Este documento contém 10 canções tradicionais da região da fronteira entre Brasil e Uruguai. As letras celebram a cultura regional, incluindo a música chamamé, danças típicas e a vida nos ranchos. Muitas canções também homenageiam figuras importantes da cultura popular como curandeiros e contadores de histórias.
1. 01 - NAVEGADOR
Letra. Amaro Radox
Melodia Amaro Radox/Eduardo Freda e Rogers Lemes
Intérprete: Eduardo Freda
Cruzei a Lagoa dos Patos
rumo as águas do litoral
bons ventos conduzem meu barco
saindo da praia do Laranjal.
Passei pela ilha da Feitoria
Saragonha da ponta e do meio
Ilha Grande alegria
Viajei sem receio
Naveguei, naveguei
na onda sonora musical
ancorei, ancorei na
cultura afro-regonal
Trazendo tambor de sopapo
pra encontrar tambor maçambiqueiro
pra gente sambatucar
um som afro-gaúcho brasileiro
Na marejada me fiz poeta
cantador e rimador
pela arte popular
vim expressar o meu amor
Naveguei, naveguei
na onda sonora musical
ancorei, ancorei na
cultura afro-regional
De volta na minha praia
na minha casa de pau a pique
danço samba de raiz
samba de roda e maçambique
2. 02 - RANCHEIRA VÉIA
Letra: Eron Carvalho
Melodia: Sérgio Rosa
Intérprete: Juliano Javoski
Rancheira véia de saltar cavaco
De ajuntar os cacos com alguma xirua
Pra amanhecer num rancho barreado
Bem apaixonado contemplando a lua.
Rancheira véia flor de macanuda
Que não se desgruda do meu sapucay
Fazendo história no chão missioneiro
Nos ranchos costeiros beirando o Uruguai.
Rancheira véia sem eira nem beira
Que se faz grongueira quando a alma canta
Por onde passa espalha alegria
Lembra o Tio Bilia animando as bailantas.
Rancheira véia loca de buenacha
Que salta da caixa sem muito floreio
Vai retossando pela madrugada
Convidando a indiada para o sapateio.
Rancheira véia num trancão cuiudo
Vem quebrando tudo numa três ilheiras
Faz ferver a sala num bailão de estouro
De arranjar namoro para a vida Inteira.
3. 03 - SIÁ ANASTÁCIA BENZEDEIRA
Letra: Wilson Tubino
Melodia: Mário Tressoldi
Intérprete: Loma
Hum!.. Hum!.. Hum!..
Dão!... Darão!... Dandão!...
Copo d‟água, ramo verde, brasa acesa.
Pra todos males sempre tinha uma oração
Siá Anastácia preta “véia” benzedeira
Curandeira de renome no rincão
Pra tirar o mau “oiado” até bicheira
Sempre tinha na memória a falação,
Aprendera com a avó essa ciência
Feiticeira de um enorme coração.
Pelas preces não cobrava um só centavo
Pelas curas não cobrou nenhum tostão.
Hum!.. Hum!.. Hum!..
Dão!... Darão!... Dandão!...
Copo d‟água, ramo verde, brasa acesa.
Herdeira, viva, dessa antiga tradição.
Domingos e dias santos não benzia
Com sol posto não fazia as “oração”.
Foi assim que ela aprendeu, desde menina,
E seguia, sempre atenta, a vocação.
Bendizia pra inveja e pro quebranto,
Dessa gente nem sabia a procedência.
Siá Anastácia era forte de ternura
Sua vida dedicou pr‟esta ciência.
Hum!.. Hum!.. Hum!..
Dão!... Darão!... Dandão!...
Copo d‟água, ramo verde, brasa acesa.
Pelas curas não cobrou nenhum tostão!
4. 04 - SÓ TÔ LEVANDO NOS DEDOS
Letra: Silvestre Araújo e Amigo Souza
Melodia: Amigo Souza
Intérprete: Amigo Souza e Grupo Missões
Tenho o dom de fazer rimas
Isso nunca foi segredo
Mas nesse mundo veiaco
Só to levando nos dedo!
Pois toda a letra que faço
Sempre tem um fala mansa
Que leva a fama por mim
Que sou o pai da criança!
Até me chamam de artista
E a discordar não me atrevo
Pois correm atrás de mim
Mas prá cobrar o que devo
Não tenho e nem quero nada
Nem a “muié” tá em meu nome
Senão já tinham levado,
“Corvada”, “lôca” de fome!
Pega a dita, bota o nome
E acalca nos festivais
Leva o dinheiro e a fama
E não me procura mais.
Se fazem é de leitão,
Eu sendo o dono da cria
Matando cachorro a grito
tapado de judiaria!
