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Seminário Arquidiocesano de São José – Rio de Janeiro
Introdução à pesquisa em Santo Agostinho e no Agostinismo.
Robson Atallah Nogueira Lima
2
Sumário
Capítulo I – Agostinho .................................................................................................... 3
1.1. Vida.................................................................................................................. 3
1.2. Obras............................................................................................................... 4
1.3. O Método de interiorização ........................................................................... 5
1.4. Temas importantes ........................................................................................ 7
1.4.1. O mal e a liberdade................................................................................... 7
1.4.2. O Cogito Agostiniano ................................................................................ 8
1.4.3. Razão X Fé e Ciência X Sabedoria .......................................................... 8
1.4.4. A ordem do amor ...................................................................................... 9
1.4.5. Provas da existência de Deus ................................................................ 10
1.4.6. A alma humana....................................................................................... 11
1.4.7. Tempo e perseverança ........................................................................... 12
1.4.8. A interpretação das Escrituras................................................................ 13
1.4.9. Obras interessantes................................................................................ 15
Capitulo 2 – Agostinismo.............................................................................................. 18
2.1. A primeira idade média................................................................................ 18
2.2. Escolástica Tomista..................................................................................... 19
2.3. Reforma e Humanismo ................................................................................ 20
Capítulo 3 – Curiosidades ............................................................................................ 22
	
  
	
  
3
Capítulo I – Agostinho
Todos os que estudam Agostinho começam sua pesquisa pelo livro as
Confissões. Porém esta obra não possui todo o arcabouço histórico necessário
para uma boa análise, visto que a obra é uma confissão de fé que se
desenvolve pela vida de Agostinho sem muitos detalhes históricos alheios a
ele. Por isso esta apresentação da vida de Agostinho é guiada por autores que
levaram em consideração a historicidade que a obra Confissões não traz.
1.1. Vida
Aurelius Augustinus nasceu no ano de 354 em Tagaste, seu pai era
pagão e sua mãe cristã1
. Ali conheceu o cristianismo, mas logo se decepcionou
com algumas tentativas de entender a Sagrada Escritura.
Em 370, Agostinho foi estudar em Cartago e teve contato com a obra
Hortensius de Cícero, hoje perdido. Foi esta obra que lhe conferiu um profundo
ardor na busca da verdade. Neste período se aproximou do maniqueísmo e
nesta seita permaneceu por 9 ou 10 anos. Logo após sua conversão os
maniqueus se tornaram inspiração para suas obras, principalmente alguns
amigos que fizera na seita. Henri Marrou2
afirma que os seus “adversários”
costumam argumentar que Agostinho conservou certo ressalvo do
maniqueísmo.
O Doutor da Graça se converteu em Milão, lugar em que conheceu
Santo Ambrósio. Este contato provocou em Agostinho grandes inquietações
intelectuais, este foi seu primeiro contato com o ambiente intelectual dos
católicos, ainda que fosse apenas escutando as homilias de Ambrósio. Em 386
Agostinho é batizado e no retiro surgem suas primeiras obras: De Ordine(386),
Solilóquios(387), Contra-Acadêmicos(386) e De Beata Vita(386). Marrou
ressalta em sua introdução ao estudo de Agostinho que o agostinólogo deve ter
um olhar carinhoso para o desenvolver da religião de Agostinho que vem pouco
a pouco caminhando para uma profundidade mais madura em relação ao
cristianismo.
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  
1
Santa Mônica
2
Fo um historiador francês especialista em cristianismo primitivo, especialmente em Agostinho.
	
  
4
Em 391 foi ordenado sacerdote e mandado para Hipona. Entre 395 e
396 foi consagrado Bispo. Por fim, faleceu em 430, pouco antes da invasão dos
bárbaros.
1.2. Obras
Santo Agostinho é autor de 113 obras, 218 cartas, mais de 500 sermões.
Foram necessários 20 anos para concluir os 15 livros sobre a Trindade, 13 ou
14 para concluir o Sobre o Gênesis ao Pé da Letra e os 22 da cidade de Deus
foram aproximadamente 13 anos com o término poucos anos antes de sua
morte.
As obras em geral foram escritas com o incentivo de resolver problemas
da época principalmente de desvios da sã doutrina católica. Estes problemas
foram causados, em grandes proporções, por intepretações equivocadas das
escrituras ou por influências de pensamentos do neoplatonismo que acabaram
servindo de critérios para entender a mensagem de Cristo. Dentre esses
grupos estavam os pagãos, astrólogos, arianos, donatistas, pelagianos,
maniqueus e os judeus.
Estes são os principais grupos por período:
387 – 400 X maniqueus3
400 – 412 X donatistas4
412 – 430 X Pelagianos5
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  
3
O maniqueísmo é uma religião sincretista, criada por Mani (216-277 d.c). Ele declarou ter tido
uma visão de Buda, Zoroastro e Jesus. Esta ceita é movida pela ideia de uma batalha eterna
entre a luz e as trevas, bem e mau, alma e corpo, ou seja, tudo que é ligado à matéria é ruim
e é obra do Deus mau do Antigo Testamento, e o Deus bom do Novo testamento veio libertar
as almas aprisionadas nos corpos. Esta religião (ou pensamento “filosofia gnóstica”) é alvo de
muitas obras de Agostinho que fez parte desta ceita por um longo tempo.
4
O Donatismo é o movimento que surgiu na época das perseguições aos cristãos. Este cisma
não aceitava que cristãos pudessem mentir para fugir do martírio e pudessem voltar à casa
cristã. Assim também os sacerdotes que fugissem do martírio não eram tidos mais como
ministros de sacramentos válidos. Neste processo eles começaram a se afirmar como a Igreja
verdadeira e fiel, e ainda condenavam os católicos, que eles chamavam de infiéis, por
aceitarem de volta na comunidade os cristãos menos corajosos. Constantino combateu a estes
cismáticos com a força e o exílio, porém Agostinho tentou por muitas vezes pelo diálogo e
disputas teológicas resolver o problema e alcançou bons resultados. Apesar dos esforços de
Agostinho a ceita só desapareceu com a invasão dos vândalos. Resultados das disputas e
escritos de Agostinho: A Igreja católica subsiste na Igreja de Cristo, e o Sacramento não
depende da santidade do ministro. Ou seja só no ultimo dia é que saberemos que é joio e
quem é trigo, e A graça supre qualquer deficiência causada pelo ministro que confere o
Sacramento.
5
Por esta dedicação e grandiosa desenvoltura recebeu os seguintes
títulos:
Filósofo da essência, contra os maniqueus
Doutor da Igreja, contra os donatistas
Teólogo da história, contra os pagãos
Campeão da Graça, contra os pelagianos
Há de se ter muito cuidado com a visão por demais rigorosa de
Agostinho e suas obras para que não se caia em alguns desvios como
jansenismo, absolutismo hegeliano, cartesianismo, etc. Marrow aconselha o
agostinólogo a procurar uma visão histórica do ambiente em torno de cada
obra para que a pesquisa se torne imune a primeiras impressões equivocadas.
1.3. O Método de interiorização
O Doutor da Graça usa de um método específico no que diz respeito ao
conhecimento da verdade e na busca pela santidade. É nisso que vai caminhar
o discurso dele sobre religião e os efeitos perceptíveis no homem, esta reflexão
pode ser encontrada nas obras que ele trata do crescimento6
da alma e dos
homens velho e novo.
Agostinho começa a analisar os seres que possuem movimento, já que
voltar a ser aquilo que era antes de tender ao nada parece completar o homem
em suas aspirações mais íntimas. Por isso ele começa pelas plantas e nelas
percebe o grau mais básico da animação, pois elas se alimentam da agua e da
luz e conseguem distribuir os nutrientes de forma que todo o seu composto se
mantém na vida. O segundo grau ele vê nos animais, pois têm aquilo que as
plantas têm, mas potencializado pela sensibilidade, daí o movimento de evitar a
dor e procurar o prazer por meio dos sentidos. O terceiro ele entende nos
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  
5
Foi criada por Pelágio (354 – 425 d.c). É doutrina de teologia cristã, não ortodoxa, que
afirmava que o homem por sua livre vontade poderia alcançar a perfeição moral, ou seja, que
ele sem a ajuda da graça poderia alcançar perfeição. Ele é o principal criador do problema
entre liberdade e graça, visto que este tipo de pensamento mais acentua a autossuficiência
humana, e a resposta que alguns radicais dão a isto depois de Agostinho é a negação
completa da liberdade do homem, como aconteceu com Lutero para negar esta idéia, ou é a
noção moderna de que o homem por si só faz ou entende seu fim pela ciência e suas
capacidades racionais.	
  
6
Qualitativo e não quantitativo.
6
homens, que tem o que os animais possuem, porém potencializado pela
capacidade racional que proporciona o entendimento e grande criatividade,
assim o homem pode, por exemplo, desenvolver a culinária e transmitir de
forma que o outro não precise redescobrir os primeiros passos.
O quarto já não diz respeito aos seres inferiores ao homem, pois esse
necessita da capacidade racional de percepção de mundo própria do homem.
Neste grau se encontram aqueles homens que percebem que os bens deste
mundo não o satisfazem como ser humano e começa a menospreza-los em
detrimento de bens superiores. Esse é o nível no qual o homem mais luta
contra as sugestões do mundo. O quinto ele chama de constância, ou
tranquilidade, é o grau que caracteriza certo domínio sobre os impulsos
carnais, já não é mais a fase de resistir ao pecado, mas a de não consentir a
ele. O sexto grau é quando o homem, após ter atingido a tranquilidade,
percebe que dentre as coisas que consegue ver no mundo, com os olhos do
corpo e os olhos da alma, ele se entende superior a todas elas e volta-se para
conhecer a si mesmo e essa imensidão que há dentro de si. Ao olhar para si
ele não encontra ainda o que lhe completa, mas vê que não é a si mesmo, seu
amor próprio, que fará isto. Finalmente percebe que não é ele nem as coisas
criadas que lhe irão completar, mas deve ser algo superior a tudo isto que
percebe, algo que necessariamente deve existir, pois sem este nada disto seria
(existiria), deve ser aquilo que lhe ordenou, a perfeição suprema da qual todas
as coisas participam, Deus. Eis o sétimo grau, a contemplação da verdade, o
próprio Deus, eis a religião, o religar-se. É aqui que ele vê que o homem pode
contemplar a verdade, conhecendo o autor dela o ela mesma por essência,
pois quem melhor para conhecer uma casa se não aquele que a projetou?
Este método de Agostinho é excelente para mostrar ao homem que ele
precisa de algo que é único, se não o homem pularia de bens em bens e isto
não faz sentido7
já que nunca seria feliz plenamente. Também mostra que este
Bem ultimo é superior a ele. Assim grandiosamente Agostinho prepara o
homem para aderir a revelação, ao Cristo encarnado, o único que poderia
restituir a humanidade na ligação perdida com o pecado se tornando ele
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  
7
Obra Natureza do Bem para entender melhor.
7
humano por nós, que sem a ajuda da graça não poderíamos seguir seus
passos.
Assim o método Agostiniano sempre seguirá a seguinte ordem: Do
exterior para o interior, do interior para o superior.
Para aqueles que quiserem conhecer um autor que é considerado a
grande novidade em Santo Agostinho nos dias de hoje, procurem por Jean-Luk
Marion. Este autor continua a reflexão de Agostinho sobre o sétimo grau da
alma à luz da explicação do Hiponense sobre o salmo 37. Ele afirma que o
sétimo grau da alma, a perfeição própria de Cristo se encontra na mediação e
intercessão pelo povo de Deus. Ele afirma que o homem ao atingir este grau se
confunde com cristo rezando no cristo cabeça pelos membros feridos pelo
pecado. Também vale ressaltar que ele mostra que isto é necessário, pois se,
como ele afirma, Cristo é o orador dos salmos, porque ele padeceria
sofrimentos por causa dos pecados seus, se ele não teve pecado? A isto,
Marion responde com a própria explicação de Agostinho mostrando que o
Cristo cabeça pede ao Pai pela saúde de seus membros.
1.4. Temas importantes
Vejamos alguns temas que são interessantes e sempre atuais tratados
pelo Doutor da Graça.
1.4.1. O mal e a liberdade
Agostinho não entende o mal como uma substância, algo que existe por
si só, mas como uma tendência ao não ser, ou melhor, uma diminuição do ser
ou do bem. Não existe mau8
, só existe mal, isso quer indicar que só há o mal
moral, pois o que seria o mal, na verdade se mostra a corrupção, um
afastamento do ser pleno ou falta do bem devido. Assim o mal só acontece
pelo mau uso da liberdade no modo em que se age na ordem. Acima de tudo é
importante saber que o que se diz mal está na verdade presente somente nas
naturezas boas e mesmo desse mal Deus consegue tirar um bem maior. No
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  
8
	
  Substância.	
  
