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Os Tipos
Humanos: A Teoria
da Personalidade
Luiz Pasquali
OS TIPOS HUMANOS:
A Teoria da Personalidade
Luiz Pasquali, Docteur, UnB
Introversão
1: Conhecer Psíquico Dominante
2: Sentir Psíquico Dominante
3: Agir Psíquico Dominante
4: Conhecer Misto
5: Sentir Misto
6: Agir Misto
7: Conhecer Físico Dominante
8: Sentir Físico Dominante
9: Agir Físico Dominante
2 1 3
12
10 11
5 15 6
13 4 14
8 18 9
16 17
7
10: Conhecer – Sentir Psíquico
11: Conhecer – Agir Psíquico
12: Sentir – Agir Psíquico
13: Conhecer – Sentir Misto
14: Conhecer – Agir Misto
15: Sentir – Agir Misto Extroversão
16: Conhecer – Sentir Físico
17: Conhecer – Agir Físico
18: Sentir – Agir Físico
Série: Avaliação e Medida Brasília, 1999
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Autor: Luiz Pasquali
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Sumário
Luiz Pasquali
Prefácio
Capítulo 1 - Conceito de Temperamento
1. Introdução
2. História do Temperamento
3. Teorias do Temperamento
3.1. Teoria dos humores
3.2. Teorias Morfológicas
3.3. Teorias psicológicas (tipologias psicológicas)
3.3.1. Tipologia de Jung
3.3.2. Tipologia de Thomas e Chess
3.3.3. Tipologia de Buss e Plomin
3.3.4. Modelo psicológico de temperamento e caráter
Capítulo 2 - Instrumentos de Medida do Temperamento
1. Myers-Briggs Type Indicator (MBTI)
2. Keirsey-Nates Temperament Sorter (KBTS)
3. Guilford-Zimmerman Temperament Survey (GZTS)
4. Pleasure-Arousal-Dominance (PAD)
5. Pavlovian Temperament Survey (PTS)
6. Student Temperament Assessment Record (STAR)
7. Inventário Fatorial de Temperamento (IFT)
8. Outros Instrumentos
Capítulo 3 - Teoria da Personalidade
1. Introdução
1.1. Preâmbulo
1.2. O objetivo
1.3. Os pressupostos
2. A Estrutura da Personalidade
2.1. Os vetores da Estrutura da personalidade
2.2. As combinações vetoriais da personalidade
2.3. O poliedro da estrutura da personalidade
3. A Dinâmica da Personalidade
3.1. A energia bio-psíquica
3.2. A ativação da energia
3.4. A dinâmica do comportamento
4. O Contexto da Personalidade
5. Caracterização dos Vetores e Combinações Vetoriais
5.1. Caracterização dos vetores
5.2. Caracterização das combinações vetoriais
5.3. Quantificação dos vetores da personalidade
5.4. Caracterização dos 18 tipos de personalidade
6. A Medida da Personalidade
6.1. Operacionalização em cima dos vetores
6.2. O perfil tipológico
6.3. Operacionalização em cima dos 18 tipos
7. (Re) Interpretação de Tipos Psicológicos Clássicos
7.1. A tipologia hipocrática
7.2. A tipologia dos Big-Five
Bibliografia
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Autor: Luiz Pasquali
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Prefácio
Luiz Pasquali
Em 1994, Trelau e Angleitner anotavam um interesse crescente com respeito ao tema do
temperamento na última década. Isso pode ser desde a década de 50 e a de 90 inclusive. A temática
sobre o temperamento vem substituindo o interesse que mais antigamente havia com respeito ao
tema da personalidade, tema este que parece quase ter desaparecido na literatura e pesquisa
psicológica. A razão de tal ocorrência talvez se deva ao fato de que o termo personalidade assume
conotações tão amplas que, no final das contas, não chega mais a significar coisa alguma, sendo, por
isso, substituído pelo termo temperamento, que parece mais restrito, concreto e útil. Contudo, com
o aumento do interesse na temática do temperamento, esse veio a ser concebido tão confusamente
quanto a tem sido o de personalidade, pois os autores entendem temperamento desde substituto de
personalidade até reações puramente emocionais. Os interesses no tema vão desde a preocupação
com o avançar a teoria psicológica até interesses financeiros, sobretudo no uso que se faz do
temperamento na situação organizacional, onde, com a elaboração de instrumentos de medida do
mesmo, os autores conseguem grande número de consultorias nas organizações a custos de ouro.
A grande quantidade de publicações e instrumentos que vem aparecendo sobre o
temperamento vem acompanhada por uma pletora de concepções sobre o mesmo, tornando a teoria
sobre o mesmo uma colcha de retalhos. Isto porque os autores, com interesses e conceitos
diferentes, trabalham o temperamento dentro de sua visão restrita, muitas vezes ditada por
interesses mais imediatos e até comerciais, como ocorre na área da psicologia organizacional. A
abundância de trabalhos sobre o temperamento é bem-vinda, mas infelizmente ela vem muito
desentrosada do ponto de vista da teoria psicológica.
A preocupação do presente trabalho consiste precisamente em procurar pôr alguma ordem em
todos esses trabalhos sobre o temperamento, procurando desenvolver um arcabouço teórico onde
todos eles possam se situar e ver o nicho em que caem, evitando, assim, que cada modo de
conceber o temperamento assuma o direito de ser a teoria psicológica da personalidade humana.
O livro aborda inicialmente uma discussão sobre o conceito e a história do temperamento
(capítulo 1), sendo em seguida apresentada uma série de instrumentos existentes hoje no mercado
para avaliar esse construto (capítulo 2). No capítulo 3 será desenvolvida uma visão de
temperamento, que pretende ser a teoria psicológica da personalidade humana, apresentada numa
forma formal e axiomatizada, onde qualquer concepção presente na literatura pode ser enquadrada.
O livro tem como intenção procurar iniciar a convergência dos temas, da taxionomia e da linguagem
sobre personalidade e temperamento entre os pesquisadores, objetivando um esforço somativo da
pesquisa psicológica nessa área. Ele tem, também, como segunda intenção iniciar uma diatribe na
área entre os pesquisadores, sobretudo em nível nacional, provocando maior interesse e, quiçá,
avanços da teoria psicológica.
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Personalidade
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1. Conceito de Temperamento (personalidade)
Luiz Pasquali
1. Introdução
Este capítulo deveria tratar de conceituar personalidade. Contudo, esta expressão “personalidade” é tão ampla em
seu significado ou, melhor, tão vaga, que praticamente cada psicólogo a entende do seu modo, como, aliás, já
Allport (1937) nos anos 30 comentava, ao dar as 50 diferentes definições do termo. Como a intenção do presente
trabalho consiste na análise de porque as pessoas são diferentes, apesar de serem todas seres humanos, me
pareceu que um conceito mais concreto pudesse melhor orientar a empreitada. Assim, escolhi o conceito de
temperamento, que, apesar de apresentar diferentes opiniões entre os pesquisadores sobre seu significado, ele
parece menos ambíguo que o de personalidade; ele, aliás, é entendido por alguns autores (Eysenck, Gray) como
sinônimo de personalidade, com o qual a presente exposição está também de acordo, como veremos. De fato, o
temperamento tem sido considerado um sinônimo de diferenças individuais no comportamento dos seres
humanos. Esta linha de pensamento é defendida sobretudo por pesquisadores na área da psicologia do
desenvolvimento, liderados por Chess e Thomas (1986).
De qualquer forma, a palavra temperamento vem do latim “temperare” que significa “equilíbrio”. Esta noção está
ligada à teoria dos humores de Empédocles e de Hipócrates, onde se defende que a saúde do ser humano
depende de um equilíbrio entre os elementos que compõem este mesmo ser, como veremos ao expor esta teoria.
{©Em Psicologia, temperamento é mais comumente entendido como se referindo ao aspecto da personalidade
que diz respeito às disposições e reações emocionais, bem como de sua rapidez e intensidade. Este conceito mais
psicológico de temperamento está ligado a psicólogos como Jung, psicanalista, e Klages no seu tratado sobre
caracterologia (1929). Hoje em dia, a Psicologia dá maior ênfase, na reação emocional, à atividade do sistema
nervoso autônomo, particularmente a ramo simpático. Esta acepção restritiva de temperamento em termos de
reações emocionais não parece ser necessária e, quiçá, nem legítima, como veremos em capítulos posteriores,
pois o temperamento pode ser entendido como um sinônimo de personalidade. Historicamente, porém, a ênfase
no temperamento tem sido sobre os aspectos emocionais da personalidade. Para ser honesto, o conceito de
temperamento é ainda uma destas expressões que pode significar coisas diferentes para diferentes psicólogos.
Isto se tornou evidente numa mesa-redonda de psicólogos norte-americanos (Goldsmith, Buss, Plomin,
Rothbart, Thomas, Chess, Hinde, & McCall, 1987). Apesar das divergências, estes pesquisadores chegaram às
seguintes conclusões (Barclay, 1991): 1) o construto temperamento é útil apesar de ser praticamente inviável
definir precisamente como ele interage com influências do meio ambiente; 2) temperamento inclui elementos de
energia: atividade, intensidade, vigor e ritmo de movimento tanto na fala quanto no pensamento; de reatividade:
aproximação e afastamento de estímulos; emocionalidade e sociabilidade; 3) a origem do temperamento deve ser
procurada em disposições biológicas; 4) as manifestações do temperamento são mais estáveis durante a vida de
um indivíduo do que qualquer outro aspecto da personalidade.
