SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 139
Baixar para ler offline
INTRODUC¸ ˜AO `A L´OGICA MATEM´ATICA
V´ıtor Neves
Universidade de Aveiro
2002
INTRODUC¸ ˜AO ´A L´OGICA MATEM´ATICA
Introdu¸c˜ao
O texto que aqui apresentamos foi redigido durante o segundo semestre do ano lec-
tivo de 1993/94 como um conjunto de notas de apoio ´as aulas da disciplina semestral
L´ogica, do terceiro ano das licenciaturas em Matem´atica (para Ensino e com In-
form´atica) da Universidade da Beira Interior. Esta ´e a ´unica disciplina de qualquer
das licenciaturas onde a L´ogica Matem´atica pode ser estudada como ´area indepen-
dente de conhecimento.
Grosso modo, descrevemos aspectos das seguintes quest˜oes: em que consiste uma
proposi¸c˜ao ou uma f´ormula serem verdadeiras ou serem satisfaz´ıveis? Que ´e uma
dedu¸c˜ao? Que rela¸c˜oes poder˜ao ser estabelecidas entre veracidade, satisfazibilidade
e demonstrabilidade? O que ´e um algoritmo e que rela¸c˜ao existe entre algoritmos e
f´ormulas?
Pressup˜oe-se que o leitor tem treino de trabalho puramente formal, j´a foi exposto
a argumentos de cardinalidade ou por indu¸c˜ao transfinita e conhece estruturas
alg´ebricas. No caso dos alunos de L´ogica da UBI esses pressupostos s˜ao garanti-
dos pela precedˆencia da disciplina anual ´Algebra.
N˜ao tendo encontrado um texto em portuguˆes que cumprisse o nosso programa com
a eficiˆencia necess´aria para uma disciplina com as caracter´ısticas atr´as descritas e
n˜ao sendo especialistas em L´ogica Matem´atica, opt´amos por fazer uma tradu¸c˜ao com
modifica¸c˜oes e correc¸c˜oes de alguns cap´ıtulos de [H] e [MA], alicer¸cada em [E] e [BM].
Utiliz´amos tamb´em alguns exerc´ıcios de [BM] que nos pareceram particularmente
bons para ilustrar aspectos mais gerais de teoremas de aplica¸c˜ao aparentemente
restrita.
´Indice
1 L´ogica proposicional 5
1.1 Conectivos e f´ormulas bem formadas . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
1.2 Fun¸c˜oes de Boole; tautologias; formas normais . . . . . . . . . . . . . 9
1.3 Teoremas de substitui¸c˜ao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
1.4 Conjuntos de conectivos completos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
1.5 C´alculo Proposicional e tautologias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
1.6 C´alculo Proposicional: o Teorema de Dedu¸c˜ao. . . . . . . . . . . . . . 28
1.7 Completude do C´alculo Proposicional; consistˆencia. . . . . . . . . . . 31
2 L´ogica de Predicados (de primeira ordem) 39
2.1 Linguagens de primeira ordem: alfabeto, termos e f´ormulas. . . . . . 39
2.2 Interpreta¸c˜oes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43
2.3 Satisfazibilidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44
2.4 Exerc´ıcios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52
2.5 C´alculo de predicados; Teorema de Dedu¸c˜ao . . . . . . . . . . . . . . 53
2.6 Exerc´ıcios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59
2.7 Um Teorema de Completude . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60
2.8 Modelos; completude e compacidade. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71
2.9 EXERC´ICIOS. Uma introdu¸c˜ao a An´alise N˜ao-Standard . . . . . . . 73
2.10 Rela¸c˜oes e fun¸c˜oes aritm´eticas e recursivas. . . . . . . . . . . . . . . 83
3 Introdu¸c˜ao ´a Teoria de computabilidade 91
3.1 M´aquinas de Turing; fun¸c˜oes comput´aveis . . . . . . . . . . . . . . . 91
3.2 M´aquinas especiais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 98
3.3 Composi¸c˜ao e Recurs˜ao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 104
3.4 Rela¸c˜oes comput´aveis; operador de m´ınimo; fun¸c˜oes recursivas . . . . 110
3.5 Enumerabilidade m´aquina . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 118
3.6 Computabilidade , recursividade e aritm´etica . . . . . . . . . . . . . . 122
3.7 Incompletude da Aritm´etica I: teorema de Tarsky . . . . . . . . . . . 124
3.8 Incompletude da Aritm´etica II: axiomatiza¸c˜ao . . . . . . . . . . . . . 130
3.9 Incompletude da Aritm´etica III: demonstra¸c˜oes . . . . . . . . . . . . 133
Cap´ıtulo 1
L´ogica proposicional
1.1 Conectivos e f´ormulas bem formadas
Nos exemplos adiante ´e poss´ıvel decompor a afirma¸c˜ao o completa em asser¸c˜oes con-
stituintes mais simples mediante part´ıculas de conex˜ao gramatical. Os conectivos
que nos interessam para j´a s˜ao dados na seguinte tabela
conectivo nome leitura
≈ nega¸c˜ao n˜ao
∧ conjun¸c˜ao e
⇒ implica¸c˜ao implica
⇔ equivalˆencia ´e equivalente a
Exemplos 1.1.1 Designando as asser¸c˜oes constituintes por p, q e r podemos obter
as estruturas indicadas em cada caso – os parenteses s˜ao utilizados apenas como
sinais de pontua¸c˜ao.
1. Como dois mais trˆes ´e igual a cinco e quatro mais um tamb´em (´e igual a
cinco), ent˜ao dois mais trˆes ´e igual a quatro mais um.
(p ∧ q) ⇒∼ r
2. Se a equa¸c˜ao x5
+ x4
− x3
− x2
+ x + 1 = 0 tiver cinco raizes reais, elas n˜ao
s˜ao todas negativas.
p ⇒ r
3. Toda a fun¸c˜ao real de vari´avel real e cont´ınua, definida num intervalo, toma
todos os valores entre quaisquer dois que tome, em particular o polin´omio
x → x2
toma todos os valores entre zero e quatro.
p ⇒ q
Enquanto o primeiro exemplo n˜ao tem impl´ıcita qualquer quantifica¸c˜ao, os outros
envolvem quantificadores a v´arios n´ıveis de complexidade. No entanto n˜ao nos inter-
essa de imediato esse aspecto. De facto, pretendemos, de momento, apenas organizar
de uma certa forma um conjunto de express˜oes independentemente do significado que
lhes possa ser atribuido , para al´em de a organiza¸c˜ao ter sido motivada pela forma
de racioc´ınio mais frequentemente utilizada: o silogismo itmodus ponens .
Mais precisamente, pretende-se estudar uma linguagem com os seguintes s´ımbolos:
s´ımbolos proposicionais pi(i ∈ N), os conectivos definidos acima e parente-
ses como sinais de pontua¸c˜ao. Nestes termos uma express˜ao ´e uma sequˆencia de
conectivos, s´ımbolos proposicionais e parenteses.
Observa¸c˜ao: para n˜ao sobrecarregar a nota¸c˜ao, em situa¸c˜oes onde se considerem
poucos s´ımbolos proposicionais estes ser˜ao designados por distintas letras min´usculas
sem sub´ındices.
Defini¸c˜ao 1.1.2 (F´ormula proposicional bem formada ou fpbf ou F´ormula
proposicional)
1. Um conjunto de express˜oes diz-se indutivo se contiver os s´ımbolos proposi-
cionais e contendo express˜oes α e β tamb´em cont´em (∼ α ), (α ∧ β), (α ∨ β),
(α ⇒ β) e (α ⇔ β).
2. O conjunto das f´ormulas proposicionais ´e a intersec¸c˜ao de todos os
conjuntos indutivos de express˜oes.
Designaremos o conjunto das f´ormulas proposicionais por .
Exerc´ıcio 1.1.3 Mostre que ´e indutivo
A demonstra¸c˜ao do teorema seguinte ´e agora imediata a partir da defini¸c˜ao de
Teorema 1.1.4 (Princ´ıpio de Indu¸c˜ao)
Qualquer conjunto indutivo de fpbfs ´e o conjunto de todas as fpbfs.
O teorema seguinte sugere uma m´aquina que destinge as fbfb de outras express˜oes(veja-
se o exemplo 1.1.7.4 e [E;1.4,p´ag.41])
7
Teorema 1.1.5 (Unicidade de leitura)
Uma fpbf ou ´e um s´ımbolo proposicional ou ´e de uma das formas (∼ α), (α ∧ β) ,
(α ∨ β), (α ⇒ β) ou (α ⇔ β), para fpbfs α ou β.
Dem. Seja C o conjunto cujos elementos s˜ao os s´ımbolos proposicionais ou as
express˜oes que se obtˆem a partir de fpbfs como descrito no enunciado. Como ´e
indutivo C ⊆ . Basta agora mostrar que C ´e ele pr´oprio indutivo e aplicar o
Princ´ıpiode Indu¸c˜ao.
O algoritmo consiste ent˜ao em construir uma ”´arvore invertida”come¸cando na ex-
press˜ao dada e que dever´a ter como ”folhas”s´ımbolos proposicionais 1
. Por exemplo
(((p ⇒ q) ∨ r) ⇒ (s ⇒ (r1 ∧ s2)))
((p ⇒ q) ∨ r) (s ⇒ (r1 ∧ s2))
(p ⇒ q) r s (r1 ∧ s2 )
p s r1 s2
Exerc´ıcios 1.1.6
1. Mostre que qualquer fpbf ´e equilibrada , i.e., o n´umero de parenteses esquerdos,
(, que ocorre na f´ormula ´e igual ao n´umero de parenteses direitos, ).
2. O comprimento de uma express˜ao ´e o n´umero de s´ımbolos que a constituem.
Mostre que n˜ao existem fpbfs de comprimentos 2, 3 ou 6, mas quaisquer outros
comprimentos s˜ao poss´ıveis.
Omiss˜ao de parenteses Com a defini¸c˜ao 1.1.2 as express˜oes nos exemplos
1.1.1 n˜ao s˜ao fpbf, mas simplifica¸c˜oes n˜ao amb´ıguas que viremos a utilizar
sistematicamente por uma quest˜ao de simplicidade de escrita. Eliminam-se
parenteses nas fpbfs aplicando na ordem indicada as regras que se apresen-
tam a seguir.
1. Eliminam-se os parenteses exteriores
2. ∼ aplica-se ´a fpbf mais curta que se lhe segue ´a (direita)
3. ∧ e ∨ aplicam-se, na ordem em que ocorrem da direita para a esquerda ,
´as fpbf adjacentes mais curtas (veja-se o exemplo 1.1.7.1)
1
ver p´agina 4
4. ⇒ e ⇔ aplicam-se, na ordem em que ocorrem da direita para a esquerda
, `as fpbf adjacentes mais curtas.
Exemplos 1.1.7
1. A aplica¸c˜ao exaustiva das regras 3 ou 4 pode confundir mais que ajudar: (p
∧(q∨r)) simplifica para p ∧ q ∨ r ; parece-nos no entanto mais claro ficar por
p ∧(q ∨ r).
2. A f´ormula ((p ∧ (∼ q)) ∨ (r ∨ (s ∧ (∼ p)))) poderia ser simplificada do seguinte
modo, j´a tomando em conta o exemplo anterior,
((p ∧ (∼ q)) ∨ (r ∨ (s ∧ (∼ p)))) → (p ∧ (∼ q)) ∨ (r ∨ (s ∧ (∼ p)))
→ (p∧ ∼ q) ∨ (r ∨ (s∧ ∼ p)) → (p∧ ∼ q) ∨ r ∨ (s∧ ∼ p)
3. Tem-se tamb´em a seguinte cadeia de simplifica¸c˜oes:
(((p ⇒ q) ∨ r) ⇒ (s ⇒ (r1 ∧ s2))) → ((p ⇒ q) ∨ r) ⇒ (s ⇒ (r1 ∧ s2))
→ ((p ⇒ q) ∨ r) ⇒ (s ⇒ r1 ∧ s2) → ((p ⇒ q) ∨ r) ⇒ s ⇒ r1 ∧ s2
→ (p ⇒ q) ∨ r ⇒ s ⇒ r1 ∧ s2
4. Reciprocamente, os parenteses podem repor-se do seguinte modo
p ⇒ q ∨ r ∧ s ⇒∼ p∧ ∼ q → p ⇒ q ∨ r ∧ s ⇒ (∼ p) ∧ (∼ q)
→ p ⇒ q ∨ (r ∧ s) ⇒ ((∼ p) ∧ (∼ q))
→ p ⇒ (q ∨ (r ∧ s)) ⇒ ((∼ p) ∧ (∼ q))
→ (p ⇒ ((q ∨ (r ∧ s)) ⇒ ((∼ p) ∧ (∼ q))))
Exerc´ıcios 1.1.8
1. Omita o maior n´umero poss´ıvel de parenteses nas seguintes f´ormulas
(a) ((p ∧ (q ∨ r)) ⇔ ((p ∧ q) ∨ (p ∧ r)))
(b) ((p ∨ (q ∧ r)) ⇔ ((p ∨ q) ∧ (p ∨ r)))
(c) ((∼ (∼ p)) ⇔ p)
(d) (∼ (p ⇒ q) ↔ (p ∧ (∼ q)))
(e) (p ∨ (∼ p))
(f) (∼ (p ∧ (∼ p)))
(g) (((p ∧ q ⇒ r) ⇔ (p ⇒ (q ⇒ r)))
9
2. Reponha os parentˆeses nas f´ormulas seguintes
(a) p ∧ q ⇒ r ∨ s
(b) (p ∧ q) ∨ r∧
(c) p ∨ q ∨ r ∧ s
(d) (∼ p ∨ q ⇒ r) ⇔ p ∧ yq ∨ r
(e) ∼ p ∨ q ⇒ r ⇔ p ∧ yq ∨ r
1.2 Fun¸c˜oes de Boole; tautologias; formas nor-
mais
De um modo natural, cada α ∈ {∼ p, p ∧ q, p ∨ q, p ⇒ q, p ⇔ q} origina uma
fun¸c˜ao fα
, definida de uma potˆencia cartesiana do conjunto V dos valores l´ogicos V
(verdadeiro) e F (falso) em si mesmo; estas fun¸c˜oes s˜ao dadas pelas seguintes tabelas
de verdade
f∼p
: V → V
X f∼p
(X)
v F
F V
fα
: V → V(α ∈ {p ∧ q, p ∨ q, p ⇒ q, p ⇔ q})
X Y fp∧q
(x, y) fp∨q
(x, y) fp⇒q
(x, y) fp⇔q
(x, y)
V V V V V V
V F F V F F
F V F V V F
F F F F V V
Tamb´em podemos associar aos conectivos fun¸c˜oes definidas de
potˆencias cartesianas do conjunto das express˜oes para ele pr´oprio; por exemplo
f∧
(p, q) = p ∧ q. Deste modo cada fpbf ou ´e um s´ımbolo proposicional ou ´e uma
imagem de uma sequˆencia de s´ımbolos proposicionais por uma composi¸c˜ao destas
fun¸c˜oes (e de projec¸c˜oes e imers˜oes); por exemplo
p ∧ q ⇒ r ∨ s = f⇒
(f∧
(p, q), f∨
(r, s)).
Assim, cada fpbf α , digamos que com n s´ımbolos proposicionais
(n ∈ N), define uma fun¸c˜ao 2
fα
: Vn
→ V; por exemplo, se α = p ∧ q ⇒ r, fα
:
ν3
→ ν ter´a a seguinte tabela
x1 x2 x3 fα
(x1, x2, x3)
V V V V
V V F F
V F V V
V F F V
F V V V
F V V V
F V F V
F F V V
F F F V
As tabelas de verdade podem obter-se de um modo simples, se bem que formal-
mente menos correcto, identificando adequadamente fun¸c˜oes de Boole e conectivos
e subentendendo a substitui¸c˜ao de s´ımbolos proposicionais por vari´aveis em V , com
uma disposi¸c˜ao de c´alculo conveniente; por exemplo para α = (p ∧ q) ⇒ r tem-se a
seguinte
tabela:
p ∧ q ⇒ r
V V V V V
V V V F F
V F F V V
V F F V F
F F V V V
F F V V F
F F F V V
F F F V V
F F F V F
´As fun¸c˜oes fα
: Vn
→ V d´a-se o nome de fun¸c˜oes de Boole e temos vindo a
observar que
(1.2.1) toda a fpbf define uma fun¸c˜ao de Boole
Veremos adiante que tamb´em toda a fun¸c˜ao de Boole ´e da forma
fα
para alguma fpbf α
2
ver p´agina 7
11
Exerc´ıcios 1.2.1
1. Determine as fun¸c˜oes de Boole para as seguintes f´ormulas
(a) (p ∧ q) ∨ (∼ p∧ ∼ q)
(b) (p∧ ∼ q) ∨ (∼ p ∧ q)
(c) (p ⇒ q) ∧ (q ⇒ p)
(d) ∼ (p ∨ q)
(e) ∼ (p ∧ q)
(f) p ⇒ q ⇒ p
(g) (p ⇒ q ⇒ r) ⇒ (p ⇒ q) ⇒ p ⇒ r
(h) (∼ p ⇒∼ q) ⇒ (q ⇒ p)
2. Determine f´ormulas α de modo que cada uma das seguintes fun¸c˜oes de Boole
seja da forma fα
.
(a) f : V → V ≡ f(V ) = f(F) = F
(b) f : V → V ≡ f(V ) = f(F) = V
(c) f : V → V ≡ f(x, y) = V sse x = y
(d) f : V → V ≡ f(x, y) = V sse x ≥ y, sendoF < V.
Exerc´ıcios 1.2.2 Uma tautologia ´e uma fpbf α cuja fun¸c˜ao fα
toma s´o o valor
V. Nota-se |= α se α ´e uma tautologia.
Uma lista de tautologias importantes
(T1) Associatividades : c ∈ {∧, ∨, ⇔}
pc(qcr) ⇔ (pcq)cr)
(T2) Distributividades
p ∧ (q ∨ r) ⇔ (p ∧ q) ∨ (p ∧ r) p ∨ (q ∧ r) ⇔ (p ∨ q) ∧ (p ∨ r)
(T3) Nega¸c˜oes
∼ (∼ (p)) ⇔
p ∼ (p ⇒ q) ⇔ (p∧ ∼ q) ∼ (p ⇔ q) ⇔ (p∧ ∼ q) ∨ (∼ p ∧ q)
(T4) Leis de De Morgan
∼ (p ∨ q) ⇔∼ p∧ ∼ q ∼ (p ∧ q) ⇔∼ p∨ ∼ q
(T5) Princ´ıpio do terceiro excluido
p∨ ∼ p
(T6) Princ´ıpio da n˜ao contradi¸c˜ao
∼ (p∧ ∼ p)
(T7) Lei de convers˜ao
(p ⇒ q) ⇔ (∼ q ⇒∼ p)
(T8) Regra de exporta¸c˜ao
(p ∧ q ⇒ r) ⇔ (p ⇒ (q ⇒ r)
Exerc´ıcio 1.2.3 Mostre que cada (Ti) (1 ≤ i ≤ 8) ´e uma tautologia.
Retomando a observa¸c˜ao (1.2.1), pode por-se a quest˜ao de se saber quando duas
f´ormulas definem a mesma fun¸c˜ao de Boole. A resposta ´e dada mediante a seguinte
Defini¸c˜ao 1.2.4 Duas fpbfs α e β dizem-se tautologicamente equivalentes se
α ⇔ β for uma tautologia.
Por exemplo p∨ ∼ p e q ⇒ q s˜ao tautologicamente equivalentes – e compostas de
s´ımbolos proposicionais distintos; para uma maior clareza de exposi¸c˜ao no que vai
seguir-se, tome-se em conta a seguinte observa¸c˜ao: Se uma f´ormula α ´e constituida
de s´ımbolos proposicionais escolhidos de entre p1 a pn, mas n˜ao necessariamente de
todos eles, poderiamos pensar numa fun¸c˜ao de Boole associada, digamos
(x1, ..., xn) → Fα
(x1, ..., xn) cujo valor dependeria apenas das vari´aveis x1j
corre-
spondentes aos s´ımbolos proposicionais pij
que ocorrem de facto em α (j=1,...,m);
ter se-ia ent˜ao
Fα
(x1, ..., xn) = fα
(x1, ..., xn)
13
Para n˜ao tornar o discurso demasiadamente pesado
identificaremos as fun¸c˜oeses Fα
fα
. 3
Conv´em observar ainda que, para fpbfs α e β , cujos s´ımbolos proposicionais est˜ao
em {p1, ..., pn} , e conectivos bin´arios c
(1.2.2) f∼α
(p1, ..., pn) = f∼p
(fα
(p1, ..., pn))
(1.2.3) fαcβ
(p1, ..., p2) = fpcq
fα
(p1, ..., p2), fβ
(p1, ..., p2)
Elementos suficientes para demonstrar estas igualdades podem encontrar-se em
[E;1.2]. Com estas observa¸c˜oes ´e simples demonstrar o
Teorema 1.2.5 Duas fpbfs cujos s´ımbolos proposicionais est˜ao em {p1, ..., pn} de-
finem a mesma fun¸c˜ao de Boole sse s˜ao tautologicamente equivalentes.
Dem |= α ⇔ β sse fα⇔β
sse (fα
, fβ
) ≡ V sse fα
efβ
tomam o mesmo valor em
qualquer argumento, i. e., s˜ao iguais.
q.e.d.
Vamos ent˜ao provar a rec´ıproca de (1.2.1), a saber:
Teorema 1.2.6 Toda a fun¸c˜ao de Boole b : Vn
→ V(n ∈ N0) ´e da forma fα
, para
alguma fpbf α .
Dem
I. Se b ≡ F, tome α = p1∧ ∼ p1.
II. Caso em que b n˜ao ´e identicamente F.
Sejam Xi = (xi1 , ..., xin ) ∈ Vn
(i=1,...,k) as sequˆencias para as quais
b(Xi) = V
Defina-se para cada i=1,...,k
3
Veja-se [E;1.5,pag.46]
βij =



