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Organizado por Rubens Raniery Fernandes Gomes
Bacharel em Filosofia pela PUC-Rio
Rio de Janeiro, 2014.
1
“Nossa razão deve amparar a nossa fé, sempre com
a reserva de não imaginar que por si só, pela força
que pode alcançar, lhe seja dado adquirir essa
ciência sobrenatural que provém de Deus.”
(Michel de Montaigne)
2
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 4
1 O CONTEXTO HISTÓRICO 6
1.1. O RENASCIMENTO CULTURAL 6
1.2. AS REFORMAS RELIGIOSAS 7
1.3. A REVOLUÇÃO CIENTÍFICA 9
1.4. A CRISE DA ESCOLÁSTICA 9
2 OS PRINCIPAIS PERÍODOS E CORRENTES 11
2.1. OS PERÍODOS MARCANTES DA FILOSOFIA MODERNA 11
2.1.1. O Iluminismo 11
2.1.2. O Humanismo 11
2.2. AS CORRENTES FILOSÓFICAS NA FILOSOFIA MODERNA 12
2.2.1. O Racionalismo 12
2.2.2. O Ceticismo 13
2.2.3. O Empirismo 13
2.2.4. O Idealismo 14
2.2.5. O Criticismo 14
3 OS PENSADORES 16
3.1. O RENASCIMENTO 16
3.1.1 Niccolò di Bernardo dei Machiavelli (1469-1527) 17
Principais pensamentos 17
3.1.2 Michel Eyquem de Montaigne (1533-1592) 18
Principais pensamentos 19
I. Fideísmo 19
II. Ceticismo 19
3.1.3 Giordano Bruno(1548-1600) 20
Principais pensamentos 20
3.2. IDADE MODERNA 22
3.2.1 Francis Bacon (1561-1626) 23
Principais pensamentos 24
I. Teoria dos Ídolos 24
II. Teoria dos Métodos Científicos 24
3.2.2 René Descartes (1596-1650) 25
Principais pensamentos 25
I. O Discurso do Método 25
II. A realidade e as substâncias 26
III. Meditações Metafísicas e o solipsismo 26
3.2.3 Blaise Pascal (1623-1662) 27
Principais pensamentos 27
I. A miséria da dignidade do homem 27
II. Os Espíritos 28
3.2.4 John Locke (1632-1704) 29
Principais pensamentos 30
3.2.5 Baruch Spinoza (1632-1677) 31
3
Principais pensamentos 31
I. Deus como única substância 31
II. A religião 32
3.2.6 Gottfried Willhelm Leibniz (1646-1716) 32
Principais pensamentos 33
I. Leibniz e seus predecessores 33
II. A monadologia 33
III. O discurso metafísico 34
3.2.7 David Hume (1711-1776) 35
Principais pensamentos 36
3.2.8 Jean-Jacques Rousseau (1717-1778) 37
Principais pensamentos 37
I. O Pacto Social 37
II. A educação 38
3.2.9 Immanuel Kant (1724-1804) 38
Principais pensamentos 40
I. A doutrina do conhecimento 40
II. Os juízos 41
III. A moral e a metafísica kantiana 42
REFERÊNCIAS 44
ANEXO I: ATA DE EXCOMUNHÃO DE BARUCH SPINOZA 46
ANEXO II: O ESQUEMA DO PROCESSO DO CONHECIMENTO EM KANT 47
4
INTRODUÇÃO
A Filosofia Moderna é um período da história da filosofia marcado por grandes
transformações culturais, influenciando diretamente no pensamento da sociedade. Foi um
período da história em que, os pensadores que ali surgiam, buscavam a libertação do sistema
político e religioso que até a Idade Média governada com pulso de ferro à produção
intelectual-político-socal.
A Filosofia Moderna transformou o pensamento e ao mesmo tempo se transformou.
Transformou o pensamento elaborando novos métodos para o conhecimento, uma ciência
moderna, ao passo que se transformou, pois de toda a história da filosofia, visto que foi ela
que mais passou por diversidades intelectuais e históricas. As transformações histórico-
sociais tais como o Renascimento, em especial a retomada de Platão e Aristóteles sob um
ponto de vista distinto da Escolástica e do medievo, foram essenciais para a nova época. Por
conseguinte, o cientificismo, a supervalorização da experiência, indo de contraposição ao
dogmatismo e a metafísica clássica, foi o estopim para o rompimento com o pensamento, que
até então dominava. A modernidade passa a supervalorizar o homem e seus atributos, a
liberdade e a razão, como medida para obter o conhecimento das coisas ao seu redor,
diferentemente do período medievo, no qual a religião depositava as respostas em Deus.
Abrem-se as portas para o ceticismo, o qual se tornou o maior ponto de partida da
mudança de época, para o racionalismo e o empirismo, que foram grandes paradigmas deste
período. As produções científicas, o humanismo e a razão acima de todas as coisas, foram
elementos que contribuíram para que esse período fosse diverso em ideologias e doutrinas
marcantes ao mesmo tempo muito diversas para um mesmo momento histórico. Todas
possuíam um único objetivo, delimitar a capacidade de conhecimento do homem através da
gnosiologia, a epistemologia e a ontologia, em síntese, a teoria do conhecimento.
Grandes nomes renomados passaram pela modernidade, que giram do renascimento
com artistas humanistas, século XIV, e se estende até o idealismo as portas da
contemporaneidade, século XVIII. Passando pelos renascentistas humanistas, Erasmo de
Roterdã e Dante Alighieri, os cientistas Galileu Galilei e Giordano Bruno, os céticos Michel
de Montaigne e Blaise Pascal, os racionalistas René Descartes e G. W. Leibniz, os empiristas
Tomas Hobbes e John Locke, os políticos Nicolau Maquiavel e J.-J. Rousseau e sintetizando
todo o pensamento moderno em Immanuel Kant.
Este curso tem como objetivo um panorama histórico-político da Filosofia Moderna
em seus elementos constitutivos, entretanto, o mesmo não pretende esgotar todo o conteúdo
5
da tal filosofia e nem pretende abordar todos os pensadores, mas demarcar em uma linha
histórica seus limites, características e importâncias para a história.
6
1 O CONTEXTO HISTÓRICO
A Filosofia Moderna representa um período da história da filosofia que se inicia a
partir do século XIV se estende até o século XVIII. Historicamente a Idade Moderna só tem
inicio no século XVII após o enfraquecimento da Igreja com o período do Renascimento
Cultural. Entretanto, o Renascimento não se trata de um período propriamente histórico, mas
um movimento cultural, e por esse ir de oposição ao período medievo, passa a ser considerado
pré-modernidade, isto é, dentro da história como modernidade.
A Filosofia Moderna é marcada pelo rompimento com a ideia proposta pela
Escolástica e pelos pensadores medievos, isto é, Deus está no centro de todas as coisas e é a
única medida de todas as coisas. Ao invés disso, dá-se lugar a racionalidade e os métodos
científicos como fontes únicas para o saber e colocando o homem no centro do mundo a partir
das concepções dadas pelo humanismo e dos demais elementos que contribuíram para a
mudança do período: a queda da Escolástica, as reformas religiosas e científicas.
O rompimento com a metafísica é outra característica própria e principal do período,
derrubando, assim, os pressupostos metafísicos, eliminando a religião e a ética, no seu sentido
clássico. A proposta de todos os movimentos filosóficos da época é derrubar a religião que
tem Deus como seu centro e passar a valorizar o homem colocando-o como regra para todas
as coisas. O fato não é se preocupar em provar que Deus não exista, característica da
contemporaneidade e pós-modernidade, mas que o sistema religioso estava corrompido.
1.1. O Renascimento Cultural
O Renascimento Cultural do inicio do século XIV marca a redescoberta da cultura
Greco-romana pagã em oposição à cultura cristã medieval. Trata-se de um período da história
europeia que está localizado entre a Idade Medieva e o Iluminismo. O humanismo foi a
principal característica deste período, no qual a redescoberta do homem e o seu supervalorizar
tornaram-se o centro de todo o pensamento do período. Todo humanista valorizava o homem
como imago Dei, assim, retirou-se Deus do centro do mundo e passou a colocar o homem no
mesmo, abrindo-se mão do teocentrismo1
escolástico passando para um antropocentrismo2
.
O homem passou a parar de pensar com a cabeça da Igreja e da sua Escolástica e
passou a valorizar a sua própria razão, não era mais Deus que dava as respostas ao homem e
sim à razão. Tratava-se de uma nova leitura do homem na história, não mais a partir do que a
1
Teocentrismo = θεóς (Deus) + κέντρον (centro).
2
Antropocentrismo = άνθρωπος (humano) + κέντρον (centro).
7
Igreja apresentava, mas sim o homem fazendo a sua história. Retomando, assim, na ética, na
moral, na economia, na política e na arte, as ideias do platonismo, aristotelismo, ceticismo,
epicurismo e estoicismo. Os autores do Renascimento utilizavam as mesmas fontes histórias
que os autores medievos, entretanto, passaram a refletir modificando o centro do
conhecimento, de Deus para o homem. Em si, o Renascimento não possui muita produção
filosófica crítica de muita relevância, os escritores da época são bem mais conhecidos por sua
literatura do que pelas inovações trazidas, trata-se de um período de transição para a
modernidade.
O Renascimento teria sido época de grande efervescência intelectual e artística, de
grande paixão pelas novas descobertas quanto à Natureza e ao Homem, de
redescobertas do saber greco-romano liberado da crosta interpretativa com que o
cristianismo medieval o recobrira, de desejo de demolir tudo quanto viera do
passado, desejo favorecido tanto pela chamada Devoção Moderna (a tentativa de
reformar a religião católica romana sem romper com a autoridade papal) quanto pela
Reforma Protestante e pelas guerras de religião, que abalaram a ideia de unidade
europeia como unidade político-religiosa e abriram as portas para o surgimento dos
Estados Territoriais Modernos.3
1.2. As Reformas religiosas
A crise religiosa floresceu por volta do século XVI e veio trazer à tona realidades que
já estava ocorrendo em toda a Europa e que a Igreja tentava lutar contra. Tratava-se de um
tentar descentralizar da Igreja o poder que a mesma tinha bem como modificar a perspectiva
de mundo e seus fenômenos que estavam atrelados a doutrinas da mesma. Em um primeiro
momento, indo de encontro com os dogmas de fé e posteriormente com a própria estrutura
hierárquica da mesma.
A Igreja assume um lugar de grande importância e destaque na história e passa reter
em si uma potência política e religiosa, a qual tinha poderes para colocar no trono um rei e ao
mesmo tempo depô-lo. A integração entre Igreja e Estado era muito bem clara e vê-se
nitidamente nas Inquisições. Portanto,
O mundo cristão europeu cinde-se de alto a baixo em novas ortodoxias (luteranismo,
calvinismo, anglicanismo, puritanismo) e em novas heterodoxias (anabatistas,
menonitas, quakers, os "cristãos sem igreja"). As lutas religiosas não ocorrem
apenas entre católicos e reformados, mas também entre estes últimos e
particularmente entre eles e as pequenas seitas radicais e libertárias que serão
freqüentemente dizimadas, com violência descomunal. 4
3
SHAUÍ, Marilena. Filosofia Moderna. São Paulo: USP, 2000. Disponível em:
<http://www.chasqueweb.ufrgs.br/~slomp/filosofia/chaui-filosofia-moderna.htm>.
4
Ibidem.
8
Assim, pode-se dizer que os maiores movimentos de crítica à religião se iniciam neste
período, ao menos os pensamentos, e irão aflorar por volta do século XVII com as criticas, em
geral, racionalistas do fenômeno religioso5
. O método de leitura da Sagrada Escritura também
foi questionado e a partir deste período, a proposta de novas traduções e interpretações da
Sagrada Escritura contribuiu fortemente para um rompimento de muitos com a Igreja e
principalmente em crises com o próprio Estado. Tudo isso tendo em vista descentralizar da
Igreja Romana o poder absoluto, o qual a mesma estava se aproveitando de forma não
condizente com as verdades contidas nas Escrituras.
Modifica-se a maneira de ler e interpretar a Bíblia, modifica-se a relação entre
religião e política: todos devem ter o direito de ler o Livro Santo e nele Deus não
declarou que a monarquia é o melhor dos regimes políticos. Dois resultados
culturais decorrem dessa nova atitude: por um lado, o desenvolvimento de escolas
protestantes para alfabetização dos fiéis, para que possam ler a Bíblia e escrever
sobre suas próprias experiências religiosas, divulgando a nova e verdadeira fé (a
panfletagem será uma das marcas características da Reforma, que produziu uma
população alfabetizada); por outro lado, na fase inicial do protestantismo (que seria
suplantada quando algumas seitas triunfassem e se tornassem dominantes), a defesa
da ideia de comunidade, de república popular ou aristocrática e do direito político à
resistência, isto é, da desobediência civil face ao papado e aos reis e imperadores
católicos.6
A chamada Reforma Protestante que na verdade abarcou muito mais do que se pode
imaginar, foram transformações mais do que religiosas, foram, ao mesmo tempo, reformas
políticas e sociais. Destacam-se dentro deste período os protestantes, os quais se desdobraram
nas Reformas Luterana (1521), Calvinista (1534) e Anglicana (1534). Entretanto, as
consequências destes rompimentos foram muito grandes para a sociedade que entrava em
crise.
Em primeiro lugar, crise da consciência, pois a descoberta do universo infinito por
homens como Giordano Bruno deixava os seres humanos sem referência e sem
centro; em segundo lugar, crise religiosa, pois tanto a Devoção Moderna quanto a
Reforma Protestante criaram infinidade de tendências, seitas, igrejas e interpretações
da Sagrada Escritura, dos dogmas e dos sacramentos, de modo que a referência à
ideia de Cristandade, central desde Carlos Magno, se perdera; em terceiro lugar,
crise política, pois a ruptura do centro cósmico (o universo é infinito), a perda do
centro religioso (o papado), a perda do centro teórico (geocentrismo, aristotelismo
tomista, mundo hierárquico de seres e de ideias) foi também a perda do centro
político (o Sacro Império Romano Germânico destroçado pelos reinos modernos
independentes e pelas cidades burguesas do capitalismo em expansão) e de suas
instituições (papa, imperador, Direito Romano, Direito Canônico, relações sociais
determinadas pela hierarquia da vassalagem entre os nobres e pela clara divisão
entre senhores e servos, das relações econômicas definidas pela posse da terra e pela
5
Em destaque: René Descartes (1596-1650), Blaise Pascal (1623-1662), Baruch Spinoza (1632-1677) e
Immanuel Kant (1724-1804).
6
SHAUÍ, Marilena. Filosofia Moderna. São Paulo: USP, 2000. Disponível em:
<http://www.chasqueweb.ufrgs.br/~slomp/filosofia/chaui-filosofia-moderna.htm>.
9
agricultura e pastoreio, com o artesanato urbano apenas subsidiário para o pequeno
comércio dos burgos).7
Com efeito, a Igreja de Roma também se deu o direito de defesa, principalmente se
preocupando no avanço do protestantismo e na grande perda do povo, desta forma, a mesma
propõe uma Contra Reforma, convocando o Concílio de Trento para discutir essa situação
chegando as seguintes conclusões sobre este assunto: a reforma da Congregação da Sacra,
Romana e Universal Inquisição do Santo Ofício; a criação do Index Librorium Proibitorium e
fechamento do cânon; e a preocupação com a evangelização e catequese dos colonos pelos
jesuítas.
1.3. A Revolução Científica
Para o período em questão, as novas descobertas científicas participam de um
movimento chamado de Renascimento Científico, pois o nome Revolução Científica é mais
atual, do início do século XX. O Renascimento científico deve ser olhado sobre a perspectiva
do Renascimento Cultural, o homem buscando encontrar respostas por si mesmo e não
esperando que a Igreja os dê. Por consequência, pode-se atestar uma mudança na intenção e
na busca do conhecimento, trata-se de um período de grandes descobertas experimentais que
foram possibilitadas devido aos estudos mais profundos, saindo das grandes bibliotecas
medievais e indo para a prática8
. Trata-se da ruptura com o pensamento clássico do Estagirita
de inteligibilidade, buscando evitar o erro (equivoco).
Nesse período, muitos pensadores se destacaram com suas doutrinas cientificistas ou
almejando fazer ciência, entretanto se destacam com valor científico, cientistas como: Nicolau
Copérnico9
(1473-1543), Galileu Galilei10
(1564-1642), Andreas Vesalius11
(1514-1564),
Leonardo da Vinci (1452-1519) e Johannes Kepler12
(1571-1630). Os demais, também
obtiveram muitas inovações, mas muito associados à filosofia ainda, visto que até o inicio do
século XVII a ciência estava atrelada a mesma.
1.4. A crise da Escolástica
7
SHAUÍ, Marilena. Filosofia Moderna. São Paulo: USP, 2000. Disponível em:
<http://www.chasqueweb.ufrgs.br/~slomp/filosofia/chaui-filosofia-moderna.htm>.
8
Três elementos constitutivos: experiência, observação e comprovação.
9
De revolutionibus orbium coelestium (1543).
10
Dialogo sopra i due massimi sistemi del mondo (1632).
11
De Humani Corporis Fabrica (1543).
12
Mysterium Cosmographicum (1596) e Astronomia Nova… De Motibus Stellae Martis (1609), sobre as 3 Leis
do movimento planetário.
10
A Escolástica entra em decadência por volta do inicio do século XIV, no final do
período medievo. Marcado pelo surgimento do humanismo renascentista, pelas novas
descobertas científicas, pelas Reformas e, principalmente, pelas discussões entre a fé e a
razão. Destacam-se neste período de passagem da Escolástica para o Renascimento, quatro
grandes pensadores que colaboraram marcando esta distinção entre fé e razão, são eles: João
Duns Scotus, Mestre Echkart, Guilherme de Ockham e Nicolau de Cusa13
.
O primeiro, e talvez mais importante, dos aspectos da evolução da escolástica foi
possivelmente a separação entre a razão e a fé. Com Duns Scotus e Guilherme de
Ockham, a teologia se voltou para o maior problema da escolástica: o equilíbrio
entre a razão e a fé. Foi Duns Scotus o primeiro a separar a razão dos assuntos da fé,
pois Deus é tão livre que escapa à razão humana. A liberdade divina, tornada centro
da teologia, estava definitivamente fora do alcance da razão. Guilherme de Ockham
prosseguiu esta obra e completou o divórcio entre o conhecimento prático e o
teórico, aplicando as consequências da doutrina escotista às relações entre o homem
e Deus.14
Esses autores da segunda Escolástica, principalmente Ockham e Scotus tiveram
grande influencia neste declínio da mesma. O Doctor Subtilis15
fez questão de evidenciar as
distinções entre os assuntos de fé e razão, entre teologia e filosofia. Em sua obra Ordinatio,
trata de conceituar os entes (finitos e infinitos) e intelecto (intuição e abstração), porém se
questiona da possibilidade de se fazer metafísica ou uma teologia filosófica. Duns Scotus foi
o mentor de Ockham, por isso vê-se a importância e semelhança no pensamento de ambos
para o periodo. Já o Doctor Invincibilis16
com a via moderna, a lógica da modernidade e a
Navalha de Ockham17
, coloca a razão em evidencia deixando a fé em outro campo.
13
Apenas uma referência destes pensadores de passagem para contexto histórico.
14
TÔRRES, Moisés Romanazzi. A decadência da Escolástica no fim da Idade Média. In: Revista de história. n.
9. 1. semestre. Rio de Janeiro: UFRJ, 2001. p. 67.
15
Alcunha honorífica atribuída à Duns Scotus.
16
Alcunha honorífica atribuída à Guilherme de Ockham.
17
Partindo do conceito aristotélico: “o que se pode fazer com menos não se deve fazer com mais”. Trata-se do
principio do nominalismo de Ockham. Em termos metafísicos, Ockham sustenta que, na realidade só existem
indivíduos e também que no individuo tudo é individual. Em termos epistemológicos, a economia proposta tem
seu principal corolário na posição de Ockham sobre os universais, por que os negam a existência, reduzindo-os a
nomes.
11
2 OS PRINCIPAIS PERÍODOS E CORRENTES
2.1. Os períodos marcantes da Filosofia Moderna
Além do período do Renascimento, entre os séculos XIV-XVII, e da Revolução
Científica, entre os séculos XVI-XVIII, os pensadores também sofreram influencias de
períodos, não necessariamente históricos, mas de influência doutrinaria e de pensamentos
dentro da filosofia. Trata-se do Iluminismo e do Humanismo.
2.1.1. O Iluminismo
O Iluminismo18
trata-se de um movimento que surgiu na França, na Alemanha e na
Inglaterra. Esse não apenas é um movimento filosófico, mas também político, artístico e
literário que floresceu por volta do século XVIII, com a finalidade de defender a ciência e a
razão do dogmatismo que era proposto pela fé e criticar o sistema absolutista que existia. O
principal pensamento deste movimento é acabar com o teocentrísmo que era defendido pelos
escolásticos, abusando assim do racionalismo.
Tratava-se de substituir as crenças e a religiosidade que, na concepção deles, fazia o
homem regredir, visto que o homem é capaz de raciocinar e buscar suas próprias respostas,
retirando Deus do centro e alterando assim a centralidade e a medida de tudo para o homem.
Assim, é pela razão se chega a todas as verdades que outrora eram dadas pela religião.
Entretanto, Kant com o noumeno, a coisa em si, mostra que a razão é limitada, visto que ela
só pode conceber aquilo que é apresentado por fenômenos, à coisa para mim.
A razão, no Iluminismo, ganho um papel importante dentro da história, pois ela passa
a ser instrumento de liberação individual. Dentre os pensadores se destacam: Denis Diderot
(1713-1784), Jean d’Alembert (1717-1783), Voltaire (1694-1778), Montesquieu (1689-1755)
e Jean-Jacques Rousseau (1712-1778).
2.1.2. O Humanismo
Tratava-se do movimento filosófico e literário que surgiu dentro do período do
Renascimento nos meados do século XIV, mas especificamente na região da Itália, com a
finalidade de situar o homem e sua totalidade como centro de toda a reflexão e propor meios
para a realização do mesmo. Esse movimento faz parte integrante e constitutiva da passagem
do medievo para a modernidade, e sendo doutrina específica no Renascimento.
18
Esclarecimento, Ilustração ou Século das Luzes.
12
Em sentido mais geral, pode-se entender por H. qualquer tendência filosófica que
leve em consideração as possibilidades e, portanto, as limitações do homem, e que,
com base nisso, redimensione os problemas filosóficos.19
O Humanismo se baseia em três pontos fundamentais: o primeiro deles é o
reconhecimento da totalidade do homem como ser formado de alma e corpo e destinado a
viver no mundo e a dominá-lo; o segundo trata-se do reconhecimento da historicidade do
homem, trata-se da união do homem com o seu passado e ao mesmo tempo para distingui-lo
dele; por fim, o terceiro trata do reconhecimento do valor humano das letras clássicas, sendo
essas produções intelectuais do homem.20
Dentro da evolução do humanismo, desde o seu inicio na Itália até sua extensão por
toda a Europa passando principalmente pela França e Espanha, se destacaram os principais
pensadores: Coluccio Salutati (1331-1406), Leonardo Bruni (1374-1444), Lorenzo Valia
(1407-57), Giannozzo Manetti (1396-1459), Leonbattista Alberti (1404-72) e Mario Nizolio
(1498-1576), dentre os Italianos; Charles de Bouelles (1470 ou 75-1553), Petrus Ramus
(1515-1572), Michel Eyqem de Montaigne (1533-1592), Pierre Charron (1541-1603),
Francisco Sanchez (1562-1632) e Justo Lipsio (1547-1606), dentre os Franceses; os espanhóis
Ludovico Vives (1492-1540); por fim, o alemão Rodolfo Agrícola (1442-85).
2.2. As correntes filosóficas na Filosofia Moderna
Dentro do âmbito da filosofia moderna, foram retomadas diversas correntes de
pensamentos que tiveram seu inicio na filosofia clássica e foram relidas ao modo moderno.
Ao mesmo tempo novos estilos de pensamentos surgiram, uns totalmente diferentes do estilo
clássico e outros unindo diversas doutrinas buscando uma síntese do pensamento.
2.2.1. O Racionalismo
Por racionalismo entende-se o movimento filosófico que agregou a filosofia o conceito
de raciocínio como uma operação que se utiliza de proposições lógicas. Trata-se da teoria na
qual a razão é o meio de se alcançar o conhecimento, essa é o princípio fundamental para se
chegar ao conhecimento de qualquer coisa e que tudo, mesmo não sendo experimental, tem
uma causa inteligível. A razão torna-se suficiente para o conhecimento do mundo. Desta
forma, observa-se o avanço da matemática e da lógica como meios racionais de adquirir o
conhecimento verdadeiro.
19
ABBAGNANO, Nicola. Humanismo. In: ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. 5. ed. São Paulo:
Martins Fontes, 2007. p. 519.
