividindo nosso Ilê.
  • 86. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 86 ROBERTORODRIGUES SALVADOR/BA MARIA VITÓRIA O mês de junho dia 30, anuncia a chegada do anjo MARIA VITÓRIA, Vem para iluminar o caminho de todos nós. Do seu pai Roberto Rodrigues Júnior, da sua mãe Andréia Cardoso, dos seus tios e tias, de Bado e Annette, de Glória e Roberto seus avós e bisavó Mafalda. Criança presente de Deus seja bem-vinda, Sinal de muita luz em um momento especial Momento que se eternizará em minha vida A sua chegada é uma superação essencial. MARIA VITÓRIA chega com cheirinho de novidade Vem como um sol morno após a chuva intensa Revive nossas esperanças de paz e fraternidade Representa o símbolo de uma alegria imensa. Seu nascimento, minha neta, vem envolto de muita doçura Dentro de mim explode de felicidade meu coração Você será aconchegada por todos envolta em ternura. Sua chegada coincide com meus momentos de conquistas e superação Acompanharei os seus passos segurando a sua mão Assim como faço e farei com todos os meus netos Cada de um de vocês, decerto, tem um lugar no meu coração Ser avô não é tarefa fácil mesmo sem estar todos os dia perto. Seu nome MARIA VITÓRIA, significa “Senhora soberana vitoriosa” É uma bênção alcançada por seus pais, uma luz divina, Certamente será meiga, confiante, disciplinada, gloriosa, Crescerá, será uma bela mulher com alma leve de menina.
  • 87. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 87 ROGERIOARAUJO(ROFA) SÃOGONÇALO/RJ EU QUERIA... A vida é uma eterna busca. Busca do que sonhamos E nunca conquistamos Mas sempre lutamos Em conquistar. Eu queria amar Eu queria namorar Eu queria casar Eu queria transar Eu queria viver. Viver a vida Sarar as feridas Enxugar as lágrimas Dar boas risadas Abraçar a felicidade, Quando ela chegar E nunca mais a largar Seja em forma de gente Ou em acontecimentos Sem aborrecimentos. Viver de verdade E sair da realidade Voando para os sonhos E para os desejos... Ah!..., eu queria....
  • 88. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 88 ROSANAPAULO SALVADOR/BA RECADO PRA MOÇA DE CABELO BLACK POWER E MINI SAIA EM UM DIA CHUVOSO Seu cabelo, moça não é bandido não prenda nem amarre seu cabelo, moça não é ruim assim como o tempo está apenas chuvoso seu cabelo, moça  não é duro como  diamante mas acho joia seu cabelo, moça não é assanhado e você de saia curta também não é assanhada é isso, moça saia pra chuva curta a vida de saia curta e cabelo solto
  • 89. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 89 SÉRGIOGUERRA SALVADOR/BA NO TABULEIRO DA BAIANA Quem me dera retornar aos tempos do carvão, a espera do Tempo da frigideira a fazer delícias do abará, acarajé e punheta. Eta! O tempo acelerado do bujão de gás, a correria dos shoppings e estações subtraíram o tamarineiro da infância, o estacionamento me assaltou a praia e o pôr do sol não existe nas falas fechadas, onde o ar condicionado me sequestrou o tempo que me trazia notícias do mundo e do Tempo. Mas de repente... Um cheiro me assalta no meio da rua, as suas cores me alegram os olhos, o seu sabor me sequestra rápido, o calor me aquece por inteiro, se a pimenta me aquece a alma, o dendê me adoça os beijos. Sou feliz: é por você Que me bate a “passarinha”.
  • 90. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 90 SUELILOPO SALVADOR/BA AMANHECEU TENHO QUE PARTIR Nunca pensei em me lamentar por um lindo amanhecer, Mas lamentavelmente amanheceu, tenho que ir. Levanto e olho você dormindo... Nossa! Meu Deus como você é lindo! Não tenho coragem de ir embora, porém o dever me chama. Minha vontade mesmo é de voltar pra cama e cobrir você de beijos, meu amor. Mas a vida é assim tenho que partir; Lá fora o mundo me espera tenho que seguir em frente, Pois existem outros que dependem de mim, Porém levo você em minha alma, Seu cheiro está impregnado na minha pele exalando em meus poros. E nos meus pensamentos, Eu jamais poderei ignorar as lembranças nos lençóis macios em chamas, Do desejo saciado que até Deus, Acredito eu, ficou escandalizado com as cenas mais inusitadas, Como a do elevador, Loucos, Loucos. Ah, isso nós somos! Na hora em que nos amamos, somos totalmente insanos, Mas louco mesmo é quem contém os desejos, Deixando de viver um belo momento por medo de se entregar.
