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Testes
Projectivos
Instituto Superior de Psicologia Aplicada
TAT
2
Índice
O TAT............................................................................................................................................4
Os conceitos psicanalíticos e a sua articulação com a Teoria do TAT...........................................7
Tópico.......................................................................................................................................7
Dinâmico..................................................................................................................................7
Económico................................................................................................................................7
Os Conceitos Freudianos Fundamentais...................................................................................8
Aplicação da Prova.....................................................................................................................13
A Metodologia............................................................................................................................15
O Material..............................................................................................................................15
Análise do Material................................................................................................................16
Cartões 6 e 7...........................................................................................................................23
Decomposição............................................................................................................................37
A Série A.................................................................................................................................40
A Série B.................................................................................................................................50
A Série C.................................................................................................................................58
A Série E.................................................................................................................................69
Síntese........................................................................................................................................79
Agrupamento dos procedimentos de elaboração do discurso na folha de decomposição....79
Legibilidade e problemáticas..................................................................................................80
Hipóteses relativas à organização psíquica............................................................................82
Os Tipos de Funcionamento.......................................................................................................83
Registo Neurótico...................................................................................................................84
Registo Limite.........................................................................................................................85
Registo Psicótico.....................................................................................................................88
3
O TAT
O Teste de Apercepção Temática (TAT) surgiu em 1935 com Murray. O termo
apercepção é de Leopoldo Ballak. É uma percepção especial. Tem a ver com o
sentido que o sujeito dá a cada uma das imagens em função de vários factores,
nomeadamente da memória afectiva de situações semelhantes pelas quais o sujeito já
passou.
Em comum com o Rorschach esta prova é projectiva. Ambas se baseiam numa
hipótese projectiva. A seguir ao Rorschach, o TAT é a prova projectiva mais utilizada.
O que as distingue é o material pois o estímulo é completamente diferente. Aqui o
material é figurativo e organizado.
Na sua forma original, o TAT era composto por 31 imagens administradas em duas
vezes, podendo ser divididas em séries destinadas aos adultos homens e mulheres e
aos rapazes e raparigas com idades superiores a 10 anos. Estas imagens
representam personagens de idades e sexos diferentes, colocadas em situações
relativamente determinadas mas que deixam também lugar a interpretações, ou ainda
paisagens ou ainda paisagens pouco estruturadas. O sujeito era convidado a imaginar
uma história, tão rica e dramática quanto possível, que desse conta do presente,
passado e futuro, bem como dos sentimentos das personagens postas em cena. Os
encorajamentos, questões e apreciações eram autorizados, para que o sujeito
fornecesse o máximo de material significativo dos seus conflitos inconscientes.
Na sua obra Explorations in personality (1938), Murray expõe o seu sistema teórico
centrado na dualidade entre as necessidades (tudo o que o sujeito deseja) e as
pressões (tudo o que se opõe à satisfação desses desejos), onde exprimia as suas
próprias necessidades, representando as outras personagens o meio de vida no qual o
sujeito sentia a pressão.
Segundo Murray, o sujeito que conta a história identifica-se à personagem principal
da história (o herói) e as personagens secundárias estão relacionadas com o meio do
sujeito.
Foi Bellak (1954), da escola americana, quem recolocou o TAT nos eixos da teoria
psicanalítica, ao acentuar a segunda tópica (Id/Ego/Superego), o papel do Ego e as
suas funções, as resistências e as defesas. Bellak iniciou a revisão do TAT.
Foram levadas a cabo outras tentativas de modificação do método de H. Murray por
Rotter (1940), Rapaport (1946, 1947), Tomkins (1947), Wyatt (1947, 1958), Piotrowski
4
(1950), Symonds (1951, 1954) e Henry (1956). Estes autores propuseram vias
diferentes: permaneceram ligados ao “herói” mas estabeleceram novas classificações
das necessidades.
Rapaport chamou a atenção para a importância de fazer uma análise do conteúdo
das histórias que nos dá informação sobre a vida inconsciente do sujeito.
Schafer revolucionou a forma de análise do TAT com um artigo cujo título era
“Como é que a história foi contada?”. Entendeu que tão ou mais importante que
analisar o conteúdo é a forma como o sujeito diz as coisas. Considerava que o lado
formal do discurso dava conta do drama pulsional e das defesas usadas pelo sujeito.
Por outro lado, R. R. Holt (1961) introduziu a discussão fundamental sobre a
diferença que existe entre a fantasia espontânea, como a rêverie, e a história dada ao
TAT, produzida sob solicitação de outrem e a partir de um material concreto.
Demonstra que existem diferenças fundamentais entre a fantasia espontânea – que
não se destina à comunicação, submetida ao princípio do prazer e à lei do processo
primário, que se exprime mais em imagens do que em linguagem, independentemente
dos estímulos externos – e as histórias do TAT, que obedecem aos princípios
exactamente contrários.
Os trabalhos americanos culminaram por volta de 1970. Depois deste período, os
escritores sobre o TAT foram-se tornando raros devido às divergências teóricas e
metodológicas entre as escolas. Depararam-se com a ausência de uma teoria
homogénea, susceptível de explicar o que se passa no sujeito quando lhe é pedido
para “imaginar uma história a partir do cartão”.
Relativamente à escola francesa, os trabalhos de Vica Shentoub começaram em
1954. A escola francesa negligenciou as investigações centradas em variáveis
isoladas como a agressividade, as necessidades sexuais, o desejo de afirmação ou de
realização. O TAT só teria interesse nesta perspectiva numa abordagem holística
tendo em conta as noções de estrutura individual, da organização mental e da vida
interior e relacional de cada um. Para isso, era necessário ter em conta tanto a
primeira como a segunda tópica (inconsciente/pré-consciente/consciente;
Id/Ego/Superego) e os três pontos de vista clássicos: dinâmico, económico e tópico,
sem confundir a situação psicanalítica com a situação TAT, as associações livres
obtidas na cura e as fantasia espontâneas dadas no TAT.
5
Vica Shentoub, F. Belet-Foulard, R. Debray e C. Chabert fizeram do TAT um
instrumento seguro, sensível para estudar o funcionamento psíquico global do sujeito
e também capaz de diferenciar um funcionamento psíquico normativo de outro com
patologia. Até chegarem a produzir um diagnóstico diferencial, tiveram que estudar as
características do material TAT em profundidade (ex: no cartão 1, a população
normativa utilizava como detalhes a mulher, o homem, a rapariga; os outros detalhes
eram facultativos ou secundários), o tema banal (ex: no cartão 2, a população
normativa interpreta a imagem como uma história triste e depressiva). Para além
disso, tiveram ainda que construir uma metodologia de análise do TAT séria e
científica, de modo a que qualquer pessoa (psicólogo) pudesse utilizar o TAT com
segurança. Para isso, foi preciso uma teoria, A Teoria sobre o TAT.
6
Os conceitos psicanalíticos e a sua articulação com a
Teoria do TAT
A metapsicologia freudiana consiste em ver a análise psicológica sob três pontos de
vista:
Tópico
O ponto de vista tópico tem a ver essencialmente com o equilíbrio entre os
processos primários e os secundários, entre os movimentos progrediente e
regrediente. Deste ponto de vista, o fundamento de um relato “bem sucedido” não
reside no predomínio o processo secundário sobre o processo primário. Se a história
deve obedecer à secundarização, ela deve igualmente admitir uma ressonância
fantasmática. Uma história só pode ser criada se estes dois procesos se conjugarem.
O ponto de vista tópico permite perceber qual é a instância em que se dá o conflito:
Id, Ego ou Superego.
Dinâmico
O ponto de vista dinâmico pressupõe o conflito entre uma questão e uma resposta,
entre o princípio do prazer e o princípio da realidade. A instrução apela a uma
representação-alvo consciente e uma representação-alvo inconsciente, reactivada
pelas solicitações latentes do material. Assim, pode dizer-se que um
sobreinvestimento fantasmático maciço do percebido constitui um dos maiores
obstáculos à solução do conflito entre a representação-alvo consciente e a
representação-alvo inconsciente.
O ponto de vista dinâmico permite perceber entre que instâncias é que se dá o
conflito: por exemplo, se o conflito se der entre o Id e o Ego, estamos perante uma
psicose.
Económico
O ponto de vista económico refere-se à distribuição da energia consumida nos
conflitos defensivos contra as ideias e afectos desagradáveis. Deste modo, dever
haver uma boa distância, conveniente par ligar os afectos e as representações e
permitir a criatividade. É preciso perceber se a energia se distribui harmoniosamente,
chegando a uma variedade flexível ou se, pelo contrário, o aparelho defensivo fica
reduzido a uma ou duas modalidades exclusivas, mobilizando, ou mesmo esgotando,
a energia em detrimento da criação.
7
Segundo Freud, só pode haver pensamento secundário (de qualidade) com pouca
energia psíquica. Por exemplo, uma pessoa enraivecida não pensa, reage
instintivamente. Assim, só pode haver uma história bem contada com um grau de
secundarização aceitável se houver pouca quantidade de energia. Paralelamente, é
igualmente preocupante se não houver qualquer tipo de energia.
Nenhum destes três pontos de vista pode ser considerado isoladamente. O
protocolo, na sua extensão, constitui um todo indissociável que repousa num jogo
complexo de relações moventes e interdependentes
Os Conceitos Freudianos Fundamentais
Representações e Afectos
As representações e os afectos absorvem tudo o que é da ordem da fantasia
inconsciente reactivada pelo material. Por outro lado, há também a fantasia consciente
induzida que é a história construída pelo sujeito.
A fantasia consciente traduz a forma como as representações e os afectos
inconscientes foram “metabolizados” pelo Ego, pela ajuda dos mecanismos que lhe
são próprios e com a ajuda da linguagem.
Assim sendo, como definir uma representação? Uma representação é aquilo que
forma o conteúdo concreto de um pensamento e a reprodução de uma percepção
anterior. Quando essa representação consiste num reinvestimento de traços mnésicos
mais ou menos ligados a uma coisa, trata-se de uma representação de coisa. A
representação de coisa, que caracteriza o sistema inconsciente, reaviva a inscrição de
um acontecimento.
O Afecto é Inseparável da Representação
A pulsão é a fonte do afecto. Por sua vez, o afecto é a parte energética da
representação. A representação desperta o afecto e o afecto, mobilizado, procura uma
representação.
Assim, tanto o afecto como a pulsão, contêm em si a dualidade e a contradição. A
defesa exerce-se não só contra as representações, mas também contra o afecto que
as acompanha e cujo retorno pode ser temido. O afecto também é uma forma de
memória.
8
Os afectos assim religados à fonte pulsional, enquanto ficarem sob o domínio do
inconsciente, têm as características do modo de funcionamento próprio deste sistema:
são maciços, tempestuosos e tendem à descarga directa. Sob esta forma bruta são
ruinosos para a organização psíquica. Tudo vai depender do potencial organizador do
Ego, da organização (esforços para ultrapassar o conflito entre o princípio do prazer e
o desprazer) pelo Ego das representações e dos afectos despertados e reactivados
pelo estímulo do TAT.
Representação de Coisa – Representação de Palavra
A representação de coisa caracteriza o sistema inconsciente: é o investimento de
um traço mnésico que diz respeito à coisa. Ao lado desta representação
“essencialmente visual que deriva da coisa”, Freud distinguiu uma representação
“essencialmente acústica que deriva da palavra”. Enquanto que a ligação entre a
representação de coisa e a representação da palavra caracteriza o sistema pré-
consciente/consciente, o sistema inconsciente só compreende as representações de
coisa. Assim, a representação de coisa liga a verbalização à consciência.
A intervenção da linguagem faz passar a representação inconsciente para o
domínio do consciente e marca a distinção entre uma representação alucinatória e a
percepção clara do objecto-alvo presente.
No TAT isto significa construir uma história com a ajuda de uma linguagem estável
e coerente. Com efeito, a história contada pelo sujeito atestará o compromisso entre a
representação inconsciente reactivada pelo material e os imperativos conscientes –
contar uma história. Está-se, assim, perante uma fantasia inconsciente: fantasia na
medida em que as raízes mergulham nas representações e afectos inconscientes;
consciente na medida em que os organizadores do Ego possibilitam a secundarização.
O que se pretende no TAT é uma história estruturada com ressonância
fantasmática. O problema coloca-se em termos das representações e dos afectos
inconscientes que podem escapar ao controlo do Ego e à elaboração secundária.
Então, o que acontece ao afecto quando este se depara com a barreira do Ego? O que
acontece é que ele pode ser aceite ou recusado. Quanto mais o afecto for maciço e
tempestuoso, mais ele ficará sob o domínio do sistema inconsciente. Nestes casos, do
ponto de vista económico, não é possível nenhum trabalho do pensamento.
O dilema no TAT é o de estabelecer uma espécie de compromisso ideal entre os
imperativos conscientes e os imperativos inconscientes.
9
A compreensão teórica do processo TAT permite a elaboração de um método
objectivo de análise do material recolhido. Apesar do método poder sofrer
modificações pontuais em função dos interesses e das modificações em
psicopatologia, a teoria do processo TAT e os princípios do método são operacionais,
tanto na prática clínica como na reflexão teórica dos funcionamentos mentais e
também como princípio de investigação sobre outros testes temáticos como o CAT.
Por processo TAT entende-se o conjunto de mecanismos mentais comprometidos
nessa situação singular em que é pedido ao sujeito para imaginar uma história a partir
do cartão, ou seja, para forjar uma fantasia a partir de uma certa realidade (fantasia
induzida  pela imagem). A análise destes processos mentais só pode ser abordada
após uma análise aprofundada da situação que os engendra. Esta situação TAT
compreende três parâmetros:
O Material
O material é constituído por uma série de imagens apresentadas ao sujeito.
Para Murray, as imagens representavam “situações humanas clássicas”.
Actualmente considera-se que se trata de situações que se reportam aos conflitos
universais (ex: amor, ódio, solidão, perda, sexualidade, conflito de gerações,
imaturidade, depressão, agressividade, morte, etc.). Qualquer que seja o cartão, existe
uma referência permanente ao que especifica a condição humana, que é o manejo da
libido e da agressividade, no registo da problemática edipiana, que engloba a
diferença de sexos e de gerações.
No desenrolar da prova o sujeito vai modulando as suas representações, os seus
afectos, as suas defesas e vai elaborando o relato em ressonância com o nível da
problemática sugerida.
A estruturação destas imagens é muitas vezes trivial e relativamente pouco
ambígua. Face a um material objectivamente traçado, existe para cada imagem um
conteúdo manifesto figurado pelos elementos em presença (personagens, o seu sexo,
idade, posições respectivas, objectos, etc.) e as solicitações latentes (susceptíveis de
reactivar um ou outro nível de problemática). A contradição interna entre o conteúdo
manifesto que fixa os limites da fantasia, ao fazer apelo ao princípio da realidade, e as
solicitações latentes que reactivam os traços mnésicos individuais, em relação com os
fantasmas originários, ao fazer apelo ao princípio do prazer. As situações latentes da
imagem desencadeiam uma regressão e representações inconscientes
acompanhadas de afectos que lhes estão ligados.
10
O conteúdo latente simbolização e projecção do sujeito. Assim, o conflito reside no
facto do sujeito dar mais ou menos atenção à projecção ou à percepção.
A Instrução
A instrução original era “Imagine uma história rica e dramática com sentimentos e
que tenha em conta o passado, o presente e o futuro”. Actualmente, a instrução é
muito lacódica e próxima do Rorschach. Quanto menos instrução se der, mais o
sujeito está condenado a ser livre.
A instrução é “Imagine uma história a partir do cartão.”. A instrução encerra uma
contradição e é indutora de conflito. Pede-se ao sujeito um funcionamento psíquico
para imaginar e se libertar segundo o princípio do prazer e, ao mesmo tempo, dizer-lhe
que tem que ter como base a imagem. Isto implica um controlo temporal e lógico para
se poder construir a história.
A tónica é posta na necessidade de dar conta do conteúdo manifesto da imagem
como representante do real e de elaborar uma história lógica e coerente que obedeça
aos princípios da secundarização e também na necessidade de baixar o limiar do
controlo para se deixar ir ao sabor da imaginação.
O que há de particular nesta instrução é deixar-se ir pelo imaginário (projecção)
mas controlar-se e ficar preso à imagem, de maneira a transformar as representações
de coisas em representações de palavras para contar a história (percepção); admitir
os afectos tal como o movimento regressivo os desencadeia, mas filtrá-los de maneira
a que possam ficar a cargo do pensamento.
A Presença do Clínico
A neutralidade do clínico é necessária mas é mais um fim a atingir do que um dado
imediato. A neutralidade é posta em causa pelo sujeito devido às reacções
transferenciais da situação. Esta também é posta em causa pelo clínico uma vez que o
seu comportamento consciente e inconsciente inflecte o modo de reacção do sujeito. A
compreensão do clínico passa não só pelo conhecimento mas também pela
disposição a compreender. O clínico deve estar presente de um modo neutro, não
intervir, não colocar questões, abster-se de qualquer julgamento e de qualquer relação
real mas, ao mesmo tempo, impor o material e a instrução e transcrever as propostas
do sujeito, o que faz dele o representante da fantasia e da realidade.
A presença do examinador é indutora de conflito porque ele representa,
simultaneamente, o princípio do prazer (dá liberdade total à fantasia e ao fantasmático;
11
aceita tudo o que o sujeito lhe disser) e o princípio da realidade (porque é ele que
representa e dá ao sujeito o material e toma nota de tudo o que é dito pelo sujeito).
Havendo no TAT conflitos, há também angústias e, consequentemente, mobilização
de mecanismos de defesa.
Outro conceito importante é o de Processo de elaboração da resposta TAT.
Assim, há três momentos fundamentais pelos quais o sujeito passa desde que lhe
entregam o cartão até ao momento em que produz a história:
1. O conteúdo manifesto da imagem é percepcionado.
2. O conteúdo latente da imagem e a instrução que foi dada ao sujeito para
imaginar provocam uma regressão (abaixamento do controlo consciente) e
desencadeia, no sujeito, a um nível inconsciente, representações e afectos que estão
ligados a essas representações.
3. Este complexo de representações e afectos que estão desorganizados
(como tudo o que são processos primários) irá ou não aceder a um sistema pré-
consciente/ consciente para ser organizado e simbolizado através da palavra. Esta
ligação a aspectos da vida do sujeito depende de quê para ser aceite pelo Ego? Se o
Ego for sólido, forte e seguro, não sentirá perigo em utilizar estes aspectos na história,
mobilizando mecanismos de defesa de tipo neurótico. Caso contrário, se o Ego não for
suficientemente forte, isso vai ser gerador de muita angústia e vai mobilizar muitos
mecanismos de defesa, maioritariamente de tipo psicótico. Se o Ego for
demasiadamente frágil, pode ser submergido pelo inconsciente expressando-se isso
através de histórias cruas carregadas de afectos fortíssimos.
Os parâmetros da situação do TAT são as situações de conflito por excelência: o
princípio de prazer e o princípio de realidade, a representação de coisa e a
representação de palavra, a identidade de percepção e a identidade de pensamento, o
desejo e a defesa, ou seja, os imperativos conscientes e inconsciente. O mais
importante neste teste não são as “necessidades” ou as “motivações”, no limite
anedóticas, mas os modos particulares e sempre singulares do funcionamento do
indivíduo em qualquer situação geradora de conflito.
12
Aplicação da Prova
O TAT é normalmente aplicado a partir dos 9 anos.
A aplicação é feita num único momento e escolhem-se os 10 cartões mais
adequados à problemática do sujeito.
Durante a aplicação da prova, há alguns aspectos fundamentais que devem ser
tidos em consideração.
Deve medir-se o tempo, tanto o tempo de latência como o tempo total por cartão.
As características temporais não podem ser interpretadas em termos de eficiência ou
de realização, mas sim como referências clínicas que mostram a menor ou menor
reactividade do sujeito ou, pelo contrário, a sua tendência para a inibição. É preciso
perceber quais são os efeitos específicos de cada cartão, se o sujeito tem tendência
para reflectir ou para se precipitar no relato.
O tempo de latência e os tempos totais devem ser sempre tomados em
consideração, mas a sua interpretação depende dos elementos clínicos fornecidos
pela análise do conjunto dos relatos.
É desaconselhada a utilização de cronómetro, que pode induzir a aplicação a uma
conotação psicométrica. É preferível recorrer a um relógio de ponteiros, o que é mais
discreto, sem no entanto o esconder.
Quanto às anotações dos relatos, é preciso anotar integralmente o discurso do
sujeito (abreviações, reconstruções e interpretações do clínico devem ser proscritas.
Esta necessidade de transcrever o discurso do sujeito o mais fielmente possível deve-
se ao facto do trabalho sobre o TAT se efectuar a partir da análise formal do relato.
A utilização de um gravador é problemática pois o sujeito pode ter o sentimento de
ser espiado, roubado, ou ainda sentir-se extremamente valorizado. Pode ainda ser um
sinal de falta de confiança na capacidade de escuta do clínico, o que mais uma vez
obriga à transcrição do relato.
Relativamente às intervenções ao longo da aplicação, o clínico intervém pouco
durante a aplicação, o que não significa que não o deva fazer. Cabe ao psicólogo
regular a relação com o sujeito e pode intervir se o entender necessário, sem dar
sugestões ou emitir juízos de valor. No caso de intervir, o psicólogo tem que ter em
conta as suas intervenções e o seu impacto na apreciação da aplicação: se são uma
13
oferta de suporte, de apoio ou se, pelo contrário, são sentidas como inibidoras,
intrusivas ou persecutórias.
Factores como a duração da prova e a atitude do clínico permitem ao clínico
recolher dados que o conduzirão a apreciar o modo de funcionamento psíquico do
sujeito.
Depois de concluída a aplicação, o material recolhido vai ser objecto de análise.
Essa análise baseia-se no estudo dos procedimentos do discurso utilizados na
elaboração das narrativas e da sua articulação com as problemáticas que eles se
esforçam por abordar.
14
A Metodologia
O TAT pode ser proposto em qualquer situação de exame psicológico em que se
pretenda o aprofundamento do funcionamento psíquico de um indivíduo.
Como qualquer situação de teste projectivo, a situação TAT compreende o sujeito,
o teste e o clínico. Tal como os restantes testes temáticos, o TAT é, ao mesmo tempo,
figurativo e ambíguo. Assim, permite simultaneamente uma análise objectiva de tipo
perceptivo (que conduz à descrição do material manifesto) e uma interpretação
subjectiva, que arrasta associações de tipo projectivo (o que traduz as significações
latentes atribuídas ao estímulo).
O TAT solicita condutas perceptivas e projectivas pois o objecto-teste é
compreendido, ao mesmo tempo, como objecto real, tangível, concreto e também
como lugar de investimento de significações subjectivas à semelhança do objecto
transitivo. Isto implica a capacidade do sujeito se deixar ir num devaneio a partir de
uma realidade perceptiva, sem ficar desorganizado por esta actividade associativa, ou
demasiadamente constrangido pelos imperativos da objectividade, referenciado
através das respostas no TAT.