pj se Xij = V ;
(j = 1, ..., n)
∼ pj se Xij = F .
γi =
n
j=1
βij α =
k
i=1
γij
Observe-se que cada γi, de certo modo, descreve a sequˆencia Xi e, portanto, α lista
exactamente as sequˆencias em que b vale V.
Resta mostrar que fα
= b : ora fα
vale V sse uma das fγi
vale V e cada fγi
vale
V apenas em Xi ; portanto fα
(X)=V sse X=Xi, para algum i=1,...,k, como se
pretendia.
q.e.d.
Estes dois ´ultimos teoremas tˆem uma interessant´ıssima consequˆencia. Diz-se que
uma fpbf tem forma normal dijuntiva se for da forma
α =
n
j=1
βij
em que
γi =
n
j=1
βij (i=1,...,k)
e os βij s˜ao s´ımbolos proposicionais ou nega¸c˜oes de s´ımbolos proposicionais. Tem-se
Corol´ario 1.2.7 Qualquer fpbf ´e tautologicamente equivalente a uma f´ormula na
forma normal dijuntiva.
Dem O corol´ario ´e , de facto, consequˆencia da demonstra¸c˜ao: mostrou-se que
qualquer fun¸c˜ao de Boole ´e representada por uma fpbf na forma normal dijuntiva.
q.e.d.
Repare-se que as tautologias e as contradi¸c˜oes, i. e., as f´ormulas cujas fun¸c˜oes de
Boole s˜ao identicamente falsas, s˜ao tautologicamente equivalentes a fpbfs de formas
normais muito simples: respectivamente p1∨ ∼ p1 e p1∧ ∼ p1 ou, se se insistir
em que cada conectivo ∧ e ∨ ocorra pelo menos uma vez, ainda respectivamente
(p1 ∧ p1) ∨ (∼ p1∧ ∼ p1) e (p1 ∧ p1) ∨ (p1∧ ∼ p1).
15
Exerc´ıcio 1.2.8 Uma fpbf α diz-se na forma normal conjuntiva se existirem
fpbfs γi tais que
α =
n
j=1
γi
em que
γ = n
j=1 βij (i = 1, ..., k)
e os βij s˜ao s´ımbolos proposicionais ou nega¸c˜oes de s´ımbolos proposicionais. Mostre
que qualquer fpbf ´e tautologicamente equivalente a uma fpbf na forma normal con-
juntiva.
1.3 Teoremas de substitui¸c˜ao
No que se segue vamos utilizar frequentemente as igualdades em (1.2.2) e (1.2.3).
Teorema 1.3.1 Sejam α e β f´ormulas bem formadas. Se α e α ⇒ β s˜ao tautolo-
gias, ent˜ao β ´e uma tautologia.
Dem. Suponha-se que α e β tˆem s´ımbolos proposicionais entre p1, ..., pn . Por
hip´otese |= α e |= β e da´ı fα
: Vn
→ V e fα⇔β
: Vn
→ V valem identicamente V.
Considerando tamb´em (1.2.3), temos que, para qualquer (x1, ..., xn) ∈ Vn
V = fα⇔β
(x1, ..., xn), = fp⇔q
(fα
(x1, ..., xn), fβ
(x1, ..., xn)), = fp⇔q
(V, fβ
(x1, ..., xn))
Como o ´unico Y ∈ ν para o qual fp⇔q
(V, Y ) = V ´e o mesmo V, concluimos que
fβ
(x1, ..., xn) ´e identicamente V, i. e., |= β
q.e.d.
As condi¸c˜oes(1.2.2)e(1.2.3) indicam, de certo modo, casos particulares do seguinte:
se os s´ımbolos proposicionais p1, ...pn de uma fpbf qualquer τ s˜ao substituidos re-
spectivamente por fpbfs β1, ..., βn e denotarmos por τ∗
a fpbf resultante, ent˜ao
(1.3.1) fτ∗
(x1, ..., xn) = fτ
(fβ1
(x1, ..., xn), ..., (fβn
(x1, ..., xn)) 4
O caso em que τ ´e uma tautologia ´e de particular importˆancia.
4
Uma demonstra¸c˜ao desta igualdade pode fazer-se de acordo com [E; 1.3.ex.7, p´ag 38]
Defini¸c˜ao 1.3.2 Uma fpbf α diz-se a realiza¸c˜ao da tautologia τ se verificarem
as seguintes condi¸c˜oes
1. |= τ
2. α obt´em-se substituindo cada ocorrˆencia de cada s´ımbolo proposicional pi em
τ por uma fpbf βi .
Por exemplo a f´ormula α = p1 ∧ p5 ⇔ p1 ∧ p5 realiza a tautologia τ = p1 ⇔ p6 com
β5 = p1 ∧ p5 e as tautologias s˜ao trivialmente realiza¸c˜oes de si pr´oprias.
Teorema 1.3.3 As realiza¸c˜oes de tautologias s˜ao tautologias
Dem Basta observar que fτ
´e identicamente V sempre que τ ´e uma tautologia.
q.e.d.
Recapitulando a lista de tautologias (Ti) das p´aginas 8 e 9 e mostrando que |= p∧q ⇔
q ∧ p, |= p ∨ q ⇔ q ∨ p e |= (p ⇔ q) ⇔ (q ⇔ p) pode concluir-se
Corol´ario 1.3.4 Para quaisquer fpbf α ,β e γ as seguintes f´ormulas s˜ao tautologias:
α(βcγ) ⇔ (αcβ)cγ (αcβ) ⇔ (βcα) (c ∈ {∧, ∨, ⇔}
α ∧ (β ∨ γ) ⇔ (α ∧ β) ∨ (α ∧ γ) α ∨ (β ∧ γ) ⇔ (α ∨ β) ∧ (α ∨ γ)
∼ (∼ α) ⇔ α ∼ (α ⇒ β) ⇔ (α∧ ∼ β)
∼ (α ⇔ β) ⇔ (α∧ ∼ β) ∧ (∼ α ∧ β)
∼ (α ∨ β) ⇔∼ α∧ ∼ β ∼ (α ∧ β) ⇔∼ α∨ ∼ β
α∨ ∼ α ∼ (α∧ ∼ α)
(α ⇒ β) ⇔ (∼ β ⇒∼ α) (α ∧ β ⇒ γ) ⇔ (α ⇒ (β ⇒ γ))
Pela sua importˆancia na formaliza¸c˜ao de regras de inferˆencia convir´a tamb´em ter
presente o seguinte
Corol´ario 1.3.5 Para quaisquer α, β ∈ , |= α ∧ β ⇒ α e |= α ∧ β ⇒ β e |= α ⇒
α ∨ β e |= β ⇒ α ∨ β
17
Podemos tamb´em substituir fpbf componentes por outras fpbfs.
Neste caso o processo consiste em substituir ”n´os”da ”´arvore”referida imediatamente
antes de 1.1.6 por outras fpbfs e tem-se o
Teorema 1.3.6 Se a fpbf γ(α → β) se obt´em da fpbf γ substituindo em γ ocorrˆencias
da fpbf α pela fpbf β e α ´e tautologicamente equivalente a β, ent˜ao γ(α → β) ´e tau-
tologicamente equivalente a γ .
Dem. Suponha-se que α, β ∈ e que |= α ⇔ β. Com a nota¸c˜ao do enunciado, seja
C = {γ ∈ ι :|= γ ⇔ γ(α → β)}. Vamos ver que C = mostrando que C ´e indutivo.
1o
: Se p ´e um s´ımbolo proposicional, ent˜ao p ∈ C. Neste caso, γ =p, s´o pode acon-
tecer γ = α = β, portanto γ = γ(α → β) =p e, como |= p ⇔ p, p ∈ C.
2o
: Se γ ∈ C , ent˜ao (∼ γ) ∈ C.
Comecemos por observar que (∼ γ)(α ∼→ β) = (∼ γ(α → β)). Por hip´otese
|= γ ⇔ γ(α → β) e, por 1.3.3, |= (γ ⇔ γ(α → β)) ⇒ (∼ γ ⇔ γ(α → β)) donde
por 1.3.1, |= γ ⇔∼ γ(α → β) ou seja |= (∼ γ) ⇔ (∼ γ)(α → β), como se pretendia.
3o
: Se γ, δ ∈ C, ent˜ao para qualquer c ∈ {∧ , ∨, ⇔, ⇒}(γcδ) ∈ C.
Provamos apenas o caso em que c =⇒ , pois os outros casos s˜ao estudados analoga-
mente. Suponha-se que γ, δ ∈ C. Pretendemos mostrar que
|= (γ ⇒ δ) ⇔ (γ ⇒ δ)(α → β)
Repare-se que
(γ ⇒ δ)(α → β) = γ(α → β) ⇒ δ(α → β)
Assim pretende-se de facto mostrar que
(1.3.2)
|= (γ ⇒ δ) ⇔ (γ(α → β) ⇒ δ(α → β))
tendo-se, por hip´otese,
(1.3.3)
|= γ ⇔ γ(α → β) e |= δ ⇔ δ(α → β)
dado que γ, δ ∈ C.
Comecemos por observar que, por (1.2.3), se |= τ e |= σ, ent˜ao |= τ ∧ σ, portanto
resulta de (1.3.3) que
(1.3.4)
|= (γ ⇔ γ(α → β)) ∧ (δ ⇔ δ(α → β))
Ora tem-se tamb´em que, para quaisquer s´ımbolos proposicionais p,q, r e s,
|= ((p ⇔ r) ∧ (q ⇔ s)) ⇒ ((p ⇒ q) ⇔ (r ⇒ s))
Podemos agora utilizar o Teorema 1.3.3 para garantir que
|= ((γ ⇔ γ(α → β)) ∧ (δ ⇔ δ(α → β))) ⇒ ((γ ⇒ δ) ⇔ (γ(α → β) ⇒ δ(α → β)))
Utilizando o Teorema 1.3.1 e a asser¸c˜aoo (1.3.4) concluimos (1.3.2), como se pre-
tendia. O 30
caso est´a terminado.
O conjunto C ´e ent˜ao indutivo, como se queria mostrar.
q.e.d.
Uma consequˆencia imediata deste teorema permite simplificar bastante alguns c´alculos.
Corol´ario 1.3.7 Para fpbfs α, β e γ, se α ´e tautologicamente equivalente a β e β ´e
tautologicamente equivalente a γ, ent˜ao α ´e tautologicamente equivalente a γ.
Dem. Suponha-se que |= α ⇔ β e |= β ⇔ γ . De acordo com o teorema anterior
α ⇔ γ ´e tautologicamente equivalente a α ⇔ β, i. e.,
|= (α ⇔ β) ⇔ (α ⇔ γ). Segue-se que V≡ f(α⇔β)⇔(α⇔γ)
fp⇔q
(fα⇔β
, fα⇔γ
)
Por hip´otese fα⇔β
≡ V portanto fα⇔γ
≡, ou seja |= α ⇔ γ, i. e., α ´e tautologica-
mente equivalente a γ.
q.e.d.
19
A asser¸c˜ao seguinte ´e muito ´util para o estudo da forma em que podem ser rep-
resentadas por f´ormulas as fun¸c˜oes de Boole. A forma como a vamos demonstrar
´e tamb´em um exemplo de t´ecnica por vezes mais adequada que a utiliza¸c˜ao do
Princ´ıpio de Indu¸c˜ao.
Teorema 1.3.8 (Princ´ıpio de Dualidade)
Suponha-se que os ´unicos conectivos que ocorrem na fpbf γ s˜ao ∼, ∧, ou ∨. Seja
γ∗
a fpbf que se obt´em de γ s˜ao ∼, ∧, ou ∨ . Seja γ∗
a fpbf que se obt´em de γ
substituindo cada s´ımbolo proposicional pi por ∼ pi , cada ocorrˆencia de ∧ por ∨ e
cada ocorrˆencia de ∨ por ∧ . Ent˜ao γ∗
´e tautologicamente equivalente a ∼ γ.
Dem. Vamos utilizar indu¸c˜ao no n´umero de conectivos de γ.
1o
) γ tem zero conectivos. Neste caso, para algum s´ımbolo proposicional p, γ=p.
Segue-se que γ∗
=∼ p e ´e ´obvio que |= γ∗
⇔∼ γ.
2o
Suponha-se o teorema v´alido para qualquer fpbf com n conectivos. Seja γ uma fpbf
com n+1 conectivos. De acordo com o Teorema de Unicidade de Leitura 1.1.5, exis-
tem fpbfs, necessariamente com n conectivos, tais que uma das seguintes alternativas
se d´a
1. γ = (∼ α)
2. γ = (α ∧ β)
3. γ = (α ∨ β)
(note-se que ⇒ e ⇔ por hip´otese n˜ao ocorrem).
No caso 1),γ∗
=∼ α∗
e, por hip´otese de indu¸c˜ao, |= α∗
⇔∼ α. Pelo Teorema
1.3.3 tem-se |= (α∗
⇔∼ α) ⇒ (∼ α ⇔∼ (∼ α)). Conclui-se do Teorema 1.3.1 que
|=∼ α∗
⇔∼ (∼ α), i. e., |= γ∗
⇔∼ γ , como se pretendia.
No caso 2), γ∗
= (α ∧ β)∗
= α∗
∨ β∗
e, por hip´otese de indu¸c˜ao, |= α∗
⇔∼ α e
|= β∗
⇔∼ β . Utilizando convenientemente os teorema 1.3.1 e 1.3.3 conclui-se |=
(α∗
∨β∗
) ⇔ (∼ α∨ ∼ β). Acontece que, de novo por 1.3.3, |=∼ α∨ ∼ β ⇔∼ (α∧β).
Finalmente, utilizando 1.3.7, concluimos |= (α∗
∨β∗
) ⇔∼ (α∧β), i. e.,|= γ∗
⇔∼ γ,
como se pretendia.
O caso 3) trata-se de modo an´alogo a 2). q.e.d.
Abreviemos ”α ´e tautologicamente equivalente a β ”por ”α |=| β”.
Corol´ario 1.3.9
Sejam p1, ..., pn s´ımbolos proposicionais.
1.
n
i=1
(∼ pi) |=| ∼ (
n
i=1
pi)
2.
n
i=1
(∼ pi) |=| ∼ (
n
i=1
pi)
Dem.
i) obtem-se por aplica¸c˜ao do Princ´ıpio de Dualidade a
n
i=1
pi
ii) obtem-se por aplica¸c˜ao do Princ´ıpio de Dualidade a
n
i=1
pi q.e.d.
Aplicando o Teorema 1.3.3 obtem-se deste corol´ario
Teorema 1.3.10 (Leis de De Morgan) Para fpbfs α1, ..., αn tem-se
i)
n
i=1
(∼ αi) |=| ∼ (
n
i=1
(αi)
ii)
n
i=1
(∼ αi) |=| ∼ (
n
i=1
(αi)
Exerc´ıcio 1.3.3 Uma fpbf α diz-se na forma normal conjuntiva se existirem
fpbfs γi
α =
k
i=1
(γi)
em que
γi =
n
j=1
βij (i=1,...,k)
e os βij s˜ao s´ımbolos proposicionais ou nega¸c˜oes de s´ımbolos proposicionais. Mostre
que qualquer fpbf ´e tautologicamente equivalente a uma fpbf na forma normal con-
juntiva.
21
1.4 Conjuntos de conectivos completos
Um conjunto C de conectivos diz-se completo se for poss´ıvel representar todas as
fun¸c˜oes de Boole por fpbf onde ocorrem apenas conectivos pertencentes a C.
O Teorema 1.2.6 diz-nos de facto que qualquer fun¸c˜ao de Boole ´e representada por
uma fpbf na forma normal dijuntiva. Portanto
Teorema 1.4.1 O conjunto {∼, ∨, ∧} ´e completo.
Observando um pouco mais profundamente podemos mesmo afirmar.
Teorema 1.4.2 Os conjuntos {∼, ∧}, {∼, ∨}e{∼, ⇒} s˜ao completos.
Dem.
Recorde-se que fα = fβ sse α |=|β . Dada uma fun¸c˜ao de Boole f, o teorema
1.2.6. demonstra-nos que f= fα , para alguma fpbf α na forma normal dijuntiva;
se provarmos que qualquer fpbf α ´e tautologicamente equivalente a uma fpbf onde
s´o ocorrem os conectivos ∼ e ∨ ou ∼ e ∧ ou ∼ e ⇒ , concluimos que qualquer
fun˜ao de Boole ´e represent´avel por uma fpbf onde, em cada caso, ocorrem apenas os
conectivos costantes de cada um dos conjuntos em quest˜ao.
De acordo com o teorema 1.2.7 cada fpbf γ ´e tautologicamente equivalente a uma
γν
onde s´o ocorrem os conectivos ∼, ∧e∨. Vamos partir de γ para obter qualquer
das outras usando os teoremas de substitui¸c˜ao. Utilizaremos a nota¸c˜ao do Teorema
1.3.6.
Se em γV
ocorre η ∧ δ, tome-se γV
((η ∧ δ) → (∼ (∼ η ∨ δ)) e observe-se que
γV
((η ∧ δ) → (∼ (∼ η ∨ δ)) |=|γν
, pelo teorema 1.3.6; repetindo este processo
eliminam-se de γV
todas as ocorrˆencias de ∧; e γ |=|γV
, sendo γV
uma fpbf com
ocorrˆencias apenas de ∼ e. Para o segundo caso tome-se γV
((η ∨ δ) → (∼ (∼
η ∧ δ)), por cada ocorrencia de fpbfs da forma η ∨ δ. Analogamente se obt´em γ∧
tautologicamente equivalente a γ e onde s´o ocorrem os conectivos ∼ e ∧. Por exemplo
partindo de γ∧
podemos substituir subf´ormulas da forma η ∧δ por ∼ (η ⇒∼ δ), para
obter γ→
tal que γ⇒
|=|γ e em γ⇒
s´o ocorrem ∼ e ⇒ . q.e.d.
Exemplos 1.4.3 A fpbf (p∨ ∼ q) ⇒ (r ∧ s) ´e tautologicamente equivalente `as
seguintes:
∼ (p∨ ∼ q) ∨ (r ∧ s), ∼ (p∨ ∼ q)∨ ∼ (∼ r∨ ∼ s),
∼ (∼ (∼ p ∧ q) ∧ (r ∧ s)), (q ⇒ p) ⇒ (r ⇒∼ s).
Nem todos os conjuntos de conectivos s˜ao completos
Exemplos 1.4.4
1. {∼} n˜ao ´e completo: ´e muito f´acil mostrar que as fun¸c˜oes de Boole un´arias
constantes n˜ao podem ser representadas por fpbfs apenas com s´ımbolos proposi-
cionais e ∼ .
2. {∧, ⇔} n˜ao ´e completo. Vamos demonstrar esta afirma¸c˜ao por indu¸c˜ao no
n´umero de conectivos de fpbfs α onde s´o ocorrem os conectivos ∼ e ⇔ :
mostraremos que fα
toma o valor V se todas as suas vari´aveis valerem V,
portanto n˜ao ´e poss´ıvel representar por exemplo a fun¸c˜ao que vale identica-
mente F.
Se α tem zero conectivos, ent˜ao α ´e um s´ımbolo proposicional, digamos α = p; neste
caso fα
= fp
(V)=V. Admita-se que a afirma¸c˜ao vale quando ocorrem no m´aximo n
conectivos e suponha-se que α tem n+1 conectivos; necessariamente α = (β ∧ γ) ou
α = (β ⇔ γ), para fpbfs β e γ que ter˜ao quando muito n ocorrencias de conectivos
(∧ou ⇔). Atribuindo a todas as vari´aveis de fα
o valor V tem-se, considerando a
hip´otese de indu¸c˜ao,
fα
(V, ..., V ) = fp∧q
(fβ
(V, ..., V ), fα
(V, ..., V )) = fp∧q
(V, V ) = V
ou, analogamente
fα
(V, ..., V ) = fp⇔q
(fα
(V, ..., V ), fβ
(V, ..., V )) = fp⇔q
(V, V ) = V
Pelo Princ´ıpio de Indu¸c˜ao Matem´atica a afirma¸c˜ao sobre fα
vale com qualquer
n´umero de conectivos, como se pretendia.
Repare-se que na verdade qualquer tabela de valores l´ogicos V e F define um conec-
tivo – que poder´a ser un´ario bin´ario, tern´ario, etc. – sendo assim poss´ıvel definir ao
todo dezasseis conectivos bin´arios, dos quais at´e aqui estud´amos quatro.
Pode mostrar-se que {c} n˜ao ´e completo se c ∈ {∧, ∨, ⇔, ⇒}. No entanto
Teorema 1.4.5 Os conectivos Nor e Nand respectivamente designado por ↓ e |
e definidos pelas tabelas
p q p ↓ q p|q
V V F F
V F F V
F V F V
F F V V
23
formam cada um por si um conjunto completo.
Dem. Em virtude do teorema 1.4.2, bastar´a mostrar que ∼ p e p ∨ q s˜ao tauto-
logicamente equivalentes a fpbfs que s´o envolvam ↓ ou s´o envolvem |. Vejamos o
primeiro caso, come¸cando por notar que
p ↓ q |=| ∼ (p ∨ q)
Assim obt´em-se com 1.3.7 que
p ↓ p |=| ∼ p
e, consequentemente,
(p ↓ q) ↓ (p ↓ q) |=|(∼ (p ∨ q))
Como ∼ (∼ (p ∨ q)) |=|p ∨ q vem, por 1.3.7,
(p ↓ q) ↓ (p ↓ q) |=|p ∨ q
Para | , comecemos por notar que
p|q |=|(p ∧ q)
e da´ı
p|p |=| ∼ p
Como p∨ |=|(∼ p∧ ∼ q) tem-se
(p|p)|(q|q) |=|p ∨ q
´E um excelente exerc´ıcio de paciˆencia e concentra¸c˜ao exprimir ⇔ apenas com ↓ .
Exerc´ıcios 1.4.6 Para os exerc´ıcios seguintes tenha em conta que o Princ´ıpio de
Indu¸c˜ao 1.1.4 vale considerando o conjunto de conectivos ampliado com os que even-
tualmente venham a ser definidos; por exemplo, no exerc´ıcio 1 definimos o conectivo
<: deve juntar-se `a constru¸c˜ao de fpbf 1.1.2 que, se α e β s˜ao fpbf, (α < β) tamb´em
´e .
1. Defina o conectivo < pela tabela
p q p < q
V V F
V F F
F V V
F F F
Mostre que {∼, <} ´e completo, mas {<} n˜ao ´e .
2. Considere a fun¸cao de Boole f: V3
→ V definida pela tabela seguinte
X Y Z f(X, Y, Z)
V V V V
V V F V
V F V V
V F F F
F V V V
F V F F
F F V F
F F F F
a) Determine uma fpbf que represente f com apenas cinco conectivos. Identifique
cuidadosamente as aplica¸c˜oes de teoremas de substitui¸c˜ao.
b) Denote por o conectivo tern´ario definido pela tabela acima (conectivo de maio-
ria). Mostre que { } n˜ao ´e completo.
1.5 C´alculo Proposicional e tautologias
Nesta sec¸c˜ao vamos definir um processo de gerar todas as tautologias.
Simplificando a nota¸c˜ao tomaremos como primitivos apenas os conectivos ∼ e ⇒,
definindo todos os outros ´a sua custa, como abreviaturas – recorde-se que {∼, ⇒} ´e
completo (teorema 1.4.2) –. Assim a linguagem com que passamos a trabalhar ser´a
o conjunto dado por
= {α ∈ : α n˜ao tem ocorrˆencias de ∧, ∨ ou ⇔}
e as igualdades seguintes definem os conectivos ∧, ∨e ⇒
α ∧ β =∼ (α ⇒ (∼ β)) α ∨ β =∼ α ⇒ β a ⇔ β = (α ⇒ β) ∧ (β ⇒ α)
25
Com as devidas adapta¸c˜oes para vale o Princ´ıpio de Indu¸c˜ao 1.1.4 e o teorema de
Leitura ´unica 1.1.5.
As regras de c´alculo incluir˜ao um n´umero infinito de axiomas descritos por um
n´umero finito de esquemas – o que, atrav´es do teorema de leitura ´unica, permite um
m´etodo ”mecˆanico”de decidir se uma fpbf ´e ou n˜ao um axioma.
Defini¸c˜ao 1.5.1 O sistema formal L do C´alculo proposicional consiste no
seguinte:
i) O conjunto
ii)O conjunto de esquemas de axiomas: para quaisquer fpbfs α, β e γ, as seguintes
fpbfs s˜ao axiomas de L
( L 1) (α ⇒ (β ⇒ α))
( L 2) ((α ⇒ (β ⇒ γ)) ⇒ ((α ⇒ β) ⇒ (α ⇒ γ)))
( L 3) (((∼ α) ⇒ β) ⇒ (((∼ α) ⇒ (∼ β)) ⇒ α))
iii) A regra de inferˆencia modus ponens: para quaisquer α, β , de αe(α ⇒ β) ,
deduz-se (ou conclui-se) β .
Tal como observ´amos no in´ıcio (p´ag. 2) a regra de inferˆencia pretende formalizar o
processo b´asico de dedu¸c˜ao em matem´atica; este processo ´e ainda mais reflectido na
seguinte
Defini¸c˜ao 1.5.2 Uma dedu¸c˜ao em L ´e uma sequˆencia α1, ..., αn de fpbfs em que
cada αi (i=1,...,n) ´e um axioma ou resulta de duas fpbfs de menor ´ındice,αj e αk
(j,k<i), por aplica¸c˜ao de modus ponens. O n´umero n diz-se o comprimento da
dedu¸c˜ao. O ´ultimo termo , αn , de uma dedu¸c˜ao diz-se um teorema de L e a
sequˆencia diz-se uma dedu¸cao(em L ) de αn.
Repare-se que cada axioma ´e um teorema: tem uma dedu¸c˜ao cujo ´unico termo ´e ele
pr´oprio. ´E tamb´em simples de ver que qualquer segmento inicial α1, ..., αn (m<n) de
uma dedu¸c˜ao α1, ..., αn ´e uma dedu¸c˜ao e, portanto, qualquer termo de uma dedu¸c˜ao
´e um teorema. Obviamente o conjunto de premissas {αj, αk} para a conclus˜ao αi ´e
da forma {α, α ⇒ αi} para alguma fpbf α.
Vimos como o formalismo desenvolvido nas sec¸c˜oes anteriores pode servir para for-
malizar a linguagem corrente. Tamb´em vimos como esse formalismo pode servir
para tratar fun¸c˜oes de Boole que opt´arm mos por definir ´a custa de termos ”ver-
dadeiro”e ”falso-- mas poderiam muito bem ter sido definidas em termos de 0 e 1–
dando assim lugar a interpreta¸c˜oes em termos de circuitos el´ectrico (”desligado”e
”ligado”). 5
Para nos distanciarmos ainda mais dos poss´ıveis significados atribuiveis aos s´ımbolos
que estamos a utilizar temos a seguinte
Defini¸c˜ao 1.5.3 Uma valua¸c˜ao de L ´e uma fun¸c˜ao υ : → {0, 1} tal que, para
quaisquer α, β ∈ ,
i) υ(α) = υ(∼ α)
ii) υ(α ⇒ β) = 0 sse υ(α) = 1 e υ(β) = 0
Pode demonstrar-se que qualquer fun¸c˜ao υ definida do conjunto de s´ımbolos proposi-
cionais para {0, 1} se prolonga por uma valua¸c˜ao υ de modo que υ(α) depende apenas
dos s´ımbolos proposicionais que ocorrem em α . Observando que as valua¸c˜oes est˜ao,
por defini¸c˜ao, definidas em todos os s´ımbolos proposicionais, poderiamos reformu-
lar as sec¸c˜oes anteriores nas novas condi¸c˜oes. Esta possibilidade de reinterpreta¸c˜ao
pode ser levada mais longe ainda.
Defini¸c˜ao 1.5.4
Uma tautologia de L ´e uma fpbf α tal que υ(α)=1, para qualquer valua¸c˜ao υ .
Notaremos |=L α se α uma tautologia de L.
Esta no¸c˜ao de tautologia comporta-se como a da sec¸c˜ao 1.2 (veja-se o teorema 1.3.1):
Teorema 1.5.5 Para quaisquer α, β ∈ , se |=L α e |=L α ⇒ β , ent˜ao |=L β .
Dem Suponha-se que |=L α e |=L α ⇒ β e seja υ uma valua¸c˜ao. Por hip´otese
υ(α ⇒ β) = 1; portanto ou υ(α) = 0 ou υ(β) = 1 – por defini¸c˜a o de valua¸c˜ao
– e como υ(α) = 1 por hip´otese, necessariamente υ(β) = 1. Como υ foi tomada
arbitrariamente, |=L β.
Podemos j´a demonstrar uma parte do resultado para que nos encaminhamos.
5
O exerccio 1.4.6.2.a) pode ser interpretado em termos de encontrar circuitos mais simples para
os mesmos efeitos. Alias Nand e Nor s˜ao exemplos de blocos de constru¸c˜ao de circuitos (bastante
complicados...).
27
Teorema 1.5.6 (De boa fundamenta¸c˜ao)
Todos os teoremas de L s˜ao tautologias.
Dem. (Por indu¸c˜ao no comprimento das demonstra¸c˜oes)
Se α ´e um teorema que tem uma dedu˜ao de comprimento 1, α1 , ent˜ao α = α1 e α ´e
um axioma. ´E um exerc´ıcio de rotina verificar que todos os axiomas s˜ao tautologias.
Suponha-se que todos os teoremas que tˆem uma dedu¸c˜ao de comprimento menor ou
igual a n s˜ao tautologias e seja α um teorema demonstrado por α1, ..., αn+1 . Por
defini¸c˜ao α = αn+1 . J´a vimos que os axiomas s˜ao tautologias; vejamos o caso em
que α n˜ao ´e um axioma:
Como estamos a supor que α n˜ao ´e um axioma, existem αj, αk, β ∈ tais que
j,k<n+1 e αj = β e αj = β ⇒ α . Como qualquer segmento inicial α1, ..., αm (m ≤
n) ´e uma dedu¸c˜ao, por hip´otese de indu¸c˜ao |=L αj e |=L αk , i. e., |=L β e |=L β → α
; segue-se do Teorema 1.5.5 que |=L α, como se pretendia. Pelo Princ´ıpio de Indu¸c˜ao
Matem´atica todos os teoremas de L s˜ao tautologias.
Mostrar que todas as tautologias s˜ao teoremas de L ´e significativamente mais dif´ıcil.
O processo inicia-se na sec¸c˜ao seguinte. No entanto podemos j´a apresentar um teo-
rema de L
Teorema 1.5.7 Para qualquer α ∈ , α ⇒ α ´e um teorema de L.
Na dedu¸c˜oes descritas daqui em diante a coluna da direita indica a raz˜ao de escolha
da f´ormula (´e o que se pode chamar a justifica¸c˜ao); MP abrevia ”aplica¸c˜ao de modus
ponens”.
Dem.
α1 = (α ⇒ ((α ⇒ α) ⇒ α)) ⇒ ((α ⇒ (α ⇒ α)) ⇒ (α ⇒ α)) (L2)
α2 = α ⇒ ((α ⇒ α) ⇒ α) (L1)
α3 = ((α ⇒ (α ⇒ α)) ⇒ (α ⇒ α) (MP α1&α2)
α4 = α ⇒ (α ⇒ α) (L1)
α5 = α ⇒ α (MP α3 & α4)
q.e.d.
´E poss´ıvel estudar sistemas formais onde os conectivos primitivos s˜ao quaisquer
dos pares completos do teorema 1.4.2 – ou outros conjuntos, completos ou n˜ao –
no entanto ´e natural tomar a implica¸c˜ao como conectivo bin´ario primitivo j´a que
modus ponens ´e o processo fundamental de inferˆencia em matem´atica.
Exerc´ıcio 1.5.8 Mostre que {∼, ⇔} n˜ao ´e completo (SUG: mostre que as fun¸c˜aoes
de Boole representadas por fpbf onde s´o ocorram ∼ e ⇔ tomam um n´umero par de
vezes o valor V).
1.6 C´alculo Proposicional: o Teorema de Dedu¸c˜ao.
Como sabe quem estuda Matem´atica, frequentemente interessa tirar conclus˜oes de
conjuntos de premissas especificadas para al´em dos axiomas.
Defini¸c˜ao 1.6.1 Seja Γ um conjunto de fpbfs, i. e., Γ ⊆ . Diz-se que a sequˆencia
de fpbfs α1, ..., αn ´e uma dedu¸c˜ao a partir de Γ (em L ) se, para cada i (1 ≤ i ≤ n)
uma das condi¸c˜oes seguintes se verifica
1. αi ´e um axioma de L
2. αi ∈ Γ
3. αiobtem-se de duas fpbfs αj, αk(1 ≤ j, k ≤ i) por aplica¸c˜ao de modus ponens.
Nestas condi¸c˜oes diz-se que αn ´e dedut´ıvel de Γ (emL), αn ´e consequˆencia de
Γ(emL) ou que Γ prova αn . Se a fpbfα ´e dedut´ıvel de Γ escreve-se Γ L α. Aos
elementos de Γ chamam-se hip´oteses.
Uma leitura cuidada da defini¸c˜ao 1.5.3 mostra que os teoremas de L s˜ao as con-
sequˆencias de ∅; notaremos L α se α ´e um teorema. Um caso de aplica¸c˜ao frequente
´e descrito no seguinte
Teorema 1.6.2 Para quaisquer α, β, γ ∈ , {α ⇒ β, β ⇒ γ} L α ⇒ γ .
Dem.
α1 = (β ⇒ γ) ⇒ (α ⇒ (β ⇒ γ)) (L1)
α2 = β ⇒ γ (hipotese)
α3 = α ⇒ (β ⇒ γ) (α1, α2e MP)
α4 = (α ⇒ (β ⇒ γ)) ⇒ ((α ⇒ β) ⇒ (α ⇒ γ)) (L2)
α5 = (α ⇒ β) ⇒ (α ⇒ γ) (α3, α4 e MP)
α6 = α ⇒ β (hipotese)
α7 = α ⇒ γ (α5, α6 e MP)
29
q.e.d.
Deixa-se ao cuidado do leitor o estudo do exemplo seguinte; o estudo ser´a ainda mais
simples se apenas se numerarem os passos das demonstra¸c˜oes em vez de os designar
por αα , conven¸c˜ao que seguiremos de ora em diante.
Exemplos 1.6.3 Para quaisquer Γ ⊆ eα, β ∈ , se Γ L α ⇒ β ent˜ao Γ∪oα} L β
Uma dificuldade est´a em demonstrar a rec´ıproca desta asser¸c˜ao, a saber:
Teorema 1.6.4 (De Dedu¸c˜ao)
Para quaisquer Γ ⊆ e α, β ∈ , se Γ ∪ {α} L β, ent˜ao Γ L α ⇒ β
Antes de apresentarmos uma demonstra¸c˜ao ( e generalizando um pouco os coment´arios
que fizemos imediatamente a seguir ´a defini¸c˜ao de dedu¸c˜ao, 1.5.2), convir´a ter pre-
sente que
-Se Γ ⊆ Γ , ent˜ao qualquer dedu¸c˜ao
a partir de Γ ´e tamb´em uma dedu¸c˜ao a partir de Γ . Em particular os
teoremas de L s˜ao consequˆencias de qualquer conjunto de fpbfs.
-Qualquer segmento inicial de uma dedu¸c˜ao a partir de Γ ´e uma dedu¸c˜ao
a partir de Γ
-Se α1, ..., αn e β1, ..., βn s˜ao dedu¸c˜oes a partir de Γ , ent˜ao a sequˆencia
α1, ..., αn, β1, ..., βn ´e uma dedu¸c˜ao a partir de Γ . Sob um ponto
de vista pr´atico:
-A introdu¸c˜ao de uma consequˆencia de Γ como termo de uma dedu¸c˜ao
a partir de Γ ´e admiss´ıvel: a consequˆencia pode tomar-se como
abreviatura da sua dedu¸c˜ao.
Dem. (1.6.4). Vamos fazer indu¸c˜ao sobre o comprimento n das dedu¸c˜oes de β
indicando em cada caso uma dedu¸c˜ao de α ⇒ β .
n=1
Nestas condi¸c˜oes α1, ..., αn = αn = β
1o
) β ∈ Γ ou β ´e um axioma de L
1. β (hipotese ou axioma)
2. β ⇒ α ⇒ β (axioma)
3. α ⇒ β (MP 1 & 2)
2o
) β = α
Neste caso α ⇒ β = α ⇒ α e |=L α ⇒ α Repare-se que de facto tamb´em acab´amos
de mostrar que
(1.6.1) Se β ∈ Γ ou β´e um axioma de L ou β = α e em qualquer dos casos Γ∪{α} L
β , ent˜ao Γ L α ⇒ β .
independentemente do comprimento de uma poss´ıvel dedu¸c˜ao de β.
Suponha-se agora que o teorema vale quando os comprimentos das dedu¸c˜oes de β
a partir de Γ ∪ {α} s˜ao menores ou iguais a n. Seja α1, ..., αn+1, uma dedu¸c˜ao de
β a partir deΓ ∪ {α}. S´o interessa estudar o caso em que n˜ao se aplica (1.6.1),
i. e., β = αn+1 obtem-se de αj = γ e αk = γ ⇒ β, para alguma f´ormula γ, com
i ≤ j, k ≤ n. Por hip´otese de indu¸c˜ao Γ L α ⇒ γ e Γ L α ⇒ γ ⇒ β: uma
dedu¸c˜ao de α ⇒ β a partir de Γ pode ser descrita do seguinte modo
(1) α ⇒ γ (Γ L α ⇒ γ)
(2) α ⇒ γ ⇒ β (Γ L α ⇒ γ ⇒ β)
(3) (α ⇒ γ ⇒ β) ⇒ (α ⇒ γ) ⇒ α ⇒ β (L2)
(4) (α ⇒ γ) ⇒ α ⇒ β (MP 2 & 3)
(5) α ⇒ β (MP 1 & 4)
Pelo Princ´ıpio de Indu¸c˜ao Matem´atica o teorema vale para qualquer n ∈ N{0}.
q.e.d.
Algumas aplica¸c˜oes deste teorema que utilizaremos adiante:
Teorema 1.6.5 Para quaisquer α, β ∈
1. ∼∼ α L α
31
2. α L∼∼ α
3. {β, ∼ β} L α
Dem.
1. (1) ∼ α ⇒∼ α ( L , 1.5.7)
(2) (∼ α ⇒∼ α) ⇒ (∼ α ⇒∼∼ α) ⇒ α (L3)
(3) (∼ α ⇒∼∼ α) ⇒ α (MP 1 & 2)
(4) ∼∼ α (hipotese)
(5) ∼∼ α ⇒ (∼ α ⇒∼∼ α) (L1)
(6) ∼ α ⇒∼∼ α (MP4&5)
(7) α (MP2&6)
2. (1) ∼∼∼ α ⇒ α ( L , caso 1)
(2) (∼∼∼ α ⇒ α) ⇒ (∼∼∼ α) ⇒∼ α) ⇒∼∼ α (L3)
(3) α (hipotese)
(4) α ⇒ (∼∼∼ α ⇒∼ α) (L1)
(5) ∼∼∼ α ⇒ α (MP3&4)
(6) (∼∼∼ α ⇒ α) ⇒∼∼ α (MP2&5)
(7) ∼∼ α (MP1&6)
3. (1) (∼ α ⇒ β) ⇒ (∼ α ⇒∼ β) ⇒ α (L3)
(2) β ⇒ (∼ α ⇒ β ) (L1)
(3) β (hipotese)
(4) ∼ α ⇒ β (MP2&3)
(5) (∼ α ⇒ β) ⇒ α (MP1&4)
(6) ∼ β ⇒ (∼ α ⇒ β) (L1)
(7) ∼ β (hipotese)
(8) ∼ α ⇒ β (MP6&7)
(9) α (MP5&8)
q.e.d.
1.7 Completude do C´alculo Proposicional; con-
sistˆencia.
Para mostrarmos que todas as tautologias s˜ao teoremas vamos ver que n˜ao ´e poss´ıvel
ampliar o conjunto dos teoremas sem que na amplia¸c˜ao surja uma f´ormula sobre a
qual alguma valua¸c˜ao valeria simultaneamente 0 e 1, o que ´e imposs´ıvel.
As defini¸c˜oes da sec¸c˜ao 1.5 s˜ao muito facilmente generaliz´aveis:
Um sistema formal F (para o C´alculo Proposicional ) consiste em , um conjunto
especificado de f´ormulas de , que ser˜ao designados por axiomas de F, e um con-
junto de regras de inferˆencia. Uma dedu¸c˜ao de αn a partir de Γ ⊆ em F ´e
uma sequˆencia fpbf α1, ..., αn em que cada αi ´e um axioma ou ´e um elemento de Γ
ou resulta de f´ormulas anteriores por aplica¸c˜ao de alguma regra de inferˆencia. As
f´ormulas dedut´ıveis de ∅ ser˜ao chamadas teoremas de F, notando-se Γ |=F α, se
α ´e dedut´ıvel de Γ, e |=F α, se α ´e um teorema de F
Designemos por Teo (F) o conjunto de teoremas do sistema formal F .
Defini¸c˜ao 1.7.1 Uma extens˜ao de um sistema formal F ´e um sistema formal F∗
tal que Teo (F) ⊆ Teo(F∗
). Uma extens˜ao-MP de L ´e uma extens˜ao cuja ´unica
regra de inferˆencia ´e modus ponens.
Extens˜oes-MP obtˆem-se por prolongamento ou modifica¸c˜ao do conjunto de axiomas.
H´a no entanto que ter cuidado com a aquisi¸c˜ao de novos teoremas.
Defini¸c˜ao 1.7.2 Uma extens˜ao F de L diz-se consistente se ∼ α e α n˜ao s˜ao
simultaneamente teoremas de F , seja qual for α ∈ .
Teorema 1.7.3 L ´e consistente.
Dem. Pelo Teorema de Boa Fundamenta¸c˜ao 1.5.6, os teoremas de L s˜ao tautologias
e α e ∼ α n˜ao o podem ser simultaneamente.
q.e.d.
Consistˆencia para extens˜oes-MP ´e caracteriz´avel do seguinte modo:
Teorema 1.7.4 Uma extens˜ao-MP L∗
de L ´e consistente sse existe uma f´ormula
em que n˜ao ´e teorema de L∗
.
Ou seja, uma extens˜ao-MP L∗
de L ´e inconsistente (ou n˜ao consistente) se e s´o se
todas as f´ormulas s˜ao teoremas de L∗
.
Dem. Se L∗
´e consistente e α ´e uma f´ormula qualquer apenas um dos casos ´e
poss´ıvel |=L∗ α ou |=L∗ ∼ α ; o caso que se n˜ao der indica a f´ormula que n˜ao ´e
teorema.
Se L∗
n˜ao ´e consistente ent˜ao para uma certa α ∈ tem-se |=L∗ α e |=L∗ ∼ α. Vamos
ver que (1.7.1)
|=L∗ β para qualquer β ∈ .
33
Comecemos por supor demonstrado o seguinte lema
LEMA. |=L∼ γ ⇒ γ ⇒ β para quaisquer γ, β ∈
Segue-se que tamb´em (1.7.2)
|=L∗ ∼ γ ⇒ γ ⇒ β para quaisquer γ, β ∈
pois L∗
´e extens˜ao de L ; mas ent˜ao tem-se a seguinte dedu¸c˜ao, para qualquer β ∈
(1) α |=L∗ α
(2) ∼ α |=L∗ ∼ α
(3) ∼ α ⇒ α ⇒ β ((1.7.2))
(4) α ⇒ β (MP 2 & 3)
(5) β (MP 1 & 4)
Portanto |=L∗ β, como se pretendia. Resta demonstrar o Lema.
Dem. do Lema: de acordo com o teorema de dedu¸c˜ao, basta mostrar que {∼ γ, γ} |=L
β, o que foi feito em 1.6.5.3. q.e.d.
A asser¸c˜ao seguinte diz que podemos acrescentar a um sistema formal as nega¸c˜oes
de f´ormulas que n˜ao sejam teoremas sem perder a consistˆencia.
Teorema 1.7.5 Seja L∗
uma extens˜ao-MP consistente de L suponha que α ∈ 
Teo (L∗
). Seja L∗∗
a extens˜ao-MP de L∗
que se obtem juntando ∼ α aos axiomas
de L∗
. L∗∗
´e consistente.
Dem. Suponha que α, L, L∗
, L∗∗
est˜ao nas condi¸c˜oes da hip´otese mas que L∗∗
´e
inconsistente. De acordo com o teorema anterior,|=L∗∗ α. Como a diferen¸ca entre
L∗
e L∗∗
´e que ∼ α ´e tamb´em um axioma do segundo, conclui-se em particular que
∼ α |=L∗ α. Como os teoremas de L tamb´em s˜ao teoremas de L∗
, os axiomas de
L s˜ao teoremas de L∗
e portanto vale o Teorema de Dedu¸c˜ao em L∗
; segue-se que
|=L∗∗∼ α ⇒ α. Suponha-se demonstrado o seguinte Lema
LEMA. |=L (∼ α ⇒ α), para qualquer α ∈ .
Como L∗
´e uma extens˜ao de L, |=L∗ (∼ α ⇒ α) ⇒ α. Consequentemente |=L∗ α,
como se pretendia. Resta provar o lema.
Dem. do lema. Utilizamos o Teorema de Dedu¸c˜ao.
(1) ∼ α ⇒ α (hipotese)
(2) (∼ α ⇒ α) ⇒ (∼ α ⇒ α) ⇒ α (L3)
(3) (∼ α ⇒ α) ⇒ α (MP 1 & 2)
(4) ∼ α ⇒∼ α (1.5.7)
(5) α (MP 3 & 4)
q.e.d
Pode saturar-se L adicionando um n´umero suficiente de fpbfs.
Defini¸c˜ao 1.7.6 Uma extens˜ao L∗
de L diz-se completa se para qualquer α ∈
, ou |=L∗ αou |=L∗ ∼ α.
Observe-se que qualquer extens˜ao inconsistente ´e completa (teorema 1.7.4), que
qualquer extens˜ao completa n˜ao pode ser estritamente ampliada sem se tornar in-
consistente e que L n˜ao ´e completa: para qualquer s´ımbolo proposicional p, nem p
nem ∼p s˜ao teoremas de L .
Podemos concluir de 1.7.5 e da ´ultima observa¸c˜ao que L tem extens˜oes estritas L∗
,
i. e., Teo(L) ⊂ Teo(L∗
). Note-se tamb´em que qualquer extens˜ao de uma extens˜ao
´e extens˜ao do sistema inicial.
Teorema 1.7.7 Toda a extens˜ao consistente de L tem por sua vez uma extens˜ao
consistente e completa.
Dem. Seja α0, α1, ..., αn, ... uma enumera¸c˜ao de todas as fpbfs de . Vamos con-
struir a extens˜ao por n´ıveis que ser˜ao reunidos no fim. Seja L∗
uma extens˜ao con-
sistente de L. Notemos por F; α o sistema formal que se obtem do sistema formal
F por adi¸c˜ao da f´ormula α ao conjunto de axiomas.
Defina
L0 = L∗
Ln+1 =



Ln se |=Ln αn
(n ∈ N)
Ln; ∼ αn se αn /∈ Teo(Ln)
Por hip´otese L0 ´e consistente e, pelo teorema 1.7.5, se Ln ´e consistente tamb´em
Ln+1 ´e consistente; pelo princ´ıpio de Indu¸c˜ao Matem´atica todas as extens˜oes Ln s˜ao
consistentes.
Note-se por F ∪ F a extens˜ao dos sistemas F e F cujo conjunto de axiomas ´e a
reuni˜ao dos conjuntos de axiomas de F e F . Seja
35
L∞ = ∪∞
n=0Ln
´E imediato que L∞ ´e uma extens˜ao de L∗
.
Vejamos que L∞ ´e consistente: se o n˜ao fosse, existiria α ∈ tal que |=L∞ ∼ α
e |=L∞ α. Tomem-se dedu¸c˜oes de ∼ α e de α em L∞ . O n´umero de f´ormulas
envolvidas em ambas as dedu¸c˜oes ´e finito, portanto o n´umero de axiomas tamb´em e
estes ser˜ao axiomas de algum Ln , para n suficientemente grande; mas ent˜ao α e ∼ α
s˜ao de facto teoremas de Ln , o que ´e imposs´ıvel pois todos os Ln s˜ao consistentes.
Em suma, L∞ n˜ao pode ser inconsistente.
Para vermos que L∞ ´e completa basta observar que qualquer f´ormula de ocorre em
algum lugar na listagem inicial portanto, em algum passo da constru¸c˜ao, ela ou a sua
nega¸c˜ao foi incluida como axioma e, assim, tamb´em como teorema. q.e.d.
Resta-nos mais um passo preliminar para o qual convir´a ter presente o seguinte
exerc´ıcio
Exerc´ıcio 1.7.8 Mostre que |=L (∼ α ⇒∼ β) ⇒ (β ⇒ α), para quaisquerα, β ∈ .
Teorema 1.7.9 Se L∗
´e uma extens˜ao-MP consistente de L, existe uma valua¸c˜ao
que vale 1 em todos os teoremas de L∗
.
Dem.Tome uma extens˜ao completa e consistente L∞ de L (por exemplo como
construida no teorema anterior) e defina
υ(α) =