  • 91. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 91 SUELYSABA SALVADOR/BA VOCÊ NÃO PODE ME DEFINIR A minha idade não me define A minha cor não me define O que me define são as minhas atitudes O meu caráter, a minha voz e até o meu silêncio. Sou pedaços de mim Flor em estado de observação O mato, a relva quando em bagunça total Visto-me tal qual a primavera quando chega E passo a criar o inverno em mim em busca do verão até o cansaço do outono em que as folhas caem e subtraem com a força do vento Sou suave e serena como a noite Macia como o sol que doura a nossa pele nos seus primeiros raios da manhã. A minha pele não me define O que sinto por você muito menos O que me define não é nada Mas tão somente é tudo Sou seu experimento, seu acalento Seu sabor de fruta mordida Sua paixão desmedida Seu mar na visão de um oceano Seu peixe que brinca nas águas A alegria de viver O encontro casual O amor que sucumbe em total entrega Não, você não me define Eu também não tenho essa pretensão Sou definida pelo acaso diante de suas proporções
  • 92. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 92 A minha boca não me define Ela é a minha fantasia para quem... O meu corpo não me define Ele é o repouso e o encontro de almas Meu desejo não me define Pois é a própria sensação de entrega e definição   Você não me define Você não sabe nem quem eu sou E talvez nem queira realmente saber... Por isso e muito mais é que você decididamente não me define...
  • 93. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 93 SUSANACAMPOS COIMBRA–PORTUGAL OS TEUS OLHOS os teus olhos que sinto em mim quando te abraço e se confundem na leveza do som dos dedos que em mim sinto e no sonho mostras que o amor é o maior dos sentimentos que em mim emergem será que a vida sofre será que quero ter o meu momento em ti? achas que me contenho e deslizo no teu sorriso sem dor? difícil forma de amar, a minha que te desejo sobre a espuma leve da magia que em mim eclode que em mim emerge que em mim sublime sinto são os teus dedos que me culpam e os sinto como meus e quero ter o meu momento que julgo ser eleita por nós
  • 94. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 94 TAÍSSACAZUMBÁ SALVADOR/BA TERRENOS Na ponte da realidade Vive apenas um homem Imagine essa realidade sem ponte Agora pense no homem sem realidade No vale dos sonhos Vive apenas um ser Imagine esses sonhos sem vale Agora pense no ser sem sonhos Na viela da vida Vive apenas uma criança Imagine essa vida sem viela Agora pense na criança sem vida No sítio do amor Vive apenas uma família Imagine esse amor sem sítio Agora pense na família sem amor
  • 95. COGITO – ANTOLOGIA POÉTICA 95 UMBERTOCERIO LARINO/CBMOLISE–ITÁLIA OUTROS LABIRINTI Ainda uma outra eclipse da luz E rios me fluem sobre as mãos. No coração do Estrimão Desesperado para o canto de Orfeu, do Estrimão o frio no coração e labirintos na alma e no escuro rapsódias inquietas. Mas ele não conseguiu sacudir aquele canto Astros e constelações e galáxias Pôr os vórtices ligados para virar? O tempo ao contrário da morte . Quem foi que não queria que fosse? Foi o roda de ĺxion ou o feroz barco de Caronte ou Eurídice que não queria voltar à luz, à vida e à fuga? Foi ela quem obrigou o Orfeu a virar, pelo nome a implorar, para mais uma vez tornar-se apenas uma sombra? Mas os rapsodos queriam cantar. E o sinal de um voo inquieto E uma alma roubada Um labirinto em risco, pôr o tempo? Que permanece na luz. Vamos ouvir aquel canto doloroso – até o último astro – Desesperado, por mil anos ainda. E das voltas dos dias a conta não retorna mais e os fantasmas vão subir do Lete sem uma Eurídice, – que, não, ela não quer morrer duas vezes – Orfeu em vão a esperar! E permanece no coração o Struma, e na alma todos os labirintos até o fogo feroz das estrelas Tradução: Rosanna Lapenna
  • 96. www.cogitoeditora.com Transformar pensamentos em realidade é o nosso compromisso. Esta obra foi impressa em ofsete sobre papel Alta Alvura LD 75g/m2 na Halley Gráfica S/A para a Cogito Editora em julho de 2015.