Na história do conhecimento humano, as diferenças individuais devidas ao temperamento do sujeito têm sido
atribuídas aos fatores mais diversos por autores de povos tão diversos como gregos, persas, hindus, árabes, entre
outros, os quais, cada um a seu tempo, contribuíram para a estruturação da teoria do temperamento como a
conhecemos hoje. A literatura aponta para um interesse cíclico no que se refere aos estudos sobre o
temperamento, na medida em que as teorias da personalidade apontam para a interrelação existente entre
variáveis ambientais, comportamento e caraterísticas pessoais. As teorias estruturadas mais recentemente, via de
regra, estão preocupadas com a classificação e tipificação do temperamento a partir de seus resultados
observáveis, a saber, o comportamento.
Uma análise do material elaborado nos últimos anos aponta para a existência de diversas teorias e instrumentos
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que se propõem a analisar este construto, sendo que o interesse de tais trabalhos pode ser verificado desde a
idade antiga, através dos trabalhos de Empédocles, Hipócrates e Galeno, versando sobre como se comportam os
indivíduos e como compreender tais comportamentos. Mais recentemente, a contribuição de Jung se afasta da
estrutura hipocrática, propondo uma classificação que se aproxima de um modelo psicológico mais moderno. É
preciso, contudo, que se tenha em mente que a preocupação principal do estudo do temperamento, ou seja, o
interesse na individualidade humana, está bastante longe de ser compreendido, dado que as teorias existentes
estão longe de fornecer uma explicação integral sobre o tema (Claridge, 1985). De fato, ciclicamente o tema
temperamento entra em voga entre psicólogos e outros pesquisadores afins. E cada vez que ele surge, assume
características um tanto diferentes, de sorte que, fazendo um inventário histórico sobre este conceito, nos leva a
concepções muito distintas. Hoje em dia, por exemplo, parece que temperamento veio integrado dentro de um
contexto da psicologia das organizações, pois é no campo da psicologia organizacional que o tema e instrumentos
de medida do temperamento vêm sendo mais utilizados, além da linha da psicologia da criança liderada por
Chess e Thomas (1989). De sorte que a advertência acima de Claridge faz muito sentido, embora se possa admitir
que temperamento tende a ser concebido dentro de uma temática de tipologias, isto é, de classificar os sujeitos
em termos de tipos em função de certas características da personalidade e até de aptidões e mesmo de
comportamento. Diante desta babel, vamos inicialmente dar um pequeno apanhado histórico do tema
temperamento, para em seguida tentar uma estruturação teórica do mesmo construto.
2. História do Temperamento
A idéia de que os seres humanos caem dentro de classes ou tipos tem estado presente desde os tempos mais antigos
entre os pesquisadores da personalidade humana. Contudo, ela não tem tido um desenvolvimento linear, mas
apresenta uma evolução cíclica, na qual se observam épocas onde o interesse em tais tipologias aparece intenso e
outras em que ele praticamente desaparece. Inclusive, cada novo surto de interesse neste tema parece surgir com
basamento diferente resultando em teorias muito distintas, entre as quais sobressaem as teorias humorais, as teorias
fisiológicas ou morfológicas e as teorias psicológicas, como veremos mais adiante. Na verdade, há teorias ou fantasias
demais sobre como conceber a estrutura e a dinâmica do temperamento. Strelau (199??) menciona uma carrada delas
ou, melhor, uma miríade de traços que constituiriam o temperamento, tais como:
- Adaptabilidade (Thomas & Chess – NYLSQ)
- Aflição, sofrimento (Buss & Plomin – EASTS)
- Amizade (Guilford & Zimmerman – GZTS)
- Aproximação – afastamento (Windle & Lerner – DOTS-R Adult; Wilson, Barrett, & Gray - GWPQ)
- Ascendência (Guilford & Zimmerman –GZTS)
- Atividade (Buss & Plomin – EASTS; Thomas & Chess – NYLSQ; Thurstone – TTS)
- Atividade geral (Guilford & Zimmerman – GZTS; Windle & Lerner – DOTS-R Adult)
- Atividade: nível de sono (Windle & Lerner – DOTS-R Adult)
- Aventura (Sysenck, Pearson, Easting, & Allsopp – I7 Questionnaire)
- Campo (span) de atenção (Thomas & Chess – NYLSQ)
- Colérico (Cruise, Blitchington, & Futcher – TI)
- Contenimento (Guilford & Zimmerman – GZTS)
- Crivagem de estímulo (Mehrabian – SSQ)
- Desinibição (Zuckerman – SSS IV e V)
- Distratibilidade (Thomas & Chess – NYLSQ; Windle & Lerner – DOTS-R Adult)
- Dominância (Mehrabian – MTS; Thurstone – TTS)
- Emocionalidade (Feij – ATL)
- Emocionalidade social (Rusalov – STQ)
- Empatia (Eysenck, Pearson, Easting, & Allsopp – I7 Questionnaire)
- Equilíbrio dos processos nervosos (Strelau –STI; Strelau, Angleitner, Bantelmann, & Ruch – STI-R)
- Ergonicidade (Rusalov – STQ)
- Ergonicidade social (Rusalov – STQ)
- Esquiva ativa (Wilson, Barrett, & Gray – GWPQ)1
- Esquiva passiva (Wilson, Barret, & Gray – GWPQ)
- Estabilidade (Marke & Nyman – MNT)
- Estabilidade emocional (Guilford & Zimmerman – GZTS; Thurstone – TTS)
1
Veja no capítulo 2 as explicações sobre essas siglas, que representam diferentes instrumentos de medida do temperamento
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- Excitação: trait-arousal (Mehrabian – SSQ, MTS)
- Extinção (Wilson, Barrett, & Gray – GWPQ)
- Extroversão (Eysenck & Eysenck - EPI, EPQ; Feij – ATL)
- Fleumático (Cruise, Blitchington, & Futcher – TI)
- Flexibilidade – rigidez (Windle & Lerner – DOTS-R Adult)
- Força de excitação (Strelau – STI; Strelau, Angleitner, Bantelmann, & Ruch – STI-R)
- Fuga (Wilson, Barrett, & Gray – GWPQ)
- Humor (Thomas & Chess – NYLSQ; Windle & Lerner – DOTS-R Adult)
- Impulsividade (Barrat – BISS-10; Eysenck, Pearson, Easting, & Allsopp – I7 Questionnaire; Feij – ATL;
Thurstone - TTS)
- Impulsividade cognitiva (Barrat – BIS-10)
- Impulsividade motora (Barrat – BIS-10)
- Impulsividade não-planejada (Barrat – BIS-10)
- Intensidade (Thomas & Chess – NYLSQ)
- Intensidade do afeto (Larsen & Diener – AIM)
- Irritabilidade ((Caprara, Cinanni, D’Imperio, Passerini, Renzi, & Travaglia – IESS)
- Limiar sensorial (Thomas & Chess – NYLSQ)
- Luta (Wilson, Barrett, &Gray – GWPQ)
- Masculinidade (Guilford & Zimmerman – GZTS)
- Medo (Buss & Plomin – EASTS)
- Melancólico (Cruise, Blitchington, & Futcher – TI)
- Mobilidade (Gorynska & Strelau – TTI)
- Mobilidade dos processos nervosos (Strelau – STI; Strelau, Angleitner, Bantelmann, & Ruch – STI-R)
- Neuroticismo (Eysenck & Eysenck – EPI, EPQ)
- Objetividade (Guilford & Zimmerman – GZTS)
- Pensativo (Guilford & Zimmerman – GZTS)
- Persistência (Gorynska & Strelau – TTI; Windle & Lerner – DOTS-R Adult)
- Plasticidade (Rusalov – QST)
- Plasticidade social (Rusalov – STQ)
- Prazer (Mehrabian – MTS)
- Procura de excitamento e aventura (Zuckerman – SSS IV e V)
- Procura de sensação (Zuckerman – SSS IV e V)
- Psicotismo (Eysenck & Eysenck – EPQ)
- Raiva (Buss & Plomin – EASTS)
- Rapidez (Gorynska & Strelau – TTI)
- Reatividade (Kohn – RS)
- Recorrência (Gorynska & Strelau – TTI)
- Reduzindo – aumentando (Vando – RAS)
- Refletivo (Thurstone – TTS)
- Regularidade (Gorynska & Strelau – TTI)
- Relações pessoais (Guilford & Zimmerman – GZTS)
- Ritmicidade (Thomas & Chess – NYLSQ)
- Ritmicidade: comer (Windle & Lerner – DOTS-R Adult)
- Ritmicidade: hábitos diários (Windle & Lerner – DOTS-R Adult)
- Ritmicidade: sono (Windle & Lerner – DOTS-R Adult)
- Sangüíneo (Cruise, Blitchington, & Futcher – TI)
- Sociabilidade (Buss & Plomin – EASTS; Guilford & Zimmerman – GZTS; Thurstone – TTS)
- Solidez (Marke & Nyman – MNT)
- Susceptibilidade ao aborrecimento (Zuckerman – SSS IV e V)
- Susceptibilidade emocional (Caprara, Cinanni, D’Imperio, Passerini, Renzi, & Travaglia – IESS)
- Tempo (Gorynska & Strelau – TTI; Rusalov – STQ)
- Tempo social (Rusalov – STQ)
- Validade (Marke & Nyman – MNT)
- Vigor (Thurstone – TTS).
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Allport (1937: p. 84), citando apenas três autores (Thomas Reid, Dugald Stewart, Franz Joseph Gall), também já
apresentava uma série sem fim de traços (chamava de faculdades) que os teorias do temperamento ou
caracterologia diziam avaliar.
Enfim, é uma legião de traços que definiriam o temperamento e que aparecem dentre de contextos teóricos sem
muita congruência, na maioria das vezes. Vamos, por isso, atentar melhor para algumas teorias do temperamento,
que parecem se apresentar mais estruturadas, deixando para o capítulo 3 uma estruturação que cremos ser mais
completa e axiomatizada.
