2. Destes penhascos fez a natureza
O berço em que nasci: oh! quem cuidara
Que entre penhas tão duras se criara
Uma alma terna, um peito sem dureza!
Amor, que vence os tigres, por empresa
Tomou logo render-me; ele declara
Contra meu coração guerra tão rara
Que não me foi bastante a fortaleza.
Por mais que eu mesmo conhecesse o dano
A que dava ocasião minha brandura,
Nunca pude fugir ao cego engano;
Vós que ostentais a condição mais dura,
Temei, penhas, temei: que Amor tirano
Onde há mais resistência mais se apura.
(Cláudio Manuel da Costa – Obras Poéticas)
3. Des / tes pe /nhas/cos /fez/ a /na/tu/re/za
O berço em que nasci: oh! quem cuidara
Que en/tre / pe/nhas / tão / du/ras /se/ cri/a/ra
Uma alma terna, um peito sem dureza!
Amor, que vence os tigres, por empresa
Tomou logo render-me; ele declara
Contra meu coração guerra tão rara
Que não me foi bastante a fortaleza.
Por mais que eu mesmo conhecesse o dano
A que dava ocasião minha brandura,
Nunca pude fugir ao cego engano;
Vós que ostentais a condição mais dura,
Temei, penhas, temei: que Amor tirano
Onde há mais resistência mais se apura.
(Cláudio Manuel da Costa – Obras Poéticas)
4. Características do texto
Soneto (forma clássica);
Poema regular;
Espécie de diálogo entre o homem e a natureza;
Aproximação entre Barroco e Arcadismo:
a) raciocínio antitético “brandura” x “dureza”;
b) alia tradição barroca às novidades árcades;
c) clima “inquietante” em alguns poemas de Cláudio
Manuel da Costa, o Glauceste Satúrnio.
5. Destes penhascos fez a natureza
O berço em que nasci: oh! quem cuidara
Que entre penhas tão duras se criara
Uma alma terna, um peito sem dureza!
Amor, que vence os tigres, por empresa
Tomou logo render-me; ele declara
Contra meu coração guerra tão rara
Que não me foi bastante a fortaleza.
Por mais que eu mesmo conhecesse o dano
A que dava ocasião minha brandura,
Nunca pude fugir ao cego engano;
Vós que ostentais a condição mais dura,
Temei, penhas, temei: que Amor tirano
Onde há mais resistência mais se apura.
(Cláudio Manuel da Costa – Obras Poéticas)
6. Lira XIV
Minha bela Marília, tudo passa;
A sorte deste mundo é mal segura;
Se vem depois dos males a ventura,
Vem depois dos prazeres a desgraça.
Estão os mesmos deuses
sujeitos ao poder do ímpio Fado:
Apolo já fugiu do céu brilhante,
Já foi Pastor de gado.
7. A devorante mão da negra morte
Acaba de roubar o bem, que temos;
até na triste campa não podemos
zombar do braço da inconstante sorte:
qual fica no sepulcro,
que seus avós ergueram, descansados
qual no campo, e lhe arranca os frios ossos
ferro do torto arado.
8. Ah! enquanto os Destinos impiedosos
não voltam contra nós a face irada,
Façamos, sim façamos, doce amada,
os nossos breves dias mais ditosos.
Um coração que frouxo
a grata posse de seu bem difere,
A si, Marília, a si próprio rouba,
E a si próprio fere.
9. Ornemos nossas testas com as flores,
e façamos de feno um brando leito;
Prendamo-nos, Marília, em laço estreito,
Gozemos do prazer de sãos amores.
Sobre as nossas cabeças,
sem que o possam deter, o tempo corre;
e para nós o tempo, que se passa,
também, Marília, morre.
10. Com os anos, Marília, o gosto falta,
e se entorpece o corpo já cansado;
triste o velho cordeiro está deitado,
e o leve filho, sempre alegre salta.
A mesma formosura
é dote, que só goza a mocidade:
Rugam-se as faces, o cabelo alveja,
mal chega a longa idade.
11. Que havemos de esperar, Marília bela?
que vão passando os florescentes dias?
As glórias, que vêm tarde, já vêm frias,
e pode enfim mudar-se a nossa estrela.
Ah! Não, minha Marília,
Aproveite-se o tempo, antes que faça
o estrago de roubar ao corpo as forças
E ao semblante a graça!
(Tomás Antônio Gonzaga – Marília de Dirceu)
12. Lira XIV
Mi / nha / be / la / Ma / rí / lia, / tu /do / pa / ssa;
A sorte deste mundo é mal segura;
Se vem depois dos males a ventura,
Vem depois dos prazeres a desgraça.
Es / tão / os / mês / mos / deu / ses
sujeitos ao poder do ímpio Fado:
Apolo já fugiu do céu brilhante,
Já foi Pastor de gado.
13. A devorante mão da negra morte
Acaba de roubar o bem, que temos;
até na triste campa não podemos
zombar do braço da inconstante sorte:
qual fica no sepulcro,
que seus avós ergueram, descansados
qual no campo, e lhe arranca os frios ossos
ferro do torto arado.
