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Sobre o pensamento dogmático
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SOBRE O PENSAMENTO DOGMÁTICO
Fernando Alcoforado*
O homem utiliza diversos tipos de narrativas para explicar os fenômenos que o cerca.
São relatos ou histórias contadas, de alguém para alguém, com o propósito de transmitir
uma ideia, um pensamento. Embora possamos considerar, originalmente, esses
conhecimentos como críticos, eles desempenham a função de conhecimento dogmático
quando aquele que os ouve ou os lê, os concebe como representação verdadeira das
coisas, movidos unicamente pela crença em quem os anuncia.
Dependendo da conduta de quem recebe determinada informação, um saber será crítico
ou dogmático. Um saber será crítico, se o receptor se dispuser a analisar a lógica interna
da teoria, investigando-a e questionando-a, se posicionando de forma crítica ante o que
lhe é transmitido, tendendo a somente tomar como discurso "verdadeiro" aquilo que a
sua análise indicar. Um saber será dogmático, se houver a aceitação da informação sem
uma prévia análise racional.
Para um conhecimento se tornar dogmático ele conta com um ingrediente fundamental:
a confiança (fé ou crença) no receptor da mensagem. Ele se realiza
epistemologicamente porque o ouvinte da história confia na veracidade do relato, mas
não o faz em razão das relações lógicas contidas no bojo do discurso, mas por acreditar
que o contador da história é digno de credibilidade que funciona como uma autoridade
ante aquele. No pensamento dogmático a relação é unilateral, pois não há debate,
discussão, nem controvérsia. Isso promove a uniformidade do pensamento e da ação.
Mas quem é essa autoridade que tem o condão de nos fazer crer nas histórias que conta?
Normalmente, achamos que esse comportamento ante o ato de conhecer é próprio do
homem antigo, que confiava nos relatos dos adivinhos, poetas e videntes. Podemos
ainda imaginar que esse discurso é próprio da religião, onde Deus assume a autoria da
verdade revelada, justificando a crença ou fé naquilo que é dito. Mas essa autoridade
também surge quando acreditamos em um pensamento pela fé que temos em quem o
proclama, mesmo que o contador da história não seja a divindade, desde que aceitemos
o discurso sem contestação. Neste momento, nos tornamos passivos do ponto de vista
intelectual.
Mas como é possível que o homem contemporâneo, tecnológico e científico, se
comporte ingenuamente ante o ato de conhecer? Independentemente da classe social a
que pertença, inicialmente, somos orientados pelos pais, depois pelo professor, pela
Igreja ou pelas Igrejas e pelas instituições do poder dominante que assumem essa tarefa.
Em seguida, a mídia assume seu papel de difusor da ideologia da sociedade onde
vivemos impondo o pensamento dogmático reinante no interesse das classes e dos
detentores do poder dominantes. Todas essas personagens (e muitas outras) contribuem
para construir a nossa percepção da realidade. Acostumamo-nos tanto com o mundo
relatado por elas que não ousamos submeter às crenças que adquirimos ao crivo da
crítica.
Assim, mesmo sem pesquisar ou investigar os fundamentos de inúmeros fenômenos
naturais e humanos, acreditamos com toda a força do nosso espírito nas histórias que
nos contam. AS pessoas creem, amparadas apenas na confiança no narrador, que a Terra
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gira em torno do Sol, mesmo que jamais tenhamos observado o movimento dos astros
celestes; acreditam que um corpo “cai” porque é atraído por outro corpo de maior
massa, sem que tenhamos estudado as leis de Newton; acreditam que existe apenas um
único Deus, que é Eterno e não tem princípio nem fim sem haver tal comprovação;
acreditam que em Deus há três pessoas: Pai, Filho e Espírito Santo e que cada uma delas
possui a essência divina que é numericamente a mesma sem ter sido devidamente
comprovado; acreditam que Tudo o que existe foi criado por Deus a partir do Nada sem
haver a necessária comprovação; acreditam que Jesus Cristo é filho de Deus sem haver
provas concretas, etc. As pessoas não examinam a validade desses e outros pensamentos
que possuímos, acreditando apenas que são verdadeiros da mesma forma que os gregos
acreditavam na Ilíada e Odisseia. Simplesmente os aceitamos por terem sido contados
pelas chamadas "autoridades".