De qualquer forma, o estudo do temperamento começou a ser abordado, pelo que se tem registro, pelo filósofo
grego Empédocles e seu conterrâneo o médico Hipócrates, seguidos mais tarde pelo greco-romano Galeno,
dentro do que ficou sendo conhecida como a teoria dos humores. Outras tendências de definir temperamento se
baseiam no formato do corpo, tendência iniciada por Kretschmer e atualizada por Sheldon, nas teorias ditas
morfológicas. Finalmente, temos enfoques do temperamento baseados mais em construtos psicológicos, dentre
os quais podemos salientar a teoria de Jung e as tipologias mais modernas particularmente em voga em psicologia
organizacional e da criaça. Vamos detalhar um pouco algumas destas teorias.
3. Teorias do Temperamento
3.1. Teoria dos humores
A teoria dos humores está ligada à tradição filosófica do número 4 de Pitágoras (572-497 a.C. - Samos)2 e da teoria
cosmológica dos quatro elementos de Empédocles de Acragas (490-430 AC). Este filósofo sugere que toda a
substância é composta de 4 elementos, a saber, ar, terra, fogo e água. Aristóteles (384 AC), além de concordar com os
quatro elementos, acrescentou que eles possuem propriedades básicas, a saber, ao fogo estão associadas a secura e o
calor, ao ar o calor e a umidade, à água a umidade e o frio, à terra o frio e a secura. O médico Hipócrates (460-377
AC) relacionou esta teoria cósmica à saúde das pessoas, criando a teoria dos humores ou dos temperamentos. Dizia
ele que 4 humores físicos, isto é, sangue, bílis preta (atrabílis), bílis amarela (bílis), fleuma (linfa), estavam
respectivamente ligados a 4 temperamentos da personalidade, a saber: temperamento sangüíneo de reações rápidas e
débeis; temperamento melancólico, nervoso ou atrabilioso de reações lentas e intensas; temperamento colérico ou bilioso
de reações rápidas e intensas, e temperamento fleumático ou linfático de reações fracas e lentas. A teoria, portanto,
afirma que a química do corpo determina o tipo de temperamento. Esta teoria, depois difundida pelo greco-romano
Galeno de Pérgamo (129-199 AD), perdurou por mais de 2.500 anos. Ela defendia que uma boa saúde dependia de
um equilíbrio, de uma boa dosagem (temperare, dizia Galeno, donde surgiu a expressão temperamento) dos quatro
humores corporais; o excesso de um dos humores provocava doenças no corpo e traços exagerados de personalidade.
A biologia moderna substitui estes conceitos arcaicos da química do corpo por conceitos mais complexos, tais como,
hormônios, neuro-transmissores e outras substâncias do sistema nervoso (como, endorfinas, etc.). Foi, aliás, o avanço
nos conhecimentos biológicos que determinou a morte destas teorias dos humores, embora pesquisas de Pavlov
(1954) e seguidores (Teplov e outros nos anos 1950, veja Cole & Maltzman, 1969) lhes tenham dado algum ânimo,
mas sem maior impacto no mundo ocidental; contudo, parte da terminologia dessas teorias ainda perdura hoje em dia
entre pesquisadores do tema caracterologia, tais como Heymans (1857-1930), Wiersma, Le Senne (1963), Berger
(1963), o Temperament and Character Test (Institut Pédagogique Saint-Georges, Montreal, Canadá, 1952) e mesmo em
tipologias modernas, como a de Keirsey e Bates (1984), o Temperament Inventory de Cruise, Blitchington e Futcher
(1980).
3.2. Teorias morfológicas
Estas teorias têm relação com as teorias bioquímicas, mas acentuam mais os aspectos morfológicos do corpo (tipos
corporais). O psiquiatra alemão Kretschmer (1921) iniciou este modo de pensar sobre os temperamentos. De suas
observações clínicas ele relacionou que o formato do corpo está associado à personalidade das pessoas, assim que
um físico delgado e delicado está associado à introversão, enquanto um físico rotundo, pesado e curto está associado
ao caráter ciclotímico, isto é, temperamental, extrovertido e jovial. Este autor chegou a explicitar três tipos distintos
de temperamentos, os quais correspondiam a certos tipos orgânicos característicos, conforme detalha a tabela 1-1.
2
A filosofia pitagórica defendia o número como sendo a essência do universo, sendo o número 4 a expressão máxima do ser.
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Tabela 1-1. Relação entre tipo físico e tipo de personalidade segundo Kretschmer
Tipo Físico:
Pícnico
Gordo, arredondado
Leptossômico
Alto, esguio
Atlético
Robusto, muscular
Temperamento:
Ciclotímico
Diastésico: tristeza e alegria.
• Alegre: jovial, loquaz, otimista,
• Deprimido: afável, tranqüilo, silencioso
Esquizotímico
Psico-estésico:sensibilidade e
frieza. Idealista, reformador
Ixotímico
Tenaz e explosivo
O psicólogo norte-americano Sheldon (1942) e seus colaboradores (Sheldon et al., 1954) levou este pensamento
de Kretschmer a uma grande sofisticação sobre as variedades do temperamento, embora sua teoria não tenha
tido grande sucesso entre os psicólogos. Estes autores também relacionavam diretamente a forma física do corpo
com tipos específicos de temperamentos. Veja na tabela 1-2 este relacionamento
Tabela 1-2. Relação entre tipo físico e tipo de personalidade segundo Sheldon
Tipo Físico:
Endomorfo
macio, redondo
Mesomorfo
forte, muscular, atlético
Ectomorfo delgado, frágil
Temperamento:
Viscerotônico:
gosto pelo conforto
sentimental
hedonista
sociável
Somatotônico:
ativo
energético
orientado ao desempenho agressivo
Cerebrotônico:
sensitivo
delicado
intelectual
religioso
retraído
3.3. Teorias psicológicas (tipologias psicológicas)
A temática tipológica explodiu entre os psicólogos nos meados deste século, particularmente na Holanda (Heymans e
Wiersma com publicações na revista Zeitschrift für Angewandte Psychologie), Alemanha (Spranger que publicou, já em
1914, o Lebensformen e Klages, 1929) e sobretudo na França (Binet, 1922; Gilliland, 1939; Le Senne,1963; Berger, 1963;
Le Gall, 1964). Contudo, entre as tipologias psicológicas, foi a do psiquiatra Jung (1967) que maior reconhecimento
teve até o presente entre os psicólogos. Pesquisas, talvez mais empíricas, nesta área do temperamento começaram a
ser mais e mais desenvolvidas baseadas em duas tendências: a) os estudos longitudinais iniciados nos finais de 1950
por Thomas, Chess e colaboradores (Plomim, 1986; Chess & Thomas, 1986) e b) os estudos de caráter pavloviano
dos russos Teplov em Moscou e de Merlin em Perm, também nos meados de 1950.
Pelo impacto que produziram sobre a pesquisa e a utilização do temperamento em Psicologia, detalharemos
algumas destas tendências a seguir.
3.3.1. Tipologia de Jung
Nesta área do temperamento, as duas dimensões psicológicas elaboradas por Jung (1967, 1974) ainda parecem ser
de grande utilidade em Psicologia, a dimensão dos tipos e a dimensão das funções. Este autor desenvolveu toda
uma hierarquia de tipos (Jung, 1967), mas é sobretudo sua distinção nos dois famosos tipos Extroversão e
Introversão que fez e faz carreira, distinção que inclusive parece um ganho definitivo em Psicologia. A outra
distinção entre quatro funções (veja o número mágico 4 de volta de novo!) também recebeu e está recebendo
grande atenção entre os psicólogos. Estas quatro funções são: pensamento, sentimento, sensação e intuição.
Jung caracteriza estas dimensões psicológicas do seguinte modo:
• Extroversão: direcionamento da libido para o exterior; movimento positivo do sujeito para o objeto; o objeto se
torna o foco de interesse ativo (o sujeito procura o objeto) e passivo (o objeto se impõe ao sujeito) do
indivíduo.
• Introversão: direcionamento da libido para o interior; movimento negativo do sujeito com relação ao objeto; o
próprio sujeito se torna o foco de interesse ativo (o sujeito procura reclusão) e negativo (o sujeito se torna
incapaz de contatar o objeto) do indivíduo.
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• Pensamento (pensar, thinking): representar a realidade conceitualmente (representação intelectual). Ele pode ser
. ativo (racional, consciente), chamado intelecto e consiste em procurar esta representação
. passivo (irracional, inconsciente), chamado intuição intelectual e consiste em que a representação se
impõe até contra a vontade do sujeito.
• Sentimento (sentir, feeling): reagir diante da realidade como um valor, implicando aceitação ou rejeição. Ele
também pode ser ativo, enquanto procura valorizar a realidade ou passivo, enquanto esta se impõe como
valor positivo ou negativo. O sentimento com reações orgânicas se chama de afeto.
• Sensação (percepção via sentidos, sensing): perceber sensorialmente a realidade (externa e interna). É a
representação sensorial da realidade; é uma função irracional.
• Intuição (percepção via inconsciente, intuition): percepção inconsciente de uma realidade global; é uma função
irracional.
O apego ao dogma psicanalítico do investimento da libido fez estas distinções interessantes de Jung,
particularmente no caso das funções, um tanto confusas e inadequadamente distintas. Embaralhando os
conceitos de irracional com inconsciente, tornou particularmente confusas as categorias da sensação e da
intuição. Se se puder liberar da armadura psicanalítica, estas distinções de Jung parecem altamente promissoras
para uma tipologia dos temperamentos, como tentaremos efetuar mais adiante.