8
livro A Natureza do Bem, e também algumas paginas do livro A Verdadeira
Religião e do livro O Livre-Arbítrio, este pensamento esta bem desenvolvido.
Quanto à liberdade, como pode ser percebido principalmente na obra O
Livre Arbítrio, o Hiponense não entende apenas como optar por qualquer coisa
que se tem vontade imediata, mas entende como liberdade optar pelo bem
maior, porém para isso a vontade deve estar em ação conjunta com o intelecto,
isso significa que para fazer uma escolha à razão precisa ter o conhecimento
das opções de uma escolha para que possa optar pelo melhor. A ação livre do
homem passa a depender da escolha do bem maior para que ele não se torne
escravo dos bens menores que não o completam, mas o viciam na vontade de
satisfazer seu desejo de infinito com bens passageiros. Assim a liberdade no
homem se teria tornado a causa do mal no mundo, da diminuição de ser,
porém, como vai mostrar Agostinho na obra, esta liberdade é um bem, apesar
de ser meio também para a diminuição do ser.
1.4.2. O Cogito Agostiniano
O Doutor da Graça, ao escrever contra os céticos da academia, ensina
que a desvalorização absoluta dos sentidos é absurda e inaceitável 9
, mas
usando ainda dos argumentos céticos ele desenvolve o chamado cogito
agostiniano10
. Os céticos haviam colocado a capacidade de conhecimento do
homem em questão afirmando que os sentidos iludiam, que uma consciência
superior nos enganava e afirmavam a incerteza do sono e da vigília. Além de
demonstrar a insustentabilidade destas afirmações na obra11
o Hiponense
desenvolve seu cogito, onde ele relaciona a certeza da percepção da
existência pelo intelecto a uma verdade da qual não se tem como duvidar.
Este cogito pode ser encontrado também nos livros: O Livre Arbítrio
II,3(7); A Trindade X, 10( 15-16); A Cidade De Deus XI, 26.
1.4.3. Razão X Fé e Ciência X Sabedoria
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  
9
	
  A verdadeira Religião; Contra Acadêmicos.	
  
10
	
  Chamo de cogito agostiniano apenas para que não haja confusão com o cogito cartesiano,
pois há semelhança.	
  
11
Contra Acadêmicos traz isto, porém obras como A Verdadeira Religião , O Livre Arbítrio e A
Doutrina cristã também comentam apesar da pouca ênfase no assunto.
9
Agostinho entende que o homem é capaz de dois modos de
conhecimento, um superior e o outro inferior. O conhecimento cientifico-
racional seria o conhecimento inferior, o qual serve de propedêutico para o
superior. Este conhecimento tem por objeto as realidades temporais, que por
sua vez se ordenam às coisas eternas.
A sabedoria e a fé são todo o suplemento do conhecimento intelectual
das realidades e verdades eternas, aquelas imutáveis. Sendo assim, o
Hiponese entende as coisas divinas como objeto da fé e da sabedoria. “Assim
a verdadeira sabedoria se identificará com a religião”12
.
Razão e fé não seriam realidades contraditórias, mas complementares
no pensamento de Agostinho.
1.4.4. A ordem do amor
O amor é o impulso do sentimento que carrega a vontade e o intelecto
para algo. O amor está presente no homem ontologicamente e em seu agir. Ele
dirige o homem a quatro objetos: as coisas materiais, a ele mesmo e aos
demais homens, e ainda as coisas superiores ao homem.
O amor desordenado leva o homem a amar-se mais do que ao seu
autor, afastando a si mesmo de sua felicidade por conta dos bens mutáveis e
não eternos.
O homem que ama desordenadamente a si e põe as coisas materiais
como centro de sua vida facilmente se vê perturbado, pois não demora muito
para que elas pereçam. Por exemplo, o dinheiro, ao ser roubado ou precisar
gastar com sua saúde ele perde a segurança que o dinheiro lhe conferia.
O homem que ama a si acima de tudo busca a atenção de todos, a
fama, a realização profissional, todas as suas ações serão interesseiras no seu
bem próprio e ele usará das outras pessoas para alcançar este objetivo. Por
exemplo, um funcionário de uma empresa, nesta desordem interior, pisa nos
outros e usa de seus colegas como degraus para subir na vida e garantir sua
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  
12
A Verdadeira Religião, 5.	
  
10
importância, ou os candidatos a cargos públicos que usam dos mais pobres e
seu desespero para conseguirem estabilidade através dos seus votos.
A única maneira de ser feliz segundo Agostinho deve passar
primeiramente pelo amor a Deus acima de todas as coisas, pois sendo ele
autor das coisas materiais e espirituais, e tendo em vista que as coisas
espirituais são mais excelentes que as materiais, só Ele consegue conferir a
devida ordem e indica-la ao homem para que este fortaleça sua busca pela
felicidade.
Assim, quando o homem amar a Deus13
sobre todas as coisas, todos os
amores aos outros objetos são devidamente ordenados. Amando o seu criador
acima de tudo o homem se descobre por meio de seu autor e ama a si como
imagem e semelhança daquele que o fez. Ama o semelhante como alguém tão
capaz de contemplar a Deus como ele mesmo. Ama, também, as coisas
materiais, que são boas, mas na medida em que não atrapalhem seu
direcionamento à felicidade e até de forma que proporcionem isso.
Sobre o amor de si e das coisas não foi necessário que nos dessem
preceitos, pois amamos a nós mesmos em tudo o que fazemos mesmo com o
pecado e a nosso corpo, mesmo que essas coisas nos deem só prazer
imediato. Quanto ao amor a Deus e ao próximo, foi necessário que Deus nos
ajudasse por conta do pecado original, mas mesmo com este pecado ninguém
pode deixar de amar a si mesmo e ao seu próprio corpo.
1.4.5. Provas da existência de Deus
Deus não é um mero objeto científico, mas para Agostinho Deus é
evidente para a razão humana por causa de seus efeitos. Por isso vejamos três
argumentos da existência de Deus de forma desvinculada da revelação:
a) Em suas confissões Agostinho demonstra a sua busca no sentido de
si nas coisas exteriores. Porém logo passa ao interior, ali encontra
sua alma, mas não a Deus. Aqui, ainda que a alma humana
demonstre ser superior às demais coisas criadas, ele percebe que
devia ter algo superior a todas estas coisas, inclusive a ele mesmo já
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  
13
	
  Bem	
  Supremo,	
  Verdade	
  Absoluta,	
  Beleza	
  integra,	
  Pureza	
  Sublime	
  e	
  Inteligência	
  ordenadora.	
  
11
que ele não é causa de si, e mesmo se houvesse um ser acima dele
que não fosse a causa ele devia ser causado por um ser mais
superior ainda, e este ser superior só poderia ser Deus.
b) Pela ordem do mundo. Todas as coisas possuem uma ordem e não
são caos14
, por isso, como toda coisa ordenada pelo homem antes
passou pela sua inteligência, a ordem do mundo, por conseguinte,
deve ter sido projetada por uma inteligência superior e necessária,
pois esta deveria ser para que tudo não fosse uma grande confusão.
c) Pelas ideias de perfeição universais e participação nelas. As coisas
são verdadeiras por participarem da verdade. O justo é participante
da Justiça, pois bem, a multiplicidade não pode ser causa de si
mesma ela precisa surgir de uma coisa única, por isso deve haver
um ser único possuidor de todas as perfeições das quais todas as
coisas participam. “Deus é a verdade por essência, a luz imutável, o
principio eterno e a fonte de toda verdade. Todas as coisas são
verdadeiras pelo ser e verdade que recebem de Deus.” (A Verdadeira
Religião XXI 57; Confissões X 40).
1.4.6. A alma humana
O Homem, segundo Agostinho, é composto de duas substâncias,
misteriosamente formando um único composto, o corpo e a alma15
, sendo a
alma superior ao corpo.
A alma16
é quem conserva o corpo, dá o movimento e, especialmente no
homem, potencializam as capacidades, que seriam de um animal, pela razão.
Ainda que Agostinho entenda que corpo e alma subsistiriam de forma
separada, afirma que esta unidade se faz misteriosamente necessária para que
haja humanidade.
Agostinho, apesar de usar meios neoplatônicos para desenvolver seu
pensamento, não entende a alma como se fosse aprisionada no corpo, muito
menos como coisa uma substância má. O Hiponense entende que a alma deve
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  
14
Pense em bagunça.
15
“Substância dotada de razão, apta a reger um corpo” (A Grandeza da Alma)
16
Agostinho fala da “alma”(animação) das plantas, dos animais e do homem. (A Grandeza da
Alma)
12
aperfeiçoar o homem como um todo executando a ação de reger o corpo
conservando-o em santidade.
A alma não se desenvolve quantitativamente, mas qualitativamente. Ela
guarda as impressões e as organiza em uma imagem17
e a guarda na
memória. Por ela guardar na memória a essência, Agostinho também
argumenta sobre a imortalidade da alma com o viés de que ela absorve a
verdade pelo intelecto e assim esta fica presente na alma que contemplando a
verdade absoluta permanece no ser mesmo sem o corpo.
Quanto à origem da alma, Agostinho vê lógica no argumento de pré-
existência da alma de Platão, Porém, reconhecendo a superioridade da
revelação à racionalidade do homem, ele opta por aderir à afirmação de São
Jerônimo de que a alma é criada e infundida no momento da concepção. Por
isso é preciso cuidado com as afirmações de que existiríamos na mente de
Deus. Se esta não for entendida na eternidade, e for entendida como ação
decorrida em um tempo, grandes problemas podem surgir daí. Todas as ações
de Deus devem ser entendidas em ato como expõe Santo Tomás, assim,
pensamento e criação não são ações distintas, mas uma única ação.
1.4.7. Tempo e perseverança
Há o tempo criado e há a eternidade, sendo que um é acidente da
criação e o outro é uma realidade superior ao entendimento humano, que só
corresponde a “inteligibilidade divina”. Esta reflexão nos abre duas óticas de
entendimento sobre a predestinação, uma vê de dentro do tempo criado e outra
de fora. Quando Agostinho fala deste dom ele se expressa com o esforço de
olhar de fora do tempo criado, porém está revestido de aspectos do tempo que
o limitam a dizer aquilo que gostaria de objetivar de forma simples.
Quando Agostinho aborda tema da perseverança e o trata como um
Dom dado por Deus, indica que só saberemos quem tem o Dom da
perseverança quando morrermos, pois só então poderemos constatar se
realmente fomos agraciados com o Dom da perseverança. O problema é que a
partir desta estrutura de pensamento alguns começaram a afirmar que Deus já
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  
17
	
  Pede	
  se	
  entender	
  como	
  conceito.	
  