1 se |=L∞ α
0 se |=L∞ ∼ α
Repare-se que υ est´a definida em todas as fpbfs de pois L∞ ´e completa. Falta ver
que υ(α ⇒ β) = 0 sse υ(α) = 1 e υ(β) = 0, pois υ(α) = υ(∼ α) resulta de L∞ ser
consistente.
Suponha que υ(α ⇒ β) = 0. Comece por observar que ent˜ao
(1.7.2)
|=L∞ ∼ (α ⇒ β)
Se υ(α) = 0 ou υ(β) = 1 ent˜ao |=L∞ ∼ α ou |=L∞ β . Utilizando o axioma (L1)
convenientemente conclui-se
|=L∞ ∼ β ⇒∼ α ou |=L∞ α ⇒ β
o que, pelo exerc´ıcio anterior, leva em qualquer caso a
|=L∞ α ⇒ β
o que, com (1.7.2), contradiz a consistˆencia de L∞ . Segue-se que necessariamente
υ(α) = 1 e υ(β) = 0, se υ(α ⇒ β) = 0.
Suponha agora que υ(α) = 1 e υ(β) = 0, mas υ(α ⇒ β) = 1. Ent˜ao |=L∞ α e |=L∞ β,
portanto |=L∞ β ; mas de υ(β) = 0 conclui-se |=L∞ β e L∞ n˜ao seria consistente.
Tem de ser υ(α ⇒ β) = 0 se υ(α) = 1 e υ(β) = 0.
q.e.d.
Finalmente
Teorema 1.7.10 (de Completude Fraca)
Para qualquer α ∈ , se |=L ∞, ent˜ao |=L ∞ .
Dem. Se |=L ∞ mas α ∈ Teo (L), ent˜ao, pelo teorema 1.7.5,L ;∼ α ´e consis-
tente; pelo teorema anterior, existe uma valua¸c˜ao υ que vale 1 em todos os teo-
remas de L; ∼ α, em particular υ(∼ α) = 1, o que ´e imposs´ıvel pois necessaria-
mente υ(∼ α) = υ(α) e υ(α) = 1 por α ser uma tautologia. Segue-se que |=L α
q.e.d.
Uma nota final: as tabelas de verdade fornecem um algoritmo para verificar se uma
dada f´ormula ´e ou n˜ao um teorema do C´alculo proposicional sem ser necessario
explicitar uma dedu˜ao.
Exerc´ıcios 1.7.11 1. Mostre que para quaisquer f´ormulas α, β, γ ∈
(a) |=L ((α ∧ β) ⇒ α)
(b) |=L ((α ∧ β) ⇒ β)
(c) |=L (α ⇒ (β ⇒ (α ∧ β)))
(d) |=L ((α ⇒ (α ⇒ (α ∨ β)))
(e) |=L ((β ⇒ (α ⇒ (α ∧ β)))
(f) |=L ((α ⇒ γ ⇒ ((β ⇒ γ) ⇒ ((α ∨ β) ⇒ γ))
37
2. Seja F o sistema formal que se obt´em de L juntando as regras de inferˆencia
I1)
α ∧ β
...α
I2)
α ∧ β
...β
I3)
α
...α ∨ β
I4)
β
...α ∨ β
I5)
∼ αα∧β
...β
I6)
∼ βα∨β
...α
Mostre que Teo (L) = Teo (F).
3. Seja L∗
o sistema formal que se obt´em de L substituindo o esquema de axiomas
(L3) por
(L 3) (∼ α ⇒ β) ⇒ β ⇒ α (α, β ∈ )
mantendo os outros esquemas e tendo MP como ´unica regra de inferˆencia.
Mostre que Teo(L) =Teo(L∗
).
4. Um conjunto Γ ⊆ diz-se inconsistente (em L) se existir α ∈ tal que Γ |=L α
e Γ |=L∼ α . Seja Γ um subconjunto de . Mostre que, para quaisquer α, β ∈
,
(a) se (α ⇒ β) ∈ Γ e ambos os conjuntos Γ ∪ {∼ α} e Γ ∪ {β} s˜ao inconsis-
tentes, ent˜ao Γ ´e inconsistente.
(b) se ∼ (α ⇒ β) ∈ Γ e Γ∪{α, ∼ β}´e inconsistente, ent˜ao Γ ´e inconsistente.
(c) Um subconjunto de diz-se consistente (em L)se n˜ao for inconsistente
(em L). Mostre que Γ ⊆ ´e consistente sse todos os subconjuntos finitos
de Γ s˜ao consistentes.
Cap´ıtulo 2
L´ogica de Predicados (de primeira
ordem)
A formaliza¸c˜ao p ⇒ q no exemplo 1.1.1.3 ´e claramente insuficiente para explici-
tar a estrutura da asser¸c˜ao a´ı descrita; um caso de estrutura¸c˜ao ainda menor ocorre
quando se pretende representar ”os quadrados de n´umeros reais s˜ao n´umeros n˜ao neg-
ativos”: no ˆambito do C´alculo Proposicional teremos de utilizar apenas um s´ımbolo
proposicional sem quaisquer conectivos!
Para podermos analizar mais profundamente este tipo de afirma¸c˜oes vamos desen-
volver uma linguagem mais elaborada.
2.1 Linguagens de primeira ordem: alfabeto, ter-
mos e f´ormulas.
O alfabeto de uma linguagem de primeira ordem consiste em s´ımbolos que se dis-
tribuem por duas classes a saber
1. S´ımbolos l´ogicos
(a) Parˆenteses (, )−− para pontua¸c˜ao
(b) V´ırgula , −− para pontua¸c˜ao
(c) Conectivos ∼ e ⇒ −− respectivamente nega¸c˜ao e implica¸c˜ao
(d) Vari´aveis xi(i ∈ N{0})
2. Parˆametros
(a) O quantificador universal ∀ – que se lˆe ”para todo o”
(b) S´ımbolos predicativos n-´arios An
i (n, i ∈ N{0})
(c) Constantes ai (i ∈ bkN{0})
(d) S´ımbolos funcionais n-´arios fn
i (n, i ∈ N{0}).
Consoante as estruturas que se tˆem em mente – adiante precisaremos o que se
entende por estrutura – assim o conjunto de parˆametros.
Exemplos 2.1.1
1. A linguagem do C´alculo de Predicados Puro tem apenas os parˆametros ∀ ,
s´ımbolos predicativos An
i (n, i ∈ N{0}) e constantes ai(i ∈ N{0}).
2. A linguagem para a Teoria dos Corpos Ordenados tem parˆametros∀, dois
s´ımbolos predicativos A2
i e A2
2 – respectivamente para as rela¸c˜oes bin´arias de
igualdade e de ordem – duas constantes a1ea2 – respectivamente para o zero e
a unidade – dois s´ımbolos funcionais f2
1 ef2
2 – respectivamente para a soma e o
produto.
Tal como para a l´ogica proposicional, uma express˜ao ´e uma sequˆencia de s´ımbolos.
De entre as express˜oes come¸caamos por distinguir os termos com os quais ser˜ao
formadas as f´ormulas de uma linguagem de primeira ordem L .
Defini¸c˜ao 2.1.2 O conjunto dos termos de L ´e a intersec¸c˜ao de todos os conjun-
tos de express˜oes E que verifiquem as seguintes propriedades
1. As vari´aveis e as constantes de L s˜ao elementos de E
2. Se t1, ..., tn ∈ E e fn
i um s´ımbolo funcional n-´ario de L , ent˜ao fn
i (t1, ..., tn) ∈
E (n ∈ N{0}). T designa o conjunto de todos os termos de L .
Repare-se que vale o seguinte
Teorema 2.1.3 (Princ´ıpio de Indu¸c˜ao em Termos)
Se E ⊆ T , as vari´aveis e as constantes de L s˜ao elementos de E e fn
i (t1, ..., tn) ∈ E
sempre que os termos t1, ..., tn est˜ao em E e fn
i ´e um s´ım mbolo funcional n-´ario de
L , ent˜ao E = T .
A demonstra¸c˜ao fica a cargo do leitor.
41
Exemplos 2.1.4 Retomando o exemplo 2 de 2.1.1: a1, f2
i (a1, x1) e x5 s˜ao termos da
linguagem da teoria de corpos ordenados. De facto s˜ao termos de qualquer linguagem
que inclua a constante ai e o s´ımbolo funcional bin´ario f2
1 no seu alfabeto.
Como temos vindo a dar a entender, pretende-se essencialmente estudar express˜oes
envolvendo vari˜aveis 1
. Mais precisamente
Defini¸c˜ao 2.1.5 O conjunto das f´ormulas bem formadas L ´e a intersec¸c˜ao
de todos os conjuntos de express˜oes E tais que
1. Se t1, ..., tn ∈ T e An
i ´e um s´ımbolo predicativo n-´ario, ent˜ao An
i (t1, ..., tn) ∈
E (n ∈ N{0})
2. Se α, β ∈ E e xi ´e uma vari´avel, ent˜ao (∼ α), (α ⇒ β), ∀xiα s˜ao todas elemen-
tos de E .
As f´ormulas Ai(t1, ..., tn) definidas em 2.1.5.i) s˜ao chamadas at´omicas .
De ora em diante abreviamos ”f´ormula bem formada”por ”f´ormula”ou ”fbf”.
Mais uma vez vale um princ´ıpio de indu¸c˜ao e mais uma vez tamb´em esperamos que
o leitor o demonstre.
Teorema 2.1.6 (de Indu¸c˜ao em F´ormulas)
Se E ⊆ F , E cont´em todas as f´ormulas at´omicas e, contendo as f´omulasα e β ,
tamb´em cont´em (∼ α) e (α ⇒ β) e ∀xiα , seja qual for a vari´avel xi , ent˜ao E = F
.
De modo a aliviar um pouco a carga de s´ımbolos em algumas f´ormulas, definimos as
seguintes abreviaturas: para quaisquer fbfs α e β e qualquer vari´avel x
(α ∧ β) = (∼ (α ⇒ β)) (α ∨ β) = ((∼ α) ⇒ β)
(α ⇔ β) = ((α ⇒ β) ∧ (β ⇒ α)) ∃xα = (∼ ∀x(∼ α))
∃ chama-se quantificador existencial e ∃ x lˆe -se ”existe x tal que”.
Tamb´em omitiremos parenteses de acordo com as regras definidas em 1, p´agina 4;
h´a no entanto que tornar mais precisas algumas situa¸c˜oes novas.
1
Em certos casos estas express˜oes costumam designar-se por condi¸c˜oes
Defini¸c˜ao 2.1.7 Sejam Q um quantificador (∀ ou ∃), x uma vari´avel e α uma
f´ormula. Se Q x ocorre em α , o campo de quantifica¸c˜ao ) de Qx em α ´e a
f´ormula mais curta `a direita de Qx.
Vejamos alguns exemplos.
Exemplos 2.1.8
1. Seja α = ∀x1(∃x2A2
1(f2
1 (x1, x2), a1)).
O campo de ∀x1 em α ´e β = ∃x2A2
1(f2
1 (x1, xn), a1) e o campo de ∃x2, em α e
em β, ´e γ = A2
1(f2
1 (x1, x2), a1)
2. Considere a f´ormula
∀x1(∃x2A2
1(f2
2 (x1, x2), a2) ⇒ ∀x2(∼ A2
1(x2, a1) ⇒ A2
1(f2
2 (x1, x2), a1)))
O campo de ∀x1 ´e toda a f´ormula restante; o campo de ∀x1 ´e ∼ A2
1(x2, a1) ⇒
A2
1(f2
2 (x1, xn), a1); o campo de ∃x2 ´e A2
1(f2
2 (x1, x2), a2).
Adiante pretendemos substituir vari´aveis livres por outros termos sem alterar poss´ıveis
”significados atribuiveis `a ”f´ormula.
Para tal tenha-se em conta a seguinte
Defini¸c˜ao 2.1.9
1. Uma vari´avel x diz-se livre na fbf α se n˜ao ocorre no campo de uma quan-
tifica¸c˜ao Qx.
2. Um termo t diz-se livre para a vari´avel x na fbf α se t=x ou as ocorrˆencias
livres de x em α n˜ao est˜ao no campo de alguma quantifica¸c˜ao Qy na qual y
ocorre em t.
A parte 2 desta defini¸c˜ao estabelece as condi¸c˜oes em que as ocorrˆencias livres de
uma vari´avel podem ser substituidas por um termo numa fbf.
´E simples decidir quais as vari´aveis livres de uma fbf. A defini¸c˜ao anterior postula
que qualquer vari´avel x ´e sempre livre para si pr´opria em qualquer fbf; n˜ao ´e t˜ao
simples determinar se um termo com mais de uma vari´avel ´e ou n˜ao livre para
alguma outra.
43
Exemplos 2.1.10
1. As vari´aveis que ocorrem em α do exemplo 2.1.8 s˜ao todas mudas em α; x1 ´e
livre em β e em γ, x2 s´o ´e livre em γ .
2. O termo f3
2 (x3, x4) ´e livre para qualquer das vari´aveis em qualquer das f´ormulas
consideradas em 1 e 2 dos exemplos 2.1.8, pois n˜ao h´a quantifica¸c˜oes em x3
ou x4 .
3. O termo f2
1 (x1, x2)n˜ao ´e livre para x1 em β , porque x1 ocorre livre no campo
de quantifica¸c˜ao de ∃x2 .
Em termos de interpreta¸c˜ao: se A2
1 for interpretada pela igualdade, f2
1 pela
soma e a1 por zero num anel, β ”toma a forma”∃x2(x1 + x2 = 0) e esta n˜ao
tem por certo o mesmo ”significado”que ∃x2 ((x1 + x2) + x2 = 0). No entanto
x1ef2
1 (x1, x2)s˜ao livres para x2 em α, pois a ´unica ocorrˆencia de x2 em α muda
no campo de ∃x2 .
4. Agora na f´ormula do segundo exemplo de 2.1.8: x1 ´e livre para x2 , pois x2
s´o tem ocorrˆencias mudas; x1 n˜ao ´e livre para x1 porque x1 ocorre livre em
A2
1(f2
2 (x1, x2), a2) no campo de ∃x2 .
5. Na fbf
∀x4(A1
2(x1) ⇒ ∃x2A2
2(x2, x2) ∧ ∀x1(A1
2(x3) ⇒ A3
2(x1, x4, x1))).
O termo f3
2 (x1, x2, x3) ´e livre para x1 − − pois a ´unica ocorrˆencia livre de x1
na f´ormula est´a no campo de ∀x4 e x4 ∈ {x1, x2, x3} − − mas n˜ao ´e livre para
x2 − − que ocorre livre no campo de ∃x2 − − nem para x3 ou x4 − − que
ocorrem livres no campo de ∀x1.
2.2 Interpreta¸c˜oes
Uma interpreta¸c˜ao da linguagem de primeira ordem L ´e uma fun¸c˜ao I cujo dom´ınio
´e o conjunto dos parˆametros de L verificando as seguintes propriedades:
(I1)I(∀) ´e um conjunto n˜ao vazio, denominado o universo de I .
(I2) Para cada s´ımbolo predicativo An
i de L, I(An
i ) ´e uma rela¸c˜ao n-´aria
em I(∀), i. e., I(An
i ) ⊆ I(∀)n
(I3) Para cada constante ai de L, I(ai) ´e um elemento de I(∀)
(I4) Para cada s´ımbolo funcional fn
i de L, I(fn
i )´e uma fun¸c˜ao n-´aria de
I(∀) em I(∀), i. e., I(fn
i ) : I(∀) → I(∀)
Recorde-se que L pode n˜ao ter s´ımbolos funcionais ou constantes −− casos em que
(I3) ou (I4) se n˜ao aplicam −− e note-se tamb´em que I(An
i ) pode ser vazia. Ao
contradom´ınio de uma interpreta¸c˜ao I que, um pouco abusivamente, designaremos
por < I(∀), I(An
i ), I(ai), I(fn
i ) >chamaremos estrutura para L ; o exemplo
seguinte mostra onde est´a o abuso de nota¸c˜ao.
Exemplos 2.2.1 Se L tem parˆametros ∀, A2
1, A2
2, a1, a2, f2
1 , f2
2 uma interpreta¸c˜ao
pode ser dada por I(∀) = R, I(A 2
1 ) ´e a rela¸c˜ao de igualdade em R, I(A2
2)
´e a rela¸c˜ao de ordem total lata usual, I(a1) = 0, I(a2) = 1, I(f2
1 ) e I(f2
2 )
s˜ao, respectivamente, soma e o produto usuais. A correspondente estrutura ser´a
< R, =, ≤, 0, 1, +, • >, o corpo ordenado dos n´umeros reais. De um modo semelhante
tamb´em se vˆe que < Q, =, ≤<, 0, 1, +, • > ou < N, =, ≤, 0, 1, +, • > s˜ao estruturas
para L .
Ainda outra interpreta¸c˜ao pode ser dada por I(∀) = Z, I(A2
2) = {(m, n) ∈ Z2
: m =
0 e m divide n },
I(f2
1 )(m, n) =



0 se m=0 ou m n˜ao divide n
nm caso contr´ario
mantendo-se as outras imagens por I com as adapta¸c˜oes adequadas.
Cada interpreta¸c˜ao de uma linguagem permite dar significado ´as suas f´ormulas, como
vamos ver a seguir.
2.3 Satisfazibilidade
Uma das raz˜oes pelas quais estamos no ˆambito da l´ogica de predicados de primeira
ordem est´a impl´ıcita no que vamos definir como satisfazibilidade de uma fbf da forma
∀xα .
45
Com a defini¸c˜aoo de satisfazibilidade estabeleceremos o que significa uma f´ormula
ser ou n˜ao verificada numa estrutura. As fbfs verificadas em todas as interpreta¸c˜oes
de uma mesma linguagem vir˜ao a ser consideradas em particular.
Comecemos por atribuir valores ´as vari´aveis
Defini¸c˜ao 2.3.1 Seja I uma interpreta¸c˜ao da linguagem de primeira ordem L cujo
conjunto de termos ´e T . Uma valua¸c˜ao para I (na interpreta¸c˜ao e estrutura
correspondentes) ´e uma fun¸c˜ao υ : T → I(∀) tal que
1. υ(ai) = I(ai), se ai ´e uma constante de L
2. υ(fn
i (t1, ..., tn) = I(fn
i )(υ(t1), ..., υ(tn)), se fn
i ´e um s´ımbolo funcional e t1, ..., tn
s˜ao termos de L .
Uma valua¸c˜aoo ´e assim uma forma de associar a cada termo de L o objecto que ´e
a sua interpreta¸c˜ao. Repare-se que, por defini¸c˜ao, para cada interpreta¸c˜ao o valor
das valua¸c˜oes nas constantes ´e sempre o mesmo. No entanto mesmo em casos muito
simples podem construir-se valua¸c˜oes diferentes.
Exemplos 2.3.2
1. Seja L uma linguagem de primeira ordem com uma constante, a, sem s´ımbolos
funcionais e com apenas um conectivo un´ario A. Uma estrutura para Lpode
ser < {1, 2}, ∅, 1 >, sendo a interpreta¸c˜ao dada por I(∀) = {1, 2}, I(A) =
∅, I(a) = 1. Os termos de L s˜ao apenas as vari´aveis e as constantes. Duas
valua¸c˜oes diferentes podem ser definidas da seguinte maneira: υ1(t) = 1, se t ´e
uma constante ou uma vari´avel, υ2(a) = 1 e υ2(x) = 2 para qualquer vari´avel
x.
2. Acrescentando ´a linguagem L do n´umero anterior um s´ımbolo funcional un´ario
f e definindo I(f)(1) = 2 e I(f)(2) = 1 ter-se-ia υ1(f(a)) = I(f)(υ1(a)) =
I(f)(1) = 2, υ1(f(x)) = I(f)(υ1(x)) = I(f)(1) = 2 para qualquer vari´avel x,
υ2(f(a)) = I(f)(υ2(a)) = I(f)(1) = 2, υ2(f(x)) = I(f)(υ2(x)) = I(f)(2) = 1
para qualquer vari´avel x.
Adiante veremos valua¸c˜oes mais interessantes. Tenha-se, no entanto presente que
uma valua¸c˜ao fica de facto determinada pelos valores que toma nas vari´aveis, i. e.,
todas as valua¸c˜oes tˆem a seguinte propriedade, que aceitaremos sem demonstra¸c˜ao
2
.
2
Uma demonstra¸c˜ao pode ser feita a partir do Teorema de recurso que se pode encontrar em
[E;1.2, p´ag.27]
Teorema 2.3.3
Sejam V o conjunto das vari´aveis de uma linguagem de primeira ordem L e I uma
interpreta¸c˜ao de L . Para cada fun¸c˜ao V : V → I(∀) existe uma e uma s´o valua¸c˜ao
υ0 : V → I(∀) que coincide com υ0 em V .
Em particular, se duas valua¸c˜oes coincidem no conjunto das vari´aveis, ent˜ao coin-
cidem no conjunto dos termos, i.e., s˜ao iguais.
Podemos ser mais precisos. Para tal −−e tamb´em para outros efeitos −− introduz-
imos nota¸c˜ao a saber: dada uma valua¸c˜ao υ e uma vari´avel x a valua¸c˜ao υ(x|c) vale
c em x e coincide com V em todas as outras vari´aveis; mais formalmente
(2.3.1) υ(xi|c)(xi) =



υ(xj|c) se i = j
(i ∈ N{0})
c se i = j
Genericamente definimos tamb´em
(2.3.2) υ(xi1 |c1; ...; xip |cp) = υ(xi1 |c1)...(xip |cp)
Teorema 2.3.4 Sejam I uma interpreta¸c˜ao da linguagem de primeira ordem L .
Se duas valua¸c˜oes υ e ω para I coincidem nas vari´aveis de um termo t de L , ent˜ao
υ(t) = ω(t).
Dem. Tomem-se L e I como na hip´otese. Seja E o conjunto dos termos de L para
os quais se tem υ(t) = ω(t) sempre que as valua¸c˜oes υ e ω para I coincidem nas
vari´ais que ocorrem em t. Vamos mostrar que E = T .
As valua¸c˜oes coincidem nas constantes por defini¸c˜ao, portanto E cont´em as con-
stantes. Se t ´e uma vari´avel, dizer que υeω coincidem nas vari´aveis de t ´e dizer
que υ(t) = ω(t), donde todas as vari´aveis est˜ao em E . Suponhamos agora que
t1, ..., tn ∈ E , f ´e um s´ımbolo funcional n-´ario, t=f(t1, ..., tn) e υ e ω s˜ao valua¸c˜oes
que coincidem nas vari´aveis que ocorrem em t; como uma vari´avel ocorre em t sse
ocorre em algum dos t i, υ e ω coincidem nas vari´aveis que ocorrem em cada ti
portanto υ(ti) = ω(ti) para 1 ≤ i ≤ n, dado que os ti est˜ao em E ; mas ent˜ao tem-se
υ(t) = υ(f(t1, ..., tn)) = I(f)(υ(t1), ..., υ(tn)) = I(f)(υ(t1), ..., υ(tn)) =
ω(f(t1, ..., tn)) = ω(t).
47
Segue-se que t ∈ E . Pelo princ´ıpio de Indu¸c˜ao em Termos E = T . q.e.d.
Passamos a definir o que se entende por uma f´ormula ser ou n˜ao verificada ou
satisfeita.
Mais um pouco de nota¸c˜ao: se α for uma f´ormula de L, I for uma interpreta¸c˜ao e υ
for uma valua¸c˜ao para I
(2.3.3) |=I α[υ] abrevia ”υ satisfaz α em I ”
(2.3.4) |=I α[υ] abrevia ”υ n˜ao satisfaz α em I ”
Defini¸c˜ao 2.3.5 . Sejam L uma linguagem de primeira ordem e υ uma valua¸c˜ao
de L para a interpreta¸c˜ao I .
1. Se α ´e uma f´ormula at´omica, α = An
1 (t1, ..., tn),
|=I α[υ] sse (υ(t1), ..., υ(tn)) ∈ I(An
i )
2. Para quaisquer fbfs α, β e vari´avel x,
(a) |=I α[υ] sse |=I α[υ]
(b) |=I (α ⇒ β)[υ] sse |=I α[V] ou |=I β[υ] ou, de outro modo, se υ satisfaz
α em I ent˜ao tamb´em satisfaz β em I .
(c) |=I ∀xα[υ] sse |=I α[υ(x|a)] para qualquer a ∈ I(∀)
A satisfazibilidade de uma fbf por uma valua¸c˜ao depende apenas das vari´aveis livres
da fbf.
Nota 2.3.6 Para maior simplicidade de discurso, de ora em diante pressuporemos
que todas as linguagens consideradas s˜ao de primeira ordem.
Teorema 2.3.7 Para qualquer fbf α e quaisquer valua¸c˜oes υ e ω que coincidam nas
vari´aveis livres deα tem-se
|=I α[υ] sse |=I α[ω]
Dem. Fixe-se a interpreta¸c˜ao Ie seja I o conjunto de f´ormulas α para as quais
|=I α[υ] sse |=I α[ω], quando υ e ω coincidem nas vari´aveis livres de α . Suponha-se
no que se segue que υ e ω coincidem nas vari´aveis livres das f´ormulas apropriadas
em cada caso.
1) E cont´em as f´ormulas at´omicas. Se α ´e at´omica, para algum s´ımbolo predicativo
P e termos t1, ..., tn, α = P(t1, ..., tn); al´em disso as vari´aveis que ocorrem em α
ocorrem livres e em algum ti ; desse modo V e ω coincidem nas vari´aveis livres de α
sse coincidem nas vari´aveis de α sse coincidem nas vari´aveis de cada termo ti ; mas
ent˜ao, se υ e ω coincidem nas vari´aveis de α, |=I α[υ] sse (υ(t1), ..., υ(tn)) ∈ I(P)−
por defini¸c˜ao − sse (ω(t1), ..., ω(tn)) ∈ I (P) − Teorema 2.3.4. − sse |=I α[ω]− por
defini¸c˜ao; portanto α ∈|=E , como se pretendia mostrar.
2) Se α ∈ E tamb´em ∼ α ∈ I .
Observe-se que as vari´aveis de α s˜ao as mesmas que as de ∼ α e que s˜ao livres numa
das f´ormulas sse o s˜ao na outra. Assim, se α ∈ E vem
Iα[υ] sse |=I α[υ]− por defini¸c˜ao −
sse |=I α[ω]− porque α ∈|=E −
sse |=I α[ω]− por defini¸c˜ao;
donde ∼ α ∈ E , como se pretendia verificar.
3) Se α ∈ E e x ´e uma vari´avel, tamb´em ∀xα ∈ E.
Comecemos por notar que, para qualquer a∈ I(∀), υ(x|a) e ω(x|a) coincidem em x,
pelo que, se υ e ω coincidem nas vari´aveis livres de ∀xα , ent˜ao υ(x|a) e υ(x|a)
coincidem nas vari´aveis livres em α .
Assim, se α ∈ E ,
|=I ∀α[υ] sse |=I α[υ(x|a)] para qualquer a ∈ I(∀)− por defini¸c˜ao - sse |=I α[ω(x|a)]
para qualquer a ∈ I(∀)− pois α ∈ E−
sse |=I ∀xα[ω]− por defini¸c˜ao;
portanto ∀xα ∈|=E , como pretendiamos concluir.
4 ) Se α, β ∈ E , ent˜ao α ⇒ β ∈ E
As vari´aveis livres de α e β s˜ao-no sse s˜ao livres em α ou em β e tem-se o seguinte:
|=I (α ⇒ β)[υ] sse |=I α[υ] ou |=I β[υ]− por defini¸c˜ao −
sse |=I α[ω] ou |=I β[ω]− pois α, β ∈ I−]
49
sse |=I (α ⇒ β)[ω];
ou seja α ⇒ β ∈ E como se pretendia mostrar. q.e.d.
Chama-se proposi¸c˜ao ou f´ormula fechada a uma fbf que n˜ao tem vari´aveis livres.
Uma consequˆencia imediata deste teorema ´e
Corol´ario 2.3.8 Para uma mesma interpreta¸c˜ao, uma proposi¸c˜ao ´e satisfeita por
alguma valua¸c˜ao sse ´e satisfeita por todas as valua¸c˜oes.
O conceito an´alogo ao de tautologia da l´ogica proposicional ´e o de fbf logicamente
v´alida que vai ser introduzido a seguir.
Defini¸c˜ao 2.3.9 Sejam I uma interpreta¸c˜ao da linguagem L e α uma f´ormula de
L .
1. α ´e satisfaz´ıvel em I se |=I α[υ] para alguma valua¸c˜ao υ .
2. α ´e v´alida em I se |=I α[υ] para qualquer valua¸c˜ao υ ; nota-se |=I α se α ´e
v´alida em I .
3. α ´e logicamente v´alida se |=I α para qualquer interpreta¸c˜ao I ; nota-se
|=I α se α ´e logicamente v´alida.
Reformulando 2.3.8: uma proposi¸c˜ao ´e v´alida numa interpreta¸c˜ao sse ´e satisfaz´ıvel.
Quando uma proposi¸c˜ao ´e v´alida numa interpreta¸c˜ao diz-se tamb´em que ´e verdadeira
nessa interpreta¸c˜ao, caso contr´ario diz-se falsa . Mais precisamente
Corol´ario 2.3.10 . Para quaisquer proposi¸c˜ao α e interpreta¸c˜ao I, ou α ´e ver-
dadeira em I ou ∼ α ´e verdadeira em I, n˜ao podendo ocorrer ambos os casos.
Os pr´oximos exemplos ilustram a distin¸c˜ao entre validade e satisfazibilidade.
Exemplos 2.3.11 Para os exemplos 1,2 e 3 recorde-se a estrutura < R, =, ≤, 0, 1, +, • >
definida em 2.2.1.
1. A f´ormula α = A2
1(f2
1 (x1, x2), f2
2 (x1, x2))´e satisfaz´ıvel: tome-se a valua¸c˜ao
identicamente nula ou qualquer valua¸c˜ao υ que verifique υ(x1) = −1+
√
5
2
e
υ(x2) = −1−
√
5
2
. Mas α n˜ao ´e v´alida: a valua¸c˜ao identicamente 1 a satisfaz.
2. β = A2
2(a1, f2
2 (x1, x1)) ´e v´alida em I mas n˜ao ´e logicamente v´alida considere
a interpreta¸c˜ao K para a qual K(∀) = C, K(A2
2)´e a rela¸c˜ao de igualdade em
C, K(A2
2) ´e a rela¸c˜ao de ordem parcial dada por (z,w)∈ K(A2
2) sse Re(z)≤
Re(w), (K)(a1) = 0, K(a2) = 1, K(f2
1 )K(f2
2 ) s˜ao respectivamente a soma e
o produto usuais; se υ(x1) = i, tem-se υ(f2
2 (x1, x1)) = i2
= −1 e (0, −1) ∈
K(A2
2).
3. ∃x1β ´e verdadeira em < R, =, ≤, 0, 1, +, • > e em < C, =, K(A2
2), 0, 1, +, • >
mas n˜ao ´e verdadeira para a seguinte interpreta¸c˜ao:
P(∀) = {0, 1}, P(a1) = P(a2) = 0, P(A2
1) = P(A2
2) = {(0, 1), (1, 0)}, P(f2
1 ) =
P(f2
2 ) ≡ 0.
4. Para qualquer fbf α de qualquer linguagem Lα ⇒ α ´e logicamente v´alida.
Atente-se neste ´ultimo exemplo.
Defini¸c˜ao 2.3.12 Uma f´ormula α de uma linguagem L diz-se a realiza¸c˜ao de
uma tautologia se existir uma tautologia β do c´alculo proposicional de modo que
α se obtem de β substituindo os s´ımbolos proposicionais de β por fbfs de L .
No exemplo 4 acima tratamos a realiza¸c˜ao de uma tautologia que ´e v´alida, como
seria de esperar.
Teorema 2.3.13 As realiza¸c˜oes de tautologias s˜ao logicamente v´alidas.
Antes de provarmos este teorema mostramos que a asser¸c˜ao rec´ıproca n˜ao vale
mostrando uma f´ormula logicamente v´alida que n˜ao ´e realiza¸c˜ao de tautologia.
Exemplos 2.3.14 Se a vari´avel x n˜ao ocorre livre na f´ormula α, ent˜ao |= ∀x ⇒ α
.
Dem. Vamos ver que, para qualquer valua¸c˜ao υ , se |=I α[υ(x|a)] ent˜ao |=I α[υ]:
se |=I α[υ], por defini¸c˜ao |=I α[υ(x|a)] para qualquerv a ∈ I(∀); mas x n˜ao ocorre
livre em α , portanto υ(x|a) e υ coincidem nas vari´aveis livres de α; do teorema
2.3.7 concluimos que |=I α[υ] como pretendiamos.
Dem. (do Teorema 2.3.13.) Vamos utilizar indu¸c˜ao em fpbfs. Para cada fpbf ϕ com
s´ımbolos proposicionais entre pi, 1 ≤ i ≤ m, e cada sequˆencia de fbfs α, 1 ≤ i ≤ m,
designemos por α(ϕ) a fbf da linguagem L que realiza ϕ substituindo-se cada pi por
α em ϕ . Para cada valua¸c˜ao υ de L e cada realiza¸c˜ao α(ϕ) de ϕ defina-se para
cada s´ımbolo proposicional p
51
υα(ϕ)(p) =



1 se p = pi e |=I αi[υ]
(1 ≤ i ≤ m)
0 se p = pi e |=I αi[υ]
1 caso contr´ario
Fica assim determinada uma valua¸c˜ao υα(ϕ) em . Vamos ver que se α realiza ϕ ,
ent˜ao |=I [υ] sse υα(ϕ)(ϕ) = 1.
Seja E o conjunto das fpbfs ϕ tais que, para qualquer fbf α(ϕ) e qualquer valua¸c˜ao
υ, |=I α(ϕ)[υ] sse υα(ϕ)(ϕ) = 1.
1. ) Os s´ımbolos proposicionais est˜ao em E.
Se ϕ = pj , para algum s´ımbolo proposicional pjα(ϕ) = αj , para alguma fbf
αj, e
υαj
(p) =



1 se p = pj e |=I αj[υ]
0 se p = pj e |=I αj[υ]
1 caso contr´ario
Como tamb´em υα(ϕ)(ϕ) = υαj
(pj), ´e imediato que |= Iα(ϕ)[υ] sse υα(ϕ)(ϕ) = 1
e conclui-se que pj ∈ E .
2. ) Se ϕ ∈ E , ent˜ao ∼ ϕ ∈ E . ´E f´acil verificar que α(∼ ϕ) =∼ α(ϕ),
pois os s´ımbolos proposicionais de φ e ∼ ϕ s˜ao os mesmos. Tem-se, para ϕ
em E :|=I α(∼ ϕ)[υ] sse |=I α(ϕ)[υ] sse |= Iα(ϕ)[υ] sse υα(ϕ)(ϕ) = 1 sse
υα(ϕ)(∼ ϕ) = 1. E ∼ ϕ ∈ E com se pretendia concluir.
3. ) Se ϕ, φ ∈ E , ent˜ao ϕ ⇒ φ ∈ E .
Tamb´em ´e praticamente imediato que α(ϕ ⇒ ϕ) = α(ϕ) ⇒ α(ϕ). Conv´em
ainda observar que υα(ϕ)⇒α(φ)(ϕ) = υα(ϕ)(ϕ) e que υα(ϕ)⇒α(φ)(φ), pois as valua¸c˜oes
em causa coincidem nos s´ımbolos proposicionais das fpbfs a serem avaliadas.
Tem-se ent˜ao, para φ, ϕ ∈ E : |=I α(ϕ ⇒ φ)[υ] sse |=I (α(ϕ) ⇒ α(φ))[υ] sse
|=I α(ϕ)[υ] ou |=I α(φ)[υ] sse υα(ϕ)(ϕ) = 1 ou υα(φ)(φ) = 1 sse υα(ϕ)⇒α(φ)(ϕ) =
1 ou υα(ϕ)⇒α(φ)(φ) = 1 sse υα(ϕ)⇒α(φ)
(ϕ ⇒ φ) = 1 sse υα(ϕ⇒φ)(ϕ ⇒ φ) = 1. Ou
seja ϕ ⇒ φinE. Segue-se que E = T .
q.e.d.
Um outro aspecto da validade de fbfs que interessa ter em conta ´e o seguinte.
Teorema 2.3.15 Para qualquer fbf α em L , qualquer vari´avel x e qualquer inter-
preta¸c˜ao I, |=I α sse |=I ∀xα .
A demonstra¸c˜ao faz-se muito simplesmente utilizando 2.3.7. Uma aplica¸c˜ao iterada
deste teorema prova o
Corol´ario 2.3.16 Para qualquer fbf α em L , quaisquer vari´aveis xi, 1 ≤ i ≤ m,
e qualquer interpret¸c˜ao I, |=I α sse |=I ∀x1...∀xnα . Em particular |= α sse |=
∀x1...∀xmα .
Observe-se ainda que
Teorema 2.3.17 Para quaisquer fbfs α e β em L , e qualquer interpreta¸c˜ao I , se
|=I α e |=I α ⇒ β, ent˜ao |=I β .
Em particular
Corol´ario 2.3.18 Para quaisquer fbfs α e β em L , se |= α e |= α ⇒ β ,ent˜ao |= β
.
2.4 Exerc´ıcios
1. Sejam α(xi) uma fbf onde a vari´avel xi ocorre livre e xj uma vari´avel que n˜ao
ocorre livre em α(xi). Seja α(xj) a fbf que resulta de substituir em α(xj) todas
as ocorrˆencias livres de xi por xj . Mostre que se xj ´e livre para xi em α(xi)
tamb´em xi ´e livre para xj em α(xj).
2. O quantificador existencial e os conectivos ∨, ∧ ⇔
(a) Mostre que para quaisquer fbf α , interpreta¸c˜ao I , valua¸c˜ao υ e vari´avel
x, |=I ∃xα[υ] sse |=I α[υ(x|a)] para algum a ∈ I(∀).
(b) Mostre que para quaisquer fbfs α, β, interpreta¸c˜ao I e valua¸c˜ao υ se tem
i. |=I (α ∧ β)[υ] sse |= α[υ] e |=I β[υ]
ii. |=I (α ∨ β)[υ] sse |= α[υ] ou |=I β[υ]
iii. |= (α ⇔ β)[υ] sse |=I (α ⇒ β)[υ] e |=I (β ⇒ α)[υ]
3. Implica¸c˜ao l´ogica
Diz-se que o conjunto de fbfs Γ implica logicamente a fbf α quando para qual-
quer interpreta¸c˜ao I e qualquer valua¸c˜ao υ , se |=I γ[υ] para qualquer fbf
γ ∈ Γ , ent˜ao |= α[υ]; Γ |= α abrevia ”Γ implica logicamente α ”; α |= β
abrevia ”{α} |= β ”.
53
(a) Mostre que Γ ∪ {α} |= β sse Γ |= α ⇒ β
(b) Mostre que {∀x(α ⇒ β), ∀xα} |= β
(c) Mostre que, se x n˜ao ocorre livre em α , ent˜ao α |= ∀xα (compare com o
exemplo 2.3.14.)
4. Mostre que nenhuma das seguintes proposi¸c˜oes implica logicamente a outra:
α = ∀x∃yP(x, y) ⇒ ∃y∀xP(x, y), β = ∀x∀y∀z(P(x, y) ⇒ P(y, z) ⇒ P(x, z))
5. Seja L uma linguagem cujos ´unicos parˆametros, al´em de ∀ , s˜ao dois s´ımbolos
predicativos bin´arios, E e P. Determine uma interpreta¸c˜ao I e uma proposi¸c˜ao
π tais que
(a) |=I π sse I (P) ´e uma fun¸c˜ao de I(∀) em I(∀)
(b) |=I π sse I (P) ´e uma permuta¸c˜ao de I(∀)
2.5 C´alculo de predicados; Teorema de Dedu¸c˜ao
Continuando a formalizar os processos b´asicos de dedu¸c˜ao em matem´atica vamos
estabelecer um sistema formal para a l´ogica de predicados cujos teoremas ser˜ao as
fbfs logicamente v´alidas.
Fixando nota¸c˜ao: uma fbf α pode ser tamb´em notada α(x1, ..., xn) se pretendemos
evidenciar que algumas das vari´aveis livres da f´ormula α est˜ao entre x1, ..., xn− nada
impede α(x1, ..., xn) = α(x1, ..., xm) com m = n - o n´umero de vari´aveis explicitadas
depende de quais pretendemos considerar; se ϕ nota um termo ou uma fbf, ϕx
t nota
a express˜ao que se obt´em de ϕ substituindo todas as ocorrˆencias (livres, no caso de
ϕ ser uma fbf) da vari´avel x pelo termo t.
Defini¸c˜ao 2.5.1 Para cada linguagem L com conjunto de fbfs F , o sistema formal
F(L) consiste no seguinte: para α e β fbfs arbitr´arias de L , O conjunto de ax-
iomas dado pelos esquemas
(F(L)1) Todas as realiza¸c˜oes de tautologias em L
(F(L)2)∀xα(x) ⇒ αx
t , se o termo t ´e livre para a vari´avel α
(F(L)3)∀x(α ⇒ β) ⇒ (α ⇒ ∀xβ), se a vari´avel x n˜ao ocorre livre em α
As regras de inferˆencia
(MP) Modus ponens: de α ⇒ β e α conclui-se β
(GEN) Generaliza¸c˜ao : de α conclui-se ∀xα , para qualquer vari´avel x
De ora em diante suporemos fixada uma linguagem de primeira ordem L .
Tal como para o C´alculo Proposicional, segue-se a defini¸c˜ao de dedu¸c˜ao.
Defini¸c˜ao 2.5.2 Seja Γ um conjunto de fbfs. Diz-se que a sequˆencia de fbfs α1, ..., αn
´e uma dedu¸c˜ao a partir de Γ (em F ( L )) se, para cada i (1 ≤ i ≤ n) uma das
condi¸c˜oes seguintes se verifica
1. αi ´e um axioma de F(L)
2. αi ∈ Γ
3. α obtem-se de duas fbfs αj, αk(1 ≤ j, k ≤ i) por aplica¸c˜ao de modus ponens.
4. αi obtem-se de alguma fbf anterior por generaliza¸c˜ao, i. e., αi = ∀xαj, para
algum j < i.
Nestas condi¸c˜oes diz-se que αn dedut´ıvel deΓ (em F(L)), αn ´e consequˆencia de Γ
(em F(L)) ou que Γ prova αn, sendo n o comprimento da dedu¸c˜ao. Se a fpbf ´e
dedut´ıvel de Γ escreve-se Γ F(L) α. Aos elementos de Γ chamam-se hip´oteses.
Os teoremas de F(L) s˜ao as fbfs dedut´ıveis de ∅ e nota-se F(L) α se α ´e um
teorema.
Os axiomas s˜ao os teoremas de F(L) de mais curta dedu¸c˜ao e, em particular, todas
as realiza¸c˜oes de tautologias s˜ao teoremas de F(L).
A caminho do teorema de completude temos
Teorema 2.5.3 As instˆancias dos axiomas (F(L)2), (F(L)3) e (F(L)4) s˜ao logi-
camente v´alidas.
Vamos utilizar os seguintes lemas, que provaremos mais tarde.
Lema 2.5.4 Para quaisquer valua¸c˜ao υ , termo ϕ , vari´avel x e termo t, υ(ϕx
t ) =
υ(x|υ(t))(ϕ).
55
Lema 2.5.5 Se o termo t ´e livre para a vari´avel x na fbf α, ent˜ao para qualquer
valua¸c˜ao υ numa interpreta¸c˜ao I
|=I αx
t [υ] sse |=I α[υ(x|υ(t))]
Dem. (de 2.5.3) Para o estudo de (F(L)2) veja-se o exemplo 2.3.14.
Quanto a (F(L)4) tem-se, para quaisquer fbfs α, β , tais que x n˜ao ocorre livre em
α , qualquer interpreta¸c˜ao I e qualquer valua¸c˜ao υ ,
|=I ∀x(α ⇒ β) ⇒ (α ⇒ xβ)[υ] sse |=I x(α ⇒ β)[υ] ou |=I (α ⇒ ∀xβ)[υ] sse
para algum a ∈ I(∀) |=I α ⇒ β[υ(x|a)] ou |=I (α ⇒ xβ)[υ] sse para algum
a ∈ I(∀) |= α[υ(x|a)] e |=I β[υ(x|a)], ou |=I (α ⇒ xβ)[υ]
Como x n˜ao ocorre livre em α , pelo teorema 2.3.7 a ´ultima situa¸c˜ao acontece
sse |= α[υ] e |= xβ[υ], ou |= (α ⇒ ∀xβ)[υ]
sse |= (α ⇒ xβ)[υ] ou |=I (α ⇒ xβ)[υ]
Ora a ´ultima condi¸c˜ao ´e sempre verificada. Portanto
|= ∀x(α ⇒ β) ⇒ (α ⇒ ∀xβ)
como se pretendia demonstrar.
Para as instˆancias de (F(L)3) utilizaremos 2.5.5.
Para quaisquer interpreta¸c˜ao I e valua¸c˜ao υ tem-se |=I (∀xαx
t (x) ⇒ α)[υ] sse |=I
∀xα(x)[υ] ou |=I αx
t [υ] ou, de outro modo, sse (2.5.1)
|=I αx
t [υ] quando |= ∀xα(x)[υ];
ora, por defini¸c˜ao,|= ∀xα(x)[υ] sse |=I α(x)[υ(x|a)] para qualquer a ∈ I(∀), em
particular, se |= ∀xα(x)[υ] ent˜ao, por 2.5.5, |=I α(x)[υ(x|υ(t))] ou seja |=I αx
t [υ];
em suma (2.5.1) verifica-se, como pretendiamos mostrar. q.e.d.
Demonstramos agora os lemas 2.5.4 e 2.5.5.
Dem. Tomem-se arbitrariamente as interpreta¸c˜ao I , valua¸c˜ao υ, vari´avel x, termo
t e fbf α .
(Dem. de 2.5.4) Seja E = {ϕ ∈ T : υ(ϕx
t ) = υ(x|υ(t))(ϕ)}.
1. As vari´aveis est˜ao em E .
Se ϕ ´e a vari´avel y, tem-se
ϕx
t = yx
t =