Além destes, outros psicólogos se enveredaram pelo terreno das tipologias. Entre estes, alguns tiveram pouca
aceitação entre a comunidade da Psicologia, como, por exemplo, Spranger (1928) que definiu quatro valores para
diferenciar os tipos humanos, a saber: religioso, teórico, econômico e artístico; Adler (Keirsey & Bates, 1984)
opinou que eram quatro objetivos ou elementos os diferenciadores dos tipos humanos, a saber: reconhecimento,
poder, serviço e vingança. William James propôs a distinção entre tough-minded e tender-minded. Outros autores,
embora baseados em teorias nem sempre satisfatórias, estão alcançando interesse e fama sobretudo por terem
desenvolvido instrumentos para medir os vários tipos que eles propõem, tornando-se assim de utilidade prática,
particularmente no ambiente organizacional. Estes autores serão expostos no capítulo 2.
Do ponto de vista da teoria do temperamento, duas duplas de pesquisadores talvez merecem especial atenção na
área. São elas Thomas e Chess (1977) e Buss e Plomin (1975, 1984).
3.3.2. Tipologia de Thomas e Chess
Estes autores se deram ao trabalho de, durante 20 anos, observar crianças desde o berço até a escola primária.
Concluíram eles que as crianças manifestam características de temperamento desde a mais tenra idade.
Identificaram nove categorias de comportamento, as quais lhes permitiram elaborar três grupos básicos de
temperamento. As categorias são as seguintes:
• nível de atividade
• regularidade e ritmicidade
• aproximação e esquiva
• adaptabilidade
• intensidade
• limiar sensorial
• humor
• distratibilidade
• duração de atenção.
Através de análises fatoriais, Thomas e Chess chegaram a definir alguns tipos básicos de temperamentos, a saber,
• A Criança Fácil: ela se caracteriza por “regularidade, respostas positivas de aproximação a estímulos
novos, grande adaptabilidade à mudança e leves a moderados níveis de humor e preponderantemente
positivos. Estas crianças desenvolvem rapidamente rotinas regulares de sono e alimentação, se acostumam
facilmente a novos alimentos, adaptam-se bem a um nova escola, aceitam a maioria das frustrações sem
grandes escândalos e aceitam sem dificuldades as regras de novos jogos”(Thomas & Chess, 1977, p. 23 -
citados por Barclay, 1991). Este grupo de crianças perfazem 40% da totalidade;
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• A Criança Difícil: este grupo é definido pelos autores (Thomas & Chess, 1977, p. 23 - citados por
Barclay, 1991) como um “grupo com irregularidade em funções biológicas, respostas negativas de esquiva
a novos estímulos, não-adaptabilidade ou adaptabilidade lenta a mudanças e expressões intensas de humor
e freqüentemente negativas. Estas crianças mostram rotinas irregulares de sono e alimentação, lenta
aceitação de novos alimentos, longos períodos para adaptação a novas rotinas, pessoas ou situações e
períodos de choro relativamente freqüentes e altos. A risada também é caracteristicamente alta. Frustração
produz tipicamente reações manhosas violentas”. Este grupo representa 10% da população;
• Grupo intermédio entre os dois pólos acima mencionados perfaz o restante da população (45%).
São óbvias as similaridades destes dois grupos de crianças com as concepções jungianas de extroversão e
introversão. Vários outros autores se aproveitaram destas descobertas de Thomas e Chess, desenvolvendo
instrumentos para avaliar as temperamentos das crianças. Entre eles, Martin (1984), cuja bateria foi aplicada a
crianças por uma série de outros autores (Barclay, 1987; Pullis & Cadwell, 1982; Martin, Paget & Nagle, 1983;
Martin, Drew, Gaddis, & Moseley, 1988), bem como por Burks e Rubenstein (1979) que a aplicaram a adultos.
Estas pesquisas todas revelaram importantes relações entre os tipos de Thomas e Chess com problemas infantis,
desempenho acadêmico, e dão forte suporte ao construto de temperamento.
3.3.3. Tipologia de Buss e Plomin
Estes autores partiram da definição de temperamento dada por Allport (1961), a qual postula quatro
componentes do temperamento, a saber,
• Atividade: o total de energia utilizada
• Emocionalidade: intensidade de reação
• Sociabilidade: desejo de afiliação
• Impulsividade: responder de forma rápida ao invés de inibida.
Além disso, Buss e Plomin (1975, 1984) estabeleceram alguns critérios para discernir temperamento de outras
disposições da personalidade. Estes critérios são os seguintes:
• Hereditariedade: uma teoria de temperamento deve mostrar um componente genético
• Estabilidade: o temperamento deve mostrar persistência durante a vida do sujeito, como qualquer traço
geneticamente herdado, apesar das influências do meio ambiente e aprendizagem
• Adaptabilidade: todas as características de temperamento devem poder sofrer algum grau de modificação social
• Presença filogenética: se é característica de temperamento ela deve ter representação também entre os animais.
Para verificar estas suas hipóteses, Buss e Plomin desenvolveram um instrumento para a pesquisa do
temperamento, o EASI - Emotionality, Activity, Sociability, Impulsivity. Dos estudos com o EASI em população
universitária e de adultos, os autores apresentam evidências fortes para a presença dos temperamentos de
emocionalidade, atividade e sociabilidade, sendo mais fraca a evidência em prol da impulsividade. Verificaram,
ainda, em estudos com crianças, a existência de correlações significativamente mais fortes de temperamento
entre crianças gêmeas do que entre crianças não-gêmeas, revelando o fundamento genético do temperamento.
Estes dados teóricos, empíricos e psicométricos mostram que o construto temperamento se apresenta ainda útil no
contexto da teoria psicológica para descrever conglomerados de comportamentos que os indivíduos manifestam.
Aliás, o interesse no estudo do temperamento nas últimas décadas tem sido extraordinário. Bates (1986) fez um
levantamento dos sumários de pesquisas que tratam do temperamento somente em crianças, realizdas entre 1967
e 1983, descobriu 162 artigos, sendo que 62% deles apareceram após 1980. Plomin (1986, p. ix), analisando os
Psychological Abstracts, conclui “desde 1970, o número de artigos sobre temperamento tem crescido na base de
50% cada 5 anos”. Strelau (1994) fez um ilustrativo apanhado dos vários enfoques que vêm sendo perseguidos
pela pesquisa no temperamento, salientando as seguintes características:
• Temperamento cobre um número enorme de traços ou dimensões, cada qual seguido de instrumentos
específicos de diagnóstico (Hubert, Wachs, Peters-Martin, & Gandour, 1982; Slabach, Morrow, & Wachs);
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• Os métodos psicométricos predominam nos estudos experimentais na análise do temperamento, em particular
no caso de crianças (Bates, 1986; Buss & Plomin, 1984; Plomin & Dunn, 1986; Thomas & Chess, 1977;
Goldsmith & Rothbart);
• Muitos estudos procuram na biogética a origem das diferenças individuais no temperamento ( Goldsmith, in
press; Matheny & Dolan, 1980; Plomin, 1982; Ravich-Shcherbo, 1988; Torgersen, 1985);
• Procura de mecanismos fisiológicos (psicofisiológicos, eletrofisiológicos, neuropsicológicos, bioquímicos) na
base do temperamento, em especial no estudo do nível de estimulação (arousal) (Grayy, 1982; Schalling,
Edman, & Asberg, 1983; Simonov, 1987; Zuckerman, 1979);
• Os estudos do temperamento cobrem todas as idades, havendo tendência de um enfoque de estudos
longitudinais sobre a extensão toda de uma vida (Lerner & Lerner, 1983; Plomin, Pedersen, mcclearn,
Nesselroade, & Bergeman, 1988; Thomas & Chess, 1977);
• Procura de constâncias nas característica do temperamento, em especial no desenvolvimento infantil
(Giuganino & Hindley, 1982; Hagekuell, 1989; Matheny, 1983; Plomin & Dunn, 1986; Rothbart, 1986);
• Estudos da função reguladora do temperamento com enfoque contectual e interacionista (Carey, 1985; Eliasz, 1981,
1985; Klonowicz, 1987; Rothbart & Posner, 1985; Strelau, 1983ab; Thomas & Chess, 1977; Rothbart and Van
Heck)
• Função adaptativa do temperamento, em especial na família, escola e trabalho, e sua relação com desordens de
desenvolvimento e de comportamento (Burks & Rubenstein, 1979; Carey & mcdevitt, 1989; Chess & Thomas,
1984, 1986; Eliasz & Wrzesniewski, 1986; Klonowicz, 1985, 1987; Strelau, 1983, 1987, 1988; Talwar, Nitz,
Lerner, & Lerner, 1982);
• Enfoque interdisciplinar na pesquisa do temperamento, em especial entre psicólogos, psicofisiólogos,
neuropsicólogos, geneticistas do comportamento, psiquiatras, pediatras e pedagogos (Carey & mcdevitt, 1989;
Kohnstamm, Bates, & Rothbart, 1989; Plomin & Dunn, 1986; Strelau, Farley, & Gale, 1985, 1986).