13
cria homens destinados a serem salvos ou não, e ainda, Deus ao dar ou não
este Dom estaria condenando ou salvando a pessoa para a eternidade.
Por isso, se faz importante entender que quando se fala do Dom da
perseverança final, se está relacionando com a ótica do kairós e quando se fala
da oração que pede este dom e o desenvolvimento, ou não, deste dom na vida
se refere a ótica do kronos. Quando nos colocamos em uma ótica “semelhante”
a de Deus ainda não temos como ter a compreensão integral do entendimento,
mas como se faz por analogia, se indica uma linha de raciocínio que nos
aponta para um aspecto de uma determinada realidade, apesar dessa
realidade vir se mostrando estar acima da capacidade de compreensão
humana.
1.4.8. A interpretação das Escrituras
Quanto à interpretação da Bíblia na Igreja, Santo Agostinho desenvolve
um método de fazer teologia que garante ao Cristão fiel um conhecimento mais
aprofundado de Deus sem se afastar da comunhão da Igreja.
A primeira coisa é conhecer a Regra de fé, o credo da Igreja. Hoje temos
um credo bem desenvolvido e aprofundado que nos ajuda muito mais a não
nos desviarmos do que ensina a Santa Mãe Igreja, porém ainda que tenhamos
muitas coisas específicas esta Regra de fé deriva desde a profissão de fé dos
apóstolos.
O segundo passo é a busca sincera por uma vida de santidade, assim o
cristão deve buscar crescer nos graus da alma e garantir que o domínio de si
seja suficiente para que ele não afirme simplesmente o que quer, mas o que a
inspiração divina quis comunicar por meio da Escritura.
Como resolver ambiguidade nos textos:
Há de se tomar cuidado com a pontuação, pois o latim antigo18
carecia
de fácil compreensão na pontuação já que não havia espaços entre as
palavras. Também quanto a pronuncia havia a mesma problemática. Em vista
de que algumas palavras eram semelhantes a outras na pronuncia, aquele eu
copiava enquanto o outro ditava o que deveria ser escrito poderia ser mal
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  
18
	
  O	
  mesmo	
  para	
  o	
  grego.	
  
14
entendido e poderia causar expressões e entendimentos diferentes até do texto
original. Também algumas confusões em casos semelhantes do latim,
pronunciação de vogais breves ou longas que não vinham com referência e
etc. Para superar este problema Agostinho aconselha a consulta das línguas
mais antigas, como grego e hebraico e por fim a consulta ao contexto
conduzido pela Regra de fé.
Quanto aos textos em sentido figurado:
Não se tomem qualquer passagem da Escritura ao pé da letra, pois
Deus falou pelos escritores sagrados por meio de suas capacidades, ou seja,
eles ao comunicar a mensagem divina estavam cheios de seus aspectos
culturais quando a colocaram por escrito. Não se busque entender a cultura do
Antigo Testamento com o que se tem hoje como cultura, pois coisas naturais
para a época hoje podem se escandalosas. Também se atente para os vários
significados que uma palavra aponta. Deve-se buscar entender a intenção por
trás do que está escrito. Ex.: “se tua mão direita te leva a pecar corta-a fora”
(Mt 5, 30).
Agostinho resgatou do pensamento de um leigo donatista algumas
regras que “concertadas” podem ainda hoje ser usadas para melhor entender a
Escritura e solucionar muitos problemas de interpretação.
Regras resgatadas e Ticônio:
1- O senhor e seu corpo – é necessário entender o que na Escritura se
refere à cabeça e o que se refere a seu corpo, ainda que haja
aspectos aplicáveis a ambos.
2- O corpo do Senhor verdadeiro e o misto – Deve-se ficar atento
quando uma passagem da escritura se refere à Igreja celeste ou à
Igreja terrena, porém ainda na terrena pode estar se referindo a parte
que caminha na santidade ou mesmo a parte que se encontra em
pecado. Tem passagens que se referem aos bons e aos maus dentro
da “rede”.
3- O Espírito e a Letra – Entenda-se que é a raça que dá sentido à vida
dos mandamentos, onde a escritura falar de qualquer ação humana
que dê a salvação ela pressupõe a ação da graça salvífica de Cristo.
4- Espécie e gênero – Refere-se à parte e ao todo. Pode se prescrever
algo a uma cidade na escritura, e aplicar se referindo a toda cidade.
15
É o que foi usado para reconhecer algumas cartas de Paulo a
algumas comunidades especificas como Escritura Sagrada e as
integraram ao cânon bíblico. Porém deve-se ter cuidado do que é
próprio da aplicação ao todo para que isto não seja aplicado à parte.
A desobediência do povo na adoração aos ídolos, por exemplo, não
pode ser aplicada a toda parte.
5- Os Tempos – Aplicação da parte ao todo e do todo à parte. Se dois
evangelistas discordam sobre o tempo decorrido entre um
acontecimento e outro. Ex.: o espaço de tempo entre um
acontecimento e a transfiguração de Cristo no monte contado por
dois evangelistas traz diferenças, um diz que são oito dias e outro
que são seis. Considerando a possibilidade de medida de tempo, o
problema se resolve com o entendimento de que um pode ter
contado oito por contar meios dias e o outro seis por só considerar
dias inteiros. Ou mesmo o que contou oito pode ter considerado as
vésperas de dois dias como dias diferentes.
6- Recapitulação – A Escritura por vezes traz acontecimentos anteriores
como subentendidos ao relatar algo, a recapitulação ajuda neste
discernimento. Por exemplo, Gn 2,8 fala do paraíso que Deus fez
com um lindo jardim onde colocou o homem que havia formado.
Deus não fez o homem e o deixou flutuando até terminar o jardim, ele
fez o jardim e lá pôs o homem.
7- O demônio e seu corpo – diz respeito à aplicação do que se diz ao
demônio a seu corpo, os impiedosos. Entretanto, atente-se que nem
tudo que se refere ao demônio se refere a seu corpo, e vice-versa.
1.4.9. Obras interessantes
a) Sobre a Trindade – Esta obra foi incentivada a partir de um pedido do
papa da época que tinha a esperança de que Agostinho respondesse
às heresias que vinham surgindo. Nesta obra além de explorar a
teologia trinitária Agostinho afirma a famosa relação de amor da
santíssima trindade. Nesta obra também pode se ter noção de uma
antropologia teológica pensada pelo hiponense. Temas
16
interessantes: Argumentação de Deus como causa primeira, de
essência imutável; Deus uno e Trino; Inacessibilidade da Natureza
Divina;	
  A analogia sobre a Trindade feita a partir das faculdades da
alma humana: memória, inteligência e vontade.
b) O Mestre Interior – Agostinho reflete em como se dá a comunicação
e o entendimento de uma realidade e, ao fim da obra, ele demonstra
que a mensagem divina não é entendida como ela realmente é, mas
se faz compreensível graças ao mestre interior. Daqui ele mais uma
vez afirma a eficácia e prioridade de uma vida piedosa. Apesar de a
filosofia da linguagem ter surgido no século XIX, nesta obra de
Agostinho pode-se perceber reflexões sobre muitos aspectos que a
filosofia da linguagem tem como foco.
c) A Cidade de Deus – Com uma intenção apologética, Agostinho
escreveu esta vasta obra que serviu de inspiração para a civilização
europeia posteriormente. O objetivo principal era defender o
cristianismo da acusação de favorecer a queda de Roma
argumentando contra discursos de que o cristianismo estaria
“enfraquecendo” o império romano com suas doutrinas. Porém o
Teólogo da história mostra que a ordenação da vida a partir do amor
de Deus faz a sociedade prosperar em excelência, ordem e virtudes,
por outro lado, uma sociedade que é conduzida pelo egoísmo e amor
desordenado das coisas materiais só poderia cair em ruinas.
d) Doutrina Cristã – Agostinho desenvolve um método seguro de
interpretação e pregação para a Sagrada Escritura usando como
base a profissão de fé da Tradição e indicando a ordenação interior
do interprete. Esta obra é repleta do pensamento do Doutor da graça
sobre os mais variados temas que ele trabalha em diferentes obras.
Nesta obra ele desenvolve um método seguro de interpretação da
Sagrada Escritura tendo como limite a Regula Fidei, a vida de
Santidade e as regras de Ticônio adaptadas.
e) Sobre a potencialidade da alma (ou Grandeza da alma) – Esta obra é
uma reflexão sobre aspectos referentes à alma como: origem,
natureza, como ela é, como se une ao corpo, sua Ascenção e
graduação e sua “quantidade”.
17
f) A Verdadeira Religião – Agostinho tenta, por meio deste escrito,
resgatar seu amigo Romaniano do maniqueísmo. Esta é uma das
obras em que deixa claro seu pensamento de que a fé é superior e
suplementar à razão sem rejeita-la. Aqui também ele declara que a fé
é um dom e não uma coisa que se constrói como pensava no período
próximo de sua conversão.
18
Capitulo 2 – Agostinismo
Agostinho se torna pai da teologia no ocidente por oferecer uma teologia
a modo próprio sem deixar de ser completa e autônoma. A escolástica destaca
no grupo dos maiores doutores da igreja: Santo Agostinho, Santo Ambrósio,
São Jerônimo e São Gregório Magno. O lugar de honra, porém, é de
Agostinho.
Mais tarde na Espanha, Isidoro de Sevilha é o primeiro a tratar
Agostinho como o maior dos Padres da Igreja. Na Itália, também, São Gregório
Magno se utiliza de um agostinismo adaptado à situação do povo conferindo a
ele uma roupagem mais simples.
Na espiritualidade, inclusive, domina a linguagem agostiniana. Um texto
famoso que perdurou muito tempo com grande importância, inclusive para a
organização de mosteiros, foi a regra de Santo Agostinho.
2.1. A primeira idade média
Este período é fortemente influenciado pelo pensamento de Agostinho,
Boécio e do pseudo-Dionísio na formação da cultura, porém quase tudo vem
de Agostinho.
Neste período já podem ser percebidos desvios do pensamento de
Agostinho, como com Gottschalk, um monge que viveu entre os anos de 803 e
869 d.c. Ele foi atraído a ler apenas as paginas de fácil compreensão das obras
do Doutor da Graça e acabou afirmando uma teoria de dupla predestinação
onde Deus criaria alguns homens pelo prazer de condená-los. Não houve
apenas Gottschalk, mas houve teóricos da cultura cristã como Alcuíno e Carlos
Magno que também, por meio de pequenos desvios da origem da ideia
acabaram por causar problemas na construção da sociedade de então.
No século IX volta-se a Agostinho, em grandes medidas A Cidade de
Deus era a inspiração da construção desta sociedade e formação política
europeia. Mas toda a abordagem que se fazia de Agostinho era limitado a um
olhar marcado pela teologia escolástica. Neste período Agostinho serve de
inspiração para Santo Anselmo, São Pedro Damião, Abelardo e São
Boaventura, grandes nomes deste período. Também neste período usam
	
