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REGIME TOTALITÁRIO NA CONCEPÇÃO DE HANNAH ARENDT

                                                                              Wesley Santos Souza1
O Totalitarismo no Contexto da Era Moderna
        Dentre todas as experiências da Era Moderna, a mais asquerosa foi a dos
movimentos totalitários, que durante a Segunda Grande Guerra Mundial, dizimou
milhares de pessoas, na sua maioria judeus e deficientes físicos, ou pessoas indiferentes
às ideologias do terror. Esta nova lei imposta, não só ao povo judeu, mas também à
humanidade é de maneira inóspita, a desagregação de todos os compromissos do
homem com a vida. Esse tirocínio estará marcado na história como a mais cruel forma
de deterioração da vida.
A condição do homem na modernidade junto à vontade de criar e governar uma nova
humanidade fez, por meio do terror, com que indivíduos ferissem de todos os modos,
com suas ideologias, a composição da vida enquanto algo dado e de direito de todos.
No totalitarismo, o terror é a essência da barbárie. Hannah Arendt2 pensa o totalitarismo
a partir de sua especificidade, que é basicamente sua ideia de domínio, definido como a
“dominação permanente de todos os indivíduos em toda e qualquer esfera da vida”. 3
O totalitarismo, enquanto uma forma de governo burocrática e de intimidação estende
sua ingerência à vida interior de todos os seus governados, tirando deles a liberdade e a
privacidade.
Desta maneira Arendt esclarece que

                            A diferença fundamental entre as ditaduras modernas e as tiranias do passado
                            está no uso do terror não como meio de extermínio e amedrontamento dos
                            oponentes, mas como instrumento corriqueiro para governar as massas
                            perfeitamente obedientes4




1
  Acadêmico do Curso de Filosofia da Universidade Estadual de Montes Claros – UNIMONTES.
2
  Hannah Arendt nasceu Linden, perto de Hannover, Alemanha, em 1906. É filha de Paul Arendt e
Martha Cohn. Estudou nas universidades de Marburg e Freiburg, e obteve seu doutorado em filosofia na
universidade de Heidelberg, sob a orientação de Karl Jaspers. Em 1933 fugiu para Paris e em 1941, por
decorrência da deflagração da Segunda Guerra Mundial, se estabeleceu nos Estados Unidos, onde faleceu
em dezembro de 1975. Professora visitante em várias universidades, Arendt fez sua carreira acadêmica
em New School For Social Research de Nova York. É autora, entre outros livros, de A condição Humana,
Entre o Passado e o Futuro, Homens em Tempos Sombrios, Eichmann em Jerusalém e Responsabilidade
e Julgamento. Foi uma intelectual que se colocou a serviço das idéias contrárias aos regimes totalitários
que pontuaram a história do século XX.
3
  ARENDT, 1989, p. 375.
4
  ARENDT, 1989, p. 26.
Porém, o novo do totalitarismo e o que o difere dos antigos regimes autoritários é que
este está calcado no terror e na intromissão da vida privada, e de forma radical tende a
destruir os próprios grupos e as instituições que formam o tecido das relações privadas
do homem, principalmente a família, fazendo com que o homem se torne estranho ao
mundo privando-o de seu próprio eu.
Arendt distingue assim, o regime totalitário da ditadura e da tirania

                          A distinção decisiva entre o domínio totalitário, baseado no terror, e as
                          tiranias e ditaduras, impostas pela violência, é que o primeiro volta-se não
                          apenas contra os seus inimigos, mas também contra os amigos e
                          correligionários, pois teme todo poder, até mesmo o poder dos inimigos. O
                          clímax do terror é alcançado quando o estado policial começa a devorar os
                          seus próprios filhos, quando o carrasco de ontem torna-se a vítima de hoje. É
                          este o momento quando o poder desaparece inteiramente. 5

O espanto que aqueles que estiveram sujeitos aos domínios nazistas não pode ser
relatado em palavras, tamanha a brutalidade desenvolvida pelos regimes totalitários com
a finalidade de levar a cabo os seus planos de destruição de tudo o que era indiferente às
suas ideologias.
Para Souki
                          O conceito de novidade é um dos pontos mais expressivos de toda obra de
                          Hannah Arendt, e a compreensão profunda das implicações disso faz
                          reconhecer a pertinência do conceito de banalidade do mal, no quadro da
                          filosofia contemporânea.6


Na filosofia de Arendt este ideal de novidade é destacado, principalmente no que tange
à capacidade do homem moderno, de ser um iniciador de novos processos. Sendo que,
esta foi uma das esperanças da modernidade, que diante da possibilidade de alcançar
novos patamares na história, e com a introdução da tecnologia em diversos campos da
sociedade, trazia consigo a esperança de que os ideais de fraternidade e solidariedade
viessem a ser reconstruídos e respeitados, no entanto, os processos históricos são
criados e constantemente interrompidos.
Arendt observa que

                          No advento dos regimes totalitários que estudou, foi a existência de pessoas
                          como desempregados, marginais, refugiados, que são percebidos como

5
    ARENDT, 1985, p 30.
6
    SOUKI, 1998, p 39.
supérfluos. “ A tentativa totalitária de tornar supérfluos o homens reflete a
                         sensação da superfluidade das massas modernas numa terra superpovoada.”
                         Neste sentido é apenas na perspectiva de um bom senso tradicional que “ o
                         mundo dos agonizantes, no qual os homens aprendem que são supérfluos
                         através de um modo de vida em que o castigo nada tem a ver com o crime,
                         em que a exploração é praticada sem lucro e em que o trabalho é realizado
                         sem proveito” pode ser visto como: “ lugar onde a insensatez é diariamente
                         renovada”.7

A era moderna quando proclamava a liberdade e a ação como direito exclusivo do ser
humano, buscava garantir ao homem o encontro de sua subjetividade por meio da
técnica, e mais ainda apontava para ele uma direção para seguir os seus objetivos. Nesta
perspectiva o regime total provoca um impasse por meio de sua ideologia invertida,
vitimando pessoas inocentes, caracterizando-se, assim, como uma afronta e uma
inversão completa dos direitos humanos.
Ressalta Souki que
                         A terrificante originalidade do totalitarismo não se refere a uma nova “idéia”
                         que apareceu no mundo, mas a atos de ruptura com toda a nossa tradição.
                         Esses atos, literalmente, pulverizam nossas categorias políticas e nossos
                         critérios de julgamento moral.8

A novidade do fenômeno totalitário põem por terra as categorias de pensamento político
e moral, demonstrando a incapacidade destes na promoção da vida, destruindo todas as
maneiras de aperfeiçoamento intelectual das massas, de maneira que elas sejam
sufocadas e dizimadas pelos regimes totalitários.
Sobre isto, Castoriadis diz

                         Está implícito na análise de Arendt o pressuposto de que nós enfrentamos
                         aqui algo que não apenas transcende as “teorias sobre a história” herdadas,
                         mas transcende qualquer “teoria”. Na verdade, o totalitarismo é, a esse
                         respeito, o exemplo monstruosamente privilegiado e extremo daquilo que é
                         verdade para toda a história e para todos os tipos de sociedade. 9

É neste confronto com o novo e com o espanto frente às atrocidades e perplexidades que
Arendt tenta compreender o fenômeno totalitário e suas manifestações, que desafiam a
todos os critérios de julgamento.