O Material
Da edição original de 31 cartões, só são considerados os mais pertinentes e
significativos: os cartões 1, 2, 3BM, 4, 5, 8BM, 10, 11, 12BG, 13B, 9 e 16 propostos a
rapazes e raparigas, homens e mulheres. Para além disso, os cartões 6BM/7BM são
propostos aos rapazes e homens; os cartões 6GF/7GF e 9GF são propostos a
raparigas e mulheres; e o cartão 13MF é proposto unicamente aos sujeitos adultos,
homens e mulheres.
A ordem de apresentação deve ser respeitada e o cartão 16 deve ser proposto no
fim da aplicação.
Os cartões vão das situações mais estruturadas para as menos estruturadas: os
dez primeiros são mais figurativos e representam personagens sexuadas e os cartões
11, 19 e 16 não reenviam para objectos concretos bem definidos.
O material é aplicado numa única sessão.
15
A instrução dada é “Imagine uma história a partir do cartão”. A instrução é dada no
início e não é repetida. Não há inquérito para cada cartão no final da aplicação mas,
no decurso da aplicação, face a um sujeito muito inibido e/ou com grande mal-estar,
podem colocar-se algumas questões.
Análise do Material
Cartão 1
Conteúdo manifesto: Representa um rapaz, com a cabeça entre as mãos, olhando
para um violino colocado diante dele.
16
Número do Cartão
1 2 3BM 4 5 6BM/7BM 6GF/7GF 8BM 9GF 10 11 12BG 13B 13MF 19 16
S
e
x
o
e
I
d
a
d
e
Homem              
Mulher               
Rapaz             
Rapariga              
Conteúdo latente: o cartão remete para a identificação com um indivíduo jovem
numa situação de imaturidade funcional, que se encontra confrontado com um objecto
que pode ser considerado objecto de adulto, cujas significações simbólicas são
transparentes.
Para que a criança imatura possa ser representada como “capaz de utilizar o
instrumento” é necessário que veja a sua integridade e a do violino: a percepção da
criança deve remeter para uma representação humana inteira, não defeituosa; o
violino deve ser identificado como um objecto não atingido na sua identidade, não
partido e não estragado. Isto atesta a capacidade do sujeito se situar inteiro face a
um objecto inteiro.
O sujeito pode reconhecer que o rapazinho, no presente, é incapaz e se servir do
objecto “violino”, interpretação que remete para a impotência actual da criança, mas
impotência que poderá ser ultrapassada no futuro. Isto implica o reconhecimento da
angústia de castração, problemática essencial colocada por este cartão, isto é, o
reconhecimento da imaturidade actual da criança e a possibilidade de dela se
distanciar num projecto identificatório (o que corresponde ao tema banal) com um
jogo possível entre posições activas e/ou passivas.
A problemática de castração não deve ser apenas entendida em termos de
potência/ impotência mas como possibilidade de aceder à fruição e ao prazer: o
objecto “violino” pode ser investido como objecto de desejo, susceptível de aportar
satisfações e, portanto, suficientemente investido.
Quando domina a problemática narcísica e a luta antidepressiva, há um evitamento
da angústia de castração na afirmação de uma posição de omnipotência. O princípio
do prazer afirma-se de um modo megalomaníaco, que nega a imaturidade funcional da
criança e a sua impotência actual. (“É uma criança prodígio, está a ver-se a tocar,
numa sala, aclamado por um público fascinado pelas suas capacidades”). Pode
aparecer a posição inversa a esta, em que há insuficiências do investimento de si com
afectos depressivos (“É uma criança desesperada, nunca conseguirá livrar-se, não
pode, é incapaz de…”).
17
Cartão 2
Conteúdo manifesto: É “uma cena campestre” com três personagens. No primeiro
plano, uma rapariga segura livros, no segundo plano, um homem com um cavalo e
uma mulher encostada a uma árvore, que pode ser percebida como estando grávida.
Não existe diferença de gerações evidente entre as três personagens, mas a diferença
de sexos é claramente representada.
Conteúdo latente: A relação triangular figurada é susceptível de reactivar o
conflito edipiano. Quando a identidade é estável, existe uma diferenciação entre as
três personagens, podendo cada uma delas ser apreendida como munida de qualquer
coisa.
Há casos em que o conflito não se desenrola numa relação triangular mas sim dual,
em que a rapariga está numa situação de dependência em relação ao casal de
camponeses que figuram o casal parental. Quando, pelo contrário, os processos
identitários são pouco estáveis, aparece uma pseudotriangulação que vem substituir-
se à diferença de sexos.
O reconhecimento do laço que une o casal do segundo plano é sustentado por
fantasmas da cena primitiva mais ou menos elaborados: o conflito vai tecer-se entre
desejos e defesas, sendo a rapariga portadora de desejos libidinais em relação ao
homem e de movimentos agressivos em relação à mulher. Isto é acompanhado por
evocações de nostalgia e tristeza em ter de renunciar aos seus objectos de amor.
Quando predomina a problemática narcísica ou antidepressiva, o cartão pode
reavivar outros registos de problemática: numa problemática de perda, a elaboração
do conflito edipiano é particularmente difícil (fragilidade de manejo pulsional,
18
precaridade dos investimentos libidinais e manuseamento da agressividade mal
gerida).
Em contextos psicóticos, os laços entre as personagens são maciçamente
atacados, o que está associado a fantasmas destrutivos e mortíferos da cena primitiva.
Cartão 3BM
Conteúdo manifesto: Representa um indivíduo cujos sexo e idade são
indeterminados, está caído junto de um banco. No canto esquerdo, está um objecto
pequeno, que pode ou não ser percepcionado e que é frequentemente visto como um
revólver ou uma flor.
Conteúdo latente: Reenvia para a problemática de perda de objecto e põe a
questão da elaboração da posição depressiva (depressão). O material, ao pôr à
prova a representação narcísica de si próprio, mobiliza também processos
identificatórios, na medida em que a personagem é representada de modo
relativamente vago quanto à sua identidade sexual.
A elaboração da posição depressiva é possível quando os afectos depressivos são
reconhecidos e associados a uma representação de perda do objecto. Pelo contrário,
há uma recusa da depressão quando há uma defesa maior de tipo maníaco. Deste
modo, é preciso perceber se, num primeiro momento, o sujeito “mergulha” na
depressão e depois se liberta, projectando no futuro um possível trabalho de luto.
Nas organizações neuróticas, os afectos depressivos são reconhecidos e a
representação de perda do objecto é associada à ambivalência face ao objecto. Aqui o
conflito posiciona-se entre o desejo e os interditos superegóicos que ameaçam o laço
19
de amor com as figuras parentais. A depressão é então dominada pelo sentimento de
culpabilidade e pelo medo inconsciente de um castigo.
Nas modalidades de tipo narcísico, o conflito refere-se a um ideal do Ego exigente.
O fantasma narcísico é posto em primeiro plano e a perda é sentida em termos de
ferida narcísica. Aqui, a depressão é dominada por sentimentos de vergonha e de
inferioridade. O objecto não é investido num movimento relacional objectal, mas com
uma procura permanente de ganhos para o narcisismo próprio do sujeito.
Nas organizações de tipo psicótico, os afectos depressivos podem eventualmente
ser evocados. Aqui é a representação unitária da imagem de si que falha, o que se
traduz pela percepção de deformações corporais na personagem. Neste caso, podem
aparecer temas de destruição (a agressividade é maciçamente voltada contra si num
movimento destrutivo, o que não permite a manutenção da identidade na sua
integridade) ou ainda temas paranóicos (há projecções da agressividade para o
exterior, tornando-se o objecto externo persecutório). Os movimentos destrutivos
atacam o pensamento, o discurso fica desorganizado, o relato torna-se caótico, bem
como a representação que o sujeito tem de si e do seu corpo.
20
Cartão 4
Conteúdo manifesto: Representa um casal, uma mulher junto de um homem que se
afasta. A diferença de sexos é claramente representada mas não há diferença de
gerações.
Conteúdo latente: Remete para o conflito pulsional no seio de uma relação
heterossexual visto que cada um dos protagonistas pode ser portador de movimentos
pulsionais diferentes, agressividade e/ou libido (o dualismo pulsional está aqui
fortemente representado).
Tal como os cartões 6BM, 6GF e 7BM, este cartão está estruturado pela diferença
de sexos, prestando-se com menos facilidade a associações regressivas.
Encontra-se com muita frequência instabilidade nas identificações, o que se traduz
pelas tomadas de posições alternativas masculinas ou femininas: por vezes é o
homem que é percebido como potente e forte e a mulher frágil e dependente,
enquanto noutros casos a situação inverte-se e é uma mulher dominadora e
castradora que se confronta com um homem fraco e submisso. Este duplo movimento
pulsional é esperado mas é importante que haja uma ligação possível entre a libido e a
agressividade.
O investimento e a presença de uma terceira personagem podem acentuar o
impacto edipiano da fantasmática. O cartão é estruturado no sentido do Édipo positivo:
o homem e a mulher amam-se e o homem deseja ir bater-se com o seu rival para
guardar aquela que ama. A valência feminina da problemática edipiana está também
presente: ao alto à esquerda, num pormenor pouco figurado, há uma personagem
feminina, muitas vezes percebida como parcialmente desnudada, que reactiva a
21
rivalidade das duas mulheres pelo homem. O movimento de saída pelo homem pode
ser, então, interpretado como significativo do desejo de encontrar esta outra mulher.
A dupla conflitualidade da problemática edipiana é a atracção pela personagem do
sexo oposto e a rivalidade com a personagem do mesmo sexo.
Cartão 5
Conteúdo manifesto: Representa uma mulher de meia-idade, com a mão na
maçaneta de uma porta, a olhar para o interior de uma sala. Esta mulher é
representada entre o dentro e o fora. O dentro é figurado pelo interior de uma sala,
que tem uma mesa, um ramo de flores, um candeeiro sobre uma mesa e, ao fundo,
uma espécie de aparador sobre o qual está colocada uma pequena estante com livros.
Conteúdo latente: Reenvia para uma imagem materna que penetra e olha, que
não pré-julga sobre o registo conflitual no qual o sujeito se vai situar, pois as
modalidades de relação à imagem materna são múltiplas.
A mãe pode ser vivenciada como uma instância superegóica que vem surpreender
uma cena transgressiva (o cartão reactiva a curiosidade sexual e os fantasmas da
cena primitiva e a culpabilidade ligada à masturbação).
Por outro lado, podem surgir fantasmas incestuosos ligados a uma imagem
materna sedutora: mulher que mostra a perna nua por entre a racha da saia.
No registo de uma problemática edipiana relativamente elaborada, diferenciam-se
os conflitos expressos em termos de agressividade e de interditos, de desejo e
22
culpabilidade, daqueles que remetem para uma cena de sedução reactivada no aqui e
agora da aplicação.
Num registo mais arcaico, em que não há suficiente interiorização do Superego,
pode haver referência a uma imago materna que penetra e olha de um modo
persecutório. As quantidades de energia pulsional agressiva permitem evocar uma
vivência de intrusão, ou mesmo persecutória, na relação com a imagem materna. O
olhar da mulher não será então integrado num sistema conflitual interno e as moções
pulsionais agressivas, projectadas sobre a personagem figurada, arrastarão uma
irrupção de representações maciças e uma deformação do material (“ela tem um olhar
rancoroso”).
Cartões 6 e 7
Estes cartões reenviam para as relações com as imagens materna e paterna no
seio de uma problemática edipiana.
A sua estruturação de diferença de sexos e gerações facilita pouco as associações
regressivas. A aproximação dual que elas privilegiam pode dar lugar a manifestações
de intensa angústia, quando o sujeito te dificuldade em se situar em relação a uma
imagem parental sentida como perigosa, pela sua potência ou proximidade.
23
Cartão 6BM
Conteúdo manifesto: Representa um casal, um homem visto de frente, com um ar
preocupado, e uma mulher idosa que olha para algures. Este é o primeiro cartão do
TAT em que a diferença de gerações é figurada de um modo tão claro.
Conteúdo latente: Remete para a proximidade mãe-filho num contexto de mal-
estar. A diferença de gerações reenvia para o interdito da aproximação edipiana,
devido ao facto das duas personagens não estarem frente a frente, dado que a mulher
tem as costas viradas para o jovem.
Num contexto edipiano é acentuado o interdito da proximidade: ”o rapaz deve
deixar a mãe”. Os afectos e a tristeza (quando é reconhecida) remetem para um tema
de luto, luto do pai com muita frequência, podendo esta evocação ser sustentada por
um fantasma de parricídio.
Se no cartão 5, no mesmo contexto edipiano, a relação com a imagem materna
pode ser erotizada e interdita, o cartão 6BM é mais estruturado no sentido do interdito:
a diferença de gerações é muito acentuada, a mulher afasta-se do homem e vem
inscrever-se na proximidade mãe e filho uma representação de perda de objecto.
Quando a problemática edipiana é suficientemente estruturante, a evocação de
morte não engendra uma desorganização evidente uma vez que a ligação entre a
agressividade e os afectos ternos é possível. É a tristeza do luto que eles partilham
que aproxima os dois parceiros.
Num registo mais arcaico de relação com a imagem materna, podem observar-se
fantasmas de realização incestuosa que se traduzem pela ausência da percepção da
diferença de geração, por estados de grande excitação ou de desorganização parcial
24
através de temas de destruição ou de morte que dão conta do perigo de aproximação
mãe-filho.
Cartão 6GF
Conteúdo manifesto: Representa um casal heterossexual. Uma jovem sentada no
primeiro plano volta-se para um homem que se inclina para ela e que tem um
cachimbo na boca.
O material manifesto não é simétrico do cartão 6BM: se o interdito do incesto é
fortemente encenado no cartão 6BM, ele é-o menos no cartão 6GF (não há diferença
de gerações e postura das duas personagens; há aqui um movimento de encontro
entre o homem e a mulher: o homem inclina-se para a mulher e ela volta-se para ele).
Conteúdo latente: Este cartão remete para um fantasma de sedução. Põe à prova a
capacidade de integrar a identificação feminina no seio de uma relação de
desejo.
Quando a problemática narcísica domina, há um sobreinvestimento do corpo, do ar
ou da postura das personagens, a sua idealização ou, pelo contrário, a sua
depreciação sem verdadeira possibilidade de elaboração do conflito pulsional.
25
Cartão 7BM
Conteúdo manifesto: Representa duas cabeças de homens, lado a lado. Um,
“velho”, está virado para o outro, “jovem”, que está amuado. A diferença de gerações é
marcada, mas não há aqui noção de imaturidade funcional de um dos parceiros.
Conteúdo latente: Reenvia para a proximidade pai-filho num contexto de
reticência do filho; os corpos estão excluídos. O conflito deverá desenvolver-se em
torno de uma proximidade entre estas duas personagens, em termos de ternura e de
oposição. A energia pulsional é mobilizada tanto no seio de movimentos agressivos
como libidinais (a agressividade e a rivalidade predominam quase sempre). Contudo,
quando uma proximidade mais terna é evocada, ela não remete só para a erotização
da relação, mas pode testemunhar um apoio possível num “bom pai”, o que revela a
resolução do conflito edipiano e do acesso à ambivalência: o pai pode ser um rival
mas o amor de que ele é objecto permite ligar a agressividade sentida por ele. Por
vezes, a ambivalência é difícil de elaborar: ou o confronto conflitual é evitado pelo
recurso a uma relação especular (problemática narcísica dominante) ou então
desencadeia o surgimento de fantasmas destrutivos.
26
Cartão 7GF
Conteúdo manifesto: É uma mulher com um livro na mão, inclinada para uma
menina com expressão sonhadora, que segura um boneco nos braços. A diferença de
gerações é acentuada pela presença da boneca. A imaturidade funcional caracteriza a
posição da menina.
Conteúdo latente: Reactiva a problemática das relações mãe-filha em duas
dimensões: rivalidade e identificação; interacções precoces mãe-filha.
Num contexto edipiano, a imagem pode dar origem a temas de iniciação e da
identificação feminina. Uma das personagens é portadora de desejo: “a mãe inclina-se
para a filha ara lhe contar coisas” e a filha volta-lhe as costas. Trata-se de um cenário
clássico entre o desejo de saber, neste caso “a curiosidade” e a defesa contra esse
desejo “À filha, isso não lhe interessa nada, ela pensa que preferiria ir lá para fora
brincar e divertir-se com os amigos”.
Interessa aqui a qualidade dos laços “mãe-filha”, que se traduz pela forma como
o boneco é agarrado pela criança. A reactivação das relações precoces mãe-filha
arrasta movimentos de projecção e deslocamento sobre a relação “menina-boneco”:
os temas de queda podem ser interpretados em referência ao holding de Winnicott.
Aqui, o que está em jogo é a capacidade de representar uma “mãe
suficientemente boa”.
27
Cartão 8BM
Conteúdo manifesto: No primeiro plano está um rapaz adolescente, sozinho, com
uma espingarda ao lado, de costas voltadas para a cena do segundo plano.
Conteúdo latente: Reactiva as representações susceptíveis de serem
relacionadas com a angústia de castração e/ou agressividade para com a
imagem paterna.
A personagem central possui, simultaneamente, atributos da infância e da idade
adulta: o rapaz parece muito jovem mas está vestido como um homem, o que pode ser
compreendido como uma condensação das identificações na adolescência.
Colocam-se aqui duas questões importantes. Uma é a de perceber se, no registo
dos processos identificatórios, o sujeito vai optar por uma posição activa através
do tema de acidente de caça (utilizar a espingarda é, de facto, numa talvez demasiado
breve síntese, mostrar-se capaz de tomar o lugar do pai por identificação) ou, pelo
contrário, uma posição passiva, homossexual, figurada pela posição do homem
estendido. A outra questão é perceber se no registo da problemática edipiana a
agressividade e o amor permitem ou não a reparação da imagem paterna.
A cena da operação condensa, ao mesmo tempo, os desejos parricidas e os
fantasmas de castração que os engendram, no seio de uma culpabilidade edipiana. No
entanto, pode ser também interpretada como cena de sedução homossexual
(fantasma de penetração).
Num contexto edipiano, é o desejo de tomar o lugar do pai, e o desejo concomitante
de o matar, que domina a cena. Mas para além disso, aparece um outro aspecto da
relação ao pai na dimensão reparadora para com este pai ferido e não morto. É a
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ambivalência que é fortemente solicitada na relação com a imagem paterna: o manejo
da agressividade e da libido, ligação possível do amor e do ódio.
Cartão 9GF
Conteúdo manifesto: Duas personagens do mesmo sexo e da mesma geração. No
primeiro plano, uma jovem, por trás e uma árvore, com objectos na mão, olha. No
segundo plano, uma outra jovem corre, mais abaixo. Como pano de fundo, uma
paisagem muitas vezes identificada como uma paisagem marítima.
Conteúdo latente: Este cartão solicita fortemente uma problemática identitária,
pela confusão das personagens e a telescopagem de papéis (a confusão de papéis é
indicadora de graves perturbações ao nível da identidade). Para além desta
problemática identitária, é a questão da identificação sexual que é posta em causa.
O acesso a esta identificação feminina atesta as capacidades de conflitualização do
sujeito.
Num contexto edipiano, a problemática reenvia para a rivalidade entre duas
mulheres, com introdução de uma personagem que não figura na imagem, “um
jovem” (há uma rivalidade pelo amor do rapaz). Contudo, a relação de rivalidade
entre duas mulheres remete para a rivalidade da filha com a sua mãe, o que
arrasta uma modificação do conteúdo manifesto do material pela introdução de uma
diferença de gerações. A mãe torna-se o representante superegóico dos interditos.
Uma dimensão mais rara, mas que não deve ser negligenciada, é a que reenvia
para a ambivalência na relação mãe-criança, não como objecto persecutório mas
29
como um objecto que sustém. O olhar desempenha, então, um papel de suporte e de
apoio em relação à segunda personagem que corre.
Por vezes, o confronto com a relação entre as duas mulheres arrasta emergências
agressivas facilitadas pelo material e susceptíveis de introduzir problemáticas mais
arcaicas. A parecença entre as duas mulheres pode arrastar dificuldades para os
sujeitos cuja identidade é vaga e frágil. As duas jovens mulheres, mal diferenciadas,
são tomadas num sistema de identificação narcísica, com um evitamento total do
conflito. Por outro lado, a paisagem marítima pode reactivar fantasmas de relações
arcaicas perigosas ou até mortíferas, onde surgem temas de ameaça vital em primeiro
plano. Os temas de destruição e de morte podem aparecer através da evocação de
afogamento ou de tempestade.
Cartão 10
Conteúdo manifesto: A proximidade num casal, do qual só são representados os
rostos. Não há diferença de gerações mas a imagem é pouco clara quanto à idade e
ao sexo das duas personagens. O carácter vago e sombrio do material e os contrastes
negro/branco devem ser tidos em consideração.
Conteúdo latente: Reenvia para a proximidade e expressão libidinal num casal.
As personagens são representadas com uma parte dos rostos na sombra. Para que
possa haver reconstrução da integridade destes rostos, é necessário que o sujeito seja
capaz de os perceber e que tenha à sua disposição uma representação íntegra da
imagem do corpo. As partes do rosto na sombra não podem ser reconstruídas e
integradas numa representação completa por sujeitos que sofrem de angústia
30
de fragmentação ou de desintegração. A ausência de uma figuração interna de um
objecto total, torna possível a sua reconstrução a partir de um estímulo parcial.
O material é ambíguo para que possa haver diferentes interpretações quanto ao
sexo das personagens, que determina a identificação do sujeito a um casal
heterossexual ou homossexual. A problemática pode remeter para uma aproximação
libidinal numa relação heterossexual, onde pode haver reconhecimento da ligação
sexual entre os dois parceiros ou defesas para lutar contra essa representação. O
conflito pode aparecer na evocação da curiosidade sexual, sustentada por fantasmas
da cena primitiva ou ligada às relações do casal parental. Quando o conflito edipiano
não é estruturante, pode observar-se uma reactivação de fantasmas incestuosos, que
se traduzem pela evocação de uma aproximação entre pai e filho.
Num contexto de problemática narcísica, a diferença de sexos não é tida em conta
e dá lugar a relações especulares: relação homossexual, busca de uma imagem de si
ideal, negação da diferença.
Podem também encontrar-se relações de suporte que evacuam para a dimensão
sexual da proximidade e na qual o outro é investido como apoio indispensável.
No caso das problemáticas psicóticas, há uma incapacidade do sujeito em distinguir
personagens na sua integridade corporal. As qualidades particulares de sombra e de
luz favorecem a confusão e a telescopagem dos papéis nos sujeitos com identidade
frágil.
31
Cartão 11
O cartão é pouco figurativo e mais ambíguo pois as representações humanas estão
ausentes. O cartão é muito vago mas susceptível de oferecer uma estruturação
perceptiva mínima.
Conteúdo manifesto: É uma paisagem caótica, com vivos contrastes de sombras e
de claridade na vertical. Alguns elementos mais estruturados como uma ponte,
estrada, pormenor à esquerda (dragão ou serpente, etc.) permitem uma reorganização
do material.