  
19
Agostinho para fundamentar um espiritualismo exagerado em contra posição a
então considerada racionalização teológica.
2.2. Escolástica Tomista
Com a chegada de novos materiais filosóficos ao ocidente, Aristóteles
que era pouco conhecido, passa a ser lido e ganha espaço. Porém tanto com
os escritos de Aristóteles quanto com os de Agostinho apareciam obras que
foram escritas por eles e obras que circulavam como se fossem deles, mas que
nunca foram escritas por eles19
. Estas obras vinham junto com comentadores
judeus e muçulmanos ,segundo Marrou, o que poderia explicar interpretações
antagônicas de um mesmo texto.
Henri Marrou afirma que Santo Tomás de Aquino conseguiu assimilar
perfeitamente o agostinismo e o aristotelismo. Mesmo assim o nome de
Agostinho e seus escritos foram tomados posteriormente como forma de anti-
tomismo, pelos franciscanos principalmente.
É importante ressaltar que o agostinismo de Aviscena20
, segundo
Marrou, estava completamente impregnado pelo neoplatonismo e trouxe
entendimentos equivocados como o do Deus iluminador de Agostinho
entendido como intelecto agente separado de Aristóteles. É contra este
agostinismo avicenizante e o aristotelismo averroista que Tomás acaba se
opondo.
Nesta história do agostinismo franciscano surge a ordem dos eremitas
de Santo Agostinho de onde surgiram: Gregório de Rimini21
e Guilherme de
Ockham22
. Rimini caiu nas graças de Lutero por sustentar uma doutrina
contrária a da maioria dos agostinianos e Ockham, por sua vez, contribuiu para
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  
19
É o caso da obra Florilégios lida por Lutero, que na verdade era um tipo de resumo da obra
O Espírito e a Letra que mudava completamente o sentido da hermenêutica bíblica proposta
por Agostinho.
20
Filósofo e médico islâmico que aproximou as filosofias neoplatônicas e Aristótélicas com a
dialética islâmica. Contribuiu muito para a metafísica.
21
Filósofo e monge italiano, viveu entre 1300 e 1358, foi considerado defensor da tradição e
fiel interprete de Agostinho em meio ao ceticismo levantado por Ockham em relação ao que
poderia ser conhecido em física e teologia. Ele também se esforçou para garantir a primazia da
graça sobre o agir humano.
22
Filósofo escolástico inglês, viveu entre 1285 e 1347, foi o pai do nominalismo. Acusado de
supostamente ter produzido cinquenta e uma teses heréticas sujeitas a censura. Acusou João
XXII de não ser o papa verdadeiro por conta de concessões de papas anteriores sobre a
pobreza coletiva serem muito mais numerosas. Ele se considerou o verdadeiro interprete de
Aristóteles nas questões metafisicas. Este filósofo é muito importante pois dele há uma quebra
de movimento filosófico, vale a pena pesquisar sobre sua filosofia e teologia.
20
a queda da metafísica, negando os universais23
e supervalorizando os
particulares24
no conhecimento humano. Duas correntes de agostinismo
perpassaram esse tempo, o agostinismo moderado que permaneceu fiel à
comunhão católica e o agostinismo rígido que resultou na heresia da
predestinação.
2.3. Reforma e Humanismo
Este período é marcado pelo embate entre as duas correntes de
agostinismo. A reforma teológica, impulsionada pela corrente agostiniana
rigorosa no Concilio de Trento, propunha alterações nos seguintes tópicos:
*pecado original *concupiscência25
*Impotência do homem *A graça e a
fé justificam o homem.
Além da discussão de dogmas, também se fez necessário uma
renovação na espiritualidade e na mística com base no Doutor da graça.
O próprio humanismo fora usado ora como aliado, ora como adversário.
Facilmente neste período se encontrará o uso dos Padres da Igreja como
oposição ao Tomismo.
Este período também é caracterizado pela tentativa de separação das
verdadeiras obras de Agostinho das “apócrifas”.
O século XVII é preenchido por Agostinho, Pascal26
, por exemplo,
comenta Agostinho, porém não chegou a ler suas obras, ele só teve acesso a
seu pensamento através de Montaigne, que por sua vez leu A Cidade e Deus e
os escritos de Jansênio27
.
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  
23
Idéias formadas na mente pelo intelecto ao conhecer algo, idéia que futuramente é aplicada
em novas experiências.
24
A experiência do objeto individual independente de qualquer afirmação de uma essência.	
  
25
Desejo libertino, lascívia carnal, como era entendido por Agostinho( de maneira bem
simplória, é claro)
26
Filósofo francês, que viveu entre 1623 e 1662, era conhecido por sua grande capacidade
intelectual. Ele usou do ceticismo de forma positiva. Apesar de afirmar que não se pode provar
a existência de Deus ele tenta demonstrar a racionalidade da fé cristã pelo poder explicativo de
suas doutrinas, particularmente a do pecado original.
27
Cornelius Jansen (1585 – 1638) causou uma complicação no que diz respeito a relação
graça e liberdade do homem em uma equivocada refutação de Agostinho aos Pelagianos.
21
René Descartes28
teve acesso a raciocínios e ao cogito de Agostinho por
meio de Mersene29
e Arnauld30
, isto se refletiu no Discurso do método e sobre
as meditações metafísicas. Não se pode afirmar que Descartes tenha tido
acesso aos escritos de Agostinho, apesar de por pouco não afirmarem que a
descoberta de Descartes não era realmente descoberta devido à conformidade
com escritos de Agostinho. O próprio Pascal sem ter lido Agostinho no original,
percebeu que a doutrina cartesiana se apresentava como um prolongamento
do agostinianismo.
Daqui em diante Agostinho passa a ser, não só Doutor da Igreja e
mestre espiritual, mas filósofo respeitado principalmente no que diz respeito ao
homem.
Outro teólogo interessante é o Padre André Martin que usa da doutrina
de Agostinho, para afirmar de forma pretenciosa que os animais não possuem
alma.
Marrou resume a modernidade em geral da seguinte forma em seu livro
de introdução ao agostinismo: “É o próprio agostinismo a engendrar discípulos
que, por uma fidelidade que poderíamos chamar de excessiva, exorbitam e
transformam deformando a própria doutrina de Santo Agostinho”.31
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  
28
Filósofo e matemático francês, viveu entre 1596 e 1650. Este filósofo tem sua doutrina muito
semelhante a Agostinho, vale pena a leitura de suas obras e compara-las com o que Agostinho
escrevera em Contra os Acadêmicos.
29
Sacerdote francês, viveu entre 1588 e 1648. Ele compilou uma grande diversidade e obras.
Manteve contato por correspondência com Galileu. Suas obras são basicamente refutação e
exortação a deístas, ateus, libertinos e céticos.
30
Teólogo e filosofo francês ligado ao movimento jansenista. Viveu entre 1612 e 1694. Sua
teologia defende a primazia da graça na ação humana. Por meio, também, deste pensador o
jansenismo foi visto como extensão da reforma protestante.
31
	
  MARROW, Henri. Santo Agostinho e o agostinismo. Rio de Janeiro: Agir, 1957. pag. 174.
	
  
22
Capítulo 3 – Curiosidades
Aqui estão apresentados alguns temas interessantes em pontos
específicos e normalmente problemáticos para fomentar o interesse:
1- Para aqueles que quiserem entender alguns pensamentos de origem
protestante que afirmam que a graça32
não pressupõe a natureza33
pode pesquisar sobre Miguel de Bay (1513 – 1589). É um jansênico
eu se gabava por ter lido 70 vezes os escritos e Agostinho sobre a
graça. Porém neste meio também estavam às obras “apócrifas” de
pessoas que atribuíram a Agostinho.
2- Para quem já ouviu falar que Agostinho promove um dualismo
pessimista semelhante ao construído pelos neoplatônicos, aquele
que afirma que o corpo é algo ruim do qual o homem deve se libertar,
para a possível refutação, podem começar sua pesquisa lendo as
seguintes obras: Doutrina Cristã; Sobre a Grandeza da Alma; A
natureza do bem; A verdadeira religião. Nestas obras encontrarão
argumentos de Agostinho contrários a este pensamento pessimista
sobre o corpo.
3- Para quem quiser conhecer como a modernidade aplica a filosofia de
Agostinho em um começo de uma proposta de organização da
sociedade, desacompanhada da tradição e revelação proporcionadas
pelo cristianismo, pode pesquisar a adaptação construída por John
Locke.
4- Aqueles que quiserem entender de onde surgiram as ideias de Lutero
na reforma da doutrina cristã podem começar lendo a obra O espírito
e a Letra e depois pesquisando o resumo desta mesma obra que foi
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  
32
Segundo o catecismo da Igreja católica, “A graça é o dom gratuito que Deus nos faz de sua
vida infundida pelo Espírito Santo em nossa alma, para curá-la do pecado e santifica-la; trata-
se da graça santificante ou deificante, recebida no batismo. Em nós ela é fonte da obra
santificadora [...] ‘pois começa, com sua intervenção, fazendo com que nós queiramos e acaba
cooperando com as moções de nossa vontade já convertida’(Santo Agostinho)”
33
Ainda que a natureza humana esteja doente por conta do pecado original ela ainda goza de
liberdade , a graça não escraviza a vontade do homem, ela a purifica mas o homem ainda é
livre para escolher ser realmente livre ou ficar no que o mundo afirma como liberdade, que
acaba por encerrar na simples escolhas de opções momentaneamente aprazíveis. O CIC
afirma que “A graça de Cristo não entra em concorrência com a nossa liberdade quando esta
corresponde ao sentido da verdade e do bem que Deus colocou no coração do homem”	
  
	
  
23
lida por Lutero conhecida como florilégios. Neste resumo se omitiu
todo o entendimento do que Agostinho quis comunicar sobre o
Espírito. Com esta omissão o entendimento da escritura com a
segurança do que é oferecido pela tradição ficou de lado, e isto
proporcionou uma abertura para interpretações livres da Sagrada
Escritura. Esta postura foi abominada pelo próprio Agostinho, que
demonstra os perigos deste tipo de desvinculação da tradição no seu
livro original.
5- A partir da leitura da obra A predestinação dos santos, muitos
comentadores começaram a entender que Agostinho eliminou a
participação do homem na sua salvação, pois esta obra mostra que
só aqueles que recebem o dom da perseverança final é que mão
para a vida da bem aventurança. Porém este tipo de entendimento
de um tema completamente desvinculado de todo o pensamento do
autor, como já foi suscitado anteriormente, causa muitos problemas.
No final do livro As Confissões de Santo Agostinho há uma teoria
muito interessante sobre o tempo.
6- A contribuição agostinista para o desenvolvimento da ciência
moderna pode ser vista da obra As raízes medievais do pensamento
moderno de Alessandro Ghisalberti. Nessa obra são listadas as
contribuições principalmente de Duns Scotus, Guilherme de Ockham
e João Buridano.
24
REFERÊNCIAS
FRAILE, Guillermo. História de La filosofia II: El cristianismo y La filosofía
patrística. Madrid: Biblioteca de autores cristianos, 1975.
GILSON, Étienne. Introdução ao estudo de Santo Agostinho. São Paulo:
Paulus, 2010.
MARROW, Henri. Santo Agostinho e o agostinismo. Rio de Janeiro: Agir, 1957.
PIERRARD, Pierre. História da igreja católica. Tradução Serafim Ferreira.
Lisboa: Planeta Editora, 2002.
BETTENCOURT, Dom Estevão. História da Higreja – Escola Mater Eclésiae.
SARANYANA, Josep-Ignasi. A Filosofia Medieval. São Paulo: Instituto
Brasileiro de Filosofia e Ciência, 2006.
Referências de conteúdo
AGOSTINHO, Santo. A Doutrina Cristã. 3 ed. São Paulo: Paulus, 2011.
______. A Graça e a Liberdade; A Correção e a Graça; A Predestinação dos
Santos; O Dom da Perseverança. 3 ed. São Paulo: Paulus, 2010.
______. A Natureza do Bem. Rio de Janeiro: Sétimo Selo. 2005.
______. Comentário ao gênesis. São Paulo: Paulus, 2005.
______. Confissões. São Paulo: Paulus, 1997.
______. Contra os acadêmicos; A grandeza da alma; O mestre; A ordem. São
Paulo: Paulus, 2008.
______. O Espírito e a Letra; A Natureza e a Graça; A Graça de Cristo e o
Pecado Original. 4. ed. São Paulo; Paulus:, 2011.
______. O Livre-arbítrio. 6. ed. São Paulo: Paulus, 2011.
______. Sobre a potencialidade da alma. 3. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2012.
______. Sobre a Trindade. 4. ed. São Paulo: Paulus, , 2008.
______. Solilóquios e a Vida Feliz. São Paulo: Paulus, 1998.
______. A Verdadeira Religião; O Cuidado devido aos Mortos. 2. ed. São
Paulo: Paulus, 2007.
Bibliografia auxiliar
25
AUDI, Robert. Dicionário de Filosofía de Cambridge. São Paulo: Paulus, 2006.
MOLINARO, Aniceto. Léxico de Metafísica. São Paulo: Paulus, 2000.