Pra ver se a coisa melhora
Escrevo que nem um louco
E quanto mais me desdobro,
Cada vez ganho mais pouco
Nem abaixo de empurrão
Eu consigo ir pra frente
Não adianta, eu sou teimoso
Sou pior que dor de dente!
Pra cada santo uma vela
Eu sei que devo, não nego
Se precisar de um vintém
Não faço cantar um cego!
Mas sigo escrevendo versos,
No meio de tanta cobra
Se alguém pensar que eu to morto,
Talento tenho de sobra!
5. 05 - POR BAILADO E CHACARERA
Letra: Rogério Villagran
Melodia: André Teixeira
Intérprete: Juliana Spanevello
Retumbo de sons legueiros,
E um repicar de guitarras,
Com algo de chacareiro,
No Contraponto da farra...
Pela vida, vida à dentro
Baila, Baila, corpo e alma,
Anseios do mesmo centro,
Junto ao compasso das palmas...
Sona uma copla baguala,
Bordando o mundo de festa,
Que harmoniosamente embala,
O que o tempo nos empresta.
Tenho ganas de "escaramuça"
Canto, dança e polvadeira
Meu coração quando pulsa,
Tem pulsos de chacarera.
Hay um sorriso de estampa,
Na face da lua cheia,
Que acha que um moço pampa,
Só por ela sapateia,
Hay uma moça bonita,
Mais bonita quando passa,
Rodando a saia de chita,
Floreando um lenço por graça.
Por fora ser um bailado,
Ter por dentro, liberdade,
Sentir-se descompassado,
Num repique re ansiedade,
Tenho ganas de "escaramuça"
Canto, dança e polvadeira
Meu coração quando pulsa,
Tem pulsos de chacarera.
6. 06 - NAVEGANDO
Letra: Rodrigo Bauer
Melodia: Tuny Brum
Intérprete: Analise Severo
Vou navegando a vida,
Buscando um novo cais...
Os ventos da partida
Não retornarão jamais!
Os sonhos vão na proa,
Na praia eu vou deixar
Uma lembrança boa
Na areia pra maré levar...
Escrito sobre a tez da areia,
Que tempo poderá ficar
O enigma do meu segredo pra se revelar?
Por que nunca arriar as velas?
Por que jamais querer parar?
Por que seguir buscando o nada em nenhum
lugar?
Um dia eu escrevi na praia essa razão
Mas não me lembro do que fiz...
Somente o mar conhece o texto, mas nunca
me diz!
Um dia quero retornar da solidão...
O mar não volta bem assim...
Então só resta navegar me procurando em mim!
7. 07 - BENDITA ESSA GURIZADA
Letra: Jaime Brum Carlos
Melodia: Sabani Felipe de Souza
Intérprete: Dartagnan Portela e Ita Cunha
Bendita essa gurizada
que se pilcha e vai pra rua.
Galitos trocando as penas
recém apontando as puas.
Mateiam pelas esquinas
e avenidas das cidades
e enchem de telurismo
os bancos das faculdades.
O seu galpão é a varanda
de um prédio no condomínio
e os muros, cercas de pedra
que não prendem seus fascínios
pelas metáforas “gauchas”
das milongas e payadas
que escutam nos fins de tarde
nos piquetes das calçadas.
Meu verso canta e se encanta
Com estes jovens povoeiros
Que amam o nosso campo
Mesmo não sendo campeiros
Não se prendem a convenções
de pilchas pré-concebidas,
pois seu amor pelo pago
não tem cores nem medidas.
Trazem a xucra rebeldia
em repúdio aos preconceitos,
mas ante o Hino Riograndene
se perfilam, por respeito.
Seus olhos vislumbram campos
nas nuanças do pensamento
pendurados nas paredes
da sala do apartamento,
pois têm no subconsciente
raízes intemporais
e pulsando nas entranhas
a seiva dos ancestrais.
8. 08 - PRAIEIRO
Letra: Caio Martinez
Melodia: Adriano Sperandir
Intérprete: Adriana Sperandir e Caio Martinez
O litoral tem magia
Poção de uma feiticeira
Que rouba o amor da gente
Num gole de marisqueira
E a alma vai se entregando
Paixão para a vida inteira
Na qual toda onda bate
Como se fosse a primeira
De onde vem a doçura
No meio de tanto sal
Da formosura da praia
Beleza tão natural
Pra quem nasceu na areia
Parece ser tão normal
Olhar para o paraíso
Viver num cartão postal
Praieiro tem maresia
Em vez de ar no pulmão
Praieiro sente a onda
Batendo no coração
Praieiro é como o vento
Que leva a embarcação
Praieiro é o braço forte
No cio da rebentação
9. 09 - CIDADE DOS VENTOS
Letra: Cláudio Reinke/Mário Tressoldi e Chico Saga
Melodia: Jean Kirchof e Ita Cunha
Intérprete: Lú Schiavo, Jean Kirchoff e Grupo Chão de Areia
A linda lagoa espelha uma raça,
do afro-açoriano nasceu tradição;
o mate amigo, o riso na praça,
na luz do Divino uma procissão...