y se y = x
t se y = x
Assim, se y = x, υ(ϕx
t ) = υ(y) = υ(x|υ(t))(y) = υ(x|υ(t))(ϕ) pois υ(x|υ(t))
coincide com υ em todas as vari´aveis que n˜ao s˜ao x. Se y=x, υ(ϕx
t ) = υ(t) =
υ(x|υ(t))(x) = υ(x|υ(t))(y) = υ(x|υ(t))(ϕ).
E 1 fiva provado.
2. Se ϕ1, ..., ϕn ∈ E e f ´e um s´ımbolo funcional (n-´ario), f( ϕ1, ..., ϕn) ∈ E .
Tem-se f(ϕ1, ..., ϕn)x
t = f((ϕ1)x
t , ..., (ϕn)x
t ) e portanto υ(f(ϕ1, ..., ϕn)x
t ) =
I(f)(υ((ϕ1)x
t ), ..., υ((ϕn)x
t ))
= I(f)(υ(x|υ(t))(ϕ1), ..., υ(x|υ(t))(ϕn))
= υ(x|υ(t))(f(ϕ1, ..., ϕn))
Portanto 2 fica provado
Pelo Princ´ıpio de Indu¸c˜ao em Termos E = T e 2.5.4 est´a demonstrado.
(Dem. de 2.5.5) Seja E o conjunto das fbfs α para as quais
|=I αx
t [υ] sse |=I α[υ(x|υ(t))]
quando t ´e livre para x em α.
No que segue t ´e livre para x nas fbfs adequadas.
1. E contˆem as f´ormulas at´omicas. Sejam t1 termos (1 ≤ i ≤ n) e P um s´ımbolo
predicativo (n-´ario).
Tem-se, para terminar a prova de 1a ,|=I P(t1, ..., tn)x
t [υ] sse |=I P((t1)x
t , ..., (tn)x
t )[υ]
sse (υ((t1)x
t ), ..., υ((t1)x
t )) ∈ I (P) (por defini¸c˜ao)
sse (υ(x|υ(t))(t1), ..., υ(x|υ(t))(tn)) ∈ I (P) (por 2.5.4)
sse |= P(t1, ..., tn) [υ(x|υ(t))] (por defini¸c˜ao)
57
2. Se α ∈ E tamb´em ∼ α ∈ E .
A demonstra¸c˜ao ainda ´e mais simples que a anterior e deixamo-la ao cuidado
do leitor.
3. Se α ∈ E e y ´e uma vari´avel, ent˜ao ∀yα ∈ E .
(a) y=x
|=I (∀yα)x
t [υ] sse |=I (∀xα)x
t [υ] sse |=I ∀xα[υ]
Como υ e υ(x|υ(t)) coincidem nas vari´aveis livres de ∀xα, vem |=I ∀xα[υ]
sse |=I ∀xα[υ(x|υ(t))] e neste caso vale 3.
(b) y = x
|=I (∀yα)x
t [υ] sse |=I ∀y(αx
t )[υ]
sse |=I αx
t [υ(y|a)] para qualquer a ∈ I(∀) (por defini¸c˜ao)
sse |=I α[υ(y|a)(x|υ(t))] para qualquer a ∈ I(∀)(a ∈ E)
sse |=I α[υ(x|υ(t))(y|a)] para qualquer a∈ I(∀)
sse |=I (∀α)[υ(x|υ(t))].
e continua a valer 3 .
(c) Se α, β ∈ E , ent˜ao α ⇒ β ∈ E
Comecemos por observar que (α ⇒ β)x
t = αx
t ⇒ βx
t . Tem-se ent˜ao
|=I (α ⇒ β)x
t [υ] sse |=I (αx
t ⇒ βx
t )[υ]
sse |=I αx
t [υ]ou |= βx
t [υ] (por defini¸c˜ao)
sse |=I α[υ(x|υ(t))] ou |=I β[υ(x|υ(t))] (α, β ∈ E)
sse |=I α ⇒ β[υ(x|υ(t))] (por defini¸c˜ao)
4 verifica-se e 2.3.5 resulta do Princ´ıpio de Indu¸c˜ao em F´ormulas.
q.e.d.
O corol´ario 2.3.18. diz que a a regra MP preserva a validade l´ogica. O corol´ario
2.3.16 implica que a regra GEN preserva a validade l´ogica. Segue-se ent˜ao um
resultado facilmente demonstr´avel por indu¸c˜ao no comprimento das demon-
stra¸c˜oes.
Teorema 2.5.6 (De Boa Fundamenta¸c˜ao) Os teoremas de F(L) s˜ao logicamente
v´alidos.
Uma consequˆencia imediata ´e
Corol´ario 2.5.7 Para qualquer fbf α, α e ∼ α n˜ao podem ser simultˆa neamente
teoremas de F(L).
Ou seja F(L) ´e consistente; mas voltaremos a este assunto mais adiante.
regra GEN introduz uma restri¸c˜ao no Teorema de Dedu¸c˜ao para F(L).
Teorema 2.5.8 (De Dedu¸c˜ao)
Sejam α e β fbfs e Γ um conjunto de fbfs. Se Γ∪{α} F(L β com uma demonstra¸c˜ao
que n˜ao utiliza GEN em alguma vari´avel livre em α, ent˜ao Γ F(L) α ⇒ β .
Os exemplos seguintes mostram que a hip´otese suplementar sobre GEN ´e necess´aria.
Exemplos 2.5.9 1. Sejam P um s´ımbolo predicativo bin´ario, x uma vari´avel e c
uma constante. Uma aplica¸c˜ao de GEN mostra que {P(x, c)} F(L) ∀xP(x, c).
Vamos ver que |= {P(x, c)} ⇒ ∀P(x, c) e portanto, de acordo com o teorema
de boa fundamenta¸c˜ao, P(x, c) ⇒ ∀xP(x, c) n˜ao ´e um teorema de F(L ).
Basta Definir I do seguinte modo: I(∀) = {1, 2}, I(c) = 1, I(P) = {(2, 1)}.
Se υ (x)=2 vem |= P(x, c)[υ], mas |= ∀xP(x, c)[υ] pois de facto P(x,c) s´o ´e
satisfeita pelas valua¸c˜oes υ que verificam υ (x)=2.
2. Sejam P um s´ımbolo predicativo bin´ario e x1 e xn vari´aveis. Uma aplica¸c˜ao
de GEN mostra que {P(x1, x2)} F(L) ∀x1P(x1, x2).
Vamos ver que |= P(x1, x2) ⇒ ∀x1P(x1, x2). Basta Definir I do seguinte
modo: I(∀) = {1, 2}, I(P) = {(2, 1), (1, 1), (1, 2)}. Se υ(x2) = 1, ent˜ao |=I
∀x1P(x1, x2)[υ] e portanto |=I P(x1, x2) ⇒ ∀x1P(x1, x2)[υ]; mas se υ(x1) = 1
e υ(x2) = 2, ent˜ao |=I P(x1, x2)[υ] e |=I1 P(x1, x2)[υ] e assim |=I P(x1, x2) ⇒
∀x1P(x1, x2)[υ].
Dem. (teorema 2.5.8) Utilizaremos indu¸c˜ao no comprimento n das dedu¸c˜oes
de β a partir de Γ ∪ {α}. Suponha-se ent˜ao que Γ ∪ {α} F(L) β com uma
dedu¸c˜ao de comprimento n.
Se n=1, ou β ´e um axioma ou β ∈ Γ ou β = α . Nos dois primeiros casos
a sequˆencia β, β ⇒ α ⇒ β, α ⇒ β ´e uma dedu¸c˜ao de α ⇒ β a partir de Γ−
note-se que β ⇒ α ⇒ β ´e uma realiza¸c˜ao de tautologia − consequentemente
Γ F(L) α ⇒ β. No terceiro caso α ⇒ β = α ⇒ α e a realiza¸c˜ao de tautologia
α ⇒ α ´e um axioma, logo um teorema de F(L), portanto Γ F(L) α ⇒ β .
Admita-se, como hip´otese de indu¸c˜ao, que a asser¸c˜ao do teorema vale para
quaisquer α e β quando as dedu¸c˜oes tˆem comprimento menor ou igual a n.
Suponha-se que α1, ..., αn+1 ´e uma dedu¸c˜ao de β a partir de Γ∪{α}− e portanto
β = αn+1 .
Se β n˜ao se concluiu por GEN podemos utilizar a demonstra¸c˜ao do teorema
de dedu¸c˜ao da l´ogica proposicional para concluir Γ F(L) α ⇒ β.
Se β se concluiu por GEN, por hip´otese − do pr´oprio teorema− existe um
i ≤ n e uma vari´avel x que n˜ao ocorre livre em α tal que β = ∀xαi . Por
hip´otese de indu¸c˜ao Γ F(L) α ⇒ αi . Temos ent˜ao a seguinte dedu¸c˜ao a
partir de Γ
59
(a) α ⇒ αi (Γ F(L
(b) ∀x(α ⇒ α) (GEN em x que nao ocorre livre em α)
(c) ∀x(α ⇒ αi) ⇒ (α ⇒ ∀xαi) (F(L)4)
(d) α ⇒ ∀xαi (MP 2 & 3)
Observando que a ´ultima fbf da dedu¸c˜ao ´e precisamente α ⇒ β e aplicando o
Princ´ıpio de Indu¸c˜ao matem´atica concluimos a demonstra¸c˜ao do Teorema de Dedu¸c˜ao.
q.e.d.
´E claro que sem restri¸c˜oes ao uso de GEN
Teorema 2.5.10 Para quaisquer fbfs α e β e conjunto de f´ormulas Γ, se Γ F(L)
α ⇒ β , ent˜ao Γ ∪ {α} F(L) β .
Um caso bastante mais importante ´e descrito no seguinte corol´ario do Teorema de
Dedu¸c˜ao.
Corol´ario 2.5.11 Quando α ´e uma proposi¸c˜ao, β ´e uma fbf qualquer e Γ ´e um
conjunto de f´ormulas, se Γ ∪ {α} F(L) β ent˜ao Γ F(L) α ⇒ β .
Dem. Mesmo que se utilize GEN em alguma dedu¸c˜ao de β a partir deΓ ∪ {α},
ser´a sempre sobre vari´aveis que n˜ao ocorrem livres em α , pois todas as vari´aveis
em α ocorrem mudas. q.e.d.
2.6 Exerc´ıcios
No que segue, letras gregas min´usculas α, β, γ, etc. designam fbfs de uma linguagem
L ; as ´ultimas letras do alfabeto latino x, y, z, designam vari´aveis, n˜ao necessaria-
mente distintas, de L ; t designa um termo de L ; letras mai´usculas P ou Q designam
s´ımbolos proposicionais de adequada n-aridade.
1. Mostre que
(a) F(L) ∀xα ⇒ α
(b) F(L) ∀x(α ⇒ β) ⇒ (∀xα ⇒ ∀xβ )
(c) F(L) (∀xα ⇒ x∀β) ⇒ x(∀α ⇒ β)
(d) F(L) α(t) ⇒ ∃xα(x) se t ´e livre para x em α
(e) F(L) ∀xα ⇒ ∃xα
2. Mostre que
(a) F(L) α ⇔ β sse F(L) α ⇒ β e F(L β ⇒ α
(b) Se F(L) α ⇒ β e F(L) β ⇒ γ , ent˜ao F(L) α ⇒ γ
(c) Se x ocorre livre em α e y n˜ao ocorre em α , ent˜ao F(L) Qxα(x) ⇔
Qyα(y), onde Q designa ∀ ou ∃ .
3. Suponha que x n˜ao ocorre livre em α. Mostre que
(a) F(L) (α ⇒ ∃xβ) ⇔ ∃x(α ⇒ β)
(b) F(L) (∀xβ ⇒ α) ⇔ ∃x(β ⇒ α)
4. Mostre que ∀x∀yP(x, y) F(L) ∀x∀yP(y, x)
5. Mostre que
(a) F(L) ∃x(α ∨ β) ⇔ (∃xα ∨ ∃xβ)
(b) F(L) (∀xα ∨ forallxβ) ⇒ ∀x(α ∨ β)
(c) F(L) ∃x(α ∧ β) ⇒ (∃xα ∧ ∃xβ)
(d) F(L) ∀x(α ⇒ β) ⇒ (∃xα ⇒ ∃xβ)
(e) F(L) ∃x(P(y) ∧ Q(x)) ⇔ P(y) ∧ ∃xQ(x).
6. Mostre que as implica¸c˜oes se n˜ao podem inverter nas al´ıneas (b), (c) e (d) do
exerc´ıcio anterior.
2.7 Um Teorema de Completude
Esta sec¸c˜ao ´e dedicada a terminar a demonstra¸c˜ao do seguinte
Teorema 2.7.1 (de Completude) Seja Luma linguagem de primeira ordem. Para
qualquer fbf α de L, |= α sse F(L) α.
Repare-se que o Teorema de Boa Fundamenta¸c˜ao 2.5.6 j´a afirma que se F(L) α
ent˜ao |= α, pelo que s´o resta demonstrar a asser¸c˜ao rec´ıproca.
Tal como para o C´alculo Proposicional, vamos utilizar a no¸c˜ao de extens˜ao de sis-
temas formais. No caso presente interessam-nos apenas as extens˜oes em que even-
tualmente se modificam os axiomas mas se mantˆem as regras de inferˆencia.
Continuamos a supor fixada arbitrariamente uma linguagem de primeira ordem L
cujas f´ormulas bem formadas ser˜ao designadas abreviadamente por fbf.
Um sistema formal para a L´ogica de predicados consiste num conjunto de f´ormulas
de L, designadas por axiomas, e pelas regras de inferˆencia MP e GEN. Em qualquer
sistema formal h´a dedu¸c˜oes e teoremas.
61
Defini¸c˜ao 2.7.2 Seja Γ um conjunto de fbfs. Diz-se que a sequˆencia de fbfs α1, ..., αn
´e uma dedu¸c˜ao a partir de Γ no sistema formal G(L) se, para cada i (≤ i ≤ n)
uma das condi¸c˜oes seguintes se verifica
1. αi ´e um axioma de G(L)
2. αi ∈ Γ
3. α obtem-se de duas fbfs αj, αk(1 ≤ j, k < i) por aplica¸c˜ao de modus ponens.
4. αi obtem-se de alguma fbf anterior por generaliza¸c˜ao, i. e., αi = ∀xαj , para
algum j < i.
Nestas condi¸c˜oes diz-se que α ´e dedut´ıvel de Γ em S(L), αn ´e consequˆencia de Γ
(em S(L)) ou que Γ prova αn , sendo n o comprimento da dedu¸c˜ao. Se a fpbf ´e
dedut´ıvel de Γ escreve-seΓ G(L) α . Aos elementos de Γ chamam-se hip´oteses. Os
teoremas de G(L) s˜ao as fbfs dedut´ıveis de ∅ e nota-se G(L) α se α ´e um teorema.
O conjunto dos teoremas de G(L) designa-se por Teo (G(L)).
Alguns sistemas formais s˜ao compar´aveis
Defini¸c˜ao 2.7.3 O sistema formal G (L) diz-se uma extens˜ao de G(L) se Teo
(G(L)) ⊆ Teo (G (L )).
De ora em diante designaremos por sistema ou sistema de primeira ordem
qualquer sistema formal que seja extens˜ao de F(L).
Tamb´em neste contexto interessa avaliar a consistˆencia dos sistemas
Defini¸c˜ao 2.7.4 Um sistema G(L) diz-se consistente se para nenhuma fbf αse
tem simultˆaneamente G(L) α e G(L)∼ α
O teorema de Boa Fundamenta¸c˜ao permite concluir
Teorema 2.7.5 F(L) ´e consistente
A express˜ao S(L); α designa o sistema que se obtem de G(L) adicionando a fbf α
ao conjunto de axiomas.
Teorema 2.7.6 Sejam G(L) um sistema e π uma proposi¸c˜ao de L. Se G(L) ´e
consistente e }(L) π, ent˜ao G(L); ∼ π ´e consistente.
Este teorema estabelece de facto o m´etodo de redu¸c˜ao ao absurdo , pois tem
tamb´em a seguinte formula¸c˜ao.
Teorema 2.7.6.1 Sejam G(L) um sistema e π uma proposi¸c˜ao de L. Se G(L); ∼ π
´e inconsistente ent˜ao G(L) π .
´E esta a vers˜ao que vamos demonstrar.
Dem. Suponha-se que G(L); ∼ π ´e inconsistente e seja α uma fbf tal que G(L);∼π α
e G(L);∼π∼ α
{∼ π} G(L) α e {∼ π} G(L)∼ α
Como π por hip´otese n˜ao tem vari´aveis livres, o Teorema de Dedu¸c˜ao permite con-
cluir
G(L)∼ π ⇒ α e G(L)∼ π ⇒∼ α
Existe assim uma dedu¸c˜ao em G(L) com a seguinte forma abreviada − recorde-se
que G(L) ´e extens˜ao de F(L)−
1. ∼ π ⇒ α ( G(L))
2. ∼ π ⇒ α ( G(L))
3. (∼ π ⇒ α) ⇒ (∼ π ⇒ α) ⇒ π (F(L)1)
4. π (MP1&2&3)
Portanto G(L) π . q.e.d.
Exemplos 2.7.7
1. Sem a hip´otese de π ser uma proposi¸c˜ao o teorema n˜ao vale, como se pode ver
com o seguinte exemplo: Seja α = P(x) ⇒ ∀xP(x), para algum s´ımbolo pred-
icativo P; F(L) α pois |= α (Teorema de Boa Fundamenta¸c˜ao); por outro lado
∼ α = P(x)∧ ∼ ∀xP(x), portanto ∼ α F(L) P(x) e ∼ α F(L)∼ ∀xP(x) (pelo
exerc´ıcio 1.8.1). De ∼ α F(L) P(x) obtem-se ∼ α F(L) xP(x) utilizando
GEN, consequentemente F(L);∼α ∀xP(x) e F(L);∼α∼ ∀xP(x).F(L); ∼ α ´e
inconsistente e F(L) α.
2. Deixa-se ao cuidado do leitor mostrar que G(F) ∃x(P(x) ⇒ ∀xP(x)).
As proposi¸c˜oes interessam-nos particularmente.
63
Defini¸c˜ao 2.7.8 Um sistema G(L) diz-se completo se para qualquer proposicao
π de L se tem G(L) π ou G(L)∼ π.
Tal como em 1.7.7 tamb´em se tem
Teorema 2.7.9 Todo o sistema consistente tem uma extens˜ao consistente e com-
pleta.
Dem. O conjunto das proposi¸c˜oes ´e numer´avel, pelo que podemos supo-las enu-
meradas em π0, π1, ..., πn, ... Analogamente ao que fizemos em 1.7.7 definimos, com
nota¸c˜ao adaptada naturalmente
G(L)0 = F(L)
G(L)n+1 =



G(L)n se G(L)n πn
(n ∈ N)
G(L)n; ∼ πn se G(L)n πn
G(L)∞ = ∪∞
n=0G(L)n
Todos os G(L)n s˜ao consistentes (pelo Teorema 2.7.6). Uma prova de inconsistˆencia
de G(L)∞, i.e., uma dedu¸c˜ao de α e outra de ∼ α para alguma fbf α, prova de facto a
inconsistˆencia de algum G(L)n . Consequentemente G(L)∞ ´e consistente. Por con-
stru¸c˜ao, qualquer proposi¸c˜ao π ´e uma das πne ou j´a era um teorema de algum dos sis-
temas − logo de G(L)∞− ou ∼ π foi adicionada ao conjunto de axiomas − e passou a
ser um teorema. Conclui-se que G(L)∞ ´e completo. q.e.d.
Os pr´oximos teoremas tamb´em descrevem v´arios aspectos de um processo usual de
demonstra¸c˜ao em Matem´atica: a generaliza¸c˜ao de um resultado obtido para uma
constante arbitr´aria ; para a sua demonstra¸c˜ao vamos utilizar a seguinte nota¸c˜ao:
para cada fbf φ, cada constante c e cada vari´avel x, φc
x designa a fbf que se obt´em de
φ substituindo cada ocorrˆencia de c em φ por x. Recorde-se que, para uma vari´avel
x e um termo t, φx
t ´e a fbf que resulta de φ substituindo as ocorrˆencias livres de x
em φ por t. Finalmente observe-se que, se t ´e um termo que n˜ao ocorre na fbf φ ,
ent˜ao φt
s = φ , seja qual for o termo s.
Teorema 2.7.10 (de Generaliza¸c˜ao em Constantes) Sejam Γ um conjunto de fbfs,
φ uma fbf e c uma constante que n˜ao ocorre em Γ. Se Γ F(L) ϕ, existe uma vari´avel
x, que n˜ao ocorre em ϕ, tal que Γ F(L) ∀xϕc
x. Al´em disso, existe uma dedu¸c˜ao de
∀xϕc
x a partir de Γ onde c n˜ao ocorre.
Dem. Sejam α1, ..., αn uma dedu¸c˜ao de ϕ a partir de Γ e x uma vari´avel que n˜ao
ocorre em qualquer das αi . Vamos ver que (*)
Introd logica mat ii
Introd logica mat ii
Introd logica mat ii
Introd logica mat ii
Introd logica mat ii
Introd logica mat ii
Introd logica mat ii
Introd logica mat ii
Introd logica mat ii
Introd logica mat ii
Introd logica mat ii
Introd logica mat ii
Introd logica mat ii
Introd logica mat ii
Introd logica mat ii
Introd logica mat ii
Introd logica mat ii
Introd logica mat ii
Introd logica mat ii
Introd logica mat ii
Introd logica mat ii
Introd logica mat ii
Introd logica mat ii
Introd logica mat ii
Introd logica mat ii
Introd logica mat ii
Introd logica mat ii
Introd logica mat ii
Introd logica mat ii
Introd logica mat ii
Introd logica mat ii
Introd logica mat ii
Introd logica mat ii
Introd logica mat ii
Introd logica mat ii
Introd logica mat ii
Introd logica mat ii
Introd logica mat ii
Introd logica mat ii
Introd logica mat ii
Introd logica mat ii
Introd logica mat ii
Introd logica mat ii
Introd logica mat ii
Introd logica mat ii
Introd logica mat ii
Introd logica mat ii
Introd logica mat ii
Introd logica mat ii
Introd logica mat ii
Introd logica mat ii
Introd logica mat ii
Introd logica mat ii
Introd logica mat ii
Introd logica mat ii
Introd logica mat ii
Introd logica mat ii
Introd logica mat ii
Introd logica mat ii
Introd logica mat ii
Introd logica mat ii
Introd logica mat ii
Introd logica mat ii
Introd logica mat ii
Introd logica mat ii
Introd logica mat ii
Introd logica mat ii
Introd logica mat ii
Introd logica mat ii
Introd logica mat ii
Introd logica mat ii
Introd logica mat ii
Introd logica mat ii
Introd logica mat ii
Introd logica mat ii
Introd logica mat ii

Mais conteúdo relacionado

Mais procurados

Decomposições de matrizes utilizando conceitos de Auto Vetores e Auto Valores
Decomposições de matrizes utilizando conceitos de Auto Vetores e Auto ValoresDecomposições de matrizes utilizando conceitos de Auto Vetores e Auto Valores
Decomposições de matrizes utilizando conceitos de Auto Vetores e Auto ValoresFelipe Schimith Batista
 
Método de Newton-Raphson - @professorenan
Método de Newton-Raphson - @professorenanMétodo de Newton-Raphson - @professorenan
Método de Newton-Raphson - @professorenanRenan Gustavo
 
Ma12 20160512-wa0001
Ma12 20160512-wa0001Ma12 20160512-wa0001
Ma12 20160512-wa0001Jair Ferreira
 
Introdução a Dedução Natural
Introdução a Dedução Natural Introdução a Dedução Natural
Introdução a Dedução Natural Luiz Ottávio
 
Equações Algébricas e Transcendentes - Isolamento de Raízes - @professorenan
Equações Algébricas e Transcendentes - Isolamento de Raízes - @professorenanEquações Algébricas e Transcendentes - Isolamento de Raízes - @professorenan
Equações Algébricas e Transcendentes - Isolamento de Raízes - @professorenanRenan Gustavo
 
Equações Algébricas e Transcendentes - Método da Bisseção - @professorenan
Equações Algébricas e Transcendentes - Método da Bisseção - @professorenanEquações Algébricas e Transcendentes - Método da Bisseção - @professorenan
Equações Algébricas e Transcendentes - Método da Bisseção - @professorenanRenan Gustavo
 
Diferenciação e Integração Numérica - @professorenan
Diferenciação e Integração Numérica - @professorenanDiferenciação e Integração Numérica - @professorenan
Diferenciação e Integração Numérica - @professorenanRenan Gustavo
 
Logica Algoritmo 08 Recursividade
Logica Algoritmo 08 RecursividadeLogica Algoritmo 08 Recursividade
Logica Algoritmo 08 RecursividadeRegis Magalhães
 
Mat progressoes aritmeticas p a
Mat progressoes aritmeticas p aMat progressoes aritmeticas p a
Mat progressoes aritmeticas p atrigono_metria
 
Pts equilibrio
Pts equilibrioPts equilibrio
Pts equilibrioJoyce Maia
 

Mais procurados (20)

Aula 01
Aula 01Aula 01
Aula 01
 
Calculo do residuo
Calculo do residuoCalculo do residuo
Calculo do residuo
 
Introd logica mat
Introd logica matIntrod logica mat
Introd logica mat
 
Algebra linear operações com matrizes
Algebra linear   operações com matrizesAlgebra linear   operações com matrizes
Algebra linear operações com matrizes
 
Algebra linear operações com matrizes
Algebra linear operações com matrizesAlgebra linear operações com matrizes
Algebra linear operações com matrizes
 
Primeira parte
Primeira partePrimeira parte
Primeira parte
 
Decomposições de matrizes utilizando conceitos de Auto Vetores e Auto Valores
Decomposições de matrizes utilizando conceitos de Auto Vetores e Auto ValoresDecomposições de matrizes utilizando conceitos de Auto Vetores e Auto Valores
Decomposições de matrizes utilizando conceitos de Auto Vetores e Auto Valores
 
Método de Newton-Raphson - @professorenan
Método de Newton-Raphson - @professorenanMétodo de Newton-Raphson - @professorenan
Método de Newton-Raphson - @professorenan
 
Teste1
Teste1Teste1
Teste1
 
Ma12 20160512-wa0001
Ma12 20160512-wa0001Ma12 20160512-wa0001
Ma12 20160512-wa0001
 
Introdução a Dedução Natural
Introdução a Dedução Natural Introdução a Dedução Natural
Introdução a Dedução Natural
 
Equações Algébricas e Transcendentes - Isolamento de Raízes - @professorenan
Equações Algébricas e Transcendentes - Isolamento de Raízes - @professorenanEquações Algébricas e Transcendentes - Isolamento de Raízes - @professorenan
Equações Algébricas e Transcendentes - Isolamento de Raízes - @professorenan
 
Estrutura de dados em Java - Recursividade
Estrutura de dados em Java - RecursividadeEstrutura de dados em Java - Recursividade
Estrutura de dados em Java - Recursividade
 
Equações Algébricas e Transcendentes - Método da Bisseção - @professorenan
Equações Algébricas e Transcendentes - Método da Bisseção - @professorenanEquações Algébricas e Transcendentes - Método da Bisseção - @professorenan
Equações Algébricas e Transcendentes - Método da Bisseção - @professorenan
 
Diferenciação e Integração Numérica - @professorenan
Diferenciação e Integração Numérica - @professorenanDiferenciação e Integração Numérica - @professorenan
Diferenciação e Integração Numérica - @professorenan
 
Logica Algoritmo 08 Recursividade
Logica Algoritmo 08 RecursividadeLogica Algoritmo 08 Recursividade
Logica Algoritmo 08 Recursividade
 
Metodo gradiente
Metodo gradienteMetodo gradiente
Metodo gradiente
 
5
55
5
 
Mat progressoes aritmeticas p a
Mat progressoes aritmeticas p aMat progressoes aritmeticas p a
Mat progressoes aritmeticas p a
 
Pts equilibrio
Pts equilibrioPts equilibrio
Pts equilibrio
 

Destaque (15)

JINGLE LYRICS_trans
JINGLE LYRICS_transJINGLE LYRICS_trans
JINGLE LYRICS_trans
 
Tarea del seminario 3
Tarea del seminario 3Tarea del seminario 3
Tarea del seminario 3
 
E-learning. Презентация Е.Н. Соболевой
E-learning. Презентация Е.Н. СоболевойE-learning. Презентация Е.Н. Соболевой
E-learning. Презентация Е.Н. Соболевой
 
Iit notes
Iit notesIit notes
Iit notes
 
Bahagisnm c
Bahagisnm cBahagisnm c
Bahagisnm c
 
Seminario 2 (fama pubmed)
Seminario 2 (fama pubmed)Seminario 2 (fama pubmed)
Seminario 2 (fama pubmed)
 
p. 47-66
p. 47-66p. 47-66
p. 47-66
 
Phyllis wheatley power point slide
Phyllis wheatley power point slidePhyllis wheatley power point slide
Phyllis wheatley power point slide
 
Slideshare yina
Slideshare yinaSlideshare yina
Slideshare yina
 
amani c.v
amani c.vamani c.v
amani c.v
 
El clima
El climaEl clima
El clima
 
THE FILIPINO CHINESE WOMAN: CREATION OF TRANSNATIONAL FEMINIST COUNTERPUBLIC ...
THE FILIPINO CHINESE WOMAN: CREATION OF TRANSNATIONAL FEMINISTCOUNTERPUBLIC ...THE FILIPINO CHINESE WOMAN: CREATION OF TRANSNATIONAL FEMINISTCOUNTERPUBLIC ...
THE FILIPINO CHINESE WOMAN: CREATION OF TRANSNATIONAL FEMINIST COUNTERPUBLIC ...
 