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Introdução à pesquisa em Santo Agostinho

  • 1. Seminário Arquidiocesano de São José – Rio de Janeiro Introdução à pesquisa em Santo Agostinho e no Agostinismo. Robson Atallah Nogueira Lima
  • 2. 2 Sumário Capítulo I – Agostinho .................................................................................................... 3 1.1. Vida.................................................................................................................. 3 1.2. Obras............................................................................................................... 4 1.3. O Método de interiorização ........................................................................... 5 1.4. Temas importantes ........................................................................................ 7 1.4.1. O mal e a liberdade................................................................................... 7 1.4.2. O Cogito Agostiniano ................................................................................ 8 1.4.3. Razão X Fé e Ciência X Sabedoria .......................................................... 8 1.4.4. A ordem do amor ...................................................................................... 9 1.4.5. Provas da existência de Deus ................................................................ 10 1.4.6. A alma humana....................................................................................... 11 1.4.7. Tempo e perseverança ........................................................................... 12 1.4.8. A interpretação das Escrituras................................................................ 13 1.4.9. Obras interessantes................................................................................ 15 Capitulo 2 – Agostinismo.............................................................................................. 18 2.1. A primeira idade média................................................................................ 18 2.2. Escolástica Tomista..................................................................................... 19 2.3. Reforma e Humanismo ................................................................................ 20 Capítulo 3 – Curiosidades ............................................................................................ 22    
  • 3. 3 Capítulo I – Agostinho Todos os que estudam Agostinho começam sua pesquisa pelo livro as Confissões. Porém esta obra não possui todo o arcabouço histórico necessário para uma boa análise, visto que a obra é uma confissão de fé que se desenvolve pela vida de Agostinho sem muitos detalhes históricos alheios a ele. Por isso esta apresentação da vida de Agostinho é guiada por autores que levaram em consideração a historicidade que a obra Confissões não traz. 1.1. Vida Aurelius Augustinus nasceu no ano de 354 em Tagaste, seu pai era pagão e sua mãe cristã1 . Ali conheceu o cristianismo, mas logo se decepcionou com algumas tentativas de entender a Sagrada Escritura. Em 370, Agostinho foi estudar em Cartago e teve contato com a obra Hortensius de Cícero, hoje perdido. Foi esta obra que lhe conferiu um profundo ardor na busca da verdade. Neste período se aproximou do maniqueísmo e nesta seita permaneceu por 9 ou 10 anos. Logo após sua conversão os maniqueus se tornaram inspiração para suas obras, principalmente alguns amigos que fizera na seita. Henri Marrou2 afirma que os seus “adversários” costumam argumentar que Agostinho conservou certo ressalvo do maniqueísmo. O Doutor da Graça se converteu em Milão, lugar em que conheceu Santo Ambrósio. Este contato provocou em Agostinho grandes inquietações intelectuais, este foi seu primeiro contato com o ambiente intelectual dos católicos, ainda que fosse apenas escutando as homilias de Ambrósio. Em 386 Agostinho é batizado e no retiro surgem suas primeiras obras: De Ordine(386), Solilóquios(387), Contra-Acadêmicos(386) e De Beata Vita(386). Marrou ressalta em sua introdução ao estudo de Agostinho que o agostinólogo deve ter um olhar carinhoso para o desenvolver da religião de Agostinho que vem pouco a pouco caminhando para uma profundidade mais madura em relação ao cristianismo.                                                                                                                           1 Santa Mônica 2 Fo um historiador francês especialista em cristianismo primitivo, especialmente em Agostinho.  
  • 4. 4 Em 391 foi ordenado sacerdote e mandado para Hipona. Entre 395 e 396 foi consagrado Bispo. Por fim, faleceu em 430, pouco antes da invasão dos bárbaros. 1.2. Obras Santo Agostinho é autor de 113 obras, 218 cartas, mais de 500 sermões. Foram necessários 20 anos para concluir os 15 livros sobre a Trindade, 13 ou 14 para concluir o Sobre o Gênesis ao Pé da Letra e os 22 da cidade de Deus foram aproximadamente 13 anos com o término poucos anos antes de sua morte. As obras em geral foram escritas com o incentivo de resolver problemas da época principalmente de desvios da sã doutrina católica. Estes problemas foram causados, em grandes proporções, por intepretações equivocadas das escrituras ou por influências de pensamentos do neoplatonismo que acabaram servindo de critérios para entender a mensagem de Cristo. Dentre esses grupos estavam os pagãos, astrólogos, arianos, donatistas, pelagianos, maniqueus e os judeus. Estes são os principais grupos por período: 387 – 400 X maniqueus3 400 – 412 X donatistas4 412 – 430 X Pelagianos5                                                                                                                           3 O maniqueísmo é uma religião sincretista, criada por Mani (216-277 d.c). Ele declarou ter tido uma visão de Buda, Zoroastro e Jesus. Esta ceita é movida pela ideia de uma batalha eterna entre a luz e as trevas, bem e mau, alma e corpo, ou seja, tudo que é ligado à matéria é ruim e é obra do Deus mau do Antigo Testamento, e o Deus bom do Novo testamento veio libertar as almas aprisionadas nos corpos. Esta religião (ou pensamento “filosofia gnóstica”) é alvo de muitas obras de Agostinho que fez parte desta ceita por um longo tempo. 4 O Donatismo é o movimento que surgiu na época das perseguições aos cristãos. Este cisma não aceitava que cristãos pudessem mentir para fugir do martírio e pudessem voltar à casa cristã. Assim também os sacerdotes que fugissem do martírio não eram tidos mais como ministros de sacramentos válidos. Neste processo eles começaram a se afirmar como a Igreja verdadeira e fiel, e ainda condenavam os católicos, que eles chamavam de infiéis, por aceitarem de volta na comunidade os cristãos menos corajosos. Constantino combateu a estes cismáticos com a força e o exílio, porém Agostinho tentou por muitas vezes pelo diálogo e disputas teológicas resolver o problema e alcançou bons resultados. Apesar dos esforços de Agostinho a ceita só desapareceu com a invasão dos vândalos. Resultados das disputas e escritos de Agostinho: A Igreja católica subsiste na Igreja de Cristo, e o Sacramento não depende da santidade do ministro. Ou seja só no ultimo dia é que saberemos que é joio e quem é trigo, e A graça supre qualquer deficiência causada pelo ministro que confere o Sacramento.
  • 5. 5 Por esta dedicação e grandiosa desenvoltura recebeu os seguintes títulos: Filósofo da essência, contra os maniqueus Doutor da Igreja, contra os donatistas Teólogo da história, contra os pagãos Campeão da Graça, contra os pelagianos Há de se ter muito cuidado com a visão por demais rigorosa de Agostinho e suas obras para que não se caia em alguns desvios como jansenismo, absolutismo hegeliano, cartesianismo, etc. Marrow aconselha o agostinólogo a procurar uma visão histórica do ambiente em torno de cada obra para que a pesquisa se torne imune a primeiras impressões equivocadas. 1.3. O Método de interiorização O Doutor da Graça usa de um método específico no que diz respeito ao conhecimento da verdade e na busca pela santidade. É nisso que vai caminhar o discurso dele sobre religião e os efeitos perceptíveis no homem, esta reflexão pode ser encontrada nas obras que ele trata do crescimento6 da alma e dos homens velho e novo. Agostinho começa a analisar os seres que possuem movimento, já que voltar a ser aquilo que era antes de tender ao nada parece completar o homem em suas aspirações mais íntimas. Por isso ele começa pelas plantas e nelas percebe o grau mais básico da animação, pois elas se alimentam da agua e da luz e conseguem distribuir os nutrientes de forma que todo o seu composto se mantém na vida. O segundo grau ele vê nos animais, pois têm aquilo que as plantas têm, mas potencializado pela sensibilidade, daí o movimento de evitar a dor e procurar o prazer por meio dos sentidos. O terceiro ele entende nos                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                       5 Foi criada por Pelágio (354 – 425 d.c). É doutrina de teologia cristã, não ortodoxa, que afirmava que o homem por sua livre vontade poderia alcançar a perfeição moral, ou seja, que ele sem a ajuda da graça poderia alcançar perfeição. Ele é o principal criador do problema entre liberdade e graça, visto que este tipo de pensamento mais acentua a autossuficiência humana, e a resposta que alguns radicais dão a isto depois de Agostinho é a negação completa da liberdade do homem, como aconteceu com Lutero para negar esta idéia, ou é a noção moderna de que o homem por si só faz ou entende seu fim pela ciência e suas capacidades racionais.   6 Qualitativo e não quantitativo.
  • 6. 6 homens, que tem o que os animais possuem, porém potencializado pela capacidade racional que proporciona o entendimento e grande criatividade, assim o homem pode, por exemplo, desenvolver a culinária e transmitir de forma que o outro não precise redescobrir os primeiros passos. O quarto já não diz respeito aos seres inferiores ao homem, pois esse necessita da capacidade racional de percepção de mundo própria do homem. Neste grau se encontram aqueles homens que percebem que os bens deste mundo não o satisfazem como ser humano e começa a menospreza-los em detrimento de bens superiores. Esse é o nível no qual o homem mais luta contra as sugestões do mundo. O quinto ele chama de constância, ou tranquilidade, é o grau que caracteriza certo domínio sobre os impulsos carnais, já não é mais a fase de resistir ao pecado, mas a de não consentir a ele. O sexto grau é quando o homem, após ter atingido a tranquilidade, percebe que dentre as coisas que consegue ver no mundo, com os olhos do corpo e os olhos da alma, ele se entende superior a todas elas e volta-se para conhecer a si mesmo e essa imensidão que há dentro de si. Ao olhar para si ele não encontra ainda o que lhe completa, mas vê que não é a si mesmo, seu amor próprio, que fará isto. Finalmente percebe que não é ele nem as coisas criadas que lhe irão completar, mas deve ser algo superior a tudo isto que percebe, algo que necessariamente deve existir, pois sem este nada disto seria (existiria), deve ser aquilo que lhe ordenou, a perfeição suprema da qual todas as coisas participam, Deus. Eis o sétimo grau, a contemplação da verdade, o próprio Deus, eis a religião, o religar-se. É aqui que ele vê que o homem pode contemplar a verdade, conhecendo o autor dela o ela mesma por essência, pois quem melhor para conhecer uma casa se não aquele que a projetou? Este método de Agostinho é excelente para mostrar ao homem que ele precisa de algo que é único, se não o homem pularia de bens em bens e isto não faz sentido7 já que nunca seria feliz plenamente. Também mostra que este Bem ultimo é superior a ele. Assim grandiosamente Agostinho prepara o homem para aderir a revelação, ao Cristo encarnado, o único que poderia restituir a humanidade na ligação perdida com o pecado se tornando ele                                                                                                                           7 Obra Natureza do Bem para entender melhor.