O velho que conta histórias de outrora,
o vento de agora, é luz, litoral...
O tambor que festeja a Nossa Senhora,
rosário de preces lá da catedral;
Na beira do morro tem terno e congada,
começa uma estrada pra todo país...
Na Estância da serra fiz minha morada,
seresta pra amada, eu canto feliz!
Caminhos se encontram na frente da igreja,
o largo que almeja a luz do saber...
O povo que laça, que canta e festeja,
que vive um rodeio pra nunca esquecer;
Dezembro é luz, é festa tão bela,
pra fé, tão singela, lembrar Conceição;
trazer Deus menino, abrir a janela
e as portas da casa do meu coração!
Minha cidade dos ventos,
meu cantar tem endereço,
é tudo que eu preciso,
muito mais que mereço...
É meu ponto de partida,
o meu fim e recomeço,
minha cidade dos ventos,
meu cantar tem endereço!
10. 10 - MILONGA FEITIÇO NEGRO
Letra: Diego Muller e João Sampaio
Melodia: Marco Aurélio Vasconcelos
Intérprete: Marco Aurélio Vasconcelos
Este ponteado de milonga
que em Mi menor se guasqueia
não é só da alma terrunha
que se forjou na peleia...
milonga é cura e feitiço
do outro lado do oceano...
palavra afro trazida
pelo escravo africano!
Milonga é o grito do povo...
milonga é força racial...
milonga é o orvalho da alma
contra a injustiça social!...
milonga é cura e feitiço
abençoando de novo
a causa da raça negra
e a luta do nosso povo!!!
Milonga... índia negreira...
de taba e senzala vem...
- Eu me derramo em milongas:
Sou índio e negro também!
Meu coração é um tambor
que pelos mares ressonga...
...vento índio de mensagem
que se transforma em milonga!!!
Alma... Terra... Tempo e vida
das senzalas para o mundo
das tabas às pátrias hermanas
foste o poço mais profundo...
negros e índios unidos
milongueiam na planura
que não tem credo, nem cores
é onde o ódio não perdura!
Cura pros males do mundo...
Feitiço para o cantor...
- Milonga bugra negreira
junta a guitarra e o tambor!...
Se a milonga vem da pampa
mostrando o que a pampa tem
eu sigo a tocar milongas
pois sou da pampa também!!!
11. 11 - CHAMAMECERA
Letra: Jaime Brum Carlos
Melodia: Sérgio Rosa
Intérprete: Taine Schettert e os Quatro Ventos
Sou da fronteira,
Chamamecera,
flor de campeira,
vida de alla.
Sou missioneira,
pele trigueira,
bem brasileira.
O que é que há?...
Eu tenho sangue
De castelhana,
Meio cigana,
E Guarany.
Uso bombacha,
Chapéu e faixa
Gaúcha e gaucha
Cunhatay.
Canto e não grito
E tenho dito.
Não acredito
Em assombração.
Entre os meus braços
Sobra espaço
Para um abraço
De coração.
Na primavera
Meu corpo espera.
Garras de fera,
Fogo e paixão.
Na pele nua
A luz da lua.
Sou toda tua.
Me dá a mão.
Em Ias mañanas
Eu sou chalana,
Alma ermana
Do Uruguai.
A voz dolente
Num de repente
Rompe as correntes
Num sapucay.
12. 12 - UM CHAMAMÉ...Y NADA MÁS..I
Letra: Diego Muller
Melodia: Marcelo de Araújo Nunes
Intérprete: Juliano Moreno
Espejo de che pueblero,
De mi gente misionera,
Que canto por otros pagos
Em mi copla guaranicera:
La bataraza bombacha...
Poncho de trama campera...
Y um passo antiguo em el cuerpo
Pa „una noche chamamecera...
Brazo pa ‟um tírón de potro,
AI salir de Ia tranquera...
Mañas de espuela, de horqueta
Y Del serviçio de frontera...
...Cada uno com su estrada,
Llevando pátria y bandera:
Ello com sul lazo fuerte
Y yo com mi verdulera!
Entonces, a mi viejo padre
- Medio criollo, médio avá -
Solo, em regalo, Le traigo
Um chamamé... y nada más