Teoria dos numeros primos i
Teoria dos numeros primos iTeoria dos numeros primos i
Teoria dos numeros primos i
 
Talk to me: Signs + Labels by Mary Van Dyke
Talk to me: Signs + Labels by Mary Van DykeTalk to me: Signs + Labels by Mary Van Dyke
Talk to me: Signs + Labels by Mary Van Dyke
 
N inteiros
N inteirosN inteiros
N inteiros
 

Semelhante a Introd logica mat ii (20)

Argmat2009
Argmat2009Argmat2009
Argmat2009
 
Algebra kat
Algebra  katAlgebra  kat
Algebra kat
 
Introducao_a_Algebra_Linear.pdf
Introducao_a_Algebra_Linear.pdfIntroducao_a_Algebra_Linear.pdf
Introducao_a_Algebra_Linear.pdf
 
Espaços metricos
Espaços metricosEspaços metricos
Espaços metricos
 
Introdução aos espaços de dimensão infinita
Introdução aos espaços de dimensão infinitaIntrodução aos espaços de dimensão infinita
Introdução aos espaços de dimensão infinita
 
Apostila unijuí matemática aplicada à administração 2
Apostila unijuí   matemática aplicada à administração 2Apostila unijuí   matemática aplicada à administração 2
Apostila unijuí matemática aplicada à administração 2
 
Paalga
PaalgaPaalga
Paalga
 
Livro seagro
Livro seagroLivro seagro
Livro seagro
 
Tccfinal
TccfinalTccfinal
Tccfinal
 
Sequencias e-series
Sequencias e-seriesSequencias e-series
Sequencias e-series
 
2022_tcc_genpinheirofilho.pdf
2022_tcc_genpinheirofilho.pdf2022_tcc_genpinheirofilho.pdf
2022_tcc_genpinheirofilho.pdf
 
4 groebner danton4 dissertacao
4 groebner danton4 dissertacao4 groebner danton4 dissertacao
4 groebner danton4 dissertacao
 
Analise matematica-2003
Analise matematica-2003Analise matematica-2003
Analise matematica-2003
 
Integrais de Trajetória
Integrais de TrajetóriaIntegrais de Trajetória
Integrais de Trajetória
 
Metódos de Pesquisa em C
Metódos de Pesquisa em CMetódos de Pesquisa em C
Metódos de Pesquisa em C
 
Algebra linear 1
Algebra linear 1Algebra linear 1
Algebra linear 1
 
Algebra
AlgebraAlgebra
Algebra
 
Edp1 aulas-22-8-13
Edp1 aulas-22-8-13Edp1 aulas-22-8-13
Edp1 aulas-22-8-13
 
graphtheorysftfc
graphtheorysftfcgraphtheorysftfc
graphtheorysftfc
 
Gustavo relatorio
Gustavo relatorioGustavo relatorio
Gustavo relatorio
 

Mais de Paulo Martins

Teoria dos-numerosiii
Teoria dos-numerosiiiTeoria dos-numerosiii
Teoria dos-numerosiiiPaulo Martins
 
Intro teoria dos numerros i
Intro teoria dos numerros iIntro teoria dos numerros i
Intro teoria dos numerros iPaulo Martins
 
Intro teoria dos numerros cap8
Intro teoria dos numerros cap8Intro teoria dos numerros cap8
Intro teoria dos numerros cap8Paulo Martins
 
Intro teoria dos numerros cap7
Intro teoria dos numerros cap7Intro teoria dos numerros cap7
Intro teoria dos numerros cap7Paulo Martins
 
Intro teoria dos numerros cap6
Intro teoria dos numerros cap6Intro teoria dos numerros cap6
Intro teoria dos numerros cap6Paulo Martins
 
Intro teoria dos numerros cap5
Intro teoria dos numerros cap5Intro teoria dos numerros cap5
Intro teoria dos numerros cap5Paulo Martins
 
Intro teoria dos numerros cap4
Intro teoria dos numerros cap4Intro teoria dos numerros cap4
Intro teoria dos numerros cap4Paulo Martins
 
Intro teoria dos numerros cap3
Intro teoria dos numerros cap3Intro teoria dos numerros cap3
Intro teoria dos numerros cap3Paulo Martins
 
Intro teoria dos números cap2
Intro teoria dos  números cap2Intro teoria dos  números cap2
Intro teoria dos números cap2Paulo Martins
 
Intro teoria dos numeros cap1
Intro teoria dos numeros cap1Intro teoria dos numeros cap1
Intro teoria dos numeros cap1Paulo Martins
 

Mais de Paulo Martins (10)

Teoria dos-numerosiii
Teoria dos-numerosiiiTeoria dos-numerosiii
Teoria dos-numerosiii
 
Intro teoria dos numerros i
Intro teoria dos numerros iIntro teoria dos numerros i
Intro teoria dos numerros i
 
Intro teoria dos numerros cap8
Intro teoria dos numerros cap8Intro teoria dos numerros cap8
Intro teoria dos numerros cap8
 
Intro teoria dos numerros cap7
Intro teoria dos numerros cap7Intro teoria dos numerros cap7
Intro teoria dos numerros cap7
 
Intro teoria dos numerros cap6
Intro teoria dos numerros cap6Intro teoria dos numerros cap6
Intro teoria dos numerros cap6
 
Intro teoria dos numerros cap5
Intro teoria dos numerros cap5Intro teoria dos numerros cap5
Intro teoria dos numerros cap5
 
Intro teoria dos numerros cap4
Intro teoria dos numerros cap4Intro teoria dos numerros cap4
Intro teoria dos numerros cap4
 
Intro teoria dos numerros cap3
Intro teoria dos numerros cap3Intro teoria dos numerros cap3
Intro teoria dos numerros cap3
 
Intro teoria dos números cap2
Intro teoria dos  números cap2Intro teoria dos  números cap2
Intro teoria dos números cap2
 
Intro teoria dos numeros cap1
Intro teoria dos numeros cap1Intro teoria dos numeros cap1
Intro teoria dos numeros cap1
 

Último

PROJETO DE EXTENÇÃO - GESTÃO DE RECURSOS HUMANOS.pdf
PROJETO DE EXTENÇÃO - GESTÃO DE RECURSOS HUMANOS.pdfPROJETO DE EXTENÇÃO - GESTÃO DE RECURSOS HUMANOS.pdf
PROJETO DE EXTENÇÃO - GESTÃO DE RECURSOS HUMANOS.pdfHELENO FAVACHO
 
PRÁTICAS PEDAGÓGICAS GESTÃO DA APRENDIZAGEM
PRÁTICAS PEDAGÓGICAS GESTÃO DA APRENDIZAGEMPRÁTICAS PEDAGÓGICAS GESTÃO DA APRENDIZAGEM
PRÁTICAS PEDAGÓGICAS GESTÃO DA APRENDIZAGEMHELENO FAVACHO
 
ENSINO RELIGIOSO 7º ANO INOVE NA ESCOLA.pdf
ENSINO RELIGIOSO 7º ANO INOVE NA ESCOLA.pdfENSINO RELIGIOSO 7º ANO INOVE NA ESCOLA.pdf
ENSINO RELIGIOSO 7º ANO INOVE NA ESCOLA.pdfLeloIurk1
 
PRÉDIOS HISTÓRICOS DE ASSARÉ Prof. Francisco Leite.pdf
PRÉDIOS HISTÓRICOS DE ASSARÉ Prof. Francisco Leite.pdfPRÉDIOS HISTÓRICOS DE ASSARÉ Prof. Francisco Leite.pdf
PRÉDIOS HISTÓRICOS DE ASSARÉ Prof. Francisco Leite.pdfprofesfrancleite
 
5 bloco 7 ano - Ensino Relogioso- Lideres Religiosos _ Passei Direto.pdf
5 bloco 7 ano - Ensino Relogioso- Lideres Religiosos _ Passei Direto.pdf5 bloco 7 ano - Ensino Relogioso- Lideres Religiosos _ Passei Direto.pdf
5 bloco 7 ano - Ensino Relogioso- Lideres Religiosos _ Passei Direto.pdfLeloIurk1
 
Historia da Arte europeia e não só. .pdf
Historia da Arte europeia e não só. .pdfHistoria da Arte europeia e não só. .pdf
Historia da Arte europeia e não só. .pdfEmanuel Pio
 
PROJETO DE EXTENSÃO I - SERVIÇOS JURÍDICOS, CARTORÁRIOS E NOTARIAIS.pdf
PROJETO DE EXTENSÃO I - SERVIÇOS JURÍDICOS, CARTORÁRIOS E NOTARIAIS.pdfPROJETO DE EXTENSÃO I - SERVIÇOS JURÍDICOS, CARTORÁRIOS E NOTARIAIS.pdf
PROJETO DE EXTENSÃO I - SERVIÇOS JURÍDICOS, CARTORÁRIOS E NOTARIAIS.pdfHELENO FAVACHO
 
"É melhor praticar para a nota" - Como avaliar comportamentos em contextos de...
"É melhor praticar para a nota" - Como avaliar comportamentos em contextos de..."É melhor praticar para a nota" - Como avaliar comportamentos em contextos de...
"É melhor praticar para a nota" - Como avaliar comportamentos em contextos de...Rosalina Simão Nunes
 
Recomposiçao em matematica 1 ano 2024 - ESTUDANTE 1ª série.pdf
Recomposiçao em matematica 1 ano 2024 - ESTUDANTE 1ª série.pdfRecomposiçao em matematica 1 ano 2024 - ESTUDANTE 1ª série.pdf
Recomposiçao em matematica 1 ano 2024 - ESTUDANTE 1ª série.pdfFrancisco Márcio Bezerra Oliveira
 
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...azulassessoria9
 
Apresentação em Powerpoint do Bioma Catinga.pptx
Apresentação em Powerpoint do Bioma Catinga.pptxApresentação em Powerpoint do Bioma Catinga.pptx
Apresentação em Powerpoint do Bioma Catinga.pptxLusGlissonGud
 
PROJETO DE EXTENSÃO I - Radiologia Tecnologia
PROJETO DE EXTENSÃO I - Radiologia TecnologiaPROJETO DE EXTENSÃO I - Radiologia Tecnologia
PROJETO DE EXTENSÃO I - Radiologia TecnologiaHELENO FAVACHO
 
atividades_reforço_4°ano_231206_132728.pdf
atividades_reforço_4°ano_231206_132728.pdfatividades_reforço_4°ano_231206_132728.pdf
atividades_reforço_4°ano_231206_132728.pdfLuizaAbaAba
 
Revolução russa e mexicana. Slides explicativos e atividades
Revolução russa e mexicana. Slides explicativos e atividadesRevolução russa e mexicana. Slides explicativos e atividades
Revolução russa e mexicana. Slides explicativos e atividadesFabianeMartins35
 
2° ANO - ENSINO FUNDAMENTAL ENSINO RELIGIOSO
2° ANO - ENSINO FUNDAMENTAL ENSINO RELIGIOSO2° ANO - ENSINO FUNDAMENTAL ENSINO RELIGIOSO
2° ANO - ENSINO FUNDAMENTAL ENSINO RELIGIOSOLeloIurk1
 
Atividade - Letra da música Esperando na Janela.
Atividade -  Letra da música Esperando na Janela.Atividade -  Letra da música Esperando na Janela.
Atividade - Letra da música Esperando na Janela.Mary Alvarenga
 
aula de bioquímica bioquímica dos carboidratos.ppt
aula de bioquímica bioquímica dos carboidratos.pptaula de bioquímica bioquímica dos carboidratos.ppt
aula de bioquímica bioquímica dos carboidratos.pptssuser2b53fe
 
Considere a seguinte situação fictícia: Durante uma reunião de equipe em uma...
Considere a seguinte situação fictícia:  Durante uma reunião de equipe em uma...Considere a seguinte situação fictícia:  Durante uma reunião de equipe em uma...
Considere a seguinte situação fictícia: Durante uma reunião de equipe em uma...azulassessoria9
 
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...azulassessoria9
 
Apresentação ISBET Jovem Aprendiz e Estágio 2023.pdf
Apresentação ISBET Jovem Aprendiz e Estágio 2023.pdfApresentação ISBET Jovem Aprendiz e Estágio 2023.pdf
Apresentação ISBET Jovem Aprendiz e Estágio 2023.pdfcomercial400681
 

Último (20)

PROJETO DE EXTENÇÃO - GESTÃO DE RECURSOS HUMANOS.pdf
PROJETO DE EXTENÇÃO - GESTÃO DE RECURSOS HUMANOS.pdfPROJETO DE EXTENÇÃO - GESTÃO DE RECURSOS HUMANOS.pdf
PROJETO DE EXTENÇÃO - GESTÃO DE RECURSOS HUMANOS.pdf
 
PRÁTICAS PEDAGÓGICAS GESTÃO DA APRENDIZAGEM
PRÁTICAS PEDAGÓGICAS GESTÃO DA APRENDIZAGEMPRÁTICAS PEDAGÓGICAS GESTÃO DA APRENDIZAGEM
PRÁTICAS PEDAGÓGICAS GESTÃO DA APRENDIZAGEM
 
ENSINO RELIGIOSO 7º ANO INOVE NA ESCOLA.pdf
ENSINO RELIGIOSO 7º ANO INOVE NA ESCOLA.pdfENSINO RELIGIOSO 7º ANO INOVE NA ESCOLA.pdf
ENSINO RELIGIOSO 7º ANO INOVE NA ESCOLA.pdf
 
PRÉDIOS HISTÓRICOS DE ASSARÉ Prof. Francisco Leite.pdf
PRÉDIOS HISTÓRICOS DE ASSARÉ Prof. Francisco Leite.pdfPRÉDIOS HISTÓRICOS DE ASSARÉ Prof. Francisco Leite.pdf
PRÉDIOS HISTÓRICOS DE ASSARÉ Prof. Francisco Leite.pdf
 
5 bloco 7 ano - Ensino Relogioso- Lideres Religiosos _ Passei Direto.pdf
5 bloco 7 ano - Ensino Relogioso- Lideres Religiosos _ Passei Direto.pdf5 bloco 7 ano - Ensino Relogioso- Lideres Religiosos _ Passei Direto.pdf
5 bloco 7 ano - Ensino Relogioso- Lideres Religiosos _ Passei Direto.pdf
 
Historia da Arte europeia e não só. .pdf
Historia da Arte europeia e não só. .pdfHistoria da Arte europeia e não só. .pdf
Historia da Arte europeia e não só. .pdf
 
PROJETO DE EXTENSÃO I - SERVIÇOS JURÍDICOS, CARTORÁRIOS E NOTARIAIS.pdf
PROJETO DE EXTENSÃO I - SERVIÇOS JURÍDICOS, CARTORÁRIOS E NOTARIAIS.pdfPROJETO DE EXTENSÃO I - SERVIÇOS JURÍDICOS, CARTORÁRIOS E NOTARIAIS.pdf
PROJETO DE EXTENSÃO I - SERVIÇOS JURÍDICOS, CARTORÁRIOS E NOTARIAIS.pdf
 
"É melhor praticar para a nota" - Como avaliar comportamentos em contextos de...
"É melhor praticar para a nota" - Como avaliar comportamentos em contextos de..."É melhor praticar para a nota" - Como avaliar comportamentos em contextos de...
"É melhor praticar para a nota" - Como avaliar comportamentos em contextos de...
 
Recomposiçao em matematica 1 ano 2024 - ESTUDANTE 1ª série.pdf
Recomposiçao em matematica 1 ano 2024 - ESTUDANTE 1ª série.pdfRecomposiçao em matematica 1 ano 2024 - ESTUDANTE 1ª série.pdf
Recomposiçao em matematica 1 ano 2024 - ESTUDANTE 1ª série.pdf
 
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: COMUNICAÇÃO ASSERTIVA E INTERPESS...
 
Apresentação em Powerpoint do Bioma Catinga.pptx
Apresentação em Powerpoint do Bioma Catinga.pptxApresentação em Powerpoint do Bioma Catinga.pptx
Apresentação em Powerpoint do Bioma Catinga.pptx
 
PROJETO DE EXTENSÃO I - Radiologia Tecnologia
PROJETO DE EXTENSÃO I - Radiologia TecnologiaPROJETO DE EXTENSÃO I - Radiologia Tecnologia
PROJETO DE EXTENSÃO I - Radiologia Tecnologia
 
atividades_reforço_4°ano_231206_132728.pdf
atividades_reforço_4°ano_231206_132728.pdfatividades_reforço_4°ano_231206_132728.pdf
atividades_reforço_4°ano_231206_132728.pdf
 
Revolução russa e mexicana. Slides explicativos e atividades
Revolução russa e mexicana. Slides explicativos e atividadesRevolução russa e mexicana. Slides explicativos e atividades
Revolução russa e mexicana. Slides explicativos e atividades
 
2° ANO - ENSINO FUNDAMENTAL ENSINO RELIGIOSO
2° ANO - ENSINO FUNDAMENTAL ENSINO RELIGIOSO2° ANO - ENSINO FUNDAMENTAL ENSINO RELIGIOSO
2° ANO - ENSINO FUNDAMENTAL ENSINO RELIGIOSO
 
Atividade - Letra da música Esperando na Janela.
Atividade -  Letra da música Esperando na Janela.Atividade -  Letra da música Esperando na Janela.
Atividade - Letra da música Esperando na Janela.
 
aula de bioquímica bioquímica dos carboidratos.ppt
aula de bioquímica bioquímica dos carboidratos.pptaula de bioquímica bioquímica dos carboidratos.ppt
aula de bioquímica bioquímica dos carboidratos.ppt
 
Considere a seguinte situação fictícia: Durante uma reunião de equipe em uma...
Considere a seguinte situação fictícia:  Durante uma reunião de equipe em uma...Considere a seguinte situação fictícia:  Durante uma reunião de equipe em uma...
Considere a seguinte situação fictícia: Durante uma reunião de equipe em uma...
 
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
 
Apresentação ISBET Jovem Aprendiz e Estágio 2023.pdf
Apresentação ISBET Jovem Aprendiz e Estágio 2023.pdfApresentação ISBET Jovem Aprendiz e Estágio 2023.pdf
Apresentação ISBET Jovem Aprendiz e Estágio 2023.pdf
 