7
  LAFER, 1988, p. 112 e 113
8
  SOUKI. 1998, p 44.
9
  CASTORIADIS, citado por Souki. 1998, p.44.
Na concepção de Souza: “A questão é ainda mais ampla, já que o totalitarismo é, ao
mesmo tempo, causa e conseqüência da inadequação entre a tradição intelectual do
ocidente e a novidade que ele representa; da ruptura entre o conhecimento e
realidade.” 10
Expandido para além das fronteiras da tolerância, o totalitarismo transformou pessoas
em animais, sujeitos a uma inumanidade sem precedentes, homens e mulheres e até
crianças, despojados de seus diretos, subordinados a penosos trabalhos, cujo salário para
a maior parte deles era apenas o prolongamento da vida.
O totalitarismo é um tipo distinto de dominação, sob uma aparência moderna. É uma
forma de ascendência que não se contenta com o superficialismo atroz, mas invade
todos os campos da perversidade, em prol da conquista de uma raça que obedeça aos
requisitos estéticos, políticos e culturais da minoria dominante, e que emprega sobre as
massas a barbárie e a falência ética.
Para Arendt, o totalitarismo está apoiado em dois pilares: ideologia e terror. Enquanto a
ilegalidade é a essência do governo tirânico, o terror é a própria essência do domínio
totalitário.
Os Campos de Concentração
          A conotação do terror ganha força diante da crueldade dos campos de
concentração, que eram verdadeiros laboratórios, nos quais se verifica a dupla crença de
que tudo é possível e que tudo é permitido. Consentido, não no significado das
liberdades individuais, mas, ao contrário, do ponto de vista dos detentores do poder.
Enfatiza Lafer que

                            O internato do campo de concentração, vê-se separado por um abismo
                            intransponível do mundo dos vivos. Ingressa no mundo dos mortos-vivos.
                            Não tem preço algum porque sempre pode ser substituído. Ninguém sabe a
                            quem ele pertence, porque nunca é visto e, do ponto de vista da sociedade, é
                            absolutamente supérfluo, embora em épocas de intensa falta de mão-de-obra
                            tivessem os internatos nos campos sido utilizados, durante a guerra, na URSS
                            e na Alemanha, para o trabalho.11

O objetivo do totalitarismo é o de transformar por meio da desagregação e violência a
natureza humana, tornando-a uma raça pura, conforme os parâmetros ideológicos dos
comandos totalitários, principalmente em relação ao povo semita. Junto ao extermínio

10
     SOUZA, 2007, p. 246.
11
     LAFER, 1988, p. 107.
de milhares de pessoas, se junta às memórias das vítimas inocentes e de grupos
humanos inteiros resumidos em sujeitos desolados e derrotados pela opressão
Na compreensão de Arendt

                             Os campos de concentração não são apenas destinados ao extermínio de
                             pessoas e à degradação de seres humanos: servem também à horrível
                             experiência que consiste em eliminar, em condições cientificamente
                             controladas, à própria espontaneidade enquanto expressão do comportamento
                             humano, e em transformar a personalidade humana em simples coisa, em
                             alguma coisa que nem mesmo os animais possuem12

Desta maneira, percebe-se entre outros fatores, que os campos de concentração tinham
um objetivo fundamental: a destruição da pessoa jurídica e moral do indivíduo, morta a
pessoa não restava mais a consciência contrária às idéias totalitárias, estes indivíduos
eclipsados e renegados eram experimentos vivos de mortos-vivos.
Evidência Souki que
                             O outro aspecto a ser ressaltado sobre os campos de concentração, e que se
                             situa no quadro das características essenciais do totalitarismo, é o da
                             atmosfera de irrealidade e seu equivalente clima de ficção e a fluidificação da
                             consciência. Convém lembrar que os campos são não apenas a sociedade
                             mais totalitária já realizada, mas também o modelo social perfeito para o
                             domínio total. Os campos constituem a verdadeira instituição central do
                             poder organizacional totalitário. Da mesma forma como a estabilidade do
                             regime totalitário depende do isolamento do mundo fictício criado pelo
                             movimento em relação ao mundo exterior, também a experiência dos campos
                             de concentração depende de seu fechamento ao mundo de todos os homens, o
                             mundo dos vivos em geral.13

Essa atmosfera de aturdimento psíquico e irrealidade, criada pela aparente ausência de
propósitos, é a verdadeira cortina de ferro que esconde, dos olhos do mundo, todas as
barbáries cometidas dentro dos campos de concentração.
Nesta mesma perspectiva destaca Lafer que

                             Os campos de concentração em síntese não é uma instituição criada em nome
                             da produtividade, não tem função econômica e não é útil do ponto de vista




12
     ARENDT, 1989, p. 506.
13
     SOUKI. 1998, p. 56.
prático. Daí a aparência de desatinada irrealidade, aos olhos do mundo do
                            bom senso, dos campos de concentração. 14

É esta uma característica da era moderna que com suas propagandas, engendram na
mentalidade da sociedade, realidades inexistentes, criando e disseminando uma ideia
superficial de que tudo vai bem, mas a realidade é outra e as coisas vão mal, pelo menos
para a maioria subjugada ao terror e às atrocidades dos que se acham melhores e
diferentes dos demais.
Destaca Lafer que

                            O totalitarismo concorre poderosamente, através da propaganda e da
                            ideologia instrumentalizada pelo terror, ao prender as pessoas ao mundo das
                            aparências ao agudizar, através da atomização do indivíduo na massa, o estar
                            sozinho da desolação.15

Segundo Arendt: “A igualdade de condições, embora constitua o requisito básico da
justiça, é uma das incertas especulações da humanidade moderna”.16 e isso fica
evidente diante da calamidade e da indiferença provocados por sentimentos
“Semitofóbico”. 17
Mais do que qualquer tipo de verdade moral é a desumanização e a descrença que
provocam uma crueldade que termina por levar à aceitação do extermínio como solução
perfeitamente normal.
A realidade totalitária é marcada pela existência camuflada de indivíduos desarticulados
de seu mundo, de suas crenças e até mesmo de sua humanidade; são seres
condicionados a aceitar, não importa o que, e eles terminam por não reagir a nada, nem
à vida nem à morte lhes importa mais, de forma que desempenham tarefas absurdas com
uma resignação absoluta.
Explicita Arendt que

                            A experiência dos campos de concentração demonstra que os seres humanos
                            podem transformar-se em espécimes do animal humano, e que a „natureza‟
                            do homem só é „humana‟ na medida em que dá ao homem a possibilidade de
                            tornar-se algo eminentemente não natural, isto é, um homem.18



14
   LAFER, 1988, p. 107
15
   LAFER, 1988, p. 239
16
   ARENDT, 1989, p. 76.
17
   Relativo à semitofobia, que é uma aversão ou intolerância aos judeus.
18
   ARENDT, 1989, p 57.
Os campos minavam a personalidade dos prisioneiros e transformavam estes em cães,
sujeitos às piores humilhações, mas tão sofridos e dependentes ao regime já estavam,
que poucos eram os atos de resistência individual ou coletiva que surgia entre eles.
Os campos tronaram-se laboratórios experimentais para se estudar os meios mais
eficazes de se fazer o terror, onde imperava uma total desestruturação da condição da
humanidade, de forma que homens aplicavam o terror a outros homens, excluindo assim
todos os vínculos de igualdade, sem culpa ou ressentimento como se estes fossem
destituídos de qualquer posição ou proximidade com a vida humana.
Na concepção de Arendt:

                             É pelo fato de a igualdade exigir que eu reconheça que todo e qualquer
                             individuo é igual a mim que os conflitos entre os grupos diferentes, que por
                             motivos próprios relutam em reconhecer no outro essa igualdade básica,
                             assumem formas tão terrivelmente cruéis.19

O totalitarismo tinha uma eficácia técnica que colaborou dramaticamente para levar o
preconceito anti-semita às últimas consequências. Ademais, pode se caracterizar todo
este procedimento com o termo banalidade do mal, sendo que a banalidade do mal, da
qual Arendt fala quando analisa o comportamento burocrático do comandante do campo
de concentração em Auschwitz, “Eichmann20”, somente aproxima-se do nosso
entendimento quando observamos os procedimentos técnicos, regidos pela eficácia da
produção moderna, e desvinculados, na consciência dos protagonistas da matança, do
terror e da sua finalidade, que era a transformação radical da raça humana em uma raça
pura.
A realidade do governo totalitário era incomum e banal. Nele o cotidiano era marcado
pela novidade violenta e ameaçadora, sendo que a única frequência era a brutalidade
estúpida e covarde imposta a pessoas indefesas, como idosos e crianças, através da qual
muitos eram massacrados em praças públicas.