Assim, o dogma, o preconceito, o pensamento fixo se cristalizam em nosso intelecto,
sem que os submetamos aos ditames de uma simples análise racional. Continuamos,
ainda hoje, a adquirir (receber) o conhecimento de forma passiva como se não
tivéssemos a capacidade de investigar, pesquisar e interrogar a natureza. Dogmatismo é
um termo usado pela filosofia e pela religião. Dogmatismo é toda doutrina que afirma a
capacidade do homem de atingir a verdade absoluta e indiscutível. Na religião,
corresponde ao conjunto de dogmas e na filosofia é o pensamento contrário à corrente
do ceticismo que contesta a possibilidade de conhecimento total da verdade.
De um modo geral, os dogmas expressam verdades não sujeitas a qualquer tipo de
revisão ou crítica. O dogmatismo pode entender-se principalmente como a completa
submissão, a determinados princípios ou à autoridade que os impõe ou revela. Já o que
seja o pensamento dogmático (o conduzido por “dogmas de fé”, aos moldes das
religiões) é a fixação por conceituações obscuras, juízos falsos, raciocínios errôneos, a
despeito de esclarecimento de questões, demonstração de falsas avaliações e dos erros
dos raciocínios e metodologias empregadas.
O dogmatismo refere-se à estreiteza de pensamento, à fé cega em crenças imutáveis e
inabaláveis. É o ato de se pensar em dogmas, de não ter dúvidas, de não raciocinar,
portanto, de aceitar raciocínios já acabados. É o oposto do pensamento científico. O
dogmatismo se confunde com o idealismo que busca explicar a realidade com base nas
ideias, e não as ideias com base na realidade. Deixa-se levar por ideal-tipo, teorias
ideais pré-concebidas desconectadas do mundo concreto, em outras palavras, o
idealismo é o ato de criar mundos que pairam acima da realidade, intocáveis e divinos,
sem jamais serem incomodados por fatos concretos. Aqui o que importa é a teoria, a
ideia, não a prática, o concreto.
No Ocidente, a Igreja Católica Romana criou vários dogmas condicionadores do
comportamento de pessoas e instituições as quais passaram a se constituir em verdades
absolutas, definitivas, imutáveis, infalíveis, inquestionáveis e absolutamente seguras
sobre a qual não podem pairar nenhuma dúvida. O pensamento dogmático deve ser
combatido em todos os campos do conhecimento e da vida em geral porque ele age
como um freio ao progresso humano como comprovam os fatos da história da
humanidade ao longo dos séculos. Além de ser contrário ao progresso humano, o
pensamento dogmático é mantenedor dos status quo em benefício das classes sociais
dominantes e dos detentores do poder. Devemos romper com a passividade do ponto de
vista intelectual enterrando definitivamente o pensamento dogmático.
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*Fernando Alcoforado, 73, engenheiro e doutor em Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional
pela Universidade de Barcelona, professor universitário e consultor nas áreas de planejamento estratégico,
planejamento empresarial, planejamento regional e planejamento de sistemas energéticos, é autor dos
livros Globalização (Editora Nobel, São Paulo, 1997), De Collor a FHC- O Brasil e a Nova (Des)ordem
Mundial (Editora Nobel, São Paulo, 1998), Um Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São Paulo, 2000),
Os condicionantes do desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de doutorado. Universidade de
Barcelona, http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003), Globalização e Desenvolvimento
(Editora Nobel, São Paulo, 2006), Bahia- Desenvolvimento do Século XVI ao Século XX e Objetivos
Estratégicos na Era Contemporânea (EGBA, Salvador, 2008), The Necessary Conditions of the
Economic and Social Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller
Aktiengesellschaft & Co. KG, Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento Global e Catástrofe
Planetária (P&A Gráfica e Editora, Salvador, 2010), Amazônia Sustentável- Para o progresso do Brasil e
combate ao aquecimento global (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2011) e
Os Fatores Condicionantes do Desenvolvimento Econômico e Social (Editora CRV, Curitiba, 2012), entre
outros.S