Introd logica mat ii

  • 1. INTRODUC¸ ˜AO `A L´OGICA MATEM´ATICA V´ıtor Neves Universidade de Aveiro 2002
  • 2. INTRODUC¸ ˜AO ´A L´OGICA MATEM´ATICA Introdu¸c˜ao O texto que aqui apresentamos foi redigido durante o segundo semestre do ano lec- tivo de 1993/94 como um conjunto de notas de apoio ´as aulas da disciplina semestral L´ogica, do terceiro ano das licenciaturas em Matem´atica (para Ensino e com In- form´atica) da Universidade da Beira Interior. Esta ´e a ´unica disciplina de qualquer das licenciaturas onde a L´ogica Matem´atica pode ser estudada como ´area indepen- dente de conhecimento. Grosso modo, descrevemos aspectos das seguintes quest˜oes: em que consiste uma proposi¸c˜ao ou uma f´ormula serem verdadeiras ou serem satisfaz´ıveis? Que ´e uma dedu¸c˜ao? Que rela¸c˜oes poder˜ao ser estabelecidas entre veracidade, satisfazibilidade e demonstrabilidade? O que ´e um algoritmo e que rela¸c˜ao existe entre algoritmos e f´ormulas? Pressup˜oe-se que o leitor tem treino de trabalho puramente formal, j´a foi exposto a argumentos de cardinalidade ou por indu¸c˜ao transfinita e conhece estruturas alg´ebricas. No caso dos alunos de L´ogica da UBI esses pressupostos s˜ao garanti- dos pela precedˆencia da disciplina anual ´Algebra. N˜ao tendo encontrado um texto em portuguˆes que cumprisse o nosso programa com a eficiˆencia necess´aria para uma disciplina com as caracter´ısticas atr´as descritas e n˜ao sendo especialistas em L´ogica Matem´atica, opt´amos por fazer uma tradu¸c˜ao com modifica¸c˜oes e correc¸c˜oes de alguns cap´ıtulos de [H] e [MA], alicer¸cada em [E] e [BM]. Utiliz´amos tamb´em alguns exerc´ıcios de [BM] que nos pareceram particularmente bons para ilustrar aspectos mais gerais de teoremas de aplica¸c˜ao aparentemente restrita.
  • 3. ´Indice 1 L´ogica proposicional 5 1.1 Conectivos e f´ormulas bem formadas . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5 1.2 Fun¸c˜oes de Boole; tautologias; formas normais . . . . . . . . . . . . . 9 1.3 Teoremas de substitui¸c˜ao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15 1.4 Conjuntos de conectivos completos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21 1.5 C´alculo Proposicional e tautologias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24 1.6 C´alculo Proposicional: o Teorema de Dedu¸c˜ao. . . . . . . . . . . . . . 28 1.7 Completude do C´alculo Proposicional; consistˆencia. . . . . . . . . . . 31 2 L´ogica de Predicados (de primeira ordem) 39 2.1 Linguagens de primeira ordem: alfabeto, termos e f´ormulas. . . . . . 39 2.2 Interpreta¸c˜oes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43 2.3 Satisfazibilidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44 2.4 Exerc´ıcios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52 2.5 C´alculo de predicados; Teorema de Dedu¸c˜ao . . . . . . . . . . . . . . 53 2.6 Exerc´ıcios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59 2.7 Um Teorema de Completude . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60 2.8 Modelos; completude e compacidade. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71 2.9 EXERC´ICIOS. Uma introdu¸c˜ao a An´alise N˜ao-Standard . . . . . . . 73 2.10 Rela¸c˜oes e fun¸c˜oes aritm´eticas e recursivas. . . . . . . . . . . . . . . 83
  • 4. 3 Introdu¸c˜ao ´a Teoria de computabilidade 91 3.1 M´aquinas de Turing; fun¸c˜oes comput´aveis . . . . . . . . . . . . . . . 91 3.2 M´aquinas especiais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 98 3.3 Composi¸c˜ao e Recurs˜ao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 104 3.4 Rela¸c˜oes comput´aveis; operador de m´ınimo; fun¸c˜oes recursivas . . . . 110 3.5 Enumerabilidade m´aquina . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 118 3.6 Computabilidade , recursividade e aritm´etica . . . . . . . . . . . . . . 122 3.7 Incompletude da Aritm´etica I: teorema de Tarsky . . . . . . . . . . . 124 3.8 Incompletude da Aritm´etica II: axiomatiza¸c˜ao . . . . . . . . . . . . . 130 3.9 Incompletude da Aritm´etica III: demonstra¸c˜oes . . . . . . . . . . . . 133
  • 5. Cap´ıtulo 1 L´ogica proposicional 1.1 Conectivos e f´ormulas bem formadas Nos exemplos adiante ´e poss´ıvel decompor a afirma¸c˜ao o completa em asser¸c˜oes con- stituintes mais simples mediante part´ıculas de conex˜ao gramatical. Os conectivos que nos interessam para j´a s˜ao dados na seguinte tabela conectivo nome leitura ≈ nega¸c˜ao n˜ao ∧ conjun¸c˜ao e ⇒ implica¸c˜ao implica ⇔ equivalˆencia ´e equivalente a Exemplos 1.1.1 Designando as asser¸c˜oes constituintes por p, q e r podemos obter as estruturas indicadas em cada caso – os parenteses s˜ao utilizados apenas como sinais de pontua¸c˜ao. 1. Como dois mais trˆes ´e igual a cinco e quatro mais um tamb´em (´e igual a cinco), ent˜ao dois mais trˆes ´e igual a quatro mais um. (p ∧ q) ⇒∼ r 2. Se a equa¸c˜ao x5 + x4 − x3 − x2 + x + 1 = 0 tiver cinco raizes reais, elas n˜ao s˜ao todas negativas.
  • 6. p ⇒ r 3. Toda a fun¸c˜ao real de vari´avel real e cont´ınua, definida num intervalo, toma todos os valores entre quaisquer dois que tome, em particular o polin´omio x → x2 toma todos os valores entre zero e quatro. p ⇒ q Enquanto o primeiro exemplo n˜ao tem impl´ıcita qualquer quantifica¸c˜ao, os outros envolvem quantificadores a v´arios n´ıveis de complexidade. No entanto n˜ao nos inter- essa de imediato esse aspecto. De facto, pretendemos, de momento, apenas organizar de uma certa forma um conjunto de express˜oes independentemente do significado que lhes possa ser atribuido , para al´em de a organiza¸c˜ao ter sido motivada pela forma de racioc´ınio mais frequentemente utilizada: o silogismo itmodus ponens . Mais precisamente, pretende-se estudar uma linguagem com os seguintes s´ımbolos: s´ımbolos proposicionais pi(i ∈ N), os conectivos definidos acima e parente- ses como sinais de pontua¸c˜ao. Nestes termos uma express˜ao ´e uma sequˆencia de conectivos, s´ımbolos proposicionais e parenteses. Observa¸c˜ao: para n˜ao sobrecarregar a nota¸c˜ao, em situa¸c˜oes onde se considerem poucos s´ımbolos proposicionais estes ser˜ao designados por distintas letras min´usculas sem sub´ındices. Defini¸c˜ao 1.1.2 (F´ormula proposicional bem formada ou fpbf ou F´ormula proposicional) 1. Um conjunto de express˜oes diz-se indutivo se contiver os s´ımbolos proposi- cionais e contendo express˜oes α e β tamb´em cont´em (∼ α ), (α ∧ β), (α ∨ β), (α ⇒ β) e (α ⇔ β). 2. O conjunto das f´ormulas proposicionais ´e a intersec¸c˜ao de todos os conjuntos indutivos de express˜oes. Designaremos o conjunto das f´ormulas proposicionais por . Exerc´ıcio 1.1.3 Mostre que ´e indutivo A demonstra¸c˜ao do teorema seguinte ´e agora imediata a partir da defini¸c˜ao de Teorema 1.1.4 (Princ´ıpio de Indu¸c˜ao) Qualquer conjunto indutivo de fpbfs ´e o conjunto de todas as fpbfs. O teorema seguinte sugere uma m´aquina que destinge as fbfb de outras express˜oes(veja- se o exemplo 1.1.7.4 e [E;1.4,p´ag.41])
  • 7. 7 Teorema 1.1.5 (Unicidade de leitura) Uma fpbf ou ´e um s´ımbolo proposicional ou ´e de uma das formas (∼ α), (α ∧ β) , (α ∨ β), (α ⇒ β) ou (α ⇔ β), para fpbfs α ou β. Dem. Seja C o conjunto cujos elementos s˜ao os s´ımbolos proposicionais ou as express˜oes que se obtˆem a partir de fpbfs como descrito no enunciado. Como ´e indutivo C ⊆ . Basta agora mostrar que C ´e ele pr´oprio indutivo e aplicar o Princ´ıpiode Indu¸c˜ao. O algoritmo consiste ent˜ao em construir uma ”´arvore invertida”come¸cando na ex- press˜ao dada e que dever´a ter como ”folhas”s´ımbolos proposicionais 1 . Por exemplo (((p ⇒ q) ∨ r) ⇒ (s ⇒ (r1 ∧ s2))) ((p ⇒ q) ∨ r) (s ⇒ (r1 ∧ s2)) (p ⇒ q) r s (r1 ∧ s2 ) p s r1 s2 Exerc´ıcios 1.1.6 1. Mostre que qualquer fpbf ´e equilibrada , i.e., o n´umero de parenteses esquerdos, (, que ocorre na f´ormula ´e igual ao n´umero de parenteses direitos, ). 2. O comprimento de uma express˜ao ´e o n´umero de s´ımbolos que a constituem. Mostre que n˜ao existem fpbfs de comprimentos 2, 3 ou 6, mas quaisquer outros comprimentos s˜ao poss´ıveis. Omiss˜ao de parenteses Com a defini¸c˜ao 1.1.2 as express˜oes nos exemplos 1.1.1 n˜ao s˜ao fpbf, mas simplifica¸c˜oes n˜ao amb´ıguas que viremos a utilizar sistematicamente por uma quest˜ao de simplicidade de escrita. Eliminam-se parenteses nas fpbfs aplicando na ordem indicada as regras que se apresen- tam a seguir. 1. Eliminam-se os parenteses exteriores 2. ∼ aplica-se ´a fpbf mais curta que se lhe segue ´a (direita) 3. ∧ e ∨ aplicam-se, na ordem em que ocorrem da direita para a esquerda , ´as fpbf adjacentes mais curtas (veja-se o exemplo 1.1.7.1) 1 ver p´agina 4
  • 8. 4. ⇒ e ⇔ aplicam-se, na ordem em que ocorrem da direita para a esquerda , `as fpbf adjacentes mais curtas. Exemplos 1.1.7 1. A aplica¸c˜ao exaustiva das regras 3 ou 4 pode confundir mais que ajudar: (p ∧(q∨r)) simplifica para p ∧ q ∨ r ; parece-nos no entanto mais claro ficar por p ∧(q ∨ r). 2. A f´ormula ((p ∧ (∼ q)) ∨ (r ∨ (s ∧ (∼ p)))) poderia ser simplificada do seguinte modo, j´a tomando em conta o exemplo anterior, ((p ∧ (∼ q)) ∨ (r ∨ (s ∧ (∼ p)))) → (p ∧ (∼ q)) ∨ (r ∨ (s ∧ (∼ p))) → (p∧ ∼ q) ∨ (r ∨ (s∧ ∼ p)) → (p∧ ∼ q) ∨ r ∨ (s∧ ∼ p) 3. Tem-se tamb´em a seguinte cadeia de simplifica¸c˜oes: (((p ⇒ q) ∨ r) ⇒ (s ⇒ (r1 ∧ s2))) → ((p ⇒ q) ∨ r) ⇒ (s ⇒ (r1 ∧ s2)) → ((p ⇒ q) ∨ r) ⇒ (s ⇒ r1 ∧ s2) → ((p ⇒ q) ∨ r) ⇒ s ⇒ r1 ∧ s2 → (p ⇒ q) ∨ r ⇒ s ⇒ r1 ∧ s2 4. Reciprocamente, os parenteses podem repor-se do seguinte modo p ⇒ q ∨ r ∧ s ⇒∼ p∧ ∼ q → p ⇒ q ∨ r ∧ s ⇒ (∼ p) ∧ (∼ q) → p ⇒ q ∨ (r ∧ s) ⇒ ((∼ p) ∧ (∼ q)) → p ⇒ (q ∨ (r ∧ s)) ⇒ ((∼ p) ∧ (∼ q)) → (p ⇒ ((q ∨ (r ∧ s)) ⇒ ((∼ p) ∧ (∼ q)))) Exerc´ıcios 1.1.8 1. Omita o maior n´umero poss´ıvel de parenteses nas seguintes f´ormulas (a) ((p ∧ (q ∨ r)) ⇔ ((p ∧ q) ∨ (p ∧ r))) (b) ((p ∨ (q ∧ r)) ⇔ ((p ∨ q) ∧ (p ∨ r))) (c) ((∼ (∼ p)) ⇔ p) (d) (∼ (p ⇒ q) ↔ (p ∧ (∼ q))) (e) (p ∨ (∼ p)) (f) (∼ (p ∧ (∼ p))) (g) (((p ∧ q ⇒ r) ⇔ (p ⇒ (q ⇒ r)))
  • 9. 9 2. Reponha os parentˆeses nas f´ormulas seguintes (a) p ∧ q ⇒ r ∨ s (b) (p ∧ q) ∨ r∧ (c) p ∨ q ∨ r ∧ s (d) (∼ p ∨ q ⇒ r) ⇔ p ∧ yq ∨ r (e) ∼ p ∨ q ⇒ r ⇔ p ∧ yq ∨ r 1.2 Fun¸c˜oes de Boole; tautologias; formas nor- mais De um modo natural, cada α ∈ {∼ p, p ∧ q, p ∨ q, p ⇒ q, p ⇔ q} origina uma fun¸c˜ao fα , definida de uma potˆencia cartesiana do conjunto V dos valores l´ogicos V (verdadeiro) e F (falso) em si mesmo; estas fun¸c˜oes s˜ao dadas pelas seguintes tabelas de verdade f∼p : V → V X f∼p (X) v F F V fα : V → V(α ∈ {p ∧ q, p ∨ q, p ⇒ q, p ⇔ q}) X Y fp∧q (x, y) fp∨q (x, y) fp⇒q (x, y) fp⇔q (x, y) V V V V V V V F F V F F F V F V V F F F F F V V Tamb´em podemos associar aos conectivos fun¸c˜oes definidas de potˆencias cartesianas do conjunto das express˜oes para ele pr´oprio; por exemplo f∧ (p, q) = p ∧ q. Deste modo cada fpbf ou ´e um s´ımbolo proposicional ou ´e uma imagem de uma sequˆencia de s´ımbolos proposicionais por uma composi¸c˜ao destas fun¸c˜oes (e de projec¸c˜oes e imers˜oes); por exemplo p ∧ q ⇒ r ∨ s = f⇒ (f∧ (p, q), f∨ (r, s)).
  • 10. Assim, cada fpbf α , digamos que com n s´ımbolos proposicionais (n ∈ N), define uma fun¸c˜ao 2 fα : Vn → V; por exemplo, se α = p ∧ q ⇒ r, fα : ν3 → ν ter´a a seguinte tabela x1 x2 x3 fα (x1, x2, x3) V V V V V V F F V F V V V F F V F V V V F V V V F V F V F F V V F F F V As tabelas de verdade podem obter-se de um modo simples, se bem que formal- mente menos correcto, identificando adequadamente fun¸c˜oes de Boole e conectivos e subentendendo a substitui¸c˜ao de s´ımbolos proposicionais por vari´aveis em V , com uma disposi¸c˜ao de c´alculo conveniente; por exemplo para α = (p ∧ q) ⇒ r tem-se a seguinte tabela: p ∧ q ⇒ r V V V V V V V V F F V F F V V V F F V F F F V V V F F V V F F F F V V F F F V V F F F V F ´As fun¸c˜oes fα : Vn → V d´a-se o nome de fun¸c˜oes de Boole e temos vindo a observar que (1.2.1) toda a fpbf define uma fun¸c˜ao de Boole Veremos adiante que tamb´em toda a fun¸c˜ao de Boole ´e da forma fα para alguma fpbf α 2 ver p´agina 7
  • 11. 11 Exerc´ıcios 1.2.1 1. Determine as fun¸c˜oes de Boole para as seguintes f´ormulas (a) (p ∧ q) ∨ (∼ p∧ ∼ q) (b) (p∧ ∼ q) ∨ (∼ p ∧ q) (c) (p ⇒ q) ∧ (q ⇒ p) (d) ∼ (p ∨ q) (e) ∼ (p ∧ q) (f) p ⇒ q ⇒ p (g) (p ⇒ q ⇒ r) ⇒ (p ⇒ q) ⇒ p ⇒ r (h) (∼ p ⇒∼ q) ⇒ (q ⇒ p) 2. Determine f´ormulas α de modo que cada uma das seguintes fun¸c˜oes de Boole seja da forma fα . (a) f : V → V ≡ f(V ) = f(F) = F (b) f : V → V ≡ f(V ) = f(F) = V (c) f : V → V ≡ f(x, y) = V sse x = y (d) f : V → V ≡ f(x, y) = V sse x ≥ y, sendoF < V. Exerc´ıcios 1.2.2 Uma tautologia ´e uma fpbf α cuja fun¸c˜ao fα toma s´o o valor V. Nota-se |= α se α ´e uma tautologia. Uma lista de tautologias importantes (T1) Associatividades : c ∈ {∧, ∨, ⇔} pc(qcr) ⇔ (pcq)cr) (T2) Distributividades p ∧ (q ∨ r) ⇔ (p ∧ q) ∨ (p ∧ r) p ∨ (q ∧ r) ⇔ (p ∨ q) ∧ (p ∨ r) (T3) Nega¸c˜oes ∼ (∼ (p)) ⇔ p ∼ (p ⇒ q) ⇔ (p∧ ∼ q) ∼ (p ⇔ q) ⇔ (p∧ ∼ q) ∨ (∼ p ∧ q)
  • 12. (T4) Leis de De Morgan ∼ (p ∨ q) ⇔∼ p∧ ∼ q ∼ (p ∧ q) ⇔∼ p∨ ∼ q (T5) Princ´ıpio do terceiro excluido p∨ ∼ p (T6) Princ´ıpio da n˜ao contradi¸c˜ao ∼ (p∧ ∼ p) (T7) Lei de convers˜ao (p ⇒ q) ⇔ (∼ q ⇒∼ p) (T8) Regra de exporta¸c˜ao (p ∧ q ⇒ r) ⇔ (p ⇒ (q ⇒ r) Exerc´ıcio 1.2.3 Mostre que cada (Ti) (1 ≤ i ≤ 8) ´e uma tautologia. Retomando a observa¸c˜ao (1.2.1), pode por-se a quest˜ao de se saber quando duas f´ormulas definem a mesma fun¸c˜ao de Boole. A resposta ´e dada mediante a seguinte Defini¸c˜ao 1.2.4 Duas fpbfs α e β dizem-se tautologicamente equivalentes se α ⇔ β for uma tautologia. Por exemplo p∨ ∼ p e q ⇒ q s˜ao tautologicamente equivalentes – e compostas de s´ımbolos proposicionais distintos; para uma maior clareza de exposi¸c˜ao no que vai seguir-se, tome-se em conta a seguinte observa¸c˜ao: Se uma f´ormula α ´e constituida de s´ımbolos proposicionais escolhidos de entre p1 a pn, mas n˜ao necessariamente de todos eles, poderiamos pensar numa fun¸c˜ao de Boole associada, digamos (x1, ..., xn) → Fα (x1, ..., xn) cujo valor dependeria apenas das vari´aveis x1j corre- spondentes aos s´ımbolos proposicionais pij que ocorrem de facto em α (j=1,...,m); ter se-ia ent˜ao Fα (x1, ..., xn) = fα (x1, ..., xn)
  • 13. 13 Para n˜ao tornar o discurso demasiadamente pesado identificaremos as fun¸c˜oeses Fα fα . 3 Conv´em observar ainda que, para fpbfs α e β , cujos s´ımbolos proposicionais est˜ao em {p1, ..., pn} , e conectivos bin´arios c (1.2.2) f∼α (p1, ..., pn) = f∼p (fα (p1, ..., pn)) (1.2.3) fαcβ (p1, ..., p2) = fpcq fα (p1, ..., p2), fβ (p1, ..., p2) Elementos suficientes para demonstrar estas igualdades podem encontrar-se em [E;1.2]. Com estas observa¸c˜oes ´e simples demonstrar o Teorema 1.2.5 Duas fpbfs cujos s´ımbolos proposicionais est˜ao em {p1, ..., pn} de- finem a mesma fun¸c˜ao de Boole sse s˜ao tautologicamente equivalentes. Dem |= α ⇔ β sse fα⇔β sse (fα , fβ ) ≡ V sse fα efβ tomam o mesmo valor em qualquer argumento, i. e., s˜ao iguais. q.e.d. Vamos ent˜ao provar a rec´ıproca de (1.2.1), a saber: Teorema 1.2.6 Toda a fun¸c˜ao de Boole b : Vn → V(n ∈ N0) ´e da forma fα , para alguma fpbf α . Dem I. Se b ≡ F, tome α = p1∧ ∼ p1. II. Caso em que b n˜ao ´e identicamente F. Sejam Xi = (xi1 , ..., xin ) ∈ Vn (i=1,...,k) as sequˆencias para as quais b(Xi) = V Defina-se para cada i=1,...,k 3 Veja-se [E;1.5,pag.46]
  • 14. βij =    pj se Xij = V ; (j = 1, ..., n) ∼ pj se Xij = F . γi = n j=1 βij α = k i=1 γij Observe-se que cada γi, de certo modo, descreve a sequˆencia Xi e, portanto, α lista exactamente as sequˆencias em que b vale V. Resta mostrar que fα = b : ora fα vale V sse uma das fγi vale V e cada fγi vale V apenas em Xi ; portanto fα (X)=V sse X=Xi, para algum i=1,...,k, como se pretendia. q.e.d. Estes dois ´ultimos teoremas tˆem uma interessant´ıssima consequˆencia. Diz-se que uma fpbf tem forma normal dijuntiva se for da forma α = n j=1 βij em que γi = n j=1 βij (i=1,...,k) e os βij s˜ao s´ımbolos proposicionais ou nega¸c˜oes de s´ımbolos proposicionais. Tem-se Corol´ario 1.2.7 Qualquer fpbf ´e tautologicamente equivalente a uma f´ormula na forma normal dijuntiva. Dem O corol´ario ´e , de facto, consequˆencia da demonstra¸c˜ao: mostrou-se que qualquer fun¸c˜ao de Boole ´e representada por uma fpbf na forma normal dijuntiva. q.e.d. Repare-se que as tautologias e as contradi¸c˜oes, i. e., as f´ormulas cujas fun¸c˜oes de Boole s˜ao identicamente falsas, s˜ao tautologicamente equivalentes a fpbfs de formas normais muito simples: respectivamente p1∨ ∼ p1 e p1∧ ∼ p1 ou, se se insistir em que cada conectivo ∧ e ∨ ocorra pelo menos uma vez, ainda respectivamente (p1 ∧ p1) ∨ (∼ p1∧ ∼ p1) e (p1 ∧ p1) ∨ (p1∧ ∼ p1).
  • 15. 15 Exerc´ıcio 1.2.8 Uma fpbf α diz-se na forma normal conjuntiva se existirem fpbfs γi tais que α = n j=1 γi em que γ = n j=1 βij (i = 1, ..., k) e os βij s˜ao s´ımbolos proposicionais ou nega¸c˜oes de s´ımbolos proposicionais. Mostre que qualquer fpbf ´e tautologicamente equivalente a uma fpbf na forma normal con- juntiva. 1.3 Teoremas de substitui¸c˜ao No que se segue vamos utilizar frequentemente as igualdades em (1.2.2) e (1.2.3). Teorema 1.3.1 Sejam α e β f´ormulas bem formadas. Se α e α ⇒ β s˜ao tautolo- gias, ent˜ao β ´e uma tautologia. Dem. Suponha-se que α e β tˆem s´ımbolos proposicionais entre p1, ..., pn . Por hip´otese |= α e |= β e da´ı fα : Vn → V e fα⇔β : Vn → V valem identicamente V. Considerando tamb´em (1.2.3), temos que, para qualquer (x1, ..., xn) ∈ Vn V = fα⇔β (x1, ..., xn), = fp⇔q (fα (x1, ..., xn), fβ (x1, ..., xn)), = fp⇔q (V, fβ (x1, ..., xn)) Como o ´unico Y ∈ ν para o qual fp⇔q (V, Y ) = V ´e o mesmo V, concluimos que fβ (x1, ..., xn) ´e identicamente V, i. e., |= β q.e.d. As condi¸c˜oes(1.2.2)e(1.2.3) indicam, de certo modo, casos particulares do seguinte: se os s´ımbolos proposicionais p1, ...pn de uma fpbf qualquer τ s˜ao substituidos re- spectivamente por fpbfs β1, ..., βn e denotarmos por τ∗ a fpbf resultante, ent˜ao (1.3.1) fτ∗ (x1, ..., xn) = fτ (fβ1 (x1, ..., xn), ..., (fβn (x1, ..., xn)) 4 O caso em que τ ´e uma tautologia ´e de particular importˆancia. 4 Uma demonstra¸c˜ao desta igualdade pode fazer-se de acordo com [E; 1.3.ex.7, p´ag 38]
  • 16. Defini¸c˜ao 1.3.2 Uma fpbf α diz-se a realiza¸c˜ao da tautologia τ se verificarem as seguintes condi¸c˜oes 1. |= τ 2. α obt´em-se substituindo cada ocorrˆencia de cada s´ımbolo proposicional pi em τ por uma fpbf βi . Por exemplo a f´ormula α = p1 ∧ p5 ⇔ p1 ∧ p5 realiza a tautologia τ = p1 ⇔ p6 com β5 = p1 ∧ p5 e as tautologias s˜ao trivialmente realiza¸c˜oes de si pr´oprias. Teorema 1.3.3 As realiza¸c˜oes de tautologias s˜ao tautologias Dem Basta observar que fτ ´e identicamente V sempre que τ ´e uma tautologia. q.e.d. Recapitulando a lista de tautologias (Ti) das p´aginas 8 e 9 e mostrando que |= p∧q ⇔ q ∧ p, |= p ∨ q ⇔ q ∨ p e |= (p ⇔ q) ⇔ (q ⇔ p) pode concluir-se Corol´ario 1.3.4 Para quaisquer fpbf α ,β e γ as seguintes f´ormulas s˜ao tautologias: α(βcγ) ⇔ (αcβ)cγ (αcβ) ⇔ (βcα) (c ∈ {∧, ∨, ⇔} α ∧ (β ∨ γ) ⇔ (α ∧ β) ∨ (α ∧ γ) α ∨ (β ∧ γ) ⇔ (α ∨ β) ∧ (α ∨ γ) ∼ (∼ α) ⇔ α ∼ (α ⇒ β) ⇔ (α∧ ∼ β) ∼ (α ⇔ β) ⇔ (α∧ ∼ β) ∧ (∼ α ∧ β) ∼ (α ∨ β) ⇔∼ α∧ ∼ β ∼ (α ∧ β) ⇔∼ α∨ ∼ β α∨ ∼ α ∼ (α∧ ∼ α) (α ⇒ β) ⇔ (∼ β ⇒∼ α) (α ∧ β ⇒ γ) ⇔ (α ⇒ (β ⇒ γ)) Pela sua importˆancia na formaliza¸c˜ao de regras de inferˆencia convir´a tamb´em ter presente o seguinte Corol´ario 1.3.5 Para quaisquer α, β ∈ , |= α ∧ β ⇒ α e |= α ∧ β ⇒ β e |= α ⇒ α ∨ β e |= β ⇒ α ∨ β
  • 17. 17 Podemos tamb´em substituir fpbf componentes por outras fpbfs. Neste caso o processo consiste em substituir ”n´os”da ”´arvore”referida imediatamente antes de 1.1.6 por outras fpbfs e tem-se o Teorema 1.3.6 Se a fpbf γ(α → β) se obt´em da fpbf γ substituindo em γ ocorrˆencias da fpbf α pela fpbf β e α ´e tautologicamente equivalente a β, ent˜ao γ(α → β) ´e tau- tologicamente equivalente a γ . Dem. Suponha-se que α, β ∈ e que |= α ⇔ β. Com a nota¸c˜ao do enunciado, seja C = {γ ∈ ι :|= γ ⇔ γ(α → β)}. Vamos ver que C = mostrando que C ´e indutivo. 1o : Se p ´e um s´ımbolo proposicional, ent˜ao p ∈ C. Neste caso, γ =p, s´o pode acon- tecer γ = α = β, portanto γ = γ(α → β) =p e, como |= p ⇔ p, p ∈ C. 2o : Se γ ∈ C , ent˜ao (∼ γ) ∈ C. Comecemos por observar que (∼ γ)(α ∼→ β) = (∼ γ(α → β)). Por hip´otese |= γ ⇔ γ(α → β) e, por 1.3.3, |= (γ ⇔ γ(α → β)) ⇒ (∼ γ ⇔ γ(α → β)) donde por 1.3.1, |= γ ⇔∼ γ(α → β) ou seja |= (∼ γ) ⇔ (∼ γ)(α → β), como se pretendia. 3o : Se γ, δ ∈ C, ent˜ao para qualquer c ∈ {∧ , ∨, ⇔, ⇒}(γcδ) ∈ C. Provamos apenas o caso em que c =⇒ , pois os outros casos s˜ao estudados analoga- mente. Suponha-se que γ, δ ∈ C. Pretendemos mostrar que |= (γ ⇒ δ) ⇔ (γ ⇒ δ)(α → β) Repare-se que (γ ⇒ δ)(α → β) = γ(α → β) ⇒ δ(α → β) Assim pretende-se de facto mostrar que (1.3.2) |= (γ ⇒ δ) ⇔ (γ(α → β) ⇒ δ(α → β)) tendo-se, por hip´otese, (1.3.3)
  • 18. |= γ ⇔ γ(α → β) e |= δ ⇔ δ(α → β) dado que γ, δ ∈ C. Comecemos por observar que, por (1.2.3), se |= τ e |= σ, ent˜ao |= τ ∧ σ, portanto resulta de (1.3.3) que (1.3.4) |= (γ ⇔ γ(α → β)) ∧ (δ ⇔ δ(α → β)) Ora tem-se tamb´em que, para quaisquer s´ımbolos proposicionais p,q, r e s, |= ((p ⇔ r) ∧ (q ⇔ s)) ⇒ ((p ⇒ q) ⇔ (r ⇒ s)) Podemos agora utilizar o Teorema 1.3.3 para garantir que |= ((γ ⇔ γ(α → β)) ∧ (δ ⇔ δ(α → β))) ⇒ ((γ ⇒ δ) ⇔ (γ(α → β) ⇒ δ(α → β))) Utilizando o Teorema 1.3.1 e a asser¸c˜aoo (1.3.4) concluimos (1.3.2), como se pre- tendia. O 30 caso est´a terminado. O conjunto C ´e ent˜ao indutivo, como se queria mostrar. q.e.d. Uma consequˆencia imediata deste teorema permite simplificar bastante alguns c´alculos. Corol´ario 1.3.7 Para fpbfs α, β e γ, se α ´e tautologicamente equivalente a β e β ´e tautologicamente equivalente a γ, ent˜ao α ´e tautologicamente equivalente a γ. Dem. Suponha-se que |= α ⇔ β e |= β ⇔ γ . De acordo com o teorema anterior α ⇔ γ ´e tautologicamente equivalente a α ⇔ β, i. e., |= (α ⇔ β) ⇔ (α ⇔ γ). Segue-se que V≡ f(α⇔β)⇔(α⇔γ) fp⇔q (fα⇔β , fα⇔γ ) Por hip´otese fα⇔β ≡ V portanto fα⇔γ ≡, ou seja |= α ⇔ γ, i. e., α ´e tautologica- mente equivalente a γ. q.e.d.
  • 19. 19 A asser¸c˜ao seguinte ´e muito ´util para o estudo da forma em que podem ser rep- resentadas por f´ormulas as fun¸c˜oes de Boole. A forma como a vamos demonstrar ´e tamb´em um exemplo de t´ecnica por vezes mais adequada que a utiliza¸c˜ao do Princ´ıpio de Indu¸c˜ao. Teorema 1.3.8 (Princ´ıpio de Dualidade) Suponha-se que os ´unicos conectivos que ocorrem na fpbf γ s˜ao ∼, ∧, ou ∨. Seja γ∗ a fpbf que se obt´em de γ s˜ao ∼, ∧, ou ∨ . Seja γ∗ a fpbf que se obt´em de γ substituindo cada s´ımbolo proposicional pi por ∼ pi , cada ocorrˆencia de ∧ por ∨ e cada ocorrˆencia de ∨ por ∧ . Ent˜ao γ∗ ´e tautologicamente equivalente a ∼ γ. Dem. Vamos utilizar indu¸c˜ao no n´umero de conectivos de γ. 1o ) γ tem zero conectivos. Neste caso, para algum s´ımbolo proposicional p, γ=p. Segue-se que γ∗ =∼ p e ´e ´obvio que |= γ∗ ⇔∼ γ. 2o Suponha-se o teorema v´alido para qualquer fpbf com n conectivos. Seja γ uma fpbf com n+1 conectivos. De acordo com o Teorema de Unicidade de Leitura 1.1.5, exis- tem fpbfs, necessariamente com n conectivos, tais que uma das seguintes alternativas se d´a 1. γ = (∼ α) 2. γ = (α ∧ β) 3. γ = (α ∨ β) (note-se que ⇒ e ⇔ por hip´otese n˜ao ocorrem). No caso 1),γ∗ =∼ α∗ e, por hip´otese de indu¸c˜ao, |= α∗ ⇔∼ α. Pelo Teorema 1.3.3 tem-se |= (α∗ ⇔∼ α) ⇒ (∼ α ⇔∼ (∼ α)). Conclui-se do Teorema 1.3.1 que |=∼ α∗ ⇔∼ (∼ α), i. e., |= γ∗ ⇔∼ γ , como se pretendia. No caso 2), γ∗ = (α ∧ β)∗ = α∗ ∨ β∗ e, por hip´otese de indu¸c˜ao, |= α∗ ⇔∼ α e |= β∗ ⇔∼ β . Utilizando convenientemente os teorema 1.3.1 e 1.3.3 conclui-se |= (α∗ ∨β∗ ) ⇔ (∼ α∨ ∼ β). Acontece que, de novo por 1.3.3, |=∼ α∨ ∼ β ⇔∼ (α∧β). Finalmente, utilizando 1.3.7, concluimos |= (α∗ ∨β∗ ) ⇔∼ (α∧β), i. e.,|= γ∗ ⇔∼ γ, como se pretendia. O caso 3) trata-se de modo an´alogo a 2). q.e.d. Abreviemos ”α ´e tautologicamente equivalente a β ”por ”α |=| β”.
  • 20. Corol´ario 1.3.9 Sejam p1, ..., pn s´ımbolos proposicionais. 1. n i=1 (∼ pi) |=| ∼ ( n i=1 pi) 2. n i=1 (∼ pi) |=| ∼ ( n i=1 pi) Dem. i) obtem-se por aplica¸c˜ao do Princ´ıpio de Dualidade a n i=1 pi ii) obtem-se por aplica¸c˜ao do Princ´ıpio de Dualidade a n i=1 pi q.e.d. Aplicando o Teorema 1.3.3 obtem-se deste corol´ario Teorema 1.3.10 (Leis de De Morgan) Para fpbfs α1, ..., αn tem-se i) n i=1 (∼ αi) |=| ∼ ( n i=1 (αi) ii) n i=1 (∼ αi) |=| ∼ ( n i=1 (αi) Exerc´ıcio 1.3.3 Uma fpbf α diz-se na forma normal conjuntiva se existirem fpbfs γi α = k i=1 (γi) em que γi = n j=1 βij (i=1,...,k) e os βij s˜ao s´ımbolos proposicionais ou nega¸c˜oes de s´ımbolos proposicionais. Mostre que qualquer fpbf ´e tautologicamente equivalente a uma fpbf na forma normal con- juntiva.
  • 21. 21 1.4 Conjuntos de conectivos completos Um conjunto C de conectivos diz-se completo se for poss´ıvel representar todas as fun¸c˜oes de Boole por fpbf onde ocorrem apenas conectivos pertencentes a C. O Teorema 1.2.6 diz-nos de facto que qualquer fun¸c˜ao de Boole ´e representada por uma fpbf na forma normal dijuntiva. Portanto Teorema 1.4.1 O conjunto {∼, ∨, ∧} ´e completo. Observando um pouco mais profundamente podemos mesmo afirmar. Teorema 1.4.2 Os conjuntos {∼, ∧}, {∼, ∨}e{∼, ⇒} s˜ao completos. Dem. Recorde-se que fα = fβ sse α |=|β . Dada uma fun¸c˜ao de Boole f, o teorema 1.2.6. demonstra-nos que f= fα , para alguma fpbf α na forma normal dijuntiva; se provarmos que qualquer fpbf α ´e tautologicamente equivalente a uma fpbf onde s´o ocorrem os conectivos ∼ e ∨ ou ∼ e ∧ ou ∼ e ⇒ , concluimos que qualquer fun˜ao de Boole ´e represent´avel por uma fpbf onde, em cada caso, ocorrem apenas os conectivos costantes de cada um dos conjuntos em quest˜ao. De acordo com o teorema 1.2.7 cada fpbf γ ´e tautologicamente equivalente a uma γν onde s´o ocorrem os conectivos ∼, ∧e∨. Vamos partir de γ para obter qualquer das outras usando os teoremas de substitui¸c˜ao. Utilizaremos a nota¸c˜ao do Teorema 1.3.6. Se em γV ocorre η ∧ δ, tome-se γV ((η ∧ δ) → (∼ (∼ η ∨ δ)) e observe-se que γV ((η ∧ δ) → (∼ (∼ η ∨ δ)) |=|γν , pelo teorema 1.3.6; repetindo este processo eliminam-se de γV todas as ocorrˆencias de ∧; e γ |=|γV , sendo γV uma fpbf com ocorrˆencias apenas de ∼ e. Para o segundo caso tome-se γV ((η ∨ δ) → (∼ (∼ η ∧ δ)), por cada ocorrencia de fpbfs da forma η ∨ δ. Analogamente se obt´em γ∧ tautologicamente equivalente a γ e onde s´o ocorrem os conectivos ∼ e ∧. Por exemplo partindo de γ∧ podemos substituir subf´ormulas da forma η ∧δ por ∼ (η ⇒∼ δ), para obter γ→ tal que γ⇒ |=|γ e em γ⇒ s´o ocorrem ∼ e ⇒ . q.e.d. Exemplos 1.4.3 A fpbf (p∨ ∼ q) ⇒ (r ∧ s) ´e tautologicamente equivalente `as seguintes: ∼ (p∨ ∼ q) ∨ (r ∧ s), ∼ (p∨ ∼ q)∨ ∼ (∼ r∨ ∼ s), ∼ (∼ (∼ p ∧ q) ∧ (r ∧ s)), (q ⇒ p) ⇒ (r ⇒∼ s). Nem todos os conjuntos de conectivos s˜ao completos
  • 22. Exemplos 1.4.4 1. {∼} n˜ao ´e completo: ´e muito f´acil mostrar que as fun¸c˜oes de Boole un´arias constantes n˜ao podem ser representadas por fpbfs apenas com s´ımbolos proposi- cionais e ∼ . 2. {∧, ⇔} n˜ao ´e completo. Vamos demonstrar esta afirma¸c˜ao por indu¸c˜ao no n´umero de conectivos de fpbfs α onde s´o ocorrem os conectivos ∼ e ⇔ : mostraremos que fα toma o valor V se todas as suas vari´aveis valerem V, portanto n˜ao ´e poss´ıvel representar por exemplo a fun¸c˜ao que vale identica- mente F. Se α tem zero conectivos, ent˜ao α ´e um s´ımbolo proposicional, digamos α = p; neste caso fα = fp (V)=V. Admita-se que a afirma¸c˜ao vale quando ocorrem no m´aximo n conectivos e suponha-se que α tem n+1 conectivos; necessariamente α = (β ∧ γ) ou α = (β ⇔ γ), para fpbfs β e γ que ter˜ao quando muito n ocorrencias de conectivos (∧ou ⇔). Atribuindo a todas as vari´aveis de fα o valor V tem-se, considerando a hip´otese de indu¸c˜ao, fα (V, ..., V ) = fp∧q (fβ (V, ..., V ), fα (V, ..., V )) = fp∧q (V, V ) = V ou, analogamente fα (V, ..., V ) = fp⇔q (fα (V, ..., V ), fβ (V, ..., V )) = fp⇔q (V, V ) = V Pelo Princ´ıpio de Indu¸c˜ao Matem´atica a afirma¸c˜ao sobre fα vale com qualquer n´umero de conectivos, como se pretendia. Repare-se que na verdade qualquer tabela de valores l´ogicos V e F define um conec- tivo – que poder´a ser un´ario bin´ario, tern´ario, etc. – sendo assim poss´ıvel definir ao todo dezasseis conectivos bin´arios, dos quais at´e aqui estud´amos quatro. Pode mostrar-se que {c} n˜ao ´e completo se c ∈ {∧, ∨, ⇔, ⇒}. No entanto Teorema 1.4.5 Os conectivos Nor e Nand respectivamente designado por ↓ e | e definidos pelas tabelas p q p ↓ q p|q V V F F V F F V F V F V F F V V
  • 23. 23 formam cada um por si um conjunto completo. Dem. Em virtude do teorema 1.4.2, bastar´a mostrar que ∼ p e p ∨ q s˜ao tauto- logicamente equivalentes a fpbfs que s´o envolvam ↓ ou s´o envolvem |. Vejamos o primeiro caso, come¸cando por notar que p ↓ q |=| ∼ (p ∨ q) Assim obt´em-se com 1.3.7 que p ↓ p |=| ∼ p e, consequentemente, (p ↓ q) ↓ (p ↓ q) |=|(∼ (p ∨ q)) Como ∼ (∼ (p ∨ q)) |=|p ∨ q vem, por 1.3.7, (p ↓ q) ↓ (p ↓ q) |=|p ∨ q Para | , comecemos por notar que p|q |=|(p ∧ q) e da´ı p|p |=| ∼ p Como p∨ |=|(∼ p∧ ∼ q) tem-se (p|p)|(q|q) |=|p ∨ q ´E um excelente exerc´ıcio de paciˆencia e concentra¸c˜ao exprimir ⇔ apenas com ↓ . Exerc´ıcios 1.4.6 Para os exerc´ıcios seguintes tenha em conta que o Princ´ıpio de Indu¸c˜ao 1.1.4 vale considerando o conjunto de conectivos ampliado com os que even- tualmente venham a ser definidos; por exemplo, no exerc´ıcio 1 definimos o conectivo <: deve juntar-se `a constru¸c˜ao de fpbf 1.1.2 que, se α e β s˜ao fpbf, (α < β) tamb´em ´e .
  • 24. 1. Defina o conectivo < pela tabela p q p < q V V F V F F F V V F F F Mostre que {∼, <} ´e completo, mas {<} n˜ao ´e . 2. Considere a fun¸cao de Boole f: V3 → V definida pela tabela seguinte X Y Z f(X, Y, Z) V V V V V V F V V F V V V F F F F V V V F V F F F F V F F F F F a) Determine uma fpbf que represente f com apenas cinco conectivos. Identifique cuidadosamente as aplica¸c˜oes de teoremas de substitui¸c˜ao. b) Denote por o conectivo tern´ario definido pela tabela acima (conectivo de maio- ria). Mostre que { } n˜ao ´e completo. 1.5 C´alculo Proposicional e tautologias Nesta sec¸c˜ao vamos definir um processo de gerar todas as tautologias. Simplificando a nota¸c˜ao tomaremos como primitivos apenas os conectivos ∼ e ⇒, definindo todos os outros ´a sua custa, como abreviaturas – recorde-se que {∼, ⇒} ´e completo (teorema 1.4.2) –. Assim a linguagem com que passamos a trabalhar ser´a o conjunto dado por = {α ∈ : α n˜ao tem ocorrˆencias de ∧, ∨ ou ⇔} e as igualdades seguintes definem os conectivos ∧, ∨e ⇒ α ∧ β =∼ (α ⇒ (∼ β)) α ∨ β =∼ α ⇒ β a ⇔ β = (α ⇒ β) ∧ (β ⇒ α)
