2.
Joaquim Maria Machado de Assis, cronista, contista,
dramaturgo, jornalista, poeta, novelista, romancista,
crítico e ensaísta, nasceu na cidade do Rio de Janeiro em
21 de junho de 1839. Filho de um operário mestiço de
negro e português, Francisco José de Assis, e de D. Maria
Leopoldina Machado de Assis. Aos 16 anos, publica em
12-01-1855 seu primeiro trabalho literário, o poema "Ela".
Publica seu primeiro livro de poesias em 1864, sob o título
de Crisálidas. Publica, em 1881, um livro extremamente
original, pouco convencional para o estilo da
época: Memórias Póstumas de Brás Cubas -- que foi
considerado, juntamente com O Mulato, de Aluísio de
Azevedo, o marco do realismo na literatura brasileira.
Faleceu no Rio de Janeiro em 29 de setembro de 1908.
O autor
3.
Essa resenha temática busca analisar a obra
“Singular ocorrência” de Machado de Assis.
Para essa análise será discutida as seguintes
temáticas: os personagens; a análise da narrativa; o
teatro machadiano; a intertextualidade; a tragédia; e
a mulher.
Introdução
4.
Andrade: Cidadão urbano, brasileiro, de classe
média do século XIX, advogado e político.
Marocas (Maria de tal): Prostituta, simplória, esbelta,
modos sérios, linguagem limpa, vestido afogado,
escorrido, sem espavento, arrastava a muitos.
Leandro: Suposto amante.
Narrador personagem.
Empregada de Marocas.
Personagens
5.
O conto foi publicado em 1883 no jornal Gazeta de
Notícias.
A narrativa é curta e ambientada na cidade do Rio de
Janeiro. Possui uma trama de tragédia e redenção. O
conto possui um narrador personagem que conta
através de um dialogo com um amigo uma singular
ocorrência que ocorreu com a personagem Marocas.
O tempo da história é datado, pois sabemos que a
história vai ser contada a partir de 20 anos atrás do
início do conto. O conto se inicia em 1880, mas
retoma a 1860.
Análise da narrativa
6.
Em Singular Ocorrência desenvolve-se um enredo
extremamente simples. Andrade e Marocas, assim que
se conhecem apaixonam-se loucamente. Contudo,
Andrade era casado, e Marocas uma prostituta.
Na ausência de seu atual amante que fora a uma viajem
com a família, o desenrolar da história acarreta
incertezas sobre a fidelidade de Marocas, pois a mesma
havia abandonado seus clientes para dedicar-se
exclusivamente a Andrade.
7.
Porém, se a “traição” realmente ocorreu, jamais saberemos,
pois fica no ar. Pois o narrador é incapaz de definir o que
ouve ao certo e o leitor fica assim na incerteza.
A profissão da personagem principal (Marocas) e desenhada
pelo narrador.
[...] está viúva, naturalmente?
- não.
- bem; o marido ainda vive. É velho?
- Não é casada.
- Solteira?
- Assim, assim. Deve chamar-se hoje de. Maria de Tal. Em 1960
florescia com nome familiar de Marocas. Não era costureira,
nem proprietária, nem mestra de meninas; vai excluindo as
profissões e lá chegara. (ASSIS, 1993, p. 153)
8.
Com isso deixa aberto ao leitor que a profissão de
Marocas é a prostituição, contudo, esta problemática não
é tratada de forma aberta.
O perfil de comportamento de Marocas segue uma linha
tênue de antíteses, pois tem modos sérios e recatados, “
linguagem limpa”, além disso era pudica, ou seja ela era
casta, obediente; desinteressada, chegava a provocar
compaixão, pelo fato de não ter família acabando assim
por jantar com retrato de Andrade, por não possuir uma
foto de sua mãe.
9.
Enfim, vai se desenhando uma prostituta que tende a
“beatitude” e não a da “vulgaridade”, do “erotismo ou
da sedução”. (BAEDER, 2009, p. 102)
Um jogo de concessão, apesar de ser prostituta, vestia-se
como beata, comportava-se com recato. Tecendo assim a
instabilidade a cerca do comportamento, do modo como
essa personagem se veste, ou seja, quebra a expectativa
em relação a essa mulher e a seu posto social.
11.
Era boa
Temperamento moderado, sem extremos.
Tudo nela é atenuado e passivo.
Sobrevaloriza as aparências.
Rosto mediano (nem bonito nem feio)
Simpática
Não falava mal de ninguém
Compreensiva ao extremo
Não sabia odiar
Santa
12.