20
Cf. Ibidem, p. 519.
13
Destaca-se na modernidade o famoso racionalismo cartesiano, o qual a razão é o único
meio para o conhecimento e abrindo-se mão das dúvidas, pois Descartes evidência as opiniões
do senso comum. Entretanto, dentre os pensadores se destacam não somente René Descartes
(1596-1650), mas também Thomas Hobbes (1588-1679), Baruch Spinoza (1632-1677) e G.
W. Leibniz (1646-1716).
2.2.2. O Ceticismo
Trata-se da corrente de pensamento filosófica que considera impossível chegar ao
conhecimento real das coisas através da razão humana, isto é, o intelecto não pode inferir a
certeza sobre as coisas. Não se tratava de não existir certeza das coisas, mas sim a
impossibilidade do intelecto conhecê-las, pois o grande problema para chegar à certeza está
no critério de verdade e falsidade. Desse modo, encontra-se no ceticismo primeiramente o
homem renunciando à busca pela certeza e suspender o juízo21
, “mediante renúncia ao
conhecimento da verdade”22
, devido à dúvida sobre o critério de verdade; depois a busca pela
certeza (experimental)23
que vai de contrario ao dogmatismo; e por fim, a
imperturbabilidade24
da alma em vista da conformidade com a capacidade limitada de atingir
a certeza e o juízo de verdade e falsidade.
O ceticismo surge na modernidade juntamente com a retomada do pensamento dos
filósofos clássicos dentro do renascimento. Com este, na modernidade, o ceticismo ganha um
novo horizonte, ele busca contestar o dogmatismo que era proposto pela escolástica, gerando
assim, um relativismo, pois limita à capacidade do conhecimento ao senso comum e a vida
prática. Na modernidade, principalmente neste período de transição, mesmo tentando fazer
oposição ao dogmatismo existe também o chamado ceticismo fideísta, cujo grande pensador
em destaque foi Michel de Montaigne, o qual “argumenta que, sendo a razão incapaz de
atingir a verdade, deve-se então apelar para a fé e a revelação como fontes da verdade”25
.
2.2.3. O Empirismo
Trata-se da corrente filosófica a qual a experiência (sensorial) e a evidência são
critérios de verdade para se chegar ao conhecimento. Em um período de renascimento
21
evpokh, (epoché): a “suspensão do juízo” é característica do ceticismo pirrônico.
22
REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da Filosofia: do Humanismo a Descartes. 2. ed. São Paulo:
Paulus, 2005. v. 3, p. 62.
23
zh,thsij (zétesis): essa é caracterizada pelo ceticismo acadêmico de Carnéades.
24
avtaraxi,a (ataraxía): de origem em Demócrito, mas floresceu no ceticismo, epicurismo e estoicismo,
principalmente com Pirro.
25
JAPIASSÚ, Hilton; MARCONDES. Ceticismo. In: JAPIASSÚ, Hilton; MARCONDES, Danilo. Dicionário
básico de filosofia. 3. ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2006.
14
científico, nada mais justo que o método científico tenha um grande peso nas definições de
todas as coisas, desta forma a experiência sensorial que compõe o método científico passa a
ser critério para todas as descobertas da época. O empirismo teve um papel essencial na
história, visto que ele surgiu no Reino Unido em contraposição ao racionalismo exagerado
que surgiu no mesmo período histórico em toda a Europa ocidental.
O empirismo mesmo sendo um pensamento novo, pelo menos no que se trata de
tradição filosófica, era uma forma de pensamento já contemplada desde a antiguidade, como a
“távola rasa” de Aristóteles que fora retomada pó John Locke. Dentre os defensores do
empirismo destacam-se Nicolau Maquiavel (1469-1527) Francis Bacon (1561-1626), Thomas
Hobbes (1588-1679), George Berkeley (1685-1753), David Hume (1711-1776) e John Locke
(1632-1704), o qual esse último, por sua grande contribuição no pensamento, é considerado o
precursor da tradição empirista.
2.2.4. O Idealismo
O Idealismo trata-se da corrente filosófica que surgiu nos meados do século XVII26
, no
advento da modernidade, com base na doutrina das ideias platônicas. Entretanto, foi no cogito
cartesiano que ela teve sua origem, mas teve maior prestigio junto com as escolas alemãs. O
Idealismo parte de uma síntese entre o racionalismo, que valorizava a razão como meio de
conhecimento, e o empirismo, que buscava na experiência as suas justificativas.
Na modernidade, o Idealismo, apresentam-se: George Berkeley (1685-1753) e
Immanuel Kant (1724-1804). Esses desenvolveram o Idealismo cada qual de uma forma
distinta, surgindo pelo menos quatro doutrinas idealistas dentro do período, a saber: o
Idealismo Absoluto que está diretamente ligado ao pensamento de Hegel na Filosofia
Contemporânea; o Idealismo Dogmático e o Idealismo Transcendental que estão voltados
para o pensamento de Kant; e o Idealismo Imaterial que está diretamente ligado ao
pensamento de Berkeley.
2.2.5. O Criticismo
O criticismo é a filosofia própria do pensamento kantiano, trata-se de considerar que a
análise crítica da possibilidade. Essa doutrina de Kant, que em seus pontos básicos agiu na
filosofia moderna e nos efeitos ao longo dos séculos que a mesma causou. Trata-se de uma
síntese do próprio Kant das duas possíveis fontes de conhecimento que eram defendidas desde
26
Mas ganhou força mesmo no século XIX.
15
o medievo, a sensibilidade e o entendimento, isto é, o empirismo e o racionalismo. Entretanto,
Kant busca defender que só é possível o conhecimento quando se juntam as experiências com
o intelecto, onde a sensibilidade dá a matéria para o conhecimento e o intelecto as formas da
mesma.
Em primeiro momento, o criticismo vai tratar da formulação crítica do problema
filosófico e o rompimento com a metafísica como esfera de problemas que estão além das
possibilidades da razão humana. Depois, o criticismo delimitará a tarefa da filosofia como
reflexão sobre a ciência, a fim de determinar as condições que garantem a validade da ciência,
isto é, trata-se da verificação de quais ciências cumprem o critério científico do juízo sintético
a priori27
. Por fim, o criticismo busca uma distinção fundamental entre os problemas relativos
à origem do conhecimento (de onde ele vem?), o conhecimento no homem (como ele se
desenvolve?) e o problemática quanto a validade do conhecimento (quais seriam os
critérios?).
27
O juízo sintético é o juízo que não se pode chegar às conclusões com apenas as proposições oferecidas por ele,
se faz necessário a experiência para saber a veracidade.
16
3 OS PENSADORES
Agora, trabalhar-se-á propriamente dito os dois período críticos da historia da filosofia
moderna, o Renascimento e a Idade Moderna, abordando alguns pensadores dos momentos
históricos. Pretende-se ressaltar os pensadores que tiveram maior influência nas doutrinas e no
período, e que as suas filosofias atualizaram a filosofia clássica, mudaram o momento em que
viviam e se tornaram pressupostos para a posteridade.
3.1. O Renascimento
Depois de um período da história inteiramente religioso, no qual o Deus era o centro
de todas as preocupações, o Renascimento inaugura um novo período filosófico. Como
filosofia em si, este período não trouxe muita novidade, apenas releituras de cunho
humanistas de clássicos, mas suas obras ficaram na história pelo poder literário e pela ousadia
de fazer frente ao sistema religioso que até então dominava.
O renascimento não é um período histórico propriamente dito, mas é um período que
concilia o religioso com as novidades modernas, trata-se de uma síntese do novo espírito que
surgira. Dante Alighieri (1265-1321) e sua obra Divina Comédia abriram as portas na
filosofia para este novo estilo elaborando uma reflexão filosófica sobre o religioso, mas foi
somente entre os séculos XV-XVI que o movimento se concretizou. A proposta foi realmente
um “renascer”, pois a Idade Média era um período que fora considerado Idade das Trevas, da
escuridão, um período de barbáries.
Neste período, os pensadores utilizaram das mesmas fontes que os medievais,
entretanto, com outro foco, com um foco mais na humanidade, no raciocínio e nas
experiências. O teocentrismo que era característico da doutrina da Idade Média já não era tão
forte devido à queda da Escolástica e as próprias crises religiosas que estavam ocorrendo. Foi
então o momento em que a arte28
, a literatura e a filosofia puderam respirar livres das
correntes religiosas. No campo da filosofia se destacam como mentes brilhantes que atuaram
em diversas áreas como a arte, a música e a literatura, entretanto, manter-se-á o foco nos
pensadores que mais se destacaram como filosofia, dos quais alguns serão tratados mais
detalhadamente em seguida.
28
Michelângelo, Leonardo Da Vinci e Botticelli.
17
Principais pensadores do Renascimento:
Dante Alighieri (1265-1321) Thomas More (1478-1535)
Georgios Gemisto Pléthon (1355-1452) Tomás Müntzer (1490-1525)
Leonardo Bruni (1369-1444) Bernardino Telésio (1509-1588)
Nicolau de Cusa (1401-1464) Jean Bodin (1530-1596)
Leon Battista Alberti (1404-1472) Michel Eyquem de Montaigne (1533-1592)
Marsílio Ficino (1433-1499) Giordano Bruno (1548-1593)
Desidério Erasmo de Roterdã (1466-1536) Johannes Althusius (1557-1638)
Niccolò di Bernardo dei Machiavelli (1469-1527) Tommaso Campanella (1568-1639)
3.1.1 Niccolò di Bernardo dei Machiavelli (1469-1527)
Foi um político, historiador, intelectual e diplomata no período do Renascimento,
nascido na Itália. Suas maiores reflexões giram em torno do sistema político de sua época e a
proposta de uma reorganização do mesmo, dando inicio a uma nova época para o pensamento
político, gerando a ciência política moderna que se tem conhecimento até hoje. Suas obras
mais conhecidas foram O Príncipe29
(1513), o Discurso sobre a primeira década de Tito
Lívio (1512-1517) e A Arte da Guerra (1519/20), mas Maquiavel também escreveu diversos
romances, comédias e obras literárias de pouca importância para o estudo filosófico.
Principais pensamentos
Em sua grande obra O Príncipe defendia como ideal o chamado realismo político, no
qual descartava totalmente as doutrinas políticas que, até então, estavam em vigou ou se
apresentaram para discussão e desenvolve outro sistema. Maquiavel se utiliza de pensamentos
dos filósofos da antiguidade, mas com um olhar totalmente distinto do olhar medieval. O
pensador tem o foco no seu objetivo, afastando-se “do pensamento especulativo, ético e
religioso, assumindo como cânon metódico o princípio de especificidade”30
.
No seu pensamento político, ele parte de um realismo político, dos conceitos de virtù e
fortuna, da liberdade e “retorno aos princípios”. A saber:
a) O conceito de virtù (virtude) e está diretamente ligado à maioria de suas obras.
A virtude não está ligada ao sentido que a Escolástica tem, mas está totalmente
29
No original criado por Maquiavel De Principatus (Sobre os Principados).
30
REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da Filosofia: do Humanismo a Descartes. 2. ed. São Paulo:
Paulus, 2005. v. 3, p. 93.
18
vinculada ao sentido primeiro que o Estagirita31
identificou como areté32
.
Entretanto, para ele trata-se da astúcia, capacidade de dominar a situação, seria
uma sabedoria intrínseca.
b) O conceito de fortuna, também muito utilizado por ele, está ligado ao sentido
de sorte33
. Que age na vida das pessoas sem se saber onde e como ela vai agir,
sendo esta ação boa ou má. De modo que,
não por acaso, mas para que o nosso livre-arbítrio não desapareça, julgo poder ser
verdade que a sorte seja arbitra de metade de nossas ações, mas que, também, ela
deixe a nós governar a outra metade, ou quase.34
c) O retorno aos princípios está diretamente ligado ao ideal de liberdade e bons
costumes que deveriam ser as bases para o governo, isto é, a república romana.
Não necessariamente, o filósofo pensou em um imperialismo como ideal
político na figura do príncipe por ele descrito, mas na proposta da soberania da
virtude sobre a sorte.
Maquiavel, ganha a alcunha de malévolo pelo fato de analisar a sociedade de forma
fria e calculista, buscando mostrar como se alcançar o poder e nele se manter. Destarte,
quando se fala de política e governo, Maquiavel defende que o governante tem a obrigação de
manter o poder e a segurança no país o qual governa, ainda que para isso tenha que derramar
sangue (“os fins justificam os meios”35
). Este, não precisa ter qualidades, basta ser “falso”
parecendo ao povo ter, entretanto, nunca deve confiar na lealdade de seus súditos, visto que
todos são corruptíveis de modo que podem se voltar contra ele e, caso necessário, de acordo
com a situação deve tomar todas as providências necessárias, inclusive matar.
3.1.2 Michel Eyquem de Montaigne (1533-1592)
Foi um político, escritor, humanista, filósofo, cético, e fideísta, nascido na França que
inovou os escritos filosóficos com a elaboração do método ensaísta. Montaigne escreveu três
volumes de sua grande obra, a qual denominara Ensaios, nesta, ele sintetiza todo o seu
pensamento e engloba todas as ideologias filosóficas do Renascimento e, por conseguinte, o
humanismo. Sua obra compreende em um autorretrato do ‘eu’ subjetivo, interior, do autor. O
31
Ética a Nicômaco.
32
avreth,, realização da própria essência.
33
Vinculado à deusa romana Felicitas, deusa da sorte e da fortuna.
34
MAQUIAVEL apud REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da Filosofia: do Humanismo a
Descartes. 2. ed. São Paulo: Paulus, 2005. v. 3, p. 94.
35
Dito popular, mas não foi escrito pelo autor, entretanto, associa-se ao seu pensamento.
19
estilo da escrita é uma abordagem mais livre do pensamento filosófico ao qual o ensaísta se
propôs a transcrever de si36
.
Principais pensamentos
I. Fideísmo
Montaigne tratou de diversos assuntos em seus Ensaios, que giram em torno da vida,
da morte, das crises, das experiências e de diversos temas referentes ao homem que os
clássicos já haviam tratado, entretanto, com a atualização do seu tempo, tornando-se
influência para muitos pensadores posteriores como. O “conhece-te a ti mesmo” délfico foi o
principal elemento no pensamento do filósofo, bem como os pensamentos estóicos, pirrônicos
e principalmente aristotélicos. O grande destaque no pensamento do filósofo é o fato do
fideísmo, sendo ele um filósofo que busca colocar o homem como o centro, entretanto não
abre mão da causalidade, sendo esta como providência de Deus.
Também em Montaigne o ceticismo convive com uma fé sincera. Isso surpreendeu
muitos historiadores. Na realidade, porém, sendo o ceticismo desconfiança na razão,
ele não põe a fé em causa, pois esta situa-se num plano diferente, sendo portanto
estruturalmente inatacável pelo espírito cético. "O ateísmo - escreve Montaigne - é
[...] uma proposição quase contra a natureza e monstruosa, difícil também e inapta
para fixar-se no espírito humano, por mais insolente e desregulado que ele possa
ser". Entretanto, a "naturalidade" do conhecimento de Deus depende inteira e
exclusivamente da fé. O cético, portanto, só pode ser fideista.37
Não se trata de um fideísmo místico, pois ele coloca o homem no centro de seus
Ensaios e a busca pela felicidade do mesmo através do conhecimento de si. E mais,
II. Ceticismo
No Ensaio: A Apologia de Raymond Selond, Montaigne posiciona-se em relação ao
critério ou regra da fé, que se tornou fonte de conflitos entre católicos e protestantes. Ele
reitera logo no inicio do ensaio que há três resultados de toda a investigação humana da
verdade, a saber:
1. Que aquele que busca encontre a verdade que busca (dogmatismo);
2. Que diga que não pode encontrá-la (ceticismo);
3. Que ainda continue buscando.
36
Cf. BROCA, J. Brito. Clássicos Jackson: Pensadores Franceses. São Paulo: W. M. Jackson Inc., 1970, v. 12,
p. 7-12.
37
REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da Filosofia: do Humanismo a Descartes. 2. ed. São Paulo:
Paulus, 2005. v. 3, p. 62.
20
Contra a pretensão dos protestantes, Montaigne usa o arsenal cético contra a pretensa
descoberta da verdade contrária a fé. Entretanto, esse arsenal (argumentos) também se aplica a
teologia de Raymond Selond38
. Com efeito, afastando as pretensões dogmáticas dos
protestantes e teólogos católicos é condição para alcançar a fé em sua simplicidade e pureza,
ser tal como faria o cético pirrônico. Por ceticismo fideísta entende-se a adoção de uma
atitude contrária a pretensão dogmática da razão em favor da aceitação da fé por razões não
racionais.
3.1.3 Giordano Bruno(1548-1600)
Filippo Bruno foi um filósofo, teólogo, escritor e frade Dominicano39
italiano da
segunda metade do século XVI. Bruno, em um primeiro momento foi julgado por apresentar
ideias contrarias a fé, deixando o hábito, adotou o calvinismo no qual mais tarde negaria e
seria excomungado. Após um momento de peregrinação por quase toda a Europa publicando
seus escritos e posteriormente lecionando em Veneza, foi pego pela Inquisição, a qual já o
tinha na lista de foragidos. Condenado à fogueira pela Inquisição romana por ser acusado de
homicídio e de defender heresias.
Bruno chega a ter um total de mais de trinta escritos, entre seus escritos destacam-se:
De umbris idearum (1582); Da causa, do princípio e do uno (1584); Do infinito, do universo
e dos mundos (1584); Circulação da besta triunfante (1584); Dos heroicos furores (1585); De
triplici minimo et mensura40
(1591); De monade numero et figure41
(1591); e De immenso et
innumerabilibus42
(1591).
Principais pensamentos
Suas influências estão no neoplatonismo que auxiliou na formulação de uma gnose
renascentista de influências religiosas43
, por isso nunca deixou de se professar filósofo-
religioso. O seu pensamento de caráter mágico-hermético que leva ao Uno neoplatônico seria
a “boa religião”, que fora destruída pela doutrina do cristianismo, assim, não se poderia mais
denominar cristão por discordar de princípios da doutrina. Entretanto, o objetivo dele era ser
38
Teólogo espanhol católico, autor do Livro das Criaturas.
39
Giordano Bruno foi seu nome de religioso o qual mesmo saindo da ordem não deixou de utilizá-lo.
40
Do mínimo.
41
Das mônadas.
42
Ou De innumerabilibus, immenso, et infigurabili.
43
Recebeu influências de Marsílio Ficino.
21
fundador de uma nova religião, a fim de elaborar uma reforma moral universal, e
principalmente, contra as ideias da Escolástica.44
Bruno defendia a doutrina da infinitude do Universo, por isso fora acusado de
panteísta, que é o ponto culminante em sua cosmologia. A ideia de infinito está em tudo, seja
no universo, nas infinitas estrelas, nos infinitos planetas habitados, colocando Deus como
figura perfeitíssima e o Universo imanente a ele. Para Bruno, não havia distinção entre
matéria e espírito, as duas substâncias seriam reduzidas a uma única substância provida da
animação espiritual (Deus). O que faz todas as coisas se moverem45
seria um principio
anímico que é da natureza dos seres vivos, transformando-os permanentemente46
. Giordano
Bruno acreditava que o mundo era um grande ser, ou melhor, animal e tudo possuía alma. Em
síntese, o Universo seria uno, vivo e infinito. O único ser vivo que se destaca no Universo é o
homem, pois sua mente tem semelhança à mente divina e consegue desvendar os mistérios do
Universo.
Sobre a mente, Bruno faz uma reflexão a partir da “religião da mente”, a egípcia, pois
este tem o culto ao sol que na verdade seria o intelecto ou ao menos sua imagem visível.
Assim,
As “sombras das ideias” não são as coisas sensíveis, mas muito mais (no contexto
bruniano) as “imagens mágicas” que refletem as ideias da mente divina e das quais
as coisas sensíveis são cópias. Imprimindo na mente essas “imagens mágicas”,
obtém-se então como que um reflexo do universo inteiro na mente, adquirindo-se
desse modo não apenas uma potencializaça maravilhosa da memoria, mas também
fortalecimento da capacidade operativa do homem em geral.47
Deste modo, Justificando a capacidade da mente do homem.
Giordano Bruno é um dos maiores filósofos renascentistas e mais difícil de
compreender, pois ele aborda temas tanto da filosofia clássica como temas propostos por
pensadores48
que viram séculos depois, que vão desde a filosofia, passando pela teologia e
pela ciência.
Não parece possível fazer dele um precursor da revolução do pensamento moderno,
no sentido em que operara a revolução cientifica, porque seus interesses eram de
natureza completamente diferente: mágico-religiosos e metafísicos.49
44
Cf. REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da Filosofia: do Humanismo a Descartes. 2. ed. São
Paulo: Paulus, 2005. v. 3, p. 111.
45
Seriam “modos de ser” das coisas.
46
Principio do “ser e não ser” de Heráclito e da atualização das coisas (ato e potência) do Estagirita.
47
REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da Filosofia: do Humanismo a Descartes. 2. ed. São Paulo:
Paulus, 2005. v. 3, p. 114.
48
Principalmente Baruch Spinoza.
49
REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. Op. cit., p. 117.
22
Defende o heliocentrismo, que inclusive não entrou em seu processo de heresia, e
também afirma uma Causa ou Princípio Supremo que deriva o intelecto universal presente na
alma. Este princípio se trata da mente que está por de trás de tudo, mente que todas as outras
derivam e não se tem como conhecê-la, o qual Bruno irá definir como o Uno de Plotino
atualizado, isto é, a mente nas coisas50
dita anteriormente.
3.2. Idade Moderna
Após o Renascimento ter abalado o monopólio e o poder da Igreja, a Idade Moderna
inovou toda a história, pois a filosofia passou a cultuar a racionalidade e o método científico
como meio para se alcançar o conhecimento. A filosofia moderna compreende dos períodos
entre os séculos XVII-XVIII que fora marcado pela vitória da ciência e a razão sobre a
religião. Tratava-se de um período em que se buscava trazer a luz o período de trevas do que
se passou com o medievo, batizando este movimento de Iluminismo.
A gnosiologia passou a ser um grande expoente dentro do pensamento moderno, a
pergunta “o que posso conhecer?” sintetiza toda a filosofia moderna, pois ela reflete em outra
pergunta “como podemos conhecer o que podemos conhecer?” e principalmente “o que
podemos esperar por isso?”. A crise da metafísica já estava lançada e com a crise da mesma,
os pressupostos da ética e da religião também estão em decadência, entretanto, ainda se
tentará resgatar um pouco da metafísica na modernidade, mas não com o seu sentido clássico
aristotélico.
A busca pelas experiências, pelas representações e pala definição de conceitos dará a
modernidade um novo horizonte totalmente disperso do que era proposto pelo medievo e pela
escolástica alterando todo um sistema político e econômico. As criticas religiosas irão surgir
neste período, não como meio de destruir a religião, mas para supervalorizar a razão e o
homem, a fim de libertá-lo da religião. A Idade da Razão, assim conhecida à modernidade, só
deixará de ser absoluta com o idealismo alemão, no inicio do século XIX.
Dentre os pensadores do período se destacam grandes homens marcaram a história,
seja pela ciência ou pela filosofia, dos quais alguns serão lembrados, entretanto, tratar-se-á
posteriormente de alguns mais detalhadamente, mas não com o intuito de esgotar o
pensamento dos mesmos.
50
Cf. REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da Filosofia: do Humanismo a Descartes. 2. ed. São
Paulo: Paulus, 2005. v. 3, p. 115.
23
Principais pensadores da Idade Moderna:
Francis Bacon (1561-1626) Giambattista Vico (1668-1744)
Galileu Galilei (1564-1642) Christian Wolff (1679-1754)
Tommaso Campanella (1568-1639) George Berkeley (1685-1753)
Johannes Kepler (1571-1630) Charles-Luis de Secondat, Montesquieu (1689-1755)
Thomas Hobbes (1588-1679) François Marie Arouet Voltaire (1694-1778)
René Descartes (1596-1650) Thomas Reid (1710-1796)
Henry More (1614-1687) David Hume (1711-1776)
Blaise Pascal (1623-1662) Jean-Jacques Rousseau (1712-1778)
Baruch Spinoza (1632-1677) Denis Diderot (1713-1784)
John Locke (1632-1704) Jean Le Round D'Alembert (1717-1783)
Nicolas Malebranche (1638-1715) Immanuel Kant (1725-1804)
Gottfried Wilhelm Leibniz (1646-1716)
3.2.1 Francis Bacon (1561-1626)
Foi um grande pensador inglês, nascido em Londres, onde ascendeu em sua carreira
política e se tornando um dos maiores pensadores de sua época. Viveu no período das
novidades industriais, dessa maneira, Bacon escreveu grandes obras em sua vida respirando a
atmosfera social e política em que vivia tornando-se político, filósofo, estadista e ensaísta,
considerado um dos fundadores da Ciência Moderna. Tinha como novidade em seu
pensamento o desenvolvimento do método científico como meio para se chegar ao
conhecimento, buscando-o sempre vinculando a experiência (empírica) com o raciocínio
lógico.