  • 25. 25 Com as devidas adapta¸c˜oes para vale o Princ´ıpio de Indu¸c˜ao 1.1.4 e o teorema de Leitura ´unica 1.1.5. As regras de c´alculo incluir˜ao um n´umero infinito de axiomas descritos por um n´umero finito de esquemas – o que, atrav´es do teorema de leitura ´unica, permite um m´etodo ”mecˆanico”de decidir se uma fpbf ´e ou n˜ao um axioma. Defini¸c˜ao 1.5.1 O sistema formal L do C´alculo proposicional consiste no seguinte: i) O conjunto ii)O conjunto de esquemas de axiomas: para quaisquer fpbfs α, β e γ, as seguintes fpbfs s˜ao axiomas de L ( L 1) (α ⇒ (β ⇒ α)) ( L 2) ((α ⇒ (β ⇒ γ)) ⇒ ((α ⇒ β) ⇒ (α ⇒ γ))) ( L 3) (((∼ α) ⇒ β) ⇒ (((∼ α) ⇒ (∼ β)) ⇒ α)) iii) A regra de inferˆencia modus ponens: para quaisquer α, β , de αe(α ⇒ β) , deduz-se (ou conclui-se) β . Tal como observ´amos no in´ıcio (p´ag. 2) a regra de inferˆencia pretende formalizar o processo b´asico de dedu¸c˜ao em matem´atica; este processo ´e ainda mais reflectido na seguinte Defini¸c˜ao 1.5.2 Uma dedu¸c˜ao em L ´e uma sequˆencia α1, ..., αn de fpbfs em que cada αi (i=1,...,n) ´e um axioma ou resulta de duas fpbfs de menor ´ındice,αj e αk (j,k<i), por aplica¸c˜ao de modus ponens. O n´umero n diz-se o comprimento da dedu¸c˜ao. O ´ultimo termo , αn , de uma dedu¸c˜ao diz-se um teorema de L e a sequˆencia diz-se uma dedu¸cao(em L ) de αn. Repare-se que cada axioma ´e um teorema: tem uma dedu¸c˜ao cujo ´unico termo ´e ele pr´oprio. ´E tamb´em simples de ver que qualquer segmento inicial α1, ..., αn (m<n) de uma dedu¸c˜ao α1, ..., αn ´e uma dedu¸c˜ao e, portanto, qualquer termo de uma dedu¸c˜ao ´e um teorema. Obviamente o conjunto de premissas {αj, αk} para a conclus˜ao αi ´e da forma {α, α ⇒ αi} para alguma fpbf α. Vimos como o formalismo desenvolvido nas sec¸c˜oes anteriores pode servir para for- malizar a linguagem corrente. Tamb´em vimos como esse formalismo pode servir para tratar fun¸c˜oes de Boole que opt´arm mos por definir ´a custa de termos ”ver- dadeiro”e ”falso-- mas poderiam muito bem ter sido definidas em termos de 0 e 1–
  • 26. dando assim lugar a interpreta¸c˜oes em termos de circuitos el´ectrico (”desligado”e ”ligado”). 5 Para nos distanciarmos ainda mais dos poss´ıveis significados atribuiveis aos s´ımbolos que estamos a utilizar temos a seguinte Defini¸c˜ao 1.5.3 Uma valua¸c˜ao de L ´e uma fun¸c˜ao υ : → {0, 1} tal que, para quaisquer α, β ∈ , i) υ(α) = υ(∼ α) ii) υ(α ⇒ β) = 0 sse υ(α) = 1 e υ(β) = 0 Pode demonstrar-se que qualquer fun¸c˜ao υ definida do conjunto de s´ımbolos proposi- cionais para {0, 1} se prolonga por uma valua¸c˜ao υ de modo que υ(α) depende apenas dos s´ımbolos proposicionais que ocorrem em α . Observando que as valua¸c˜oes est˜ao, por defini¸c˜ao, definidas em todos os s´ımbolos proposicionais, poderiamos reformu- lar as sec¸c˜oes anteriores nas novas condi¸c˜oes. Esta possibilidade de reinterpreta¸c˜ao pode ser levada mais longe ainda. Defini¸c˜ao 1.5.4 Uma tautologia de L ´e uma fpbf α tal que υ(α)=1, para qualquer valua¸c˜ao υ . Notaremos |=L α se α uma tautologia de L. Esta no¸c˜ao de tautologia comporta-se como a da sec¸c˜ao 1.2 (veja-se o teorema 1.3.1): Teorema 1.5.5 Para quaisquer α, β ∈ , se |=L α e |=L α ⇒ β , ent˜ao |=L β . Dem Suponha-se que |=L α e |=L α ⇒ β e seja υ uma valua¸c˜ao. Por hip´otese υ(α ⇒ β) = 1; portanto ou υ(α) = 0 ou υ(β) = 1 – por defini¸c˜a o de valua¸c˜ao – e como υ(α) = 1 por hip´otese, necessariamente υ(β) = 1. Como υ foi tomada arbitrariamente, |=L β. Podemos j´a demonstrar uma parte do resultado para que nos encaminhamos. 5 O exerccio 1.4.6.2.a) pode ser interpretado em termos de encontrar circuitos mais simples para os mesmos efeitos. Alias Nand e Nor s˜ao exemplos de blocos de constru¸c˜ao de circuitos (bastante complicados...).
  • 27. 27 Teorema 1.5.6 (De boa fundamenta¸c˜ao) Todos os teoremas de L s˜ao tautologias. Dem. (Por indu¸c˜ao no comprimento das demonstra¸c˜oes) Se α ´e um teorema que tem uma dedu˜ao de comprimento 1, α1 , ent˜ao α = α1 e α ´e um axioma. ´E um exerc´ıcio de rotina verificar que todos os axiomas s˜ao tautologias. Suponha-se que todos os teoremas que tˆem uma dedu¸c˜ao de comprimento menor ou igual a n s˜ao tautologias e seja α um teorema demonstrado por α1, ..., αn+1 . Por defini¸c˜ao α = αn+1 . J´a vimos que os axiomas s˜ao tautologias; vejamos o caso em que α n˜ao ´e um axioma: Como estamos a supor que α n˜ao ´e um axioma, existem αj, αk, β ∈ tais que j,k<n+1 e αj = β e αj = β ⇒ α . Como qualquer segmento inicial α1, ..., αm (m ≤ n) ´e uma dedu¸c˜ao, por hip´otese de indu¸c˜ao |=L αj e |=L αk , i. e., |=L β e |=L β → α ; segue-se do Teorema 1.5.5 que |=L α, como se pretendia. Pelo Princ´ıpio de Indu¸c˜ao Matem´atica todos os teoremas de L s˜ao tautologias. Mostrar que todas as tautologias s˜ao teoremas de L ´e significativamente mais dif´ıcil. O processo inicia-se na sec¸c˜ao seguinte. No entanto podemos j´a apresentar um teo- rema de L Teorema 1.5.7 Para qualquer α ∈ , α ⇒ α ´e um teorema de L. Na dedu¸c˜oes descritas daqui em diante a coluna da direita indica a raz˜ao de escolha da f´ormula (´e o que se pode chamar a justifica¸c˜ao); MP abrevia ”aplica¸c˜ao de modus ponens”. Dem. α1 = (α ⇒ ((α ⇒ α) ⇒ α)) ⇒ ((α ⇒ (α ⇒ α)) ⇒ (α ⇒ α)) (L2) α2 = α ⇒ ((α ⇒ α) ⇒ α) (L1) α3 = ((α ⇒ (α ⇒ α)) ⇒ (α ⇒ α) (MP α1&α2) α4 = α ⇒ (α ⇒ α) (L1) α5 = α ⇒ α (MP α3 & α4) q.e.d.
  • 28. ´E poss´ıvel estudar sistemas formais onde os conectivos primitivos s˜ao quaisquer dos pares completos do teorema 1.4.2 – ou outros conjuntos, completos ou n˜ao – no entanto ´e natural tomar a implica¸c˜ao como conectivo bin´ario primitivo j´a que modus ponens ´e o processo fundamental de inferˆencia em matem´atica. Exerc´ıcio 1.5.8 Mostre que {∼, ⇔} n˜ao ´e completo (SUG: mostre que as fun¸c˜aoes de Boole representadas por fpbf onde s´o ocorram ∼ e ⇔ tomam um n´umero par de vezes o valor V). 1.6 C´alculo Proposicional: o Teorema de Dedu¸c˜ao. Como sabe quem estuda Matem´atica, frequentemente interessa tirar conclus˜oes de conjuntos de premissas especificadas para al´em dos axiomas. Defini¸c˜ao 1.6.1 Seja Γ um conjunto de fpbfs, i. e., Γ ⊆ . Diz-se que a sequˆencia de fpbfs α1, ..., αn ´e uma dedu¸c˜ao a partir de Γ (em L ) se, para cada i (1 ≤ i ≤ n) uma das condi¸c˜oes seguintes se verifica 1. αi ´e um axioma de L 2. αi ∈ Γ 3. αiobtem-se de duas fpbfs αj, αk(1 ≤ j, k ≤ i) por aplica¸c˜ao de modus ponens. Nestas condi¸c˜oes diz-se que αn ´e dedut´ıvel de Γ (emL), αn ´e consequˆencia de Γ(emL) ou que Γ prova αn . Se a fpbfα ´e dedut´ıvel de Γ escreve-se Γ L α. Aos elementos de Γ chamam-se hip´oteses. Uma leitura cuidada da defini¸c˜ao 1.5.3 mostra que os teoremas de L s˜ao as con- sequˆencias de ∅; notaremos L α se α ´e um teorema. Um caso de aplica¸c˜ao frequente ´e descrito no seguinte Teorema 1.6.2 Para quaisquer α, β, γ ∈ , {α ⇒ β, β ⇒ γ} L α ⇒ γ . Dem. α1 = (β ⇒ γ) ⇒ (α ⇒ (β ⇒ γ)) (L1) α2 = β ⇒ γ (hipotese) α3 = α ⇒ (β ⇒ γ) (α1, α2e MP) α4 = (α ⇒ (β ⇒ γ)) ⇒ ((α ⇒ β) ⇒ (α ⇒ γ)) (L2) α5 = (α ⇒ β) ⇒ (α ⇒ γ) (α3, α4 e MP) α6 = α ⇒ β (hipotese) α7 = α ⇒ γ (α5, α6 e MP)
  • 29. 29 q.e.d. Deixa-se ao cuidado do leitor o estudo do exemplo seguinte; o estudo ser´a ainda mais simples se apenas se numerarem os passos das demonstra¸c˜oes em vez de os designar por αα , conven¸c˜ao que seguiremos de ora em diante. Exemplos 1.6.3 Para quaisquer Γ ⊆ eα, β ∈ , se Γ L α ⇒ β ent˜ao Γ∪oα} L β Uma dificuldade est´a em demonstrar a rec´ıproca desta asser¸c˜ao, a saber: Teorema 1.6.4 (De Dedu¸c˜ao) Para quaisquer Γ ⊆ e α, β ∈ , se Γ ∪ {α} L β, ent˜ao Γ L α ⇒ β Antes de apresentarmos uma demonstra¸c˜ao ( e generalizando um pouco os coment´arios que fizemos imediatamente a seguir ´a defini¸c˜ao de dedu¸c˜ao, 1.5.2), convir´a ter pre- sente que -Se Γ ⊆ Γ , ent˜ao qualquer dedu¸c˜ao a partir de Γ ´e tamb´em uma dedu¸c˜ao a partir de Γ . Em particular os teoremas de L s˜ao consequˆencias de qualquer conjunto de fpbfs. -Qualquer segmento inicial de uma dedu¸c˜ao a partir de Γ ´e uma dedu¸c˜ao a partir de Γ -Se α1, ..., αn e β1, ..., βn s˜ao dedu¸c˜oes a partir de Γ , ent˜ao a sequˆencia α1, ..., αn, β1, ..., βn ´e uma dedu¸c˜ao a partir de Γ . Sob um ponto de vista pr´atico: -A introdu¸c˜ao de uma consequˆencia de Γ como termo de uma dedu¸c˜ao a partir de Γ ´e admiss´ıvel: a consequˆencia pode tomar-se como abreviatura da sua dedu¸c˜ao.
  • 30. Dem. (1.6.4). Vamos fazer indu¸c˜ao sobre o comprimento n das dedu¸c˜oes de β indicando em cada caso uma dedu¸c˜ao de α ⇒ β . n=1 Nestas condi¸c˜oes α1, ..., αn = αn = β 1o ) β ∈ Γ ou β ´e um axioma de L 1. β (hipotese ou axioma) 2. β ⇒ α ⇒ β (axioma) 3. α ⇒ β (MP 1 & 2) 2o ) β = α Neste caso α ⇒ β = α ⇒ α e |=L α ⇒ α Repare-se que de facto tamb´em acab´amos de mostrar que (1.6.1) Se β ∈ Γ ou β´e um axioma de L ou β = α e em qualquer dos casos Γ∪{α} L β , ent˜ao Γ L α ⇒ β . independentemente do comprimento de uma poss´ıvel dedu¸c˜ao de β. Suponha-se agora que o teorema vale quando os comprimentos das dedu¸c˜oes de β a partir de Γ ∪ {α} s˜ao menores ou iguais a n. Seja α1, ..., αn+1, uma dedu¸c˜ao de β a partir deΓ ∪ {α}. S´o interessa estudar o caso em que n˜ao se aplica (1.6.1), i. e., β = αn+1 obtem-se de αj = γ e αk = γ ⇒ β, para alguma f´ormula γ, com i ≤ j, k ≤ n. Por hip´otese de indu¸c˜ao Γ L α ⇒ γ e Γ L α ⇒ γ ⇒ β: uma dedu¸c˜ao de α ⇒ β a partir de Γ pode ser descrita do seguinte modo (1) α ⇒ γ (Γ L α ⇒ γ) (2) α ⇒ γ ⇒ β (Γ L α ⇒ γ ⇒ β) (3) (α ⇒ γ ⇒ β) ⇒ (α ⇒ γ) ⇒ α ⇒ β (L2) (4) (α ⇒ γ) ⇒ α ⇒ β (MP 2 & 3) (5) α ⇒ β (MP 1 & 4) Pelo Princ´ıpio de Indu¸c˜ao Matem´atica o teorema vale para qualquer n ∈ N{0}. q.e.d. Algumas aplica¸c˜oes deste teorema que utilizaremos adiante: Teorema 1.6.5 Para quaisquer α, β ∈ 1. ∼∼ α L α
  • 31. 31 2. α L∼∼ α 3. {β, ∼ β} L α Dem. 1. (1) ∼ α ⇒∼ α ( L , 1.5.7) (2) (∼ α ⇒∼ α) ⇒ (∼ α ⇒∼∼ α) ⇒ α (L3) (3) (∼ α ⇒∼∼ α) ⇒ α (MP 1 & 2) (4) ∼∼ α (hipotese) (5) ∼∼ α ⇒ (∼ α ⇒∼∼ α) (L1) (6) ∼ α ⇒∼∼ α (MP4&5) (7) α (MP2&6) 2. (1) ∼∼∼ α ⇒ α ( L , caso 1) (2) (∼∼∼ α ⇒ α) ⇒ (∼∼∼ α) ⇒∼ α) ⇒∼∼ α (L3) (3) α (hipotese) (4) α ⇒ (∼∼∼ α ⇒∼ α) (L1) (5) ∼∼∼ α ⇒ α (MP3&4) (6) (∼∼∼ α ⇒ α) ⇒∼∼ α (MP2&5) (7) ∼∼ α (MP1&6) 3. (1) (∼ α ⇒ β) ⇒ (∼ α ⇒∼ β) ⇒ α (L3) (2) β ⇒ (∼ α ⇒ β ) (L1) (3) β (hipotese) (4) ∼ α ⇒ β (MP2&3) (5) (∼ α ⇒ β) ⇒ α (MP1&4) (6) ∼ β ⇒ (∼ α ⇒ β) (L1) (7) ∼ β (hipotese) (8) ∼ α ⇒ β (MP6&7) (9) α (MP5&8) q.e.d. 1.7 Completude do C´alculo Proposicional; con- sistˆencia. Para mostrarmos que todas as tautologias s˜ao teoremas vamos ver que n˜ao ´e poss´ıvel ampliar o conjunto dos teoremas sem que na amplia¸c˜ao surja uma f´ormula sobre a qual alguma valua¸c˜ao valeria simultaneamente 0 e 1, o que ´e imposs´ıvel.
  • 32. As defini¸c˜oes da sec¸c˜ao 1.5 s˜ao muito facilmente generaliz´aveis: Um sistema formal F (para o C´alculo Proposicional ) consiste em , um conjunto especificado de f´ormulas de , que ser˜ao designados por axiomas de F, e um con- junto de regras de inferˆencia. Uma dedu¸c˜ao de αn a partir de Γ ⊆ em F ´e uma sequˆencia fpbf α1, ..., αn em que cada αi ´e um axioma ou ´e um elemento de Γ ou resulta de f´ormulas anteriores por aplica¸c˜ao de alguma regra de inferˆencia. As f´ormulas dedut´ıveis de ∅ ser˜ao chamadas teoremas de F, notando-se Γ |=F α, se α ´e dedut´ıvel de Γ, e |=F α, se α ´e um teorema de F Designemos por Teo (F) o conjunto de teoremas do sistema formal F . Defini¸c˜ao 1.7.1 Uma extens˜ao de um sistema formal F ´e um sistema formal F∗ tal que Teo (F) ⊆ Teo(F∗ ). Uma extens˜ao-MP de L ´e uma extens˜ao cuja ´unica regra de inferˆencia ´e modus ponens. Extens˜oes-MP obtˆem-se por prolongamento ou modifica¸c˜ao do conjunto de axiomas. H´a no entanto que ter cuidado com a aquisi¸c˜ao de novos teoremas. Defini¸c˜ao 1.7.2 Uma extens˜ao F de L diz-se consistente se ∼ α e α n˜ao s˜ao simultaneamente teoremas de F , seja qual for α ∈ . Teorema 1.7.3 L ´e consistente. Dem. Pelo Teorema de Boa Fundamenta¸c˜ao 1.5.6, os teoremas de L s˜ao tautologias e α e ∼ α n˜ao o podem ser simultaneamente. q.e.d. Consistˆencia para extens˜oes-MP ´e caracteriz´avel do seguinte modo: Teorema 1.7.4 Uma extens˜ao-MP L∗ de L ´e consistente sse existe uma f´ormula em que n˜ao ´e teorema de L∗ . Ou seja, uma extens˜ao-MP L∗ de L ´e inconsistente (ou n˜ao consistente) se e s´o se todas as f´ormulas s˜ao teoremas de L∗ . Dem. Se L∗ ´e consistente e α ´e uma f´ormula qualquer apenas um dos casos ´e poss´ıvel |=L∗ α ou |=L∗ ∼ α ; o caso que se n˜ao der indica a f´ormula que n˜ao ´e teorema. Se L∗ n˜ao ´e consistente ent˜ao para uma certa α ∈ tem-se |=L∗ α e |=L∗ ∼ α. Vamos ver que (1.7.1) |=L∗ β para qualquer β ∈ .
  • 33. 33 Comecemos por supor demonstrado o seguinte lema LEMA. |=L∼ γ ⇒ γ ⇒ β para quaisquer γ, β ∈ Segue-se que tamb´em (1.7.2) |=L∗ ∼ γ ⇒ γ ⇒ β para quaisquer γ, β ∈ pois L∗ ´e extens˜ao de L ; mas ent˜ao tem-se a seguinte dedu¸c˜ao, para qualquer β ∈ (1) α |=L∗ α (2) ∼ α |=L∗ ∼ α (3) ∼ α ⇒ α ⇒ β ((1.7.2)) (4) α ⇒ β (MP 2 & 3) (5) β (MP 1 & 4) Portanto |=L∗ β, como se pretendia. Resta demonstrar o Lema. Dem. do Lema: de acordo com o teorema de dedu¸c˜ao, basta mostrar que {∼ γ, γ} |=L β, o que foi feito em 1.6.5.3. q.e.d. A asser¸c˜ao seguinte diz que podemos acrescentar a um sistema formal as nega¸c˜oes de f´ormulas que n˜ao sejam teoremas sem perder a consistˆencia. Teorema 1.7.5 Seja L∗ uma extens˜ao-MP consistente de L suponha que α ∈ Teo (L∗ ). Seja L∗∗ a extens˜ao-MP de L∗ que se obtem juntando ∼ α aos axiomas de L∗ . L∗∗ ´e consistente. Dem. Suponha que α, L, L∗ , L∗∗ est˜ao nas condi¸c˜oes da hip´otese mas que L∗∗ ´e inconsistente. De acordo com o teorema anterior,|=L∗∗ α. Como a diferen¸ca entre L∗ e L∗∗ ´e que ∼ α ´e tamb´em um axioma do segundo, conclui-se em particular que ∼ α |=L∗ α. Como os teoremas de L tamb´em s˜ao teoremas de L∗ , os axiomas de L s˜ao teoremas de L∗ e portanto vale o Teorema de Dedu¸c˜ao em L∗ ; segue-se que |=L∗∗∼ α ⇒ α. Suponha-se demonstrado o seguinte Lema LEMA. |=L (∼ α ⇒ α), para qualquer α ∈ . Como L∗ ´e uma extens˜ao de L, |=L∗ (∼ α ⇒ α) ⇒ α. Consequentemente |=L∗ α, como se pretendia. Resta provar o lema. Dem. do lema. Utilizamos o Teorema de Dedu¸c˜ao.
  • 34. (1) ∼ α ⇒ α (hipotese) (2) (∼ α ⇒ α) ⇒ (∼ α ⇒ α) ⇒ α (L3) (3) (∼ α ⇒ α) ⇒ α (MP 1 & 2) (4) ∼ α ⇒∼ α (1.5.7) (5) α (MP 3 & 4) q.e.d Pode saturar-se L adicionando um n´umero suficiente de fpbfs. Defini¸c˜ao 1.7.6 Uma extens˜ao L∗ de L diz-se completa se para qualquer α ∈ , ou |=L∗ αou |=L∗ ∼ α. Observe-se que qualquer extens˜ao inconsistente ´e completa (teorema 1.7.4), que qualquer extens˜ao completa n˜ao pode ser estritamente ampliada sem se tornar in- consistente e que L n˜ao ´e completa: para qualquer s´ımbolo proposicional p, nem p nem ∼p s˜ao teoremas de L . Podemos concluir de 1.7.5 e da ´ultima observa¸c˜ao que L tem extens˜oes estritas L∗ , i. e., Teo(L) ⊂ Teo(L∗ ). Note-se tamb´em que qualquer extens˜ao de uma extens˜ao ´e extens˜ao do sistema inicial. Teorema 1.7.7 Toda a extens˜ao consistente de L tem por sua vez uma extens˜ao consistente e completa. Dem. Seja α0, α1, ..., αn, ... uma enumera¸c˜ao de todas as fpbfs de . Vamos con- struir a extens˜ao por n´ıveis que ser˜ao reunidos no fim. Seja L∗ uma extens˜ao con- sistente de L. Notemos por F; α o sistema formal que se obtem do sistema formal F por adi¸c˜ao da f´ormula α ao conjunto de axiomas. Defina L0 = L∗ Ln+1 =    Ln se |=Ln αn (n ∈ N) Ln; ∼ αn se αn /∈ Teo(Ln) Por hip´otese L0 ´e consistente e, pelo teorema 1.7.5, se Ln ´e consistente tamb´em Ln+1 ´e consistente; pelo princ´ıpio de Indu¸c˜ao Matem´atica todas as extens˜oes Ln s˜ao consistentes. Note-se por F ∪ F a extens˜ao dos sistemas F e F cujo conjunto de axiomas ´e a reuni˜ao dos conjuntos de axiomas de F e F . Seja
  • 35. 35 L∞ = ∪∞ n=0Ln ´E imediato que L∞ ´e uma extens˜ao de L∗ . Vejamos que L∞ ´e consistente: se o n˜ao fosse, existiria α ∈ tal que |=L∞ ∼ α e |=L∞ α. Tomem-se dedu¸c˜oes de ∼ α e de α em L∞ . O n´umero de f´ormulas envolvidas em ambas as dedu¸c˜oes ´e finito, portanto o n´umero de axiomas tamb´em e estes ser˜ao axiomas de algum Ln , para n suficientemente grande; mas ent˜ao α e ∼ α s˜ao de facto teoremas de Ln , o que ´e imposs´ıvel pois todos os Ln s˜ao consistentes. Em suma, L∞ n˜ao pode ser inconsistente. Para vermos que L∞ ´e completa basta observar que qualquer f´ormula de ocorre em algum lugar na listagem inicial portanto, em algum passo da constru¸c˜ao, ela ou a sua nega¸c˜ao foi incluida como axioma e, assim, tamb´em como teorema. q.e.d. Resta-nos mais um passo preliminar para o qual convir´a ter presente o seguinte exerc´ıcio Exerc´ıcio 1.7.8 Mostre que |=L (∼ α ⇒∼ β) ⇒ (β ⇒ α), para quaisquerα, β ∈ . Teorema 1.7.9 Se L∗ ´e uma extens˜ao-MP consistente de L, existe uma valua¸c˜ao que vale 1 em todos os teoremas de L∗ . Dem.Tome uma extens˜ao completa e consistente L∞ de L (por exemplo como construida no teorema anterior) e defina υ(α) =    1 se |=L∞ α 0 se |=L∞ ∼ α Repare-se que υ est´a definida em todas as fpbfs de pois L∞ ´e completa. Falta ver que υ(α ⇒ β) = 0 sse υ(α) = 1 e υ(β) = 0, pois υ(α) = υ(∼ α) resulta de L∞ ser consistente. Suponha que υ(α ⇒ β) = 0. Comece por observar que ent˜ao (1.7.2) |=L∞ ∼ (α ⇒ β) Se υ(α) = 0 ou υ(β) = 1 ent˜ao |=L∞ ∼ α ou |=L∞ β . Utilizando o axioma (L1) convenientemente conclui-se
  • 36. |=L∞ ∼ β ⇒∼ α ou |=L∞ α ⇒ β o que, pelo exerc´ıcio anterior, leva em qualquer caso a |=L∞ α ⇒ β o que, com (1.7.2), contradiz a consistˆencia de L∞ . Segue-se que necessariamente υ(α) = 1 e υ(β) = 0, se υ(α ⇒ β) = 0. Suponha agora que υ(α) = 1 e υ(β) = 0, mas υ(α ⇒ β) = 1. Ent˜ao |=L∞ α e |=L∞ β, portanto |=L∞ β ; mas de υ(β) = 0 conclui-se |=L∞ β e L∞ n˜ao seria consistente. Tem de ser υ(α ⇒ β) = 0 se υ(α) = 1 e υ(β) = 0. q.e.d. Finalmente Teorema 1.7.10 (de Completude Fraca) Para qualquer α ∈ , se |=L ∞, ent˜ao |=L ∞ . Dem. Se |=L ∞ mas α ∈ Teo (L), ent˜ao, pelo teorema 1.7.5,L ;∼ α ´e consis- tente; pelo teorema anterior, existe uma valua¸c˜ao υ que vale 1 em todos os teo- remas de L; ∼ α, em particular υ(∼ α) = 1, o que ´e imposs´ıvel pois necessaria- mente υ(∼ α) = υ(α) e υ(α) = 1 por α ser uma tautologia. Segue-se que |=L α q.e.d. Uma nota final: as tabelas de verdade fornecem um algoritmo para verificar se uma dada f´ormula ´e ou n˜ao um teorema do C´alculo proposicional sem ser necessario explicitar uma dedu˜ao. Exerc´ıcios 1.7.11 1. Mostre que para quaisquer f´ormulas α, β, γ ∈ (a) |=L ((α ∧ β) ⇒ α) (b) |=L ((α ∧ β) ⇒ β) (c) |=L (α ⇒ (β ⇒ (α ∧ β))) (d) |=L ((α ⇒ (α ⇒ (α ∨ β))) (e) |=L ((β ⇒ (α ⇒ (α ∧ β))) (f) |=L ((α ⇒ γ ⇒ ((β ⇒ γ) ⇒ ((α ∨ β) ⇒ γ))
  • 37. 37 2. Seja F o sistema formal que se obt´em de L juntando as regras de inferˆencia I1) α ∧ β ...α I2) α ∧ β ...β I3) α ...α ∨ β I4) β ...α ∨ β I5) ∼ αα∧β ...β I6) ∼ βα∨β ...α Mostre que Teo (L) = Teo (F). 3. Seja L∗ o sistema formal que se obt´em de L substituindo o esquema de axiomas (L3) por (L 3) (∼ α ⇒ β) ⇒ β ⇒ α (α, β ∈ ) mantendo os outros esquemas e tendo MP como ´unica regra de inferˆencia. Mostre que Teo(L) =Teo(L∗ ). 4. Um conjunto Γ ⊆ diz-se inconsistente (em L) se existir α ∈ tal que Γ |=L α e Γ |=L∼ α . Seja Γ um subconjunto de . Mostre que, para quaisquer α, β ∈ , (a) se (α ⇒ β) ∈ Γ e ambos os conjuntos Γ ∪ {∼ α} e Γ ∪ {β} s˜ao inconsis- tentes, ent˜ao Γ ´e inconsistente. (b) se ∼ (α ⇒ β) ∈ Γ e Γ∪{α, ∼ β}´e inconsistente, ent˜ao Γ ´e inconsistente. (c) Um subconjunto de diz-se consistente (em L)se n˜ao for inconsistente (em L). Mostre que Γ ⊆ ´e consistente sse todos os subconjuntos finitos de Γ s˜ao consistentes.
  • 38.
  • 39. Cap´ıtulo 2 L´ogica de Predicados (de primeira ordem) A formaliza¸c˜ao p ⇒ q no exemplo 1.1.1.3 ´e claramente insuficiente para explici- tar a estrutura da asser¸c˜ao a´ı descrita; um caso de estrutura¸c˜ao ainda menor ocorre quando se pretende representar ”os quadrados de n´umeros reais s˜ao n´umeros n˜ao neg- ativos”: no ˆambito do C´alculo Proposicional teremos de utilizar apenas um s´ımbolo proposicional sem quaisquer conectivos! Para podermos analizar mais profundamente este tipo de afirma¸c˜oes vamos desen- volver uma linguagem mais elaborada. 2.1 Linguagens de primeira ordem: alfabeto, ter- mos e f´ormulas. O alfabeto de uma linguagem de primeira ordem consiste em s´ımbolos que se dis- tribuem por duas classes a saber 1. S´ımbolos l´ogicos (a) Parˆenteses (, )−− para pontua¸c˜ao (b) V´ırgula , −− para pontua¸c˜ao (c) Conectivos ∼ e ⇒ −− respectivamente nega¸c˜ao e implica¸c˜ao (d) Vari´aveis xi(i ∈ N{0}) 2. Parˆametros (a) O quantificador universal ∀ – que se lˆe ”para todo o” (b) S´ımbolos predicativos n-´arios An i (n, i ∈ N{0})
  • 40. (c) Constantes ai (i ∈ bkN{0}) (d) S´ımbolos funcionais n-´arios fn i (n, i ∈ N{0}). Consoante as estruturas que se tˆem em mente – adiante precisaremos o que se entende por estrutura – assim o conjunto de parˆametros. Exemplos 2.1.1 1. A linguagem do C´alculo de Predicados Puro tem apenas os parˆametros ∀ , s´ımbolos predicativos An i (n, i ∈ N{0}) e constantes ai(i ∈ N{0}). 2. A linguagem para a Teoria dos Corpos Ordenados tem parˆametros∀, dois s´ımbolos predicativos A2 i e A2 2 – respectivamente para as rela¸c˜oes bin´arias de igualdade e de ordem – duas constantes a1ea2 – respectivamente para o zero e a unidade – dois s´ımbolos funcionais f2 1 ef2 2 – respectivamente para a soma e o produto. Tal como para a l´ogica proposicional, uma express˜ao ´e uma sequˆencia de s´ımbolos. De entre as express˜oes come¸caamos por distinguir os termos com os quais ser˜ao formadas as f´ormulas de uma linguagem de primeira ordem L . Defini¸c˜ao 2.1.2 O conjunto dos termos de L ´e a intersec¸c˜ao de todos os conjun- tos de express˜oes E que verifiquem as seguintes propriedades 1. As vari´aveis e as constantes de L s˜ao elementos de E 2. Se t1, ..., tn ∈ E e fn i um s´ımbolo funcional n-´ario de L , ent˜ao fn i (t1, ..., tn) ∈ E (n ∈ N{0}). T designa o conjunto de todos os termos de L . Repare-se que vale o seguinte Teorema 2.1.3 (Princ´ıpio de Indu¸c˜ao em Termos) Se E ⊆ T , as vari´aveis e as constantes de L s˜ao elementos de E e fn i (t1, ..., tn) ∈ E sempre que os termos t1, ..., tn est˜ao em E e fn i ´e um s´ım mbolo funcional n-´ario de L , ent˜ao E = T . A demonstra¸c˜ao fica a cargo do leitor.
  • 41. 41 Exemplos 2.1.4 Retomando o exemplo 2 de 2.1.1: a1, f2 i (a1, x1) e x5 s˜ao termos da linguagem da teoria de corpos ordenados. De facto s˜ao termos de qualquer linguagem que inclua a constante ai e o s´ımbolo funcional bin´ario f2 1 no seu alfabeto. Como temos vindo a dar a entender, pretende-se essencialmente estudar express˜oes envolvendo vari˜aveis 1 . Mais precisamente Defini¸c˜ao 2.1.5 O conjunto das f´ormulas bem formadas L ´e a intersec¸c˜ao de todos os conjuntos de express˜oes E tais que 1. Se t1, ..., tn ∈ T e An i ´e um s´ımbolo predicativo n-´ario, ent˜ao An i (t1, ..., tn) ∈ E (n ∈ N{0}) 2. Se α, β ∈ E e xi ´e uma vari´avel, ent˜ao (∼ α), (α ⇒ β), ∀xiα s˜ao todas elemen- tos de E . As f´ormulas Ai(t1, ..., tn) definidas em 2.1.5.i) s˜ao chamadas at´omicas . De ora em diante abreviamos ”f´ormula bem formada”por ”f´ormula”ou ”fbf”. Mais uma vez vale um princ´ıpio de indu¸c˜ao e mais uma vez tamb´em esperamos que o leitor o demonstre. Teorema 2.1.6 (de Indu¸c˜ao em F´ormulas) Se E ⊆ F , E cont´em todas as f´ormulas at´omicas e, contendo as f´omulasα e β , tamb´em cont´em (∼ α) e (α ⇒ β) e ∀xiα , seja qual for a vari´avel xi , ent˜ao E = F . De modo a aliviar um pouco a carga de s´ımbolos em algumas f´ormulas, definimos as seguintes abreviaturas: para quaisquer fbfs α e β e qualquer vari´avel x (α ∧ β) = (∼ (α ⇒ β)) (α ∨ β) = ((∼ α) ⇒ β) (α ⇔ β) = ((α ⇒ β) ∧ (β ⇒ α)) ∃xα = (∼ ∀x(∼ α)) ∃ chama-se quantificador existencial e ∃ x lˆe -se ”existe x tal que”. Tamb´em omitiremos parenteses de acordo com as regras definidas em 1, p´agina 4; h´a no entanto que tornar mais precisas algumas situa¸c˜oes novas. 1 Em certos casos estas express˜oes costumam designar-se por condi¸c˜oes
  • 42. Defini¸c˜ao 2.1.7 Sejam Q um quantificador (∀ ou ∃), x uma vari´avel e α uma f´ormula. Se Q x ocorre em α , o campo de quantifica¸c˜ao ) de Qx em α ´e a f´ormula mais curta `a direita de Qx. Vejamos alguns exemplos. Exemplos 2.1.8 1. Seja α = ∀x1(∃x2A2 1(f2 1 (x1, x2), a1)). O campo de ∀x1 em α ´e β = ∃x2A2 1(f2 1 (x1, xn), a1) e o campo de ∃x2, em α e em β, ´e γ = A2 1(f2 1 (x1, x2), a1) 2. Considere a f´ormula ∀x1(∃x2A2 1(f2 2 (x1, x2), a2) ⇒ ∀x2(∼ A2 1(x2, a1) ⇒ A2 1(f2 2 (x1, x2), a1))) O campo de ∀x1 ´e toda a f´ormula restante; o campo de ∀x1 ´e ∼ A2 1(x2, a1) ⇒ A2 1(f2 2 (x1, xn), a1); o campo de ∃x2 ´e A2 1(f2 2 (x1, x2), a2). Adiante pretendemos substituir vari´aveis livres por outros termos sem alterar poss´ıveis ”significados atribuiveis `a ”f´ormula. Para tal tenha-se em conta a seguinte Defini¸c˜ao 2.1.9 1. Uma vari´avel x diz-se livre na fbf α se n˜ao ocorre no campo de uma quan- tifica¸c˜ao Qx. 2. Um termo t diz-se livre para a vari´avel x na fbf α se t=x ou as ocorrˆencias livres de x em α n˜ao est˜ao no campo de alguma quantifica¸c˜ao Qy na qual y ocorre em t. A parte 2 desta defini¸c˜ao estabelece as condi¸c˜oes em que as ocorrˆencias livres de uma vari´avel podem ser substituidas por um termo numa fbf. ´E simples decidir quais as vari´aveis livres de uma fbf. A defini¸c˜ao anterior postula que qualquer vari´avel x ´e sempre livre para si pr´opria em qualquer fbf; n˜ao ´e t˜ao simples determinar se um termo com mais de uma vari´avel ´e ou n˜ao livre para alguma outra.
  • 43. 43 Exemplos 2.1.10 1. As vari´aveis que ocorrem em α do exemplo 2.1.8 s˜ao todas mudas em α; x1 ´e livre em β e em γ, x2 s´o ´e livre em γ . 2. O termo f3 2 (x3, x4) ´e livre para qualquer das vari´aveis em qualquer das f´ormulas consideradas em 1 e 2 dos exemplos 2.1.8, pois n˜ao h´a quantifica¸c˜oes em x3 ou x4 . 3. O termo f2 1 (x1, x2)n˜ao ´e livre para x1 em β , porque x1 ocorre livre no campo de quantifica¸c˜ao de ∃x2 . Em termos de interpreta¸c˜ao: se A2 1 for interpretada pela igualdade, f2 1 pela soma e a1 por zero num anel, β ”toma a forma”∃x2(x1 + x2 = 0) e esta n˜ao tem por certo o mesmo ”significado”que ∃x2 ((x1 + x2) + x2 = 0). No entanto x1ef2 1 (x1, x2)s˜ao livres para x2 em α, pois a ´unica ocorrˆencia de x2 em α muda no campo de ∃x2 . 4. Agora na f´ormula do segundo exemplo de 2.1.8: x1 ´e livre para x2 , pois x2 s´o tem ocorrˆencias mudas; x1 n˜ao ´e livre para x1 porque x1 ocorre livre em A2 1(f2 2 (x1, x2), a2) no campo de ∃x2 . 5. Na fbf ∀x4(A1 2(x1) ⇒ ∃x2A2 2(x2, x2) ∧ ∀x1(A1 2(x3) ⇒ A3 2(x1, x4, x1))). O termo f3 2 (x1, x2, x3) ´e livre para x1 − − pois a ´unica ocorrˆencia livre de x1 na f´ormula est´a no campo de ∀x4 e x4 ∈ {x1, x2, x3} − − mas n˜ao ´e livre para x2 − − que ocorre livre no campo de ∃x2 − − nem para x3 ou x4 − − que ocorrem livres no campo de ∀x1. 2.2 Interpreta¸c˜oes Uma interpreta¸c˜ao da linguagem de primeira ordem L ´e uma fun¸c˜ao I cujo dom´ınio ´e o conjunto dos parˆametros de L verificando as seguintes propriedades: (I1)I(∀) ´e um conjunto n˜ao vazio, denominado o universo de I . (I2) Para cada s´ımbolo predicativo An i de L, I(An i ) ´e uma rela¸c˜ao n-´aria
  • 44. em I(∀), i. e., I(An i ) ⊆ I(∀)n (I3) Para cada constante ai de L, I(ai) ´e um elemento de I(∀) (I4) Para cada s´ımbolo funcional fn i de L, I(fn i )´e uma fun¸c˜ao n-´aria de I(∀) em I(∀), i. e., I(fn i ) : I(∀) → I(∀) Recorde-se que L pode n˜ao ter s´ımbolos funcionais ou constantes −− casos em que (I3) ou (I4) se n˜ao aplicam −− e note-se tamb´em que I(An i ) pode ser vazia. Ao contradom´ınio de uma interpreta¸c˜ao I que, um pouco abusivamente, designaremos por < I(∀), I(An i ), I(ai), I(fn i ) >chamaremos estrutura para L ; o exemplo seguinte mostra onde est´a o abuso de nota¸c˜ao. Exemplos 2.2.1 Se L tem parˆametros ∀, A2 1, A2 2, a1, a2, f2 1 , f2 2 uma interpreta¸c˜ao pode ser dada por I(∀) = R, I(A 2 1 ) ´e a rela¸c˜ao de igualdade em R, I(A2 2) ´e a rela¸c˜ao de ordem total lata usual, I(a1) = 0, I(a2) = 1, I(f2 1 ) e I(f2 2 ) s˜ao, respectivamente, soma e o produto usuais. A correspondente estrutura ser´a < R, =, ≤, 0, 1, +, • >, o corpo ordenado dos n´umeros reais. De um modo semelhante tamb´em se vˆe que < Q, =, ≤<, 0, 1, +, • > ou < N, =, ≤, 0, 1, +, • > s˜ao estruturas para L . Ainda outra interpreta¸c˜ao pode ser dada por I(∀) = Z, I(A2 2) = {(m, n) ∈ Z2 : m = 0 e m divide n }, I(f2 1 )(m, n) =    0 se m=0 ou m n˜ao divide n nm caso contr´ario mantendo-se as outras imagens por I com as adapta¸c˜oes adequadas. Cada interpreta¸c˜ao de uma linguagem permite dar significado ´as suas f´ormulas, como vamos ver a seguir. 2.3 Satisfazibilidade Uma das raz˜oes pelas quais estamos no ˆambito da l´ogica de predicados de primeira ordem est´a impl´ıcita no que vamos definir como satisfazibilidade de uma fbf da forma ∀xα .
  • 45. 45 Com a defini¸c˜aoo de satisfazibilidade estabeleceremos o que significa uma f´ormula ser ou n˜ao verificada numa estrutura. As fbfs verificadas em todas as interpreta¸c˜oes de uma mesma linguagem vir˜ao a ser consideradas em particular. Comecemos por atribuir valores ´as vari´aveis Defini¸c˜ao 2.3.1 Seja I uma interpreta¸c˜ao da linguagem de primeira ordem L cujo conjunto de termos ´e T . Uma valua¸c˜ao para I (na interpreta¸c˜ao e estrutura correspondentes) ´e uma fun¸c˜ao υ : T → I(∀) tal que 1. υ(ai) = I(ai), se ai ´e uma constante de L 2. υ(fn i (t1, ..., tn) = I(fn i )(υ(t1), ..., υ(tn)), se fn i ´e um s´ımbolo funcional e t1, ..., tn s˜ao termos de L . Uma valua¸c˜aoo ´e assim uma forma de associar a cada termo de L o objecto que ´e a sua interpreta¸c˜ao. Repare-se que, por defini¸c˜ao, para cada interpreta¸c˜ao o valor das valua¸c˜oes nas constantes ´e sempre o mesmo. No entanto mesmo em casos muito simples podem construir-se valua¸c˜oes diferentes. Exemplos 2.3.2 1. Seja L uma linguagem de primeira ordem com uma constante, a, sem s´ımbolos funcionais e com apenas um conectivo un´ario A. Uma estrutura para Lpode ser < {1, 2}, ∅, 1 >, sendo a interpreta¸c˜ao dada por I(∀) = {1, 2}, I(A) = ∅, I(a) = 1. Os termos de L s˜ao apenas as vari´aveis e as constantes. Duas valua¸c˜oes diferentes podem ser definidas da seguinte maneira: υ1(t) = 1, se t ´e uma constante ou uma vari´avel, υ2(a) = 1 e υ2(x) = 2 para qualquer vari´avel x. 2. Acrescentando ´a linguagem L do n´umero anterior um s´ımbolo funcional un´ario f e definindo I(f)(1) = 2 e I(f)(2) = 1 ter-se-ia υ1(f(a)) = I(f)(υ1(a)) = I(f)(1) = 2, υ1(f(x)) = I(f)(υ1(x)) = I(f)(1) = 2 para qualquer vari´avel x, υ2(f(a)) = I(f)(υ2(a)) = I(f)(1) = 2, υ2(f(x)) = I(f)(υ2(x)) = I(f)(2) = 1 para qualquer vari´avel x. Adiante veremos valua¸c˜oes mais interessantes. Tenha-se, no entanto presente que uma valua¸c˜ao fica de facto determinada pelos valores que toma nas vari´aveis, i. e., todas as valua¸c˜oes tˆem a seguinte propriedade, que aceitaremos sem demonstra¸c˜ao 2 . 2 Uma demonstra¸c˜ao pode ser feita a partir do Teorema de recurso que se pode encontrar em [E;1.2, p´ag.27]