19
   ARENDT, 1989, p 77.
20
   O alemão Adolf Eichmann era um criminoso nazista da II Guerra Mundial que foi capturado em
Buenos Aires, na Argentina, em 1960, e levado a Jerusalém por um comendo militar para julgamento em
um tribunal de Israel, onde foi condenado por crime contra o povo judeu. Na concepção de Arendt, que
em 1961 se ofereceu ao jornal americano The New Yorker para fazer a cobertura do julgamento em
Jerusalém, à singularidade de Eichmann consistia em sua trivialidade, pois não se tratava de um herói,
nem de um fanático, nem de um doente, nem de um grande perverso, nem de um paranóico ou de um
personagem. Para ela Eichmann era fundamentalmente insignificante, mas que possuía vontade. Arendt
trabalhava fatos e traz a banalidade do mal ao nível do cotidiano, ou seja, o que caracterizava o sujeito era
um vazio de pensamento, que não quer dizer se tolo, mas que o predispôs a tornar-se o grande criminoso
que acabou sendo.
Tudo isso revela que a própria banalidade do mal que na concepção de Arendt consiste
no mal político, passa a aceitar o inaceitável, transformando-o em algo normal e legal.
Semelhante a isso Duarte destaca que: “Tipologias que designam aquelas cuja mera
existência implica discordância para com a ideologia totalitária, merecendo ser
sistematicamente exterminados, independentemente do que pensem, falem ou façam”. 21


Uma Sociedade Sem Classes
        As causas do totalitarismo foram diversas, sendo que a “política imperialista”22
transformou-se em um dos pilares deste movimento. Uma vez que na concepção de
Arendt: “A força sem coibição só pode gerar mais força, e a violência administrativa
em benefício da força – e não em benefício da lei – torna-se um dos princípios
destrutivos que só é detido quando nada mais resta a violar”.23
Além destes, outro fator que permitiu o surgimento do totalitarismo foi a secularização,
este é um fator característico da modernidade, que tentou pulverizar da sociedade
moderna as marcas firmes da religiosidade. Sendo que: “A afirmação das leis
                                                                     24
defendidas por nazistas e comunistas teve como base”,                     como evidencia Lefort:“A
erosão que havia sofrido anteriormente à fé numa verdade acima dos homens, à fé
numa lei transcendente, quer fosse definida como direito natural ou emanasse dos
mandamentos de Deus”.25
A era moderna reforçou a subjetividade humana, forçando os homens a uma vida em
que tudo é dinâmico e rápido, e todo tipo de ação comunitária é tido como perda de
tempo. E isso corroborou para a propagação dos ideais totalitários, nos quais os
governos do terror encontraram no individualismo exacerbado o terreno fértil, para a
acomodação de suas leis. Sendo que totalitarismo viu na organização de classes um
perigo, e para isso eles tiveram que buscar nos formadores de opiniões os inimigos que
poderiam destruir toda a sua organização.
O totalitarismo baseia-se em uma organização governamental e sistemática da vida dos
homens prescindindo-os do discurso da ação e de todas as formas de organização
voluntária ou involuntária em qualquer tipo de classe, considerando-os como animais
controláveis e descartáveis.

21
   DUARTE, 2000, p. 251.
22
   É a política de expansão e domínio territorial, cultural e econômico de um nação sobre outra, ou sobre
um ou varias regiões geográficas.
23
   ARENDT, 1989, p.176.
24
   SOUZA, 2007, p. 248.
25
   LEFORT. 1999, p. 29.
O regime totalitário instigou a organização burocrática de massas, apoiando-se no
emprego do terror e da ideologia. Lafer ressalta que: “o fenômeno totalitário revelou
não existirem limites à deformação da natureza humana e provou com o genocídio, que
tudo é possível”.26
Diante do quadro de desordem moral e da brutalidade imposta às massas, os
movimentos totalitários governam massas humanas em que os indivíduos estão
totalmente desmotivados, isolados e desmoralizados, é uma sociedade atomizada e
despreparada, relegada aos mandis e desmandes.
É de maneira silenciosa, um meio de condicionar as massas a um comportamento único
de passividade e de obediência a tudo o que a ela estava sendo imposto, de forma que os
que são subjugados não tenham sequer o direito de pensar sobre as condições reais e
desumanas nas quais se encontravam.
Na visão de Souza

                            O processo de atomização que marcou o século XX é visto por Arendt como
                            o fator básico para o surgimento e consolidação do totalitarismo, ao gerar as
                            multidões   desorientadas      e   compostas   por   indivíduos   isolados   e
                            desmoralizados que seria a base do sistema, fornecendo seus adeptos, seus
                            soldados e seus carrascos.27

Os movimentos totalitários caracterizam se desta maneira, na concepção de Arendt

                            Pela atomização e isolamento social de seus membros e pela exigência de
                            lealdade absoluta deles requerida: “essa exigência é feita pelos líderes dos
                            movimentos totalitários mesmo antes de tomarem o poder e decorre da
                            alegação, já contida em sua ideologia, de que a organização abrangerá, no
                            devido tempo, toda a raça humana”. 28

Transformando a em uma sociedade dócil às posições tomadas pelos seus governos
totalitários, de destituição das classes favorecendo em grande proporção o surgimento
de indivíduos intolerantes e individualistas que buscam um sentido para a sua
existência, que se perderam com as transformações modernas.
Escreve Melo que
                            Reverter as consequências da própria modernidade que gerou: “ destruição da
                            esfera pública força o homem solitário de massa a ir em busca de um


26
   LAFER, C. 2003, p. 37.
27
   SOUZA, 2007, p. 249.
28
   ARENDT, 1989, p. 373.
universo de garantias, de certezas; onde a existência de        um sistema
                        consistente e absolutamente coerente não permita a presença do acaso”.29

A destruição da esfera pública é um dos fatores chave para o isolamento de cidadãos
inocentes, marcados pela exclusão, e alienação daqueles que não lhe dão o direito a
liberdade. Segundo Wagner tal isolamento é visto por Arendt como “o resultado da
ocupação do espaço público pela atividade do labor, atividade que, anteriormente
havia se localizado sempre na esfera privada.” 30
O processo de desagregação social surgido com o totalitarismo é descrito por Young-
bruhel como uma deterioração das classes, fazendo com que os indivíduos se vissem em
meio a um clima de terror de maneira que não havia mais em quem buscar esperanças.
Segundo Young-bruhel: “Primeiro os indivíduos ficavam isolados em suas classes e
então, à medida que as próprias classes se deterioravam a partir de dentro, tornavam-
se atomizadas e desumanas.” 31
A nova sociedade totalitária é anti-semita, cria desigualdades e marginalização,
resultando em novas práticas sociais de isolamento e fechamento dos indivíduos, de
modo que os valores fraternos dão lugar à hostilidade e à desconfiança de todos contra
todos, criando assim uma ressonância de amplas dimensões, na sociedade marcada pelo
estigma da intolerância e da desolação.
Ao considerar a população apenas do ponto de vista biológico laborante, o governo
totalitário tratou de eliminar qualquer instituição ou vínculo humano que pudesse dar
abrigo à solidariedade, à ação e à diferenciação entre os indivíduos. Destituindo tudo no
qual as pessoas poderiam ser amparadas e respeitadas, como partidas, família, arte,
religiões, sindicatos, justiça e outras formas de organização.
A desconstrução dos valores humanos no período totalitário tem por meio a ação, onde
os homens mostram suas identidades singulares. A modernidade proporcionou ao
homem embarcar em um mundo onde a ação é o fator chave para a estruturação
material da vida. Os campos de concentração excluíram da vida de seus subjugados a
ação enquanto crescimento individual e material, proporcionando apenas o ato de agir
como forma de adiarem o seu fim inevitável.
A ação totalitária restrita aos campos de concentração não era uma ação política, mas
uma ação qualquer que estava em busca de um fim, que foi levado a cabo no genocídio