Na verdade, Bacon propusera reconstruir o saber em uma grande obra, a Instauratio
magna, obra esta que foi fragmentada em seis partes, gerando assim, seis obras distintas: De
Augmentis Scientiarum; Novum Organum (1620); História Naturalis; Scala Intellectus;
Anticipationes Philosophiae Secunda; e Philosophia Secunda aut Scientia Activae.
Entretanto, Bacon também desenvolve outros escritos uns de cunho literários, jurídicos e
teológicos, entre eles se destacam: Nova Atlantis (1624); Elementos das leis comuns da
Inglaterra; Maxims da Lei; Casos de traição; De interpretatione naturae proemium (1602);
História da Vida e da Morte; Meditationes Sacrae (1597); Theological Tracts (post-mortem);
A sabedoria dos antigos (1609); e Ensaios (1597).
24
Principais pensamentos
Sendo a sua obra de maior peso filosófico, na Novum Organum desenvolvesse o seus
pensamentos de maiores destaques a Teoria dos Ídolos e a sua Teoria do Método:
I. Teoria dos Ídolos
Por “ídolos”, Bacon refere-se às ideias, crenças, valores, costumes pré-concebidos que
se interpõem ao conhecimento da realidade. O progresso científico, do qual depende o
progresso social e político, só pode ocorrer com a superação dos ídolos, ou melhor, falsos
ídolos que são responsáveis por corromper a ciência. Bacon subdivide os ídolos em espécies,
tais como:
a) Os ídolos da tribo (Idola Tribus): referem-se dos preconceitos sobre o ser humano
e “poderiam ser resumidos na tendência do homem em assumir o que parece como
a própria realidade das coisas”51
, seria a ideia de o intelecto ser a medida de todas
as coisas de forma que ele afirme aquilo que lhe convém52
.
b) Os ídolos da caverna (Idola Specus): referem-se ao preconceito individual, ao
modo que cada pessoa possui a sua caverna, como proposto por Platão53
, de modo
que a imagem exibida se torna aquilo que cada um entende sobre ela.
c) Os ídolos do foro ou do mercado (Idola Fori): são provenientes das relações
humanas, do uso da linguagem, que muitas vezes a pessoa utiliza-se de palavras
cujo significados são desconhecidos para ela mesma54
, necessitando assim
restaurar o ordenamento das coisas através dos significados.
d) Os ídolos do teatro (Idola Theatri): marcam tudo aquilo que os homens admiram
movidos por suas paixões os grandes personagens na história com destaque para os
filósofos. Estes tipos de preconceitos são os mais perigosos e inumeráveis, pois os
escritos da antiguidade e os escritos Sagrados, em sua época, se tornam regras e
fonte de todo o conhecimento.
II. Teoria dos Métodos Científicos
A primeira condição do progresso científico é a descoberta de um novo ‘ponto de
partida’ para o método científico. Para Bacon, o ponto de partida original é a ‘experiência’
51
ROVIGHI, Sofia Vanni. História da Filosofia Moderna: da revolução científica a Hegel. 2. ed. São Paulo:
Loyola, 2000. p. 22.
52
Cf. Ibidem, p. 22.
53
Conferir no Mito da Caverna, no Livro A República de Plantão.
54
Cf. ROVIGHI, Sofia Vanni. Op. cit., p. 23.
25
(empiria), já que nihil est in intelectum quod primus non fuerit us sensu. O homem tal qual
“távola rasa” deve aprender novamente a partir de uma experiência (sensível). Em termos
metódicos, a ciência empírica desenvolve-se a partir das observações e predições que se
tornam possíveis graças à indução (generalização) das leis empíricas.
Desta forma, o novo método consistiria dos seguintes elementos:
1) o momento fundamental da aquisição do saber é a indução, não a dedução
silogística; 2) na indução, não é preciso passar de imediato da experiência dos
particulares aos axiomas mais universais, mas deve-se ir gradativamente da
experiência dos particulares aos axiomas menos universais (axiomas médios) e,
então, destes passar aos mais universais; 3) para encontrar os axiomas médios, não é
preciso entregar-se ao acaso, mas cumpre seguir certas regras.55
3.2.2 René Descartes (1596-1650)
Foi um grande pensador francês, filósofo, físico e matemático que se destacou no
inicio da modernidade com o pensamento Cogito ergo sum. Criador do sistema cartesiano, ele
iniciou o pensamento moderno, abrindo mão de tudo que poderia ser considerado falso para a
construção do conhecimento, adotando apenas o que era claro e distinto para o intelecto.
Suas principais obras foram: Regras para a Direção do Espírito56
(1701); Discurso
sobre o Método57
(1637); O Tratado da Luz (1632/33); Geometria (1637); Meditações
Metafísicas (1641); e As Paixões da Alma (1649). Entretanto, foi com o Discurso sobre o
Método e com as Meditações Metafísicas que Descartes ficou famoso.
Principais pensamentos
I. O Discurso do Método
A linguagem cartesiana aponta para uma reforma radical da ciência, capaz de dar
unidade e segurança face ao tempo de incertezas e conflitos vividos entre os homens. Assim,
Descartes adotou com premissa a imagem do reformador que sozinho ‘fez nova todas as
coisas’. Em O Discurso do Método, Descartes buscava trazer para a filosofia a mesma
segurança que se tinha na matemática para se alcançar a verdade, esta verdade seria distinta
da verdade no clássico, isto é, a “adequação da mente a realidade”.
Trata-se de um postulado, cujo objetivo já é explicado pelo título original: Discurso
sobre o método para bem conduzir a razão na busca da verdade dentro da ciência (Discours
de la méthode pour bien conduire sa raison, et chercher la verité dans les sciences). Este é
55
ROVIGHI, Sofia Vanni. História da Filosofia Moderna: da revolução científica a Hegel. 2. ed. São Paulo:
Loyola, 2000. p. 22.
56
Regulae ad directionem ingenii.
57
Discours de la méthode pour bien conduire sa raison, et chercher la verité dans les sciences.
26
composto basicamente por quatro momentos: evidência, análise, síntese e revisão, partindo de
um elemento essencial em seu método, à chamada “dúvida metódica”58
como meio para se
chegar à verdade proposta pelo pensador, isto é, a evidência (clareza e distinção).
Como regras de seu método, Descartes se utiliza das seguintes:
1º. Regra da Evidência: nada aceitar como verdadeiro exceto o que é claro e distinto.
2º. Regra da Análise: dividir todas as dificuldades nas suas menores partes, a fim de
melhor analisá-lo.
3º. Regra da Síntese: reunir todas as partes em um todo evidente.
4º. Regra da Revisão: rever todo o processo para ter certeza de nada omitir.
II. A realidade e as substâncias
Para Descartes, a realidade é constituída apenas de dois aspectos um extensivo e outro
qualitativo, entretanto, uma está relacionada ao objeto em si e a outra ao sujeito que observa,
logo são subjetivas da consciência. Descartes, não busca defender um idealismo moderado,
pelo contrario ao alegar a extensão, isto é, qualidades objetivas, ele não reduz o ser ao pensar
totalmente e nem nega a realidade como uma total independência do sujeito em relação ao
mundo. Trata-se de uma posição realista crítica e não puramente idealista, assim ele afirma
que existe algo que está fora dele e de seu intelecto, admitindo a existência de pelo menos três
substancias: res cogitans59
(espírito); res divina60
(Deus); e res extensa61
(matéria).
III. Meditações Metafísicas e o solipsismo
Nas Meditações Metafísicas, Descartes tem como objetivo a aplicação do seu método,
apresentando no primeiro momento as razões para se alcançar a dúvida, pois a dúvida é um
modo do próprio pensamento, assim “si dubito, cogito”, ao mesmo tempo em que “si cogito,
sum”, ou ainda, “cogito ergo sum”. Após a descoberta do cogito, primeira evidência
indubitável, a qual o ser pensante só pode ter certeza da sua existência e mais nada, deste
modo, ele se encontra sozinho. Descartes observa que está sozinho consigo mesmo, sem saber
se há algo além do seu pensamento e de sua subjetividade, necessitando assim sair deste
solipsismo.
A superação do solipsismo ocorre pela demonstração de que há uma ideia clara e
distinta cujo conteúdo formal tem necessariamente realidade objetiva, ou seja, corresponde a
58
Cogito, ergo sum (Penso, logo existo).
59
Trata-se de uma substância pensante, imperfeita, finita e dependente.
60
Trata-se de uma substância eterna, perfeita, infinita, que pensa e é independente.
61
Trata-se de uma substância que não pensa, extensa, imperfeita, finita e dependente.
27
algo ‘extramental’. Trata-se da demonstração da existência de Deus a partir de Sua ideia clara
e distinta tal como o sujeito pensante encontra em si mesmo a priori. Como a ideia de Deus
representa o ser perfeitíssimo e como o ser pensante se sabe imperfeito, então a causa da ideia
de Deus é extrínseca ao próprio sujeito pensante que por imperfeito não a pode causar.
Ademais, como a existência é uma perfeição e por Deus ser perfeitíssimo, logo Deus existe.
Daqui decorre que a ideia clara e distinta de Deus é o próprio Deus que existe
independentemente e de forma transcendental ao próprio sujeito pensante.
Se é verdadeiro que Deus criou em mim ideias claras e distintas dentre as quais a
própria ideia de Deus, então há uma razão universal e necessária a saber: para que o sujeito
pensante possa conhecer a realidade extramental de forma a priori. Isto significa, por
exemplo, que o sujeito pensante ao representar num plano geométrico um objeto estará
necessariamente representando conforme a realidade extensional desse mesmo objeto fora do
pensamento, já que o mesmo Deus garante tal correspondência. Entretanto, o que faz de
Descartes o primeiro filósofo da modernidade é o fato de mesmo tendo ciência da existência
de um Deus, valoriza a razão humana como resposta para o conhecimento.
O racionalismo cartesiano foi não só o responsável pela concepção inatista (a
priorista), mas também por definir o conhecimento a partir de regras. Isto significa que
compete ao entendimento definir as regras do bom uso do livre arbítrio até mesmo em
assuntos teóricos e não só práticos.
3.2.3 Blaise Pascal (1623-1662)
Foi um matemático, físico, filósofo, teólogo62
e moralista francês dos meados do
século XVI, que se destacou na história fazendo a junção perfeita entre as ciências exatas com
o pensamento filosófico, gerando assim a filosofia da matemática. Em destaque ressalta-se o
seu Espírito geométrico. Suas principais obras63
de caráter filosófico são: Les Provinciales
(1656/57) e Penseés (1670).
Principais pensamentos
I. A miséria da dignidade do homem
62
Defensor do cristianismo, mais especificamente do jancenismo.
63
As obras de Pascal não se esgotam nessas, mas o mesmo também escreve: Éssai sur les coniques (1640),
Expériences nouvelles touchant le vide (1647), Préface du traité du vide (1647), Récit de la grande expérience
de l'équilibre des liqueurs (1648), Lettre Circulaire relative á la Cycloide (1658), Écrits sur la grâce (1656-
1658) e Traité des coniques (conhecido por Leibniz).
28
A antropologia de Pascal é marcada pala crítica aos filósofos que exageraram, seja a
miséria seja a dignidade do homem. Por isso, ao mesmo tempo em que Pascal elogia a
concepção estóica da resignação e da providencia, critica o excesso de confiança do estoico
em cumprir com o seu dever moral, conduzindo-o à “soberba diabólica”. Por sua vez, os
céticos são elogiados pó reconhecerem a fraqueza humana. O ceticismo é um antídoto à
sabedoria estóica. Entretanto, os céticos não conheceram a miséria humana, o que leva ao
desespero. Se o estoicismo exagera o poder e a dignidade do homem, então é preciso
reconhecer que há outra medida para a natureza humana, que revelada à luz da fé em Cristo.
“Jesus é o objeto de tudo e o centro para o qual tudo tende (...). Por conseguinte,
podem bem conhecer-se Deus sem sua miséria e sua miseria sem Deus; mas não se
pode conhecer Jesus Cristo sem conhecer ao mesmo tempo Deus e sua miséria”
(Pascal)
II. Os Espíritos
Para pascal o conhecimento humano esta entre dois abismos do infinito e do nada, a
partir do qual nenhum homem pode ignorar. Para ele, só se pode obter o conhecimento
limitado e parcial das coisas, mesmo assim válido. Assim, ele elabora a duas possíveis
diferenças substanciais no campo do conhecimento: a primeira é dada pelo chamado Esprit
géométrique (Espírito geométrico) que é o conhecimento científico obtido através de
procedimentos analíticos (racionais e geométricos); e o Esprit de finesse (Espírito de fineza)
que deriva do próprio homem, trata-se do conhecimento existencial do homem, os
movimentos de sua alma em sua esfera espiritual.
Mesmo se aproveitando do Espírito geométrico no campo científico, Pascal entende
que esse não é suficiente para entender a realidade, pois ele não compreende os dramas da
existência humana. Desta forma, qualquer ciência que não considere o homem em suas
conclusões se torna inútil e para entender os fundamentos da existência humana, é necessário
entender o coração do homem e este é o meio para se utilizar o Espírito de fineza. Destarte,
O coração tem suas razões, que a razão não conhece: sabe-se isso em mil coisas. Eu
digo que o coração ama o ser universal naturalmente e a si mesmo naturalmente,
conforme a isso se aplique; e se endurece contra um ou outro, à sua escolha.
Rejeitastes um e conservastes o outro: é com razão que amais?
É o coração que sente Deus, e não a razão. Eis o que é a fé: Deus sensível ao
coração, não à razão.64
64
PASCAL, Blaise. Pensamentos. 16. art., 2002. Disponível em:
<http://www.ebooksbrasil.org/eLibris/pascal.html>.
29
Do mesmo modo que para ele o Espírito geométrico necessita do Espírito de fineza, o
mesmo serve para o inverso, caso contrário este seria estéril. Ambos devem caminhar juntos,
a ciência e a fé. Assim,
Conhecemos a verdade, não somente pela razão, mas ainda pelo coração; é desta
última maneira que conhecemos os primeiros princípios, e é em vão que o
raciocínio, que deles não participa, tenta combatê-los (...). Sabemos que não
sonhamos, por maior que seja a impotência em que estamos de prová-lo pela razão;
essa impotência não conclui outra coisa senão a fraqueza da nossa razão, mas não a
incerteza de todos os nossos conhecimentos, como eles o pretendem. Pois o
conhecimento dos primeiros princípios, como o de que há espaço, tempo,
movimento, números, é tão firme como nenhum dos que nos dão os nossos
raciocínios. E é sobre esses conhecimentos do coração e do instinto que é preciso
que a razão se apoie e funde todo o seu discurso. O coração sente que há três
dimensões no espaço e que os números são infinitos; e a razão demonstra, em
seguida, que não há dois números quadrados dos quais um seja o dobro do outro
(...). E é tão ridículo que a razão peça ao coração provas dos seus primeiros
princípios, para querer consentir neles, quanto seria ridículo que o coração pedisse à
razão um sentimento de todas as proposições que ela demonstra, para querer recebê-
los. 65
E ainda,
Essa impotência deve, pois, servir apenas para humilhar a razão que quisesse julgar
tudo; mas, não para combater a nossa certeza, como se só houvesse a razão capaz de
nos instruir.66
3.2.4 John Locke (1632-1704)
Filósofo inglês do final do século XVII, idealista e figura chave do empirismo como
doutrina, Locke negava a questão das ideias inatas, proposta pelos clássicos, mas acreditava
que as ideias eram frutos do que percebiam os sentidos. Desenvolveu uma filosofia da mente,
que é utilizada até hoje e principalmente no período posterior a sua época, com o conceito de
identidade pessoal e consciência que foram utilizados mais tarde por Hume, Rousseau e Kant.
Destaca-se no pensamento de Locke:
a) o gnosiológico, do qual brotou o Ensaio; b) o ético-politico, que encontrou
expressão (além de sua própria militância política pratica) nos escritos dedicados a
esse tema; c) o religioso, campo no qual a atenção do nosso filosofo se concentrou,
sobretudo nos últimos anos de sua vida (a esses podemos acrescentar, mas numa
dimensão menor, um quarto interesse, de caráter pedagógico, que encontrou
expressão nos Pensamentos sobre a educação).67
65
PASCAL, Blaise. Pensamentos. 22. art., 2002. Disponível em:
<http://www.ebooksbrasil.org/eLibris/pascal.html>.
66
Ibidem.
67
REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da Filosofia: de Spinoza a Kant. São Paulo: Paulus, 2005. v.
4, p. 92.
30
Na obra denominada Ensaio acerca do Entendimento Humano, Locke defendia certos
direitos naturais68
próprios que todos os homens possuíam. Portanto, passa a desenvolver
trabalhos políticos e também sobre a imaterialidade da alma. Suas principais obras foram:
Cartas sobre a Tolerância (1689); Dois Tratados sobre o Governo (1689); Ensaio acerca do
Entendimento Humano (1690); e Pensamentos sobre a Educação (1693).
Principais pensamentos
Mesmo apreciando Descartes, Locke tornou-se um dos maiores opositores ao
racionalismo francês, utilizando o empirismo partindo da teoria da “távola rasa”, na qual o
homem nasce como uma folha em branco e na medida em que ele experimenta algo pelos
seus sentidos, ele adquire o conhecimento. Diferentemente de Descartes que defendia as
ideias inatas. Para ele,
1) não existem ideias nem princípios inatos; 2) nenhum intelecto humano, por mais
forte e vigoroso que seja, é capaz de forjar ou inventar (ou seja, criar) ideias, bem
como não é capaz de destruir aquelas que existem; 3) consequentemente, a
experiência constitui a fonte e, ao mesmo tempo, o limite, ou seja, o horizonte, ao
qual o intelecto permanece vinculado.69
Locke afirma que as experiências podem ser do tipo externas e internas, sendo a
primeira mais ligada aos sentidos, propriamente dito, e a segunda a reflexão. Estas
experiências possuem qualidades primárias (extensão, movimento...) e secundárias (cor,
sabor...), isto é, são os poderes que as coisas possuem para produzir um efeito, ideia, em
nós70
. O pensador critica a ideia clássica de substância e essência e trata da intuição e
dedução, firmando que só podemos admitir a nossa existência através da indução, a existência
de Deus através da demonstração e a existência de outrem pela sensação71
.
Seus pensamentos não tiveram influencia apenas de Descartes, mas também do
nominalismo escolástico (Guilherme de Ockham), do empirismo inglês e da filosofia de
Malebranche, bem como seus escritos políticos tiveram como fonte Thomas Hobbes
(Contrato social). Nesses últimos, Locke defende que o poder de um homem não poderia
derivar de Deus, como alegavam os reis na época. Ele, entretanto, discordava existência do
pacto social, acreditando que os tipos de poderes deveriam ser separados e limitados em si. O
Estado é obrigado a garantir os direitos naturais de cada cidadão, isto é, o direito à vida, à
68
Direito à vida, à propriedade e à liberdade.
69
REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da Filosofia: de Spinoza a Kant. São Paulo: Paulus, 2005. v.
4, p. 95.
70
Cf. Ibidem, p. 97.
71
Cf. Ibidem, p. 102.
31
liberdade e à propriedade. Tratava-se de uma política de democracia liberal, na qual os
cidadãos teriam direito de colocar e retirar o governante em consenso.
3.2.5 Baruch Spinoza (1632-1677)
Filósofo holandês judeu dos meados do século XVII de caráter racionalista que foi
excomungado pela Sinagoga portuguesa de Amsterdã72
por apresentar ideias contrárias aos
ensinamentos da religião. Sabia hebraico, latim, espanhol, português, holandês e grego, o que
o proporcionou ser conhecido pelo seu criticismo aos textos sagrados. Diferentemente do
racionalismo de Descartes, Spinoza se interessava pela temática vinculada à ética e não a
gnosiologia. Entretanto, foi no campo da exegese que o filósofo ficou conhecido.
Suas principais obras são: o Breve tratado sobre Deus e o Homem (1658); o ensaio
Sobre a correção do intelecto (1661); Os princípios da filosofia de Descartes (1663); os
Pensamentos metafísicos (1663); o Tratado teológico-político73
(1670); e a Ética74
(1677).
Principais pensamentos
I. Deus como única substância
O método de Spinoza pode ser descrito como dedutivo na medida em que parte de
uma intuição originária que contém em si mesma, todas as verdades que serão expostas pela
filosofia. O eixo fundamental de seu pensamento ético está na concepção de Deus, entretanto,
esta fora escrito totalmente como um postulado e definições, algo bem matemático, por isso
também é denominada Ética demonstrada à maneira dos geômetras.
Spinoza defendeu a unicidade da substância, assim, tudo que é imanente a natureza de
uma coisa lhe pertence necessariamente, por isso todas as coisas derivam de Deus
necessariamente. Assim, nada está fora de Deus e que tudo é expressão d’Ele. Por isso, deve
em verdade entender que a causa divina é natura naturans e seus efeitos natura naturata.
Daqui a forma máxima Deus sine natura. Deus ou natureza seria um ser de infinitos atributos
dos quais os homens só tem ciência da extensão (matéria) e do pensamento.
Parece muitas vezes que o pensador tinham ideias panteístas75
, entretanto não é bem
isso76
, o que Spinoza quer defender é um panenteísmo77
. Entretanto, ambas negam a
72
O texto na integra da excomunhão pode ser lido no Anexo I este trabalho.
73
Também conhecido como: Tratado sobre a Religião e o Estado.
74
Também conhecido como: Ética demonstrada à maneira dos geômetras.
75
Deus nada mais é do que tudo o que há no universo, isto é, tudo é Deus.
76
“Deus é causa imanente, não transitiva, de todas as coisas” (SPINOZA, Baruch. Ética, part. I, prop. 18)
77
A presença de Deus nas coisas, isto é, não há identidade, mas há imanência da substância divina nas coisas.
32
transcendência. Esse conceito da substância divina possuir diferentes atributos, sendo dois
conhecidos (pensamento e matéria), está totalmente em desacordo com o racionalismo
proposto por Descartes, o qual propusera não uma, mas três substâncias (divina, pensante e
extensa). Parece que Spinoza unifica as três em uma única, isto é Deus, todo o resto se torna
imanência.
Tudo o que existe, existe em Deus, e por meio de Deus deve ser concebido; portanto,
Deus é causa das coisas que nele existem, que era o primeiro ponto. Ademais, além de
Deus, não pode existir nenhuma substância, isto é, nenhuma coisa, além de Deus,
existe em si mesma, que era o segundo ponto. Logo, Deus é causa imanente, e não
transitiva, de todas as coisas.78
II. A religião
Em seu Tratado teológico-político (TTP), Spinoza desenvolve sua crítica à religião
elaborando uma nova abordagem para a exegese dos textos antigos a partir do Método
Histórico Crítico (MHC). Para ele a Bíblia não ensina nada mais do que aquilo que a própria
Lei Natural já ensina ao homem, isto é, fazer o bem. Entretanto, alguns necessitam da Bíblia,
pois não conseguem compreender pela razão ou observar a Lei Natural em si mesmo. Desta
forma, Spinoza quer provar que tudo o que a religião prega, ou diz “Bíblia ensinar”, não passa
de uma Política das instituições religiosas que querem alienar a todos os seus seguidores.
Neste posto, Spinoza se aproveita do seu conceito de Deus como substância e a imanência da
mesma e afirma que em tudo contém a Lei Natural e se essa, que é centelha, assim, provém de
uma Lei Eterna, isto é, Deus, logo Deus está em todas as coisas. A religião serve apenas para
instruir os ignorantes que não tem acesso às informações filosóficas, Jesus Cristo seria a
“salvação dos ignorantes”.
3.2.6 Gottfried Willhelm Leibniz (1646-1716)
Filósofo e matemático alemão, da segunda metade do século XVII, teve contato com
neoplatonismo da Renascença e pelo empirismo, o qual escreveu contra ensaio de Locke, mas
foi o cartesianismo e Malebranche que moveram os pensamentos de Leibniz. Entretanto, o
pensador que mais se destacou em suas obras fora Baruch Spinoza, do qual se pode dizer que
teve muita influencia em seus escritos, mas nunca se denominou seguidor.
Suas obras são geralmente escritos esporádicos, pensamentos que não foram
preocupados em ser organizados em livros propriamente ditos sistemáticos. Dentre elas se
78
SPINOZA, Baruch. Ética, part. I, prop. 18.
33
destacam: Novos Ensaios sobre o Intelecto Humano79
(1701); Teodicéia80
(1710); Discurso
de Metafísica81
(1686); Monadologia82
(1714); e outros opúsculos de filosofia83
.