  • 7. 7 humano por nós, que sem a ajuda da graça não poderíamos seguir seus passos. Assim o método Agostiniano sempre seguirá a seguinte ordem: Do exterior para o interior, do interior para o superior. Para aqueles que quiserem conhecer um autor que é considerado a grande novidade em Santo Agostinho nos dias de hoje, procurem por Jean-Luk Marion. Este autor continua a reflexão de Agostinho sobre o sétimo grau da alma à luz da explicação do Hiponense sobre o salmo 37. Ele afirma que o sétimo grau da alma, a perfeição própria de Cristo se encontra na mediação e intercessão pelo povo de Deus. Ele afirma que o homem ao atingir este grau se confunde com cristo rezando no cristo cabeça pelos membros feridos pelo pecado. Também vale ressaltar que ele mostra que isto é necessário, pois se, como ele afirma, Cristo é o orador dos salmos, porque ele padeceria sofrimentos por causa dos pecados seus, se ele não teve pecado? A isto, Marion responde com a própria explicação de Agostinho mostrando que o Cristo cabeça pede ao Pai pela saúde de seus membros. 1.4. Temas importantes Vejamos alguns temas que são interessantes e sempre atuais tratados pelo Doutor da Graça. 1.4.1. O mal e a liberdade Agostinho não entende o mal como uma substância, algo que existe por si só, mas como uma tendência ao não ser, ou melhor, uma diminuição do ser ou do bem. Não existe mau8 , só existe mal, isso quer indicar que só há o mal moral, pois o que seria o mal, na verdade se mostra a corrupção, um afastamento do ser pleno ou falta do bem devido. Assim o mal só acontece pelo mau uso da liberdade no modo em que se age na ordem. Acima de tudo é importante saber que o que se diz mal está na verdade presente somente nas naturezas boas e mesmo desse mal Deus consegue tirar um bem maior. No                                                                                                                           8  Substância.  
  • 8. 8 livro A Natureza do Bem, e também algumas paginas do livro A Verdadeira Religião e do livro O Livre-Arbítrio, este pensamento esta bem desenvolvido. Quanto à liberdade, como pode ser percebido principalmente na obra O Livre Arbítrio, o Hiponense não entende apenas como optar por qualquer coisa que se tem vontade imediata, mas entende como liberdade optar pelo bem maior, porém para isso a vontade deve estar em ação conjunta com o intelecto, isso significa que para fazer uma escolha à razão precisa ter o conhecimento das opções de uma escolha para que possa optar pelo melhor. A ação livre do homem passa a depender da escolha do bem maior para que ele não se torne escravo dos bens menores que não o completam, mas o viciam na vontade de satisfazer seu desejo de infinito com bens passageiros. Assim a liberdade no homem se teria tornado a causa do mal no mundo, da diminuição de ser, porém, como vai mostrar Agostinho na obra, esta liberdade é um bem, apesar de ser meio também para a diminuição do ser. 1.4.2. O Cogito Agostiniano O Doutor da Graça, ao escrever contra os céticos da academia, ensina que a desvalorização absoluta dos sentidos é absurda e inaceitável 9 , mas usando ainda dos argumentos céticos ele desenvolve o chamado cogito agostiniano10 . Os céticos haviam colocado a capacidade de conhecimento do homem em questão afirmando que os sentidos iludiam, que uma consciência superior nos enganava e afirmavam a incerteza do sono e da vigília. Além de demonstrar a insustentabilidade destas afirmações na obra11 o Hiponense desenvolve seu cogito, onde ele relaciona a certeza da percepção da existência pelo intelecto a uma verdade da qual não se tem como duvidar. Este cogito pode ser encontrado também nos livros: O Livre Arbítrio II,3(7); A Trindade X, 10( 15-16); A Cidade De Deus XI, 26. 1.4.3. Razão X Fé e Ciência X Sabedoria                                                                                                                           9  A verdadeira Religião; Contra Acadêmicos.   10  Chamo de cogito agostiniano apenas para que não haja confusão com o cogito cartesiano, pois há semelhança.   11 Contra Acadêmicos traz isto, porém obras como A Verdadeira Religião , O Livre Arbítrio e A Doutrina cristã também comentam apesar da pouca ênfase no assunto.
  • 9. 9 Agostinho entende que o homem é capaz de dois modos de conhecimento, um superior e o outro inferior. O conhecimento cientifico- racional seria o conhecimento inferior, o qual serve de propedêutico para o superior. Este conhecimento tem por objeto as realidades temporais, que por sua vez se ordenam às coisas eternas. A sabedoria e a fé são todo o suplemento do conhecimento intelectual das realidades e verdades eternas, aquelas imutáveis. Sendo assim, o Hiponese entende as coisas divinas como objeto da fé e da sabedoria. “Assim a verdadeira sabedoria se identificará com a religião”12 . Razão e fé não seriam realidades contraditórias, mas complementares no pensamento de Agostinho. 1.4.4. A ordem do amor O amor é o impulso do sentimento que carrega a vontade e o intelecto para algo. O amor está presente no homem ontologicamente e em seu agir. Ele dirige o homem a quatro objetos: as coisas materiais, a ele mesmo e aos demais homens, e ainda as coisas superiores ao homem. O amor desordenado leva o homem a amar-se mais do que ao seu autor, afastando a si mesmo de sua felicidade por conta dos bens mutáveis e não eternos. O homem que ama desordenadamente a si e põe as coisas materiais como centro de sua vida facilmente se vê perturbado, pois não demora muito para que elas pereçam. Por exemplo, o dinheiro, ao ser roubado ou precisar gastar com sua saúde ele perde a segurança que o dinheiro lhe conferia. O homem que ama a si acima de tudo busca a atenção de todos, a fama, a realização profissional, todas as suas ações serão interesseiras no seu bem próprio e ele usará das outras pessoas para alcançar este objetivo. Por exemplo, um funcionário de uma empresa, nesta desordem interior, pisa nos outros e usa de seus colegas como degraus para subir na vida e garantir sua                                                                                                                           12 A Verdadeira Religião, 5.  
  • 10. 10 importância, ou os candidatos a cargos públicos que usam dos mais pobres e seu desespero para conseguirem estabilidade através dos seus votos. A única maneira de ser feliz segundo Agostinho deve passar primeiramente pelo amor a Deus acima de todas as coisas, pois sendo ele autor das coisas materiais e espirituais, e tendo em vista que as coisas espirituais são mais excelentes que as materiais, só Ele consegue conferir a devida ordem e indica-la ao homem para que este fortaleça sua busca pela felicidade. Assim, quando o homem amar a Deus13 sobre todas as coisas, todos os amores aos outros objetos são devidamente ordenados. Amando o seu criador acima de tudo o homem se descobre por meio de seu autor e ama a si como imagem e semelhança daquele que o fez. Ama o semelhante como alguém tão capaz de contemplar a Deus como ele mesmo. Ama, também, as coisas materiais, que são boas, mas na medida em que não atrapalhem seu direcionamento à felicidade e até de forma que proporcionem isso. Sobre o amor de si e das coisas não foi necessário que nos dessem preceitos, pois amamos a nós mesmos em tudo o que fazemos mesmo com o pecado e a nosso corpo, mesmo que essas coisas nos deem só prazer imediato. Quanto ao amor a Deus e ao próximo, foi necessário que Deus nos ajudasse por conta do pecado original, mas mesmo com este pecado ninguém pode deixar de amar a si mesmo e ao seu próprio corpo. 1.4.5. Provas da existência de Deus Deus não é um mero objeto científico, mas para Agostinho Deus é evidente para a razão humana por causa de seus efeitos. Por isso vejamos três argumentos da existência de Deus de forma desvinculada da revelação: a) Em suas confissões Agostinho demonstra a sua busca no sentido de si nas coisas exteriores. Porém logo passa ao interior, ali encontra sua alma, mas não a Deus. Aqui, ainda que a alma humana demonstre ser superior às demais coisas criadas, ele percebe que devia ter algo superior a todas estas coisas, inclusive a ele mesmo já                                                                                                                           13  Bem  Supremo,  Verdade  Absoluta,  Beleza  integra,  Pureza  Sublime  e  Inteligência  ordenadora.  
  • 11. 11 que ele não é causa de si, e mesmo se houvesse um ser acima dele que não fosse a causa ele devia ser causado por um ser mais superior ainda, e este ser superior só poderia ser Deus. b) Pela ordem do mundo. Todas as coisas possuem uma ordem e não são caos14 , por isso, como toda coisa ordenada pelo homem antes passou pela sua inteligência, a ordem do mundo, por conseguinte, deve ter sido projetada por uma inteligência superior e necessária, pois esta deveria ser para que tudo não fosse uma grande confusão. c) Pelas ideias de perfeição universais e participação nelas. As coisas são verdadeiras por participarem da verdade. O justo é participante da Justiça, pois bem, a multiplicidade não pode ser causa de si mesma ela precisa surgir de uma coisa única, por isso deve haver um ser único possuidor de todas as perfeições das quais todas as coisas participam. “Deus é a verdade por essência, a luz imutável, o principio eterno e a fonte de toda verdade. Todas as coisas são verdadeiras pelo ser e verdade que recebem de Deus.” (A Verdadeira Religião XXI 57; Confissões X 40). 1.4.6. A alma humana O Homem, segundo Agostinho, é composto de duas substâncias, misteriosamente formando um único composto, o corpo e a alma15 , sendo a alma superior ao corpo. A alma16 é quem conserva o corpo, dá o movimento e, especialmente no homem, potencializam as capacidades, que seriam de um animal, pela razão. Ainda que Agostinho entenda que corpo e alma subsistiriam de forma separada, afirma que esta unidade se faz misteriosamente necessária para que haja humanidade. Agostinho, apesar de usar meios neoplatônicos para desenvolver seu pensamento, não entende a alma como se fosse aprisionada no corpo, muito menos como coisa uma substância má. O Hiponense entende que a alma deve                                                                                                                           14 Pense em bagunça. 15 “Substância dotada de razão, apta a reger um corpo” (A Grandeza da Alma) 16 Agostinho fala da “alma”(animação) das plantas, dos animais e do homem. (A Grandeza da Alma)
  • 12. 12 aperfeiçoar o homem como um todo executando a ação de reger o corpo conservando-o em santidade. A alma não se desenvolve quantitativamente, mas qualitativamente. Ela guarda as impressões e as organiza em uma imagem17 e a guarda na memória. Por ela guardar na memória a essência, Agostinho também argumenta sobre a imortalidade da alma com o viés de que ela absorve a verdade pelo intelecto e assim esta fica presente na alma que contemplando a verdade absoluta permanece no ser mesmo sem o corpo. Quanto à origem da alma, Agostinho vê lógica no argumento de pré- existência da alma de Platão, Porém, reconhecendo a superioridade da revelação à racionalidade do homem, ele opta por aderir à afirmação de São Jerônimo de que a alma é criada e infundida no momento da concepção. Por isso é preciso cuidado com as afirmações de que existiríamos na mente de Deus. Se esta não for entendida na eternidade, e for entendida como ação decorrida em um tempo, grandes problemas podem surgir daí. Todas as ações de Deus devem ser entendidas em ato como expõe Santo Tomás, assim, pensamento e criação não são ações distintas, mas uma única ação. 1.4.7. Tempo e perseverança Há o tempo criado e há a eternidade, sendo que um é acidente da criação e o outro é uma realidade superior ao entendimento humano, que só corresponde a “inteligibilidade divina”. Esta reflexão nos abre duas óticas de entendimento sobre a predestinação, uma vê de dentro do tempo criado e outra de fora. Quando Agostinho fala deste dom ele se expressa com o esforço de olhar de fora do tempo criado, porém está revestido de aspectos do tempo que o limitam a dizer aquilo que gostaria de objetivar de forma simples. Quando Agostinho aborda tema da perseverança e o trata como um Dom dado por Deus, indica que só saberemos quem tem o Dom da perseverança quando morrermos, pois só então poderemos constatar se realmente fomos agraciados com o Dom da perseverança. O problema é que a partir desta estrutura de pensamento alguns começaram a afirmar que Deus já                                                                                                                           17  Pede  se  entender  como  conceito.  