Conteúdo latente: O cartão é angustiante, a angústia deve ser sentida como tal, e o
seu não reconhecimento constitui um índice patológico em todos os casos. Evoca o
combate contra a natureza, representada nos seus aspectos perigosos, o que remete
para a evocação das relações com a mãe natureza, isto é, com a mãe arcaica. O
cartão reactiva materiais psíquicos de ordem pré-genital, pelo que se espera encontrar
relatos de fantasmas arcaicos, mesmo que as representações que deles dêem conta
possam aparecer em termos elaborados.
O cartão põe à prova a capacidade do sujeito elaborar a angústia pré-genital.
Interessa perceber a capacidade do sujeito “mergulhar no material regressivo”, compor
esse “mergulho regressivo”, emergir e construir uma paisagem relativamente
organizada a partir de um material caótico, ao apegar-se apenas aos elementos mais
estruturantes do material manifesto.
Num contexto de funcionamento neurótico, o sujeito pode situar-se num sistema de
secundarização efectiva dos fantasmas arcaicos: o deslocamento, a condensação e a
32
simbolização permitem a construção de um relato que se assemelha ao relato do
sonho.
Cartão 12BG
Conteúdo manifesto: É uma paisagem com árvores na margem de um riacho, com
uma árvore e uma barcaça em primeiro plano. A vegetação e o plano de fundo são
imprecisos. O grafismo é relativamente leve e claro.
Conteúdo latente: Este cartão constitui um momento de apaziguamento em relação
ao cartão precedente, ao convidar o sujeito a diversificar o leque das suas
reacções sensoriais e afectivas. O aspecto figurativo e familiar do material actualiza
as capacidades elementares de diferenciar o mundo interno do mundo externo e
remete para uma actividade perceptiva conhecida, em referência com as “boas”
experiências pré-genitais.
É necessário que, na ausência de personagem na imagem, o sujeito possa
reconhecer a ausência do objecto sem, todavia, temer a sua perda, ao manusear um
espaço de representação que ocupe a cena mental, o que depende dos modos de
elaboração da posição depressiva (os cartões 3BM, 12BG e 13B são úteis para
estudar a posição depressiva).
Num contexto edipiano, o cartão serve de suporte às representações de relações
descontextualizadas, ternas ou erotizadas.
São raras as imersões regressivas e projectivas (com a presença de objectos
parciais persecutórios), testemunhas de perturbações da identidade, na parte menos
estruturada do cartão. A parte figurativa do desenho oferece, aos sujeitos com
disfuncionamentos psíquicos graves, um mínimo de apego possível ao “conhecido” e
33
ao concreto, para permitir uma desconflitualização das representações e uma
regulação do afecto.
As polarizações depressivas e narcísicas são intensamente solicitadas através da
reactivação de uma problemática de perda e de abandono, ou através da
incapacidade em introduzir uma dimensão objectal. Os adolescentes mais velhos ou
os jovens adultos são desestabilizados nestes modos neste cartão.
Cartão 13B
Conteúdo manifesto: É um rapazinho sentado na ombreira de uma porta, na soleira
de uma cabana de tábuas separadas, figurando num vivo contraste de luz no exterior
e de sombra no interior.
Conteúdo latente: Reenvia para a solidão num contexto de precaridade do
simbolismo materno. Os elementos fundamentais são a solidão pois trata-se de
uma personagem só e a precaridade do simbolismo materno figurada pela casa
feita de tábuas desunidas.
Aqui, o que é posto em questão é a capacidade do sujeito estar só. É preciso
perceber se o sujeito é capaz de subsistir na ausência do objecto e se pode
elaborar a posição depressiva.
A solidão e a imaturidade funcional podem levar a associações de fantasmas da
cena primitiva, mas, é mais a dimensão depressiva e abandónica da relação
mãe/criança que é solicitada de forma intensa.
34
Sendo que esta imagem reactiva angústias de separação e de perda de objecto,
espera-se que os afectos depressivos surjam e que sejam associados a
representações de perda. Contudo, por vezes surgem defesas maníacas através de
relatos organizados à volta da luta antidepressiva.
Num contexto de relações arcaicas com a imagem materna, a precaridade do
simbolismo materno (tábuas mal justapostas) serve de suporte para a projecção de
uma imagem materna enfraquecida ou deteriorada, acompanhada ou não por
mecanismos de reparação. Quando os desejos de reparação não são mobilizados,
podem surgir fantasmas persecutórios ou destrutivos.
Cartão 13MF
Este cartão não é aplicado antes do 14-15 anos, dado o carácter cru do material
manifesto.
Conteúdo manifesto: No primeiro plano está um homem de pé com o braço diante
do rosto. No segundo plano, está uma mulher deitada, com o peito desnudado.
Conteúdo latente: Remete para a expressão da sexualidade e agressividade no
casal. Interessa perceber em que medida a dimensão passional da relação
heterossexual é percebida e pode ser traduzida através de um cenário “legível”. A
sexualidade aparece na evocação da ligação do casal e a agressividade surge na
eventual evocação de um crime passional.
Do ponto de vista económico, são esperadas grandes quantidades de energia
pulsional (representações e afectos maciços). Os temas de culpabilidade e remorso,
relacionados com a expressão da sexualidade e da agressividade, mostram a
35
oscilação entre o desejo, a libertação pulsional e a defesa em termos de interdito e de
culpabilidade.
O material pode ainda suscitar uma reactivação pulsional e fantasmática, que
determina movimentos de inibição maciços e histórias restritivas. Noutros casos ainda,
só a agressividade é desenvolvida, ou só os aspectos sexuais da relação são
privilegiados.
São aqui postas à prova as capacidades de ligação dos movimentos pulsionais
agressivos pelos movimentos libidinais.
Cartão 19
Conteúdo manifesto: Representa uma paisagem som uma casa sob a neve, ou uma
cena marítima com um barco na tempestade, rodeados de formas espectrais e vagas.
Os contornos entre o negro e o branco permitem uma delimitação psíquica entre
dentro e fora.
Conteúdo latente: Tanto o mar como a neve são referências à natureza que
remetem para a imago materna. Reactiva uma problemática pré-genital na
evocação de um continente e de um meio, que permitem a projecção do bom e do
mau objecto. Incita ainda à regressão e à evocação de fantasmas fobogénicos.
Pretende-se aqui perceber se o sujeito é capaz de organizar a separação entre o
dentro e o fora e evocar um continente e um meio que permitam a projecção do bom e
do mau objecto. Se ele consegue evocar as experiências positivas e negativas e
assegurar a clivagem entre o bom e o mau objecto: guardar o bom no interior e
expulsar o mau para o exterior.
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Quando os limites entre o dentro e o fora não são fiáveis, as representações de
relações põem a tónica na intrusão, no persecutório, na destruição, na morte, o que
remete para modalidades de funcionamento arcaico.
Põem-se aqui à prova as capacidades de delimitação entre dentro e fora, pela
introjecção do bom objecto e expulsão do mau objecto (Freud, 1925).
Cartão 16
Conteúdo manifesto: Este cartão em branco, é completamente diferente dos outros.
O seu carácter insólito obriga a uma nova instrução: “Até ao momento, mostrei-lhe
imagens que representavam personagens ou paisagens, agora proponho-lhe este
cartão que é o último. Pode contar-me a história que quiser.”
Conteúdo latente: Reenvia para a forma como o sujeito estrutura os seus objectos
privilegiados e às relações que com eles estabelece. A sua dimensão transferencial é
intensificada uma vez que o material não é figurativo e se trata do último cartão a ser
proposto. Este cartão é muito importante devido às dificuldades em o interpretar e à
variedade de solicitações que implica.
Decomposição
Só depois de estudar tudo sobre o processo TAT é que foi possível criar uma
metodologia séria e correcta. Esta metodologia está sintetizada na chamada folha de
37
análise do TAT, que é um instrumento precioso para ajudar a identificar os
procedimentos que o sujeito utilizou para construir a história. Mais do que o conteúdo,
interessa analisar a forma das histórias.
O TAT nasce inscrito na procura de identificação dos procedimentos de elaboração
da história (mecanismos de defesa), o que permite codificar e situar o sujeito na
neurose, psicose ou patologia borderline.
A análise dos procedimentos e problemáticas do sujeito, que permite
apreender o trabalho psíquico do sujeito, comporta dois tempos: o primeiro é a análise
cartão a cartão e o segundo é a síntese.
Relativamente à análise cartão a cartão, faz-se a codificação dos procedimentos
de elaboração do discurso com a ajuda da folha de decomposição, que remete para as
modalidades de tratamento dos conflitos reavivados pelo material. Ao fazer isto, vai-se
referenciar quais as problemáticas abordadas pelo sujeito face aos cartões.
O segundo momento, o da síntese das informações obtidas, consiste no
reagrupamento na folha de decomposição dos diferentes procedimentos de
elaboração do discurso utilizados pelo sujeito. Aqui, vai-se apreciar a qualidade do
processo associativo (relações entre representações, afectos e mecanismos de
defesa). Depois disto, há que destacar as modalidades de funcionamento psíquico em
jogo na experiência TAT e propor hipóteses de organização psíquica do sujeito.
A codificação e o agrupamento dos procedimentos de elaboração do discurso são
facilitados pela utilização da folha de decomposição.
Em qualquer organização psíquica, quer ela seja normal ou patológica, existe
sempre a actividade defensiva. Widlöcher define os mecanismos de defesa como “um
conjunto de operações cuja finalidade é reduzir um conflito intrapsíquico ao tornar
inacessível à experiência consciente um dos elementos do conflito. Os mecanismos
de defesa serão os diferentes tipos de operação nos quais se pode especificar a
defesa, isto é, as formas clínicas destas operações defensivas.”
A folha de decomposição surgiu em 1958 e foi sofrendo modificações. É um
instrumento de trabalho que pode ser regularmente modificado, tendo em conta as
suas imperfeições e a evolução da clínica e das suas interrogações. A folha de
decomposição serve de grelha para apreciar e considerar as particularidades de
construção de cada uma das histórias. Dividida em quatro grandes categorias de
38
procedimentos (séries A, B, C e E), ela só é preenchida no final da análise do
protocolo inteiro.
39
A Série A
As séries A e B agrupam os procedimentos que remetem para processos de
elaboração do discurso susceptíveis de serem sustentados por mecanismos de defesa
neuróticos. Testemunham uma conflitualização intrapsíquica, o que dá conta de um
espaço interno constituído, claramente diferenciado, e que permite o desenrolar e a
dramatização dos conflitos. Isto significa que estes procedimentos implicam a
constituição de um aparelho psíquico evoluído (Id, Ego e Superego diferenciados) com
capacidade de contenção dos conteúdos.
A série A e B dão conta do funcionamento normal e neurótico. Num protocolo
ideal, deveriam encontrar-se funcionamentos de A1 e B1.
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PROCEDIMENTOS DA SÉRIE A (Controlo)
A0 Conflitualização intrapessoal
A1
1. História construída próxima do tema banal.
2. Recurso a referências literárias, culturais, ao sonho.
3. Integração de referências sociais e do senso comum.
A2
1. Descrição com apego aos pormenores (alguns raramente evocados), incluindo expressões e posturas.
2. Justificação das interpretações através desses pormenores.
3. Precauções verbais.
4. Afastamento temporo-espacial.
5. Precisões numéricas.
6. Hesitações entre interpretações diferentes.
7. Vai e vem entre a expressão pulsional e a defesa.
8. Mastigação, ruminação.
9. Anulação.
10. Elementos de tipo formação reactiva (limpeza, ordem, ajuda, dever, economia, etc.).
11. Denegação.
12. Insistência no fictício.
13. Intelectualização (abstracção, simbolização, título dado à história em relação com o conteúdo
manifesto).
14. Alteração brusca de direcção no curso da história (acompanhada ou não de pausa no discurso).
15. Isolamento de elementos ou personagens.
16. Grande pormenor e/ou pequeno pormenor evocado e não integrado.
17. Acento inscrito nos conflitos interpessoais.
18. Afectos expressos a minima.
A série A inventaria os procedimentos de controlo (dos afectos, da fantasia e do
pensamento). Esta série subdivide-se em duas sub-séries: por um lado, a sub-série A1
tem procedimentos de controlo adaptativos e normativos (de elaboração) que servem
para construir a história; por outro lado, os procedimentos da sub-série A2 não
servem para construir a série mas sim para o sujeito se defender (já funcionam como
mecanismos de defesa e alguns deles são mecanismos da neurose obsessiva).
A11 – História construída próxima do tema banal
O sujeito mantém-se a uma grande distância das solicitações latentes do cartão,
isto é, das representações/ afectos que estas poderiam suscitar. No entanto, esta
distância não impede a evocação de um conflito que permanece em ressonância com
o material.
Cartão 1 – Dificuldade do rapaz em tocar o instrumento.
Cartão 3BM – “Um homem triste.”
A12 – Recurso a referências literárias, culturais, ao sonho
É a tendência do sujeito para abordar a situação conflitual ao abrigo de uma
referência literária, cultural ou onírica. Estas referências são formas implícitas do
sujeito falar de si.
Cartão 2 – “A rapariga no campo faz-me lembrar “A Cidade e as Serras”.”
Cartão 3BM – “Um rapaz que acabou de ler um capítulo de um livro de aventuras e
está a imaginar as cenas do livro de Jack London.”
A13 – Integração de referências sociais e do senso comum
O sujeito não fala sendo ele próprio mas utilizando o senso comum. Aborda a
situação conflitual através de estereótipos sociais, ou seja, ao apelar ao senso comum,
tenta encontrar uma solução para o conflito evocado.
Cartão 1 – “Um rapazinho tinha combinado ir andar de bicicleta com os amigos,
mas o pai obrigou-o a ficar em casa a estudar uma partitura. Ele está chateado mas
pensa que quanto mais cedo e mais depressa estudar, mais depressa pode ir brincar.”
41
A2
Os procedimentos A21 e A22 marcam o investimento no quadro perceptivo. Se o
apego à realidade acontecer de vez em quando é natural, mas se as histórias forem
construídas com base nisto, há aqui algo de demasiado perceptivo.
É normal que nesta prova seja necessário algum apego ao conteúdo manifesto,
pois o TAT põe em jogo os mecanismos perceptivos, mas é importante distinguir os
diferentes modos de apreensão entre si, pois é da sua qualidade que depende a
distinção entre campo da neurose e os outros registos de funcionamento. O critério
essencial consiste em saber se a descrição do conteúdo manifesto serve de base para
a conflitualização e dramatização. Assim, considera-se um A2 sempre que a descrição
do material a partir de pequenos pormenores seja retomada num segundo tempo, no
seio de uma conflitualização efectiva entre a defesa e a emergência de
representações e afectos.
A21 – Descrição com apego aos pormenores (alguns raramente
evocados), incluindo expressões e posturas
O apego aos pormenores reenvia para a utilização da realidade externa para lutar
contra as emergências da realidade interna.
Cartão 1 – “O pai ofereceu um violino ao rapaz e agora ele está curvado, com os
olhos semi-cerrados, sentado com as mãos a segurar a cabeça.”
Em cada cartão é possível inventariar os grandes pormenores (D) e os pequenos
pormenores (Dd) mais frequentes que remetem para o conteúdo manifesto do cartão:
Cartão
1
D: Um rapaz, um violino.
Dd: Uma mesa, um arco e uma
folha de partitura.
Cartão
2
D: Três personagens: um homem,
duas mulheres.
Dd: Livro, charrua, cavalo,
gravidez da personagem encostada
à árvore e eventualmente a
paisagem de fundo.
Cartão
3BM
D: Uma personagem.
Dd: Uma banqueta, um objecto
no chão.
Cartão
4
D: Duas personagens em primeiro
plano: um homem, uma mulher.
Dd: Uma personagem no
segundo plano.
42
Cartão
5
D: Uma personagem, uma mulher.
Dd: Todo o mobiliário, jarra com
flores, livros, estante, mesa,
candeeiro, aparador.
Cartão
6BM
D: Duas personagens: um homem,
uma mulher.
Dd: O chapéu que o homem
segura, o tecido que a mulher
segura.
Cartão
6GF
D: Duas personagens: um homem,
uma mulher.
Dd: O cachimbo, uma mesinha.
Cartão
7BM
D: Duas personagens: dois homens. Dd: A indolência do jovem.
Cartão
7GF
D: Duas personagens: uma mulher,
uma menina e um boneco.
Dd: Uma mesa, um livro, uma
poltrona, o olhar da menina, a
posição da boneca nos braços da
menina.
Cartão
8BM
D: Quatro personagens: um jovem em
primeiro plano, um homem deitado em
segundo plano, dois homens debruçados
sobre ele. Escalpelo, espingarda.
Dd: Luminosidade.
Cartão
9GF
D: Duas personagens: duas jovens.
Dd: Objecto que a personagem
do primeiro plano segura, a árvore,
vestidos, as ondas, o mar.
Cartão
10
D: Duas personagens.
Dd: Contraste branco e negro, a
mão.
Cartão
11
D: Todos os elementos da paisagem,
precipício, ponte, parede, estrada,
rochedos, grupo central, dragão, queda
de água.
Dd: Não há Dd.
Cartão
12BG
D: Uma árvore, um barco, um curso
de água.
Dd: Tonalidade clara.
Cartão
13MF
D: Duas personagens: um homem
com o braço diante da cara, uma mulher
desnudada, uma cama.
Dd: O braço da mulher descaído,
os livros, uma mesa de cabeceira,
um candeeiro, um quadro na
parede, uma cadeira.
Cartão
13B
D: Uma personagem: um rapaz e uma
casa.
Dd: Pés descalços, obscuridade
do interior da casa, casa feita com
tábuas desunidas.
43
Cartão
19
D: Barco, casa, fantasmas, chaminé.
Dd: Janelas iluminadas,
sombras, ondas.
Cartão
16
D: Uma folha branca. Dd: Não há Dd.
A22 – Justificação das interpretações através desses pormenores
O A22 vem sempre acompanhado pelo A21.
Estas justificações permitem racionalizar ou recusar uma interpretação.
Cartão 1 – “O rapaz está triste porque está curvado, sentado com as mãos a
segurar a cabeça, …”
Cartão 2 – “A rapariga com uns livros… Provavelmente não é de cá.”
A23 – Precauções verbais
Expressões como “talvez”, “diríamos que”, “podemos imaginar que”, “tenho a
impressão de que” mostram o controlo do sujeito em não se entregar à projecção e à
fantasia.
Cartão 10 – “…Não sei… Diríamos duas personagens idosas… têm ar de se
acalmar… é mais de se consolarem… Poder-se-ia crer que… aconteceu uma
desgraça na família… perderam uma pessoa querida…”
A24 – Afastamento temporo-espacial
Qualquer tendência para situar as personagens ou o relato mais ou menos longe no
tempo e no espaço.
Cartão 2 – “É uma cena que se passa numa quinta nos finais do século XIX. A filha
do dono da quinta passeia-se.”  Há aqui um afastamento do tempo
Cartão 3BM – “Um homem está preso. Foi condenado à morte numa prisão do
Sudão.”  Há aqui uma angústia de morte que é afastada pelo sujeito
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A25 – Precisões numéricas
As precisões numéricas como datas, idade, etc., tendem para o controlo dos
afectos.
Cartão 1 – “É uma criança com 6 anos.”
Cartão 2 – “É um campo agrícola. O homem já fez 12 regos na terra.”
A26 – Hesitações entre interpretações diferentes
Qualquer indecisão na escolha, desenvolvimento e/ou solução do tema.
A presença deste procedimento, que tem a ver com a dúvida, aparece muito na
neurose obsessiva.
Cartão 1 – “Então é preciso encontrar uma interpretação desta imagem. Pode ser
ou uma criança ajuizada face ao trabalho a realizar, ou aquele que está diante de um
trabalho não acabado, ou a espera de um professor, ou a saída.”
A27 – Oscilação (vai e vem) entre a expressão pulsional e a defesa
Este procedimento é característico da neurose obsessiva e mostra o conflito
neurótico entre a agressividade e a defesa da agressividade através de mecanismos
como o isolamento, a denegação, a anulação, o deslocamento, etc.
Cartão 8BM – “Dir-se-ia que se opera alguém... Dir-se-ia que se opera alguém (tom
um pouco inquieto) … Isto não me inspira nada mais… uma operação. Não se trata,
de qualquer forma, de um pôr no caixão, não é verdade? É mais, na minha opinião,
tratamentos… uma operação… Alguém que está deitado e que está a ser tratado… O
que eu não entendo é este homem vestido de maneira diferente e que não olha,
manifestamente muito triste.”
A28 – Mastigação, ruminação
Consiste em voltar continuamente sobre os mesmos elementos do tema, sem que
haja verdadeiramente progressão no relato. Este procedimento pode acompanhar o
precedente e é também característico da neurose obsessiva.
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Cartão 5 – “É uma mulher que entra num quarto de dormir de um dos seus filhos…
Ainda que a mesa não seja uma mesa de quarto de dormir… Ou então uma mulher
que vem avisar que o jantar está servido ou que entra no escritório do seu marido, que
recebe uma visita… Ainda que a mesa não seja uma mesa de escritório. O candeeiro
não é um candeeiro de sala, é um candeeiro de quarto… há muito poucos livros nas
estantes para que seja um gabinete de trabalho… Isto pode ser, pelo contrário, alguns
livros que se têm no quarto.
A29 – Anulação
Declarar nulo e não surgido o conflito evocado. A anulação apaga o representante
pulsional.
Cartão 3BM – “É um rapaz muito triste. Não, não é isso! Ele está a jogar às
escondidas.”
A210 – Elementos de tipo formação reactiva (limpeza, ordem, ajuda,
dever, economia, etc.)
Qualquer elemento do discurso que dá conta da reversão da pulsão no seu
contrário: ajudar/ opor-se ou fazer mal, arrumar/ sujar, etc.
Cartão 5 – “a porteira acaba de subir a casa de Madame Durand para a avisar que
o seu rapazinho acaba de cair na rua e magoar-se. Ela aproveita para dar uma
olhadela no apartamento que está limpo e arrumado. A mãe desce, e só será um falso
alarme.”
A211 – Denegação
Ao formular um dos seus desejos, sentimentos ou pensamentos, o sujeito continua
a defender-se deles ao negar que eles lhe pertencem.
Cartão 1 – “Este miúdo não está nada chateado com o pai por ele o ter obrigado a
tocar violino.”
Cartão 3BM – “Esta imagem não me provoca nenhuma emoção.”
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A212 – Insistência no fictício
Atitude de distanciamento que consiste em avançar o aspecto irreal do material ou
da história, ao transformar qualquer situação conflitual em cena de filme, cartaz, sonho
ou pesadelo, etc.
Cartão 4 – “São actores de um filme. São personagens dramáticas de uma peça de
Shakespeare.”
A213 – Intelectualização (abstracção, simbolização, título dado à história
em relação com o conteúdo manifesto)
Este é um mecanismo que pode secar os afectos e a vida mental do sujeito.
Cartão 1 – “O rapaz está concentradíssimo.”  o sujeito enfatiza demais o
pensamento racional
Cartão 3BM – “Faz lembrar o suicídio. O filósofo francês dizia que o suicídio...”