Principais pensamentos
I. Leibniz e seus predecessores
Com Descartes, Leibniz partilha o ideal matemático como referencia científica, a
imanência do cogito, o imanentismo e o princípio da autoconsciência como constituidora do
eu. Entretanto, ele criticou Descartes em relação ao dualismo, a noção mecânica de
matemática e a própria noção de substância. Com relação a Spinoza, Leibniz defendeu uma
concepção dinâmica da substância, entendida como uma força conatus. Entretanto, diverge
com relação ao monismo, já que Leibniz sustenta a pluralidade das substâncias. No que tange
a relação com Locke, Leibniz sustenta a existência de princípios e ideais inatos independentes
da experiência. Entretanto, diverge dos racionalistas ao enfatizar o valor da experiência como
ocasião para a consciência do que é inato.
II. A monadologia
Leibniz buscou sintetizar as descobertas da história da filosofia, principalmente no que
se tratava de definir o conceito de substância, a qual designou um trabalho especialmente, a
Monadologia. As mônadas84
são atos na natureza formados de substância simples e indivisa,
semelhantes ao átomo proposto por Demócrito, mas distingue-se do mesmo por não se tratar
de um átomo material como propôs o mesmo, ao modo que a mônada seria uma espécie de
enteléchia85
aristotélica.
Leibniz não concorda com a ideia de extensão (res extensa) proposta por Descartes e
que era a mais comum no período e defendida pelos cartesianos, desta forma, cada mônada se
distinguiria da outra por condições internas e essas qualidades variam, pois por serem puras,
nada externo pode contaminar, elas são independentes em si. Destarte, surgindo uma
metafísica própria de Leibniz a partir das substâncias simples.
79
Crítica ao Ensaio de Locke, mas publicada postumamente em 1765.
80
Sobre o problema do mal.
81
Compreende em 37 trechos em que o pensador detalha sua metafísica.
82
Destinada ao príncipe Eugênio de Sabóia, mas publicada postumamente.
83
Na verdade são correspondência de cujo tema se trata de temas filosóficos.
84
Termo platônico e já utilizado por Giordano Bruno, mas com outra nomenclatura.
85
evntele,xeia, isto é, o ser em ato.
34
Todas as coisas existentes são mônadas, isto é, “uma entidade individua capaz de ação,
e os princípios de suas ações são as percepções (representações) e as apetições (vontade)”86
,
que representa todo o universo e sua diversividade, entretanto essa diversividade particular de
cada uma não é um tudo perceptível, apenas Deus pode observar.
Com efeito, se todas as formas das substâncias expressam todo o universo, pode-se
dizer que as substâncias brutas expressam mais o mundo do que a Deus, ao passo
que os espíritos expressam mais a Deus do que o mundo. Por isso, Deus governa as
substâncias brutas segundo as leis materiais da força ou da transmissão do
movimento e governa os espíritos segundo as leis espirituais da justiça, de que as
outras substâncias são incapazes. E por isso as substâncias brutas podem ser
chamadas materiais, porque a economia seguida por Deus em relação a elas é a de
operário ou maquinista, ao passo que em relação aos espíritos Deus cumpre as
funções de príncipe e legislador, que é infinitamente mais elevada. E enquanto, em
relação a tais substâncias materiais, Deus não representa nada mais do que aquilo
que representa em relação a tudo, isto é, a função de autor geral das coisas, já em
relação aos espíritos ele assume outro papel, pelo qual o concebemos dotado de
vontade e de qualidades morais, sendo ele próprio espírito e como que um entre nós,
a ponto de entrar em urna ligação de sociedade conosco, da qual é o chefe. Essa
sociedade ou republica geral dos espíritos, sob aquele supremo Monarca, é a parte
mais nobre do universo, composta de muitos pequenos deuses, sob a direção daquele
grande Deus. Com efeito, pode-se dizer que os espíritos criados diferem de Deus
somente como o menos do mais, como o finito do infinito.87
Sobre a relação do conceito de substância em Descartes, Spinoza e Leibniz, entende-
se:
Descartes Spinoza Leibniz
Res cogitans (espírito)
Deus (imanência) Infinitas (mônadas)Res divina (Deus)
Res extensa (matéria)
III. O discurso metafísico
A monodologia apresenta pelo menos quatro ordens em escala de mônadas, a saber:
mônadas nuas (reino vegetal e mineral, isto é, inconscientes); mônadas sensitivas
(conscientes); mônadas racionais (alma humana, isto é, repletas de consciência e intelecto); e
mônada suprema (Deus, isto é, perfeita e causadora de todas as outras). Entretanto, partindo
do pressuposto de que as mônadas seriam átomos isolados, “sem janelas”, para não se
corromperem com nada externo, surge um grande problema, como ela podem se relacionar?
Visto que a monodologia eliminou o dualismo entre a res cogitans e a res extensa cartesiano,
86
REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da Filosofia: de Spinoza a Kant. São Paulo: Paulus, 2005. v.
4, p. 43.
87
LEIBNIZ apud REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da Filosofia: de Spinoza a Kant. São Paulo:
Paulus, 2005. v. 4, p. 50.
35
e mais, tendo que os corpos são agregados de mônadas unidos por uma mônada hegemônica
(mônadas racionais, isto é, alma), como ficaria a relação entre corpo e alma nos seres?
Para resolver estes problemas, Leibniz criou uma hipótese metafísica denominada
“harmonia preestabelecida”, que se trata do principio da harmonia que conecta todas as
mônadas. Deste modo, a impenetrabilidade e a força de cada mônada ficariam suspensas entre
si, está influencia entre elas tem “sua eficácia apenas diante da intervenção de Deus”88
.
Assim, esta relação entre as mônadas se estabeleceu três hipóteses desta “harmonia
preestabelecida”:
1) a de supor urna ação recíproca, biunívoca; 2) a de postular urna intervenção de
Deus em todas as ocasiões, como artífice do acordo; 3) a de conceber as substâncias
(as varias mônadas em geral, assim como as mônadas-alma e as que constituem o
corpo) estruturadas de tal modo que elas extraiam tudo do seu interior, e de tal modo
que aquilo que cada urna extrai do seu interior coincida com aquilo que todas as
outras extraem do seu próprio interior com correspondência e harmonia perfeitas,
considerando que isso faz parte de sua própria natureza, desejada Dor seu Criador.89
Para Leibniz, também pode se valer de um milagre contínuo para explicar essa
harmonia preestabelecida das mônadas, trata-se de uma solução ocasionalista, mas este seria
totalmente contrário à sabedoria de Deus que as fez90
. Em síntese, o Discurso de Metafísica91
de Leibniz pode ser resumido da seguinte maneira:
1. Deus é o ser perfeitíssimo;
2. Deus é o agente (metafísico) perfeitíssimo92
;
3. Deus nada faz fora da ordem;
4. A substância individual é aquela realidade que não é atribuída a nenhuma outra;
5. A noção perfeita de uma substância individual compreende todos os seus
predicados verdadeiros;
6. A natureza de uma substância individual consiste em ter uma noção tão perfeita
que seja suficientemente para compreender e fazer deduzir de si todos os
predicados do sujeito a que se atribui esta noção.
7. Somente Deus conhece a noção perfeita das substâncias.
3.2.7 David Hume (1711-1776)
88
LEIBNIZ apud REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da Filosofia: de Spinoza a Kant. São Paulo:
Paulus, 2005. v. 4, p. 52.
89
REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da Filosofia: de Spinoza a Kant. São Paulo: Paulus, 2005. v.
4, p. 52.
90
Cf. Ibidem, p. 52.
91
Compreende em 37 trechos em que o pensador detalha sua metafísica.
92
“Deus age sempre de modo mais perfeito e mais desejável possível”.
36
Filósofo e historiador escocês do inicio do século XVIII, que tem como característica
filosófica a fenomenológica, com origem no empirismo de Locke e no idealismo de Berkeley.
Hume também é conhecido por seu ceticismo, reduzindo os princípios racionais às ligações de
ideias vinculadas ao hábito e o ‘eu’ às coleções de estados de consciência93
. Suas principais
obras são: Tratado na Natureza Humana (1739); Investigação sobre o Entendimento Humano
(1748); Investigação sobre os Princípios da Moral (1751); Diálogos sobre a Religião Natural
(post-mortem); Ensaios Morais, Políticos e Literários (1741); A História da Grã-Bretanha
(1754-1762); História Natural da Religião (1757); e Da imortalidade da Alma e outros textos
póstumos.
Principais pensamentos
Hume, bem como Locke opõe-se ao racionalismo cartesiano, assim, tudo que se
conhece vem das percepções ou das ideias que se formam a partir delas. Para ele um signo só
tem significado no mundo quando se tem algo correspondente ao mesmo no mundo.
Entretanto, o próprio identificou um problema em seu sistema, ora, nem tudo que sabemos é
justificado por alguma experiência vivida que já tivemos, visto que ele mesmo tinha negado
as ideias inatas.
Desta forma, Hume conclui que parte de nosso raciocínio se baseia em “prováveis”
acontecimentos. Por exemplo: o nascer do sol na manha seguinte, ainda que não se tenha
vivido a manha seguinte, tem-se consciência através do hábito e de experiências semelhantes
passadas de que o sol nascerá no dia seguinte. Mesmo que a natureza resolva modificar as
suas leis, a única coisa que se tem como melhor guia é o hábito. A causalidade não ganha
espaço no pensamento de Hume, ela é considerada como uma crença ou uma superstição visto
que não se pode justificar essa crença numa conexão casual entre eventos.
Hume também diferencia as chamadas impressões das chamadas ideias. Partindo do
pressuposto de que tudo que está na mente humana são percepções, isto é, algo que fora
apresentado à mente e ela assimilou. Sobre as impressões, Hume irá afirmar que elas dizem
“respeito à força ou vivacidade com que as percepções se apresentam à nossa mente”94
, já as
93
Cf. JAPIASSÚ, Hilton; MARCONDES. Hume, David. In: JAPIASSÚ, Hilton; MARCONDES, Danilo.
Dicionário básico de filosofia. 3. ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2006.
94
REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da Filosofia: de Spinoza a Kant. São Paulo: Paulus, 2005. v.
4, p. 135.
37
ideias dizem “respeito à ordem e a sucessão temporal com que elas se apresentam” 95
. Desta
forma, toda a percepção é sentida de como impressão e pensada como ideia96
.
Em síntese, para Hume, primeiramente não se pode criar ideia, se faz necessário os
sentidos de onde provêm todos os conhecimentos. Em seguida, as certezas são substituídas
por probabilidades, inclusive as certezas morais que se tornam verdades de ordem prováveis.
Destarte, não há causalidade, pois nem sempre terão o efeito esperado, destruindo a relação
entre causa e efeito. Trata-se de um ceticismo teórico que para a vida não tem validade
alguma.97
Hume não só desenvolveu seu pensamento na busca pelo conhecimento humano, mas
também colaborou principalmente no campo da ciência, da moral, da religião (com críticas ao
fenômeno religioso) e na própria política (influenciando na constituição americana).
3.2.8 Jean-Jacques Rousseau (1717-1778)
Filósofo, político, escritor e compositor suíço dos meados do século XVIII, se
destacou na história através da Revolução Francesa, tornando-se um dos maiores pensadores
do iluminismo e de sua época. Suas principais obras são: Discurso Sobre as Ciências e as
Artes (1749); Discurso Sobre a Origem e os Fundamentos da Desigualdade Entre os Homens
(1755); Do Contrato Social (1762); Emílio ou Da Educação (1762); e Os Devaneios de um
Caminhante Solitário (1776).
Principais pensamentos
I. O Pacto Social
A principal obra que fez com que seu pensamento se propagasse foi Do Contrato
Social, na qual este difere no pensamento político de Locke e Hobbes. Em um primeiro
momento, Rousseau dirá que o homem em sua natureza é bom, mas o sistema político em que
ele vive faz com que ele se desvirtue. O contrato social seria um meio dos homens,
naturalmente bons, se associarem (pacto) e formarem uma sociedade. Para ele, “o homem
nasce livre e por toda a parte ele está agrilhoado”98
, isto é, “aquele que se crê senhor dos
95
REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da Filosofia: de Spinoza a Kant. São Paulo: Paulus, 2005. v.
4, p. 135.
96
Cf. Ibidem, p. 135.
97
Cf. JAPIASSÚ, Hilton; MARCONDES. Hume, David. In: JAPIASSÚ, Hilton; MARCONDES, Danilo.
Dicionário básico de filosofia. 3. ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2006.
98
ROUSSEAU, Jean-Jacques. O Contrato Social. 3. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1996. p. 9.
38
outros não deixa de ser mais servo do que eles”99
, esta é a finalidade do contrato, libertar o
homem das cadeias da sociedade devolvendo a liberdade natural.
Não existe autoridade de um sobre o outro100
, o que existe é a vontade geral, todos
ficam submetidos às leis e não a autoridades. A vontade geral se preocupa com o bem
comum, diferentemente da vontade particular que se preocupa apenas com o individual101
.
Destarte,
A vontade geral, portanto, não é a soma das vontades de todos os componentes, mas
uma realidade que brota da renuncia de cada um a seus próprios interesses em favor
da coletividade. E um pacto que os homens não estreitam com Deus ou com um
chefe, mas entre si mesmos, em plena liberdade e com perfeita igualdade.102
II. A educação
Para que o pacto seja bem sucedido é necessário que haja uma boa educação e é na
obra Emílio que Rousseau irá tratar sobre este assunto. Esta obra trata-se de um romance
pedagógico e é uma das maiores obras de todos os tempos nesse assunto. Para o pensador, as
crianças devem ser educadas de forma que sejam bem orientadas quanto a sua liberdade.
Não se deve treinar urna criança quando não se sabe conduzi-la aonde se quer,
somente através das leis do possível e do impossível, cujas esferas, sendo-lhe
igualmente desconhecidas, podem ser ampliadas ou restringidas diante dela como
melhor convier. Pode-se prendê-la, impeli-la ou detê-la sem que ela se dê conta,
somente através da voz da necessidade. E pode-se torna-la mansa e dócil somente
através da força das coisas, sem que nenhum vicio tenha condição de germinar em
seu coração, porque as paixões nunca se acendem quando são vis em seus efeitos.103
O sentido de bem comum deve ser colocado na educação das crianças a fim de que
elas passem ao invés de nutrirem o amor de si mesmas, passem a nutrir o amor pela
comunidade (amor aos outros). O processo de educação seria um processo continuo e não
terminaria na infância, mas perduraria a juventude (educação intelectual) e a maturidade
(dimensão moral da educação).
3.2.9 Immanuel Kant (1724-1804)
Ultimo grande filósofo da modernidade, nascido na Prússia, viveu no fim do século
XVIII e XIX. Immanuel Kant diferenciou-se dos demais filósofos do seu tempo ao propor um
99
ROUSSEAU, Jean-Jacques. O Contrato Social. 3. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1996. p.9.
100
Cf. Ibidem, p.13.
101
Cf. Ibidem, p. 125.
102
REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da Filosofia: de Spinoza a Kant. São Paulo: Paulus, 2005. v.
4, p. 285.
103
ROUSSEAU apud REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da Filosofia: de Spinoza a Kant. São
Paulo: Paulus, 2005. v. 4, p. 287.
39
modelo de filosofia que combinasse o racionalismo e o empirismo, a chamada epistemologia,
mas ficou famoso pelo seu idealismo transcendental que influenciou diretamente Hegel. Suas
influências filosóficas foram fortemente caracterizadas em parte de Descartes e Leibniz, com
o racionalismo, e em Hume, Locke e Berkeley, com o empirismo, entretanto, algumas ideias
de Spinoza, Rousseau e Montaigne também podem ser vistas. Em suas obras destacou-se o
criticismo104
.
Seu conjunto de obras é vastíssimo e de suma importância para a filosofia posterior a
ele, circulando entre a metafísica, a ética, a teologia natural, entre outros elementos. Seus
escritos podem ser divididos em seu período de maturidade de pensamento em escritos pré-
críticos e críticos105
, separados por sua Crítica da Razão Pura.
Escritos Pré-críticos:
Pensamentos sobre a verdadeira avaliação das forças vivas (1746); Historia natural
universal e teoria do céu (1755); De igne106
(1755); Principiorum primorum cognitionis
metaphysicae nova delucidatio107
(1755); Os terremotos (1756); Teoria dos ventos (1756);
Monadologia física (1756); Projetos de um colégio de geografia física (1757); Sobre o
otimismo (1759); A falsa sutileza das quatro figuras Silogísticas (1762); O único argumento
possível para demonstrar a existência de Deus (1763); Ensaio para introduzir em metafísica
o conceito de grandezas negativas (1763); Observações sobre o sentimento do belo e do
sublime (1763); Pesquisa sobre a evidência dos princípios da teologia natural e da moral
(1764); Informe sobre a orientação das lições para o semestre de inverno 1765-1766 (1765);
Sonhos de um visionário esclarecidos com os sonhos da metafísica (1766); e De mundi
sensibilis atque intelligibilis forma et principiis108
(1770).
Escritos críticos:
Crítica da Razão Pura (1781); Prolegômenos para toda metafísica futura que se
apresente como ciência (1783); Ideia de uma História Universal de um Ponto de Vista
Cosmopolita (1784); Resposta à pergunta: O que é iluminismo? (1784); Fundamentação da
Metafísica dos Costumes (1785); Primeiros princípios metafísicos da ciência natural (1786);
Crítica da Razão Prática (1788); Crítica do Juízo (1790); A Religião dentro dos limites da
mera razão (1793); A Paz Perpétua (1795); Doutrina do Direito (1796); A Metafísica dos
104
Conferir o que foi dito anteriormente sobre o ceticismo (capítulo 2).
105
Cf. REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da Filosofia: de Spinoza a Kant. São Paulo: Paulus, 2005.
v. 4, p. 350.
106
Dissertação de Doutorado de Kant.
107
Tese de docência universitária de Kant.
108
Dissertação sobre a forma e os princípios do mundo sensível e inteligível.
40
costumes (1797); O conflito das faculdades (1798); Antropologia do ponto de vista
pragmático (1798); Geografia física (1802); e A pedagogia (1803).
De seu conjunto de obras, destacam-se: Crítica da Razão Pura (1781); Crítica da
Razão Prática (1788); Crítica do Juízo (1790); A Religião dentro dos limites da mera razão
(1793).
Principais pensamentos
I. A doutrina do conhecimento
Em sua vida, Kant se propôs a responder três perguntas: o que posso saber? O que
devo fazer? E o que me é permitido esperar? Essas perguntas tratam de todo interesse que a
razão, tanto especulativa quanto prática, almeja responder e é esse o objetivo primordial da
mesma. Na obra Crítica da Razão Pura (CRP), Kant procura fazer a distinção entre a razão e
o intelecto que outrora fora feito por Platão e Spinoza, a demais, se na atualidade se tem esta
distinção os méritos são todos de Kant. A obra se trata de uma obra de teoria do
conhecimento kantiana que apresentará uma faculdade para o conhecimento humano, a qual
Kant denomina intelecto. Com Descartes, Leibniz partilha o ideal matemático como
referencia científica, a imanência do cogito, o imanentismo e o princípio da autoconsciência
como constituidora do eu.
O conhecimento é formado109
por dois elementos distintos, um sensível e outro
intelectivo. Sobre os sentidos, eles fornecem o objeto, enquanto pelo intelecto os objetos são
pensados. A doutrina da sensibilidade, Kant a chamou de Estética Transcendental (ETr) e
trata da estrutura sensível do conhecimento, na qual, observando o conhecimento sensível
descobre como elemento comum a intuição empírica que rege todo o fenômeno110
e é
apresentada nas formas de espaço e tempo111
.
Sobre o intelecto, este não é formado por intuições, mas sim por conceitos, logo é
totalmente lógico, por isso denomina essa doutrina do intelecto de Lógica Transcendental
(LTr), a qual Kant subdivide em Analítica Transcendental (ATr) e Dialética Transcendental
(DTr). A ATr tem como objetivo analisar as categorias112
a priori que não podem faltar nos
objetos. A saber:
 Quantidade: multiplicidade, unidade e totalidade.
109
O esquema da formulação do conhecimento segundo Kant pode ser observados no Anexo II desse trabalho.
110
A “coisa para mim”.
111
A matéria não é captada pelos sentidos se não estiver apresentada nestas formas.
112
Existem doze categorias referentes às formas de juízo da lógica formal.
41
 Qualidade: realidade, negação, limitação.
 Relação: substância, causalidade, comunidade.
 Modalidade: possibilidade, existência e necessidade.
Assim a ATr, conclui que só é possível conhecer através do intelecto e da sensibilidade
o fenômeno que me é apresentado conceituado de forma apriori pelo intelecto. Entretanto, a
única coisa que o intelecto humano não consegue entender é o númeno113
.
O conceito de númeno e um “conceito problemático”, no sentido de que ele não
contém nenhuma contradição, e como tal nos o podemos pensar, porém não
efetivamente conhecer; mas e também um conceito necessário, a fim de que a
intuição sensível não seja estendida ate as coisas em si mesmas: o conceito de
númeno é, portanto, apenas um conceito limite para circunscrever as pretensões da
sensibilidade, e por isso de uso puramente negativo.114
A DTr vai tratar de criticar o intelecto em relação ao metafísico. Ela vai tratar da razão
e suas estruturas, deste modo,
a “razão” é para Kant o próprio intelecto na medida em que se lança para além do
horizonte da experiência possível, e é por isso chamada também de “faculdade do
incondicionado”, da metafísica; esta, todavia, destina-se permanecer pura exigência
do absoluto, incapaz de atingir o próprio absoluto por meio do conhecimento.115
A “razão” seria a faculdade responsável por operar sobre os puros conceitos e juízos
de forma deduzida, totalmente o oposto do indutivo do intelecto através de seus juízos. Os
conceitos puros, Kant os chamará de “Ideias”116
partindo dos tipos de silogismos117
. Assim, as
ideias se distinguiriam em três: a ideia psicológica (alma), a ideia cosmológica (mundo) e a
ideia teológica (Deus)118
. Destarte, a conclusão que se pode chegar da CRP é que a metafísica
como uma ciência impossível, pois o intelecto não é capaz de conceber e nem criar tais ideias,
pois ele não é intuitivo. As ideias apenas contribuem para a compreensão do fenômeno, elas
não alargam o conhecimento, mas unificam119
.
II. Os juízos
O conhecimento humano se funda em três tipos de juízo: o juízo analítico, o juízo
sintético a posteriori e o juízo sintético a priori. O juízo analítico não necessita da
113
A “coisa em si”.
114
REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da Filosofia: de Spinoza a Kant. São Paulo: Paulus, 2005. v.
4, p. 353.
115
Ibidem, p. 354.
116
Distinta do sentido clássico ou dos demais modernos.
117
Silogismos da lógica formal: categórico, hipotético e disjuntivo.
118
Cf. REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da Filosofia: de Spinoza a Kant. São Paulo: Paulus, 2005.
v. 4, p. 371.
119
Cf. Ibidem, p. 354.
42
experiência, visto que ele é formado de forma a priori. O juízo sintético a posteriori é o juízo
baseado nas experiências, logo não são universais. Já que os dois primeiros tipos não podem
ser utilizados pela ciência, ela se utiliza de um terceiro juízo, o juízo sintético a priori, que uni
a universalidade com a necessidade e a fecundidade, dando assim o sentido de síntese. Com
isso, Kant pretende chegar à verificação das ciências para saber quais realmente cumprem o
critério científico do juízo sintético a priori120
, chegando à conclusão de que somente a
matemática e a física cumprem o critério, a metafísica como ciência não cumpre e ficaria de
fora.
III. A moral e a metafísica kantiana
Kant partindo da universalidade, desta forma, em sua obra Critica da Razão Prática
(CRPr) pode-se observar que a razão é suficiente em si mesma, diferentemente da CRP, pelo
menos em suas vontades e ações.
Ora, entre todos os princípios práticos, isto é, entre as regras gerais (subjetivas e
objetivas) que determinam a vontade, apenas os imperativos categóricos constituem
as leis praticas que valem sem condições para o ser racional, porque eles
determinam a vontade simplesmente como vontade, prescindindo da obtenção de
determinado efeito desejado.121
Se nos prendêssemos e estivéssemos totalmente subordinados a lei moral e ao seu
conteúdo, agiríamos apenas no utilitarismo e, por conseguinte, em um “empirismo”,
entretanto, à vontade nos permite exercer a virtude, isto é, pela racionalidade agimos com
essência moral, adequando, isto é, a adequação da vontade a forma da lei122
. O que Kant quer
afirmar é que a formulação do imperativo hipotético, o qual até então conduzia toda a moral,
não faz com que a racionalidade seja exercida de forma perfeita. O imperativo hipotético só
tem um objetivo, chegar a uma finalidade, e não conduzir a uma vida moral. Por exemplo: “se
queres ser perfeito, faz isso ou aquilo”.