  • 13. 13 cria homens destinados a serem salvos ou não, e ainda, Deus ao dar ou não este Dom estaria condenando ou salvando a pessoa para a eternidade. Por isso, se faz importante entender que quando se fala do Dom da perseverança final, se está relacionando com a ótica do kairós e quando se fala da oração que pede este dom e o desenvolvimento, ou não, deste dom na vida se refere a ótica do kronos. Quando nos colocamos em uma ótica “semelhante” a de Deus ainda não temos como ter a compreensão integral do entendimento, mas como se faz por analogia, se indica uma linha de raciocínio que nos aponta para um aspecto de uma determinada realidade, apesar dessa realidade vir se mostrando estar acima da capacidade de compreensão humana. 1.4.8. A interpretação das Escrituras Quanto à interpretação da Bíblia na Igreja, Santo Agostinho desenvolve um método de fazer teologia que garante ao Cristão fiel um conhecimento mais aprofundado de Deus sem se afastar da comunhão da Igreja. A primeira coisa é conhecer a Regra de fé, o credo da Igreja. Hoje temos um credo bem desenvolvido e aprofundado que nos ajuda muito mais a não nos desviarmos do que ensina a Santa Mãe Igreja, porém ainda que tenhamos muitas coisas específicas esta Regra de fé deriva desde a profissão de fé dos apóstolos. O segundo passo é a busca sincera por uma vida de santidade, assim o cristão deve buscar crescer nos graus da alma e garantir que o domínio de si seja suficiente para que ele não afirme simplesmente o que quer, mas o que a inspiração divina quis comunicar por meio da Escritura. Como resolver ambiguidade nos textos: Há de se tomar cuidado com a pontuação, pois o latim antigo18 carecia de fácil compreensão na pontuação já que não havia espaços entre as palavras. Também quanto a pronuncia havia a mesma problemática. Em vista de que algumas palavras eram semelhantes a outras na pronuncia, aquele eu copiava enquanto o outro ditava o que deveria ser escrito poderia ser mal                                                                                                                           18  O  mesmo  para  o  grego.  
  • 14. 14 entendido e poderia causar expressões e entendimentos diferentes até do texto original. Também algumas confusões em casos semelhantes do latim, pronunciação de vogais breves ou longas que não vinham com referência e etc. Para superar este problema Agostinho aconselha a consulta das línguas mais antigas, como grego e hebraico e por fim a consulta ao contexto conduzido pela Regra de fé. Quanto aos textos em sentido figurado: Não se tomem qualquer passagem da Escritura ao pé da letra, pois Deus falou pelos escritores sagrados por meio de suas capacidades, ou seja, eles ao comunicar a mensagem divina estavam cheios de seus aspectos culturais quando a colocaram por escrito. Não se busque entender a cultura do Antigo Testamento com o que se tem hoje como cultura, pois coisas naturais para a época hoje podem se escandalosas. Também se atente para os vários significados que uma palavra aponta. Deve-se buscar entender a intenção por trás do que está escrito. Ex.: “se tua mão direita te leva a pecar corta-a fora” (Mt 5, 30). Agostinho resgatou do pensamento de um leigo donatista algumas regras que “concertadas” podem ainda hoje ser usadas para melhor entender a Escritura e solucionar muitos problemas de interpretação. Regras resgatadas e Ticônio: 1- O senhor e seu corpo – é necessário entender o que na Escritura se refere à cabeça e o que se refere a seu corpo, ainda que haja aspectos aplicáveis a ambos. 2- O corpo do Senhor verdadeiro e o misto – Deve-se ficar atento quando uma passagem da escritura se refere à Igreja celeste ou à Igreja terrena, porém ainda na terrena pode estar se referindo a parte que caminha na santidade ou mesmo a parte que se encontra em pecado. Tem passagens que se referem aos bons e aos maus dentro da “rede”. 3- O Espírito e a Letra – Entenda-se que é a raça que dá sentido à vida dos mandamentos, onde a escritura falar de qualquer ação humana que dê a salvação ela pressupõe a ação da graça salvífica de Cristo. 4- Espécie e gênero – Refere-se à parte e ao todo. Pode se prescrever algo a uma cidade na escritura, e aplicar se referindo a toda cidade.
  • 15. 15 É o que foi usado para reconhecer algumas cartas de Paulo a algumas comunidades especificas como Escritura Sagrada e as integraram ao cânon bíblico. Porém deve-se ter cuidado do que é próprio da aplicação ao todo para que isto não seja aplicado à parte. A desobediência do povo na adoração aos ídolos, por exemplo, não pode ser aplicada a toda parte. 5- Os Tempos – Aplicação da parte ao todo e do todo à parte. Se dois evangelistas discordam sobre o tempo decorrido entre um acontecimento e outro. Ex.: o espaço de tempo entre um acontecimento e a transfiguração de Cristo no monte contado por dois evangelistas traz diferenças, um diz que são oito dias e outro que são seis. Considerando a possibilidade de medida de tempo, o problema se resolve com o entendimento de que um pode ter contado oito por contar meios dias e o outro seis por só considerar dias inteiros. Ou mesmo o que contou oito pode ter considerado as vésperas de dois dias como dias diferentes. 6- Recapitulação – A Escritura por vezes traz acontecimentos anteriores como subentendidos ao relatar algo, a recapitulação ajuda neste discernimento. Por exemplo, Gn 2,8 fala do paraíso que Deus fez com um lindo jardim onde colocou o homem que havia formado. Deus não fez o homem e o deixou flutuando até terminar o jardim, ele fez o jardim e lá pôs o homem. 7- O demônio e seu corpo – diz respeito à aplicação do que se diz ao demônio a seu corpo, os impiedosos. Entretanto, atente-se que nem tudo que se refere ao demônio se refere a seu corpo, e vice-versa. 1.4.9. Obras interessantes a) Sobre a Trindade – Esta obra foi incentivada a partir de um pedido do papa da época que tinha a esperança de que Agostinho respondesse às heresias que vinham surgindo. Nesta obra além de explorar a teologia trinitária Agostinho afirma a famosa relação de amor da santíssima trindade. Nesta obra também pode se ter noção de uma antropologia teológica pensada pelo hiponense. Temas
  • 16. 16 interessantes: Argumentação de Deus como causa primeira, de essência imutável; Deus uno e Trino; Inacessibilidade da Natureza Divina;  A analogia sobre a Trindade feita a partir das faculdades da alma humana: memória, inteligência e vontade. b) O Mestre Interior – Agostinho reflete em como se dá a comunicação e o entendimento de uma realidade e, ao fim da obra, ele demonstra que a mensagem divina não é entendida como ela realmente é, mas se faz compreensível graças ao mestre interior. Daqui ele mais uma vez afirma a eficácia e prioridade de uma vida piedosa. Apesar de a filosofia da linguagem ter surgido no século XIX, nesta obra de Agostinho pode-se perceber reflexões sobre muitos aspectos que a filosofia da linguagem tem como foco. c) A Cidade de Deus – Com uma intenção apologética, Agostinho escreveu esta vasta obra que serviu de inspiração para a civilização europeia posteriormente. O objetivo principal era defender o cristianismo da acusação de favorecer a queda de Roma argumentando contra discursos de que o cristianismo estaria “enfraquecendo” o império romano com suas doutrinas. Porém o Teólogo da história mostra que a ordenação da vida a partir do amor de Deus faz a sociedade prosperar em excelência, ordem e virtudes, por outro lado, uma sociedade que é conduzida pelo egoísmo e amor desordenado das coisas materiais só poderia cair em ruinas. d) Doutrina Cristã – Agostinho desenvolve um método seguro de interpretação e pregação para a Sagrada Escritura usando como base a profissão de fé da Tradição e indicando a ordenação interior do interprete. Esta obra é repleta do pensamento do Doutor da graça sobre os mais variados temas que ele trabalha em diferentes obras. Nesta obra ele desenvolve um método seguro de interpretação da Sagrada Escritura tendo como limite a Regula Fidei, a vida de Santidade e as regras de Ticônio adaptadas. e) Sobre a potencialidade da alma (ou Grandeza da alma) – Esta obra é uma reflexão sobre aspectos referentes à alma como: origem, natureza, como ela é, como se une ao corpo, sua Ascenção e graduação e sua “quantidade”.
  • 17. 17 f) A Verdadeira Religião – Agostinho tenta, por meio deste escrito, resgatar seu amigo Romaniano do maniqueísmo. Esta é uma das obras em que deixa claro seu pensamento de que a fé é superior e suplementar à razão sem rejeita-la. Aqui também ele declara que a fé é um dom e não uma coisa que se constrói como pensava no período próximo de sua conversão.
  • 18. 18 Capitulo 2 – Agostinismo Agostinho se torna pai da teologia no ocidente por oferecer uma teologia a modo próprio sem deixar de ser completa e autônoma. A escolástica destaca no grupo dos maiores doutores da igreja: Santo Agostinho, Santo Ambrósio, São Jerônimo e São Gregório Magno. O lugar de honra, porém, é de Agostinho. Mais tarde na Espanha, Isidoro de Sevilha é o primeiro a tratar Agostinho como o maior dos Padres da Igreja. Na Itália, também, São Gregório Magno se utiliza de um agostinismo adaptado à situação do povo conferindo a ele uma roupagem mais simples. Na espiritualidade, inclusive, domina a linguagem agostiniana. Um texto famoso que perdurou muito tempo com grande importância, inclusive para a organização de mosteiros, foi a regra de Santo Agostinho. 2.1. A primeira idade média Este período é fortemente influenciado pelo pensamento de Agostinho, Boécio e do pseudo-Dionísio na formação da cultura, porém quase tudo vem de Agostinho. Neste período já podem ser percebidos desvios do pensamento de Agostinho, como com Gottschalk, um monge que viveu entre os anos de 803 e 869 d.c. Ele foi atraído a ler apenas as paginas de fácil compreensão das obras do Doutor da Graça e acabou afirmando uma teoria de dupla predestinação onde Deus criaria alguns homens pelo prazer de condená-los. Não houve apenas Gottschalk, mas houve teóricos da cultura cristã como Alcuíno e Carlos Magno que também, por meio de pequenos desvios da origem da ideia acabaram por causar problemas na construção da sociedade de então. No século IX volta-se a Agostinho, em grandes medidas A Cidade de Deus era a inspiração da construção desta sociedade e formação política europeia. Mas toda a abordagem que se fazia de Agostinho era limitado a um olhar marcado pela teologia escolástica. Neste período Agostinho serve de inspiração para Santo Anselmo, São Pedro Damião, Abelardo e São Boaventura, grandes nomes deste período. Também neste período usam  