Abstracção
Cartão 6BM – “Isto poderia intitular-se… “À cabeceira de alguém” ou “a espera”…
“a espera de alguém”… Vê-se pela expressão da personagem masculina que se
passa qualquer coisa de grave… ele em um chapéu na mão… toda a sua atitude
reflecte um acontecimento dramático.”  Título
A214 – Alteração brusca de direcção no curso da história (acompanhada
ou não de pausa no discurso)
Depois de ter evocado um primeiro tema em relação com as solicitações latentes
do cartão, o sujeito dá uma segunda interpretação sem relação aparente com a
precedente, ao denegar o laço que existe entre os dois temas, embora estes sejam
sustentados pelo mesmo fantasma.
Cartão 8BM – “Ali atrás há dois médicos que operam um rapaz que imagina como
é que vai ser a operação. Isto dá mais ar de o assustar, porque o outro tem ar de
sofrer na mesa. Olha, há uma espingarda ali.”
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A215 – Isolamento de elementos ou personagens
Consiste em negar ou ignorar a relação entre os elementos e/ou as personagens da
imagem. Frequentemente, o isolamento de personagens serve de recalcamento das
representações edipianas e/ou sexuais que são fortemente induzidas. Este
procedimento é característico da neurose obsessiva.
Cartão 2 – “Não vejo relação entre as personagens… nomeadamente a rapariga
que segura… livros, não sei o que é que ela tem na mão. Ali, está um trabalhador
com, imagino, um cavalo de tracção e uma charrua.”
A216 – Grande pormenor (D) e/ou pequeno pormenor (Dd) evocado e
não integrado
Pormenores percebidos e não utilizados na elaboração da história. Os mais
frequentes são o “revólver” no cartão 3BM e a “espingarda” no cartão 8BM.
Cartão 3BM – “Uma pessoa que tem um ar abatido… ao pé de uma cama, ela
poisa o seu braço direito estendido sobre a cama e pousa a cabeça na concavidade
do cotovelo. É uma mulher. Agora… Há um objecto pequeno à esquerda, mas não
vejo o que é. Não vejo a razão da tristeza, mas a atitude está lá.”
Cartão 8BM – A pessoa diz “Está ali uma espingarda!” mas, ao contar a história,
não menciona a arma.
A217 – Acento inscrito nos conflitos interpessoais
O conflito incide nas exigências internas contrárias: entre um desejo e uma
exigência moral ou entre dois sentimentos contraditórios em que se confrontam com o
interdito.
Cartão 3BM – “É uma pessoa que está completamente desesperada, que está no
chão, um braço num sofá, que está a chorar… e ao lado dela está uma pistola e ela
pergunta-se se se deve matar ou não… ela não sabe o que deve fazer. Eu penso que
ela não se matará, que se vai levantar e retomar coragem.”
Cartão 2 – “É um campo agrícola. O homem já fez 12 regos na terra.”
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A218 – Afectos expressos a mínima
Este procedimento surge em histórias onde os afectos estão altamente controlados,
mesmo que se trate de temas que comprometam potencialmente uma carga afectiva
importante (tema de fim, perda, destruição, etc.).
Cartão 1 – “O pai deu-lhe o violino, ele tentou tocar mas não conseguiu. Está
ligeiramente aborrecido.”
Cartão 13MF – “É um homem que encontra a sua mulher morta. Ele está
desgostoso.
PROCEDIMENTOS DA SÉRIE B (Labilidade)
B0 Conflitualização interpessoal
B1
1. História construída à volta de uma fantasia pessoal.
2. Introdução de personagens que não figuram na imagem.
3. Expressões flexíveis e difundidas.
4. Expressões verbalizadas de afectos variados, modulados pelo estímulo.
B2
1. Entrada directa na expressão.
2. História com ressaltos. Fabulação longe da imagem.
3. Acento inscrito nas relações interpessoais. Relato em diálogo.
4. Expressão verbalizada de afectos fortes ou exagerados.
5. Dramatização.
6. Representações contrastadas. Alternância entre estados emocionais opostos.
7. Vai e vem entre desejos contraditórios. Fim com valor de realização mágica do
desejo.
8. Exclamações, comentários, digressões, referências/ apreciações pessoais.
9. Erotização das relações, invasão da temática sexual e/ou simbolismo
transparente.
10. Apego aos pormenores narcísicos com valência relacional.
11. Instabilidade nas identificações. Hesitações sobre o sexo e/ou idade das
personagens.
12. Acento inscrito numa temática do estilo: ir, correr, dizer, fugir, etc.
13. Presença de temas de medo, de catástrofe, de vertigem, etc., num contexto
dramatizado.
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A Série B
Nos procedimentos da série B, ainda que tendo em conta o conteúdo manifesto e
as solicitações latentes do cartão, o relato elaborado pelo sujeito corresponde a uma
criação mais pessoal, na qual o sujeito introduz elementos originais. Nestes
procedimentos há um abaixamento do controlo, pelo que as histórias são mais
atractivas e coloridas de afectos e representações.
A série B é a série dos procedimentos da labilidade e divide-se em duas sub-
séries: os procedimentos B1 são normativos e os procedimentos B2 são
procedimentos de labilidade mais intensos sendo que alguns deles são mecanismos
que se encontram na neurose histérica.
B11 – História construída à volta de uma fantasia pessoal
Este é um procedimento que remete para a projecção. Aqui o sujeito fantasia mais
do que no procedimento A11.
Cartão 1 – “Esta criança, que sente em si um gosto pela música, tem o pai e o tio
que vêm tocar numa reunião familiar. Esta criança está perturbada. Ele tem dons, é
filho e neto de músicos. Quando toda a gente partiu, ele sentou-se diante do violino
sem ousar tocar-lhe. Pensa e quer tornar-se um grande virtuoso. Diz-se: “Aqui está,
encontrei a minha vocação!” Fala disso com os pais e pede-lhes para ter lições. Os
pais ficam comovidos e felizes.”
Cartão 2 – “São universitários fartos da vida que levam. Povoaram uma aldeia na
Beira Baixa e constituíram uma comunidade.”
B12 – Introdução de personagens que não figuram na imagem
Qualquer referência a uma personagem que não esteja representada ao nível do
conteúdo manifesto do cartão. Este procedimento atesta a instalação do conflito
neurótico.
Cartão 1 – “O miúdo está com o violino no quarto. Foi o pai que lho deu.”
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Cartão 5 – “É um interior burguês e a criada entra e surpreende-o no salão, não, na
sala de jantar… desculpe… a sua jovem patroa numa conversa com um jovem… é
tudo… ela tem um ar chocado.
B13 – Expressões flexíveis e difundidas
Quando, ao longo de uma narrativa, o sujeito o sujeito é capaz de tomar diversas
posições, diversos papéis, mantendo uma identidade estável. Este procedimento dá
conta da flexibilidade do funcionamento psíquico do sujeito.
Cartão 4 – “Temos aqui uma ruptura. Um homem vem anunciar à sua amante que
a vai deixar e esta, desesperada, agarrando-se a todo o passado em comum, àquilo
que foi a sua felicidade, tenta retê-lo. Mas a resolução do homem está tomada, ele não
se deixará comover com os seus lamentos e deixá-la-á.”
B14 – Expressões verbalizadas de afectos variados, modulados pelo
estímulo
Os afectos expressos estão em relação com as solicitações latentes do cartão e
dão conta da associação possível entre afectos e representações. Há aqui uma
labilidade emocional e afectiva (é o contrário do afecto rígido).
Cartão 1 – “É um rapazinho decepcionado… mas o pai arranja-lhe um professor…
ele fica mais animado...”
Cartão 3BM – “É uma mulher que chora porque acaba de perder um ente querido.
Ela encontra-se só com o seu desgosto, só com as suas lembranças e a imaginar
como é que ela vai poder continuar a viver sem aquele ser, ao qual estava tão ligada.
Com a ajuda do tempo, ela conseguirá recompor-se e retomar de novo as suas
ocupações, mas a recordação ficará gravada na sua memória para sempre.”
B21 – Entrada directa na expressão
Este procedimento é marcado pela precipitação. Revela a impulsividade do sujeito
e a grande identificação dele, quer à personagem, quer à situação.
Cartão 2 – “É uma rapariga desejosa de sair do campo. Está farta daquela vida.”
Cartão 4 – “É um casal à beira da separação.”
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B22 – História com ressaltos. Fabulação longe da imagem
Consiste em relatos longos, com muitas sequências até ao desenrolar final.
Acontece em situações em que o sujeito tem prazer em contar a história e gosta de
dar nas vistas.
Cartão 4 – “É um casal à beira da separação, até que há um dia em que acaba
mesmo. Ele está farto dos ciúmes dela. Vai ter com um amigo, vão viajar num veleiro
até Espanha, onde se divertem muito.”  Isto já não tem nada a ver com a imagem.
B23 – Acento inscrito nas relações interpessoais. Relato em diálogo
Ao contrário do procedimento A217, o conflito não implica o pensamento do sujeito
mas é encenado através da relação entre as personagens (que se falam e mantêm
diálogos). Os sujeitos que recorrem a este procedimento são pessoas que vivem tão
intensamente as situações que as relatam em diálogos.
Cartão 2 – “A rapariga passeia no campo e vê um casal a trabalhar. Vai ter com a
mulher e começa a falar com ela...”
Cartão 4 – “É uma mulher que discute com o marido e diz-lhe: “Suplico-te, não te
vás embora! Peço-te desculpa pelo que te disse há pouco…” Mas ele, maldosamente
diz-lhe: “É tarde demais, está tudo acabado!””
B24 – Expressão verbalizada de afectos fortes ou exagerados
O afecto expresso de uma forma um pouco teatral ocupa, por vezes, o lugar e o
espaço da representação e, em qualquer caso, acompanha-a.
Cartão 3BM – “É uma pessoa que está muito aflita, com palpitações. Sente-se tão
mal que até pensa que pode morrer.”
Cartão 4 – “O homem já não aguenta a mulher. Não a suporta!”
B25 – Dramatização
Narrativa onde o sujeito sente prazer em encenar acontecimentos, relações entre
as personagens, de uma forma mais ou menos teatral. Na neurose histérica há
sempre uma dramatização fortíssima.
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Cartão 4 – “A mulher está aos gritos a dizer que ele não a pode deixar… Diz-lhe
que há 30 anos que estão juntos, que têm filhos e que não se podem separar…
desfalece...”
B26 – Representações contrastadas. Alternância entre estados
emocionais opostos
Estes procedimentos mostram a passagem, mais ou menos brusca, entre imagens,
temas e/ou afectos, cuja oposição manifesta traduz a labilidade do funcionamento
mental (neurose histérica).
Cartão 4 – “A mulher é rica e gosta dele. Ele, por ser pobre, acha que nunca vai ser
possível terem uma relação socialmente aceite.”
Cartão 6BM – “O filho tenta fazer as pazes com a mãe, mas ela, que é má, não
aceita para o fazer sofrer.”
B27 – Oscilação (vai e vem) entre desejos contraditórios. Fim com valor
de realização mágica do desejo
Consiste na oscilação entre a expressão do desejo e a defesa: a defesa refere-se à
expressão do desejo libidinal (Id) interdito pelo Superego. O desenrolar responderá ao
princípio do prazer – à omnipotência do desejo e não ao princípio da realidade.
Cartão 1 – “Aqui, é um rapaz que queria muito tocar violino, que deve ter tido um
choque, ficou deprimido e não quis tocar mais. Mas ele tem ainda vontade, não pode,
é mais forte do que ele, mas no fundo ele tem vontade de tocar. No fim, isto conclui-se
que ele vai com certeza tocar e que será feliz.”
Cartão 2 – “A filha do dono da quinta vive na cidade, mas sempre que vai à quinta
tenta ir ver o rapaz de quem sempre gostou. Como todos são contra, há sempre uma
velha criada que anda atrás dela para permitir que eles se envolvam devido à
diferença social entre eles. Mas o rapaz vai-se embora e, um dia, volta rico. Assim, já
poderão ser felizes sem impedimentos.”
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B28 – Exclamações (1), comentários, digressões (2), referências/
apreciações pessoais (3)
Enquadra-se aqui (1) qualquer manifestação afectiva (alegria, surpresa, prazer/
desprazer) a propósito do material, ou (2) qualquer observação “ao lado” da prova que
mostra a necessidade do sujeito fugir à ansiedade suscitada pelo exame ou por um
determinado cartão, ou ainda (3) qualquer comparação, explícita e pontual, entre a
situação evocada e a própria experiência do sujeito.
Cartão 5 – “Esta é uma pessoa adulta que entra no quarto de uma criança, por
inquietação, curiosidade. Ela tenta ver rapidamente se tudo vai bem. E depois, ela vai
fechar a porta, após ter reparado neste ramo de flores pessoal, que não lhe era
destinado. É um pouco um segredo entre a criança e ela. Quando a minha avó entra
no meu quarto ela exaspera-me [ri].”  Comentários, digressões/ referências pessoais/
apreciações pessoais
Cartão 11 – “Oh! Meu Deus! Quadro fantástico! É um animal pré-histórico, não sei
qual. Restos de um castelo-forte do outro lado. Há uma batalha com os homens e os
animais monstruosos. Eles acabarão por triunfar.”  Exclamações
B29 – Erotização das relações, invasão da temática sexual e/ou
simbolismo transparente
Na evocação das relações interpessoais, a tónica é posta de modo privilegiado na
sexualidade e no erotismo, mesmo nos cartões que, pela sua construção, não
convidam nada à evocação deste tipo de problemática. No simbolismo transparente o
sujeito não fala explicitamente na erotização mas dá sinais de que a erotização está
presente.
Um dos sintomas da neurose histérica é a erotização das relações. Cota-se B29 se
a erotização for socializada. Caso contrário, se a linguagem for mais crua, cota-se E.
Cartão 2 – “Curioso como os esquemas de má literatura… É verdade que a
qualidade plástica destas imagens… Podemos imaginar esta jovem de férias, virgem,
perturbada pela virilidade deste homem. O camponês revela-lhe o seu amor, a mulher
ficará muito ciumenta. Felizmente as férias acabaram e tudo entra na ordem.”
Cartão 5 – “É uma mãe que entra no quarto do seu filho, à noite, já muito tarde,
porque ela pensa ter ouvido um barulho no quarto dele e encontra-o a ler um livro em
voz alta. Fica muito surpreendida que o filho fica até tão tarde a ler poesias. O filho
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continua a fazer isso durante vários anos, até que ele ultrapassa a idade do
romantismo e torna-se… um professor.”  Simbolismo transparente
Cartão 6GF – “O presidente do conselho de administração dá ordens à sua
secretária. Ele é muito bruto e ela não gosta da sua forma rude de dar ordem mas teve
sempre um fascínio pelo seu cachimbo de pau-santo.”  Simbolismo transparente
B210 – Apego aos pormenores narcísicos com valência relacional
O sujeito dá uma importância particular às qualidades físicas e estéticas dos
protagonistas, que ele conota positiva ou negativamente: corpo, vestuário, aparência,
etc., num contexto de relações objectais.
Cartão 2 – “É uma rapariga que se passeia no campo e que está a observar as
costas musculadas do rapaz.”  B29 e B210
Cartão 8GF – “É uma mulher que está em casa, sozinha e aborrecida. Vestiu uma
camisa nova que comprou e está a ver-se ao espelho para ver se está bonita porque
foi convidada para sair.”
B211 – Instabilidade nas identificações. Hesitações sobre o sexo e/ou
idade das personagens
Consiste na passagem rápida de uma personagem para outra, sem que se possa
determinar a que personagem o sujeito se identifica preferencialmente. O sujeito
hesita quanto à identidade sexual ou à idade das personagens. Este procedimento é
característico do funcionamento histérico (labilidade forte das identificações).
Cartão 10 – “Michel e Jeanne são um casal de uns cinquenta anos. Uma grande
afeição e uma grande cumplicidade parece uni-los, mesmo nos momentos difíceis.
Michel parece ser um marido protector e Jeanne está feliz por poder apoiar-se e
repousar-se nele.”  Chega-se ao final sem perceber se o sujeito se identifica mais
com o homem ou com a mulher.
B212 – Acento inscrito numa temática do estilo: ir, correr, dizer, fugir,
etc., num contexto dramatizado
Acento posto num “agir corporal”, num movimento um pouco teatral e a maior parte
das vezes erotizado.
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Cartão 2 – “É uma rapariga que foi passar férias com as amigas. Depois vai
passear sozinha e vê um homem semi-nu. Excitadíssima vai chamar as amigas para
que elas também o vejam.”  Movimento e acção
B213 – Presença de temas de medo, de catástrofe, de vertigem, etc.,
num contexto dramatizado
Este procedimento associa, simultaneamente, o item B24 e o item B25. O pôr em
primeiro plano afectos fortes e dramatizados está ao serviço do recalcamento de
representações inconscientes.
Cartão 3BM – “Uma rapariga descobriu que está grávida. Ela está em pânico
porque já sabe que a vão pôr fora de casa.”
Cartão 11 – “Esta cena passa-se numa serra. Um grupo de pessoas foi fazer
montanhismo mas, a certa altura, houve um derrubamento e instalou-se o pânico.
Começam então todos a gritar e a fugir.”
Cartão 11 – “A noite tinha qualquer coisa de impenetrável… de petrificante…Estes
magotes de rochedos… davam uma impressão de terror… estava sombrio, muito
sombrio… e só o ruído das aves de rapina… quebrava esse silêncio implacável.”
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PROCEDIMENTOS DA SÉRIE C (Evitamento do conflito)
C/Fo
1. Tempo de latência inicial longo e/ou importantes silêncios intra-relato.
2. Tendência geral à restrição.
3. Anonimato de personagens.
4. Motivos dos conflitos não indicados, relatos banalizados a todo o custo, impessoais, colagem.
5. Necessidade de questionar. Tendência recusa. Recusa.
6. Evocação de elementos ansiogénicos, seguidos ou precedidos de interrupções do discurso.
C/N
1. Acento inscrito na vivência subjectiva (não relacional).
2. Referências pessoais ou autobiográficas.
3. Afecto-título.
4. Postura significante de afectos.
5. Acento posto nas qualidades sensoriais.
6. Insistência na demarcação dos limites e dos contornos.
7. Relações especulares.
8. Pôr em quadro.
9. Críticas de si.
10. Pormenores narcísicos. Idealização de si.
C/M
1. Sobreinvestimento da função de anáclise do objecto.
2. Idealização do objecto (valência positiva ou negativa).
3. Piruetas, viravoltas.
C/C
1. Agitação motora. Mímicas e/ou expressões corporais.
2. Perguntas feitas ao clínico.
3. Críticas do material e/ou da situação.
4. Ironia, escárnio.
5. “Piscar de olho” ao clínico.
C/Fa
1. Apego ao conteúdo manifesto.
2. Acento inscrito no quotidiano, no factual, no concreto.
3. Acento inscrito no fazer.
4. Apelo a normas exteriores.
5. Afectos de circunstância.
A Série C
A série C trata dos mecanismos de evitamento do conflito e tem a ver com os
estados-limite. Divide-se em várias sub-séries: C/Fo (fobia), C/N (centração
narcísica), C/M (depressão vs. mania), C/C (comportamento) e C/Fa (inibição; factual).
Todos os procedimentos da série C podem aparecer em modalidades de
funcionamento psíquico variadas.
C/Fo
Na sub-série C/Fo, os procedimentos revelam arranjos fóbicos, onde dominam o
evitamento e a fuga. A associação com os procedimentos da série A e/ou da série B
assinala a natureza neurótica do conflito. Em pequenas quantidades, estes
procedimentos permitem o prosseguimento do relato (as representações e afectos
vão reaparecer sob a forma de retorno do recalcado). As narrativas elaboradas
mantêm uma certa espessura simbólica, uma certa ressonância fantasmática em
relação com as solicitações latentes do cartão. Contudo, estes procedimentos não têm
significado diagnóstico unívoco e podem dar conta de outras modalidades de
funcionamento para além das neuróticas.
C/Fo 1 – Tempo de latência inicial longo e/ou importantes silêncios
intra-relato
Incluem-se neste procedimento os relatos das histórias que tenham, no mínimo, 30
segundos de tempo de latência inicial ou que tenham silêncios importantes durante o
relato. Aqui, o sujeito recorre à inibição mental para evitar o conflito.
Cartão 1 – [60’’]“Um rapaz diante do seu violino +++. Eu não sei, eu, ele pensa +++
o seu pai é talvez músico e ele quer torna-se músico +++ ou, ao contrário, esta
guitarra fá-lo sonhar +++ produzir concertos +++ não sei +++. Ele tem ar de
nostálgico.”
C/Fo 2 – Tendência geral à restrição
São histórias muito curtas e incompletas, onde o conflito é dificilmente abordado e
não é desenvolvido.
Cartão 3BM – “Isto, é uma pessoa que tem, não sei… que tem um sofrimento
qualquer… não sei, é difícil…”
58
Cartão 5 – “Uma mulher que entra em casa… que descobre qualquer coisa de
inabitual +++. É tudo o que eu vejo.”
C/Fo 3 – Anonimato de personagens
Na encenação, o sujeito não confere identidade social/ profissional/ sexual, etc. às
personagens, mantendo-as no anonimato. O anonimato tem como finalidade evitar a
evocação de representações de relações demasiado precisas e carregadas no plano
pulsional, libidinal e/ou agressivo. O anonimato das personagens realça as
dificuldades de referência identitária.
Cartão 3BM – “Alguém muito triste.”
Cartão 10 – “[…] Eles têm uma posição de recolhimento… Têm ar de duas
personagens… Uma está mais preocupada [designa o homem], a outra calma…
então, claro… Têm ar de pensar no pior.”
C/Fo 4 – Motivos dos conflitos não indicados, relatos banalizados a
todo o custo, impessoais, colagem
O sujeito evoca o conflito mas, no fim da história contada, não se sabe a origem do
conflito.
Cartão 1 – “É um rapaz que recebeu um violino como presente. Pôs-se a tocar e
tornou-se um grande músico. Tornou-se um grande e chefe de orquestra célebre.
Casou-se e teve muitos filhos e ensinou-lhes música e é feliz.”  Relatos banalizados
a todo o custo, impessoais
Cartão 3BM – “[1’25’’] [?] Não vejo nada…[?] [1’42] É um rapaz que acaba de ter
uma disputa, se ele chora, vai parar.”  Motivos dos conflitos não indicados
Cartão 4 – “Um casal a discutir. Entre marido e mulher não se mete a colher.”  as
colagens podem aparecer sob a forma de ditos populares
C/Fo 5 – Necessidade de questionar. Tendência recusa. Recusa
Este procedimento diz respeito a toda a necessidade, por parte do examinador, de
intervenção para solicitar a continuação ou o final da história, ou mesmo os dois
59
casos. Também engloba a rejeição do cartão e a recusa em contar uma história. Este
procedimento é claramente fóbico.
Cartão 3BM – “É uma pessoa que está cansada. Não sei o que é preciso dizer…
[?] Não sei, ela parece abatida… +++ Recebeu uma má notícia… +++ [?] Não sei… ++
+ Sobre a sua família, a sua situação, não sei… +++ Ela pode recompor-se, se tiver
coragem, ou não.”
C/Fo 6 – Evocação de elementos ansiogénicos, seguidos ou precedidos
de interrupções do discurso
Assinala de um modo mais específico um processo fóbico, que se encontra, de
preferência, nos cartões que remetem para uma vivência mais arcaica e onde os
elementos evocados estão carregados de angústia.