O interativo categórico, proposto por Kant, trata das ações que são boas em si e não
que são boas apenas com uma finalidade ou interesse. O imperativo categórico colabora para
uma melhor vida moral visto que o seu agir vai contribuir com o exercício da sua vontade,
logo da sua racionalidade (razão). Assim: “age de modo que a máxima de tua vontade possa
120
O juízo sintético é o juízo que não se pode chegar as conclusões com apenas as proposições oferecidas por
ele, se faz necessário a experiência para saber a veracidade.
121
REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da Filosofia: de Spinoza a Kant. São Paulo: Paulus, 2005. v.
4, p. 376.
122
Cf. Ibidem, p. 376.
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A Filosofia Moderna e seus principais pensadores

  • 1. AARRQQUUIIDDIIOOCCEESSEE DDEE SSÃÃOO SSEEBBAASSTTIIÃÃOO DDOO RRIIOO DDEE JJAANNEEIIRROO SSeemmiinnáárriioo AArrqquuiiddiioocceessaannoo SSããoo JJoosséé IInnssttiittuuttoo SSuuppeerriioorr ddee CCiiêênncciiaass RReelliiggiioossaass ddaa AArrqquuiiddiioocceessee ddoo RRiioo ddee JJaanneeiirroo IINNTTRROODDUUÇÇÃÃOO ÀÀ FFIILLOOSSOOFFIIAA MMOODDEERRNNAA OO ppaannoorraammaa hhiissttóórriiccoo ee sseeuuss eelleemmeennttooss ccoonnssttiittuuttiivvooss Organizado por Rubens Raniery Fernandes Gomes Bacharel em Filosofia pela PUC-Rio Rio de Janeiro, 2014.
  • 2. 1 “Nossa razão deve amparar a nossa fé, sempre com a reserva de não imaginar que por si só, pela força que pode alcançar, lhe seja dado adquirir essa ciência sobrenatural que provém de Deus.” (Michel de Montaigne)
  • 3. 2 SUMÁRIO INTRODUÇÃO 4 1 O CONTEXTO HISTÓRICO 6 1.1. O RENASCIMENTO CULTURAL 6 1.2. AS REFORMAS RELIGIOSAS 7 1.3. A REVOLUÇÃO CIENTÍFICA 9 1.4. A CRISE DA ESCOLÁSTICA 9 2 OS PRINCIPAIS PERÍODOS E CORRENTES 11 2.1. OS PERÍODOS MARCANTES DA FILOSOFIA MODERNA 11 2.1.1. O Iluminismo 11 2.1.2. O Humanismo 11 2.2. AS CORRENTES FILOSÓFICAS NA FILOSOFIA MODERNA 12 2.2.1. O Racionalismo 12 2.2.2. O Ceticismo 13 2.2.3. O Empirismo 13 2.2.4. O Idealismo 14 2.2.5. O Criticismo 14 3 OS PENSADORES 16 3.1. O RENASCIMENTO 16 3.1.1 Niccolò di Bernardo dei Machiavelli (1469-1527) 17 Principais pensamentos 17 3.1.2 Michel Eyquem de Montaigne (1533-1592) 18 Principais pensamentos 19 I. Fideísmo 19 II. Ceticismo 19 3.1.3 Giordano Bruno(1548-1600) 20 Principais pensamentos 20 3.2. IDADE MODERNA 22 3.2.1 Francis Bacon (1561-1626) 23 Principais pensamentos 24 I. Teoria dos Ídolos 24 II. Teoria dos Métodos Científicos 24 3.2.2 René Descartes (1596-1650) 25 Principais pensamentos 25 I. O Discurso do Método 25 II. A realidade e as substâncias 26 III. Meditações Metafísicas e o solipsismo 26 3.2.3 Blaise Pascal (1623-1662) 27 Principais pensamentos 27 I. A miséria da dignidade do homem 27 II. Os Espíritos 28 3.2.4 John Locke (1632-1704) 29 Principais pensamentos 30 3.2.5 Baruch Spinoza (1632-1677) 31
  • 4. 3 Principais pensamentos 31 I. Deus como única substância 31 II. A religião 32 3.2.6 Gottfried Willhelm Leibniz (1646-1716) 32 Principais pensamentos 33 I. Leibniz e seus predecessores 33 II. A monadologia 33 III. O discurso metafísico 34 3.2.7 David Hume (1711-1776) 35 Principais pensamentos 36 3.2.8 Jean-Jacques Rousseau (1717-1778) 37 Principais pensamentos 37 I. O Pacto Social 37 II. A educação 38 3.2.9 Immanuel Kant (1724-1804) 38 Principais pensamentos 40 I. A doutrina do conhecimento 40 II. Os juízos 41 III. A moral e a metafísica kantiana 42 REFERÊNCIAS 44 ANEXO I: ATA DE EXCOMUNHÃO DE BARUCH SPINOZA 46 ANEXO II: O ESQUEMA DO PROCESSO DO CONHECIMENTO EM KANT 47
  • 5. 4 INTRODUÇÃO A Filosofia Moderna é um período da história da filosofia marcado por grandes transformações culturais, influenciando diretamente no pensamento da sociedade. Foi um período da história em que, os pensadores que ali surgiam, buscavam a libertação do sistema político e religioso que até a Idade Média governada com pulso de ferro à produção intelectual-político-socal. A Filosofia Moderna transformou o pensamento e ao mesmo tempo se transformou. Transformou o pensamento elaborando novos métodos para o conhecimento, uma ciência moderna, ao passo que se transformou, pois de toda a história da filosofia, visto que foi ela que mais passou por diversidades intelectuais e históricas. As transformações histórico- sociais tais como o Renascimento, em especial a retomada de Platão e Aristóteles sob um ponto de vista distinto da Escolástica e do medievo, foram essenciais para a nova época. Por conseguinte, o cientificismo, a supervalorização da experiência, indo de contraposição ao dogmatismo e a metafísica clássica, foi o estopim para o rompimento com o pensamento, que até então dominava. A modernidade passa a supervalorizar o homem e seus atributos, a liberdade e a razão, como medida para obter o conhecimento das coisas ao seu redor, diferentemente do período medievo, no qual a religião depositava as respostas em Deus. Abrem-se as portas para o ceticismo, o qual se tornou o maior ponto de partida da mudança de época, para o racionalismo e o empirismo, que foram grandes paradigmas deste período. As produções científicas, o humanismo e a razão acima de todas as coisas, foram elementos que contribuíram para que esse período fosse diverso em ideologias e doutrinas marcantes ao mesmo tempo muito diversas para um mesmo momento histórico. Todas possuíam um único objetivo, delimitar a capacidade de conhecimento do homem através da gnosiologia, a epistemologia e a ontologia, em síntese, a teoria do conhecimento. Grandes nomes renomados passaram pela modernidade, que giram do renascimento com artistas humanistas, século XIV, e se estende até o idealismo as portas da contemporaneidade, século XVIII. Passando pelos renascentistas humanistas, Erasmo de Roterdã e Dante Alighieri, os cientistas Galileu Galilei e Giordano Bruno, os céticos Michel de Montaigne e Blaise Pascal, os racionalistas René Descartes e G. W. Leibniz, os empiristas Tomas Hobbes e John Locke, os políticos Nicolau Maquiavel e J.-J. Rousseau e sintetizando todo o pensamento moderno em Immanuel Kant. Este curso tem como objetivo um panorama histórico-político da Filosofia Moderna em seus elementos constitutivos, entretanto, o mesmo não pretende esgotar todo o conteúdo
  • 6. 5 da tal filosofia e nem pretende abordar todos os pensadores, mas demarcar em uma linha histórica seus limites, características e importâncias para a história.
  • 7. 6 1 O CONTEXTO HISTÓRICO A Filosofia Moderna representa um período da história da filosofia que se inicia a partir do século XIV se estende até o século XVIII. Historicamente a Idade Moderna só tem inicio no século XVII após o enfraquecimento da Igreja com o período do Renascimento Cultural. Entretanto, o Renascimento não se trata de um período propriamente histórico, mas um movimento cultural, e por esse ir de oposição ao período medievo, passa a ser considerado pré-modernidade, isto é, dentro da história como modernidade. A Filosofia Moderna é marcada pelo rompimento com a ideia proposta pela Escolástica e pelos pensadores medievos, isto é, Deus está no centro de todas as coisas e é a única medida de todas as coisas. Ao invés disso, dá-se lugar a racionalidade e os métodos científicos como fontes únicas para o saber e colocando o homem no centro do mundo a partir das concepções dadas pelo humanismo e dos demais elementos que contribuíram para a mudança do período: a queda da Escolástica, as reformas religiosas e científicas. O rompimento com a metafísica é outra característica própria e principal do período, derrubando, assim, os pressupostos metafísicos, eliminando a religião e a ética, no seu sentido clássico. A proposta de todos os movimentos filosóficos da época é derrubar a religião que tem Deus como seu centro e passar a valorizar o homem colocando-o como regra para todas as coisas. O fato não é se preocupar em provar que Deus não exista, característica da contemporaneidade e pós-modernidade, mas que o sistema religioso estava corrompido. 1.1. O Renascimento Cultural O Renascimento Cultural do inicio do século XIV marca a redescoberta da cultura Greco-romana pagã em oposição à cultura cristã medieval. Trata-se de um período da história europeia que está localizado entre a Idade Medieva e o Iluminismo. O humanismo foi a principal característica deste período, no qual a redescoberta do homem e o seu supervalorizar tornaram-se o centro de todo o pensamento do período. Todo humanista valorizava o homem como imago Dei, assim, retirou-se Deus do centro do mundo e passou a colocar o homem no mesmo, abrindo-se mão do teocentrismo1 escolástico passando para um antropocentrismo2 . O homem passou a parar de pensar com a cabeça da Igreja e da sua Escolástica e passou a valorizar a sua própria razão, não era mais Deus que dava as respostas ao homem e sim à razão. Tratava-se de uma nova leitura do homem na história, não mais a partir do que a 1 Teocentrismo = θεóς (Deus) + κέντρον (centro). 2 Antropocentrismo = άνθρωπος (humano) + κέντρον (centro).
  • 8. 7 Igreja apresentava, mas sim o homem fazendo a sua história. Retomando, assim, na ética, na moral, na economia, na política e na arte, as ideias do platonismo, aristotelismo, ceticismo, epicurismo e estoicismo. Os autores do Renascimento utilizavam as mesmas fontes histórias que os autores medievos, entretanto, passaram a refletir modificando o centro do conhecimento, de Deus para o homem. Em si, o Renascimento não possui muita produção filosófica crítica de muita relevância, os escritores da época são bem mais conhecidos por sua literatura do que pelas inovações trazidas, trata-se de um período de transição para a modernidade. O Renascimento teria sido época de grande efervescência intelectual e artística, de grande paixão pelas novas descobertas quanto à Natureza e ao Homem, de redescobertas do saber greco-romano liberado da crosta interpretativa com que o cristianismo medieval o recobrira, de desejo de demolir tudo quanto viera do passado, desejo favorecido tanto pela chamada Devoção Moderna (a tentativa de reformar a religião católica romana sem romper com a autoridade papal) quanto pela Reforma Protestante e pelas guerras de religião, que abalaram a ideia de unidade europeia como unidade político-religiosa e abriram as portas para o surgimento dos Estados Territoriais Modernos.3 1.2. As Reformas religiosas A crise religiosa floresceu por volta do século XVI e veio trazer à tona realidades que já estava ocorrendo em toda a Europa e que a Igreja tentava lutar contra. Tratava-se de um tentar descentralizar da Igreja o poder que a mesma tinha bem como modificar a perspectiva de mundo e seus fenômenos que estavam atrelados a doutrinas da mesma. Em um primeiro momento, indo de encontro com os dogmas de fé e posteriormente com a própria estrutura hierárquica da mesma. A Igreja assume um lugar de grande importância e destaque na história e passa reter em si uma potência política e religiosa, a qual tinha poderes para colocar no trono um rei e ao mesmo tempo depô-lo. A integração entre Igreja e Estado era muito bem clara e vê-se nitidamente nas Inquisições. Portanto, O mundo cristão europeu cinde-se de alto a baixo em novas ortodoxias (luteranismo, calvinismo, anglicanismo, puritanismo) e em novas heterodoxias (anabatistas, menonitas, quakers, os "cristãos sem igreja"). As lutas religiosas não ocorrem apenas entre católicos e reformados, mas também entre estes últimos e particularmente entre eles e as pequenas seitas radicais e libertárias que serão freqüentemente dizimadas, com violência descomunal. 4 3 SHAUÍ, Marilena. Filosofia Moderna. São Paulo: USP, 2000. Disponível em: <http://www.chasqueweb.ufrgs.br/~slomp/filosofia/chaui-filosofia-moderna.htm>. 4 Ibidem.
  • 9. 8 Assim, pode-se dizer que os maiores movimentos de crítica à religião se iniciam neste período, ao menos os pensamentos, e irão aflorar por volta do século XVII com as criticas, em geral, racionalistas do fenômeno religioso5 . O método de leitura da Sagrada Escritura também foi questionado e a partir deste período, a proposta de novas traduções e interpretações da Sagrada Escritura contribuiu fortemente para um rompimento de muitos com a Igreja e principalmente em crises com o próprio Estado. Tudo isso tendo em vista descentralizar da Igreja Romana o poder absoluto, o qual a mesma estava se aproveitando de forma não condizente com as verdades contidas nas Escrituras. Modifica-se a maneira de ler e interpretar a Bíblia, modifica-se a relação entre religião e política: todos devem ter o direito de ler o Livro Santo e nele Deus não declarou que a monarquia é o melhor dos regimes políticos. Dois resultados culturais decorrem dessa nova atitude: por um lado, o desenvolvimento de escolas protestantes para alfabetização dos fiéis, para que possam ler a Bíblia e escrever sobre suas próprias experiências religiosas, divulgando a nova e verdadeira fé (a panfletagem será uma das marcas características da Reforma, que produziu uma população alfabetizada); por outro lado, na fase inicial do protestantismo (que seria suplantada quando algumas seitas triunfassem e se tornassem dominantes), a defesa da ideia de comunidade, de república popular ou aristocrática e do direito político à resistência, isto é, da desobediência civil face ao papado e aos reis e imperadores católicos.6 A chamada Reforma Protestante que na verdade abarcou muito mais do que se pode imaginar, foram transformações mais do que religiosas, foram, ao mesmo tempo, reformas políticas e sociais. Destacam-se dentro deste período os protestantes, os quais se desdobraram nas Reformas Luterana (1521), Calvinista (1534) e Anglicana (1534). Entretanto, as consequências destes rompimentos foram muito grandes para a sociedade que entrava em crise. Em primeiro lugar, crise da consciência, pois a descoberta do universo infinito por homens como Giordano Bruno deixava os seres humanos sem referência e sem centro; em segundo lugar, crise religiosa, pois tanto a Devoção Moderna quanto a Reforma Protestante criaram infinidade de tendências, seitas, igrejas e interpretações da Sagrada Escritura, dos dogmas e dos sacramentos, de modo que a referência à ideia de Cristandade, central desde Carlos Magno, se perdera; em terceiro lugar, crise política, pois a ruptura do centro cósmico (o universo é infinito), a perda do centro religioso (o papado), a perda do centro teórico (geocentrismo, aristotelismo tomista, mundo hierárquico de seres e de ideias) foi também a perda do centro político (o Sacro Império Romano Germânico destroçado pelos reinos modernos independentes e pelas cidades burguesas do capitalismo em expansão) e de suas instituições (papa, imperador, Direito Romano, Direito Canônico, relações sociais determinadas pela hierarquia da vassalagem entre os nobres e pela clara divisão entre senhores e servos, das relações econômicas definidas pela posse da terra e pela 5 Em destaque: René Descartes (1596-1650), Blaise Pascal (1623-1662), Baruch Spinoza (1632-1677) e Immanuel Kant (1724-1804). 6 SHAUÍ, Marilena. Filosofia Moderna. São Paulo: USP, 2000. Disponível em: <http://www.chasqueweb.ufrgs.br/~slomp/filosofia/chaui-filosofia-moderna.htm>.
  • 10. 9 agricultura e pastoreio, com o artesanato urbano apenas subsidiário para o pequeno comércio dos burgos).7 Com efeito, a Igreja de Roma também se deu o direito de defesa, principalmente se preocupando no avanço do protestantismo e na grande perda do povo, desta forma, a mesma propõe uma Contra Reforma, convocando o Concílio de Trento para discutir essa situação chegando as seguintes conclusões sobre este assunto: a reforma da Congregação da Sacra, Romana e Universal Inquisição do Santo Ofício; a criação do Index Librorium Proibitorium e fechamento do cânon; e a preocupação com a evangelização e catequese dos colonos pelos jesuítas. 1.3. A Revolução Científica Para o período em questão, as novas descobertas científicas participam de um movimento chamado de Renascimento Científico, pois o nome Revolução Científica é mais atual, do início do século XX. O Renascimento científico deve ser olhado sobre a perspectiva do Renascimento Cultural, o homem buscando encontrar respostas por si mesmo e não esperando que a Igreja os dê. Por consequência, pode-se atestar uma mudança na intenção e na busca do conhecimento, trata-se de um período de grandes descobertas experimentais que foram possibilitadas devido aos estudos mais profundos, saindo das grandes bibliotecas medievais e indo para a prática8 . Trata-se da ruptura com o pensamento clássico do Estagirita de inteligibilidade, buscando evitar o erro (equivoco). Nesse período, muitos pensadores se destacaram com suas doutrinas cientificistas ou almejando fazer ciência, entretanto se destacam com valor científico, cientistas como: Nicolau Copérnico9 (1473-1543), Galileu Galilei10 (1564-1642), Andreas Vesalius11 (1514-1564), Leonardo da Vinci (1452-1519) e Johannes Kepler12 (1571-1630). Os demais, também obtiveram muitas inovações, mas muito associados à filosofia ainda, visto que até o inicio do século XVII a ciência estava atrelada a mesma. 1.4. A crise da Escolástica 7 SHAUÍ, Marilena. Filosofia Moderna. São Paulo: USP, 2000. Disponível em: <http://www.chasqueweb.ufrgs.br/~slomp/filosofia/chaui-filosofia-moderna.htm>. 8 Três elementos constitutivos: experiência, observação e comprovação. 9 De revolutionibus orbium coelestium (1543). 10 Dialogo sopra i due massimi sistemi del mondo (1632). 11 De Humani Corporis Fabrica (1543). 12 Mysterium Cosmographicum (1596) e Astronomia Nova… De Motibus Stellae Martis (1609), sobre as 3 Leis do movimento planetário.
  • 11. 10 A Escolástica entra em decadência por volta do inicio do século XIV, no final do período medievo. Marcado pelo surgimento do humanismo renascentista, pelas novas descobertas científicas, pelas Reformas e, principalmente, pelas discussões entre a fé e a razão. Destacam-se neste período de passagem da Escolástica para o Renascimento, quatro grandes pensadores que colaboraram marcando esta distinção entre fé e razão, são eles: João Duns Scotus, Mestre Echkart, Guilherme de Ockham e Nicolau de Cusa13 . O primeiro, e talvez mais importante, dos aspectos da evolução da escolástica foi possivelmente a separação entre a razão e a fé. Com Duns Scotus e Guilherme de Ockham, a teologia se voltou para o maior problema da escolástica: o equilíbrio entre a razão e a fé. Foi Duns Scotus o primeiro a separar a razão dos assuntos da fé, pois Deus é tão livre que escapa à razão humana. A liberdade divina, tornada centro da teologia, estava definitivamente fora do alcance da razão. Guilherme de Ockham prosseguiu esta obra e completou o divórcio entre o conhecimento prático e o teórico, aplicando as consequências da doutrina escotista às relações entre o homem e Deus.14 Esses autores da segunda Escolástica, principalmente Ockham e Scotus tiveram grande influencia neste declínio da mesma. O Doctor Subtilis15 fez questão de evidenciar as distinções entre os assuntos de fé e razão, entre teologia e filosofia. Em sua obra Ordinatio, trata de conceituar os entes (finitos e infinitos) e intelecto (intuição e abstração), porém se questiona da possibilidade de se fazer metafísica ou uma teologia filosófica. Duns Scotus foi o mentor de Ockham, por isso vê-se a importância e semelhança no pensamento de ambos para o periodo. Já o Doctor Invincibilis16 com a via moderna, a lógica da modernidade e a Navalha de Ockham17 , coloca a razão em evidencia deixando a fé em outro campo. 13 Apenas uma referência destes pensadores de passagem para contexto histórico. 14 TÔRRES, Moisés Romanazzi. A decadência da Escolástica no fim da Idade Média. In: Revista de história. n. 9. 1. semestre. Rio de Janeiro: UFRJ, 2001. p. 67. 15 Alcunha honorífica atribuída à Duns Scotus. 16 Alcunha honorífica atribuída à Guilherme de Ockham. 17 Partindo do conceito aristotélico: “o que se pode fazer com menos não se deve fazer com mais”. Trata-se do principio do nominalismo de Ockham. Em termos metafísicos, Ockham sustenta que, na realidade só existem indivíduos e também que no individuo tudo é individual. Em termos epistemológicos, a economia proposta tem seu principal corolário na posição de Ockham sobre os universais, por que os negam a existência, reduzindo-os a nomes.
  • 12. 11 2 OS PRINCIPAIS PERÍODOS E CORRENTES 2.1. Os períodos marcantes da Filosofia Moderna Além do período do Renascimento, entre os séculos XIV-XVII, e da Revolução Científica, entre os séculos XVI-XVIII, os pensadores também sofreram influencias de períodos, não necessariamente históricos, mas de influência doutrinaria e de pensamentos dentro da filosofia. Trata-se do Iluminismo e do Humanismo. 2.1.1. O Iluminismo O Iluminismo18 trata-se de um movimento que surgiu na França, na Alemanha e na Inglaterra. Esse não apenas é um movimento filosófico, mas também político, artístico e literário que floresceu por volta do século XVIII, com a finalidade de defender a ciência e a razão do dogmatismo que era proposto pela fé e criticar o sistema absolutista que existia. O principal pensamento deste movimento é acabar com o teocentrísmo que era defendido pelos escolásticos, abusando assim do racionalismo. Tratava-se de substituir as crenças e a religiosidade que, na concepção deles, fazia o homem regredir, visto que o homem é capaz de raciocinar e buscar suas próprias respostas, retirando Deus do centro e alterando assim a centralidade e a medida de tudo para o homem. Assim, é pela razão se chega a todas as verdades que outrora eram dadas pela religião. Entretanto, Kant com o noumeno, a coisa em si, mostra que a razão é limitada, visto que ela só pode conceber aquilo que é apresentado por fenômenos, à coisa para mim. A razão, no Iluminismo, ganho um papel importante dentro da história, pois ela passa a ser instrumento de liberação individual. Dentre os pensadores se destacam: Denis Diderot (1713-1784), Jean d’Alembert (1717-1783), Voltaire (1694-1778), Montesquieu (1689-1755) e Jean-Jacques Rousseau (1712-1778). 2.1.2. O Humanismo Tratava-se do movimento filosófico e literário que surgiu dentro do período do Renascimento nos meados do século XIV, mas especificamente na região da Itália, com a finalidade de situar o homem e sua totalidade como centro de toda a reflexão e propor meios para a realização do mesmo. Esse movimento faz parte integrante e constitutiva da passagem do medievo para a modernidade, e sendo doutrina específica no Renascimento. 18 Esclarecimento, Ilustração ou Século das Luzes.
  • 13. 12 Em sentido mais geral, pode-se entender por H. qualquer tendência filosófica que leve em consideração as possibilidades e, portanto, as limitações do homem, e que, com base nisso, redimensione os problemas filosóficos.19 O Humanismo se baseia em três pontos fundamentais: o primeiro deles é o reconhecimento da totalidade do homem como ser formado de alma e corpo e destinado a viver no mundo e a dominá-lo; o segundo trata-se do reconhecimento da historicidade do homem, trata-se da união do homem com o seu passado e ao mesmo tempo para distingui-lo dele; por fim, o terceiro trata do reconhecimento do valor humano das letras clássicas, sendo essas produções intelectuais do homem.20 Dentro da evolução do humanismo, desde o seu inicio na Itália até sua extensão por toda a Europa passando principalmente pela França e Espanha, se destacaram os principais pensadores: Coluccio Salutati (1331-1406), Leonardo Bruni (1374-1444), Lorenzo Valia (1407-57), Giannozzo Manetti (1396-1459), Leonbattista Alberti (1404-72) e Mario Nizolio (1498-1576), dentre os Italianos; Charles de Bouelles (1470 ou 75-1553), Petrus Ramus (1515-1572), Michel Eyqem de Montaigne (1533-1592), Pierre Charron (1541-1603), Francisco Sanchez (1562-1632) e Justo Lipsio (1547-1606), dentre os Franceses; os espanhóis Ludovico Vives (1492-1540); por fim, o alemão Rodolfo Agrícola (1442-85). 2.2. As correntes filosóficas na Filosofia Moderna Dentro do âmbito da filosofia moderna, foram retomadas diversas correntes de pensamentos que tiveram seu inicio na filosofia clássica e foram relidas ao modo moderno. Ao mesmo tempo novos estilos de pensamentos surgiram, uns totalmente diferentes do estilo clássico e outros unindo diversas doutrinas buscando uma síntese do pensamento. 2.2.1. O Racionalismo Por racionalismo entende-se o movimento filosófico que agregou a filosofia o conceito de raciocínio como uma operação que se utiliza de proposições lógicas. Trata-se da teoria na qual a razão é o meio de se alcançar o conhecimento, essa é o princípio fundamental para se chegar ao conhecimento de qualquer coisa e que tudo, mesmo não sendo experimental, tem uma causa inteligível. A razão torna-se suficiente para o conhecimento do mundo. Desta forma, observa-se o avanço da matemática e da lógica como meios racionais de adquirir o conhecimento verdadeiro. 19 ABBAGNANO, Nicola. Humanismo. In: ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. 5. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2007. p. 519. 20 Cf. Ibidem, p. 519.