  • 46. Teorema 2.3.3 Sejam V o conjunto das vari´aveis de uma linguagem de primeira ordem L e I uma interpreta¸c˜ao de L . Para cada fun¸c˜ao V : V → I(∀) existe uma e uma s´o valua¸c˜ao υ0 : V → I(∀) que coincide com υ0 em V . Em particular, se duas valua¸c˜oes coincidem no conjunto das vari´aveis, ent˜ao coin- cidem no conjunto dos termos, i.e., s˜ao iguais. Podemos ser mais precisos. Para tal −−e tamb´em para outros efeitos −− introduz- imos nota¸c˜ao a saber: dada uma valua¸c˜ao υ e uma vari´avel x a valua¸c˜ao υ(x|c) vale c em x e coincide com V em todas as outras vari´aveis; mais formalmente (2.3.1) υ(xi|c)(xi) =    υ(xj|c) se i = j (i ∈ N{0}) c se i = j Genericamente definimos tamb´em (2.3.2) υ(xi1 |c1; ...; xip |cp) = υ(xi1 |c1)...(xip |cp) Teorema 2.3.4 Sejam I uma interpreta¸c˜ao da linguagem de primeira ordem L . Se duas valua¸c˜oes υ e ω para I coincidem nas vari´aveis de um termo t de L , ent˜ao υ(t) = ω(t). Dem. Tomem-se L e I como na hip´otese. Seja E o conjunto dos termos de L para os quais se tem υ(t) = ω(t) sempre que as valua¸c˜oes υ e ω para I coincidem nas vari´ais que ocorrem em t. Vamos mostrar que E = T . As valua¸c˜oes coincidem nas constantes por defini¸c˜ao, portanto E cont´em as con- stantes. Se t ´e uma vari´avel, dizer que υeω coincidem nas vari´aveis de t ´e dizer que υ(t) = ω(t), donde todas as vari´aveis est˜ao em E . Suponhamos agora que t1, ..., tn ∈ E , f ´e um s´ımbolo funcional n-´ario, t=f(t1, ..., tn) e υ e ω s˜ao valua¸c˜oes que coincidem nas vari´aveis que ocorrem em t; como uma vari´avel ocorre em t sse ocorre em algum dos t i, υ e ω coincidem nas vari´aveis que ocorrem em cada ti portanto υ(ti) = ω(ti) para 1 ≤ i ≤ n, dado que os ti est˜ao em E ; mas ent˜ao tem-se υ(t) = υ(f(t1, ..., tn)) = I(f)(υ(t1), ..., υ(tn)) = I(f)(υ(t1), ..., υ(tn)) = ω(f(t1, ..., tn)) = ω(t).
  • 47. 47 Segue-se que t ∈ E . Pelo princ´ıpio de Indu¸c˜ao em Termos E = T . q.e.d. Passamos a definir o que se entende por uma f´ormula ser ou n˜ao verificada ou satisfeita. Mais um pouco de nota¸c˜ao: se α for uma f´ormula de L, I for uma interpreta¸c˜ao e υ for uma valua¸c˜ao para I (2.3.3) |=I α[υ] abrevia ”υ satisfaz α em I ” (2.3.4) |=I α[υ] abrevia ”υ n˜ao satisfaz α em I ” Defini¸c˜ao 2.3.5 . Sejam L uma linguagem de primeira ordem e υ uma valua¸c˜ao de L para a interpreta¸c˜ao I . 1. Se α ´e uma f´ormula at´omica, α = An 1 (t1, ..., tn), |=I α[υ] sse (υ(t1), ..., υ(tn)) ∈ I(An i ) 2. Para quaisquer fbfs α, β e vari´avel x, (a) |=I α[υ] sse |=I α[υ] (b) |=I (α ⇒ β)[υ] sse |=I α[V] ou |=I β[υ] ou, de outro modo, se υ satisfaz α em I ent˜ao tamb´em satisfaz β em I . (c) |=I ∀xα[υ] sse |=I α[υ(x|a)] para qualquer a ∈ I(∀) A satisfazibilidade de uma fbf por uma valua¸c˜ao depende apenas das vari´aveis livres da fbf. Nota 2.3.6 Para maior simplicidade de discurso, de ora em diante pressuporemos que todas as linguagens consideradas s˜ao de primeira ordem. Teorema 2.3.7 Para qualquer fbf α e quaisquer valua¸c˜oes υ e ω que coincidam nas vari´aveis livres deα tem-se |=I α[υ] sse |=I α[ω]
  • 48. Dem. Fixe-se a interpreta¸c˜ao Ie seja I o conjunto de f´ormulas α para as quais |=I α[υ] sse |=I α[ω], quando υ e ω coincidem nas vari´aveis livres de α . Suponha-se no que se segue que υ e ω coincidem nas vari´aveis livres das f´ormulas apropriadas em cada caso. 1) E cont´em as f´ormulas at´omicas. Se α ´e at´omica, para algum s´ımbolo predicativo P e termos t1, ..., tn, α = P(t1, ..., tn); al´em disso as vari´aveis que ocorrem em α ocorrem livres e em algum ti ; desse modo V e ω coincidem nas vari´aveis livres de α sse coincidem nas vari´aveis de α sse coincidem nas vari´aveis de cada termo ti ; mas ent˜ao, se υ e ω coincidem nas vari´aveis de α, |=I α[υ] sse (υ(t1), ..., υ(tn)) ∈ I(P)− por defini¸c˜ao − sse (ω(t1), ..., ω(tn)) ∈ I (P) − Teorema 2.3.4. − sse |=I α[ω]− por defini¸c˜ao; portanto α ∈|=E , como se pretendia mostrar. 2) Se α ∈ E tamb´em ∼ α ∈ I . Observe-se que as vari´aveis de α s˜ao as mesmas que as de ∼ α e que s˜ao livres numa das f´ormulas sse o s˜ao na outra. Assim, se α ∈ E vem Iα[υ] sse |=I α[υ]− por defini¸c˜ao − sse |=I α[ω]− porque α ∈|=E − sse |=I α[ω]− por defini¸c˜ao; donde ∼ α ∈ E , como se pretendia verificar. 3) Se α ∈ E e x ´e uma vari´avel, tamb´em ∀xα ∈ E. Comecemos por notar que, para qualquer a∈ I(∀), υ(x|a) e ω(x|a) coincidem em x, pelo que, se υ e ω coincidem nas vari´aveis livres de ∀xα , ent˜ao υ(x|a) e υ(x|a) coincidem nas vari´aveis livres em α . Assim, se α ∈ E , |=I ∀α[υ] sse |=I α[υ(x|a)] para qualquer a ∈ I(∀)− por defini¸c˜ao - sse |=I α[ω(x|a)] para qualquer a ∈ I(∀)− pois α ∈ E− sse |=I ∀xα[ω]− por defini¸c˜ao; portanto ∀xα ∈|=E , como pretendiamos concluir. 4 ) Se α, β ∈ E , ent˜ao α ⇒ β ∈ E As vari´aveis livres de α e β s˜ao-no sse s˜ao livres em α ou em β e tem-se o seguinte: |=I (α ⇒ β)[υ] sse |=I α[υ] ou |=I β[υ]− por defini¸c˜ao − sse |=I α[ω] ou |=I β[ω]− pois α, β ∈ I−]
  • 49. 49 sse |=I (α ⇒ β)[ω]; ou seja α ⇒ β ∈ E como se pretendia mostrar. q.e.d. Chama-se proposi¸c˜ao ou f´ormula fechada a uma fbf que n˜ao tem vari´aveis livres. Uma consequˆencia imediata deste teorema ´e Corol´ario 2.3.8 Para uma mesma interpreta¸c˜ao, uma proposi¸c˜ao ´e satisfeita por alguma valua¸c˜ao sse ´e satisfeita por todas as valua¸c˜oes. O conceito an´alogo ao de tautologia da l´ogica proposicional ´e o de fbf logicamente v´alida que vai ser introduzido a seguir. Defini¸c˜ao 2.3.9 Sejam I uma interpreta¸c˜ao da linguagem L e α uma f´ormula de L . 1. α ´e satisfaz´ıvel em I se |=I α[υ] para alguma valua¸c˜ao υ . 2. α ´e v´alida em I se |=I α[υ] para qualquer valua¸c˜ao υ ; nota-se |=I α se α ´e v´alida em I . 3. α ´e logicamente v´alida se |=I α para qualquer interpreta¸c˜ao I ; nota-se |=I α se α ´e logicamente v´alida. Reformulando 2.3.8: uma proposi¸c˜ao ´e v´alida numa interpreta¸c˜ao sse ´e satisfaz´ıvel. Quando uma proposi¸c˜ao ´e v´alida numa interpreta¸c˜ao diz-se tamb´em que ´e verdadeira nessa interpreta¸c˜ao, caso contr´ario diz-se falsa . Mais precisamente Corol´ario 2.3.10 . Para quaisquer proposi¸c˜ao α e interpreta¸c˜ao I, ou α ´e ver- dadeira em I ou ∼ α ´e verdadeira em I, n˜ao podendo ocorrer ambos os casos. Os pr´oximos exemplos ilustram a distin¸c˜ao entre validade e satisfazibilidade. Exemplos 2.3.11 Para os exemplos 1,2 e 3 recorde-se a estrutura < R, =, ≤, 0, 1, +, • > definida em 2.2.1. 1. A f´ormula α = A2 1(f2 1 (x1, x2), f2 2 (x1, x2))´e satisfaz´ıvel: tome-se a valua¸c˜ao identicamente nula ou qualquer valua¸c˜ao υ que verifique υ(x1) = −1+ √ 5 2 e υ(x2) = −1− √ 5 2 . Mas α n˜ao ´e v´alida: a valua¸c˜ao identicamente 1 a satisfaz.
  • 50. 2. β = A2 2(a1, f2 2 (x1, x1)) ´e v´alida em I mas n˜ao ´e logicamente v´alida considere a interpreta¸c˜ao K para a qual K(∀) = C, K(A2 2)´e a rela¸c˜ao de igualdade em C, K(A2 2) ´e a rela¸c˜ao de ordem parcial dada por (z,w)∈ K(A2 2) sse Re(z)≤ Re(w), (K)(a1) = 0, K(a2) = 1, K(f2 1 )K(f2 2 ) s˜ao respectivamente a soma e o produto usuais; se υ(x1) = i, tem-se υ(f2 2 (x1, x1)) = i2 = −1 e (0, −1) ∈ K(A2 2). 3. ∃x1β ´e verdadeira em < R, =, ≤, 0, 1, +, • > e em < C, =, K(A2 2), 0, 1, +, • > mas n˜ao ´e verdadeira para a seguinte interpreta¸c˜ao: P(∀) = {0, 1}, P(a1) = P(a2) = 0, P(A2 1) = P(A2 2) = {(0, 1), (1, 0)}, P(f2 1 ) = P(f2 2 ) ≡ 0. 4. Para qualquer fbf α de qualquer linguagem Lα ⇒ α ´e logicamente v´alida. Atente-se neste ´ultimo exemplo. Defini¸c˜ao 2.3.12 Uma f´ormula α de uma linguagem L diz-se a realiza¸c˜ao de uma tautologia se existir uma tautologia β do c´alculo proposicional de modo que α se obtem de β substituindo os s´ımbolos proposicionais de β por fbfs de L . No exemplo 4 acima tratamos a realiza¸c˜ao de uma tautologia que ´e v´alida, como seria de esperar. Teorema 2.3.13 As realiza¸c˜oes de tautologias s˜ao logicamente v´alidas. Antes de provarmos este teorema mostramos que a asser¸c˜ao rec´ıproca n˜ao vale mostrando uma f´ormula logicamente v´alida que n˜ao ´e realiza¸c˜ao de tautologia. Exemplos 2.3.14 Se a vari´avel x n˜ao ocorre livre na f´ormula α, ent˜ao |= ∀x ⇒ α . Dem. Vamos ver que, para qualquer valua¸c˜ao υ , se |=I α[υ(x|a)] ent˜ao |=I α[υ]: se |=I α[υ], por defini¸c˜ao |=I α[υ(x|a)] para qualquerv a ∈ I(∀); mas x n˜ao ocorre livre em α , portanto υ(x|a) e υ coincidem nas vari´aveis livres de α; do teorema 2.3.7 concluimos que |=I α[υ] como pretendiamos. Dem. (do Teorema 2.3.13.) Vamos utilizar indu¸c˜ao em fpbfs. Para cada fpbf ϕ com s´ımbolos proposicionais entre pi, 1 ≤ i ≤ m, e cada sequˆencia de fbfs α, 1 ≤ i ≤ m, designemos por α(ϕ) a fbf da linguagem L que realiza ϕ substituindo-se cada pi por α em ϕ . Para cada valua¸c˜ao υ de L e cada realiza¸c˜ao α(ϕ) de ϕ defina-se para cada s´ımbolo proposicional p
  • 51. 51 υα(ϕ)(p) =    1 se p = pi e |=I αi[υ] (1 ≤ i ≤ m) 0 se p = pi e |=I αi[υ] 1 caso contr´ario Fica assim determinada uma valua¸c˜ao υα(ϕ) em . Vamos ver que se α realiza ϕ , ent˜ao |=I [υ] sse υα(ϕ)(ϕ) = 1. Seja E o conjunto das fpbfs ϕ tais que, para qualquer fbf α(ϕ) e qualquer valua¸c˜ao υ, |=I α(ϕ)[υ] sse υα(ϕ)(ϕ) = 1. 1. ) Os s´ımbolos proposicionais est˜ao em E. Se ϕ = pj , para algum s´ımbolo proposicional pjα(ϕ) = αj , para alguma fbf αj, e υαj (p) =    1 se p = pj e |=I αj[υ] 0 se p = pj e |=I αj[υ] 1 caso contr´ario Como tamb´em υα(ϕ)(ϕ) = υαj (pj), ´e imediato que |= Iα(ϕ)[υ] sse υα(ϕ)(ϕ) = 1 e conclui-se que pj ∈ E . 2. ) Se ϕ ∈ E , ent˜ao ∼ ϕ ∈ E . ´E f´acil verificar que α(∼ ϕ) =∼ α(ϕ), pois os s´ımbolos proposicionais de φ e ∼ ϕ s˜ao os mesmos. Tem-se, para ϕ em E :|=I α(∼ ϕ)[υ] sse |=I α(ϕ)[υ] sse |= Iα(ϕ)[υ] sse υα(ϕ)(ϕ) = 1 sse υα(ϕ)(∼ ϕ) = 1. E ∼ ϕ ∈ E com se pretendia concluir. 3. ) Se ϕ, φ ∈ E , ent˜ao ϕ ⇒ φ ∈ E . Tamb´em ´e praticamente imediato que α(ϕ ⇒ ϕ) = α(ϕ) ⇒ α(ϕ). Conv´em ainda observar que υα(ϕ)⇒α(φ)(ϕ) = υα(ϕ)(ϕ) e que υα(ϕ)⇒α(φ)(φ), pois as valua¸c˜oes em causa coincidem nos s´ımbolos proposicionais das fpbfs a serem avaliadas. Tem-se ent˜ao, para φ, ϕ ∈ E : |=I α(ϕ ⇒ φ)[υ] sse |=I (α(ϕ) ⇒ α(φ))[υ] sse |=I α(ϕ)[υ] ou |=I α(φ)[υ] sse υα(ϕ)(ϕ) = 1 ou υα(φ)(φ) = 1 sse υα(ϕ)⇒α(φ)(ϕ) = 1 ou υα(ϕ)⇒α(φ)(φ) = 1 sse υα(ϕ)⇒α(φ) (ϕ ⇒ φ) = 1 sse υα(ϕ⇒φ)(ϕ ⇒ φ) = 1. Ou seja ϕ ⇒ φinE. Segue-se que E = T . q.e.d. Um outro aspecto da validade de fbfs que interessa ter em conta ´e o seguinte.
  • 52. Teorema 2.3.15 Para qualquer fbf α em L , qualquer vari´avel x e qualquer inter- preta¸c˜ao I, |=I α sse |=I ∀xα . A demonstra¸c˜ao faz-se muito simplesmente utilizando 2.3.7. Uma aplica¸c˜ao iterada deste teorema prova o Corol´ario 2.3.16 Para qualquer fbf α em L , quaisquer vari´aveis xi, 1 ≤ i ≤ m, e qualquer interpret¸c˜ao I, |=I α sse |=I ∀x1...∀xnα . Em particular |= α sse |= ∀x1...∀xmα . Observe-se ainda que Teorema 2.3.17 Para quaisquer fbfs α e β em L , e qualquer interpreta¸c˜ao I , se |=I α e |=I α ⇒ β, ent˜ao |=I β . Em particular Corol´ario 2.3.18 Para quaisquer fbfs α e β em L , se |= α e |= α ⇒ β ,ent˜ao |= β . 2.4 Exerc´ıcios 1. Sejam α(xi) uma fbf onde a vari´avel xi ocorre livre e xj uma vari´avel que n˜ao ocorre livre em α(xi). Seja α(xj) a fbf que resulta de substituir em α(xj) todas as ocorrˆencias livres de xi por xj . Mostre que se xj ´e livre para xi em α(xi) tamb´em xi ´e livre para xj em α(xj). 2. O quantificador existencial e os conectivos ∨, ∧ ⇔ (a) Mostre que para quaisquer fbf α , interpreta¸c˜ao I , valua¸c˜ao υ e vari´avel x, |=I ∃xα[υ] sse |=I α[υ(x|a)] para algum a ∈ I(∀). (b) Mostre que para quaisquer fbfs α, β, interpreta¸c˜ao I e valua¸c˜ao υ se tem i. |=I (α ∧ β)[υ] sse |= α[υ] e |=I β[υ] ii. |=I (α ∨ β)[υ] sse |= α[υ] ou |=I β[υ] iii. |= (α ⇔ β)[υ] sse |=I (α ⇒ β)[υ] e |=I (β ⇒ α)[υ] 3. Implica¸c˜ao l´ogica Diz-se que o conjunto de fbfs Γ implica logicamente a fbf α quando para qual- quer interpreta¸c˜ao I e qualquer valua¸c˜ao υ , se |=I γ[υ] para qualquer fbf γ ∈ Γ , ent˜ao |= α[υ]; Γ |= α abrevia ”Γ implica logicamente α ”; α |= β abrevia ”{α} |= β ”.
  • 53. 53 (a) Mostre que Γ ∪ {α} |= β sse Γ |= α ⇒ β (b) Mostre que {∀x(α ⇒ β), ∀xα} |= β (c) Mostre que, se x n˜ao ocorre livre em α , ent˜ao α |= ∀xα (compare com o exemplo 2.3.14.) 4. Mostre que nenhuma das seguintes proposi¸c˜oes implica logicamente a outra: α = ∀x∃yP(x, y) ⇒ ∃y∀xP(x, y), β = ∀x∀y∀z(P(x, y) ⇒ P(y, z) ⇒ P(x, z)) 5. Seja L uma linguagem cujos ´unicos parˆametros, al´em de ∀ , s˜ao dois s´ımbolos predicativos bin´arios, E e P. Determine uma interpreta¸c˜ao I e uma proposi¸c˜ao π tais que (a) |=I π sse I (P) ´e uma fun¸c˜ao de I(∀) em I(∀) (b) |=I π sse I (P) ´e uma permuta¸c˜ao de I(∀) 2.5 C´alculo de predicados; Teorema de Dedu¸c˜ao Continuando a formalizar os processos b´asicos de dedu¸c˜ao em matem´atica vamos estabelecer um sistema formal para a l´ogica de predicados cujos teoremas ser˜ao as fbfs logicamente v´alidas. Fixando nota¸c˜ao: uma fbf α pode ser tamb´em notada α(x1, ..., xn) se pretendemos evidenciar que algumas das vari´aveis livres da f´ormula α est˜ao entre x1, ..., xn− nada impede α(x1, ..., xn) = α(x1, ..., xm) com m = n - o n´umero de vari´aveis explicitadas depende de quais pretendemos considerar; se ϕ nota um termo ou uma fbf, ϕx t nota a express˜ao que se obt´em de ϕ substituindo todas as ocorrˆencias (livres, no caso de ϕ ser uma fbf) da vari´avel x pelo termo t. Defini¸c˜ao 2.5.1 Para cada linguagem L com conjunto de fbfs F , o sistema formal F(L) consiste no seguinte: para α e β fbfs arbitr´arias de L , O conjunto de ax- iomas dado pelos esquemas (F(L)1) Todas as realiza¸c˜oes de tautologias em L (F(L)2)∀xα(x) ⇒ αx t , se o termo t ´e livre para a vari´avel α (F(L)3)∀x(α ⇒ β) ⇒ (α ⇒ ∀xβ), se a vari´avel x n˜ao ocorre livre em α
  • 54. As regras de inferˆencia (MP) Modus ponens: de α ⇒ β e α conclui-se β (GEN) Generaliza¸c˜ao : de α conclui-se ∀xα , para qualquer vari´avel x De ora em diante suporemos fixada uma linguagem de primeira ordem L . Tal como para o C´alculo Proposicional, segue-se a defini¸c˜ao de dedu¸c˜ao. Defini¸c˜ao 2.5.2 Seja Γ um conjunto de fbfs. Diz-se que a sequˆencia de fbfs α1, ..., αn ´e uma dedu¸c˜ao a partir de Γ (em F ( L )) se, para cada i (1 ≤ i ≤ n) uma das condi¸c˜oes seguintes se verifica 1. αi ´e um axioma de F(L) 2. αi ∈ Γ 3. α obtem-se de duas fbfs αj, αk(1 ≤ j, k ≤ i) por aplica¸c˜ao de modus ponens. 4. αi obtem-se de alguma fbf anterior por generaliza¸c˜ao, i. e., αi = ∀xαj, para algum j < i. Nestas condi¸c˜oes diz-se que αn dedut´ıvel deΓ (em F(L)), αn ´e consequˆencia de Γ (em F(L)) ou que Γ prova αn, sendo n o comprimento da dedu¸c˜ao. Se a fpbf ´e dedut´ıvel de Γ escreve-se Γ F(L) α. Aos elementos de Γ chamam-se hip´oteses. Os teoremas de F(L) s˜ao as fbfs dedut´ıveis de ∅ e nota-se F(L) α se α ´e um teorema. Os axiomas s˜ao os teoremas de F(L) de mais curta dedu¸c˜ao e, em particular, todas as realiza¸c˜oes de tautologias s˜ao teoremas de F(L). A caminho do teorema de completude temos Teorema 2.5.3 As instˆancias dos axiomas (F(L)2), (F(L)3) e (F(L)4) s˜ao logi- camente v´alidas. Vamos utilizar os seguintes lemas, que provaremos mais tarde. Lema 2.5.4 Para quaisquer valua¸c˜ao υ , termo ϕ , vari´avel x e termo t, υ(ϕx t ) = υ(x|υ(t))(ϕ).
  • 55. 55 Lema 2.5.5 Se o termo t ´e livre para a vari´avel x na fbf α, ent˜ao para qualquer valua¸c˜ao υ numa interpreta¸c˜ao I |=I αx t [υ] sse |=I α[υ(x|υ(t))] Dem. (de 2.5.3) Para o estudo de (F(L)2) veja-se o exemplo 2.3.14. Quanto a (F(L)4) tem-se, para quaisquer fbfs α, β , tais que x n˜ao ocorre livre em α , qualquer interpreta¸c˜ao I e qualquer valua¸c˜ao υ , |=I ∀x(α ⇒ β) ⇒ (α ⇒ xβ)[υ] sse |=I x(α ⇒ β)[υ] ou |=I (α ⇒ ∀xβ)[υ] sse para algum a ∈ I(∀) |=I α ⇒ β[υ(x|a)] ou |=I (α ⇒ xβ)[υ] sse para algum a ∈ I(∀) |= α[υ(x|a)] e |=I β[υ(x|a)], ou |=I (α ⇒ xβ)[υ] Como x n˜ao ocorre livre em α , pelo teorema 2.3.7 a ´ultima situa¸c˜ao acontece sse |= α[υ] e |= xβ[υ], ou |= (α ⇒ ∀xβ)[υ] sse |= (α ⇒ xβ)[υ] ou |=I (α ⇒ xβ)[υ] Ora a ´ultima condi¸c˜ao ´e sempre verificada. Portanto |= ∀x(α ⇒ β) ⇒ (α ⇒ ∀xβ) como se pretendia demonstrar. Para as instˆancias de (F(L)3) utilizaremos 2.5.5. Para quaisquer interpreta¸c˜ao I e valua¸c˜ao υ tem-se |=I (∀xαx t (x) ⇒ α)[υ] sse |=I ∀xα(x)[υ] ou |=I αx t [υ] ou, de outro modo, sse (2.5.1) |=I αx t [υ] quando |= ∀xα(x)[υ]; ora, por defini¸c˜ao,|= ∀xα(x)[υ] sse |=I α(x)[υ(x|a)] para qualquer a ∈ I(∀), em particular, se |= ∀xα(x)[υ] ent˜ao, por 2.5.5, |=I α(x)[υ(x|υ(t))] ou seja |=I αx t [υ]; em suma (2.5.1) verifica-se, como pretendiamos mostrar. q.e.d. Demonstramos agora os lemas 2.5.4 e 2.5.5. Dem. Tomem-se arbitrariamente as interpreta¸c˜ao I , valua¸c˜ao υ, vari´avel x, termo t e fbf α . (Dem. de 2.5.4) Seja E = {ϕ ∈ T : υ(ϕx t ) = υ(x|υ(t))(ϕ)}.
  • 56. 1. As vari´aveis est˜ao em E . Se ϕ ´e a vari´avel y, tem-se ϕx t = yx t =    y se y = x t se y = x Assim, se y = x, υ(ϕx t ) = υ(y) = υ(x|υ(t))(y) = υ(x|υ(t))(ϕ) pois υ(x|υ(t)) coincide com υ em todas as vari´aveis que n˜ao s˜ao x. Se y=x, υ(ϕx t ) = υ(t) = υ(x|υ(t))(x) = υ(x|υ(t))(y) = υ(x|υ(t))(ϕ). E 1 fiva provado. 2. Se ϕ1, ..., ϕn ∈ E e f ´e um s´ımbolo funcional (n-´ario), f( ϕ1, ..., ϕn) ∈ E . Tem-se f(ϕ1, ..., ϕn)x t = f((ϕ1)x t , ..., (ϕn)x t ) e portanto υ(f(ϕ1, ..., ϕn)x t ) = I(f)(υ((ϕ1)x t ), ..., υ((ϕn)x t )) = I(f)(υ(x|υ(t))(ϕ1), ..., υ(x|υ(t))(ϕn)) = υ(x|υ(t))(f(ϕ1, ..., ϕn)) Portanto 2 fica provado Pelo Princ´ıpio de Indu¸c˜ao em Termos E = T e 2.5.4 est´a demonstrado. (Dem. de 2.5.5) Seja E o conjunto das fbfs α para as quais |=I αx t [υ] sse |=I α[υ(x|υ(t))] quando t ´e livre para x em α. No que segue t ´e livre para x nas fbfs adequadas. 1. E contˆem as f´ormulas at´omicas. Sejam t1 termos (1 ≤ i ≤ n) e P um s´ımbolo predicativo (n-´ario). Tem-se, para terminar a prova de 1a ,|=I P(t1, ..., tn)x t [υ] sse |=I P((t1)x t , ..., (tn)x t )[υ] sse (υ((t1)x t ), ..., υ((t1)x t )) ∈ I (P) (por defini¸c˜ao) sse (υ(x|υ(t))(t1), ..., υ(x|υ(t))(tn)) ∈ I (P) (por 2.5.4) sse |= P(t1, ..., tn) [υ(x|υ(t))] (por defini¸c˜ao)
  • 57. 57 2. Se α ∈ E tamb´em ∼ α ∈ E . A demonstra¸c˜ao ainda ´e mais simples que a anterior e deixamo-la ao cuidado do leitor. 3. Se α ∈ E e y ´e uma vari´avel, ent˜ao ∀yα ∈ E . (a) y=x |=I (∀yα)x t [υ] sse |=I (∀xα)x t [υ] sse |=I ∀xα[υ] Como υ e υ(x|υ(t)) coincidem nas vari´aveis livres de ∀xα, vem |=I ∀xα[υ] sse |=I ∀xα[υ(x|υ(t))] e neste caso vale 3. (b) y = x |=I (∀yα)x t [υ] sse |=I ∀y(αx t )[υ] sse |=I αx t [υ(y|a)] para qualquer a ∈ I(∀) (por defini¸c˜ao) sse |=I α[υ(y|a)(x|υ(t))] para qualquer a ∈ I(∀)(a ∈ E) sse |=I α[υ(x|υ(t))(y|a)] para qualquer a∈ I(∀) sse |=I (∀α)[υ(x|υ(t))]. e continua a valer 3 . (c) Se α, β ∈ E , ent˜ao α ⇒ β ∈ E Comecemos por observar que (α ⇒ β)x t = αx t ⇒ βx t . Tem-se ent˜ao |=I (α ⇒ β)x t [υ] sse |=I (αx t ⇒ βx t )[υ] sse |=I αx t [υ]ou |= βx t [υ] (por defini¸c˜ao) sse |=I α[υ(x|υ(t))] ou |=I β[υ(x|υ(t))] (α, β ∈ E) sse |=I α ⇒ β[υ(x|υ(t))] (por defini¸c˜ao) 4 verifica-se e 2.3.5 resulta do Princ´ıpio de Indu¸c˜ao em F´ormulas. q.e.d. O corol´ario 2.3.18. diz que a a regra MP preserva a validade l´ogica. O corol´ario 2.3.16 implica que a regra GEN preserva a validade l´ogica. Segue-se ent˜ao um resultado facilmente demonstr´avel por indu¸c˜ao no comprimento das demon- stra¸c˜oes. Teorema 2.5.6 (De Boa Fundamenta¸c˜ao) Os teoremas de F(L) s˜ao logicamente v´alidos. Uma consequˆencia imediata ´e Corol´ario 2.5.7 Para qualquer fbf α, α e ∼ α n˜ao podem ser simultˆa neamente teoremas de F(L). Ou seja F(L) ´e consistente; mas voltaremos a este assunto mais adiante. regra GEN introduz uma restri¸c˜ao no Teorema de Dedu¸c˜ao para F(L).
  • 58. Teorema 2.5.8 (De Dedu¸c˜ao) Sejam α e β fbfs e Γ um conjunto de fbfs. Se Γ∪{α} F(L β com uma demonstra¸c˜ao que n˜ao utiliza GEN em alguma vari´avel livre em α, ent˜ao Γ F(L) α ⇒ β . Os exemplos seguintes mostram que a hip´otese suplementar sobre GEN ´e necess´aria. Exemplos 2.5.9 1. Sejam P um s´ımbolo predicativo bin´ario, x uma vari´avel e c uma constante. Uma aplica¸c˜ao de GEN mostra que {P(x, c)} F(L) ∀xP(x, c). Vamos ver que |= {P(x, c)} ⇒ ∀P(x, c) e portanto, de acordo com o teorema de boa fundamenta¸c˜ao, P(x, c) ⇒ ∀xP(x, c) n˜ao ´e um teorema de F(L ). Basta Definir I do seguinte modo: I(∀) = {1, 2}, I(c) = 1, I(P) = {(2, 1)}. Se υ (x)=2 vem |= P(x, c)[υ], mas |= ∀xP(x, c)[υ] pois de facto P(x,c) s´o ´e satisfeita pelas valua¸c˜oes υ que verificam υ (x)=2. 2. Sejam P um s´ımbolo predicativo bin´ario e x1 e xn vari´aveis. Uma aplica¸c˜ao de GEN mostra que {P(x1, x2)} F(L) ∀x1P(x1, x2). Vamos ver que |= P(x1, x2) ⇒ ∀x1P(x1, x2). Basta Definir I do seguinte modo: I(∀) = {1, 2}, I(P) = {(2, 1), (1, 1), (1, 2)}. Se υ(x2) = 1, ent˜ao |=I ∀x1P(x1, x2)[υ] e portanto |=I P(x1, x2) ⇒ ∀x1P(x1, x2)[υ]; mas se υ(x1) = 1 e υ(x2) = 2, ent˜ao |=I P(x1, x2)[υ] e |=I1 P(x1, x2)[υ] e assim |=I P(x1, x2) ⇒ ∀x1P(x1, x2)[υ]. Dem. (teorema 2.5.8) Utilizaremos indu¸c˜ao no comprimento n das dedu¸c˜oes de β a partir de Γ ∪ {α}. Suponha-se ent˜ao que Γ ∪ {α} F(L) β com uma dedu¸c˜ao de comprimento n. Se n=1, ou β ´e um axioma ou β ∈ Γ ou β = α . Nos dois primeiros casos a sequˆencia β, β ⇒ α ⇒ β, α ⇒ β ´e uma dedu¸c˜ao de α ⇒ β a partir de Γ− note-se que β ⇒ α ⇒ β ´e uma realiza¸c˜ao de tautologia − consequentemente Γ F(L) α ⇒ β. No terceiro caso α ⇒ β = α ⇒ α e a realiza¸c˜ao de tautologia α ⇒ α ´e um axioma, logo um teorema de F(L), portanto Γ F(L) α ⇒ β . Admita-se, como hip´otese de indu¸c˜ao, que a asser¸c˜ao do teorema vale para quaisquer α e β quando as dedu¸c˜oes tˆem comprimento menor ou igual a n. Suponha-se que α1, ..., αn+1 ´e uma dedu¸c˜ao de β a partir de Γ∪{α}− e portanto β = αn+1 . Se β n˜ao se concluiu por GEN podemos utilizar a demonstra¸c˜ao do teorema de dedu¸c˜ao da l´ogica proposicional para concluir Γ F(L) α ⇒ β. Se β se concluiu por GEN, por hip´otese − do pr´oprio teorema− existe um i ≤ n e uma vari´avel x que n˜ao ocorre livre em α tal que β = ∀xαi . Por hip´otese de indu¸c˜ao Γ F(L) α ⇒ αi . Temos ent˜ao a seguinte dedu¸c˜ao a partir de Γ
  • 59. 59 (a) α ⇒ αi (Γ F(L (b) ∀x(α ⇒ α) (GEN em x que nao ocorre livre em α) (c) ∀x(α ⇒ αi) ⇒ (α ⇒ ∀xαi) (F(L)4) (d) α ⇒ ∀xαi (MP 2 & 3) Observando que a ´ultima fbf da dedu¸c˜ao ´e precisamente α ⇒ β e aplicando o Princ´ıpio de Indu¸c˜ao matem´atica concluimos a demonstra¸c˜ao do Teorema de Dedu¸c˜ao. q.e.d. ´E claro que sem restri¸c˜oes ao uso de GEN Teorema 2.5.10 Para quaisquer fbfs α e β e conjunto de f´ormulas Γ, se Γ F(L) α ⇒ β , ent˜ao Γ ∪ {α} F(L) β . Um caso bastante mais importante ´e descrito no seguinte corol´ario do Teorema de Dedu¸c˜ao. Corol´ario 2.5.11 Quando α ´e uma proposi¸c˜ao, β ´e uma fbf qualquer e Γ ´e um conjunto de f´ormulas, se Γ ∪ {α} F(L) β ent˜ao Γ F(L) α ⇒ β . Dem. Mesmo que se utilize GEN em alguma dedu¸c˜ao de β a partir deΓ ∪ {α}, ser´a sempre sobre vari´aveis que n˜ao ocorrem livres em α , pois todas as vari´aveis em α ocorrem mudas. q.e.d. 2.6 Exerc´ıcios No que segue, letras gregas min´usculas α, β, γ, etc. designam fbfs de uma linguagem L ; as ´ultimas letras do alfabeto latino x, y, z, designam vari´aveis, n˜ao necessaria- mente distintas, de L ; t designa um termo de L ; letras mai´usculas P ou Q designam s´ımbolos proposicionais de adequada n-aridade. 1. Mostre que (a) F(L) ∀xα ⇒ α (b) F(L) ∀x(α ⇒ β) ⇒ (∀xα ⇒ ∀xβ ) (c) F(L) (∀xα ⇒ x∀β) ⇒ x(∀α ⇒ β) (d) F(L) α(t) ⇒ ∃xα(x) se t ´e livre para x em α (e) F(L) ∀xα ⇒ ∃xα 2. Mostre que
  • 60. (a) F(L) α ⇔ β sse F(L) α ⇒ β e F(L β ⇒ α (b) Se F(L) α ⇒ β e F(L) β ⇒ γ , ent˜ao F(L) α ⇒ γ (c) Se x ocorre livre em α e y n˜ao ocorre em α , ent˜ao F(L) Qxα(x) ⇔ Qyα(y), onde Q designa ∀ ou ∃ . 3. Suponha que x n˜ao ocorre livre em α. Mostre que (a) F(L) (α ⇒ ∃xβ) ⇔ ∃x(α ⇒ β) (b) F(L) (∀xβ ⇒ α) ⇔ ∃x(β ⇒ α) 4. Mostre que ∀x∀yP(x, y) F(L) ∀x∀yP(y, x) 5. Mostre que (a) F(L) ∃x(α ∨ β) ⇔ (∃xα ∨ ∃xβ) (b) F(L) (∀xα ∨ forallxβ) ⇒ ∀x(α ∨ β) (c) F(L) ∃x(α ∧ β) ⇒ (∃xα ∧ ∃xβ) (d) F(L) ∀x(α ⇒ β) ⇒ (∃xα ⇒ ∃xβ) (e) F(L) ∃x(P(y) ∧ Q(x)) ⇔ P(y) ∧ ∃xQ(x). 6. Mostre que as implica¸c˜oes se n˜ao podem inverter nas al´ıneas (b), (c) e (d) do exerc´ıcio anterior. 2.7 Um Teorema de Completude Esta sec¸c˜ao ´e dedicada a terminar a demonstra¸c˜ao do seguinte Teorema 2.7.1 (de Completude) Seja Luma linguagem de primeira ordem. Para qualquer fbf α de L, |= α sse F(L) α. Repare-se que o Teorema de Boa Fundamenta¸c˜ao 2.5.6 j´a afirma que se F(L) α ent˜ao |= α, pelo que s´o resta demonstrar a asser¸c˜ao rec´ıproca. Tal como para o C´alculo Proposicional, vamos utilizar a no¸c˜ao de extens˜ao de sis- temas formais. No caso presente interessam-nos apenas as extens˜oes em que even- tualmente se modificam os axiomas mas se mantˆem as regras de inferˆencia. Continuamos a supor fixada arbitrariamente uma linguagem de primeira ordem L cujas f´ormulas bem formadas ser˜ao designadas abreviadamente por fbf. Um sistema formal para a L´ogica de predicados consiste num conjunto de f´ormulas de L, designadas por axiomas, e pelas regras de inferˆencia MP e GEN. Em qualquer sistema formal h´a dedu¸c˜oes e teoremas.
  • 61. 61 Defini¸c˜ao 2.7.2 Seja Γ um conjunto de fbfs. Diz-se que a sequˆencia de fbfs α1, ..., αn ´e uma dedu¸c˜ao a partir de Γ no sistema formal G(L) se, para cada i (≤ i ≤ n) uma das condi¸c˜oes seguintes se verifica 1. αi ´e um axioma de G(L) 2. αi ∈ Γ 3. α obtem-se de duas fbfs αj, αk(1 ≤ j, k < i) por aplica¸c˜ao de modus ponens. 4. αi obtem-se de alguma fbf anterior por generaliza¸c˜ao, i. e., αi = ∀xαj , para algum j < i. Nestas condi¸c˜oes diz-se que α ´e dedut´ıvel de Γ em S(L), αn ´e consequˆencia de Γ (em S(L)) ou que Γ prova αn , sendo n o comprimento da dedu¸c˜ao. Se a fpbf ´e dedut´ıvel de Γ escreve-seΓ G(L) α . Aos elementos de Γ chamam-se hip´oteses. Os teoremas de G(L) s˜ao as fbfs dedut´ıveis de ∅ e nota-se G(L) α se α ´e um teorema. O conjunto dos teoremas de G(L) designa-se por Teo (G(L)). Alguns sistemas formais s˜ao compar´aveis Defini¸c˜ao 2.7.3 O sistema formal G (L) diz-se uma extens˜ao de G(L) se Teo (G(L)) ⊆ Teo (G (L )). De ora em diante designaremos por sistema ou sistema de primeira ordem qualquer sistema formal que seja extens˜ao de F(L). Tamb´em neste contexto interessa avaliar a consistˆencia dos sistemas Defini¸c˜ao 2.7.4 Um sistema G(L) diz-se consistente se para nenhuma fbf αse tem simultˆaneamente G(L) α e G(L)∼ α O teorema de Boa Fundamenta¸c˜ao permite concluir Teorema 2.7.5 F(L) ´e consistente A express˜ao S(L); α designa o sistema que se obtem de G(L) adicionando a fbf α ao conjunto de axiomas. Teorema 2.7.6 Sejam G(L) um sistema e π uma proposi¸c˜ao de L. Se G(L) ´e consistente e }(L) π, ent˜ao G(L); ∼ π ´e consistente. Este teorema estabelece de facto o m´etodo de redu¸c˜ao ao absurdo , pois tem tamb´em a seguinte formula¸c˜ao.
  • 62. Teorema 2.7.6.1 Sejam G(L) um sistema e π uma proposi¸c˜ao de L. Se G(L); ∼ π ´e inconsistente ent˜ao G(L) π . ´E esta a vers˜ao que vamos demonstrar. Dem. Suponha-se que G(L); ∼ π ´e inconsistente e seja α uma fbf tal que G(L);∼π α e G(L);∼π∼ α {∼ π} G(L) α e {∼ π} G(L)∼ α Como π por hip´otese n˜ao tem vari´aveis livres, o Teorema de Dedu¸c˜ao permite con- cluir G(L)∼ π ⇒ α e G(L)∼ π ⇒∼ α Existe assim uma dedu¸c˜ao em G(L) com a seguinte forma abreviada − recorde-se que G(L) ´e extens˜ao de F(L)− 1. ∼ π ⇒ α ( G(L)) 2. ∼ π ⇒ α ( G(L)) 3. (∼ π ⇒ α) ⇒ (∼ π ⇒ α) ⇒ π (F(L)1) 4. π (MP1&2&3) Portanto G(L) π . q.e.d. Exemplos 2.7.7 1. Sem a hip´otese de π ser uma proposi¸c˜ao o teorema n˜ao vale, como se pode ver com o seguinte exemplo: Seja α = P(x) ⇒ ∀xP(x), para algum s´ımbolo pred- icativo P; F(L) α pois |= α (Teorema de Boa Fundamenta¸c˜ao); por outro lado ∼ α = P(x)∧ ∼ ∀xP(x), portanto ∼ α F(L) P(x) e ∼ α F(L)∼ ∀xP(x) (pelo exerc´ıcio 1.8.1). De ∼ α F(L) P(x) obtem-se ∼ α F(L) xP(x) utilizando GEN, consequentemente F(L);∼α ∀xP(x) e F(L);∼α∼ ∀xP(x).F(L); ∼ α ´e inconsistente e F(L) α. 2. Deixa-se ao cuidado do leitor mostrar que G(F) ∃x(P(x) ⇒ ∀xP(x)). As proposi¸c˜oes interessam-nos particularmente.
  • 63. 63 Defini¸c˜ao 2.7.8 Um sistema G(L) diz-se completo se para qualquer proposicao π de L se tem G(L) π ou G(L)∼ π. Tal como em 1.7.7 tamb´em se tem Teorema 2.7.9 Todo o sistema consistente tem uma extens˜ao consistente e com- pleta. Dem. O conjunto das proposi¸c˜oes ´e numer´avel, pelo que podemos supo-las enu- meradas em π0, π1, ..., πn, ... Analogamente ao que fizemos em 1.7.7 definimos, com nota¸c˜ao adaptada naturalmente G(L)0 = F(L) G(L)n+1 =    G(L)n se G(L)n πn (n ∈ N) G(L)n; ∼ πn se G(L)n πn G(L)∞ = ∪∞ n=0G(L)n Todos os G(L)n s˜ao consistentes (pelo Teorema 2.7.6). Uma prova de inconsistˆencia de G(L)∞, i.e., uma dedu¸c˜ao de α e outra de ∼ α para alguma fbf α, prova de facto a inconsistˆencia de algum G(L)n . Consequentemente G(L)∞ ´e consistente. Por con- stru¸c˜ao, qualquer proposi¸c˜ao π ´e uma das πne ou j´a era um teorema de algum dos sis- temas − logo de G(L)∞− ou ∼ π foi adicionada ao conjunto de axiomas − e passou a ser um teorema. Conclui-se que G(L)∞ ´e completo. q.e.d. Os pr´oximos teoremas tamb´em descrevem v´arios aspectos de um processo usual de demonstra¸c˜ao em Matem´atica: a generaliza¸c˜ao de um resultado obtido para uma constante arbitr´aria ; para a sua demonstra¸c˜ao vamos utilizar a seguinte nota¸c˜ao: para cada fbf φ, cada constante c e cada vari´avel x, φc x designa a fbf que se obt´em de φ substituindo cada ocorrˆencia de c em φ por x. Recorde-se que, para uma vari´avel x e um termo t, φx t ´e a fbf que resulta de φ substituindo as ocorrˆencias livres de x em φ por t. Finalmente observe-se que, se t ´e um termo que n˜ao ocorre na fbf φ , ent˜ao φt s = φ , seja qual for o termo s. Teorema 2.7.10 (de Generaliza¸c˜ao em Constantes) Sejam Γ um conjunto de fbfs, φ uma fbf e c uma constante que n˜ao ocorre em Γ. Se Γ F(L) ϕ, existe uma vari´avel x, que n˜ao ocorre em ϕ, tal que Γ F(L) ∀xϕc x. Al´em disso, existe uma dedu¸c˜ao de ∀xϕc x a partir de Γ onde c n˜ao ocorre. Dem. Sejam α1, ..., αn uma dedu¸c˜ao de ϕ a partir de Γ e x uma vari´avel que n˜ao ocorre em qualquer das αi . Vamos ver que (*)