Cartão 3 – “Um homem foi abandonado pela mulher. Tem uma pistola ao lado.” 
depois de dizer isto, cala-se como se isso lhe despertasse o fantasma de matar a
mulher
Cartão 11 – “Na serra, um grupo de montanhistas vão ter que atravessar uma
ponte… mas aquela ponte está em ruínas… Não é segura…”
Cartão 11 – “Não vejo o que possa ser… + Um caminho cheio de pedras que
conduz a uma fortaleza, uma tempestade… relâmpagos, ma espécie de monstro. É
tudo.”
C/N
Os procedimentos da sub-série C/N foram destacados por F. Brelet (1981-1983) a
propósito das personalidades com traços narcísicos graves. Esta sub-série reenvia
para modalidades narcísicas do funcionamento psíquico e para o
sobreinvestimento da polaridade narcísica do fantasma. O corpo passa a ser
utilizado para comunicar e produzir sentido.
Utilizados de modo pontual, estes procedimentos servem para a evocação de um
conflito dramatizado sobre um modo mais secundarizado, onde os movimentos
pulsionais são metabolizados ou se traduzem num retraimento libidinal narcísico.
60
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  • 2. 2
  • 3. Índice O TAT............................................................................................................................................4 Os conceitos psicanalíticos e a sua articulação com a Teoria do TAT...........................................7 Tópico.......................................................................................................................................7 Dinâmico..................................................................................................................................7 Económico................................................................................................................................7 Os Conceitos Freudianos Fundamentais...................................................................................8 Aplicação da Prova.....................................................................................................................13 A Metodologia............................................................................................................................15 O Material..............................................................................................................................15 Análise do Material................................................................................................................16 Cartões 6 e 7...........................................................................................................................23 Decomposição............................................................................................................................37 A Série A.................................................................................................................................40 A Série B.................................................................................................................................50 A Série C.................................................................................................................................58 A Série E.................................................................................................................................69 Síntese........................................................................................................................................79 Agrupamento dos procedimentos de elaboração do discurso na folha de decomposição....79 Legibilidade e problemáticas..................................................................................................80 Hipóteses relativas à organização psíquica............................................................................82 Os Tipos de Funcionamento.......................................................................................................83 Registo Neurótico...................................................................................................................84 Registo Limite.........................................................................................................................85 Registo Psicótico.....................................................................................................................88 3
  • 4. O TAT O Teste de Apercepção Temática (TAT) surgiu em 1935 com Murray. O termo apercepção é de Leopoldo Ballak. É uma percepção especial. Tem a ver com o sentido que o sujeito dá a cada uma das imagens em função de vários factores, nomeadamente da memória afectiva de situações semelhantes pelas quais o sujeito já passou. Em comum com o Rorschach esta prova é projectiva. Ambas se baseiam numa hipótese projectiva. A seguir ao Rorschach, o TAT é a prova projectiva mais utilizada. O que as distingue é o material pois o estímulo é completamente diferente. Aqui o material é figurativo e organizado. Na sua forma original, o TAT era composto por 31 imagens administradas em duas vezes, podendo ser divididas em séries destinadas aos adultos homens e mulheres e aos rapazes e raparigas com idades superiores a 10 anos. Estas imagens representam personagens de idades e sexos diferentes, colocadas em situações relativamente determinadas mas que deixam também lugar a interpretações, ou ainda paisagens ou ainda paisagens pouco estruturadas. O sujeito era convidado a imaginar uma história, tão rica e dramática quanto possível, que desse conta do presente, passado e futuro, bem como dos sentimentos das personagens postas em cena. Os encorajamentos, questões e apreciações eram autorizados, para que o sujeito fornecesse o máximo de material significativo dos seus conflitos inconscientes. Na sua obra Explorations in personality (1938), Murray expõe o seu sistema teórico centrado na dualidade entre as necessidades (tudo o que o sujeito deseja) e as pressões (tudo o que se opõe à satisfação desses desejos), onde exprimia as suas próprias necessidades, representando as outras personagens o meio de vida no qual o sujeito sentia a pressão. Segundo Murray, o sujeito que conta a história identifica-se à personagem principal da história (o herói) e as personagens secundárias estão relacionadas com o meio do sujeito. Foi Bellak (1954), da escola americana, quem recolocou o TAT nos eixos da teoria psicanalítica, ao acentuar a segunda tópica (Id/Ego/Superego), o papel do Ego e as suas funções, as resistências e as defesas. Bellak iniciou a revisão do TAT. Foram levadas a cabo outras tentativas de modificação do método de H. Murray por Rotter (1940), Rapaport (1946, 1947), Tomkins (1947), Wyatt (1947, 1958), Piotrowski 4
  • 5. (1950), Symonds (1951, 1954) e Henry (1956). Estes autores propuseram vias diferentes: permaneceram ligados ao “herói” mas estabeleceram novas classificações das necessidades. Rapaport chamou a atenção para a importância de fazer uma análise do conteúdo das histórias que nos dá informação sobre a vida inconsciente do sujeito. Schafer revolucionou a forma de análise do TAT com um artigo cujo título era “Como é que a história foi contada?”. Entendeu que tão ou mais importante que analisar o conteúdo é a forma como o sujeito diz as coisas. Considerava que o lado formal do discurso dava conta do drama pulsional e das defesas usadas pelo sujeito. Por outro lado, R. R. Holt (1961) introduziu a discussão fundamental sobre a diferença que existe entre a fantasia espontânea, como a rêverie, e a história dada ao TAT, produzida sob solicitação de outrem e a partir de um material concreto. Demonstra que existem diferenças fundamentais entre a fantasia espontânea – que não se destina à comunicação, submetida ao princípio do prazer e à lei do processo primário, que se exprime mais em imagens do que em linguagem, independentemente dos estímulos externos – e as histórias do TAT, que obedecem aos princípios exactamente contrários. Os trabalhos americanos culminaram por volta de 1970. Depois deste período, os escritores sobre o TAT foram-se tornando raros devido às divergências teóricas e metodológicas entre as escolas. Depararam-se com a ausência de uma teoria homogénea, susceptível de explicar o que se passa no sujeito quando lhe é pedido para “imaginar uma história a partir do cartão”. Relativamente à escola francesa, os trabalhos de Vica Shentoub começaram em 1954. A escola francesa negligenciou as investigações centradas em variáveis isoladas como a agressividade, as necessidades sexuais, o desejo de afirmação ou de realização. O TAT só teria interesse nesta perspectiva numa abordagem holística tendo em conta as noções de estrutura individual, da organização mental e da vida interior e relacional de cada um. Para isso, era necessário ter em conta tanto a primeira como a segunda tópica (inconsciente/pré-consciente/consciente; Id/Ego/Superego) e os três pontos de vista clássicos: dinâmico, económico e tópico, sem confundir a situação psicanalítica com a situação TAT, as associações livres obtidas na cura e as fantasia espontâneas dadas no TAT. 5
  • 6. Vica Shentoub, F. Belet-Foulard, R. Debray e C. Chabert fizeram do TAT um instrumento seguro, sensível para estudar o funcionamento psíquico global do sujeito e também capaz de diferenciar um funcionamento psíquico normativo de outro com patologia. Até chegarem a produzir um diagnóstico diferencial, tiveram que estudar as características do material TAT em profundidade (ex: no cartão 1, a população normativa utilizava como detalhes a mulher, o homem, a rapariga; os outros detalhes eram facultativos ou secundários), o tema banal (ex: no cartão 2, a população normativa interpreta a imagem como uma história triste e depressiva). Para além disso, tiveram ainda que construir uma metodologia de análise do TAT séria e científica, de modo a que qualquer pessoa (psicólogo) pudesse utilizar o TAT com segurança. Para isso, foi preciso uma teoria, A Teoria sobre o TAT. 6
  • 7. Os conceitos psicanalíticos e a sua articulação com a Teoria do TAT A metapsicologia freudiana consiste em ver a análise psicológica sob três pontos de vista: Tópico O ponto de vista tópico tem a ver essencialmente com o equilíbrio entre os processos primários e os secundários, entre os movimentos progrediente e regrediente. Deste ponto de vista, o fundamento de um relato “bem sucedido” não reside no predomínio o processo secundário sobre o processo primário. Se a história deve obedecer à secundarização, ela deve igualmente admitir uma ressonância fantasmática. Uma história só pode ser criada se estes dois procesos se conjugarem. O ponto de vista tópico permite perceber qual é a instância em que se dá o conflito: Id, Ego ou Superego. Dinâmico O ponto de vista dinâmico pressupõe o conflito entre uma questão e uma resposta, entre o princípio do prazer e o princípio da realidade. A instrução apela a uma representação-alvo consciente e uma representação-alvo inconsciente, reactivada pelas solicitações latentes do material. Assim, pode dizer-se que um sobreinvestimento fantasmático maciço do percebido constitui um dos maiores obstáculos à solução do conflito entre a representação-alvo consciente e a representação-alvo inconsciente. O ponto de vista dinâmico permite perceber entre que instâncias é que se dá o conflito: por exemplo, se o conflito se der entre o Id e o Ego, estamos perante uma psicose. Económico O ponto de vista económico refere-se à distribuição da energia consumida nos conflitos defensivos contra as ideias e afectos desagradáveis. Deste modo, dever haver uma boa distância, conveniente par ligar os afectos e as representações e permitir a criatividade. É preciso perceber se a energia se distribui harmoniosamente, chegando a uma variedade flexível ou se, pelo contrário, o aparelho defensivo fica reduzido a uma ou duas modalidades exclusivas, mobilizando, ou mesmo esgotando, a energia em detrimento da criação. 7
  • 8. Segundo Freud, só pode haver pensamento secundário (de qualidade) com pouca energia psíquica. Por exemplo, uma pessoa enraivecida não pensa, reage instintivamente. Assim, só pode haver uma história bem contada com um grau de secundarização aceitável se houver pouca quantidade de energia. Paralelamente, é igualmente preocupante se não houver qualquer tipo de energia. Nenhum destes três pontos de vista pode ser considerado isoladamente. O protocolo, na sua extensão, constitui um todo indissociável que repousa num jogo complexo de relações moventes e interdependentes Os Conceitos Freudianos Fundamentais Representações e Afectos As representações e os afectos absorvem tudo o que é da ordem da fantasia inconsciente reactivada pelo material. Por outro lado, há também a fantasia consciente induzida que é a história construída pelo sujeito. A fantasia consciente traduz a forma como as representações e os afectos inconscientes foram “metabolizados” pelo Ego, pela ajuda dos mecanismos que lhe são próprios e com a ajuda da linguagem. Assim sendo, como definir uma representação? Uma representação é aquilo que forma o conteúdo concreto de um pensamento e a reprodução de uma percepção anterior. Quando essa representação consiste num reinvestimento de traços mnésicos mais ou menos ligados a uma coisa, trata-se de uma representação de coisa. A representação de coisa, que caracteriza o sistema inconsciente, reaviva a inscrição de um acontecimento. O Afecto é Inseparável da Representação A pulsão é a fonte do afecto. Por sua vez, o afecto é a parte energética da representação. A representação desperta o afecto e o afecto, mobilizado, procura uma representação. Assim, tanto o afecto como a pulsão, contêm em si a dualidade e a contradição. A defesa exerce-se não só contra as representações, mas também contra o afecto que as acompanha e cujo retorno pode ser temido. O afecto também é uma forma de memória. 8
  • 9. Os afectos assim religados à fonte pulsional, enquanto ficarem sob o domínio do inconsciente, têm as características do modo de funcionamento próprio deste sistema: são maciços, tempestuosos e tendem à descarga directa. Sob esta forma bruta são ruinosos para a organização psíquica. Tudo vai depender do potencial organizador do Ego, da organização (esforços para ultrapassar o conflito entre o princípio do prazer e o desprazer) pelo Ego das representações e dos afectos despertados e reactivados pelo estímulo do TAT. Representação de Coisa – Representação de Palavra A representação de coisa caracteriza o sistema inconsciente: é o investimento de um traço mnésico que diz respeito à coisa. Ao lado desta representação “essencialmente visual que deriva da coisa”, Freud distinguiu uma representação “essencialmente acústica que deriva da palavra”. Enquanto que a ligação entre a representação de coisa e a representação da palavra caracteriza o sistema pré- consciente/consciente, o sistema inconsciente só compreende as representações de coisa. Assim, a representação de coisa liga a verbalização à consciência. A intervenção da linguagem faz passar a representação inconsciente para o domínio do consciente e marca a distinção entre uma representação alucinatória e a percepção clara do objecto-alvo presente. No TAT isto significa construir uma história com a ajuda de uma linguagem estável e coerente. Com efeito, a história contada pelo sujeito atestará o compromisso entre a representação inconsciente reactivada pelo material e os imperativos conscientes – contar uma história. Está-se, assim, perante uma fantasia inconsciente: fantasia na medida em que as raízes mergulham nas representações e afectos inconscientes; consciente na medida em que os organizadores do Ego possibilitam a secundarização. O que se pretende no TAT é uma história estruturada com ressonância fantasmática. O problema coloca-se em termos das representações e dos afectos inconscientes que podem escapar ao controlo do Ego e à elaboração secundária. Então, o que acontece ao afecto quando este se depara com a barreira do Ego? O que acontece é que ele pode ser aceite ou recusado. Quanto mais o afecto for maciço e tempestuoso, mais ele ficará sob o domínio do sistema inconsciente. Nestes casos, do ponto de vista económico, não é possível nenhum trabalho do pensamento. O dilema no TAT é o de estabelecer uma espécie de compromisso ideal entre os imperativos conscientes e os imperativos inconscientes. 9
  • 10. A compreensão teórica do processo TAT permite a elaboração de um método objectivo de análise do material recolhido. Apesar do método poder sofrer modificações pontuais em função dos interesses e das modificações em psicopatologia, a teoria do processo TAT e os princípios do método são operacionais, tanto na prática clínica como na reflexão teórica dos funcionamentos mentais e também como princípio de investigação sobre outros testes temáticos como o CAT. Por processo TAT entende-se o conjunto de mecanismos mentais comprometidos nessa situação singular em que é pedido ao sujeito para imaginar uma história a partir do cartão, ou seja, para forjar uma fantasia a partir de uma certa realidade (fantasia induzida  pela imagem). A análise destes processos mentais só pode ser abordada após uma análise aprofundada da situação que os engendra. Esta situação TAT compreende três parâmetros: O Material O material é constituído por uma série de imagens apresentadas ao sujeito. Para Murray, as imagens representavam “situações humanas clássicas”. Actualmente considera-se que se trata de situações que se reportam aos conflitos universais (ex: amor, ódio, solidão, perda, sexualidade, conflito de gerações, imaturidade, depressão, agressividade, morte, etc.). Qualquer que seja o cartão, existe uma referência permanente ao que especifica a condição humana, que é o manejo da libido e da agressividade, no registo da problemática edipiana, que engloba a diferença de sexos e de gerações. No desenrolar da prova o sujeito vai modulando as suas representações, os seus afectos, as suas defesas e vai elaborando o relato em ressonância com o nível da problemática sugerida. A estruturação destas imagens é muitas vezes trivial e relativamente pouco ambígua. Face a um material objectivamente traçado, existe para cada imagem um conteúdo manifesto figurado pelos elementos em presença (personagens, o seu sexo, idade, posições respectivas, objectos, etc.) e as solicitações latentes (susceptíveis de reactivar um ou outro nível de problemática). A contradição interna entre o conteúdo manifesto que fixa os limites da fantasia, ao fazer apelo ao princípio da realidade, e as solicitações latentes que reactivam os traços mnésicos individuais, em relação com os fantasmas originários, ao fazer apelo ao princípio do prazer. As situações latentes da imagem desencadeiam uma regressão e representações inconscientes acompanhadas de afectos que lhes estão ligados. 10
  • 11. O conteúdo latente simbolização e projecção do sujeito. Assim, o conflito reside no facto do sujeito dar mais ou menos atenção à projecção ou à percepção. A Instrução A instrução original era “Imagine uma história rica e dramática com sentimentos e que tenha em conta o passado, o presente e o futuro”. Actualmente, a instrução é muito lacódica e próxima do Rorschach. Quanto menos instrução se der, mais o sujeito está condenado a ser livre. A instrução é “Imagine uma história a partir do cartão.”. A instrução encerra uma contradição e é indutora de conflito. Pede-se ao sujeito um funcionamento psíquico para imaginar e se libertar segundo o princípio do prazer e, ao mesmo tempo, dizer-lhe que tem que ter como base a imagem. Isto implica um controlo temporal e lógico para se poder construir a história. A tónica é posta na necessidade de dar conta do conteúdo manifesto da imagem como representante do real e de elaborar uma história lógica e coerente que obedeça aos princípios da secundarização e também na necessidade de baixar o limiar do controlo para se deixar ir ao sabor da imaginação. O que há de particular nesta instrução é deixar-se ir pelo imaginário (projecção) mas controlar-se e ficar preso à imagem, de maneira a transformar as representações de coisas em representações de palavras para contar a história (percepção); admitir os afectos tal como o movimento regressivo os desencadeia, mas filtrá-los de maneira a que possam ficar a cargo do pensamento. A Presença do Clínico A neutralidade do clínico é necessária mas é mais um fim a atingir do que um dado imediato. A neutralidade é posta em causa pelo sujeito devido às reacções transferenciais da situação. Esta também é posta em causa pelo clínico uma vez que o seu comportamento consciente e inconsciente inflecte o modo de reacção do sujeito. A compreensão do clínico passa não só pelo conhecimento mas também pela disposição a compreender. O clínico deve estar presente de um modo neutro, não intervir, não colocar questões, abster-se de qualquer julgamento e de qualquer relação real mas, ao mesmo tempo, impor o material e a instrução e transcrever as propostas do sujeito, o que faz dele o representante da fantasia e da realidade. A presença do examinador é indutora de conflito porque ele representa, simultaneamente, o princípio do prazer (dá liberdade total à fantasia e ao fantasmático; 11
  • 12. aceita tudo o que o sujeito lhe disser) e o princípio da realidade (porque é ele que representa e dá ao sujeito o material e toma nota de tudo o que é dito pelo sujeito). Havendo no TAT conflitos, há também angústias e, consequentemente, mobilização de mecanismos de defesa. Outro conceito importante é o de Processo de elaboração da resposta TAT. Assim, há três momentos fundamentais pelos quais o sujeito passa desde que lhe entregam o cartão até ao momento em que produz a história: 1. O conteúdo manifesto da imagem é percepcionado. 2. O conteúdo latente da imagem e a instrução que foi dada ao sujeito para imaginar provocam uma regressão (abaixamento do controlo consciente) e desencadeia, no sujeito, a um nível inconsciente, representações e afectos que estão ligados a essas representações. 3. Este complexo de representações e afectos que estão desorganizados (como tudo o que são processos primários) irá ou não aceder a um sistema pré- consciente/ consciente para ser organizado e simbolizado através da palavra. Esta ligação a aspectos da vida do sujeito depende de quê para ser aceite pelo Ego? Se o Ego for sólido, forte e seguro, não sentirá perigo em utilizar estes aspectos na história, mobilizando mecanismos de defesa de tipo neurótico. Caso contrário, se o Ego não for suficientemente forte, isso vai ser gerador de muita angústia e vai mobilizar muitos mecanismos de defesa, maioritariamente de tipo psicótico. Se o Ego for demasiadamente frágil, pode ser submergido pelo inconsciente expressando-se isso através de histórias cruas carregadas de afectos fortíssimos. Os parâmetros da situação do TAT são as situações de conflito por excelência: o princípio de prazer e o princípio de realidade, a representação de coisa e a representação de palavra, a identidade de percepção e a identidade de pensamento, o desejo e a defesa, ou seja, os imperativos conscientes e inconsciente. O mais importante neste teste não são as “necessidades” ou as “motivações”, no limite anedóticas, mas os modos particulares e sempre singulares do funcionamento do indivíduo em qualquer situação geradora de conflito. 12