29
   MELO, 2003, p. 13.
30
   WAGNER, 2002, p. 152.
31
   YOUNG-BRUHEL, 1997, p. 210.
de milhões de judeus, e que é caracterizado por Arendt como um crime contra a
humanidade, perpetrado no corpo do povo judeu.
Ressalta Lafer que
                            A destruição da personalidade moral se obtém, na análise de Hannah Arendt,
                            através do anonimato imposto pelo silêncio que cerca os campos de
                            concentração. O silêncio faz desaparecer a palavra escrita e falada, a dor e a
                            recordação, até mesmo na memória da família, dos internados. Por isso, os
                            campos não criam um espaço para o aparecimento nem de heróis nem de
                            mártires. Além disso, “os campos de concentração, tornando anônima a própria
                            morte e tornando impossível saber se um prisioneiro está vivo ou morto,
                            roubaram da morte o significado de desfecho de uma vida realizada. Em certo
                            sentido, roubaram a própria morte do indivíduo, provando que, doravante, nada –
                            nem a morte – lhe pertencia e que ele não pertencia a ninguém. A morte apenas
                            selava o fato de que ele jamais havia existido.32

Se por um lado a modernidade trouxe consigo a glorificação da técnica, e com isso um
nível de conforto material e riquezas jamais vistos, por outro lado, o totalitarismo
descortinou como um monstro, tamanha foi a sua desumanidade, sobrepujando o
interesse coletivo, transformando homens em seres desconexos com o seu tempo,
estagnados pela miséria e pela indiferença daqueles que estavam de fora do contexto
total.
O desenrolar da análise de Arendt, em relação aos regimes totalitários, dá-se no
processo de naturalização da sociedade e na instrumentalização da natureza ocorrido
com a massificação das escolhas e das organizações humanas na era moderna. Em que o
domínio total é mais destruidor que a escravidão e a miséria econômica.
                                                  Conclusão
          A era moderna legou a humanidade um grande desenvolvimento tecnológico e
industrial, ao mesmo tempo em que favoreceu uma parte dos homens modernos a se
firmarem, por uma ideologia eufórica do ter, e do poder, garantindo para uma minoria
o domínio e o controle de uma maioria, alienada pelos sistemas de ideias politicas e
segregacionista que imperaram em alguns lugares do mundo.
É no contexto da era moderna que surgem os movimentos totalitários que destruíram
milhares de judeus, em campos de concentração, nestes, a vida humana perde
totalmente o seu valor, sendo o homem tratado de forma covarde e inumana.


32
     LAFER, 1988, p. 111.
Assim a sociedade pós-moderna na qual estamos é intensamente influenciada pelos
ideais da era moderna; muito do que foi plantado lá, nós hoje colhemos, como por
exemplo, a desagregação social, e todos os tipos de violência contra vida.
No nosso contexto atual, as pessoas moram em condomínios, em apartamentos,
dividindo, as vezes, a mesma parede, mas não se conhecem; cada um se fecha no seu
mundo na medida em que pode; em muitas famílias as crianças crescem sem um
relacionamento íntimo e respeitoso para com os seus pais; é uma sociedade que não
oferece mais nenhuma segurança, onde o perigo se encontra nas ruas e até mesmo nas
escolas.
Refletir o pensamento de Arendt é lançar um olhar para esta sociedade atual e perceber,
nela os grandes dilemas que estão a nos sufocar. O pensamento político e filosófico de
Arendt conserva a pertinência, o caráter original e inusitado que fizeram dela uma
importante figura no cenário do pensamento filosófico e da teoria política
contemporânea.
A era moderna caracteriza-se para Arendt como a tentativa plausível do homem, de
construir um mundo melhor, levando em conta os ideais políticos de respeito e
favorecimento mútuo na promoção da vida.
A originalidade da perspectiva teórica arendtiana se revela, por exemplo, em sua
avaliação da crise política no mundo contemporâneo, no qual se mostram cada vez mais
exíguas as possibilidades de uma experiência democrática radical.
Para Arendt, o traço marcante da modernidade é o esquecimento das suas determinações
democráticas e tradicionais. Por um lado, isto se dá em função do crescente emprego
dos meios tecnológicos da violência, aspecto elevado ao paroxismo pelos totalitarismos
de esquerda e de direita ao longo do período moderno.
Esta pesquisa discute a condição humana no contexto da era moderna, as diversas
transformações, pelas quais a humanidade passara, e a inversão entre a contemplação e
a vita activa que o homem moderno impõe a si mesmo para sobreviver.
Neste sentido todos os homens são condicionados, até mesmo aqueles que condicionam
o comportamento de outros se tornam condicionados pelo próprio movimento de
condicionar.
Arendt demonstra ao longo de seu pensamento, que as construções humanas e tudo o
que espontaneamente adentra o mundo humano, ou para ele é trazido pelo esforço
humano, torna se parte da condição humana.
Esta pesquisa enfatiza a condição humana na era moderna, onde a partir da filosofia de
Arendt é feita uma análise dos desdobramentos da vida do homem à luz das mais novas
experiências, tendo também, como objeto de estudo o sistema totalitário e as suas
atrocidades, investigados pela pensadora.
É marcante na modernidade a introdução da técnica, como meio de favorecer as
inspirações humanas. Hannah Arendt percebia neste fato a necessidade do homem de
fugir da sua condição humana, e um apequenamento da terra a partir do advento da era
moderna mais precisamente com as grandes navegações, e com a descoberta de
telescópio por parte de Galileu, dando ao homem à oportunidade de sonda a
possibilidade de um dia viver fora da terra.
O mundo moderno é caracterizado por Arendt como um lar feito pelo homem, quer
dizer, um mundo como um artefato humano. A noção de mundo cumpre um papel
importante neste contexto, pois ela envolve as coisas interpostas entre os homens, a
partir das quais, estes, ao mesmo tempo em que conservam lugares distintos,
estabelecem uma relação entre o homem e as coisas interpostas entre ele, mesmo que
esta relação seja uma relação de condição.
Ao longo da pesquisa é evidenciada a grande importância da fabricação na vida do
homem, e tendo destaque o papel do home faber como fazedor de utensílios
condicionantes da vida.
A fabricação é uma das qualidades do homem moderno, que despreza cada vez mais a
sua capacidade de pensar em favor das atividades peculiares e necessárias ao ritmo
imposto pela nova forma de conceber e dar significado a sua existência.
A sobrevivência humana na era moderna estará condicionada a um grande aparato
técnico, que determinará o comportamento do individuo moderno e suas relações
cotidianas, de maneira que como é evidenciado por Arendt, é a máquina que
determinará o comportamento do homem na era moderna.
A ponderação acerca da vida humana na era moderna, feita por esta grande pensadora,
nos transmite uma ampla reflexão, que tem como cunho primordial o amplo
questionamento que perpassa a sua obra de maneira silenciosa, mas que, não deixa de
ser evidenciada: “o que estamos fazendo? 33”
Por outro lado, temos a partir das experiências colhidas pela modernidade o mais
eloquente compromisso de refletir sobre as nossas capacidades corrompidas pela


33
     ARENDT, 2001, p. 13
introdução da técnica no nosso dia-a-dia, e de que modo elas estão nos tirando a
humanidade.
Através do caminho percorrido, concluímos a grande importância da reflexão do
pensamento arendtiano na nossa contemporaneidade e a pertinência do tema desta
pesquisa, e sua veracidade através dos desdobramentos da história que chegam até nós,
não só, por meio de escritos, mas, enraizados na nossa tradição ocidental, nos legando
uma gama de valores e contra valores que tendem a nos conduzir, a partir das nossas
escolhas, a um reto caminho de virtude e justiça.
                        REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ARENDT, Hannah. A condição Humana. 10º ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária,
2001.
_______________. A condição humana. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo:
Salamandra; Edusp, 1981.
_______________. Origens do Totalitarismo. São Paulo: Companhia das Letras. 1989.
_______________. Da violência. Brasília: Editora da Universidade de Brasília, 1985.
_______________. Homens em tempos sombrios. São Paulo: Companhia das Letras,
2003.
_______________. Sobre a revolução. Lisboa: Moraes Ed., 1971.
DUARTE, A. O pensamento à sombra da ruptura: política e Filosofia em Hannah
Arendt. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2000.