3.3.4. Modelo psicobiológico de temperamento e caráter
Elaborando um modelo tridimensional da personalidade, desenvolvido em 1991, Cloniger, Svrakic e Przybeck (1998)
descrevem um modelo de personalidade baseado em sete dimensões, sendo quatro de temperamento (com base mais
biológica) e três de caráter (com base mais psicológica). Estas dimensões com suas sub-dimensões são as seguintes:
Temperamento:
- Procura de novidade (novelty seeking): fator hereditário que ativa ou inicia comportamentos e se manifesta como
- Excitação exploratória vs. Rigidez (exploratory excitability vs. Reigidity)
- Impulsividade vs. Reflexão (impulsiveness vs. Reflection)
- Extravagância vs. Reserva (extravagance vs. Reserve)
- Desordem vs. Regimentação (disorderliness vs. Regimentation)
- Fuga de injúria (harm avoidance): fator hereditário que inibe ou cessa comportamentos e se manifesta como
- Preocupação anticipatória vs. Otimismo (anticipatory worry vs. Optimism)
- Medo da incerteza vs. Confiança (fear of uncertainty vs. Confidence)
- Timidez vs. Gregariedade (shyness vs. Gregariousness)
- Fatigabilidade e astenia vs. Vigor (fatigability and asthenia vs. Vigor)
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- Dependência em reforço (reward dependence): fator hereditário que mantém ou continua comportamentos em
andamento e se manifesta como
- Sentimentalidade vs. Insensitividade (sentimentality vs. Insensitivity)
- Apego vs. Desapego (attachment vs. Detachment)
- Dependência vs. Independência (dependence vs. Independence)
- Persistência (persistence): fator hereditário que continua comportamentos apesar de frustração e fadiga e se manifesta em
- Persistência vs. Indecisão (persistence vs. Irresoluteness)
Caráter:
- Auto-orientação (self-directedness)
- Responsabilidade vs. Acusação (responsibility vs. Blaming)
- Objetividade vs. Desorientação (purposeful vs. Goal undirected)
- Competência vs. Apatia (resourcefulness vs. Apathy)
- Auto-aceitação vs. Auto-procura (self-acceptance vs. Self-striving)
- Segunda natureza congruente
- Cooperação (cooperativeness)
- Aceitação social vs. Intolerância (social acceptance vs. Intolerance)
- Empatia vs. Desinteresse (empathy vs. Desinterest)
- Ajuda vs. Indiferença (helpfulness vs. Unhelpfulness)
- compaixão vs. Vingança (compassion vs. Revengefulness)
- Coração puro vs. Egoísmo (pure hearted vs. Self-serving)
- Auto-transcendência (self-transcendance)
- Auto-esquecimento vs. Auto-consciência (self-forgetting vs. self-conscious)
- Identificação transpessoal (transpersonal identification)
- Aceitação espiritual vs. Materialismo (spiritual acceptance vs. Materialism)
Estes são alguns dos muitos autores que estão escrevendo sobre o temperamento. A literatura é vasta e há muito
pouca integração entre todos estes autores e não parece proveitoso apresentá-los todos neste capítulo.
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Título: Os Tipos Humanos: A Teoria da Personalidade
Autor: Luiz Pasquali
Editora: CopyMarket.com, 2000
2. Instrumentos de Medida do Temperamento
Luiz Pasquali
Há no mercado brasileiro poucos instrumentos para a mensuração do temperamento. Em nível mundial, entretanto,
eles já são dezenas e estão aumentando em número, mas grande parte deles sendo reelaborações de alguns clássicos,
como o MBTI. A seguir detalharemos alguns destes instrumentos, sendo os demais elencados no final do capítulo.
1. Myers-Briggs Type Indicator (MBTI).
Este instrumento se fundamenta na teoria do temperamento proposta por Jung e foi elaborado por Briggs-Myers e
Myers (1942). O MBTI se apresenta numa série de formas diferentes; numa delas ele mede até 16 tipos que resultam
da combinação de 4 polaridades. As quatro polaridades são
1) - Extroversão (extroversion - E) vs. introversão (introversion - I): orientação da energia para fora (mundo exterior, das
pessoas, das coisas ou atividades) ou para dentro (mundo psicológico, das idéias, emoções ou impressões)
2) - Sensação (sensing - S) vs. intuição (intuition - N): preferência por adquirir a informação através dos sentidos ou através
do “sexto sentido” (percepção inconsciente, segundo Jung)
3) - Pensamento (thinking - T) vs. sentimento (feeling - F): preferência por organizar e estruturar a informação em termos
lógicos ou em termos de valores, isto é, tomar decisões ou em termos da lógica ou dos valores
4) - Julgamento (judgement - J) vs. percepção (perception - P): preferência por um estilo de vida planejado, organizado ou por
uma vida espontânea, flexível.
Combinando estas quatro polaridades, temos os 16 tipos de temperamento:
1 - ENFJ: pedagogue, líder de grupos (5% da população)
2 - INFJ: author, desejo e prazer em ajudar os outros (1% da população)
3 - ENFP: journalist, percepção aguda da motivação dos outros; a vida é um drama (5% da população)
4 - INFP: questor, capacidade para cuidar, calmo e pacífico diante do mundo, altos padrões e sentimentos de honra
(1% da população)
5 - ENTJ: field marshall, liderar, procura posição de responsabilidade e gosta de ser um executivo (5% da população)
6 - INTJ: scientist, auto-confiante e pragmático, toma decisões com facilidade, criador de sistemas e aplicador de
modelos teóricos (1% da população)
7 - ENTP: inventor, interesse por tudo, sensível a todas as possibilidades, não-conformista e inovador (5% da população)
8 - INTP: architect, precisão no pensamento e linguagem, percebe facilmente contradições e inconsistências, o mundo
existe primariamente para ser compreendido (1% da população)
9 - ESTJ: administrator, contato forte com o meio ambiente externo, muito responsável, baluarte de força (13% da
população)
10 - ISTJ: trustee, decidido em questões práticas, guardião de instituições históricas, confiável (6% da população)
11 - ESFJ: seller, o mais sociável de todos os tipos, fomentador da harmonia, anfitrião exímio (13% da população)
12 - ISFJ: conservator, estar a serviço das necessidades dos outros, fiel (6% da população)
13 - ESTP: promotor, ativo, sua presença faz as coisas acontecerem, competitivo feroz, empreendedor, gosta de causar
sensação, negociador (13% da população)
14 - ISTP: entertainer, irradia calor e otimismo, senso de humor, charmoso, esperto, é um prazer estar com ele (13% da
população)
15 - ESFP: artisan, ação impulsiva, a ação é fim em si mesma, corajoso, adora excitamento, domina instrumentos (5%
da população)
16 - ISFP: artist, gosto pelas artes finas, se expressa sobretudo pela ação ou arte, sentidos muito refinados (5% da
população).
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O MBTI teve e vem tendo grande sucesso entre os psicólogos, sobretudo os que trabalham em organizações. Os
parâmetros psicométicos deste teste, contudo, não são empolgantes. Os índices de precisão giram em torno de 0,70
(Kline, 1993). Os estudos independentes sobre a validade do MBTI, sobretudo em comparação com outros testes da
área (validade concorrente), não têm conseguido fundamentar a contento este parâmetro do teste (Mendelsohn, 1965;
Sundberg, 1965; Carlyn, 1977; Coan, 1979; Stricker & Ross, 1964). Em especial, o teste necessita mostrar sua validade
fatorial (Kline, 1993; von Eye, 1990), sem a qual a distinção em tipos psicológicos se torna bastante arbitrária.
2. Keirsey-Bates Temperament Sorter - KBTS
Espelhando a tipologia hipocrática, Keirsey e Bates (1984), analisando o MBTI, apresentaram sua própria versão de
um teste de temperamento, que divide os sujeitos nas quatro categorias de melancólico, sangüíneo, colérico e
fleumático, dando-lhes nomes diferentes e criativos. Os quatro tipos básicos podem ser desdobrados nos 16 sub-tipos
do MBTI, dividindo cada um deles em quatro tipos diferenciados. Os tipos básicos são os seguintes:
SJ: Guardiães (Epimeteu “Desconfiança”- Melancólico). Focalizam-se no dever, comércio e economia. São os guardiães
das tradições, defendem a hierarquia, seu mote é o dever, sendo conservadores, tradicionalistas (45% da população)
SP: Artesões (Dionísio “Vamos beber vinho”- Sangüíneo). Focalizam-se na arte, estética e ventura. Procuram a
diversão, a liberdade e a espontaneidade (35% da população)
NT: Racionais (Prometeu “Previdência”- Colérico). Focalizam-se na ciência, no teórico. Lutam pela competência, o
saber, a objetividade; necessitam liderar e controlar (5% da população)
NF: Idealistas (Apolo “Aspire pelo céu”- Fleumático). Focalizam-se no espiritual, na ética. Lutam pela procura de si mesmos,
da paz e da harmonia. Procuram os valores, a inspiração, a relevância na vida de si e dos outros (5% da população).
O teste contém 70 itens, que aparecem com uma frase e dois complementos referentes a tipos diferentes. O sujeito deve
escolher uma das duas alternativas. Os pesquisadores, em geral, consideram este teste inferior ao MBTI (Noring, 1993).
3. Guilford-Zimmerman Temperament Survey - GZTS
O GZTS foi desenvolvido por Guilford et al. (1976) e é atualmente composto de 300 itens, sendo 30 para cada uma
das 10 escalas que medem, a saber,
• G - Atividade geral: energético, rápido vs. lento e deliberado
• R - Restringido: sério vs. impulsivo
• A - Ascendência: assertivo, confiante vs. submisso, hesitante
• S - Sociabilidade: amigo, falador vs. tímido, retraído
• E - Estabilidade emocional: jovial, com compostura vs. triste, excitável
• O - Objetividade: tough- vs. tender-minded
• F - Amizade: respeito pelos outros vs. hostilidade, desprezo
• T - Reflexivo: reflexão vs. interesse pelo mundo exterior
• P - Relações pessoais: tolerância pelas pessoas vs. cata-falhas (cricri)
• M - Masculinidade: duro, emocionalmente inexpressivo vs. empático, emotivo.