  • 13. Aplicação da Prova O TAT é normalmente aplicado a partir dos 9 anos. A aplicação é feita num único momento e escolhem-se os 10 cartões mais adequados à problemática do sujeito. Durante a aplicação da prova, há alguns aspectos fundamentais que devem ser tidos em consideração. Deve medir-se o tempo, tanto o tempo de latência como o tempo total por cartão. As características temporais não podem ser interpretadas em termos de eficiência ou de realização, mas sim como referências clínicas que mostram a menor ou menor reactividade do sujeito ou, pelo contrário, a sua tendência para a inibição. É preciso perceber quais são os efeitos específicos de cada cartão, se o sujeito tem tendência para reflectir ou para se precipitar no relato. O tempo de latência e os tempos totais devem ser sempre tomados em consideração, mas a sua interpretação depende dos elementos clínicos fornecidos pela análise do conjunto dos relatos. É desaconselhada a utilização de cronómetro, que pode induzir a aplicação a uma conotação psicométrica. É preferível recorrer a um relógio de ponteiros, o que é mais discreto, sem no entanto o esconder. Quanto às anotações dos relatos, é preciso anotar integralmente o discurso do sujeito (abreviações, reconstruções e interpretações do clínico devem ser proscritas. Esta necessidade de transcrever o discurso do sujeito o mais fielmente possível deve- se ao facto do trabalho sobre o TAT se efectuar a partir da análise formal do relato. A utilização de um gravador é problemática pois o sujeito pode ter o sentimento de ser espiado, roubado, ou ainda sentir-se extremamente valorizado. Pode ainda ser um sinal de falta de confiança na capacidade de escuta do clínico, o que mais uma vez obriga à transcrição do relato. Relativamente às intervenções ao longo da aplicação, o clínico intervém pouco durante a aplicação, o que não significa que não o deva fazer. Cabe ao psicólogo regular a relação com o sujeito e pode intervir se o entender necessário, sem dar sugestões ou emitir juízos de valor. No caso de intervir, o psicólogo tem que ter em conta as suas intervenções e o seu impacto na apreciação da aplicação: se são uma 13
  • 14. oferta de suporte, de apoio ou se, pelo contrário, são sentidas como inibidoras, intrusivas ou persecutórias. Factores como a duração da prova e a atitude do clínico permitem ao clínico recolher dados que o conduzirão a apreciar o modo de funcionamento psíquico do sujeito. Depois de concluída a aplicação, o material recolhido vai ser objecto de análise. Essa análise baseia-se no estudo dos procedimentos do discurso utilizados na elaboração das narrativas e da sua articulação com as problemáticas que eles se esforçam por abordar. 14
  • 15. A Metodologia O TAT pode ser proposto em qualquer situação de exame psicológico em que se pretenda o aprofundamento do funcionamento psíquico de um indivíduo. Como qualquer situação de teste projectivo, a situação TAT compreende o sujeito, o teste e o clínico. Tal como os restantes testes temáticos, o TAT é, ao mesmo tempo, figurativo e ambíguo. Assim, permite simultaneamente uma análise objectiva de tipo perceptivo (que conduz à descrição do material manifesto) e uma interpretação subjectiva, que arrasta associações de tipo projectivo (o que traduz as significações latentes atribuídas ao estímulo). O TAT solicita condutas perceptivas e projectivas pois o objecto-teste é compreendido, ao mesmo tempo, como objecto real, tangível, concreto e também como lugar de investimento de significações subjectivas à semelhança do objecto transitivo. Isto implica a capacidade do sujeito se deixar ir num devaneio a partir de uma realidade perceptiva, sem ficar desorganizado por esta actividade associativa, ou demasiadamente constrangido pelos imperativos da objectividade, referenciado através das respostas no TAT. O Material Da edição original de 31 cartões, só são considerados os mais pertinentes e significativos: os cartões 1, 2, 3BM, 4, 5, 8BM, 10, 11, 12BG, 13B, 9 e 16 propostos a rapazes e raparigas, homens e mulheres. Para além disso, os cartões 6BM/7BM são propostos aos rapazes e homens; os cartões 6GF/7GF e 9GF são propostos a raparigas e mulheres; e o cartão 13MF é proposto unicamente aos sujeitos adultos, homens e mulheres. A ordem de apresentação deve ser respeitada e o cartão 16 deve ser proposto no fim da aplicação. Os cartões vão das situações mais estruturadas para as menos estruturadas: os dez primeiros são mais figurativos e representam personagens sexuadas e os cartões 11, 19 e 16 não reenviam para objectos concretos bem definidos. O material é aplicado numa única sessão. 15
  • 16. A instrução dada é “Imagine uma história a partir do cartão”. A instrução é dada no início e não é repetida. Não há inquérito para cada cartão no final da aplicação mas, no decurso da aplicação, face a um sujeito muito inibido e/ou com grande mal-estar, podem colocar-se algumas questões. Análise do Material Cartão 1 Conteúdo manifesto: Representa um rapaz, com a cabeça entre as mãos, olhando para um violino colocado diante dele. 16 Número do Cartão 1 2 3BM 4 5 6BM/7BM 6GF/7GF 8BM 9GF 10 11 12BG 13B 13MF 19 16 S e x o e I d a d e Homem               Mulher                Rapaz              Rapariga              
  • 17. Conteúdo latente: o cartão remete para a identificação com um indivíduo jovem numa situação de imaturidade funcional, que se encontra confrontado com um objecto que pode ser considerado objecto de adulto, cujas significações simbólicas são transparentes. Para que a criança imatura possa ser representada como “capaz de utilizar o instrumento” é necessário que veja a sua integridade e a do violino: a percepção da criança deve remeter para uma representação humana inteira, não defeituosa; o violino deve ser identificado como um objecto não atingido na sua identidade, não partido e não estragado. Isto atesta a capacidade do sujeito se situar inteiro face a um objecto inteiro. O sujeito pode reconhecer que o rapazinho, no presente, é incapaz e se servir do objecto “violino”, interpretação que remete para a impotência actual da criança, mas impotência que poderá ser ultrapassada no futuro. Isto implica o reconhecimento da angústia de castração, problemática essencial colocada por este cartão, isto é, o reconhecimento da imaturidade actual da criança e a possibilidade de dela se distanciar num projecto identificatório (o que corresponde ao tema banal) com um jogo possível entre posições activas e/ou passivas. A problemática de castração não deve ser apenas entendida em termos de potência/ impotência mas como possibilidade de aceder à fruição e ao prazer: o objecto “violino” pode ser investido como objecto de desejo, susceptível de aportar satisfações e, portanto, suficientemente investido. Quando domina a problemática narcísica e a luta antidepressiva, há um evitamento da angústia de castração na afirmação de uma posição de omnipotência. O princípio do prazer afirma-se de um modo megalomaníaco, que nega a imaturidade funcional da criança e a sua impotência actual. (“É uma criança prodígio, está a ver-se a tocar, numa sala, aclamado por um público fascinado pelas suas capacidades”). Pode aparecer a posição inversa a esta, em que há insuficiências do investimento de si com afectos depressivos (“É uma criança desesperada, nunca conseguirá livrar-se, não pode, é incapaz de…”). 17
  • 18. Cartão 2 Conteúdo manifesto: É “uma cena campestre” com três personagens. No primeiro plano, uma rapariga segura livros, no segundo plano, um homem com um cavalo e uma mulher encostada a uma árvore, que pode ser percebida como estando grávida. Não existe diferença de gerações evidente entre as três personagens, mas a diferença de sexos é claramente representada. Conteúdo latente: A relação triangular figurada é susceptível de reactivar o conflito edipiano. Quando a identidade é estável, existe uma diferenciação entre as três personagens, podendo cada uma delas ser apreendida como munida de qualquer coisa. Há casos em que o conflito não se desenrola numa relação triangular mas sim dual, em que a rapariga está numa situação de dependência em relação ao casal de camponeses que figuram o casal parental. Quando, pelo contrário, os processos identitários são pouco estáveis, aparece uma pseudotriangulação que vem substituir- se à diferença de sexos. O reconhecimento do laço que une o casal do segundo plano é sustentado por fantasmas da cena primitiva mais ou menos elaborados: o conflito vai tecer-se entre desejos e defesas, sendo a rapariga portadora de desejos libidinais em relação ao homem e de movimentos agressivos em relação à mulher. Isto é acompanhado por evocações de nostalgia e tristeza em ter de renunciar aos seus objectos de amor. Quando predomina a problemática narcísica ou antidepressiva, o cartão pode reavivar outros registos de problemática: numa problemática de perda, a elaboração do conflito edipiano é particularmente difícil (fragilidade de manejo pulsional, 18
  • 19. precaridade dos investimentos libidinais e manuseamento da agressividade mal gerida). Em contextos psicóticos, os laços entre as personagens são maciçamente atacados, o que está associado a fantasmas destrutivos e mortíferos da cena primitiva. Cartão 3BM Conteúdo manifesto: Representa um indivíduo cujos sexo e idade são indeterminados, está caído junto de um banco. No canto esquerdo, está um objecto pequeno, que pode ou não ser percepcionado e que é frequentemente visto como um revólver ou uma flor. Conteúdo latente: Reenvia para a problemática de perda de objecto e põe a questão da elaboração da posição depressiva (depressão). O material, ao pôr à prova a representação narcísica de si próprio, mobiliza também processos identificatórios, na medida em que a personagem é representada de modo relativamente vago quanto à sua identidade sexual. A elaboração da posição depressiva é possível quando os afectos depressivos são reconhecidos e associados a uma representação de perda do objecto. Pelo contrário, há uma recusa da depressão quando há uma defesa maior de tipo maníaco. Deste modo, é preciso perceber se, num primeiro momento, o sujeito “mergulha” na depressão e depois se liberta, projectando no futuro um possível trabalho de luto. Nas organizações neuróticas, os afectos depressivos são reconhecidos e a representação de perda do objecto é associada à ambivalência face ao objecto. Aqui o conflito posiciona-se entre o desejo e os interditos superegóicos que ameaçam o laço 19
  • 20. de amor com as figuras parentais. A depressão é então dominada pelo sentimento de culpabilidade e pelo medo inconsciente de um castigo. Nas modalidades de tipo narcísico, o conflito refere-se a um ideal do Ego exigente. O fantasma narcísico é posto em primeiro plano e a perda é sentida em termos de ferida narcísica. Aqui, a depressão é dominada por sentimentos de vergonha e de inferioridade. O objecto não é investido num movimento relacional objectal, mas com uma procura permanente de ganhos para o narcisismo próprio do sujeito. Nas organizações de tipo psicótico, os afectos depressivos podem eventualmente ser evocados. Aqui é a representação unitária da imagem de si que falha, o que se traduz pela percepção de deformações corporais na personagem. Neste caso, podem aparecer temas de destruição (a agressividade é maciçamente voltada contra si num movimento destrutivo, o que não permite a manutenção da identidade na sua integridade) ou ainda temas paranóicos (há projecções da agressividade para o exterior, tornando-se o objecto externo persecutório). Os movimentos destrutivos atacam o pensamento, o discurso fica desorganizado, o relato torna-se caótico, bem como a representação que o sujeito tem de si e do seu corpo. 20
  • 21. Cartão 4 Conteúdo manifesto: Representa um casal, uma mulher junto de um homem que se afasta. A diferença de sexos é claramente representada mas não há diferença de gerações. Conteúdo latente: Remete para o conflito pulsional no seio de uma relação heterossexual visto que cada um dos protagonistas pode ser portador de movimentos pulsionais diferentes, agressividade e/ou libido (o dualismo pulsional está aqui fortemente representado). Tal como os cartões 6BM, 6GF e 7BM, este cartão está estruturado pela diferença de sexos, prestando-se com menos facilidade a associações regressivas. Encontra-se com muita frequência instabilidade nas identificações, o que se traduz pelas tomadas de posições alternativas masculinas ou femininas: por vezes é o homem que é percebido como potente e forte e a mulher frágil e dependente, enquanto noutros casos a situação inverte-se e é uma mulher dominadora e castradora que se confronta com um homem fraco e submisso. Este duplo movimento pulsional é esperado mas é importante que haja uma ligação possível entre a libido e a agressividade. O investimento e a presença de uma terceira personagem podem acentuar o impacto edipiano da fantasmática. O cartão é estruturado no sentido do Édipo positivo: o homem e a mulher amam-se e o homem deseja ir bater-se com o seu rival para guardar aquela que ama. A valência feminina da problemática edipiana está também presente: ao alto à esquerda, num pormenor pouco figurado, há uma personagem feminina, muitas vezes percebida como parcialmente desnudada, que reactiva a 21
  • 22. rivalidade das duas mulheres pelo homem. O movimento de saída pelo homem pode ser, então, interpretado como significativo do desejo de encontrar esta outra mulher. A dupla conflitualidade da problemática edipiana é a atracção pela personagem do sexo oposto e a rivalidade com a personagem do mesmo sexo. Cartão 5 Conteúdo manifesto: Representa uma mulher de meia-idade, com a mão na maçaneta de uma porta, a olhar para o interior de uma sala. Esta mulher é representada entre o dentro e o fora. O dentro é figurado pelo interior de uma sala, que tem uma mesa, um ramo de flores, um candeeiro sobre uma mesa e, ao fundo, uma espécie de aparador sobre o qual está colocada uma pequena estante com livros. Conteúdo latente: Reenvia para uma imagem materna que penetra e olha, que não pré-julga sobre o registo conflitual no qual o sujeito se vai situar, pois as modalidades de relação à imagem materna são múltiplas. A mãe pode ser vivenciada como uma instância superegóica que vem surpreender uma cena transgressiva (o cartão reactiva a curiosidade sexual e os fantasmas da cena primitiva e a culpabilidade ligada à masturbação). Por outro lado, podem surgir fantasmas incestuosos ligados a uma imagem materna sedutora: mulher que mostra a perna nua por entre a racha da saia. No registo de uma problemática edipiana relativamente elaborada, diferenciam-se os conflitos expressos em termos de agressividade e de interditos, de desejo e 22
  • 23. culpabilidade, daqueles que remetem para uma cena de sedução reactivada no aqui e agora da aplicação. Num registo mais arcaico, em que não há suficiente interiorização do Superego, pode haver referência a uma imago materna que penetra e olha de um modo persecutório. As quantidades de energia pulsional agressiva permitem evocar uma vivência de intrusão, ou mesmo persecutória, na relação com a imagem materna. O olhar da mulher não será então integrado num sistema conflitual interno e as moções pulsionais agressivas, projectadas sobre a personagem figurada, arrastarão uma irrupção de representações maciças e uma deformação do material (“ela tem um olhar rancoroso”). Cartões 6 e 7 Estes cartões reenviam para as relações com as imagens materna e paterna no seio de uma problemática edipiana. A sua estruturação de diferença de sexos e gerações facilita pouco as associações regressivas. A aproximação dual que elas privilegiam pode dar lugar a manifestações de intensa angústia, quando o sujeito te dificuldade em se situar em relação a uma imagem parental sentida como perigosa, pela sua potência ou proximidade. 23
  • 24. Cartão 6BM Conteúdo manifesto: Representa um casal, um homem visto de frente, com um ar preocupado, e uma mulher idosa que olha para algures. Este é o primeiro cartão do TAT em que a diferença de gerações é figurada de um modo tão claro. Conteúdo latente: Remete para a proximidade mãe-filho num contexto de mal- estar. A diferença de gerações reenvia para o interdito da aproximação edipiana, devido ao facto das duas personagens não estarem frente a frente, dado que a mulher tem as costas viradas para o jovem. Num contexto edipiano é acentuado o interdito da proximidade: ”o rapaz deve deixar a mãe”. Os afectos e a tristeza (quando é reconhecida) remetem para um tema de luto, luto do pai com muita frequência, podendo esta evocação ser sustentada por um fantasma de parricídio. Se no cartão 5, no mesmo contexto edipiano, a relação com a imagem materna pode ser erotizada e interdita, o cartão 6BM é mais estruturado no sentido do interdito: a diferença de gerações é muito acentuada, a mulher afasta-se do homem e vem inscrever-se na proximidade mãe e filho uma representação de perda de objecto. Quando a problemática edipiana é suficientemente estruturante, a evocação de morte não engendra uma desorganização evidente uma vez que a ligação entre a agressividade e os afectos ternos é possível. É a tristeza do luto que eles partilham que aproxima os dois parceiros. Num registo mais arcaico de relação com a imagem materna, podem observar-se fantasmas de realização incestuosa que se traduzem pela ausência da percepção da diferença de geração, por estados de grande excitação ou de desorganização parcial 24
  • 25. através de temas de destruição ou de morte que dão conta do perigo de aproximação mãe-filho. Cartão 6GF Conteúdo manifesto: Representa um casal heterossexual. Uma jovem sentada no primeiro plano volta-se para um homem que se inclina para ela e que tem um cachimbo na boca. O material manifesto não é simétrico do cartão 6BM: se o interdito do incesto é fortemente encenado no cartão 6BM, ele é-o menos no cartão 6GF (não há diferença de gerações e postura das duas personagens; há aqui um movimento de encontro entre o homem e a mulher: o homem inclina-se para a mulher e ela volta-se para ele). Conteúdo latente: Este cartão remete para um fantasma de sedução. Põe à prova a capacidade de integrar a identificação feminina no seio de uma relação de desejo. Quando a problemática narcísica domina, há um sobreinvestimento do corpo, do ar ou da postura das personagens, a sua idealização ou, pelo contrário, a sua depreciação sem verdadeira possibilidade de elaboração do conflito pulsional. 25
  • 26. Cartão 7BM Conteúdo manifesto: Representa duas cabeças de homens, lado a lado. Um, “velho”, está virado para o outro, “jovem”, que está amuado. A diferença de gerações é marcada, mas não há aqui noção de imaturidade funcional de um dos parceiros. Conteúdo latente: Reenvia para a proximidade pai-filho num contexto de reticência do filho; os corpos estão excluídos. O conflito deverá desenvolver-se em torno de uma proximidade entre estas duas personagens, em termos de ternura e de oposição. A energia pulsional é mobilizada tanto no seio de movimentos agressivos como libidinais (a agressividade e a rivalidade predominam quase sempre). Contudo, quando uma proximidade mais terna é evocada, ela não remete só para a erotização da relação, mas pode testemunhar um apoio possível num “bom pai”, o que revela a resolução do conflito edipiano e do acesso à ambivalência: o pai pode ser um rival mas o amor de que ele é objecto permite ligar a agressividade sentida por ele. Por vezes, a ambivalência é difícil de elaborar: ou o confronto conflitual é evitado pelo recurso a uma relação especular (problemática narcísica dominante) ou então desencadeia o surgimento de fantasmas destrutivos. 26
  • 27. Cartão 7GF Conteúdo manifesto: É uma mulher com um livro na mão, inclinada para uma menina com expressão sonhadora, que segura um boneco nos braços. A diferença de gerações é acentuada pela presença da boneca. A imaturidade funcional caracteriza a posição da menina. Conteúdo latente: Reactiva a problemática das relações mãe-filha em duas dimensões: rivalidade e identificação; interacções precoces mãe-filha. Num contexto edipiano, a imagem pode dar origem a temas de iniciação e da identificação feminina. Uma das personagens é portadora de desejo: “a mãe inclina-se para a filha ara lhe contar coisas” e a filha volta-lhe as costas. Trata-se de um cenário clássico entre o desejo de saber, neste caso “a curiosidade” e a defesa contra esse desejo “À filha, isso não lhe interessa nada, ela pensa que preferiria ir lá para fora brincar e divertir-se com os amigos”. Interessa aqui a qualidade dos laços “mãe-filha”, que se traduz pela forma como o boneco é agarrado pela criança. A reactivação das relações precoces mãe-filha arrasta movimentos de projecção e deslocamento sobre a relação “menina-boneco”: os temas de queda podem ser interpretados em referência ao holding de Winnicott. Aqui, o que está em jogo é a capacidade de representar uma “mãe suficientemente boa”. 27
  • 28. Cartão 8BM Conteúdo manifesto: No primeiro plano está um rapaz adolescente, sozinho, com uma espingarda ao lado, de costas voltadas para a cena do segundo plano. Conteúdo latente: Reactiva as representações susceptíveis de serem relacionadas com a angústia de castração e/ou agressividade para com a imagem paterna. A personagem central possui, simultaneamente, atributos da infância e da idade adulta: o rapaz parece muito jovem mas está vestido como um homem, o que pode ser compreendido como uma condensação das identificações na adolescência. Colocam-se aqui duas questões importantes. Uma é a de perceber se, no registo dos processos identificatórios, o sujeito vai optar por uma posição activa através do tema de acidente de caça (utilizar a espingarda é, de facto, numa talvez demasiado breve síntese, mostrar-se capaz de tomar o lugar do pai por identificação) ou, pelo contrário, uma posição passiva, homossexual, figurada pela posição do homem estendido. A outra questão é perceber se no registo da problemática edipiana a agressividade e o amor permitem ou não a reparação da imagem paterna. A cena da operação condensa, ao mesmo tempo, os desejos parricidas e os fantasmas de castração que os engendram, no seio de uma culpabilidade edipiana. No entanto, pode ser também interpretada como cena de sedução homossexual (fantasma de penetração). Num contexto edipiano, é o desejo de tomar o lugar do pai, e o desejo concomitante de o matar, que domina a cena. Mas para além disso, aparece um outro aspecto da relação ao pai na dimensão reparadora para com este pai ferido e não morto. É a 28
  • 29. ambivalência que é fortemente solicitada na relação com a imagem paterna: o manejo da agressividade e da libido, ligação possível do amor e do ódio. Cartão 9GF Conteúdo manifesto: Duas personagens do mesmo sexo e da mesma geração. No primeiro plano, uma jovem, por trás e uma árvore, com objectos na mão, olha. No segundo plano, uma outra jovem corre, mais abaixo. Como pano de fundo, uma paisagem muitas vezes identificada como uma paisagem marítima. Conteúdo latente: Este cartão solicita fortemente uma problemática identitária, pela confusão das personagens e a telescopagem de papéis (a confusão de papéis é indicadora de graves perturbações ao nível da identidade). Para além desta problemática identitária, é a questão da identificação sexual que é posta em causa. O acesso a esta identificação feminina atesta as capacidades de conflitualização do sujeito. Num contexto edipiano, a problemática reenvia para a rivalidade entre duas mulheres, com introdução de uma personagem que não figura na imagem, “um jovem” (há uma rivalidade pelo amor do rapaz). Contudo, a relação de rivalidade entre duas mulheres remete para a rivalidade da filha com a sua mãe, o que arrasta uma modificação do conteúdo manifesto do material pela introdução de uma diferença de gerações. A mãe torna-se o representante superegóico dos interditos. Uma dimensão mais rara, mas que não deve ser negligenciada, é a que reenvia para a ambivalência na relação mãe-criança, não como objecto persecutório mas 29
  • 30. como um objecto que sustém. O olhar desempenha, então, um papel de suporte e de apoio em relação à segunda personagem que corre. Por vezes, o confronto com a relação entre as duas mulheres arrasta emergências agressivas facilitadas pelo material e susceptíveis de introduzir problemáticas mais arcaicas. A parecença entre as duas mulheres pode arrastar dificuldades para os sujeitos cuja identidade é vaga e frágil. As duas jovens mulheres, mal diferenciadas, são tomadas num sistema de identificação narcísica, com um evitamento total do conflito. Por outro lado, a paisagem marítima pode reactivar fantasmas de relações arcaicas perigosas ou até mortíferas, onde surgem temas de ameaça vital em primeiro plano. Os temas de destruição e de morte podem aparecer através da evocação de afogamento ou de tempestade. Cartão 10 Conteúdo manifesto: A proximidade num casal, do qual só são representados os rostos. Não há diferença de gerações mas a imagem é pouco clara quanto à idade e ao sexo das duas personagens. O carácter vago e sombrio do material e os contrastes negro/branco devem ser tidos em consideração. Conteúdo latente: Reenvia para a proximidade e expressão libidinal num casal. As personagens são representadas com uma parte dos rostos na sombra. Para que possa haver reconstrução da integridade destes rostos, é necessário que o sujeito seja capaz de os perceber e que tenha à sua disposição uma representação íntegra da imagem do corpo. As partes do rosto na sombra não podem ser reconstruídas e integradas numa representação completa por sujeitos que sofrem de angústia 30