LAFER, Celso. Hannah Arendt, Pensamento, Persuasão e Poder. 2ºed. São Paulo: Paz
e Terra, 2003.
___________. A Reconstrução dos Direitos Humanos. São Paulo: Companhia das
Letras. 1988.
LEFORT, C. O imaginário da crise. In: NOVAES, A. (Org.). A crise da razão. São
Paulo: Companhia das Letras, 1999

MELO, M. G. de A. As formas totalitárias na análise política de Hannah Arendt. In:
Política Hoje, n. 13, 2003. P 9-17.
SOUKI, Nadia. Hannah Arendt e a banalidade do mal. Belo Horizonte: Editora da
UFMG, 1998.
SOUZA, Ricardo Luiz. História e Sociologia. Vitória da Conquista. In: Politeia v. 7 n. 1
2007. P 243-260

YOUNG-BRUHEL, E. Por amor ao mundo: a vida e a obra de Hannah Arendt. Rio de
Janeiro: Relume-Dumará, 1997.

WAGNER, E. S. Hannah Arendt e Karl Marx: o mundo do trabalho. Cotia: Ateliê
Editorial, 2002.

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Regime totalitário na concepção de hannah arendt

  • 1. REGIME TOTALITÁRIO NA CONCEPÇÃO DE HANNAH ARENDT Wesley Santos Souza1 O Totalitarismo no Contexto da Era Moderna Dentre todas as experiências da Era Moderna, a mais asquerosa foi a dos movimentos totalitários, que durante a Segunda Grande Guerra Mundial, dizimou milhares de pessoas, na sua maioria judeus e deficientes físicos, ou pessoas indiferentes às ideologias do terror. Esta nova lei imposta, não só ao povo judeu, mas também à humanidade é de maneira inóspita, a desagregação de todos os compromissos do homem com a vida. Esse tirocínio estará marcado na história como a mais cruel forma de deterioração da vida. A condição do homem na modernidade junto à vontade de criar e governar uma nova humanidade fez, por meio do terror, com que indivíduos ferissem de todos os modos, com suas ideologias, a composição da vida enquanto algo dado e de direito de todos. No totalitarismo, o terror é a essência da barbárie. Hannah Arendt2 pensa o totalitarismo a partir de sua especificidade, que é basicamente sua ideia de domínio, definido como a “dominação permanente de todos os indivíduos em toda e qualquer esfera da vida”. 3 O totalitarismo, enquanto uma forma de governo burocrática e de intimidação estende sua ingerência à vida interior de todos os seus governados, tirando deles a liberdade e a privacidade. Desta maneira Arendt esclarece que A diferença fundamental entre as ditaduras modernas e as tiranias do passado está no uso do terror não como meio de extermínio e amedrontamento dos oponentes, mas como instrumento corriqueiro para governar as massas perfeitamente obedientes4 1 Acadêmico do Curso de Filosofia da Universidade Estadual de Montes Claros – UNIMONTES. 2 Hannah Arendt nasceu Linden, perto de Hannover, Alemanha, em 1906. É filha de Paul Arendt e Martha Cohn. Estudou nas universidades de Marburg e Freiburg, e obteve seu doutorado em filosofia na universidade de Heidelberg, sob a orientação de Karl Jaspers. Em 1933 fugiu para Paris e em 1941, por decorrência da deflagração da Segunda Guerra Mundial, se estabeleceu nos Estados Unidos, onde faleceu em dezembro de 1975. Professora visitante em várias universidades, Arendt fez sua carreira acadêmica em New School For Social Research de Nova York. É autora, entre outros livros, de A condição Humana, Entre o Passado e o Futuro, Homens em Tempos Sombrios, Eichmann em Jerusalém e Responsabilidade e Julgamento. Foi uma intelectual que se colocou a serviço das idéias contrárias aos regimes totalitários que pontuaram a história do século XX. 3 ARENDT, 1989, p. 375. 4 ARENDT, 1989, p. 26.
  • 2. Porém, o novo do totalitarismo e o que o difere dos antigos regimes autoritários é que este está calcado no terror e na intromissão da vida privada, e de forma radical tende a destruir os próprios grupos e as instituições que formam o tecido das relações privadas do homem, principalmente a família, fazendo com que o homem se torne estranho ao mundo privando-o de seu próprio eu. Arendt distingue assim, o regime totalitário da ditadura e da tirania A distinção decisiva entre o domínio totalitário, baseado no terror, e as tiranias e ditaduras, impostas pela violência, é que o primeiro volta-se não apenas contra os seus inimigos, mas também contra os amigos e correligionários, pois teme todo poder, até mesmo o poder dos inimigos. O clímax do terror é alcançado quando o estado policial começa a devorar os seus próprios filhos, quando o carrasco de ontem torna-se a vítima de hoje. É este o momento quando o poder desaparece inteiramente. 5 O espanto que aqueles que estiveram sujeitos aos domínios nazistas não pode ser relatado em palavras, tamanha a brutalidade desenvolvida pelos regimes totalitários com a finalidade de levar a cabo os seus planos de destruição de tudo o que era indiferente às suas ideologias. Para Souki O conceito de novidade é um dos pontos mais expressivos de toda obra de Hannah Arendt, e a compreensão profunda das implicações disso faz reconhecer a pertinência do conceito de banalidade do mal, no quadro da filosofia contemporânea.6 Na filosofia de Arendt este ideal de novidade é destacado, principalmente no que tange à capacidade do homem moderno, de ser um iniciador de novos processos. Sendo que, esta foi uma das esperanças da modernidade, que diante da possibilidade de alcançar novos patamares na história, e com a introdução da tecnologia em diversos campos da sociedade, trazia consigo a esperança de que os ideais de fraternidade e solidariedade viessem a ser reconstruídos e respeitados, no entanto, os processos históricos são criados e constantemente interrompidos. Arendt observa que No advento dos regimes totalitários que estudou, foi a existência de pessoas como desempregados, marginais, refugiados, que são percebidos como 5 ARENDT, 1985, p 30. 6 SOUKI, 1998, p 39.
  • 3. supérfluos. “ A tentativa totalitária de tornar supérfluos o homens reflete a sensação da superfluidade das massas modernas numa terra superpovoada.” Neste sentido é apenas na perspectiva de um bom senso tradicional que “ o mundo dos agonizantes, no qual os homens aprendem que são supérfluos através de um modo de vida em que o castigo nada tem a ver com o crime, em que a exploração é praticada sem lucro e em que o trabalho é realizado sem proveito” pode ser visto como: “ lugar onde a insensatez é diariamente renovada”.7 A era moderna quando proclamava a liberdade e a ação como direito exclusivo do ser humano, buscava garantir ao homem o encontro de sua subjetividade por meio da técnica, e mais ainda apontava para ele uma direção para seguir os seus objetivos. Nesta perspectiva o regime total provoca um impasse por meio de sua ideologia invertida, vitimando pessoas inocentes, caracterizando-se, assim, como uma afronta e uma inversão completa dos direitos humanos. Ressalta Souki que A terrificante originalidade do totalitarismo não se refere a uma nova “idéia” que apareceu no mundo, mas a atos de ruptura com toda a nossa tradição. Esses atos, literalmente, pulverizam nossas categorias políticas e nossos critérios de julgamento moral.8 A novidade do fenômeno totalitário põem por terra as categorias de pensamento político e moral, demonstrando a incapacidade destes na promoção da vida, destruindo todas as maneiras de aperfeiçoamento intelectual das massas, de maneira que elas sejam sufocadas e dizimadas pelos regimes totalitários. Sobre isto, Castoriadis diz Está implícito na análise de Arendt o pressuposto de que nós enfrentamos aqui algo que não apenas transcende as “teorias sobre a história” herdadas, mas transcende qualquer “teoria”. Na verdade, o totalitarismo é, a esse respeito, o exemplo monstruosamente privilegiado e extremo daquilo que é verdade para toda a história e para todos os tipos de sociedade. 9 É neste confronto com o novo e com o espanto frente às atrocidades e perplexidades que Arendt tenta compreender o fenômeno totalitário e suas manifestações, que desafiam a todos os critérios de julgamento. 7 LAFER, 1988, p. 112 e 113 8 SOUKI. 1998, p 44. 9 CASTORIADIS, citado por Souki. 1998, p.44.