{©O GZTS tem se mostrado bastante preciso, o índice de consistência de suas escalas girando em torno de 0,80 ou
mais. No seu livro, Guilford et al. (1976) apresentam abundante evidência da validade de construto através da análise
fatorial. Mas há problemas com estas análises fatoriais; primeiramente, muitas das amostras utilizadas foram pequenas
demais (Kline & Barrett, 1983) e o uso da rotação ortogonal não parece justificada. De fato, estudo feito por Cattell e
Gibbons (1968) verificou que os fatores ortogonais do GZTS não apareceram, mas eles se alinharam ao longo dos
fatores de Cattell numa solução oblíqua. Perry (1952) descobriu que os fatores do GZTS podem ser agrupados em 5
fatores mais gerais (de segunda ordem): neuroticismo, adaptação social, energia, introversão, masculinidade.
Igualmente, Amelang e Borkenau (1982) descobriram, tanto no GZTS quanto nos sistemas de Cattell e também de
Eysenck a presença dos 5 grandes fatores (the big five traits). Isto tudo quer dizer que os fatores do GZTS não se
apresentam suficientemente claros para constituírem uma teoria ou explicação da personalidade.
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4. Pleasure-Arousal-Dominance - PAD
Mehrabian em 1978 desenvolveu um instrumento para medir o temperamento, o Trait Pleasure Scale, mais tarde
atualizada no Trait Pleasure-Displeasure Scale - TPDS (1994) com 22 itens. Mehrabian (1980, 1991, 1995, 1996) baseia
seu instrumento numa teoria que comporta três dimensões praticamente independentes, definidas como segue:
• Prazer - Desprazer (Pleasure-Displeasure - P+ vs. P-): estados emocionais positivos vs. negativos;
• Excitação - Não Excitação (Arousal-Nonarousal - A+ vs. A-): vivacidade (alertness) física vs. vivacidade mental;
• Dominância - Submissão (Dominance-Submissiveness - D+ vs. D-): controle vs. falta de controle.
Da combinação destas três polaridades, Mehrabian (1987, 1991, 1995, 1996) e Mehrabian e O’Reilly (1980) definiram
oito temperamentos, a saber,
• Exuberante (+P+A+D) vs. Aborrecido (-P-A-D), o exuberante sendo extrovertido, procura excitação,
exibicionista, protetor e afiliativo
• Dependente (+P+A-D) vs. Desprezador (-P-A+D), sendo o dependente agradável, excitável e submisso
• Relaxado (+P-A+D) vs. Ansioso (-P+A-D), sendo o ansioso neurótico, excitável e submisso
• Dócil (+P-A-D) vs. Hostil (-P+A+D), o agressivo sendo desagradável, excitável e dominante.
Este instrumento é de uso mais para pesquisa. Mehrabian (1995) apresenta alguns dados de validade para seu
instrumento, quais sejam: o TPDS correlaciona positivamente com afiliação, extroversão, afago, receber apoio,
empatia, sensualidade e desempenho (Mehrabian & O’Reilly, 1980) e negativamente com desajustamento, isto é,
neuroticismo, defensividade, agressividade (Mehrabian, 195, 1996; Mehrabian & O’Reilly, 1980) e depressão
(Mehrabian, 1995, 1996; Mehrabian & Bernath, 1991).
O TPDS é pouco conhecido e sua demonstração de validade é ainda bastante limitada. A teoria em que se baseia é
muito peculiar, baseada mais em idiossincrasias do autor, colhida em dados esparsos da literatura sobre a
personalidade, do que numa teoria racionalmente fundamentada.
5. Pavlovian Temperament Survey - PTS
O inventário, elaborado por Strelau (1991), se baseia na teoria de Pavlov (1935) sobre as propriedades do sistema
nervoso, a saber, a intensidade dos processos nervosos (excitação e inibição), o equilíbrio dos mesmos e a mobilidade.
Ele mede três traços: força de excitação, força de inibição e mobilidade. A força de excitação consiste na capacidade
do sistema nervoso central (SNC) de suportar estimulação intensa ou duradoura sem ter que apelar para a inibição
protetora. A força de inibição se refere à capacidade do SNC de manter um estado de inibição condicionada.
Mobilidade consiste na habilidade de responder adequadamente às mudanças contínuas do meio ambiente.
O inventário consta de 252 itens e está sendo validado num programa transcultural sob a orientação do Prof.
Angleitner da universidade de Bielefeld (Alemanha), estando no Brasil encarregada a PUCCAMP.
6. Student Temperament Assessment Record - STAR
Baseado no instrumento de Kersey e Bates (1978), Oakland (1991) desenvolveu este inventário para avaliar quatro
fatores bipolares de temperamento, a saber:
- Extroversão vs. introversão
- Sensação vs. intuição (sensing vs. intuitive)
- Pensamento vs. sentimento (thinking vs. feeling)
- Julgamento vs. perceptividade (judging vs. perceptive).
O STAR é composto de 69 itens. Os itens aparecem com uma frase e dois complementos referentes a tipos
diferentes. O sujeito deve escolher uma das duas alternativas.
Este instrumento foi validado no Brasil por Riello (1992) com uma amostra de 606 adolescentes e utilizando a análise fatorial.
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Baseado no STAR, Eduardo de São Paulo (1999) desenvolveu uma tese de mestrado na UnB, elaborando uma nova
forma deste instrumento, utilizando uma escala do tipo diferencial semântico.
7. Inventário Fatorial de Temperamento - IFT
Inspirado no STAR, Eduardo de São Paulo (1999) desenvolveu, numa tese de mestrado, um instrumento para avaliar
quatro dimensões bipolares de temperamento, a saber,
1) Introversão vs. Extroversão: escala de 43 itens para cobrir esta dimensão definida segundo as especificações de
Jung, isto é, sujeitos introververtidos pensam, sentem e agem baseados no sujeito, em suas motivações pessoais
(são orientados para dentro de si mesmos), enquanto os extrovertidos pensam, sentem e agem em função do seu
meio ambiente (são voltados para fora);
2) Prático vs. Imaginativo (sensação vs. intuição): escala de 45 itens. Os sujeitos práticos são voltados para a
realidade exterior, acreditam nos fatos, na experiência própria e dos outros, vivendo no presente do dia-a-daí,
enquanto os imaginativos se orientam mais por suas fantasias, intuições e percepções subjetivas, vivendo mais
para o futuro;
3) Pensamento vs. Sentimento: escala de 46 itens. Os sujeitos orientados pelo pensamento vive de idéias, se guiam
pela objetividade e pelas regras, enquanto os orientados pelo sentimento vivem mais em função de valores,
sensações e emoções;
4) Organizado vs. Flexível (julgador vs. percebedor): escala de 41 itens. A escala avalia o modo como o indivíduo
determina os acontecimentos relativos à sua vida pessoal e profissional. Os organizados planejam tudo na vida,
gostam de ordem e previsibilidade, enquanto os flexíveis deixam as coisas correr, detestando planejar e prever
tudo na vida.
5) Uma análise fatorial das escalas mostrou que elas se compõem dedois ou três fatores distintos, mas os
coeficientes de fidedignidade de todos eles deixam a desejar, situando-se entre 0,55 a 0,77.
6) Uma vantagem deste instrumento consiste na escala de resposta utilizada: foi usada um escala de intensidade do
tipo diferencial semântico com 7 pontos, em lugar de escolha forçada corrente na maioria dos instrumentos de
temperamento.
8. Outros Instrumentos (Strelau, 1994):
1) Adolescenten Temperament Lijst (ATL). Feij, J.A. & Kuiper, C.D. (1984). ATL Handleiding: Adolescenten
Temperament Lijst. Lisse, Holland: Swets & Zeitlinger. Avalia: extraversão, emocionalidade, impulsividade,
procura de sensação (sensation-seeking).
2) Affect Intensity Measure (AIM). Larsen, R.J. & Diener, E. (1987). Affect intensity as an individual difference
characteristic: A review. Journal of Research in Personality, 21, 1-39. Avalia: intensidade do afeto.
3) Barratt Impulsiveness Scale (BIS-10). Barrat, E.S. (1985). Impulsiveness subtraits: Arousal and information
processing. In J.T. Spence & C.E. Izard (Eds.), Motivation, emotion, and personality. Amsterdam, Holland: North-
Holland, 137-146. Avalia: impulsividade motora, impulsividade cognitiva, impulsividade non-planning.
4) EAS Temperament Survey (EASTS). Buss A.H. & Plomin, R. (1984). Temperament: Early developing personality
traits. Hillsdale, NJ: Erlbaum. Avalia: sofrimento (distress), temor, raiva, atividade, sociabilidade.
5) Eysenck Personality Inventory (EPI). Eysenck, H.J. & Eysenck, S.B.G. (1968). Manual of the Eysenck Personality
Inventory. San Diego, CA: Educational and Industrial Testing Service. Avalia: extroversão, neuroticismo.
6) Eysenck Personality Questionnaire (EPQ). Eysenck, H.J. & Eysenck, S.B.G. (1975). Manual of the Eysenck Personality
Questionnaire (Junior & Adult). London: Hodder & Stoughton. Avalia: extroversão, neuroticismo, psicotismo.
7) Gray-Wilson Personality Questionnaire (GWPQ). Wilson, G.D., Barrett, P.T., & Gray, G.A. (1989). Human reactions
to reward and punishment: A questionnaire examination of Gray’s personality theory. British Journal of Psychology,
80, 509-515. Avalia: aproximação, esquiva ativa, esquiva passiva, extinção, luta, fuga.
8) Gregorc Style Delineator (GSD).
9) I7 Impulsiveness Questionnaire (I7 Questionnaire). Eysenck, S.B.G., Pearson, P.R., Easting, G., & Allsopp, J.F.
(1985). Age norms for impulsiveness, venturesomeness and empathy in adults. Personality and Individual differences,
6, 613-619. Avalia: impulsividade, espírito de aventura, empatia.