14. Ah! enquanto os destinos impiedosos
não voltam contra nós a face irada,
façamos, sim façamos, doce amada,
os nossos breves dias mais ditosos.
Um coração que frouxo
a grata posse de seu bem difere,
A si, Marília, a si próprio rouba,
E a si próprio fere.
15. Ornemos nossas testas com as flores,
e façamos de feno um brando leito;
Prendamo-nos, Marília, em laço estreito,
Gozemos do prazer de sãos amores.
Sobre as nossas cabeças,
sem que o possam deter, o tempo corre;
e para nós o tempo, que se passa,
também, Marília, morre.
16. Com os anos, Marília, o gosto falta,
e se entorpece o corpo já cansado;
triste o velho cordeiro está deitado,
e o leve filho, sempre alegre salta.
A mesma formosura
é dote, que só goza a mocidade:
Rugam-se as faces, o cabelo alveja,
mal chega a longa idade.
17. Que havemos de esperar, Marília bela?
que vão passando os florescentes dias?
As glórias, que vêm tarde, já vêm frias,
e pode enfim mudar-se a nossa estrela.
Ah! Não, minha Marília,
Aproveite-se o tempo, antes que faça
o estrago de roubar ao corpo as forças
E ao semblante a graça!
(Tomás Antônio Gonzaga – Marília de Dirceu)
18. Características do texto
Oitava (apesar de haver mescla de liras*, sonetos e odes);
Variabilidade métrica e rítmica;
Lembra o carpe diem (“colher o dia”, “gozar o momento”);
Aproximação entre Arcadismo e Romantismo:
a) emoção vivida prevalece sobre a Ilustração:
Exemplo: descrição trágica da morte, ferindo as
convenções do Arcadismo;
b) poesia lírica de Dirceu anuncia o Romantismo pela sua
menor regularidade formal e pelos seus momentos de
intensidade emotiva.
19. Diferenças entre o Barroco e o Arcadismo
BARROCO ARCADISMO
CONFLITO VISÃO ANTROPOCÊNTRICA E
TEOCÊNTRICA
ANTROPOCENTRISMO
OPOSIÇÃO ENTRE O MUNDO MATERIAL E
O MUNDO ESPIRITUAL, FÉ E RAZÃO
RACIONALISMO, BUSCA DO EQUILÍBRIO
RESTAURAÇÃO DA FÉ RELIGIOSA
MEDIEVAL
IMITAÇÃO DOS CLÁSSICOS
RENASCENTISTAS
IDEALIZAÇÃO AMOROSA, SENSUALISMO,
SENTIMENTO DE CULPA CRISTÃO
IDEALIZAÇÃO AMOROSA,
NEOPLATONISMO, CONVENCIONALISMO
AMOROSO
CONSCIÊNCIA TRÁGICA DA EFEMERIDADE
DO TEMPO, CARPE DIEM
FUGERE URBEM, CARPE DIEM, AUREA
MEDIOCRITAS
GOSTO PELOS RACIOCÍNIOS COMPLEXOS, BUSCA DE CLAREZA DAS IDEIAS
MORBIDEZ PASTORISMO, BUCOLSMO
UNIVERSALISMO
INFLUÊNCAS DA CONTRARREFORMA ILUMINISMO
20. Diferenças entre o Arcadismo e o Romantismo
ARCADISMO ROMANTISMO
PREDOMÍNIO DA RAZÃO PREDOMÍNIO DA FANTASIA, IMAGINAÇÃO
OBJETIVIDADE SUBJETIVIDADE
TEMAS PAGÃOS GRECO-LATINOS TEMAS CRISTÃOS E NACIONAIS /
HISTÓRICOS
RIGOR NA CRIAÇÃO (MÍMESE –
IMITAÇÃO)
LIBERDADE CRIADORA
ERUDIÇÃO VALORIZAÇÃO DA ARTE POPULAR
A NATUREZA COMO CENÁRIO IDENTIFICAÇÃO ENTRE POETA E
NATUREZA
AUREA MEDIOCRITAS (DESPREZO PELOS
EXCESSOS)
VALORIZAÇÃO DA PAIXÃO
(SENTIMENTALISMO, EMOÇÃO)
PREDOMÍNIO DO CARÁTER
CONVENCIONAL DA ARTE
PREDOMÍNIO DA ORIGNALIDADE
O ARTISTA É UM ARTESÃO O ARTISTA É UM CRIADOR
ELITISMO DA ARTE DEMOCRATIZAÇÃO DA ARTE
21. Referências
ABREU-TARDELLI, L.; ODA, L. S.; CAMPOS, M.T.A; TOLEDO,
S. Português vozes do mundo: literatura, língua e
produção de texto. 1 ed. São Paulo: Saraiva, 2013.
AMARAL, E.; ANTÔNIO, S.; PATROCÍNIO, M. F. Português:
redação, gramática, literatura e interpretação de texto.
São Paulo: Nova Cultural, 1999.
CEREJA, W. R.; MAGALHÃES, T.C. Português, linguagens,
1. 9 ed. São Paulo: Saraiva, 2013.