  • 31. de fragmentação ou de desintegração. A ausência de uma figuração interna de um objecto total, torna possível a sua reconstrução a partir de um estímulo parcial. O material é ambíguo para que possa haver diferentes interpretações quanto ao sexo das personagens, que determina a identificação do sujeito a um casal heterossexual ou homossexual. A problemática pode remeter para uma aproximação libidinal numa relação heterossexual, onde pode haver reconhecimento da ligação sexual entre os dois parceiros ou defesas para lutar contra essa representação. O conflito pode aparecer na evocação da curiosidade sexual, sustentada por fantasmas da cena primitiva ou ligada às relações do casal parental. Quando o conflito edipiano não é estruturante, pode observar-se uma reactivação de fantasmas incestuosos, que se traduzem pela evocação de uma aproximação entre pai e filho. Num contexto de problemática narcísica, a diferença de sexos não é tida em conta e dá lugar a relações especulares: relação homossexual, busca de uma imagem de si ideal, negação da diferença. Podem também encontrar-se relações de suporte que evacuam para a dimensão sexual da proximidade e na qual o outro é investido como apoio indispensável. No caso das problemáticas psicóticas, há uma incapacidade do sujeito em distinguir personagens na sua integridade corporal. As qualidades particulares de sombra e de luz favorecem a confusão e a telescopagem dos papéis nos sujeitos com identidade frágil. 31
  • 32. Cartão 11 O cartão é pouco figurativo e mais ambíguo pois as representações humanas estão ausentes. O cartão é muito vago mas susceptível de oferecer uma estruturação perceptiva mínima. Conteúdo manifesto: É uma paisagem caótica, com vivos contrastes de sombras e de claridade na vertical. Alguns elementos mais estruturados como uma ponte, estrada, pormenor à esquerda (dragão ou serpente, etc.) permitem uma reorganização do material. Conteúdo latente: O cartão é angustiante, a angústia deve ser sentida como tal, e o seu não reconhecimento constitui um índice patológico em todos os casos. Evoca o combate contra a natureza, representada nos seus aspectos perigosos, o que remete para a evocação das relações com a mãe natureza, isto é, com a mãe arcaica. O cartão reactiva materiais psíquicos de ordem pré-genital, pelo que se espera encontrar relatos de fantasmas arcaicos, mesmo que as representações que deles dêem conta possam aparecer em termos elaborados. O cartão põe à prova a capacidade do sujeito elaborar a angústia pré-genital. Interessa perceber a capacidade do sujeito “mergulhar no material regressivo”, compor esse “mergulho regressivo”, emergir e construir uma paisagem relativamente organizada a partir de um material caótico, ao apegar-se apenas aos elementos mais estruturantes do material manifesto. Num contexto de funcionamento neurótico, o sujeito pode situar-se num sistema de secundarização efectiva dos fantasmas arcaicos: o deslocamento, a condensação e a 32
  • 33. simbolização permitem a construção de um relato que se assemelha ao relato do sonho. Cartão 12BG Conteúdo manifesto: É uma paisagem com árvores na margem de um riacho, com uma árvore e uma barcaça em primeiro plano. A vegetação e o plano de fundo são imprecisos. O grafismo é relativamente leve e claro. Conteúdo latente: Este cartão constitui um momento de apaziguamento em relação ao cartão precedente, ao convidar o sujeito a diversificar o leque das suas reacções sensoriais e afectivas. O aspecto figurativo e familiar do material actualiza as capacidades elementares de diferenciar o mundo interno do mundo externo e remete para uma actividade perceptiva conhecida, em referência com as “boas” experiências pré-genitais. É necessário que, na ausência de personagem na imagem, o sujeito possa reconhecer a ausência do objecto sem, todavia, temer a sua perda, ao manusear um espaço de representação que ocupe a cena mental, o que depende dos modos de elaboração da posição depressiva (os cartões 3BM, 12BG e 13B são úteis para estudar a posição depressiva). Num contexto edipiano, o cartão serve de suporte às representações de relações descontextualizadas, ternas ou erotizadas. São raras as imersões regressivas e projectivas (com a presença de objectos parciais persecutórios), testemunhas de perturbações da identidade, na parte menos estruturada do cartão. A parte figurativa do desenho oferece, aos sujeitos com disfuncionamentos psíquicos graves, um mínimo de apego possível ao “conhecido” e 33
  • 34. ao concreto, para permitir uma desconflitualização das representações e uma regulação do afecto. As polarizações depressivas e narcísicas são intensamente solicitadas através da reactivação de uma problemática de perda e de abandono, ou através da incapacidade em introduzir uma dimensão objectal. Os adolescentes mais velhos ou os jovens adultos são desestabilizados nestes modos neste cartão. Cartão 13B Conteúdo manifesto: É um rapazinho sentado na ombreira de uma porta, na soleira de uma cabana de tábuas separadas, figurando num vivo contraste de luz no exterior e de sombra no interior. Conteúdo latente: Reenvia para a solidão num contexto de precaridade do simbolismo materno. Os elementos fundamentais são a solidão pois trata-se de uma personagem só e a precaridade do simbolismo materno figurada pela casa feita de tábuas desunidas. Aqui, o que é posto em questão é a capacidade do sujeito estar só. É preciso perceber se o sujeito é capaz de subsistir na ausência do objecto e se pode elaborar a posição depressiva. A solidão e a imaturidade funcional podem levar a associações de fantasmas da cena primitiva, mas, é mais a dimensão depressiva e abandónica da relação mãe/criança que é solicitada de forma intensa. 34
  • 35. Sendo que esta imagem reactiva angústias de separação e de perda de objecto, espera-se que os afectos depressivos surjam e que sejam associados a representações de perda. Contudo, por vezes surgem defesas maníacas através de relatos organizados à volta da luta antidepressiva. Num contexto de relações arcaicas com a imagem materna, a precaridade do simbolismo materno (tábuas mal justapostas) serve de suporte para a projecção de uma imagem materna enfraquecida ou deteriorada, acompanhada ou não por mecanismos de reparação. Quando os desejos de reparação não são mobilizados, podem surgir fantasmas persecutórios ou destrutivos. Cartão 13MF Este cartão não é aplicado antes do 14-15 anos, dado o carácter cru do material manifesto. Conteúdo manifesto: No primeiro plano está um homem de pé com o braço diante do rosto. No segundo plano, está uma mulher deitada, com o peito desnudado. Conteúdo latente: Remete para a expressão da sexualidade e agressividade no casal. Interessa perceber em que medida a dimensão passional da relação heterossexual é percebida e pode ser traduzida através de um cenário “legível”. A sexualidade aparece na evocação da ligação do casal e a agressividade surge na eventual evocação de um crime passional. Do ponto de vista económico, são esperadas grandes quantidades de energia pulsional (representações e afectos maciços). Os temas de culpabilidade e remorso, relacionados com a expressão da sexualidade e da agressividade, mostram a 35
  • 36. oscilação entre o desejo, a libertação pulsional e a defesa em termos de interdito e de culpabilidade. O material pode ainda suscitar uma reactivação pulsional e fantasmática, que determina movimentos de inibição maciços e histórias restritivas. Noutros casos ainda, só a agressividade é desenvolvida, ou só os aspectos sexuais da relação são privilegiados. São aqui postas à prova as capacidades de ligação dos movimentos pulsionais agressivos pelos movimentos libidinais. Cartão 19 Conteúdo manifesto: Representa uma paisagem som uma casa sob a neve, ou uma cena marítima com um barco na tempestade, rodeados de formas espectrais e vagas. Os contornos entre o negro e o branco permitem uma delimitação psíquica entre dentro e fora. Conteúdo latente: Tanto o mar como a neve são referências à natureza que remetem para a imago materna. Reactiva uma problemática pré-genital na evocação de um continente e de um meio, que permitem a projecção do bom e do mau objecto. Incita ainda à regressão e à evocação de fantasmas fobogénicos. Pretende-se aqui perceber se o sujeito é capaz de organizar a separação entre o dentro e o fora e evocar um continente e um meio que permitam a projecção do bom e do mau objecto. Se ele consegue evocar as experiências positivas e negativas e assegurar a clivagem entre o bom e o mau objecto: guardar o bom no interior e expulsar o mau para o exterior. 36
  • 37. Quando os limites entre o dentro e o fora não são fiáveis, as representações de relações põem a tónica na intrusão, no persecutório, na destruição, na morte, o que remete para modalidades de funcionamento arcaico. Põem-se aqui à prova as capacidades de delimitação entre dentro e fora, pela introjecção do bom objecto e expulsão do mau objecto (Freud, 1925). Cartão 16 Conteúdo manifesto: Este cartão em branco, é completamente diferente dos outros. O seu carácter insólito obriga a uma nova instrução: “Até ao momento, mostrei-lhe imagens que representavam personagens ou paisagens, agora proponho-lhe este cartão que é o último. Pode contar-me a história que quiser.” Conteúdo latente: Reenvia para a forma como o sujeito estrutura os seus objectos privilegiados e às relações que com eles estabelece. A sua dimensão transferencial é intensificada uma vez que o material não é figurativo e se trata do último cartão a ser proposto. Este cartão é muito importante devido às dificuldades em o interpretar e à variedade de solicitações que implica. Decomposição Só depois de estudar tudo sobre o processo TAT é que foi possível criar uma metodologia séria e correcta. Esta metodologia está sintetizada na chamada folha de 37
  • 38. análise do TAT, que é um instrumento precioso para ajudar a identificar os procedimentos que o sujeito utilizou para construir a história. Mais do que o conteúdo, interessa analisar a forma das histórias. O TAT nasce inscrito na procura de identificação dos procedimentos de elaboração da história (mecanismos de defesa), o que permite codificar e situar o sujeito na neurose, psicose ou patologia borderline. A análise dos procedimentos e problemáticas do sujeito, que permite apreender o trabalho psíquico do sujeito, comporta dois tempos: o primeiro é a análise cartão a cartão e o segundo é a síntese. Relativamente à análise cartão a cartão, faz-se a codificação dos procedimentos de elaboração do discurso com a ajuda da folha de decomposição, que remete para as modalidades de tratamento dos conflitos reavivados pelo material. Ao fazer isto, vai-se referenciar quais as problemáticas abordadas pelo sujeito face aos cartões. O segundo momento, o da síntese das informações obtidas, consiste no reagrupamento na folha de decomposição dos diferentes procedimentos de elaboração do discurso utilizados pelo sujeito. Aqui, vai-se apreciar a qualidade do processo associativo (relações entre representações, afectos e mecanismos de defesa). Depois disto, há que destacar as modalidades de funcionamento psíquico em jogo na experiência TAT e propor hipóteses de organização psíquica do sujeito. A codificação e o agrupamento dos procedimentos de elaboração do discurso são facilitados pela utilização da folha de decomposição. Em qualquer organização psíquica, quer ela seja normal ou patológica, existe sempre a actividade defensiva. Widlöcher define os mecanismos de defesa como “um conjunto de operações cuja finalidade é reduzir um conflito intrapsíquico ao tornar inacessível à experiência consciente um dos elementos do conflito. Os mecanismos de defesa serão os diferentes tipos de operação nos quais se pode especificar a defesa, isto é, as formas clínicas destas operações defensivas.” A folha de decomposição surgiu em 1958 e foi sofrendo modificações. É um instrumento de trabalho que pode ser regularmente modificado, tendo em conta as suas imperfeições e a evolução da clínica e das suas interrogações. A folha de decomposição serve de grelha para apreciar e considerar as particularidades de construção de cada uma das histórias. Dividida em quatro grandes categorias de 38
  • 39. procedimentos (séries A, B, C e E), ela só é preenchida no final da análise do protocolo inteiro. 39
  • 40. A Série A As séries A e B agrupam os procedimentos que remetem para processos de elaboração do discurso susceptíveis de serem sustentados por mecanismos de defesa neuróticos. Testemunham uma conflitualização intrapsíquica, o que dá conta de um espaço interno constituído, claramente diferenciado, e que permite o desenrolar e a dramatização dos conflitos. Isto significa que estes procedimentos implicam a constituição de um aparelho psíquico evoluído (Id, Ego e Superego diferenciados) com capacidade de contenção dos conteúdos. A série A e B dão conta do funcionamento normal e neurótico. Num protocolo ideal, deveriam encontrar-se funcionamentos de A1 e B1. 40 PROCEDIMENTOS DA SÉRIE A (Controlo) A0 Conflitualização intrapessoal A1 1. História construída próxima do tema banal. 2. Recurso a referências literárias, culturais, ao sonho. 3. Integração de referências sociais e do senso comum. A2 1. Descrição com apego aos pormenores (alguns raramente evocados), incluindo expressões e posturas. 2. Justificação das interpretações através desses pormenores. 3. Precauções verbais. 4. Afastamento temporo-espacial. 5. Precisões numéricas. 6. Hesitações entre interpretações diferentes. 7. Vai e vem entre a expressão pulsional e a defesa. 8. Mastigação, ruminação. 9. Anulação. 10. Elementos de tipo formação reactiva (limpeza, ordem, ajuda, dever, economia, etc.). 11. Denegação. 12. Insistência no fictício. 13. Intelectualização (abstracção, simbolização, título dado à história em relação com o conteúdo manifesto). 14. Alteração brusca de direcção no curso da história (acompanhada ou não de pausa no discurso). 15. Isolamento de elementos ou personagens. 16. Grande pormenor e/ou pequeno pormenor evocado e não integrado. 17. Acento inscrito nos conflitos interpessoais. 18. Afectos expressos a minima.
  • 41. A série A inventaria os procedimentos de controlo (dos afectos, da fantasia e do pensamento). Esta série subdivide-se em duas sub-séries: por um lado, a sub-série A1 tem procedimentos de controlo adaptativos e normativos (de elaboração) que servem para construir a história; por outro lado, os procedimentos da sub-série A2 não servem para construir a série mas sim para o sujeito se defender (já funcionam como mecanismos de defesa e alguns deles são mecanismos da neurose obsessiva). A11 – História construída próxima do tema banal O sujeito mantém-se a uma grande distância das solicitações latentes do cartão, isto é, das representações/ afectos que estas poderiam suscitar. No entanto, esta distância não impede a evocação de um conflito que permanece em ressonância com o material. Cartão 1 – Dificuldade do rapaz em tocar o instrumento. Cartão 3BM – “Um homem triste.” A12 – Recurso a referências literárias, culturais, ao sonho É a tendência do sujeito para abordar a situação conflitual ao abrigo de uma referência literária, cultural ou onírica. Estas referências são formas implícitas do sujeito falar de si. Cartão 2 – “A rapariga no campo faz-me lembrar “A Cidade e as Serras”.” Cartão 3BM – “Um rapaz que acabou de ler um capítulo de um livro de aventuras e está a imaginar as cenas do livro de Jack London.” A13 – Integração de referências sociais e do senso comum O sujeito não fala sendo ele próprio mas utilizando o senso comum. Aborda a situação conflitual através de estereótipos sociais, ou seja, ao apelar ao senso comum, tenta encontrar uma solução para o conflito evocado. Cartão 1 – “Um rapazinho tinha combinado ir andar de bicicleta com os amigos, mas o pai obrigou-o a ficar em casa a estudar uma partitura. Ele está chateado mas pensa que quanto mais cedo e mais depressa estudar, mais depressa pode ir brincar.” 41
  • 42. A2 Os procedimentos A21 e A22 marcam o investimento no quadro perceptivo. Se o apego à realidade acontecer de vez em quando é natural, mas se as histórias forem construídas com base nisto, há aqui algo de demasiado perceptivo. É normal que nesta prova seja necessário algum apego ao conteúdo manifesto, pois o TAT põe em jogo os mecanismos perceptivos, mas é importante distinguir os diferentes modos de apreensão entre si, pois é da sua qualidade que depende a distinção entre campo da neurose e os outros registos de funcionamento. O critério essencial consiste em saber se a descrição do conteúdo manifesto serve de base para a conflitualização e dramatização. Assim, considera-se um A2 sempre que a descrição do material a partir de pequenos pormenores seja retomada num segundo tempo, no seio de uma conflitualização efectiva entre a defesa e a emergência de representações e afectos. A21 – Descrição com apego aos pormenores (alguns raramente evocados), incluindo expressões e posturas O apego aos pormenores reenvia para a utilização da realidade externa para lutar contra as emergências da realidade interna. Cartão 1 – “O pai ofereceu um violino ao rapaz e agora ele está curvado, com os olhos semi-cerrados, sentado com as mãos a segurar a cabeça.” Em cada cartão é possível inventariar os grandes pormenores (D) e os pequenos pormenores (Dd) mais frequentes que remetem para o conteúdo manifesto do cartão: Cartão 1 D: Um rapaz, um violino. Dd: Uma mesa, um arco e uma folha de partitura. Cartão 2 D: Três personagens: um homem, duas mulheres. Dd: Livro, charrua, cavalo, gravidez da personagem encostada à árvore e eventualmente a paisagem de fundo. Cartão 3BM D: Uma personagem. Dd: Uma banqueta, um objecto no chão. Cartão 4 D: Duas personagens em primeiro plano: um homem, uma mulher. Dd: Uma personagem no segundo plano. 42
  • 43. Cartão 5 D: Uma personagem, uma mulher. Dd: Todo o mobiliário, jarra com flores, livros, estante, mesa, candeeiro, aparador. Cartão 6BM D: Duas personagens: um homem, uma mulher. Dd: O chapéu que o homem segura, o tecido que a mulher segura. Cartão 6GF D: Duas personagens: um homem, uma mulher. Dd: O cachimbo, uma mesinha. Cartão 7BM D: Duas personagens: dois homens. Dd: A indolência do jovem. Cartão 7GF D: Duas personagens: uma mulher, uma menina e um boneco. Dd: Uma mesa, um livro, uma poltrona, o olhar da menina, a posição da boneca nos braços da menina. Cartão 8BM D: Quatro personagens: um jovem em primeiro plano, um homem deitado em segundo plano, dois homens debruçados sobre ele. Escalpelo, espingarda. Dd: Luminosidade. Cartão 9GF D: Duas personagens: duas jovens. Dd: Objecto que a personagem do primeiro plano segura, a árvore, vestidos, as ondas, o mar. Cartão 10 D: Duas personagens. Dd: Contraste branco e negro, a mão. Cartão 11 D: Todos os elementos da paisagem, precipício, ponte, parede, estrada, rochedos, grupo central, dragão, queda de água. Dd: Não há Dd. Cartão 12BG D: Uma árvore, um barco, um curso de água. Dd: Tonalidade clara. Cartão 13MF D: Duas personagens: um homem com o braço diante da cara, uma mulher desnudada, uma cama. Dd: O braço da mulher descaído, os livros, uma mesa de cabeceira, um candeeiro, um quadro na parede, uma cadeira. Cartão 13B D: Uma personagem: um rapaz e uma casa. Dd: Pés descalços, obscuridade do interior da casa, casa feita com tábuas desunidas. 43
  • 44. Cartão 19 D: Barco, casa, fantasmas, chaminé. Dd: Janelas iluminadas, sombras, ondas. Cartão 16 D: Uma folha branca. Dd: Não há Dd. A22 – Justificação das interpretações através desses pormenores O A22 vem sempre acompanhado pelo A21. Estas justificações permitem racionalizar ou recusar uma interpretação. Cartão 1 – “O rapaz está triste porque está curvado, sentado com as mãos a segurar a cabeça, …” Cartão 2 – “A rapariga com uns livros… Provavelmente não é de cá.” A23 – Precauções verbais Expressões como “talvez”, “diríamos que”, “podemos imaginar que”, “tenho a impressão de que” mostram o controlo do sujeito em não se entregar à projecção e à fantasia. Cartão 10 – “…Não sei… Diríamos duas personagens idosas… têm ar de se acalmar… é mais de se consolarem… Poder-se-ia crer que… aconteceu uma desgraça na família… perderam uma pessoa querida…” A24 – Afastamento temporo-espacial Qualquer tendência para situar as personagens ou o relato mais ou menos longe no tempo e no espaço. Cartão 2 – “É uma cena que se passa numa quinta nos finais do século XIX. A filha do dono da quinta passeia-se.”  Há aqui um afastamento do tempo Cartão 3BM – “Um homem está preso. Foi condenado à morte numa prisão do Sudão.”  Há aqui uma angústia de morte que é afastada pelo sujeito 44
  • 45. A25 – Precisões numéricas As precisões numéricas como datas, idade, etc., tendem para o controlo dos afectos. Cartão 1 – “É uma criança com 6 anos.” Cartão 2 – “É um campo agrícola. O homem já fez 12 regos na terra.” A26 – Hesitações entre interpretações diferentes Qualquer indecisão na escolha, desenvolvimento e/ou solução do tema. A presença deste procedimento, que tem a ver com a dúvida, aparece muito na neurose obsessiva. Cartão 1 – “Então é preciso encontrar uma interpretação desta imagem. Pode ser ou uma criança ajuizada face ao trabalho a realizar, ou aquele que está diante de um trabalho não acabado, ou a espera de um professor, ou a saída.” A27 – Oscilação (vai e vem) entre a expressão pulsional e a defesa Este procedimento é característico da neurose obsessiva e mostra o conflito neurótico entre a agressividade e a defesa da agressividade através de mecanismos como o isolamento, a denegação, a anulação, o deslocamento, etc. Cartão 8BM – “Dir-se-ia que se opera alguém... Dir-se-ia que se opera alguém (tom um pouco inquieto) … Isto não me inspira nada mais… uma operação. Não se trata, de qualquer forma, de um pôr no caixão, não é verdade? É mais, na minha opinião, tratamentos… uma operação… Alguém que está deitado e que está a ser tratado… O que eu não entendo é este homem vestido de maneira diferente e que não olha, manifestamente muito triste.” A28 – Mastigação, ruminação Consiste em voltar continuamente sobre os mesmos elementos do tema, sem que haja verdadeiramente progressão no relato. Este procedimento pode acompanhar o precedente e é também característico da neurose obsessiva. 45
  • 46. Cartão 5 – “É uma mulher que entra num quarto de dormir de um dos seus filhos… Ainda que a mesa não seja uma mesa de quarto de dormir… Ou então uma mulher que vem avisar que o jantar está servido ou que entra no escritório do seu marido, que recebe uma visita… Ainda que a mesa não seja uma mesa de escritório. O candeeiro não é um candeeiro de sala, é um candeeiro de quarto… há muito poucos livros nas estantes para que seja um gabinete de trabalho… Isto pode ser, pelo contrário, alguns livros que se têm no quarto. A29 – Anulação Declarar nulo e não surgido o conflito evocado. A anulação apaga o representante pulsional. Cartão 3BM – “É um rapaz muito triste. Não, não é isso! Ele está a jogar às escondidas.” A210 – Elementos de tipo formação reactiva (limpeza, ordem, ajuda, dever, economia, etc.) Qualquer elemento do discurso que dá conta da reversão da pulsão no seu contrário: ajudar/ opor-se ou fazer mal, arrumar/ sujar, etc. Cartão 5 – “a porteira acaba de subir a casa de Madame Durand para a avisar que o seu rapazinho acaba de cair na rua e magoar-se. Ela aproveita para dar uma olhadela no apartamento que está limpo e arrumado. A mãe desce, e só será um falso alarme.” A211 – Denegação Ao formular um dos seus desejos, sentimentos ou pensamentos, o sujeito continua a defender-se deles ao negar que eles lhe pertencem. Cartão 1 – “Este miúdo não está nada chateado com o pai por ele o ter obrigado a tocar violino.” Cartão 3BM – “Esta imagem não me provoca nenhuma emoção.” 46