10) Inventário Fatorial de Temperamento (IFT). São Paulo, E. de (1999). Construção e validação de um inventário de
temperamento. Brasília, DF: UnB, tese de mestrado.
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11) Irritability and Emotional Susceptibility Scales (IESS). Caprara, G.V., Cinanni, V., D’Imperio, G., Passerini, S., Renzi,
P., & Travaglia, G. (1985). Indicators of impulsive aggression: Present status of research on irritability and
emotional susceptibility scales. Personality and Individual Differences, 6, 665-674. Avalia: irritabilidade,
susceptibilidade emocional.
12) Laboratory temperament assessment Battery (LAB-TAB); Pre- and locomotor versions. Goldsmith, H.H. & Rothbart,
M.K.(1992). Eugene: University of Oregon.
13) Marke-Nyman-Temperamentskala (MNT). Baumann, U. & Angst, J. (1972). Die Marke-Nyman-Temperamentskala
(MNT. Zeitschrift fuer klinische Psychologie, 1, 189-212. Avalia: validade, estabilidade, solidez.
14) New York Longitudinal Study Questionnaire for Early Adult Life (NYLSQ). Thomas, A., Mittleman, M., Chess, S.,
Korn, S.Y., & Cohen, Y. (1982). A temperament questionnaire for early adult life. Educational and Psychological
Measurement, 42, 593-600. Avalia: atividade, adaptabilidade, duração de atenção, distratibilidade, humor,
ritmicidade, limiar sensorial.
15) Structure of Temperament Questionnaire (STQ). Rusalov, V.M. (1989). Object-related and communicative aspects of
human temperament: A new questionnaire of the structure of temperament. Personality and Individual Differences,
10, 817-827. Avalia: ergonicidade, ergonicidade social, plasticidade, plasticidade social, tempo, tempo social,
emocionalidade, emocionalidade social.
16) The Reactivity Scale (RS). Kohn, P.M. (1985). Sensation seeking, augmenting-reducing, and strength of the nervous
system. In J.T. Spence & C.E. Izard (Eds.), Motivation, emotion, and personality. Amsterdam, Holland: North-
Holland, 167-173. Avalia: reatividade.
17) Revised Dimensions of Temperament Survey – Adult (DOTS-R Adult). Windle, M. & Lerner, R.M. (1986). Reassessing
the dimensions of temperament individuality across life span: The Revised Dimensions of Temperament Survey
(DOTS-R). Journal of Adolescent Research, 1, 213-230. Avalia: nível geral de atividade, nível de atividade de sono,
aproximação – evitação, flexibilidade – rigidez, ritmicidade – sono, ritmicidade – comer, ritmicidade – hábitos
diários, baixa distratibilidade, persistência.
18) Sensation-Seeking Scale Form IV (SSS IV). Zuckerman, M. (1979). Sensation seeking: Beyond the optimal level of
arousal. Hillsdale, NJ: Erlbaum. Avalia: procura de sensação, sucpetibilidade ao aborrecimento, desinibição,
procura de experiência, procura de aventura e excitamento.
19) Sensation-Seeking Scale Form V (SSS V). Zuckerman, M. (1979). Sensation seeking: Beyond the optimal level of
arousal. Hillsdale, NJ: Erlbaum. Avalia: procura de sensação, sucpetibilidade ao aborrecimento, desinibição,
procura de experiência, procura de aventura e excitamento.
20) Stimulus Screening Questionnaire (SSQ). Mehrabian, A. (1977). A questionnaire measure of individual differences in
stimulus screening and associated differences in arousability. Environmental Psychology and Nonverbal
Behavior, 1, 89-103. Avalia: estímulo de screening-arousability.
21) Strelau Temperament Inventory (STI). Strelau, J. (1983). Temperament-personality-activity. London: Academic Press.
Avalia: força de excitação, força de inibição, mobilidade de processos nervosos, equilíbrio de processos nervosos.
22) Strelau Temperament Inventory – Revised STI-R). Strelau, J., Angleitner, A., Bantelmann, J., & Ruch, W. (1990). The
Strelau Temperament Inventory – Revised (STI-R): Theoretical considerations and scale development. European
Journal of Personality, 4, 209-235. Avalia: força de excitação, força de inibição, mobilidade de processos nervosos,
equilíbrio de processos nervosos.
23) Temperament Inventory (TI). Cruise, R.J., Blitchington, W.P., & Futcher, W.G.A. (1980). Temperament Inventory:
An instrument to empirically verify the four-factor hypothesis. Educational and Psychological Measurement, 40, 943-
954. Avalia: fleumático, sanguíneo, colérico, melancólico.
24) Temporal Traits Inventory (TTI). Gorynska, E. & Strelau, J. (1979). Basic traits of the temporal characteristics of
behavior and their measurement by an inventory technique. Polish Psychological Bulletin, 10, 199-207. Strelau, J.
(1983). Temperament-personality-activity. London: Academic Press. Avalia: persistência, reocorrência, mobilidade,
regularidade, velocidades, tempo.
25) Thurstone Temperament Schedule (TTS). Thurstone, L.L. (1953). Examiner manual for the Thurstone Temperament
Schedule (2nd ed.). Chicago, IL: Science Research Associates. Avalia: ativo, vigoroso, impulsivo, dominante,
emocionalmente estável, sociável, reflexivo.
26) Vando Reducing-Augmenting Scale (RAS). Barnes, G.E. (1985). The Vando R-A Scale as a measure of stimulus
reducing-augmenting. In J. Strelau, F.H. Farley, & A. Gale (Eds.), The biological bases of personality and
behavior: Theories, measurement techniques, and development (Vol. 1, pp. 171-180). Washington, DC:
Hemisphere. Avalia: reduzindo-aumentando.
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Título: Os Tipos Humanos: A Teoria da Personalidade
Autor: Luiz Pasquali
Editora: CopyMarket.com, 2000
3. Teoria da Personalidade
Luiz Pasquali
Introdução
1.1. Preâmbulo
A terminologia e os conceitos emitidos durante a história sobre a questão do temperamento e da teoria da
personalidade em geral dão uma sensação de uma grande babel ou, pelo menos, de uma criatividade exorbitante,
como vimos em capítulos anteriores. É muito difícil ver, por detrás de todas essas posições, uma tentativa mais
axiomatizada de uma teoria que leve em conta as dimensões fundamentais de um ser como o ser humano. Elas
parecem mais surtos criativos de alguns autores, baseados, quiçá, em intuições momentâneas, observações clínicas
mais ou menos esporádicas, achados mais ou menos fortuitos que deram certo êxito ou preconceitos filosóficos
queridos da época e, até, devaneios esotéricos. No caso do temperamento, de um modo geral os conceitos
emitidos por estes autores giram basicamente em torno de dois eixos: um físico, outro psicológico, se não
levarmos em conta o eixo “espiritual” dos esotéricos. O eixo físico segue duas linhas no estabelecimento dos tipos
ou temperamentos, a saber, as tipologias baseadas nos humores (linha arcaica) ou nos hormônios (linha moderna)
e as tipologias baseadas no tipo físico do corpo ou tipologias morfológicas. Ambas estas correntes deixaram de ser
proeminentes na literatura científica hoje em dia e, ao que parece, estão em via de extinção, pelo menos como base
primária para definir tipos psicológicos. Por outro lado, está aumentando o interesse na definição de tipos
psicológicos tomando como fundamento características mais psicológicas da personalidade humana. As tentativas
históricas nesta última área enveredaram por todas as direções, procurando eixos de estratificação os mais
variados. Jung, por exemplo, trabalhava com vários eixos, a saber
− Movimento da energia (libido, para ele) para dentro ou para fora
− Nível racional ou irracional (isto é, inconsciente para ele)
− Função de conhecimento ou de sentimento
− Estilo de vida orientado pelo julgamento ou pela percepção.
Outros ainda introduziram mesmo conceitos filosóficos e até religiosos nesta classificação tipológica (veja, por exemplo,
Klages e Adler no capítulo 1). Enfim, conforme vimos rapidamente nos capítulos 1 e 2, os autores inventam todo o
tipo de classificação, apenas que aparece difícil e quase desesperador procurar ver alguma lógica mais profunda,
epistemologicamente fundamentada, para sustentar tantos modos de pensar sobre a personalidade humana.
1.2. O Objetivo
{©Diante de tanta discrepância parece até uma temeridade tentar definir ou redefinir este campo do
temperamento ou da personalidade. Mas vamos tentar de novo, para ver se dá para pôr alguma ordem nesta
pletora de caracterizações por que passou e vem passando a teoria na área da personalidade. O objetivo primordial
desta tentativa consiste em oferecer aos pesquisadores da personalidade humana um arcabouço ou contexto de
referência, o mais axiomatizado possível (pelo menos formal), através do qual o estudioso da área possa se orientar
e contextualizar o seu tema de interesse e pesquisa. Parece importante tal intento no sentido de incrementar a
convergência das pesquisas, das temáticas e da terminologia, objetivando unir esforços e resultados para bem da
teoria psicológica. A importância de um tal contexto de referência parece extremamente relevante para
fundamentar e garantir um progresso mais linear, continuado e somativo da teoria e da pesquisa psicológica. Tal
eixo de referência não torna teorias setoriais inúteis muito menos erradas, apenas as torna conscientes de sua
regionalidade, evitando inclusive o perigo do imperialismo, isto é, de que cada teoria setorial assuma o papel da
teoria psicológica pura e simplesmente, como vem ocorrendo sistematicamente na história dos sistemas em
Psicologia. A utopia, “no bom sentido”, aqui defendida é finalmente a busca da teoria psicológica, superando as
teorias psicológicas, de sorte que algum dia os psicólogos possam estar falando uns com os outros em linguagem e
temas que não sejam ambíguos, quando não idiossincráticos.