  • 14. 13 Destaca-se na modernidade o famoso racionalismo cartesiano, o qual a razão é o único meio para o conhecimento e abrindo-se mão das dúvidas, pois Descartes evidência as opiniões do senso comum. Entretanto, dentre os pensadores se destacam não somente René Descartes (1596-1650), mas também Thomas Hobbes (1588-1679), Baruch Spinoza (1632-1677) e G. W. Leibniz (1646-1716). 2.2.2. O Ceticismo Trata-se da corrente de pensamento filosófica que considera impossível chegar ao conhecimento real das coisas através da razão humana, isto é, o intelecto não pode inferir a certeza sobre as coisas. Não se tratava de não existir certeza das coisas, mas sim a impossibilidade do intelecto conhecê-las, pois o grande problema para chegar à certeza está no critério de verdade e falsidade. Desse modo, encontra-se no ceticismo primeiramente o homem renunciando à busca pela certeza e suspender o juízo21 , “mediante renúncia ao conhecimento da verdade”22 , devido à dúvida sobre o critério de verdade; depois a busca pela certeza (experimental)23 que vai de contrario ao dogmatismo; e por fim, a imperturbabilidade24 da alma em vista da conformidade com a capacidade limitada de atingir a certeza e o juízo de verdade e falsidade. O ceticismo surge na modernidade juntamente com a retomada do pensamento dos filósofos clássicos dentro do renascimento. Com este, na modernidade, o ceticismo ganha um novo horizonte, ele busca contestar o dogmatismo que era proposto pela escolástica, gerando assim, um relativismo, pois limita à capacidade do conhecimento ao senso comum e a vida prática. Na modernidade, principalmente neste período de transição, mesmo tentando fazer oposição ao dogmatismo existe também o chamado ceticismo fideísta, cujo grande pensador em destaque foi Michel de Montaigne, o qual “argumenta que, sendo a razão incapaz de atingir a verdade, deve-se então apelar para a fé e a revelação como fontes da verdade”25 . 2.2.3. O Empirismo Trata-se da corrente filosófica a qual a experiência (sensorial) e a evidência são critérios de verdade para se chegar ao conhecimento. Em um período de renascimento 21 evpokh, (epoché): a “suspensão do juízo” é característica do ceticismo pirrônico. 22 REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da Filosofia: do Humanismo a Descartes. 2. ed. São Paulo: Paulus, 2005. v. 3, p. 62. 23 zh,thsij (zétesis): essa é caracterizada pelo ceticismo acadêmico de Carnéades. 24 avtaraxi,a (ataraxía): de origem em Demócrito, mas floresceu no ceticismo, epicurismo e estoicismo, principalmente com Pirro. 25 JAPIASSÚ, Hilton; MARCONDES. Ceticismo. In: JAPIASSÚ, Hilton; MARCONDES, Danilo. Dicionário básico de filosofia. 3. ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2006.
  • 15. 14 científico, nada mais justo que o método científico tenha um grande peso nas definições de todas as coisas, desta forma a experiência sensorial que compõe o método científico passa a ser critério para todas as descobertas da época. O empirismo teve um papel essencial na história, visto que ele surgiu no Reino Unido em contraposição ao racionalismo exagerado que surgiu no mesmo período histórico em toda a Europa ocidental. O empirismo mesmo sendo um pensamento novo, pelo menos no que se trata de tradição filosófica, era uma forma de pensamento já contemplada desde a antiguidade, como a “távola rasa” de Aristóteles que fora retomada pó John Locke. Dentre os defensores do empirismo destacam-se Nicolau Maquiavel (1469-1527) Francis Bacon (1561-1626), Thomas Hobbes (1588-1679), George Berkeley (1685-1753), David Hume (1711-1776) e John Locke (1632-1704), o qual esse último, por sua grande contribuição no pensamento, é considerado o precursor da tradição empirista. 2.2.4. O Idealismo O Idealismo trata-se da corrente filosófica que surgiu nos meados do século XVII26 , no advento da modernidade, com base na doutrina das ideias platônicas. Entretanto, foi no cogito cartesiano que ela teve sua origem, mas teve maior prestigio junto com as escolas alemãs. O Idealismo parte de uma síntese entre o racionalismo, que valorizava a razão como meio de conhecimento, e o empirismo, que buscava na experiência as suas justificativas. Na modernidade, o Idealismo, apresentam-se: George Berkeley (1685-1753) e Immanuel Kant (1724-1804). Esses desenvolveram o Idealismo cada qual de uma forma distinta, surgindo pelo menos quatro doutrinas idealistas dentro do período, a saber: o Idealismo Absoluto que está diretamente ligado ao pensamento de Hegel na Filosofia Contemporânea; o Idealismo Dogmático e o Idealismo Transcendental que estão voltados para o pensamento de Kant; e o Idealismo Imaterial que está diretamente ligado ao pensamento de Berkeley. 2.2.5. O Criticismo O criticismo é a filosofia própria do pensamento kantiano, trata-se de considerar que a análise crítica da possibilidade. Essa doutrina de Kant, que em seus pontos básicos agiu na filosofia moderna e nos efeitos ao longo dos séculos que a mesma causou. Trata-se de uma síntese do próprio Kant das duas possíveis fontes de conhecimento que eram defendidas desde 26 Mas ganhou força mesmo no século XIX.
  • 16. 15 o medievo, a sensibilidade e o entendimento, isto é, o empirismo e o racionalismo. Entretanto, Kant busca defender que só é possível o conhecimento quando se juntam as experiências com o intelecto, onde a sensibilidade dá a matéria para o conhecimento e o intelecto as formas da mesma. Em primeiro momento, o criticismo vai tratar da formulação crítica do problema filosófico e o rompimento com a metafísica como esfera de problemas que estão além das possibilidades da razão humana. Depois, o criticismo delimitará a tarefa da filosofia como reflexão sobre a ciência, a fim de determinar as condições que garantem a validade da ciência, isto é, trata-se da verificação de quais ciências cumprem o critério científico do juízo sintético a priori27 . Por fim, o criticismo busca uma distinção fundamental entre os problemas relativos à origem do conhecimento (de onde ele vem?), o conhecimento no homem (como ele se desenvolve?) e o problemática quanto a validade do conhecimento (quais seriam os critérios?). 27 O juízo sintético é o juízo que não se pode chegar às conclusões com apenas as proposições oferecidas por ele, se faz necessário a experiência para saber a veracidade.
  • 17. 16 3 OS PENSADORES Agora, trabalhar-se-á propriamente dito os dois período críticos da historia da filosofia moderna, o Renascimento e a Idade Moderna, abordando alguns pensadores dos momentos históricos. Pretende-se ressaltar os pensadores que tiveram maior influência nas doutrinas e no período, e que as suas filosofias atualizaram a filosofia clássica, mudaram o momento em que viviam e se tornaram pressupostos para a posteridade. 3.1. O Renascimento Depois de um período da história inteiramente religioso, no qual o Deus era o centro de todas as preocupações, o Renascimento inaugura um novo período filosófico. Como filosofia em si, este período não trouxe muita novidade, apenas releituras de cunho humanistas de clássicos, mas suas obras ficaram na história pelo poder literário e pela ousadia de fazer frente ao sistema religioso que até então dominava. O renascimento não é um período histórico propriamente dito, mas é um período que concilia o religioso com as novidades modernas, trata-se de uma síntese do novo espírito que surgira. Dante Alighieri (1265-1321) e sua obra Divina Comédia abriram as portas na filosofia para este novo estilo elaborando uma reflexão filosófica sobre o religioso, mas foi somente entre os séculos XV-XVI que o movimento se concretizou. A proposta foi realmente um “renascer”, pois a Idade Média era um período que fora considerado Idade das Trevas, da escuridão, um período de barbáries. Neste período, os pensadores utilizaram das mesmas fontes que os medievais, entretanto, com outro foco, com um foco mais na humanidade, no raciocínio e nas experiências. O teocentrismo que era característico da doutrina da Idade Média já não era tão forte devido à queda da Escolástica e as próprias crises religiosas que estavam ocorrendo. Foi então o momento em que a arte28 , a literatura e a filosofia puderam respirar livres das correntes religiosas. No campo da filosofia se destacam como mentes brilhantes que atuaram em diversas áreas como a arte, a música e a literatura, entretanto, manter-se-á o foco nos pensadores que mais se destacaram como filosofia, dos quais alguns serão tratados mais detalhadamente em seguida. 28 Michelângelo, Leonardo Da Vinci e Botticelli.
  • 18. 17 Principais pensadores do Renascimento: Dante Alighieri (1265-1321) Thomas More (1478-1535) Georgios Gemisto Pléthon (1355-1452) Tomás Müntzer (1490-1525) Leonardo Bruni (1369-1444) Bernardino Telésio (1509-1588) Nicolau de Cusa (1401-1464) Jean Bodin (1530-1596) Leon Battista Alberti (1404-1472) Michel Eyquem de Montaigne (1533-1592) Marsílio Ficino (1433-1499) Giordano Bruno (1548-1593) Desidério Erasmo de Roterdã (1466-1536) Johannes Althusius (1557-1638) Niccolò di Bernardo dei Machiavelli (1469-1527) Tommaso Campanella (1568-1639) 3.1.1 Niccolò di Bernardo dei Machiavelli (1469-1527) Foi um político, historiador, intelectual e diplomata no período do Renascimento, nascido na Itália. Suas maiores reflexões giram em torno do sistema político de sua época e a proposta de uma reorganização do mesmo, dando inicio a uma nova época para o pensamento político, gerando a ciência política moderna que se tem conhecimento até hoje. Suas obras mais conhecidas foram O Príncipe29 (1513), o Discurso sobre a primeira década de Tito Lívio (1512-1517) e A Arte da Guerra (1519/20), mas Maquiavel também escreveu diversos romances, comédias e obras literárias de pouca importância para o estudo filosófico. Principais pensamentos Em sua grande obra O Príncipe defendia como ideal o chamado realismo político, no qual descartava totalmente as doutrinas políticas que, até então, estavam em vigou ou se apresentaram para discussão e desenvolve outro sistema. Maquiavel se utiliza de pensamentos dos filósofos da antiguidade, mas com um olhar totalmente distinto do olhar medieval. O pensador tem o foco no seu objetivo, afastando-se “do pensamento especulativo, ético e religioso, assumindo como cânon metódico o princípio de especificidade”30 . No seu pensamento político, ele parte de um realismo político, dos conceitos de virtù e fortuna, da liberdade e “retorno aos princípios”. A saber: a) O conceito de virtù (virtude) e está diretamente ligado à maioria de suas obras. A virtude não está ligada ao sentido que a Escolástica tem, mas está totalmente 29 No original criado por Maquiavel De Principatus (Sobre os Principados). 30 REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da Filosofia: do Humanismo a Descartes. 2. ed. São Paulo: Paulus, 2005. v. 3, p. 93.
  • 19. 18 vinculada ao sentido primeiro que o Estagirita31 identificou como areté32 . Entretanto, para ele trata-se da astúcia, capacidade de dominar a situação, seria uma sabedoria intrínseca. b) O conceito de fortuna, também muito utilizado por ele, está ligado ao sentido de sorte33 . Que age na vida das pessoas sem se saber onde e como ela vai agir, sendo esta ação boa ou má. De modo que, não por acaso, mas para que o nosso livre-arbítrio não desapareça, julgo poder ser verdade que a sorte seja arbitra de metade de nossas ações, mas que, também, ela deixe a nós governar a outra metade, ou quase.34 c) O retorno aos princípios está diretamente ligado ao ideal de liberdade e bons costumes que deveriam ser as bases para o governo, isto é, a república romana. Não necessariamente, o filósofo pensou em um imperialismo como ideal político na figura do príncipe por ele descrito, mas na proposta da soberania da virtude sobre a sorte. Maquiavel, ganha a alcunha de malévolo pelo fato de analisar a sociedade de forma fria e calculista, buscando mostrar como se alcançar o poder e nele se manter. Destarte, quando se fala de política e governo, Maquiavel defende que o governante tem a obrigação de manter o poder e a segurança no país o qual governa, ainda que para isso tenha que derramar sangue (“os fins justificam os meios”35 ). Este, não precisa ter qualidades, basta ser “falso” parecendo ao povo ter, entretanto, nunca deve confiar na lealdade de seus súditos, visto que todos são corruptíveis de modo que podem se voltar contra ele e, caso necessário, de acordo com a situação deve tomar todas as providências necessárias, inclusive matar. 3.1.2 Michel Eyquem de Montaigne (1533-1592) Foi um político, escritor, humanista, filósofo, cético, e fideísta, nascido na França que inovou os escritos filosóficos com a elaboração do método ensaísta. Montaigne escreveu três volumes de sua grande obra, a qual denominara Ensaios, nesta, ele sintetiza todo o seu pensamento e engloba todas as ideologias filosóficas do Renascimento e, por conseguinte, o humanismo. Sua obra compreende em um autorretrato do ‘eu’ subjetivo, interior, do autor. O 31 Ética a Nicômaco. 32 avreth,, realização da própria essência. 33 Vinculado à deusa romana Felicitas, deusa da sorte e da fortuna. 34 MAQUIAVEL apud REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da Filosofia: do Humanismo a Descartes. 2. ed. São Paulo: Paulus, 2005. v. 3, p. 94. 35 Dito popular, mas não foi escrito pelo autor, entretanto, associa-se ao seu pensamento.
  • 20. 19 estilo da escrita é uma abordagem mais livre do pensamento filosófico ao qual o ensaísta se propôs a transcrever de si36 . Principais pensamentos I. Fideísmo Montaigne tratou de diversos assuntos em seus Ensaios, que giram em torno da vida, da morte, das crises, das experiências e de diversos temas referentes ao homem que os clássicos já haviam tratado, entretanto, com a atualização do seu tempo, tornando-se influência para muitos pensadores posteriores como. O “conhece-te a ti mesmo” délfico foi o principal elemento no pensamento do filósofo, bem como os pensamentos estóicos, pirrônicos e principalmente aristotélicos. O grande destaque no pensamento do filósofo é o fato do fideísmo, sendo ele um filósofo que busca colocar o homem como o centro, entretanto não abre mão da causalidade, sendo esta como providência de Deus. Também em Montaigne o ceticismo convive com uma fé sincera. Isso surpreendeu muitos historiadores. Na realidade, porém, sendo o ceticismo desconfiança na razão, ele não põe a fé em causa, pois esta situa-se num plano diferente, sendo portanto estruturalmente inatacável pelo espírito cético. "O ateísmo - escreve Montaigne - é [...] uma proposição quase contra a natureza e monstruosa, difícil também e inapta para fixar-se no espírito humano, por mais insolente e desregulado que ele possa ser". Entretanto, a "naturalidade" do conhecimento de Deus depende inteira e exclusivamente da fé. O cético, portanto, só pode ser fideista.37 Não se trata de um fideísmo místico, pois ele coloca o homem no centro de seus Ensaios e a busca pela felicidade do mesmo através do conhecimento de si. E mais, II. Ceticismo No Ensaio: A Apologia de Raymond Selond, Montaigne posiciona-se em relação ao critério ou regra da fé, que se tornou fonte de conflitos entre católicos e protestantes. Ele reitera logo no inicio do ensaio que há três resultados de toda a investigação humana da verdade, a saber: 1. Que aquele que busca encontre a verdade que busca (dogmatismo); 2. Que diga que não pode encontrá-la (ceticismo); 3. Que ainda continue buscando. 36 Cf. BROCA, J. Brito. Clássicos Jackson: Pensadores Franceses. São Paulo: W. M. Jackson Inc., 1970, v. 12, p. 7-12. 37 REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da Filosofia: do Humanismo a Descartes. 2. ed. São Paulo: Paulus, 2005. v. 3, p. 62.
  • 21. 20 Contra a pretensão dos protestantes, Montaigne usa o arsenal cético contra a pretensa descoberta da verdade contrária a fé. Entretanto, esse arsenal (argumentos) também se aplica a teologia de Raymond Selond38 . Com efeito, afastando as pretensões dogmáticas dos protestantes e teólogos católicos é condição para alcançar a fé em sua simplicidade e pureza, ser tal como faria o cético pirrônico. Por ceticismo fideísta entende-se a adoção de uma atitude contrária a pretensão dogmática da razão em favor da aceitação da fé por razões não racionais. 3.1.3 Giordano Bruno(1548-1600) Filippo Bruno foi um filósofo, teólogo, escritor e frade Dominicano39 italiano da segunda metade do século XVI. Bruno, em um primeiro momento foi julgado por apresentar ideias contrarias a fé, deixando o hábito, adotou o calvinismo no qual mais tarde negaria e seria excomungado. Após um momento de peregrinação por quase toda a Europa publicando seus escritos e posteriormente lecionando em Veneza, foi pego pela Inquisição, a qual já o tinha na lista de foragidos. Condenado à fogueira pela Inquisição romana por ser acusado de homicídio e de defender heresias. Bruno chega a ter um total de mais de trinta escritos, entre seus escritos destacam-se: De umbris idearum (1582); Da causa, do princípio e do uno (1584); Do infinito, do universo e dos mundos (1584); Circulação da besta triunfante (1584); Dos heroicos furores (1585); De triplici minimo et mensura40 (1591); De monade numero et figure41 (1591); e De immenso et innumerabilibus42 (1591). Principais pensamentos Suas influências estão no neoplatonismo que auxiliou na formulação de uma gnose renascentista de influências religiosas43 , por isso nunca deixou de se professar filósofo- religioso. O seu pensamento de caráter mágico-hermético que leva ao Uno neoplatônico seria a “boa religião”, que fora destruída pela doutrina do cristianismo, assim, não se poderia mais denominar cristão por discordar de princípios da doutrina. Entretanto, o objetivo dele era ser 38 Teólogo espanhol católico, autor do Livro das Criaturas. 39 Giordano Bruno foi seu nome de religioso o qual mesmo saindo da ordem não deixou de utilizá-lo. 40 Do mínimo. 41 Das mônadas. 42 Ou De innumerabilibus, immenso, et infigurabili. 43 Recebeu influências de Marsílio Ficino.
  • 22. 21 fundador de uma nova religião, a fim de elaborar uma reforma moral universal, e principalmente, contra as ideias da Escolástica.44 Bruno defendia a doutrina da infinitude do Universo, por isso fora acusado de panteísta, que é o ponto culminante em sua cosmologia. A ideia de infinito está em tudo, seja no universo, nas infinitas estrelas, nos infinitos planetas habitados, colocando Deus como figura perfeitíssima e o Universo imanente a ele. Para Bruno, não havia distinção entre matéria e espírito, as duas substâncias seriam reduzidas a uma única substância provida da animação espiritual (Deus). O que faz todas as coisas se moverem45 seria um principio anímico que é da natureza dos seres vivos, transformando-os permanentemente46 . Giordano Bruno acreditava que o mundo era um grande ser, ou melhor, animal e tudo possuía alma. Em síntese, o Universo seria uno, vivo e infinito. O único ser vivo que se destaca no Universo é o homem, pois sua mente tem semelhança à mente divina e consegue desvendar os mistérios do Universo. Sobre a mente, Bruno faz uma reflexão a partir da “religião da mente”, a egípcia, pois este tem o culto ao sol que na verdade seria o intelecto ou ao menos sua imagem visível. Assim, As “sombras das ideias” não são as coisas sensíveis, mas muito mais (no contexto bruniano) as “imagens mágicas” que refletem as ideias da mente divina e das quais as coisas sensíveis são cópias. Imprimindo na mente essas “imagens mágicas”, obtém-se então como que um reflexo do universo inteiro na mente, adquirindo-se desse modo não apenas uma potencializaça maravilhosa da memoria, mas também fortalecimento da capacidade operativa do homem em geral.47 Deste modo, Justificando a capacidade da mente do homem. Giordano Bruno é um dos maiores filósofos renascentistas e mais difícil de compreender, pois ele aborda temas tanto da filosofia clássica como temas propostos por pensadores48 que viram séculos depois, que vão desde a filosofia, passando pela teologia e pela ciência. Não parece possível fazer dele um precursor da revolução do pensamento moderno, no sentido em que operara a revolução cientifica, porque seus interesses eram de natureza completamente diferente: mágico-religiosos e metafísicos.49 44 Cf. REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da Filosofia: do Humanismo a Descartes. 2. ed. São Paulo: Paulus, 2005. v. 3, p. 111. 45 Seriam “modos de ser” das coisas. 46 Principio do “ser e não ser” de Heráclito e da atualização das coisas (ato e potência) do Estagirita. 47 REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da Filosofia: do Humanismo a Descartes. 2. ed. São Paulo: Paulus, 2005. v. 3, p. 114. 48 Principalmente Baruch Spinoza. 49 REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. Op. cit., p. 117.
  • 23. 22 Defende o heliocentrismo, que inclusive não entrou em seu processo de heresia, e também afirma uma Causa ou Princípio Supremo que deriva o intelecto universal presente na alma. Este princípio se trata da mente que está por de trás de tudo, mente que todas as outras derivam e não se tem como conhecê-la, o qual Bruno irá definir como o Uno de Plotino atualizado, isto é, a mente nas coisas50 dita anteriormente. 3.2. Idade Moderna Após o Renascimento ter abalado o monopólio e o poder da Igreja, a Idade Moderna inovou toda a história, pois a filosofia passou a cultuar a racionalidade e o método científico como meio para se alcançar o conhecimento. A filosofia moderna compreende dos períodos entre os séculos XVII-XVIII que fora marcado pela vitória da ciência e a razão sobre a religião. Tratava-se de um período em que se buscava trazer a luz o período de trevas do que se passou com o medievo, batizando este movimento de Iluminismo. A gnosiologia passou a ser um grande expoente dentro do pensamento moderno, a pergunta “o que posso conhecer?” sintetiza toda a filosofia moderna, pois ela reflete em outra pergunta “como podemos conhecer o que podemos conhecer?” e principalmente “o que podemos esperar por isso?”. A crise da metafísica já estava lançada e com a crise da mesma, os pressupostos da ética e da religião também estão em decadência, entretanto, ainda se tentará resgatar um pouco da metafísica na modernidade, mas não com o seu sentido clássico aristotélico. A busca pelas experiências, pelas representações e pala definição de conceitos dará a modernidade um novo horizonte totalmente disperso do que era proposto pelo medievo e pela escolástica alterando todo um sistema político e econômico. As criticas religiosas irão surgir neste período, não como meio de destruir a religião, mas para supervalorizar a razão e o homem, a fim de libertá-lo da religião. A Idade da Razão, assim conhecida à modernidade, só deixará de ser absoluta com o idealismo alemão, no inicio do século XIX. Dentre os pensadores do período se destacam grandes homens marcaram a história, seja pela ciência ou pela filosofia, dos quais alguns serão lembrados, entretanto, tratar-se-á posteriormente de alguns mais detalhadamente, mas não com o intuito de esgotar o pensamento dos mesmos. 50 Cf. REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da Filosofia: do Humanismo a Descartes. 2. ed. São Paulo: Paulus, 2005. v. 3, p. 115.