Não era costureira
Não era proprietária
Não era mestra de meminas ... Vá excluindo as
profissões e lá chegara.
prostituta
14.
Modos sérios
Linguagem séria
Vestido afogado
Veste-se sem espavento
Ocorrência no texto
15.
Modos não sérios.
Linguagem chula.
Vestido decotado.
Chama a atenção pelo modo de vestir-se.
Figurativização às
avessas
16.
Machado de Assis foi crítico teatral, comediógrafo,
tradutor de várias peças e censor do Conservatório
Dramático.
O conto Singular Ocorrência é escrito em forma de
um diálogo, entre um narrador e um interlocutor e
possui uma intertextualidade com três obras teatrais:
O teatro machadiano
17.
A Dama das Camélias de Alexandre Dumas Filho.
O casamento de Olímpia de Emile Augier
Janto com Minha Mãe de Lambert Thiboust e Adrien
Decourcelle.
Tirando a primeira obra as outras duas obras são
pouco conhecida do público geral. A maneira que
elas são dispostas no conto cria uma dificuldade de
perceber a intertextualidade, onde os personagens
apenas utilizam de citações de momentos das obras.
Intertextualidade
18.
O leitor atual teria sérios problemas para identificar os
conceitos que as peças teatrais estavam representando
no conto. Contudo, para a época de produção do conto
esse problema não era visível por que as três peças
estavam em circulação.
Para “os contemporâneos de Machado, à época em que
‘Singular ocorrência” foi publicado, podiam perceber
sem problemas as relações existentes entre o conto e as
três peças. O escritor, afinal, dialogou com textos teatrais
que lhe foram familiares na adolescência, mas que
também estavam muito próximos dos seus leitores de
1883 e 1884” (FARIA, 1991, p. 5).
19.
A ligação entre o conto e as obras teatrais:
A primeira sequência narrativa de “singular ocorrência”,
é inspirada claramente em “A dama das camélias”, tem
como tema, portanto, a regeneração de Marocas.
(FARIAS, 1991, p.6)
O uso do teatro “janto com minha mãe”, onde ambas as
duas mulheres são sem família, e com isso marcadas
pela solidão. Para enfatizar a solidão vivida por
Marocas, Machado faz uso da cena em que Sophie
personagem da obra Janto com minha mãe, janta
literalmente com o quadro de sua mãe, Marocas por seu
fim janta com o quadro de se marido Andrade.
20.
No Terceiro momento do conto o equilíbrio da história
se rompe “apesar da regeneração, do amor dedicado a
Andrade, do ‘receio de o perder’, das ‘maneiras tão
acanhadas’, Marocas trai o amante com um
desconhecido que encontra na rua”(FARIA, 1991, p.7).
Eis aí a questão central do conto. Por que ela fez isso?
Para explica-la no narrador busca inspiração em uma
expressão do teatro de: Auguier: “a nostalgia da lama”
A nostalgia da Lama: sempre a arrastará para os velhos
hábitos, de maneira inevitável.
21.
O interlocutor insiste em caracterizar sua atitude com
uma expressão que evoca um universo degradado e que
traz um enorme carga sentenciosa, moralizante, e
desprovida de qualquer psicologia. Talvez esteja aí o
ponto alto do conto. Se aceitarmos a ideia de que o
narrador pode ser uma máscara do escritor, Machado dá
uma bela demonstração de como vê o ser humano se
sem valer de estereótipos literários. Quer dizer: o
intertexto teatral é introduzido para ser negado.
Marocas, ao trair Andrade, não é mais uma arrependida,
mas também não é um depravada. Nem anjo, nem
demônio, como escritor romântico e realista burguês
pintaram a prostituta, mas um ser humano singular,
complexo, enigmático, como tantos outros heróis
machadianos. (FARIAS, 1991, p. 7)
22.
A partir de 1880 com a publicação de Memórias
Póstumas, e, na vida particular, com a manifestação
mais aguda da doença epilética que o incomodava e
humilhava. Machado se coloca subitamente no
ângulo de visão adequado à sua vocação do trágico,
e promove com um gesto decidido a derrocada das
aparências que lhe impediam o acesso às fontes da
realidade. Não mais a ilusão, nem a fuga na
produção idealizada [fase romântica]. O que ele vai
agora contemplar é a essência da vida e do homem
(SCHNEIDER).
Tragédia
23.