  • 4. Na concepção de Souza: “A questão é ainda mais ampla, já que o totalitarismo é, ao mesmo tempo, causa e conseqüência da inadequação entre a tradição intelectual do ocidente e a novidade que ele representa; da ruptura entre o conhecimento e realidade.” 10 Expandido para além das fronteiras da tolerância, o totalitarismo transformou pessoas em animais, sujeitos a uma inumanidade sem precedentes, homens e mulheres e até crianças, despojados de seus diretos, subordinados a penosos trabalhos, cujo salário para a maior parte deles era apenas o prolongamento da vida. O totalitarismo é um tipo distinto de dominação, sob uma aparência moderna. É uma forma de ascendência que não se contenta com o superficialismo atroz, mas invade todos os campos da perversidade, em prol da conquista de uma raça que obedeça aos requisitos estéticos, políticos e culturais da minoria dominante, e que emprega sobre as massas a barbárie e a falência ética. Para Arendt, o totalitarismo está apoiado em dois pilares: ideologia e terror. Enquanto a ilegalidade é a essência do governo tirânico, o terror é a própria essência do domínio totalitário. Os Campos de Concentração A conotação do terror ganha força diante da crueldade dos campos de concentração, que eram verdadeiros laboratórios, nos quais se verifica a dupla crença de que tudo é possível e que tudo é permitido. Consentido, não no significado das liberdades individuais, mas, ao contrário, do ponto de vista dos detentores do poder. Enfatiza Lafer que O internato do campo de concentração, vê-se separado por um abismo intransponível do mundo dos vivos. Ingressa no mundo dos mortos-vivos. Não tem preço algum porque sempre pode ser substituído. Ninguém sabe a quem ele pertence, porque nunca é visto e, do ponto de vista da sociedade, é absolutamente supérfluo, embora em épocas de intensa falta de mão-de-obra tivessem os internatos nos campos sido utilizados, durante a guerra, na URSS e na Alemanha, para o trabalho.11 O objetivo do totalitarismo é o de transformar por meio da desagregação e violência a natureza humana, tornando-a uma raça pura, conforme os parâmetros ideológicos dos comandos totalitários, principalmente em relação ao povo semita. Junto ao extermínio 10 SOUZA, 2007, p. 246. 11 LAFER, 1988, p. 107.
  • 5. de milhares de pessoas, se junta às memórias das vítimas inocentes e de grupos humanos inteiros resumidos em sujeitos desolados e derrotados pela opressão Na compreensão de Arendt Os campos de concentração não são apenas destinados ao extermínio de pessoas e à degradação de seres humanos: servem também à horrível experiência que consiste em eliminar, em condições cientificamente controladas, à própria espontaneidade enquanto expressão do comportamento humano, e em transformar a personalidade humana em simples coisa, em alguma coisa que nem mesmo os animais possuem12 Desta maneira, percebe-se entre outros fatores, que os campos de concentração tinham um objetivo fundamental: a destruição da pessoa jurídica e moral do indivíduo, morta a pessoa não restava mais a consciência contrária às idéias totalitárias, estes indivíduos eclipsados e renegados eram experimentos vivos de mortos-vivos. Evidência Souki que O outro aspecto a ser ressaltado sobre os campos de concentração, e que se situa no quadro das características essenciais do totalitarismo, é o da atmosfera de irrealidade e seu equivalente clima de ficção e a fluidificação da consciência. Convém lembrar que os campos são não apenas a sociedade mais totalitária já realizada, mas também o modelo social perfeito para o domínio total. Os campos constituem a verdadeira instituição central do poder organizacional totalitário. Da mesma forma como a estabilidade do regime totalitário depende do isolamento do mundo fictício criado pelo movimento em relação ao mundo exterior, também a experiência dos campos de concentração depende de seu fechamento ao mundo de todos os homens, o mundo dos vivos em geral.13 Essa atmosfera de aturdimento psíquico e irrealidade, criada pela aparente ausência de propósitos, é a verdadeira cortina de ferro que esconde, dos olhos do mundo, todas as barbáries cometidas dentro dos campos de concentração. Nesta mesma perspectiva destaca Lafer que Os campos de concentração em síntese não é uma instituição criada em nome da produtividade, não tem função econômica e não é útil do ponto de vista 12 ARENDT, 1989, p. 506. 13 SOUKI. 1998, p. 56.
  • 6. prático. Daí a aparência de desatinada irrealidade, aos olhos do mundo do bom senso, dos campos de concentração. 14 É esta uma característica da era moderna que com suas propagandas, engendram na mentalidade da sociedade, realidades inexistentes, criando e disseminando uma ideia superficial de que tudo vai bem, mas a realidade é outra e as coisas vão mal, pelo menos para a maioria subjugada ao terror e às atrocidades dos que se acham melhores e diferentes dos demais. Destaca Lafer que O totalitarismo concorre poderosamente, através da propaganda e da ideologia instrumentalizada pelo terror, ao prender as pessoas ao mundo das aparências ao agudizar, através da atomização do indivíduo na massa, o estar sozinho da desolação.15 Segundo Arendt: “A igualdade de condições, embora constitua o requisito básico da justiça, é uma das incertas especulações da humanidade moderna”.16 e isso fica evidente diante da calamidade e da indiferença provocados por sentimentos “Semitofóbico”. 17 Mais do que qualquer tipo de verdade moral é a desumanização e a descrença que provocam uma crueldade que termina por levar à aceitação do extermínio como solução perfeitamente normal. A realidade totalitária é marcada pela existência camuflada de indivíduos desarticulados de seu mundo, de suas crenças e até mesmo de sua humanidade; são seres condicionados a aceitar, não importa o que, e eles terminam por não reagir a nada, nem à vida nem à morte lhes importa mais, de forma que desempenham tarefas absurdas com uma resignação absoluta. Explicita Arendt que A experiência dos campos de concentração demonstra que os seres humanos podem transformar-se em espécimes do animal humano, e que a „natureza‟ do homem só é „humana‟ na medida em que dá ao homem a possibilidade de tornar-se algo eminentemente não natural, isto é, um homem.18 14 LAFER, 1988, p. 107 15 LAFER, 1988, p. 239 16 ARENDT, 1989, p. 76. 17 Relativo à semitofobia, que é uma aversão ou intolerância aos judeus. 18 ARENDT, 1989, p 57.
  • 7. Os campos minavam a personalidade dos prisioneiros e transformavam estes em cães, sujeitos às piores humilhações, mas tão sofridos e dependentes ao regime já estavam, que poucos eram os atos de resistência individual ou coletiva que surgia entre eles. Os campos tronaram-se laboratórios experimentais para se estudar os meios mais eficazes de se fazer o terror, onde imperava uma total desestruturação da condição da humanidade, de forma que homens aplicavam o terror a outros homens, excluindo assim todos os vínculos de igualdade, sem culpa ou ressentimento como se estes fossem destituídos de qualquer posição ou proximidade com a vida humana. Na concepção de Arendt: É pelo fato de a igualdade exigir que eu reconheça que todo e qualquer individuo é igual a mim que os conflitos entre os grupos diferentes, que por motivos próprios relutam em reconhecer no outro essa igualdade básica, assumem formas tão terrivelmente cruéis.19 O totalitarismo tinha uma eficácia técnica que colaborou dramaticamente para levar o preconceito anti-semita às últimas consequências. Ademais, pode se caracterizar todo este procedimento com o termo banalidade do mal, sendo que a banalidade do mal, da qual Arendt fala quando analisa o comportamento burocrático do comandante do campo de concentração em Auschwitz, “Eichmann20”, somente aproxima-se do nosso entendimento quando observamos os procedimentos técnicos, regidos pela eficácia da produção moderna, e desvinculados, na consciência dos protagonistas da matança, do terror e da sua finalidade, que era a transformação radical da raça humana em uma raça pura. A realidade do governo totalitário era incomum e banal. Nele o cotidiano era marcado pela novidade violenta e ameaçadora, sendo que a única frequência era a brutalidade estúpida e covarde imposta a pessoas indefesas, como idosos e crianças, através da qual muitos eram massacrados em praças públicas. 19 ARENDT, 1989, p 77. 20 O alemão Adolf Eichmann era um criminoso nazista da II Guerra Mundial que foi capturado em Buenos Aires, na Argentina, em 1960, e levado a Jerusalém por um comendo militar para julgamento em um tribunal de Israel, onde foi condenado por crime contra o povo judeu. Na concepção de Arendt, que em 1961 se ofereceu ao jornal americano The New Yorker para fazer a cobertura do julgamento em Jerusalém, à singularidade de Eichmann consistia em sua trivialidade, pois não se tratava de um herói, nem de um fanático, nem de um doente, nem de um grande perverso, nem de um paranóico ou de um personagem. Para ela Eichmann era fundamentalmente insignificante, mas que possuía vontade. Arendt trabalhava fatos e traz a banalidade do mal ao nível do cotidiano, ou seja, o que caracterizava o sujeito era um vazio de pensamento, que não quer dizer se tolo, mas que o predispôs a tornar-se o grande criminoso que acabou sendo.