  • 24. 23 Principais pensadores da Idade Moderna: Francis Bacon (1561-1626) Giambattista Vico (1668-1744) Galileu Galilei (1564-1642) Christian Wolff (1679-1754) Tommaso Campanella (1568-1639) George Berkeley (1685-1753) Johannes Kepler (1571-1630) Charles-Luis de Secondat, Montesquieu (1689-1755) Thomas Hobbes (1588-1679) François Marie Arouet Voltaire (1694-1778) René Descartes (1596-1650) Thomas Reid (1710-1796) Henry More (1614-1687) David Hume (1711-1776) Blaise Pascal (1623-1662) Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) Baruch Spinoza (1632-1677) Denis Diderot (1713-1784) John Locke (1632-1704) Jean Le Round D'Alembert (1717-1783) Nicolas Malebranche (1638-1715) Immanuel Kant (1725-1804) Gottfried Wilhelm Leibniz (1646-1716) 3.2.1 Francis Bacon (1561-1626) Foi um grande pensador inglês, nascido em Londres, onde ascendeu em sua carreira política e se tornando um dos maiores pensadores de sua época. Viveu no período das novidades industriais, dessa maneira, Bacon escreveu grandes obras em sua vida respirando a atmosfera social e política em que vivia tornando-se político, filósofo, estadista e ensaísta, considerado um dos fundadores da Ciência Moderna. Tinha como novidade em seu pensamento o desenvolvimento do método científico como meio para se chegar ao conhecimento, buscando-o sempre vinculando a experiência (empírica) com o raciocínio lógico. Na verdade, Bacon propusera reconstruir o saber em uma grande obra, a Instauratio magna, obra esta que foi fragmentada em seis partes, gerando assim, seis obras distintas: De Augmentis Scientiarum; Novum Organum (1620); História Naturalis; Scala Intellectus; Anticipationes Philosophiae Secunda; e Philosophia Secunda aut Scientia Activae. Entretanto, Bacon também desenvolve outros escritos uns de cunho literários, jurídicos e teológicos, entre eles se destacam: Nova Atlantis (1624); Elementos das leis comuns da Inglaterra; Maxims da Lei; Casos de traição; De interpretatione naturae proemium (1602); História da Vida e da Morte; Meditationes Sacrae (1597); Theological Tracts (post-mortem); A sabedoria dos antigos (1609); e Ensaios (1597).
  • 25. 24 Principais pensamentos Sendo a sua obra de maior peso filosófico, na Novum Organum desenvolvesse o seus pensamentos de maiores destaques a Teoria dos Ídolos e a sua Teoria do Método: I. Teoria dos Ídolos Por “ídolos”, Bacon refere-se às ideias, crenças, valores, costumes pré-concebidos que se interpõem ao conhecimento da realidade. O progresso científico, do qual depende o progresso social e político, só pode ocorrer com a superação dos ídolos, ou melhor, falsos ídolos que são responsáveis por corromper a ciência. Bacon subdivide os ídolos em espécies, tais como: a) Os ídolos da tribo (Idola Tribus): referem-se dos preconceitos sobre o ser humano e “poderiam ser resumidos na tendência do homem em assumir o que parece como a própria realidade das coisas”51 , seria a ideia de o intelecto ser a medida de todas as coisas de forma que ele afirme aquilo que lhe convém52 . b) Os ídolos da caverna (Idola Specus): referem-se ao preconceito individual, ao modo que cada pessoa possui a sua caverna, como proposto por Platão53 , de modo que a imagem exibida se torna aquilo que cada um entende sobre ela. c) Os ídolos do foro ou do mercado (Idola Fori): são provenientes das relações humanas, do uso da linguagem, que muitas vezes a pessoa utiliza-se de palavras cujo significados são desconhecidos para ela mesma54 , necessitando assim restaurar o ordenamento das coisas através dos significados. d) Os ídolos do teatro (Idola Theatri): marcam tudo aquilo que os homens admiram movidos por suas paixões os grandes personagens na história com destaque para os filósofos. Estes tipos de preconceitos são os mais perigosos e inumeráveis, pois os escritos da antiguidade e os escritos Sagrados, em sua época, se tornam regras e fonte de todo o conhecimento. II. Teoria dos Métodos Científicos A primeira condição do progresso científico é a descoberta de um novo ‘ponto de partida’ para o método científico. Para Bacon, o ponto de partida original é a ‘experiência’ 51 ROVIGHI, Sofia Vanni. História da Filosofia Moderna: da revolução científica a Hegel. 2. ed. São Paulo: Loyola, 2000. p. 22. 52 Cf. Ibidem, p. 22. 53 Conferir no Mito da Caverna, no Livro A República de Plantão. 54 Cf. ROVIGHI, Sofia Vanni. Op. cit., p. 23.
  • 26. 25 (empiria), já que nihil est in intelectum quod primus non fuerit us sensu. O homem tal qual “távola rasa” deve aprender novamente a partir de uma experiência (sensível). Em termos metódicos, a ciência empírica desenvolve-se a partir das observações e predições que se tornam possíveis graças à indução (generalização) das leis empíricas. Desta forma, o novo método consistiria dos seguintes elementos: 1) o momento fundamental da aquisição do saber é a indução, não a dedução silogística; 2) na indução, não é preciso passar de imediato da experiência dos particulares aos axiomas mais universais, mas deve-se ir gradativamente da experiência dos particulares aos axiomas menos universais (axiomas médios) e, então, destes passar aos mais universais; 3) para encontrar os axiomas médios, não é preciso entregar-se ao acaso, mas cumpre seguir certas regras.55 3.2.2 René Descartes (1596-1650) Foi um grande pensador francês, filósofo, físico e matemático que se destacou no inicio da modernidade com o pensamento Cogito ergo sum. Criador do sistema cartesiano, ele iniciou o pensamento moderno, abrindo mão de tudo que poderia ser considerado falso para a construção do conhecimento, adotando apenas o que era claro e distinto para o intelecto. Suas principais obras foram: Regras para a Direção do Espírito56 (1701); Discurso sobre o Método57 (1637); O Tratado da Luz (1632/33); Geometria (1637); Meditações Metafísicas (1641); e As Paixões da Alma (1649). Entretanto, foi com o Discurso sobre o Método e com as Meditações Metafísicas que Descartes ficou famoso. Principais pensamentos I. O Discurso do Método A linguagem cartesiana aponta para uma reforma radical da ciência, capaz de dar unidade e segurança face ao tempo de incertezas e conflitos vividos entre os homens. Assim, Descartes adotou com premissa a imagem do reformador que sozinho ‘fez nova todas as coisas’. Em O Discurso do Método, Descartes buscava trazer para a filosofia a mesma segurança que se tinha na matemática para se alcançar a verdade, esta verdade seria distinta da verdade no clássico, isto é, a “adequação da mente a realidade”. Trata-se de um postulado, cujo objetivo já é explicado pelo título original: Discurso sobre o método para bem conduzir a razão na busca da verdade dentro da ciência (Discours de la méthode pour bien conduire sa raison, et chercher la verité dans les sciences). Este é 55 ROVIGHI, Sofia Vanni. História da Filosofia Moderna: da revolução científica a Hegel. 2. ed. São Paulo: Loyola, 2000. p. 22. 56 Regulae ad directionem ingenii. 57 Discours de la méthode pour bien conduire sa raison, et chercher la verité dans les sciences.
  • 27. 26 composto basicamente por quatro momentos: evidência, análise, síntese e revisão, partindo de um elemento essencial em seu método, à chamada “dúvida metódica”58 como meio para se chegar à verdade proposta pelo pensador, isto é, a evidência (clareza e distinção). Como regras de seu método, Descartes se utiliza das seguintes: 1º. Regra da Evidência: nada aceitar como verdadeiro exceto o que é claro e distinto. 2º. Regra da Análise: dividir todas as dificuldades nas suas menores partes, a fim de melhor analisá-lo. 3º. Regra da Síntese: reunir todas as partes em um todo evidente. 4º. Regra da Revisão: rever todo o processo para ter certeza de nada omitir. II. A realidade e as substâncias Para Descartes, a realidade é constituída apenas de dois aspectos um extensivo e outro qualitativo, entretanto, uma está relacionada ao objeto em si e a outra ao sujeito que observa, logo são subjetivas da consciência. Descartes, não busca defender um idealismo moderado, pelo contrario ao alegar a extensão, isto é, qualidades objetivas, ele não reduz o ser ao pensar totalmente e nem nega a realidade como uma total independência do sujeito em relação ao mundo. Trata-se de uma posição realista crítica e não puramente idealista, assim ele afirma que existe algo que está fora dele e de seu intelecto, admitindo a existência de pelo menos três substancias: res cogitans59 (espírito); res divina60 (Deus); e res extensa61 (matéria). III. Meditações Metafísicas e o solipsismo Nas Meditações Metafísicas, Descartes tem como objetivo a aplicação do seu método, apresentando no primeiro momento as razões para se alcançar a dúvida, pois a dúvida é um modo do próprio pensamento, assim “si dubito, cogito”, ao mesmo tempo em que “si cogito, sum”, ou ainda, “cogito ergo sum”. Após a descoberta do cogito, primeira evidência indubitável, a qual o ser pensante só pode ter certeza da sua existência e mais nada, deste modo, ele se encontra sozinho. Descartes observa que está sozinho consigo mesmo, sem saber se há algo além do seu pensamento e de sua subjetividade, necessitando assim sair deste solipsismo. A superação do solipsismo ocorre pela demonstração de que há uma ideia clara e distinta cujo conteúdo formal tem necessariamente realidade objetiva, ou seja, corresponde a 58 Cogito, ergo sum (Penso, logo existo). 59 Trata-se de uma substância pensante, imperfeita, finita e dependente. 60 Trata-se de uma substância eterna, perfeita, infinita, que pensa e é independente. 61 Trata-se de uma substância que não pensa, extensa, imperfeita, finita e dependente.
  • 28. 27 algo ‘extramental’. Trata-se da demonstração da existência de Deus a partir de Sua ideia clara e distinta tal como o sujeito pensante encontra em si mesmo a priori. Como a ideia de Deus representa o ser perfeitíssimo e como o ser pensante se sabe imperfeito, então a causa da ideia de Deus é extrínseca ao próprio sujeito pensante que por imperfeito não a pode causar. Ademais, como a existência é uma perfeição e por Deus ser perfeitíssimo, logo Deus existe. Daqui decorre que a ideia clara e distinta de Deus é o próprio Deus que existe independentemente e de forma transcendental ao próprio sujeito pensante. Se é verdadeiro que Deus criou em mim ideias claras e distintas dentre as quais a própria ideia de Deus, então há uma razão universal e necessária a saber: para que o sujeito pensante possa conhecer a realidade extramental de forma a priori. Isto significa, por exemplo, que o sujeito pensante ao representar num plano geométrico um objeto estará necessariamente representando conforme a realidade extensional desse mesmo objeto fora do pensamento, já que o mesmo Deus garante tal correspondência. Entretanto, o que faz de Descartes o primeiro filósofo da modernidade é o fato de mesmo tendo ciência da existência de um Deus, valoriza a razão humana como resposta para o conhecimento. O racionalismo cartesiano foi não só o responsável pela concepção inatista (a priorista), mas também por definir o conhecimento a partir de regras. Isto significa que compete ao entendimento definir as regras do bom uso do livre arbítrio até mesmo em assuntos teóricos e não só práticos. 3.2.3 Blaise Pascal (1623-1662) Foi um matemático, físico, filósofo, teólogo62 e moralista francês dos meados do século XVI, que se destacou na história fazendo a junção perfeita entre as ciências exatas com o pensamento filosófico, gerando assim a filosofia da matemática. Em destaque ressalta-se o seu Espírito geométrico. Suas principais obras63 de caráter filosófico são: Les Provinciales (1656/57) e Penseés (1670). Principais pensamentos I. A miséria da dignidade do homem 62 Defensor do cristianismo, mais especificamente do jancenismo. 63 As obras de Pascal não se esgotam nessas, mas o mesmo também escreve: Éssai sur les coniques (1640), Expériences nouvelles touchant le vide (1647), Préface du traité du vide (1647), Récit de la grande expérience de l'équilibre des liqueurs (1648), Lettre Circulaire relative á la Cycloide (1658), Écrits sur la grâce (1656- 1658) e Traité des coniques (conhecido por Leibniz).
  • 29. 28 A antropologia de Pascal é marcada pala crítica aos filósofos que exageraram, seja a miséria seja a dignidade do homem. Por isso, ao mesmo tempo em que Pascal elogia a concepção estóica da resignação e da providencia, critica o excesso de confiança do estoico em cumprir com o seu dever moral, conduzindo-o à “soberba diabólica”. Por sua vez, os céticos são elogiados pó reconhecerem a fraqueza humana. O ceticismo é um antídoto à sabedoria estóica. Entretanto, os céticos não conheceram a miséria humana, o que leva ao desespero. Se o estoicismo exagera o poder e a dignidade do homem, então é preciso reconhecer que há outra medida para a natureza humana, que revelada à luz da fé em Cristo. “Jesus é o objeto de tudo e o centro para o qual tudo tende (...). Por conseguinte, podem bem conhecer-se Deus sem sua miséria e sua miseria sem Deus; mas não se pode conhecer Jesus Cristo sem conhecer ao mesmo tempo Deus e sua miséria” (Pascal) II. Os Espíritos Para pascal o conhecimento humano esta entre dois abismos do infinito e do nada, a partir do qual nenhum homem pode ignorar. Para ele, só se pode obter o conhecimento limitado e parcial das coisas, mesmo assim válido. Assim, ele elabora a duas possíveis diferenças substanciais no campo do conhecimento: a primeira é dada pelo chamado Esprit géométrique (Espírito geométrico) que é o conhecimento científico obtido através de procedimentos analíticos (racionais e geométricos); e o Esprit de finesse (Espírito de fineza) que deriva do próprio homem, trata-se do conhecimento existencial do homem, os movimentos de sua alma em sua esfera espiritual. Mesmo se aproveitando do Espírito geométrico no campo científico, Pascal entende que esse não é suficiente para entender a realidade, pois ele não compreende os dramas da existência humana. Desta forma, qualquer ciência que não considere o homem em suas conclusões se torna inútil e para entender os fundamentos da existência humana, é necessário entender o coração do homem e este é o meio para se utilizar o Espírito de fineza. Destarte, O coração tem suas razões, que a razão não conhece: sabe-se isso em mil coisas. Eu digo que o coração ama o ser universal naturalmente e a si mesmo naturalmente, conforme a isso se aplique; e se endurece contra um ou outro, à sua escolha. Rejeitastes um e conservastes o outro: é com razão que amais? É o coração que sente Deus, e não a razão. Eis o que é a fé: Deus sensível ao coração, não à razão.64 64 PASCAL, Blaise. Pensamentos. 16. art., 2002. Disponível em: <http://www.ebooksbrasil.org/eLibris/pascal.html>.
  • 30. 29 Do mesmo modo que para ele o Espírito geométrico necessita do Espírito de fineza, o mesmo serve para o inverso, caso contrário este seria estéril. Ambos devem caminhar juntos, a ciência e a fé. Assim, Conhecemos a verdade, não somente pela razão, mas ainda pelo coração; é desta última maneira que conhecemos os primeiros princípios, e é em vão que o raciocínio, que deles não participa, tenta combatê-los (...). Sabemos que não sonhamos, por maior que seja a impotência em que estamos de prová-lo pela razão; essa impotência não conclui outra coisa senão a fraqueza da nossa razão, mas não a incerteza de todos os nossos conhecimentos, como eles o pretendem. Pois o conhecimento dos primeiros princípios, como o de que há espaço, tempo, movimento, números, é tão firme como nenhum dos que nos dão os nossos raciocínios. E é sobre esses conhecimentos do coração e do instinto que é preciso que a razão se apoie e funde todo o seu discurso. O coração sente que há três dimensões no espaço e que os números são infinitos; e a razão demonstra, em seguida, que não há dois números quadrados dos quais um seja o dobro do outro (...). E é tão ridículo que a razão peça ao coração provas dos seus primeiros princípios, para querer consentir neles, quanto seria ridículo que o coração pedisse à razão um sentimento de todas as proposições que ela demonstra, para querer recebê- los. 65 E ainda, Essa impotência deve, pois, servir apenas para humilhar a razão que quisesse julgar tudo; mas, não para combater a nossa certeza, como se só houvesse a razão capaz de nos instruir.66 3.2.4 John Locke (1632-1704) Filósofo inglês do final do século XVII, idealista e figura chave do empirismo como doutrina, Locke negava a questão das ideias inatas, proposta pelos clássicos, mas acreditava que as ideias eram frutos do que percebiam os sentidos. Desenvolveu uma filosofia da mente, que é utilizada até hoje e principalmente no período posterior a sua época, com o conceito de identidade pessoal e consciência que foram utilizados mais tarde por Hume, Rousseau e Kant. Destaca-se no pensamento de Locke: a) o gnosiológico, do qual brotou o Ensaio; b) o ético-politico, que encontrou expressão (além de sua própria militância política pratica) nos escritos dedicados a esse tema; c) o religioso, campo no qual a atenção do nosso filosofo se concentrou, sobretudo nos últimos anos de sua vida (a esses podemos acrescentar, mas numa dimensão menor, um quarto interesse, de caráter pedagógico, que encontrou expressão nos Pensamentos sobre a educação).67 65 PASCAL, Blaise. Pensamentos. 22. art., 2002. Disponível em: <http://www.ebooksbrasil.org/eLibris/pascal.html>. 66 Ibidem. 67 REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da Filosofia: de Spinoza a Kant. São Paulo: Paulus, 2005. v. 4, p. 92.
  • 31. 30 Na obra denominada Ensaio acerca do Entendimento Humano, Locke defendia certos direitos naturais68 próprios que todos os homens possuíam. Portanto, passa a desenvolver trabalhos políticos e também sobre a imaterialidade da alma. Suas principais obras foram: Cartas sobre a Tolerância (1689); Dois Tratados sobre o Governo (1689); Ensaio acerca do Entendimento Humano (1690); e Pensamentos sobre a Educação (1693). Principais pensamentos Mesmo apreciando Descartes, Locke tornou-se um dos maiores opositores ao racionalismo francês, utilizando o empirismo partindo da teoria da “távola rasa”, na qual o homem nasce como uma folha em branco e na medida em que ele experimenta algo pelos seus sentidos, ele adquire o conhecimento. Diferentemente de Descartes que defendia as ideias inatas. Para ele, 1) não existem ideias nem princípios inatos; 2) nenhum intelecto humano, por mais forte e vigoroso que seja, é capaz de forjar ou inventar (ou seja, criar) ideias, bem como não é capaz de destruir aquelas que existem; 3) consequentemente, a experiência constitui a fonte e, ao mesmo tempo, o limite, ou seja, o horizonte, ao qual o intelecto permanece vinculado.69 Locke afirma que as experiências podem ser do tipo externas e internas, sendo a primeira mais ligada aos sentidos, propriamente dito, e a segunda a reflexão. Estas experiências possuem qualidades primárias (extensão, movimento...) e secundárias (cor, sabor...), isto é, são os poderes que as coisas possuem para produzir um efeito, ideia, em nós70 . O pensador critica a ideia clássica de substância e essência e trata da intuição e dedução, firmando que só podemos admitir a nossa existência através da indução, a existência de Deus através da demonstração e a existência de outrem pela sensação71 . Seus pensamentos não tiveram influencia apenas de Descartes, mas também do nominalismo escolástico (Guilherme de Ockham), do empirismo inglês e da filosofia de Malebranche, bem como seus escritos políticos tiveram como fonte Thomas Hobbes (Contrato social). Nesses últimos, Locke defende que o poder de um homem não poderia derivar de Deus, como alegavam os reis na época. Ele, entretanto, discordava existência do pacto social, acreditando que os tipos de poderes deveriam ser separados e limitados em si. O Estado é obrigado a garantir os direitos naturais de cada cidadão, isto é, o direito à vida, à 68 Direito à vida, à propriedade e à liberdade. 69 REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da Filosofia: de Spinoza a Kant. São Paulo: Paulus, 2005. v. 4, p. 95. 70 Cf. Ibidem, p. 97. 71 Cf. Ibidem, p. 102.
  • 32. 31 liberdade e à propriedade. Tratava-se de uma política de democracia liberal, na qual os cidadãos teriam direito de colocar e retirar o governante em consenso. 3.2.5 Baruch Spinoza (1632-1677) Filósofo holandês judeu dos meados do século XVII de caráter racionalista que foi excomungado pela Sinagoga portuguesa de Amsterdã72 por apresentar ideias contrárias aos ensinamentos da religião. Sabia hebraico, latim, espanhol, português, holandês e grego, o que o proporcionou ser conhecido pelo seu criticismo aos textos sagrados. Diferentemente do racionalismo de Descartes, Spinoza se interessava pela temática vinculada à ética e não a gnosiologia. Entretanto, foi no campo da exegese que o filósofo ficou conhecido. Suas principais obras são: o Breve tratado sobre Deus e o Homem (1658); o ensaio Sobre a correção do intelecto (1661); Os princípios da filosofia de Descartes (1663); os Pensamentos metafísicos (1663); o Tratado teológico-político73 (1670); e a Ética74 (1677). Principais pensamentos I. Deus como única substância O método de Spinoza pode ser descrito como dedutivo na medida em que parte de uma intuição originária que contém em si mesma, todas as verdades que serão expostas pela filosofia. O eixo fundamental de seu pensamento ético está na concepção de Deus, entretanto, esta fora escrito totalmente como um postulado e definições, algo bem matemático, por isso também é denominada Ética demonstrada à maneira dos geômetras. Spinoza defendeu a unicidade da substância, assim, tudo que é imanente a natureza de uma coisa lhe pertence necessariamente, por isso todas as coisas derivam de Deus necessariamente. Assim, nada está fora de Deus e que tudo é expressão d’Ele. Por isso, deve em verdade entender que a causa divina é natura naturans e seus efeitos natura naturata. Daqui a forma máxima Deus sine natura. Deus ou natureza seria um ser de infinitos atributos dos quais os homens só tem ciência da extensão (matéria) e do pensamento. Parece muitas vezes que o pensador tinham ideias panteístas75 , entretanto não é bem isso76 , o que Spinoza quer defender é um panenteísmo77 . Entretanto, ambas negam a 72 O texto na integra da excomunhão pode ser lido no Anexo I este trabalho. 73 Também conhecido como: Tratado sobre a Religião e o Estado. 74 Também conhecido como: Ética demonstrada à maneira dos geômetras. 75 Deus nada mais é do que tudo o que há no universo, isto é, tudo é Deus. 76 “Deus é causa imanente, não transitiva, de todas as coisas” (SPINOZA, Baruch. Ética, part. I, prop. 18) 77 A presença de Deus nas coisas, isto é, não há identidade, mas há imanência da substância divina nas coisas.
  • 33. 32 transcendência. Esse conceito da substância divina possuir diferentes atributos, sendo dois conhecidos (pensamento e matéria), está totalmente em desacordo com o racionalismo proposto por Descartes, o qual propusera não uma, mas três substâncias (divina, pensante e extensa). Parece que Spinoza unifica as três em uma única, isto é Deus, todo o resto se torna imanência. Tudo o que existe, existe em Deus, e por meio de Deus deve ser concebido; portanto, Deus é causa das coisas que nele existem, que era o primeiro ponto. Ademais, além de Deus, não pode existir nenhuma substância, isto é, nenhuma coisa, além de Deus, existe em si mesma, que era o segundo ponto. Logo, Deus é causa imanente, e não transitiva, de todas as coisas.78 II. A religião Em seu Tratado teológico-político (TTP), Spinoza desenvolve sua crítica à religião elaborando uma nova abordagem para a exegese dos textos antigos a partir do Método Histórico Crítico (MHC). Para ele a Bíblia não ensina nada mais do que aquilo que a própria Lei Natural já ensina ao homem, isto é, fazer o bem. Entretanto, alguns necessitam da Bíblia, pois não conseguem compreender pela razão ou observar a Lei Natural em si mesmo. Desta forma, Spinoza quer provar que tudo o que a religião prega, ou diz “Bíblia ensinar”, não passa de uma Política das instituições religiosas que querem alienar a todos os seus seguidores. Neste posto, Spinoza se aproveita do seu conceito de Deus como substância e a imanência da mesma e afirma que em tudo contém a Lei Natural e se essa, que é centelha, assim, provém de uma Lei Eterna, isto é, Deus, logo Deus está em todas as coisas. A religião serve apenas para instruir os ignorantes que não tem acesso às informações filosóficas, Jesus Cristo seria a “salvação dos ignorantes”. 3.2.6 Gottfried Willhelm Leibniz (1646-1716) Filósofo e matemático alemão, da segunda metade do século XVII, teve contato com neoplatonismo da Renascença e pelo empirismo, o qual escreveu contra ensaio de Locke, mas foi o cartesianismo e Malebranche que moveram os pensamentos de Leibniz. Entretanto, o pensador que mais se destacou em suas obras fora Baruch Spinoza, do qual se pode dizer que teve muita influencia em seus escritos, mas nunca se denominou seguidor. Suas obras são geralmente escritos esporádicos, pensamentos que não foram preocupados em ser organizados em livros propriamente ditos sistemáticos. Dentre elas se 78 SPINOZA, Baruch. Ética, part. I, prop. 18.
