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Emmanuel Levinas: Ética e Infinito
Emmanuel Levinas tem origem de família Judaica. Aos doze anos, viveu na
Ucrânia. Mais tarde, estabelece-se na França e inicia seus estudos de filosofia.
Posteriormente se interessa pela filosofia de Husserl e Heidegger. Levinas segue a
dedicação a filosofia num período conturbado aonde sente a brutalidade do homem,
tendo vivido o período da primeira guerra mundial e da segunda guerra mundial aonde
sendo judeu conviveu com as barbaridades das guerras assim com uma ênfase maior na
segunda guerra mundial, aonde os nazistas caracterizaram o símbolo da barbaridade
com um dos acontecimentos que mais marcou, o holocausto, marcando a dominação do
homem sobre outro homem.
A vontade de Levinas nessa obra ÉTICA E INFINITO em forma de entrevista com
Philippe Nemo é quebrar a concepção característica do pensamento do ser. O individuo
não apenas se coloca á saber quanto ao seu ser mais o que ele é que o ser é em sua
essência. “O ser dirige o acesso ao ser. O acesso ao ser pertence a descrição do ser”1
Ao por a pergunta quanto ao seu ser é preciso romper com a característica de tal
definição já tão aceita pelos homens se faz necessário afastar do algo pré-definido do
mundo quanto ao ser.
Na existência aparece o que Levinas chama o Há, não é o nada mais também nem
o ser, um vazio que precisa ser preenchido, com tudo, a existência é algo a ser analisada,
quando se relaciona o ser com a existência “ para sair do Há não é necessário pôr-se,
mas depor-se (...) A deposição da soberania pelo eu é a relação social com outrem, a
relação desinteressada.”2 O ser é por que tem a capacidade de questionar quanto ao ser,
ou seja, o ser existe enquanto consegue por a questão quanto ao seu ser.
A existência é particular, o isolamento do ser é apresentado quanto sua existência;
O existir é o fato de que caracteriza o individuo e suas experiências são intransferíveis.
Cada ser é único. Tem uma frase de Carlos Drummond de Andrade que se encaixa nesse
contexto “ninguém é igual a ninguém. Todo ser humano é um estranho ímpar.” “Na
realidade, o fato de ser é o que há de mais privado; a existência é a única coisa que
não posso comunicar; posso conta-la, mas não posso partilhar a minha existência.
Portanto a solidão aparece aqui como o isolamento que marca o evento do próprio
ser.”3
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1- Emanuel Levinas; Ética e Infinito. Pag. 24
2- Ibid. Pag. 43
3- Ibid. Pag. 49-50
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É preciso sair do ser, e assim sair de si da relação com o mundo do conhecimento.
O conhecimento é o que o individuo pensa, talvez o mundo seja apenas percepção
individual, conhecimento via sentidos que se da á percepção do mundo e das coisas
como conhecimento único, mais é preciso sair desse pensar para compreender o
verdadeiro conhecer, conhecer por si mesmo, independente do conhecimento sensível
mais conforme o entendimento puro. “O conhecimento mais audacioso e distante não
nos põe em comunhão com o verdadeiramente outro; não substitui a socialidade; é
ainda e sempre uma solidão.” 4
Levinas coloca de certa forma a possibilidade do “eu” se “apoderar” do ser do
outro que constitui o eu na medida em que imponho meu modo de ver o mundo, as
coisas, essa capacidade de interferir no outro mesmo inconsientimente reflete o eu. “O
fato de ver as possibilidades do outro como as minhas próprias possibilidades, de
poder sair do fechamento da minha identidade e do que me foi concedido para algo que
não me foi concedido e que, apesar de tudo é meu – eis a paternidade.”5
Interferir na possibilidade do outro ser ele mesmo implica numa não liberdade
desse ser, consegue-se interferir na medida em que coloca uma barreira que cause uma
ruptura no plano desse individuo, de certa forma é uma violência com o outro, o
discurso pode ser uma agressão na medida em que tento impor minha opinião, meu
pensar ao outro, assim como posso estabelece o que é bom para outro que de certa
forma é o que considero bom para mim ou o que seria bom pra mim é bom para o outro,
essa relação cria a intervenção no outro como acontece na relação do pai perante seu
filho.
Pode ter outras tantas relações de interferência, como no caso de um educador. O
papel do educador com o outro pode ter consequências que depende do modo como ele
age, quando um professor infere uma palavra que estabeleça essa agressão, como dizer
que alguém no caso um aluno é incapaz de fazer algo ou definindo como um aluno mal
sendo uma definição que pode acabar com os planos do outro até uma perda da
confiança do individuo em si, nesse ponto “eu” sou responsável também pelo outro na
medida em que interfiro no seu ser e talvez até na sua liberdade. É preciso ter respeito e
antes de qualquer coisa ética, para não tratar uma pessoa como objeto aonde lhe infere e
pré estabelece características, surge responsabilidade de não interferir nas possibilidades
do outro.
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4 - Emanuel Levinas; Ética e Infinito. Pag. 53
5 - Ibid. Pag. 62
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Assim como no caso do ensino não é impor algo, o ensinar não deve ser uma ferramenta
de transferir conhecimento mais uma possibilidade para sua construção.
A possibilidade de se estar frente a frente que Levinas se refere, implica numa
possibilidade de “ver” o outro não quanto suas características mais o outro enquanto ser.
“A verdadeira união ou a verdadeira junção não é uma junção de síntese, mas uma
junção do frente a frente.”6
O frente a frente possibilita a percepção do outro enquanto ser; “A relação com o
rosto pode, sem duvida, ser dominada pela percepção, mas o que é especificamente
rosto é o que não se reduz a ele.”7
“ (...) dentre todas as partes do corpo, o rosto é o mais exposto,
tanto ao perigo tanto à caricia; nu e transparente, o rosto é
completa exterioridade, inteira relação e comunicação,
sinceridade e abertura.” (A Ética da Alteridade em Emmanuel
Levinas. Nélio Vieira de Melo. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2003.
Pag. 89)
O rosto é sentido pra ele mesmo, assim seu sentido não se relaciona com outra coisa.
“ Mas a relação com o rosto é, num primeiro momento ética.”8 “Como visibilidade, o
rosto não é canal de relações, é pura relação,”9 o rosto é o possível, o ver o ser sem
mascaras.
A relação do eu para com o outro constitui a responsabilidade, o eu se identifica
com o outro como se visse uma parte do eu no outro, apesar da identidade ser única
cada um tem uma essência, essa é a identificação de ver de alguma forma algo de mim,
do “eu” no “outro” o outro tem um pouco do eu.
“ A minha responsabilidade não cessa, ninguém pode substituir-
me. De fato, tratar-se de afirmar a própria identidade do eu
humano a partir da responsabilidade, isto é, a partir da posição
ou da deposição do eu soberano na consciência de si, deposição
que é, precisamente a sua responsabilidade por outrem.”10
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6 - Emanuel Levinas; Ética e Infinito. Pag. 69
7 - Ibid. Pag. 77
8- Ibid. Pag.79
9- A Ética da Alteridade em Emmanuel Levinas. Nélio Vieira de Melo. Pag.91
10- Emanuel Levinas; Ética e Infinito. Pag.9
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BIBLIOGRAFIA
A Ética da Alteridade em Emmanuel Levinas. Nélio Vieira de Melo. Porto Alegre:
EDIPUCRS, 2003.
Emanuel Levinas: Ética e Infinito. Diálogos com Philippe Nemo. Edições 70. Lisboa -
Portugal .