  • 19. 19 Agostinho para fundamentar um espiritualismo exagerado em contra posição a então considerada racionalização teológica. 2.2. Escolástica Tomista Com a chegada de novos materiais filosóficos ao ocidente, Aristóteles que era pouco conhecido, passa a ser lido e ganha espaço. Porém tanto com os escritos de Aristóteles quanto com os de Agostinho apareciam obras que foram escritas por eles e obras que circulavam como se fossem deles, mas que nunca foram escritas por eles19 . Estas obras vinham junto com comentadores judeus e muçulmanos ,segundo Marrou, o que poderia explicar interpretações antagônicas de um mesmo texto. Henri Marrou afirma que Santo Tomás de Aquino conseguiu assimilar perfeitamente o agostinismo e o aristotelismo. Mesmo assim o nome de Agostinho e seus escritos foram tomados posteriormente como forma de anti- tomismo, pelos franciscanos principalmente. É importante ressaltar que o agostinismo de Aviscena20 , segundo Marrou, estava completamente impregnado pelo neoplatonismo e trouxe entendimentos equivocados como o do Deus iluminador de Agostinho entendido como intelecto agente separado de Aristóteles. É contra este agostinismo avicenizante e o aristotelismo averroista que Tomás acaba se opondo. Nesta história do agostinismo franciscano surge a ordem dos eremitas de Santo Agostinho de onde surgiram: Gregório de Rimini21 e Guilherme de Ockham22 . Rimini caiu nas graças de Lutero por sustentar uma doutrina contrária a da maioria dos agostinianos e Ockham, por sua vez, contribuiu para                                                                                                                           19 É o caso da obra Florilégios lida por Lutero, que na verdade era um tipo de resumo da obra O Espírito e a Letra que mudava completamente o sentido da hermenêutica bíblica proposta por Agostinho. 20 Filósofo e médico islâmico que aproximou as filosofias neoplatônicas e Aristótélicas com a dialética islâmica. Contribuiu muito para a metafísica. 21 Filósofo e monge italiano, viveu entre 1300 e 1358, foi considerado defensor da tradição e fiel interprete de Agostinho em meio ao ceticismo levantado por Ockham em relação ao que poderia ser conhecido em física e teologia. Ele também se esforçou para garantir a primazia da graça sobre o agir humano. 22 Filósofo escolástico inglês, viveu entre 1285 e 1347, foi o pai do nominalismo. Acusado de supostamente ter produzido cinquenta e uma teses heréticas sujeitas a censura. Acusou João XXII de não ser o papa verdadeiro por conta de concessões de papas anteriores sobre a pobreza coletiva serem muito mais numerosas. Ele se considerou o verdadeiro interprete de Aristóteles nas questões metafisicas. Este filósofo é muito importante pois dele há uma quebra de movimento filosófico, vale a pena pesquisar sobre sua filosofia e teologia.
  • 20. 20 a queda da metafísica, negando os universais23 e supervalorizando os particulares24 no conhecimento humano. Duas correntes de agostinismo perpassaram esse tempo, o agostinismo moderado que permaneceu fiel à comunhão católica e o agostinismo rígido que resultou na heresia da predestinação. 2.3. Reforma e Humanismo Este período é marcado pelo embate entre as duas correntes de agostinismo. A reforma teológica, impulsionada pela corrente agostiniana rigorosa no Concilio de Trento, propunha alterações nos seguintes tópicos: *pecado original *concupiscência25 *Impotência do homem *A graça e a fé justificam o homem. Além da discussão de dogmas, também se fez necessário uma renovação na espiritualidade e na mística com base no Doutor da graça. O próprio humanismo fora usado ora como aliado, ora como adversário. Facilmente neste período se encontrará o uso dos Padres da Igreja como oposição ao Tomismo. Este período também é caracterizado pela tentativa de separação das verdadeiras obras de Agostinho das “apócrifas”. O século XVII é preenchido por Agostinho, Pascal26 , por exemplo, comenta Agostinho, porém não chegou a ler suas obras, ele só teve acesso a seu pensamento através de Montaigne, que por sua vez leu A Cidade e Deus e os escritos de Jansênio27 .                                                                                                                           23 Idéias formadas na mente pelo intelecto ao conhecer algo, idéia que futuramente é aplicada em novas experiências. 24 A experiência do objeto individual independente de qualquer afirmação de uma essência.   25 Desejo libertino, lascívia carnal, como era entendido por Agostinho( de maneira bem simplória, é claro) 26 Filósofo francês, que viveu entre 1623 e 1662, era conhecido por sua grande capacidade intelectual. Ele usou do ceticismo de forma positiva. Apesar de afirmar que não se pode provar a existência de Deus ele tenta demonstrar a racionalidade da fé cristã pelo poder explicativo de suas doutrinas, particularmente a do pecado original. 27 Cornelius Jansen (1585 – 1638) causou uma complicação no que diz respeito a relação graça e liberdade do homem em uma equivocada refutação de Agostinho aos Pelagianos.
  • 21. 21 René Descartes28 teve acesso a raciocínios e ao cogito de Agostinho por meio de Mersene29 e Arnauld30 , isto se refletiu no Discurso do método e sobre as meditações metafísicas. Não se pode afirmar que Descartes tenha tido acesso aos escritos de Agostinho, apesar de por pouco não afirmarem que a descoberta de Descartes não era realmente descoberta devido à conformidade com escritos de Agostinho. O próprio Pascal sem ter lido Agostinho no original, percebeu que a doutrina cartesiana se apresentava como um prolongamento do agostinianismo. Daqui em diante Agostinho passa a ser, não só Doutor da Igreja e mestre espiritual, mas filósofo respeitado principalmente no que diz respeito ao homem. Outro teólogo interessante é o Padre André Martin que usa da doutrina de Agostinho, para afirmar de forma pretenciosa que os animais não possuem alma. Marrou resume a modernidade em geral da seguinte forma em seu livro de introdução ao agostinismo: “É o próprio agostinismo a engendrar discípulos que, por uma fidelidade que poderíamos chamar de excessiva, exorbitam e transformam deformando a própria doutrina de Santo Agostinho”.31                                                                                                                           28 Filósofo e matemático francês, viveu entre 1596 e 1650. Este filósofo tem sua doutrina muito semelhante a Agostinho, vale pena a leitura de suas obras e compara-las com o que Agostinho escrevera em Contra os Acadêmicos. 29 Sacerdote francês, viveu entre 1588 e 1648. Ele compilou uma grande diversidade e obras. Manteve contato por correspondência com Galileu. Suas obras são basicamente refutação e exortação a deístas, ateus, libertinos e céticos. 30 Teólogo e filosofo francês ligado ao movimento jansenista. Viveu entre 1612 e 1694. Sua teologia defende a primazia da graça na ação humana. Por meio, também, deste pensador o jansenismo foi visto como extensão da reforma protestante. 31  MARROW, Henri. Santo Agostinho e o agostinismo. Rio de Janeiro: Agir, 1957. pag. 174.  
  • 22. 22 Capítulo 3 – Curiosidades Aqui estão apresentados alguns temas interessantes em pontos específicos e normalmente problemáticos para fomentar o interesse: 1- Para aqueles que quiserem entender alguns pensamentos de origem protestante que afirmam que a graça32 não pressupõe a natureza33 pode pesquisar sobre Miguel de Bay (1513 – 1589). É um jansênico eu se gabava por ter lido 70 vezes os escritos e Agostinho sobre a graça. Porém neste meio também estavam às obras “apócrifas” de pessoas que atribuíram a Agostinho. 2- Para quem já ouviu falar que Agostinho promove um dualismo pessimista semelhante ao construído pelos neoplatônicos, aquele que afirma que o corpo é algo ruim do qual o homem deve se libertar, para a possível refutação, podem começar sua pesquisa lendo as seguintes obras: Doutrina Cristã; Sobre a Grandeza da Alma; A natureza do bem; A verdadeira religião. Nestas obras encontrarão argumentos de Agostinho contrários a este pensamento pessimista sobre o corpo. 3- Para quem quiser conhecer como a modernidade aplica a filosofia de Agostinho em um começo de uma proposta de organização da sociedade, desacompanhada da tradição e revelação proporcionadas pelo cristianismo, pode pesquisar a adaptação construída por John Locke. 4- Aqueles que quiserem entender de onde surgiram as ideias de Lutero na reforma da doutrina cristã podem começar lendo a obra O espírito e a Letra e depois pesquisando o resumo desta mesma obra que foi                                                                                                                           32 Segundo o catecismo da Igreja católica, “A graça é o dom gratuito que Deus nos faz de sua vida infundida pelo Espírito Santo em nossa alma, para curá-la do pecado e santifica-la; trata- se da graça santificante ou deificante, recebida no batismo. Em nós ela é fonte da obra santificadora [...] ‘pois começa, com sua intervenção, fazendo com que nós queiramos e acaba cooperando com as moções de nossa vontade já convertida’(Santo Agostinho)” 33 Ainda que a natureza humana esteja doente por conta do pecado original ela ainda goza de liberdade , a graça não escraviza a vontade do homem, ela a purifica mas o homem ainda é livre para escolher ser realmente livre ou ficar no que o mundo afirma como liberdade, que acaba por encerrar na simples escolhas de opções momentaneamente aprazíveis. O CIC afirma que “A graça de Cristo não entra em concorrência com a nossa liberdade quando esta corresponde ao sentido da verdade e do bem que Deus colocou no coração do homem”    
  • 23. 23 lida por Lutero conhecida como florilégios. Neste resumo se omitiu todo o entendimento do que Agostinho quis comunicar sobre o Espírito. Com esta omissão o entendimento da escritura com a segurança do que é oferecido pela tradição ficou de lado, e isto proporcionou uma abertura para interpretações livres da Sagrada Escritura. Esta postura foi abominada pelo próprio Agostinho, que demonstra os perigos deste tipo de desvinculação da tradição no seu livro original. 5- A partir da leitura da obra A predestinação dos santos, muitos comentadores começaram a entender que Agostinho eliminou a participação do homem na sua salvação, pois esta obra mostra que só aqueles que recebem o dom da perseverança final é que mão para a vida da bem aventurança. Porém este tipo de entendimento de um tema completamente desvinculado de todo o pensamento do autor, como já foi suscitado anteriormente, causa muitos problemas. No final do livro As Confissões de Santo Agostinho há uma teoria muito interessante sobre o tempo. 6- A contribuição agostinista para o desenvolvimento da ciência moderna pode ser vista da obra As raízes medievais do pensamento moderno de Alessandro Ghisalberti. Nessa obra são listadas as contribuições principalmente de Duns Scotus, Guilherme de Ockham e João Buridano.
  • 24. 24 REFERÊNCIAS FRAILE, Guillermo. História de La filosofia II: El cristianismo y La filosofía patrística. Madrid: Biblioteca de autores cristianos, 1975. GILSON, Étienne. Introdução ao estudo de Santo Agostinho. São Paulo: Paulus, 2010. MARROW, Henri. Santo Agostinho e o agostinismo. Rio de Janeiro: Agir, 1957. PIERRARD, Pierre. História da igreja católica. Tradução Serafim Ferreira. Lisboa: Planeta Editora, 2002. BETTENCOURT, Dom Estevão. História da Higreja – Escola Mater Eclésiae. SARANYANA, Josep-Ignasi. A Filosofia Medieval. São Paulo: Instituto Brasileiro de Filosofia e Ciência, 2006. Referências de conteúdo AGOSTINHO, Santo. A Doutrina Cristã. 3 ed. São Paulo: Paulus, 2011. ______. A Graça e a Liberdade; A Correção e a Graça; A Predestinação dos Santos; O Dom da Perseverança. 3 ed. São Paulo: Paulus, 2010. ______. A Natureza do Bem. Rio de Janeiro: Sétimo Selo. 2005. ______. Comentário ao gênesis. São Paulo: Paulus, 2005. ______. Confissões. São Paulo: Paulus, 1997. ______. Contra os acadêmicos; A grandeza da alma; O mestre; A ordem. São Paulo: Paulus, 2008. ______. O Espírito e a Letra; A Natureza e a Graça; A Graça de Cristo e o Pecado Original. 4. ed. São Paulo; Paulus:, 2011. ______. O Livre-arbítrio. 6. ed. São Paulo: Paulus, 2011. ______. Sobre a potencialidade da alma. 3. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2012. ______. Sobre a Trindade. 4. ed. São Paulo: Paulus, , 2008. ______. Solilóquios e a Vida Feliz. São Paulo: Paulus, 1998. ______. A Verdadeira Religião; O Cuidado devido aos Mortos. 2. ed. São Paulo: Paulus, 2007. Bibliografia auxiliar
  • 25. 25 AUDI, Robert. Dicionário de Filosofía de Cambridge. São Paulo: Paulus, 2006. MOLINARO, Aniceto. Léxico de Metafísica. São Paulo: Paulus, 2000.