  • 8. Tudo isso revela que a própria banalidade do mal que na concepção de Arendt consiste no mal político, passa a aceitar o inaceitável, transformando-o em algo normal e legal. Semelhante a isso Duarte destaca que: “Tipologias que designam aquelas cuja mera existência implica discordância para com a ideologia totalitária, merecendo ser sistematicamente exterminados, independentemente do que pensem, falem ou façam”. 21 Uma Sociedade Sem Classes As causas do totalitarismo foram diversas, sendo que a “política imperialista”22 transformou-se em um dos pilares deste movimento. Uma vez que na concepção de Arendt: “A força sem coibição só pode gerar mais força, e a violência administrativa em benefício da força – e não em benefício da lei – torna-se um dos princípios destrutivos que só é detido quando nada mais resta a violar”.23 Além destes, outro fator que permitiu o surgimento do totalitarismo foi a secularização, este é um fator característico da modernidade, que tentou pulverizar da sociedade moderna as marcas firmes da religiosidade. Sendo que: “A afirmação das leis 24 defendidas por nazistas e comunistas teve como base”, como evidencia Lefort:“A erosão que havia sofrido anteriormente à fé numa verdade acima dos homens, à fé numa lei transcendente, quer fosse definida como direito natural ou emanasse dos mandamentos de Deus”.25 A era moderna reforçou a subjetividade humana, forçando os homens a uma vida em que tudo é dinâmico e rápido, e todo tipo de ação comunitária é tido como perda de tempo. E isso corroborou para a propagação dos ideais totalitários, nos quais os governos do terror encontraram no individualismo exacerbado o terreno fértil, para a acomodação de suas leis. Sendo que totalitarismo viu na organização de classes um perigo, e para isso eles tiveram que buscar nos formadores de opiniões os inimigos que poderiam destruir toda a sua organização. O totalitarismo baseia-se em uma organização governamental e sistemática da vida dos homens prescindindo-os do discurso da ação e de todas as formas de organização voluntária ou involuntária em qualquer tipo de classe, considerando-os como animais controláveis e descartáveis. 21 DUARTE, 2000, p. 251. 22 É a política de expansão e domínio territorial, cultural e econômico de um nação sobre outra, ou sobre um ou varias regiões geográficas. 23 ARENDT, 1989, p.176. 24 SOUZA, 2007, p. 248. 25 LEFORT. 1999, p. 29.
  • 9. O regime totalitário instigou a organização burocrática de massas, apoiando-se no emprego do terror e da ideologia. Lafer ressalta que: “o fenômeno totalitário revelou não existirem limites à deformação da natureza humana e provou com o genocídio, que tudo é possível”.26 Diante do quadro de desordem moral e da brutalidade imposta às massas, os movimentos totalitários governam massas humanas em que os indivíduos estão totalmente desmotivados, isolados e desmoralizados, é uma sociedade atomizada e despreparada, relegada aos mandis e desmandes. É de maneira silenciosa, um meio de condicionar as massas a um comportamento único de passividade e de obediência a tudo o que a ela estava sendo imposto, de forma que os que são subjugados não tenham sequer o direito de pensar sobre as condições reais e desumanas nas quais se encontravam. Na visão de Souza O processo de atomização que marcou o século XX é visto por Arendt como o fator básico para o surgimento e consolidação do totalitarismo, ao gerar as multidões desorientadas e compostas por indivíduos isolados e desmoralizados que seria a base do sistema, fornecendo seus adeptos, seus soldados e seus carrascos.27 Os movimentos totalitários caracterizam se desta maneira, na concepção de Arendt Pela atomização e isolamento social de seus membros e pela exigência de lealdade absoluta deles requerida: “essa exigência é feita pelos líderes dos movimentos totalitários mesmo antes de tomarem o poder e decorre da alegação, já contida em sua ideologia, de que a organização abrangerá, no devido tempo, toda a raça humana”. 28 Transformando a em uma sociedade dócil às posições tomadas pelos seus governos totalitários, de destituição das classes favorecendo em grande proporção o surgimento de indivíduos intolerantes e individualistas que buscam um sentido para a sua existência, que se perderam com as transformações modernas. Escreve Melo que Reverter as consequências da própria modernidade que gerou: “ destruição da esfera pública força o homem solitário de massa a ir em busca de um 26 LAFER, C. 2003, p. 37. 27 SOUZA, 2007, p. 249. 28 ARENDT, 1989, p. 373.
  • 10. universo de garantias, de certezas; onde a existência de um sistema consistente e absolutamente coerente não permita a presença do acaso”.29 A destruição da esfera pública é um dos fatores chave para o isolamento de cidadãos inocentes, marcados pela exclusão, e alienação daqueles que não lhe dão o direito a liberdade. Segundo Wagner tal isolamento é visto por Arendt como “o resultado da ocupação do espaço público pela atividade do labor, atividade que, anteriormente havia se localizado sempre na esfera privada.” 30 O processo de desagregação social surgido com o totalitarismo é descrito por Young- bruhel como uma deterioração das classes, fazendo com que os indivíduos se vissem em meio a um clima de terror de maneira que não havia mais em quem buscar esperanças. Segundo Young-bruhel: “Primeiro os indivíduos ficavam isolados em suas classes e então, à medida que as próprias classes se deterioravam a partir de dentro, tornavam- se atomizadas e desumanas.” 31 A nova sociedade totalitária é anti-semita, cria desigualdades e marginalização, resultando em novas práticas sociais de isolamento e fechamento dos indivíduos, de modo que os valores fraternos dão lugar à hostilidade e à desconfiança de todos contra todos, criando assim uma ressonância de amplas dimensões, na sociedade marcada pelo estigma da intolerância e da desolação. Ao considerar a população apenas do ponto de vista biológico laborante, o governo totalitário tratou de eliminar qualquer instituição ou vínculo humano que pudesse dar abrigo à solidariedade, à ação e à diferenciação entre os indivíduos. Destituindo tudo no qual as pessoas poderiam ser amparadas e respeitadas, como partidas, família, arte, religiões, sindicatos, justiça e outras formas de organização. A desconstrução dos valores humanos no período totalitário tem por meio a ação, onde os homens mostram suas identidades singulares. A modernidade proporcionou ao homem embarcar em um mundo onde a ação é o fator chave para a estruturação material da vida. Os campos de concentração excluíram da vida de seus subjugados a ação enquanto crescimento individual e material, proporcionando apenas o ato de agir como forma de adiarem o seu fim inevitável. A ação totalitária restrita aos campos de concentração não era uma ação política, mas uma ação qualquer que estava em busca de um fim, que foi levado a cabo no genocídio 29 MELO, 2003, p. 13. 30 WAGNER, 2002, p. 152. 31 YOUNG-BRUHEL, 1997, p. 210.