  • 47. A212 – Insistência no fictício Atitude de distanciamento que consiste em avançar o aspecto irreal do material ou da história, ao transformar qualquer situação conflitual em cena de filme, cartaz, sonho ou pesadelo, etc. Cartão 4 – “São actores de um filme. São personagens dramáticas de uma peça de Shakespeare.” A213 – Intelectualização (abstracção, simbolização, título dado à história em relação com o conteúdo manifesto) Este é um mecanismo que pode secar os afectos e a vida mental do sujeito. Cartão 1 – “O rapaz está concentradíssimo.”  o sujeito enfatiza demais o pensamento racional Cartão 3BM – “Faz lembrar o suicídio. O filósofo francês dizia que o suicídio...” Abstracção Cartão 6BM – “Isto poderia intitular-se… “À cabeceira de alguém” ou “a espera”… “a espera de alguém”… Vê-se pela expressão da personagem masculina que se passa qualquer coisa de grave… ele em um chapéu na mão… toda a sua atitude reflecte um acontecimento dramático.”  Título A214 – Alteração brusca de direcção no curso da história (acompanhada ou não de pausa no discurso) Depois de ter evocado um primeiro tema em relação com as solicitações latentes do cartão, o sujeito dá uma segunda interpretação sem relação aparente com a precedente, ao denegar o laço que existe entre os dois temas, embora estes sejam sustentados pelo mesmo fantasma. Cartão 8BM – “Ali atrás há dois médicos que operam um rapaz que imagina como é que vai ser a operação. Isto dá mais ar de o assustar, porque o outro tem ar de sofrer na mesa. Olha, há uma espingarda ali.” 47
  • 48. A215 – Isolamento de elementos ou personagens Consiste em negar ou ignorar a relação entre os elementos e/ou as personagens da imagem. Frequentemente, o isolamento de personagens serve de recalcamento das representações edipianas e/ou sexuais que são fortemente induzidas. Este procedimento é característico da neurose obsessiva. Cartão 2 – “Não vejo relação entre as personagens… nomeadamente a rapariga que segura… livros, não sei o que é que ela tem na mão. Ali, está um trabalhador com, imagino, um cavalo de tracção e uma charrua.” A216 – Grande pormenor (D) e/ou pequeno pormenor (Dd) evocado e não integrado Pormenores percebidos e não utilizados na elaboração da história. Os mais frequentes são o “revólver” no cartão 3BM e a “espingarda” no cartão 8BM. Cartão 3BM – “Uma pessoa que tem um ar abatido… ao pé de uma cama, ela poisa o seu braço direito estendido sobre a cama e pousa a cabeça na concavidade do cotovelo. É uma mulher. Agora… Há um objecto pequeno à esquerda, mas não vejo o que é. Não vejo a razão da tristeza, mas a atitude está lá.” Cartão 8BM – A pessoa diz “Está ali uma espingarda!” mas, ao contar a história, não menciona a arma. A217 – Acento inscrito nos conflitos interpessoais O conflito incide nas exigências internas contrárias: entre um desejo e uma exigência moral ou entre dois sentimentos contraditórios em que se confrontam com o interdito. Cartão 3BM – “É uma pessoa que está completamente desesperada, que está no chão, um braço num sofá, que está a chorar… e ao lado dela está uma pistola e ela pergunta-se se se deve matar ou não… ela não sabe o que deve fazer. Eu penso que ela não se matará, que se vai levantar e retomar coragem.” Cartão 2 – “É um campo agrícola. O homem já fez 12 regos na terra.” 48
  • 49. A218 – Afectos expressos a mínima Este procedimento surge em histórias onde os afectos estão altamente controlados, mesmo que se trate de temas que comprometam potencialmente uma carga afectiva importante (tema de fim, perda, destruição, etc.). Cartão 1 – “O pai deu-lhe o violino, ele tentou tocar mas não conseguiu. Está ligeiramente aborrecido.” Cartão 13MF – “É um homem que encontra a sua mulher morta. Ele está desgostoso. PROCEDIMENTOS DA SÉRIE B (Labilidade) B0 Conflitualização interpessoal B1 1. História construída à volta de uma fantasia pessoal. 2. Introdução de personagens que não figuram na imagem. 3. Expressões flexíveis e difundidas. 4. Expressões verbalizadas de afectos variados, modulados pelo estímulo. B2 1. Entrada directa na expressão. 2. História com ressaltos. Fabulação longe da imagem. 3. Acento inscrito nas relações interpessoais. Relato em diálogo. 4. Expressão verbalizada de afectos fortes ou exagerados. 5. Dramatização. 6. Representações contrastadas. Alternância entre estados emocionais opostos. 7. Vai e vem entre desejos contraditórios. Fim com valor de realização mágica do desejo. 8. Exclamações, comentários, digressões, referências/ apreciações pessoais. 9. Erotização das relações, invasão da temática sexual e/ou simbolismo transparente. 10. Apego aos pormenores narcísicos com valência relacional. 11. Instabilidade nas identificações. Hesitações sobre o sexo e/ou idade das personagens. 12. Acento inscrito numa temática do estilo: ir, correr, dizer, fugir, etc. 13. Presença de temas de medo, de catástrofe, de vertigem, etc., num contexto dramatizado. 49
  • 50. A Série B Nos procedimentos da série B, ainda que tendo em conta o conteúdo manifesto e as solicitações latentes do cartão, o relato elaborado pelo sujeito corresponde a uma criação mais pessoal, na qual o sujeito introduz elementos originais. Nestes procedimentos há um abaixamento do controlo, pelo que as histórias são mais atractivas e coloridas de afectos e representações. A série B é a série dos procedimentos da labilidade e divide-se em duas sub- séries: os procedimentos B1 são normativos e os procedimentos B2 são procedimentos de labilidade mais intensos sendo que alguns deles são mecanismos que se encontram na neurose histérica. B11 – História construída à volta de uma fantasia pessoal Este é um procedimento que remete para a projecção. Aqui o sujeito fantasia mais do que no procedimento A11. Cartão 1 – “Esta criança, que sente em si um gosto pela música, tem o pai e o tio que vêm tocar numa reunião familiar. Esta criança está perturbada. Ele tem dons, é filho e neto de músicos. Quando toda a gente partiu, ele sentou-se diante do violino sem ousar tocar-lhe. Pensa e quer tornar-se um grande virtuoso. Diz-se: “Aqui está, encontrei a minha vocação!” Fala disso com os pais e pede-lhes para ter lições. Os pais ficam comovidos e felizes.” Cartão 2 – “São universitários fartos da vida que levam. Povoaram uma aldeia na Beira Baixa e constituíram uma comunidade.” B12 – Introdução de personagens que não figuram na imagem Qualquer referência a uma personagem que não esteja representada ao nível do conteúdo manifesto do cartão. Este procedimento atesta a instalação do conflito neurótico. Cartão 1 – “O miúdo está com o violino no quarto. Foi o pai que lho deu.” 50
  • 51. Cartão 5 – “É um interior burguês e a criada entra e surpreende-o no salão, não, na sala de jantar… desculpe… a sua jovem patroa numa conversa com um jovem… é tudo… ela tem um ar chocado. B13 – Expressões flexíveis e difundidas Quando, ao longo de uma narrativa, o sujeito o sujeito é capaz de tomar diversas posições, diversos papéis, mantendo uma identidade estável. Este procedimento dá conta da flexibilidade do funcionamento psíquico do sujeito. Cartão 4 – “Temos aqui uma ruptura. Um homem vem anunciar à sua amante que a vai deixar e esta, desesperada, agarrando-se a todo o passado em comum, àquilo que foi a sua felicidade, tenta retê-lo. Mas a resolução do homem está tomada, ele não se deixará comover com os seus lamentos e deixá-la-á.” B14 – Expressões verbalizadas de afectos variados, modulados pelo estímulo Os afectos expressos estão em relação com as solicitações latentes do cartão e dão conta da associação possível entre afectos e representações. Há aqui uma labilidade emocional e afectiva (é o contrário do afecto rígido). Cartão 1 – “É um rapazinho decepcionado… mas o pai arranja-lhe um professor… ele fica mais animado...” Cartão 3BM – “É uma mulher que chora porque acaba de perder um ente querido. Ela encontra-se só com o seu desgosto, só com as suas lembranças e a imaginar como é que ela vai poder continuar a viver sem aquele ser, ao qual estava tão ligada. Com a ajuda do tempo, ela conseguirá recompor-se e retomar de novo as suas ocupações, mas a recordação ficará gravada na sua memória para sempre.” B21 – Entrada directa na expressão Este procedimento é marcado pela precipitação. Revela a impulsividade do sujeito e a grande identificação dele, quer à personagem, quer à situação. Cartão 2 – “É uma rapariga desejosa de sair do campo. Está farta daquela vida.” Cartão 4 – “É um casal à beira da separação.” 51
  • 52. B22 – História com ressaltos. Fabulação longe da imagem Consiste em relatos longos, com muitas sequências até ao desenrolar final. Acontece em situações em que o sujeito tem prazer em contar a história e gosta de dar nas vistas. Cartão 4 – “É um casal à beira da separação, até que há um dia em que acaba mesmo. Ele está farto dos ciúmes dela. Vai ter com um amigo, vão viajar num veleiro até Espanha, onde se divertem muito.”  Isto já não tem nada a ver com a imagem. B23 – Acento inscrito nas relações interpessoais. Relato em diálogo Ao contrário do procedimento A217, o conflito não implica o pensamento do sujeito mas é encenado através da relação entre as personagens (que se falam e mantêm diálogos). Os sujeitos que recorrem a este procedimento são pessoas que vivem tão intensamente as situações que as relatam em diálogos. Cartão 2 – “A rapariga passeia no campo e vê um casal a trabalhar. Vai ter com a mulher e começa a falar com ela...” Cartão 4 – “É uma mulher que discute com o marido e diz-lhe: “Suplico-te, não te vás embora! Peço-te desculpa pelo que te disse há pouco…” Mas ele, maldosamente diz-lhe: “É tarde demais, está tudo acabado!”” B24 – Expressão verbalizada de afectos fortes ou exagerados O afecto expresso de uma forma um pouco teatral ocupa, por vezes, o lugar e o espaço da representação e, em qualquer caso, acompanha-a. Cartão 3BM – “É uma pessoa que está muito aflita, com palpitações. Sente-se tão mal que até pensa que pode morrer.” Cartão 4 – “O homem já não aguenta a mulher. Não a suporta!” B25 – Dramatização Narrativa onde o sujeito sente prazer em encenar acontecimentos, relações entre as personagens, de uma forma mais ou menos teatral. Na neurose histérica há sempre uma dramatização fortíssima. 52
  • 53. Cartão 4 – “A mulher está aos gritos a dizer que ele não a pode deixar… Diz-lhe que há 30 anos que estão juntos, que têm filhos e que não se podem separar… desfalece...” B26 – Representações contrastadas. Alternância entre estados emocionais opostos Estes procedimentos mostram a passagem, mais ou menos brusca, entre imagens, temas e/ou afectos, cuja oposição manifesta traduz a labilidade do funcionamento mental (neurose histérica). Cartão 4 – “A mulher é rica e gosta dele. Ele, por ser pobre, acha que nunca vai ser possível terem uma relação socialmente aceite.” Cartão 6BM – “O filho tenta fazer as pazes com a mãe, mas ela, que é má, não aceita para o fazer sofrer.” B27 – Oscilação (vai e vem) entre desejos contraditórios. Fim com valor de realização mágica do desejo Consiste na oscilação entre a expressão do desejo e a defesa: a defesa refere-se à expressão do desejo libidinal (Id) interdito pelo Superego. O desenrolar responderá ao princípio do prazer – à omnipotência do desejo e não ao princípio da realidade. Cartão 1 – “Aqui, é um rapaz que queria muito tocar violino, que deve ter tido um choque, ficou deprimido e não quis tocar mais. Mas ele tem ainda vontade, não pode, é mais forte do que ele, mas no fundo ele tem vontade de tocar. No fim, isto conclui-se que ele vai com certeza tocar e que será feliz.” Cartão 2 – “A filha do dono da quinta vive na cidade, mas sempre que vai à quinta tenta ir ver o rapaz de quem sempre gostou. Como todos são contra, há sempre uma velha criada que anda atrás dela para permitir que eles se envolvam devido à diferença social entre eles. Mas o rapaz vai-se embora e, um dia, volta rico. Assim, já poderão ser felizes sem impedimentos.” 53
  • 54. B28 – Exclamações (1), comentários, digressões (2), referências/ apreciações pessoais (3) Enquadra-se aqui (1) qualquer manifestação afectiva (alegria, surpresa, prazer/ desprazer) a propósito do material, ou (2) qualquer observação “ao lado” da prova que mostra a necessidade do sujeito fugir à ansiedade suscitada pelo exame ou por um determinado cartão, ou ainda (3) qualquer comparação, explícita e pontual, entre a situação evocada e a própria experiência do sujeito. Cartão 5 – “Esta é uma pessoa adulta que entra no quarto de uma criança, por inquietação, curiosidade. Ela tenta ver rapidamente se tudo vai bem. E depois, ela vai fechar a porta, após ter reparado neste ramo de flores pessoal, que não lhe era destinado. É um pouco um segredo entre a criança e ela. Quando a minha avó entra no meu quarto ela exaspera-me [ri].”  Comentários, digressões/ referências pessoais/ apreciações pessoais Cartão 11 – “Oh! Meu Deus! Quadro fantástico! É um animal pré-histórico, não sei qual. Restos de um castelo-forte do outro lado. Há uma batalha com os homens e os animais monstruosos. Eles acabarão por triunfar.”  Exclamações B29 – Erotização das relações, invasão da temática sexual e/ou simbolismo transparente Na evocação das relações interpessoais, a tónica é posta de modo privilegiado na sexualidade e no erotismo, mesmo nos cartões que, pela sua construção, não convidam nada à evocação deste tipo de problemática. No simbolismo transparente o sujeito não fala explicitamente na erotização mas dá sinais de que a erotização está presente. Um dos sintomas da neurose histérica é a erotização das relações. Cota-se B29 se a erotização for socializada. Caso contrário, se a linguagem for mais crua, cota-se E. Cartão 2 – “Curioso como os esquemas de má literatura… É verdade que a qualidade plástica destas imagens… Podemos imaginar esta jovem de férias, virgem, perturbada pela virilidade deste homem. O camponês revela-lhe o seu amor, a mulher ficará muito ciumenta. Felizmente as férias acabaram e tudo entra na ordem.” Cartão 5 – “É uma mãe que entra no quarto do seu filho, à noite, já muito tarde, porque ela pensa ter ouvido um barulho no quarto dele e encontra-o a ler um livro em voz alta. Fica muito surpreendida que o filho fica até tão tarde a ler poesias. O filho 54
  • 55. continua a fazer isso durante vários anos, até que ele ultrapassa a idade do romantismo e torna-se… um professor.”  Simbolismo transparente Cartão 6GF – “O presidente do conselho de administração dá ordens à sua secretária. Ele é muito bruto e ela não gosta da sua forma rude de dar ordem mas teve sempre um fascínio pelo seu cachimbo de pau-santo.”  Simbolismo transparente B210 – Apego aos pormenores narcísicos com valência relacional O sujeito dá uma importância particular às qualidades físicas e estéticas dos protagonistas, que ele conota positiva ou negativamente: corpo, vestuário, aparência, etc., num contexto de relações objectais. Cartão 2 – “É uma rapariga que se passeia no campo e que está a observar as costas musculadas do rapaz.”  B29 e B210 Cartão 8GF – “É uma mulher que está em casa, sozinha e aborrecida. Vestiu uma camisa nova que comprou e está a ver-se ao espelho para ver se está bonita porque foi convidada para sair.” B211 – Instabilidade nas identificações. Hesitações sobre o sexo e/ou idade das personagens Consiste na passagem rápida de uma personagem para outra, sem que se possa determinar a que personagem o sujeito se identifica preferencialmente. O sujeito hesita quanto à identidade sexual ou à idade das personagens. Este procedimento é característico do funcionamento histérico (labilidade forte das identificações). Cartão 10 – “Michel e Jeanne são um casal de uns cinquenta anos. Uma grande afeição e uma grande cumplicidade parece uni-los, mesmo nos momentos difíceis. Michel parece ser um marido protector e Jeanne está feliz por poder apoiar-se e repousar-se nele.”  Chega-se ao final sem perceber se o sujeito se identifica mais com o homem ou com a mulher. B212 – Acento inscrito numa temática do estilo: ir, correr, dizer, fugir, etc., num contexto dramatizado Acento posto num “agir corporal”, num movimento um pouco teatral e a maior parte das vezes erotizado. 55
  • 56. Cartão 2 – “É uma rapariga que foi passar férias com as amigas. Depois vai passear sozinha e vê um homem semi-nu. Excitadíssima vai chamar as amigas para que elas também o vejam.”  Movimento e acção B213 – Presença de temas de medo, de catástrofe, de vertigem, etc., num contexto dramatizado Este procedimento associa, simultaneamente, o item B24 e o item B25. O pôr em primeiro plano afectos fortes e dramatizados está ao serviço do recalcamento de representações inconscientes. Cartão 3BM – “Uma rapariga descobriu que está grávida. Ela está em pânico porque já sabe que a vão pôr fora de casa.” Cartão 11 – “Esta cena passa-se numa serra. Um grupo de pessoas foi fazer montanhismo mas, a certa altura, houve um derrubamento e instalou-se o pânico. Começam então todos a gritar e a fugir.” Cartão 11 – “A noite tinha qualquer coisa de impenetrável… de petrificante…Estes magotes de rochedos… davam uma impressão de terror… estava sombrio, muito sombrio… e só o ruído das aves de rapina… quebrava esse silêncio implacável.” 56
  • 57. 57 PROCEDIMENTOS DA SÉRIE C (Evitamento do conflito) C/Fo 1. Tempo de latência inicial longo e/ou importantes silêncios intra-relato. 2. Tendência geral à restrição. 3. Anonimato de personagens. 4. Motivos dos conflitos não indicados, relatos banalizados a todo o custo, impessoais, colagem. 5. Necessidade de questionar. Tendência recusa. Recusa. 6. Evocação de elementos ansiogénicos, seguidos ou precedidos de interrupções do discurso. C/N 1. Acento inscrito na vivência subjectiva (não relacional). 2. Referências pessoais ou autobiográficas. 3. Afecto-título. 4. Postura significante de afectos. 5. Acento posto nas qualidades sensoriais. 6. Insistência na demarcação dos limites e dos contornos. 7. Relações especulares. 8. Pôr em quadro. 9. Críticas de si. 10. Pormenores narcísicos. Idealização de si. C/M 1. Sobreinvestimento da função de anáclise do objecto. 2. Idealização do objecto (valência positiva ou negativa). 3. Piruetas, viravoltas. C/C 1. Agitação motora. Mímicas e/ou expressões corporais. 2. Perguntas feitas ao clínico. 3. Críticas do material e/ou da situação. 4. Ironia, escárnio. 5. “Piscar de olho” ao clínico. C/Fa 1. Apego ao conteúdo manifesto. 2. Acento inscrito no quotidiano, no factual, no concreto. 3. Acento inscrito no fazer. 4. Apelo a normas exteriores. 5. Afectos de circunstância.
  • 58. A Série C A série C trata dos mecanismos de evitamento do conflito e tem a ver com os estados-limite. Divide-se em várias sub-séries: C/Fo (fobia), C/N (centração narcísica), C/M (depressão vs. mania), C/C (comportamento) e C/Fa (inibição; factual). Todos os procedimentos da série C podem aparecer em modalidades de funcionamento psíquico variadas. C/Fo Na sub-série C/Fo, os procedimentos revelam arranjos fóbicos, onde dominam o evitamento e a fuga. A associação com os procedimentos da série A e/ou da série B assinala a natureza neurótica do conflito. Em pequenas quantidades, estes procedimentos permitem o prosseguimento do relato (as representações e afectos vão reaparecer sob a forma de retorno do recalcado). As narrativas elaboradas mantêm uma certa espessura simbólica, uma certa ressonância fantasmática em relação com as solicitações latentes do cartão. Contudo, estes procedimentos não têm significado diagnóstico unívoco e podem dar conta de outras modalidades de funcionamento para além das neuróticas. C/Fo 1 – Tempo de latência inicial longo e/ou importantes silêncios intra-relato Incluem-se neste procedimento os relatos das histórias que tenham, no mínimo, 30 segundos de tempo de latência inicial ou que tenham silêncios importantes durante o relato. Aqui, o sujeito recorre à inibição mental para evitar o conflito. Cartão 1 – [60’’]“Um rapaz diante do seu violino +++. Eu não sei, eu, ele pensa +++ o seu pai é talvez músico e ele quer torna-se músico +++ ou, ao contrário, esta guitarra fá-lo sonhar +++ produzir concertos +++ não sei +++. Ele tem ar de nostálgico.” C/Fo 2 – Tendência geral à restrição São histórias muito curtas e incompletas, onde o conflito é dificilmente abordado e não é desenvolvido. Cartão 3BM – “Isto, é uma pessoa que tem, não sei… que tem um sofrimento qualquer… não sei, é difícil…” 58
  • 59. Cartão 5 – “Uma mulher que entra em casa… que descobre qualquer coisa de inabitual +++. É tudo o que eu vejo.” C/Fo 3 – Anonimato de personagens Na encenação, o sujeito não confere identidade social/ profissional/ sexual, etc. às personagens, mantendo-as no anonimato. O anonimato tem como finalidade evitar a evocação de representações de relações demasiado precisas e carregadas no plano pulsional, libidinal e/ou agressivo. O anonimato das personagens realça as dificuldades de referência identitária. Cartão 3BM – “Alguém muito triste.” Cartão 10 – “[…] Eles têm uma posição de recolhimento… Têm ar de duas personagens… Uma está mais preocupada [designa o homem], a outra calma… então, claro… Têm ar de pensar no pior.” C/Fo 4 – Motivos dos conflitos não indicados, relatos banalizados a todo o custo, impessoais, colagem O sujeito evoca o conflito mas, no fim da história contada, não se sabe a origem do conflito. Cartão 1 – “É um rapaz que recebeu um violino como presente. Pôs-se a tocar e tornou-se um grande músico. Tornou-se um grande e chefe de orquestra célebre. Casou-se e teve muitos filhos e ensinou-lhes música e é feliz.”  Relatos banalizados a todo o custo, impessoais Cartão 3BM – “[1’25’’] [?] Não vejo nada…[?] [1’42] É um rapaz que acaba de ter uma disputa, se ele chora, vai parar.”  Motivos dos conflitos não indicados Cartão 4 – “Um casal a discutir. Entre marido e mulher não se mete a colher.”  as colagens podem aparecer sob a forma de ditos populares C/Fo 5 – Necessidade de questionar. Tendência recusa. Recusa Este procedimento diz respeito a toda a necessidade, por parte do examinador, de intervenção para solicitar a continuação ou o final da história, ou mesmo os dois 59
  • 60. casos. Também engloba a rejeição do cartão e a recusa em contar uma história. Este procedimento é claramente fóbico. Cartão 3BM – “É uma pessoa que está cansada. Não sei o que é preciso dizer… [?] Não sei, ela parece abatida… +++ Recebeu uma má notícia… +++ [?] Não sei… ++ + Sobre a sua família, a sua situação, não sei… +++ Ela pode recompor-se, se tiver coragem, ou não.” C/Fo 6 – Evocação de elementos ansiogénicos, seguidos ou precedidos de interrupções do discurso Assinala de um modo mais específico um processo fóbico, que se encontra, de preferência, nos cartões que remetem para uma vivência mais arcaica e onde os elementos evocados estão carregados de angústia. Cartão 3 – “Um homem foi abandonado pela mulher. Tem uma pistola ao lado.”  depois de dizer isto, cala-se como se isso lhe despertasse o fantasma de matar a mulher Cartão 11 – “Na serra, um grupo de montanhistas vão ter que atravessar uma ponte… mas aquela ponte está em ruínas… Não é segura…” Cartão 11 – “Não vejo o que possa ser… + Um caminho cheio de pedras que conduz a uma fortaleza, uma tempestade… relâmpagos, ma espécie de monstro. É tudo.” C/N Os procedimentos da sub-série C/N foram destacados por F. Brelet (1981-1983) a propósito das personalidades com traços narcísicos graves. Esta sub-série reenvia para modalidades narcísicas do funcionamento psíquico e para o sobreinvestimento da polaridade narcísica do fantasma. O corpo passa a ser utilizado para comunicar e produzir sentido. Utilizados de modo pontual, estes procedimentos servem para a evocação de um conflito dramatizado sobre um modo mais secundarizado, onde os movimentos pulsionais são metabolizados ou se traduzem num retraimento libidinal narcísico. 60