O documento discute os dois usos da retórica: manipulação e persuasão racional. A manipulação explora as limitações da racionalidade do público, enquanto a persuasão racional tenta superar essas limitações por meio de argumentos claros e sólidos para que o público possa avaliá-los por si mesmo.
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Usos da Retórica: Persuasão vs Manipulação
1. Pedro Galvão , António Correia Lopes, Preparação para o Exame Nacional 2013 - Filosofia - 11.º Ano, Porto
Editora
Usos da retórica: Persuasão e manipulação
“A retórica proporciona um conjunto de técnicas para persuadir as pessoas. Aquele que domina
essas técnicas possui, assim, um certo poder, o qual, tanto pode ser mal usado como bem usado. Na
verdade, podem distinguir-se dois usos da retórica: a manipulação e a persuasão racional.
Para diferenciar estas duas formas de usar a retórica, comecemos por observar que um auditório é
sempre constituído por pessoas e as pessoas são racionais. Ou seja, as pessoas têm a capacidade de
raciocinar e, por isso, são sensíveis à argumentação. Se perceberem que uma certa conclusão se segue
a premissas que já aceitam, em princípio estarão dispostos a aceitá-la. Porém, as pessoas não são
perfeitamente racionais. Muitas vezes, raciocinam mal, sobretudo quando se veem perante raciocínios
especialmente enganadores – as falácias. Além disso, têm preconceitos de diversos géneros – por
exemplo, preconceitos religiosos, sexistas ou racistas.
Em suma, um auditório é constituído por pessoas que têm uma racionalidade limitada. Podemos
esclarecer a diferença entre manipulação e persuasão racional a partir desta ideia.
A manipulação corresponde ao uso da retórica em que as limitações da racionalidade do
auditório são vistas como uma opurtunidade a explorar.
A persuasão racional corresponde ao uso da retórica em que as limitações da racionalidade do
auditório são vistas como um obstáculo a ultrapassar.
Um orador informado conhece as características e as limitações do auditório que pretende persuadir.
Se ele usar a retórica para manipular o auditório, tentará tirar partido das suas limitações. Não hesitará
em explorar os seus preconceitos e em recorrer a argumentos que sabe serem falaciosos, desde que
isso contribua para obter a adesão desejada. Digamos que, quando fazemos um uso manipulador da
retórica, o orador não respeita a autonomia dos membros do auditório, não procura levâ-los a
pensarem melhor por si próprios. Em vez disso, engana-os, trata-os como simples instrumentos ao
serviço das suas finalidades pessoais. A maior parte das pessoas reconhece que a manipulação é um
uso imoral da retórica. É deste uso, aliás, que resulta a má reputação da retórica.
Porém, o orador pode usar as técnicas da retórica com a finalidade de facilitar uma persuasão
racional do auditório. Para persuadir, geralmente não basta ter razão naquilo que se defende, pois as
limitações do auditório podem impedir a compreensão dos argumentos. É preciso saber defender as
ideias de uma forma eficaz, apresentando os argumentos pela melhor ordem e sem complicações
desnecessárias. Quando se tem em vista a persuasão racional, não se ilude as pessoas, não se
desrespeita a sua autonomia, já que se tenta persuadi-las através de argumentos claramente
apresentados cuja solidez elas próprias podem avaliar.”