  • 11. de milhões de judeus, e que é caracterizado por Arendt como um crime contra a humanidade, perpetrado no corpo do povo judeu. Ressalta Lafer que A destruição da personalidade moral se obtém, na análise de Hannah Arendt, através do anonimato imposto pelo silêncio que cerca os campos de concentração. O silêncio faz desaparecer a palavra escrita e falada, a dor e a recordação, até mesmo na memória da família, dos internados. Por isso, os campos não criam um espaço para o aparecimento nem de heróis nem de mártires. Além disso, “os campos de concentração, tornando anônima a própria morte e tornando impossível saber se um prisioneiro está vivo ou morto, roubaram da morte o significado de desfecho de uma vida realizada. Em certo sentido, roubaram a própria morte do indivíduo, provando que, doravante, nada – nem a morte – lhe pertencia e que ele não pertencia a ninguém. A morte apenas selava o fato de que ele jamais havia existido.32 Se por um lado a modernidade trouxe consigo a glorificação da técnica, e com isso um nível de conforto material e riquezas jamais vistos, por outro lado, o totalitarismo descortinou como um monstro, tamanha foi a sua desumanidade, sobrepujando o interesse coletivo, transformando homens em seres desconexos com o seu tempo, estagnados pela miséria e pela indiferença daqueles que estavam de fora do contexto total. O desenrolar da análise de Arendt, em relação aos regimes totalitários, dá-se no processo de naturalização da sociedade e na instrumentalização da natureza ocorrido com a massificação das escolhas e das organizações humanas na era moderna. Em que o domínio total é mais destruidor que a escravidão e a miséria econômica. Conclusão A era moderna legou a humanidade um grande desenvolvimento tecnológico e industrial, ao mesmo tempo em que favoreceu uma parte dos homens modernos a se firmarem, por uma ideologia eufórica do ter, e do poder, garantindo para uma minoria o domínio e o controle de uma maioria, alienada pelos sistemas de ideias politicas e segregacionista que imperaram em alguns lugares do mundo. É no contexto da era moderna que surgem os movimentos totalitários que destruíram milhares de judeus, em campos de concentração, nestes, a vida humana perde totalmente o seu valor, sendo o homem tratado de forma covarde e inumana. 32 LAFER, 1988, p. 111.
  • 12. Assim a sociedade pós-moderna na qual estamos é intensamente influenciada pelos ideais da era moderna; muito do que foi plantado lá, nós hoje colhemos, como por exemplo, a desagregação social, e todos os tipos de violência contra vida. No nosso contexto atual, as pessoas moram em condomínios, em apartamentos, dividindo, as vezes, a mesma parede, mas não se conhecem; cada um se fecha no seu mundo na medida em que pode; em muitas famílias as crianças crescem sem um relacionamento íntimo e respeitoso para com os seus pais; é uma sociedade que não oferece mais nenhuma segurança, onde o perigo se encontra nas ruas e até mesmo nas escolas. Refletir o pensamento de Arendt é lançar um olhar para esta sociedade atual e perceber, nela os grandes dilemas que estão a nos sufocar. O pensamento político e filosófico de Arendt conserva a pertinência, o caráter original e inusitado que fizeram dela uma importante figura no cenário do pensamento filosófico e da teoria política contemporânea. A era moderna caracteriza-se para Arendt como a tentativa plausível do homem, de construir um mundo melhor, levando em conta os ideais políticos de respeito e favorecimento mútuo na promoção da vida. A originalidade da perspectiva teórica arendtiana se revela, por exemplo, em sua avaliação da crise política no mundo contemporâneo, no qual se mostram cada vez mais exíguas as possibilidades de uma experiência democrática radical. Para Arendt, o traço marcante da modernidade é o esquecimento das suas determinações democráticas e tradicionais. Por um lado, isto se dá em função do crescente emprego dos meios tecnológicos da violência, aspecto elevado ao paroxismo pelos totalitarismos de esquerda e de direita ao longo do período moderno. Esta pesquisa discute a condição humana no contexto da era moderna, as diversas transformações, pelas quais a humanidade passara, e a inversão entre a contemplação e a vita activa que o homem moderno impõe a si mesmo para sobreviver. Neste sentido todos os homens são condicionados, até mesmo aqueles que condicionam o comportamento de outros se tornam condicionados pelo próprio movimento de condicionar. Arendt demonstra ao longo de seu pensamento, que as construções humanas e tudo o que espontaneamente adentra o mundo humano, ou para ele é trazido pelo esforço humano, torna se parte da condição humana.
  • 13. Esta pesquisa enfatiza a condição humana na era moderna, onde a partir da filosofia de Arendt é feita uma análise dos desdobramentos da vida do homem à luz das mais novas experiências, tendo também, como objeto de estudo o sistema totalitário e as suas atrocidades, investigados pela pensadora. É marcante na modernidade a introdução da técnica, como meio de favorecer as inspirações humanas. Hannah Arendt percebia neste fato a necessidade do homem de fugir da sua condição humana, e um apequenamento da terra a partir do advento da era moderna mais precisamente com as grandes navegações, e com a descoberta de telescópio por parte de Galileu, dando ao homem à oportunidade de sonda a possibilidade de um dia viver fora da terra. O mundo moderno é caracterizado por Arendt como um lar feito pelo homem, quer dizer, um mundo como um artefato humano. A noção de mundo cumpre um papel importante neste contexto, pois ela envolve as coisas interpostas entre os homens, a partir das quais, estes, ao mesmo tempo em que conservam lugares distintos, estabelecem uma relação entre o homem e as coisas interpostas entre ele, mesmo que esta relação seja uma relação de condição. Ao longo da pesquisa é evidenciada a grande importância da fabricação na vida do homem, e tendo destaque o papel do home faber como fazedor de utensílios condicionantes da vida. A fabricação é uma das qualidades do homem moderno, que despreza cada vez mais a sua capacidade de pensar em favor das atividades peculiares e necessárias ao ritmo imposto pela nova forma de conceber e dar significado a sua existência. A sobrevivência humana na era moderna estará condicionada a um grande aparato técnico, que determinará o comportamento do individuo moderno e suas relações cotidianas, de maneira que como é evidenciado por Arendt, é a máquina que determinará o comportamento do homem na era moderna. A ponderação acerca da vida humana na era moderna, feita por esta grande pensadora, nos transmite uma ampla reflexão, que tem como cunho primordial o amplo questionamento que perpassa a sua obra de maneira silenciosa, mas que, não deixa de ser evidenciada: “o que estamos fazendo? 33” Por outro lado, temos a partir das experiências colhidas pela modernidade o mais eloquente compromisso de refletir sobre as nossas capacidades corrompidas pela 33 ARENDT, 2001, p. 13
  • 14. introdução da técnica no nosso dia-a-dia, e de que modo elas estão nos tirando a humanidade. Através do caminho percorrido, concluímos a grande importância da reflexão do pensamento arendtiano na nossa contemporaneidade e a pertinência do tema desta pesquisa, e sua veracidade através dos desdobramentos da história que chegam até nós, não só, por meio de escritos, mas, enraizados na nossa tradição ocidental, nos legando uma gama de valores e contra valores que tendem a nos conduzir, a partir das nossas escolhas, a um reto caminho de virtude e justiça. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARENDT, Hannah. A condição Humana. 10º ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2001. _______________. A condição humana. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Salamandra; Edusp, 1981. _______________. Origens do Totalitarismo. São Paulo: Companhia das Letras. 1989. _______________. Da violência. Brasília: Editora da Universidade de Brasília, 1985. _______________. Homens em tempos sombrios. São Paulo: Companhia das Letras, 2003. _______________. Sobre a revolução. Lisboa: Moraes Ed., 1971. DUARTE, A. O pensamento à sombra da ruptura: política e Filosofia em Hannah Arendt. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2000. LAFER, Celso. Hannah Arendt, Pensamento, Persuasão e Poder. 2ºed. São Paulo: Paz e Terra, 2003. ___________. A Reconstrução dos Direitos Humanos. São Paulo: Companhia das Letras. 1988. LEFORT, C. O imaginário da crise. In: NOVAES, A. (Org.). A crise da razão. São Paulo: Companhia das Letras, 1999 MELO, M. G. de A. As formas totalitárias na análise política de Hannah Arendt. In: Política Hoje, n. 13, 2003. P 9-17. SOUKI, Nadia. Hannah Arendt e a banalidade do mal. Belo Horizonte: Editora da UFMG, 1998. SOUZA, Ricardo Luiz. História e Sociologia. Vitória da Conquista. In: Politeia v. 7 n. 1 2007. P 243-260 YOUNG-BRUHEL, E. Por amor ao mundo: a vida e a obra de Hannah Arendt. Rio de Janeiro: Relume-Dumará, 1997. WAGNER, E. S. Hannah Arendt e Karl Marx: o mundo do trabalho. Cotia: Ateliê Editorial, 2002.