O principal tema machadiano é a vicissitude da
motivação humana; de como e por que os indivíduos
agem de maneira que agem. O casamento, a viuvez, a
infidelidade; a política, a história nacional, o palco das
relações familiares são, todos eles, meios de organizar
decisões e escolhas. A ficção de Machado é uma
indagação sobre o modo como tomamos nossas decisões
quando confrontados com expectativas alheias que se
opõem aos nossos desejos, formando um contraponto
entre expectativa e frustração. (ALMEIDA, 2009. p.273)
24.
Em singular ocorrência Machado cria a sensação de
expectativa e frustração. Ele gera no leitor todo o drama
de uma tragédia em torno da traição ou não traição de
Marocas. Contudo, a tragédia do conto não ocorre nesse
momento. Por que Andrade ao ter a noticia do
desaparecimento de Marocas entre em desespero “não
era só a dor de a perder, era o remorso, a dúvida, ao
menos, da consciência, em presença de um possível
desastre, que parecia justifica a moça” (ASSIS, 2003,
p.159).
25.
Andrade reconcilia com Marocas. Será então a partir
desse momento que a tragédia real Machadiana se faz
valer.
Marocas dá um filho ao Andrade, mas este morre com
dois anos. E para fechar a solidão da personagem,
Andrade morre pouco tempo depois em uma viajem a
outra província.
Machado explora em seu conto os acontecimentos ao
acaso, foi um acaso Leandro ser conhecido de Andrade,
o acaso para Machado é “um Deus e um Diabo ao
mesmo tempo” (ASSIS, 2003).
26.
E pelo caráter enigmático da personagem principal,
que parece, mas não é, ou que é mas não parece, e
também pela falta de credibilidade, (pela posição de
díspar que ocupam em relação a mulher na
sociedade, o que os desqualifica como destinadores
julgadores nas ações femininas, pela imprecisão de
seus relatos e pela importância que dão pelo aquilo
que não dizem) que a ironia vai se completar nesse
ponto.
A mulher
27.
O enunciado fala algo, mas o narrador mira em outro
alvo, possibilitando a seguinte leitura do texto:
O desequilíbrio entre o relacionamento entre homens e
mulheres. O importante não é mais a traição em si, se ela
ocorre ou não, mas a reação dos homens a isso. Pois
quando parte deles é um “deslize”. E quando atinge
diretamente a eles se torna impensável, inadmissível ao
desejo feminino, esse “desvio” na leitura leva o leitor a
aceitar de certa forma a duvida em relação a esse sistema
de valores, pois ao esboçar o desejo das mulheres
converte em desentendimento e indignação de uma
sociedade hostil, em que apenas o homem, branco,
possui pregorativas.
28.
Machado de Assis é sem duvida o maior escritor
brasileiro. Singular ocorrência e uma prova de sua
capacidade de construir uma história. O conto possui
apenas cinco páginas, porém, e constituído de um
profundo conhecimento da realidade humana.
Problemas sociais, psicológicos, e uma trama que
envolve o leitor do suspense a decepção.
Considerações finais
29. ALMEIDA, Rogério de. O trágico em Machado de Assis: Análise do conto Singular
Ocorrência. Línguas e Letras, vol. 10, São Paulo, 2009.
PEREIRA, Camila Rathge Rangel. Singularidades Femininas: A representação da
mulher em contos de Machado de Assis e de Eça de Queirós. TCC, Universidade de
Brasília, Brasília, 2013.
NETO, Anselmo Pessoa. Singular ocorrência, de Machado de Assis: Uma
interpretação. Signótica, vol.8, São Paulo, 1996.
CALLIPO, Daniela Mantarro. Marion e Marocas: a redenção da cortesã por amor em
Vitor Hugo e Machado de Assis. Fragmentos, vol. 33, Florianópolis, 2007.
FARIA, João Roberto. Singular ocorrência teatral. Revista USP, vol. 161, São Paulo,
1991.
ASSIS, Machado. Seus trinta melhores contos. Nova Fronteira, Rio de Janeiro, 2003.
SCHNEIDER, Claércio Ivan. O olhar trágico-histórico: espelhos da crônica de
Machado de Assis. Disponível em:
http://www.ufrgs.br/gthistoriaculturalrs/claercioschneider.html Site consultado no
dia 19/10/2015.
BAEDER, Berenice. A duvida em Machado de Assis: uma gramática de
possibilidades. Dissertação de mestrado. USP, São Paulo, 2009.
Referencias