  • 34. 33 destacam: Novos Ensaios sobre o Intelecto Humano79 (1701); Teodicéia80 (1710); Discurso de Metafísica81 (1686); Monadologia82 (1714); e outros opúsculos de filosofia83 . Principais pensamentos I. Leibniz e seus predecessores Com Descartes, Leibniz partilha o ideal matemático como referencia científica, a imanência do cogito, o imanentismo e o princípio da autoconsciência como constituidora do eu. Entretanto, ele criticou Descartes em relação ao dualismo, a noção mecânica de matemática e a própria noção de substância. Com relação a Spinoza, Leibniz defendeu uma concepção dinâmica da substância, entendida como uma força conatus. Entretanto, diverge com relação ao monismo, já que Leibniz sustenta a pluralidade das substâncias. No que tange a relação com Locke, Leibniz sustenta a existência de princípios e ideais inatos independentes da experiência. Entretanto, diverge dos racionalistas ao enfatizar o valor da experiência como ocasião para a consciência do que é inato. II. A monadologia Leibniz buscou sintetizar as descobertas da história da filosofia, principalmente no que se tratava de definir o conceito de substância, a qual designou um trabalho especialmente, a Monadologia. As mônadas84 são atos na natureza formados de substância simples e indivisa, semelhantes ao átomo proposto por Demócrito, mas distingue-se do mesmo por não se tratar de um átomo material como propôs o mesmo, ao modo que a mônada seria uma espécie de enteléchia85 aristotélica. Leibniz não concorda com a ideia de extensão (res extensa) proposta por Descartes e que era a mais comum no período e defendida pelos cartesianos, desta forma, cada mônada se distinguiria da outra por condições internas e essas qualidades variam, pois por serem puras, nada externo pode contaminar, elas são independentes em si. Destarte, surgindo uma metafísica própria de Leibniz a partir das substâncias simples. 79 Crítica ao Ensaio de Locke, mas publicada postumamente em 1765. 80 Sobre o problema do mal. 81 Compreende em 37 trechos em que o pensador detalha sua metafísica. 82 Destinada ao príncipe Eugênio de Sabóia, mas publicada postumamente. 83 Na verdade são correspondência de cujo tema se trata de temas filosóficos. 84 Termo platônico e já utilizado por Giordano Bruno, mas com outra nomenclatura. 85 evntele,xeia, isto é, o ser em ato.
  • 35. 34 Todas as coisas existentes são mônadas, isto é, “uma entidade individua capaz de ação, e os princípios de suas ações são as percepções (representações) e as apetições (vontade)”86 , que representa todo o universo e sua diversividade, entretanto essa diversividade particular de cada uma não é um tudo perceptível, apenas Deus pode observar. Com efeito, se todas as formas das substâncias expressam todo o universo, pode-se dizer que as substâncias brutas expressam mais o mundo do que a Deus, ao passo que os espíritos expressam mais a Deus do que o mundo. Por isso, Deus governa as substâncias brutas segundo as leis materiais da força ou da transmissão do movimento e governa os espíritos segundo as leis espirituais da justiça, de que as outras substâncias são incapazes. E por isso as substâncias brutas podem ser chamadas materiais, porque a economia seguida por Deus em relação a elas é a de operário ou maquinista, ao passo que em relação aos espíritos Deus cumpre as funções de príncipe e legislador, que é infinitamente mais elevada. E enquanto, em relação a tais substâncias materiais, Deus não representa nada mais do que aquilo que representa em relação a tudo, isto é, a função de autor geral das coisas, já em relação aos espíritos ele assume outro papel, pelo qual o concebemos dotado de vontade e de qualidades morais, sendo ele próprio espírito e como que um entre nós, a ponto de entrar em urna ligação de sociedade conosco, da qual é o chefe. Essa sociedade ou republica geral dos espíritos, sob aquele supremo Monarca, é a parte mais nobre do universo, composta de muitos pequenos deuses, sob a direção daquele grande Deus. Com efeito, pode-se dizer que os espíritos criados diferem de Deus somente como o menos do mais, como o finito do infinito.87 Sobre a relação do conceito de substância em Descartes, Spinoza e Leibniz, entende- se: Descartes Spinoza Leibniz Res cogitans (espírito) Deus (imanência) Infinitas (mônadas)Res divina (Deus) Res extensa (matéria) III. O discurso metafísico A monodologia apresenta pelo menos quatro ordens em escala de mônadas, a saber: mônadas nuas (reino vegetal e mineral, isto é, inconscientes); mônadas sensitivas (conscientes); mônadas racionais (alma humana, isto é, repletas de consciência e intelecto); e mônada suprema (Deus, isto é, perfeita e causadora de todas as outras). Entretanto, partindo do pressuposto de que as mônadas seriam átomos isolados, “sem janelas”, para não se corromperem com nada externo, surge um grande problema, como ela podem se relacionar? Visto que a monodologia eliminou o dualismo entre a res cogitans e a res extensa cartesiano, 86 REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da Filosofia: de Spinoza a Kant. São Paulo: Paulus, 2005. v. 4, p. 43. 87 LEIBNIZ apud REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da Filosofia: de Spinoza a Kant. São Paulo: Paulus, 2005. v. 4, p. 50.
  • 36. 35 e mais, tendo que os corpos são agregados de mônadas unidos por uma mônada hegemônica (mônadas racionais, isto é, alma), como ficaria a relação entre corpo e alma nos seres? Para resolver estes problemas, Leibniz criou uma hipótese metafísica denominada “harmonia preestabelecida”, que se trata do principio da harmonia que conecta todas as mônadas. Deste modo, a impenetrabilidade e a força de cada mônada ficariam suspensas entre si, está influencia entre elas tem “sua eficácia apenas diante da intervenção de Deus”88 . Assim, esta relação entre as mônadas se estabeleceu três hipóteses desta “harmonia preestabelecida”: 1) a de supor urna ação recíproca, biunívoca; 2) a de postular urna intervenção de Deus em todas as ocasiões, como artífice do acordo; 3) a de conceber as substâncias (as varias mônadas em geral, assim como as mônadas-alma e as que constituem o corpo) estruturadas de tal modo que elas extraiam tudo do seu interior, e de tal modo que aquilo que cada urna extrai do seu interior coincida com aquilo que todas as outras extraem do seu próprio interior com correspondência e harmonia perfeitas, considerando que isso faz parte de sua própria natureza, desejada Dor seu Criador.89 Para Leibniz, também pode se valer de um milagre contínuo para explicar essa harmonia preestabelecida das mônadas, trata-se de uma solução ocasionalista, mas este seria totalmente contrário à sabedoria de Deus que as fez90 . Em síntese, o Discurso de Metafísica91 de Leibniz pode ser resumido da seguinte maneira: 1. Deus é o ser perfeitíssimo; 2. Deus é o agente (metafísico) perfeitíssimo92 ; 3. Deus nada faz fora da ordem; 4. A substância individual é aquela realidade que não é atribuída a nenhuma outra; 5. A noção perfeita de uma substância individual compreende todos os seus predicados verdadeiros; 6. A natureza de uma substância individual consiste em ter uma noção tão perfeita que seja suficientemente para compreender e fazer deduzir de si todos os predicados do sujeito a que se atribui esta noção. 7. Somente Deus conhece a noção perfeita das substâncias. 3.2.7 David Hume (1711-1776) 88 LEIBNIZ apud REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da Filosofia: de Spinoza a Kant. São Paulo: Paulus, 2005. v. 4, p. 52. 89 REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da Filosofia: de Spinoza a Kant. São Paulo: Paulus, 2005. v. 4, p. 52. 90 Cf. Ibidem, p. 52. 91 Compreende em 37 trechos em que o pensador detalha sua metafísica. 92 “Deus age sempre de modo mais perfeito e mais desejável possível”.
  • 37. 36 Filósofo e historiador escocês do inicio do século XVIII, que tem como característica filosófica a fenomenológica, com origem no empirismo de Locke e no idealismo de Berkeley. Hume também é conhecido por seu ceticismo, reduzindo os princípios racionais às ligações de ideias vinculadas ao hábito e o ‘eu’ às coleções de estados de consciência93 . Suas principais obras são: Tratado na Natureza Humana (1739); Investigação sobre o Entendimento Humano (1748); Investigação sobre os Princípios da Moral (1751); Diálogos sobre a Religião Natural (post-mortem); Ensaios Morais, Políticos e Literários (1741); A História da Grã-Bretanha (1754-1762); História Natural da Religião (1757); e Da imortalidade da Alma e outros textos póstumos. Principais pensamentos Hume, bem como Locke opõe-se ao racionalismo cartesiano, assim, tudo que se conhece vem das percepções ou das ideias que se formam a partir delas. Para ele um signo só tem significado no mundo quando se tem algo correspondente ao mesmo no mundo. Entretanto, o próprio identificou um problema em seu sistema, ora, nem tudo que sabemos é justificado por alguma experiência vivida que já tivemos, visto que ele mesmo tinha negado as ideias inatas. Desta forma, Hume conclui que parte de nosso raciocínio se baseia em “prováveis” acontecimentos. Por exemplo: o nascer do sol na manha seguinte, ainda que não se tenha vivido a manha seguinte, tem-se consciência através do hábito e de experiências semelhantes passadas de que o sol nascerá no dia seguinte. Mesmo que a natureza resolva modificar as suas leis, a única coisa que se tem como melhor guia é o hábito. A causalidade não ganha espaço no pensamento de Hume, ela é considerada como uma crença ou uma superstição visto que não se pode justificar essa crença numa conexão casual entre eventos. Hume também diferencia as chamadas impressões das chamadas ideias. Partindo do pressuposto de que tudo que está na mente humana são percepções, isto é, algo que fora apresentado à mente e ela assimilou. Sobre as impressões, Hume irá afirmar que elas dizem “respeito à força ou vivacidade com que as percepções se apresentam à nossa mente”94 , já as 93 Cf. JAPIASSÚ, Hilton; MARCONDES. Hume, David. In: JAPIASSÚ, Hilton; MARCONDES, Danilo. Dicionário básico de filosofia. 3. ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2006. 94 REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da Filosofia: de Spinoza a Kant. São Paulo: Paulus, 2005. v. 4, p. 135.
  • 38. 37 ideias dizem “respeito à ordem e a sucessão temporal com que elas se apresentam” 95 . Desta forma, toda a percepção é sentida de como impressão e pensada como ideia96 . Em síntese, para Hume, primeiramente não se pode criar ideia, se faz necessário os sentidos de onde provêm todos os conhecimentos. Em seguida, as certezas são substituídas por probabilidades, inclusive as certezas morais que se tornam verdades de ordem prováveis. Destarte, não há causalidade, pois nem sempre terão o efeito esperado, destruindo a relação entre causa e efeito. Trata-se de um ceticismo teórico que para a vida não tem validade alguma.97 Hume não só desenvolveu seu pensamento na busca pelo conhecimento humano, mas também colaborou principalmente no campo da ciência, da moral, da religião (com críticas ao fenômeno religioso) e na própria política (influenciando na constituição americana). 3.2.8 Jean-Jacques Rousseau (1717-1778) Filósofo, político, escritor e compositor suíço dos meados do século XVIII, se destacou na história através da Revolução Francesa, tornando-se um dos maiores pensadores do iluminismo e de sua época. Suas principais obras são: Discurso Sobre as Ciências e as Artes (1749); Discurso Sobre a Origem e os Fundamentos da Desigualdade Entre os Homens (1755); Do Contrato Social (1762); Emílio ou Da Educação (1762); e Os Devaneios de um Caminhante Solitário (1776). Principais pensamentos I. O Pacto Social A principal obra que fez com que seu pensamento se propagasse foi Do Contrato Social, na qual este difere no pensamento político de Locke e Hobbes. Em um primeiro momento, Rousseau dirá que o homem em sua natureza é bom, mas o sistema político em que ele vive faz com que ele se desvirtue. O contrato social seria um meio dos homens, naturalmente bons, se associarem (pacto) e formarem uma sociedade. Para ele, “o homem nasce livre e por toda a parte ele está agrilhoado”98 , isto é, “aquele que se crê senhor dos 95 REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da Filosofia: de Spinoza a Kant. São Paulo: Paulus, 2005. v. 4, p. 135. 96 Cf. Ibidem, p. 135. 97 Cf. JAPIASSÚ, Hilton; MARCONDES. Hume, David. In: JAPIASSÚ, Hilton; MARCONDES, Danilo. Dicionário básico de filosofia. 3. ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2006. 98 ROUSSEAU, Jean-Jacques. O Contrato Social. 3. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1996. p. 9.
  • 39. 38 outros não deixa de ser mais servo do que eles”99 , esta é a finalidade do contrato, libertar o homem das cadeias da sociedade devolvendo a liberdade natural. Não existe autoridade de um sobre o outro100 , o que existe é a vontade geral, todos ficam submetidos às leis e não a autoridades. A vontade geral se preocupa com o bem comum, diferentemente da vontade particular que se preocupa apenas com o individual101 . Destarte, A vontade geral, portanto, não é a soma das vontades de todos os componentes, mas uma realidade que brota da renuncia de cada um a seus próprios interesses em favor da coletividade. E um pacto que os homens não estreitam com Deus ou com um chefe, mas entre si mesmos, em plena liberdade e com perfeita igualdade.102 II. A educação Para que o pacto seja bem sucedido é necessário que haja uma boa educação e é na obra Emílio que Rousseau irá tratar sobre este assunto. Esta obra trata-se de um romance pedagógico e é uma das maiores obras de todos os tempos nesse assunto. Para o pensador, as crianças devem ser educadas de forma que sejam bem orientadas quanto a sua liberdade. Não se deve treinar urna criança quando não se sabe conduzi-la aonde se quer, somente através das leis do possível e do impossível, cujas esferas, sendo-lhe igualmente desconhecidas, podem ser ampliadas ou restringidas diante dela como melhor convier. Pode-se prendê-la, impeli-la ou detê-la sem que ela se dê conta, somente através da voz da necessidade. E pode-se torna-la mansa e dócil somente através da força das coisas, sem que nenhum vicio tenha condição de germinar em seu coração, porque as paixões nunca se acendem quando são vis em seus efeitos.103 O sentido de bem comum deve ser colocado na educação das crianças a fim de que elas passem ao invés de nutrirem o amor de si mesmas, passem a nutrir o amor pela comunidade (amor aos outros). O processo de educação seria um processo continuo e não terminaria na infância, mas perduraria a juventude (educação intelectual) e a maturidade (dimensão moral da educação). 3.2.9 Immanuel Kant (1724-1804) Ultimo grande filósofo da modernidade, nascido na Prússia, viveu no fim do século XVIII e XIX. Immanuel Kant diferenciou-se dos demais filósofos do seu tempo ao propor um 99 ROUSSEAU, Jean-Jacques. O Contrato Social. 3. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1996. p.9. 100 Cf. Ibidem, p.13. 101 Cf. Ibidem, p. 125. 102 REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da Filosofia: de Spinoza a Kant. São Paulo: Paulus, 2005. v. 4, p. 285. 103 ROUSSEAU apud REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da Filosofia: de Spinoza a Kant. São Paulo: Paulus, 2005. v. 4, p. 287.
  • 40. 39 modelo de filosofia que combinasse o racionalismo e o empirismo, a chamada epistemologia, mas ficou famoso pelo seu idealismo transcendental que influenciou diretamente Hegel. Suas influências filosóficas foram fortemente caracterizadas em parte de Descartes e Leibniz, com o racionalismo, e em Hume, Locke e Berkeley, com o empirismo, entretanto, algumas ideias de Spinoza, Rousseau e Montaigne também podem ser vistas. Em suas obras destacou-se o criticismo104 . Seu conjunto de obras é vastíssimo e de suma importância para a filosofia posterior a ele, circulando entre a metafísica, a ética, a teologia natural, entre outros elementos. Seus escritos podem ser divididos em seu período de maturidade de pensamento em escritos pré- críticos e críticos105 , separados por sua Crítica da Razão Pura. Escritos Pré-críticos: Pensamentos sobre a verdadeira avaliação das forças vivas (1746); Historia natural universal e teoria do céu (1755); De igne106 (1755); Principiorum primorum cognitionis metaphysicae nova delucidatio107 (1755); Os terremotos (1756); Teoria dos ventos (1756); Monadologia física (1756); Projetos de um colégio de geografia física (1757); Sobre o otimismo (1759); A falsa sutileza das quatro figuras Silogísticas (1762); O único argumento possível para demonstrar a existência de Deus (1763); Ensaio para introduzir em metafísica o conceito de grandezas negativas (1763); Observações sobre o sentimento do belo e do sublime (1763); Pesquisa sobre a evidência dos princípios da teologia natural e da moral (1764); Informe sobre a orientação das lições para o semestre de inverno 1765-1766 (1765); Sonhos de um visionário esclarecidos com os sonhos da metafísica (1766); e De mundi sensibilis atque intelligibilis forma et principiis108 (1770). Escritos críticos: Crítica da Razão Pura (1781); Prolegômenos para toda metafísica futura que se apresente como ciência (1783); Ideia de uma História Universal de um Ponto de Vista Cosmopolita (1784); Resposta à pergunta: O que é iluminismo? (1784); Fundamentação da Metafísica dos Costumes (1785); Primeiros princípios metafísicos da ciência natural (1786); Crítica da Razão Prática (1788); Crítica do Juízo (1790); A Religião dentro dos limites da mera razão (1793); A Paz Perpétua (1795); Doutrina do Direito (1796); A Metafísica dos 104 Conferir o que foi dito anteriormente sobre o ceticismo (capítulo 2). 105 Cf. REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da Filosofia: de Spinoza a Kant. São Paulo: Paulus, 2005. v. 4, p. 350. 106 Dissertação de Doutorado de Kant. 107 Tese de docência universitária de Kant. 108 Dissertação sobre a forma e os princípios do mundo sensível e inteligível.
  • 41. 40 costumes (1797); O conflito das faculdades (1798); Antropologia do ponto de vista pragmático (1798); Geografia física (1802); e A pedagogia (1803). De seu conjunto de obras, destacam-se: Crítica da Razão Pura (1781); Crítica da Razão Prática (1788); Crítica do Juízo (1790); A Religião dentro dos limites da mera razão (1793). Principais pensamentos I. A doutrina do conhecimento Em sua vida, Kant se propôs a responder três perguntas: o que posso saber? O que devo fazer? E o que me é permitido esperar? Essas perguntas tratam de todo interesse que a razão, tanto especulativa quanto prática, almeja responder e é esse o objetivo primordial da mesma. Na obra Crítica da Razão Pura (CRP), Kant procura fazer a distinção entre a razão e o intelecto que outrora fora feito por Platão e Spinoza, a demais, se na atualidade se tem esta distinção os méritos são todos de Kant. A obra se trata de uma obra de teoria do conhecimento kantiana que apresentará uma faculdade para o conhecimento humano, a qual Kant denomina intelecto. Com Descartes, Leibniz partilha o ideal matemático como referencia científica, a imanência do cogito, o imanentismo e o princípio da autoconsciência como constituidora do eu. O conhecimento é formado109 por dois elementos distintos, um sensível e outro intelectivo. Sobre os sentidos, eles fornecem o objeto, enquanto pelo intelecto os objetos são pensados. A doutrina da sensibilidade, Kant a chamou de Estética Transcendental (ETr) e trata da estrutura sensível do conhecimento, na qual, observando o conhecimento sensível descobre como elemento comum a intuição empírica que rege todo o fenômeno110 e é apresentada nas formas de espaço e tempo111 . Sobre o intelecto, este não é formado por intuições, mas sim por conceitos, logo é totalmente lógico, por isso denomina essa doutrina do intelecto de Lógica Transcendental (LTr), a qual Kant subdivide em Analítica Transcendental (ATr) e Dialética Transcendental (DTr). A ATr tem como objetivo analisar as categorias112 a priori que não podem faltar nos objetos. A saber:  Quantidade: multiplicidade, unidade e totalidade. 109 O esquema da formulação do conhecimento segundo Kant pode ser observados no Anexo II desse trabalho. 110 A “coisa para mim”. 111 A matéria não é captada pelos sentidos se não estiver apresentada nestas formas. 112 Existem doze categorias referentes às formas de juízo da lógica formal.
  • 42. 41  Qualidade: realidade, negação, limitação.  Relação: substância, causalidade, comunidade.  Modalidade: possibilidade, existência e necessidade. Assim a ATr, conclui que só é possível conhecer através do intelecto e da sensibilidade o fenômeno que me é apresentado conceituado de forma apriori pelo intelecto. Entretanto, a única coisa que o intelecto humano não consegue entender é o númeno113 . O conceito de númeno e um “conceito problemático”, no sentido de que ele não contém nenhuma contradição, e como tal nos o podemos pensar, porém não efetivamente conhecer; mas e também um conceito necessário, a fim de que a intuição sensível não seja estendida ate as coisas em si mesmas: o conceito de númeno é, portanto, apenas um conceito limite para circunscrever as pretensões da sensibilidade, e por isso de uso puramente negativo.114 A DTr vai tratar de criticar o intelecto em relação ao metafísico. Ela vai tratar da razão e suas estruturas, deste modo, a “razão” é para Kant o próprio intelecto na medida em que se lança para além do horizonte da experiência possível, e é por isso chamada também de “faculdade do incondicionado”, da metafísica; esta, todavia, destina-se permanecer pura exigência do absoluto, incapaz de atingir o próprio absoluto por meio do conhecimento.115 A “razão” seria a faculdade responsável por operar sobre os puros conceitos e juízos de forma deduzida, totalmente o oposto do indutivo do intelecto através de seus juízos. Os conceitos puros, Kant os chamará de “Ideias”116 partindo dos tipos de silogismos117 . Assim, as ideias se distinguiriam em três: a ideia psicológica (alma), a ideia cosmológica (mundo) e a ideia teológica (Deus)118 . Destarte, a conclusão que se pode chegar da CRP é que a metafísica como uma ciência impossível, pois o intelecto não é capaz de conceber e nem criar tais ideias, pois ele não é intuitivo. As ideias apenas contribuem para a compreensão do fenômeno, elas não alargam o conhecimento, mas unificam119 . II. Os juízos O conhecimento humano se funda em três tipos de juízo: o juízo analítico, o juízo sintético a posteriori e o juízo sintético a priori. O juízo analítico não necessita da 113 A “coisa em si”. 114 REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da Filosofia: de Spinoza a Kant. São Paulo: Paulus, 2005. v. 4, p. 353. 115 Ibidem, p. 354. 116 Distinta do sentido clássico ou dos demais modernos. 117 Silogismos da lógica formal: categórico, hipotético e disjuntivo. 118 Cf. REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da Filosofia: de Spinoza a Kant. São Paulo: Paulus, 2005. v. 4, p. 371. 119 Cf. Ibidem, p. 354.
  • 43. 42 experiência, visto que ele é formado de forma a priori. O juízo sintético a posteriori é o juízo baseado nas experiências, logo não são universais. Já que os dois primeiros tipos não podem ser utilizados pela ciência, ela se utiliza de um terceiro juízo, o juízo sintético a priori, que uni a universalidade com a necessidade e a fecundidade, dando assim o sentido de síntese. Com isso, Kant pretende chegar à verificação das ciências para saber quais realmente cumprem o critério científico do juízo sintético a priori120 , chegando à conclusão de que somente a matemática e a física cumprem o critério, a metafísica como ciência não cumpre e ficaria de fora. III. A moral e a metafísica kantiana Kant partindo da universalidade, desta forma, em sua obra Critica da Razão Prática (CRPr) pode-se observar que a razão é suficiente em si mesma, diferentemente da CRP, pelo menos em suas vontades e ações. Ora, entre todos os princípios práticos, isto é, entre as regras gerais (subjetivas e objetivas) que determinam a vontade, apenas os imperativos categóricos constituem as leis praticas que valem sem condições para o ser racional, porque eles determinam a vontade simplesmente como vontade, prescindindo da obtenção de determinado efeito desejado.121 Se nos prendêssemos e estivéssemos totalmente subordinados a lei moral e ao seu conteúdo, agiríamos apenas no utilitarismo e, por conseguinte, em um “empirismo”, entretanto, à vontade nos permite exercer a virtude, isto é, pela racionalidade agimos com essência moral, adequando, isto é, a adequação da vontade a forma da lei122 . O que Kant quer afirmar é que a formulação do imperativo hipotético, o qual até então conduzia toda a moral, não faz com que a racionalidade seja exercida de forma perfeita. O imperativo hipotético só tem um objetivo, chegar a uma finalidade, e não conduzir a uma vida moral. Por exemplo: “se queres ser perfeito, faz isso ou aquilo”. O interativo categórico, proposto por Kant, trata das ações que são boas em si e não que são boas apenas com uma finalidade ou interesse. O imperativo categórico colabora para uma melhor vida moral visto que o seu agir vai contribuir com o exercício da sua vontade, logo da sua racionalidade (razão). Assim: “age de modo que a máxima de tua vontade possa 120 O juízo sintético é o juízo que não se pode chegar as conclusões com apenas as proposições oferecidas por ele, se faz necessário a experiência para saber a veracidade. 121 REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da Filosofia: de Spinoza a Kant. São Paulo: Paulus, 2005. v. 4, p. 376. 122 Cf. Ibidem, p. 376.