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Aliás, a teoria a ser exposta a seguir vai parecer um entrosamento de obviedades. Por serem assim, parece também que
ninguém quis pô-las junto. Mas a força da teoria é precisamente entrosar tais obviedades que o saber humano criou ou
descobriu sobre ele próprio. Este entrosamento de fatos sobre o ser humano visa evitar os intermináveis e frustrantes
modismos que seguidamente surgem dentro da Psicologia, como os atuais Big-5, a Inteligência Emocional e outros
tantos, que no final das contas tornam ridículo o papel do psicólogo no campo da ciência. Não que esses modismos
estejam errados; apenas, o erro está em querer fazer desses recortes simplesmente a teoria da personalidade, sem se
darem conta que são recortes; por mais legítimos e úteis que eles sejam para o conhecimento e a prática em Psicologia,
são sempre recortes e seus proponentes deveriam ser capazes de se conscientizar e definir os limites de tais recortes. Os
modismos surgem justamente porque falta em Psicologia um quadro de referência para a criatividade, às vezes
exorbitante, dos psicólogos em sua área de pesquisa. A presente teoria quer precisamente procurar um tal quadro de
referência para dar sentido a estes modismos e mostrar sua regionalidade. Agora, a teoria vai parecer pôr em evidência
obviedades que o saber humano coletou sobre si mesmo na história e, por serem assim, vão de início parecer
irrelevantes. Mas, vamos lá.
1.3. Os Pressupostos
O problema para procurar uma tal redefinição acima proposta é o ponto de partida. Que eixos existem, os quais
possam ser considerados básicos para a descrição do comportamento humano, levando em conta a totalidade do
seu ser? “A totalidade do ser humano” já nos coloca numa sinuca. Isto porque posso entender esta totalidade num
sentido rigoroso e, então, todas as dimensões que o conhecimento humano, ou até além dele, tem sobre tal
realidade devem entrar em jogo; ou, então, entendo por totalidade do ser humano aquelas dimensões que a ciência
empírica pode conceber e estudar.
O conhecimento humano sobre este ser chamado “homem” provém de fontes muito distintas. De fato, o
conhecimento denominado científico (as ciências empíricas) se interessa por este homem (biologia, química,
ciências humanas e sociais em geral, obviamente a psicologia), mas também o conhecimento metafísico, isto é, a
filosofia, se interessa pelo mesmo ser, assim como o conhecimento teológico (a teologia) se interessa e pretende
produzir verdades sobre este mesmo ser humano. Todas estas formas de conhecimento se baseiam em métodos de
produzir o conhecimento que não são uns redutíveis aos outros, além de possuírem critérios diferentes, e também
irredutíveis uns aos outros, para demonstrarem a legitimidade das verdades que produzem. As ciências e a filosofia
tratam do homem como, digamos, ser natural, enquanto a teologia a considera como ser sobrenatural, ou melhor,
considera nele uma dimensão de caráter não-natural (= sobrenatural)1.
Partindo da suposição razoável de que todos estes conhecimentos são legítimos, e este é o grande pressuposto no
momento, surgem então de imediato, pelo menos, duas visões, talvez não contraditórias, mas muito distintas sobre
este ser humano. Poderíamos chamar uma das visões de concepção do “Homo philosophicus” (a das ciências e da
filosofia) e a outra do “Homo theologicus” (a da teologia).
Deste alerta já surgem dois pontos de partida para a nossa problemática do conhecimento do ser humano:
1) Partindo da visão do “Homo philosophicus”, verificamos que a filosofia define o ser humano como animal
racional (ou se quiser, macaco ou primata racional), e ali já podemos talvez ter uma das dimensões necessárias a
serem consideradas neste contexto. Desta consideração segue, na verdade, que o ser humano tem, pelo menos,
dois níveis de ser, a saber, um físico (biológico) e outro psíquico (psicológico); do contrário, o adjetivo “racional”
não significaria nada de substantivo na definição do ser humano.
2) Se, contudo, partirmos de uma definição mais ampla ainda, ou seja, da visão do “Homo theologicus”, deve
entrar neste contexto a dimensão espiritual. Neste caso, além das duas dimensões acima assinaladas, esta espiritual
deve ser considerada também.
Aliás, você viu na introdução deste tema, que estas três dimensões do ser humano já foram utilizadas para definir e
caracterizar teorias de temperamento. O problema com essas teorias é que elas tornam uma das dimensões como a
única e exclusiva, deixando as outras de fora ou em segundo plano. Por que não levar em conta as três e montar
uma teoria completa, na qual as três dimensões têm seu dizer?
1
Uma discussão mais elaborada sobre a epistemologia do saber pode ser encontrada no capítulo 1 do livro “Delineamento de pesquisa
científica” (L. Pasquali, org., 2000).
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Visto dentro desta problemática, o ser humano pode ser configurado como a confluência da atividade da evolução
natural e da intervenção divina. Esta pode ser visualizada numa figura que associa, de baixo para cima, a evolução
do primata até o homem e, de cima para baixo, a extensão da mão de Deus tocando a do homem, como ilustrado
por Miguel Ângelo na Capela Sistina de Roma.
Entretanto, como a Psicologia, enquanto ciência, não possui instrumentos e metodologia para racional e utilmente
trabalhar a dimensão espiritual, como cientistas devemos nos contentar com conceber o ser humano constituído
simplesmente de corpo e mente. Obviamente, em existindo a dimensão espiritual, sua não inclusão torna o estudo do
ser humano incompleto e, consequentemente, do seu comportamento também. Mas o conhecimento humano,
qualquer que ele seja, deve sempre fazer recortes na realidade para poder estudá-la segundo seus métodos e
possibilidades. A admissão da dimensão espiritual, pelo menos, torna a Psicologia consciente de que o conhecimento
que ela produz sobre o ser humano é limitado, é um recorte. Então, vamos considerar o ser humano como composto
de corpo e mente, como recorte que a Psicologia pode estudar deste ser.
2 - A Estrutura da Personalidade
2.1. Os Vetores da Estrutura da Personalidade
Visto que o sujeito humano age como uma unidade, ainda que heterogênea, de corpo-e-mente, estes dois
componentes, físico e psíquico, devem estar sempre interagindo e, de algum modo, agindo conjuntamente. Mesmo
assim, pode-se visualizar a possibilidade na qual alguns indivíduos agiriam mais sobre o impacto de um dos
componentes, enquanto outros agiriam mais sob o outro. Dali já surge a possibilidade de se caracterizarem os
sujeitos em tipos diferenciados em termos do predomínio de um destes componentes, físico ou psíquico, no seu
modo de ser e de se comportar. Por que não? Inclusive, a tipologia jungiana de extroversão vs. introversão pode ser
concebida como representando esta polaridade de ser do homem, sendo a primeira a orientação para fora, para o
físico, e a segunda a orientação para dentro, para o psíquico (veja a figura 3-4 e em especial a figura 3-8). De
qualquer forma, a concepção filosófica caracteriza o ser humano como uma unidade composta de dois elementos
heterogêneos agindo em uníssono, a saber, o físico e o psíquico.
A esta distinção do ser em físico e psíquico deve estar também associada a distinção de inconsciente e consciente. A
consciência, como uma nova realidade evolutiva, emergente a partir do físico e biológico (Popper, 1977; Davies, 1983),
representa o psíquico, enquanto o inconsciente representa mais o biológico, o físico. Esta distinção vem também
explicitada em termos de racional e irracional; o que está adequado, apenas que ela reduz a polaridade do ser (mente-
corpo) ao nível da função do conhecer, deixando de fora os aspectos do sentir e do agir, como veremos a seguir.
Como o ser humano é uma entidade una que pode ser analisada em sub-sistemas variados, uma dessas análises
pode ser feita em termos da predominância dos componentes físico e psíquico em tais sistemas. Assim, um
subsistema neste ser humano é constituído por aquela região onde predomina o físico e outra em que predomina o
psíquico. Há, contudo, um momento em que o físico e o psíquico se equilibram formando um estágio, sistema ou
esfera do ser humano em que ambos os níveis de ser atuam igualmente. Esta distinção bate com o que Freud
descreve e chama de consciente, pré-consciente e inconsciente, sendo o consciente o predominantemente psíquico,
o inconsciente o predominantemente físico e o pré-consciente a esfera entre os dois ou o ser misto físico-psíquico
(veja figura 3-1d e figura 3-4).
Isto daria conta do ser do indivíduo ser humano, na visão do “homo philosophicus”.
Aqui se faz necessária pelo menos uma nota sobre a problemática da mente, isto é, da esfera psíquica do ser
humano. A admissão e sobretudo a concepção de uma realidade mental no ser humano não é algo consensual e
tranqüilo entre os psicólogos e mesmo filósofos que estudam este ser humano. Aqui existem duas tendências que
me parecem nefastas e que gostaria de comentar, porque elas vêm sempre atrapalhando a compreensão do que seja
o psíquico. Poderíamos chamar estas tendências de reducionismo materialista e o essencialismo reificante. O
reducionismo procura, de todos os modos, reduzir os processos psíquicos a processos biológicos. A visão
materialista tem feito isto sistematicamente durante toda a história do conhecimento humano; em Psicologia, além
do behaviorismo, ela aparece atualmente clara no ramo da neuro-psicologia: redução dos processos mentais a
processos corticais sutis ou similares. Por que isso? Porque se parte, explícita ou implicitamente, da suposição ou
do preconceito que só existe o biológico e, assim, o mental vai ter que ser reduzido a ele de qualquer modo. Por
que não assumir o papel de cientista?
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O papel do cientista é procurar estudar e entender a realidade e não criar a realidade. Agora, os processos
biológicos no ser humano devem ser descritos e entendidos ao nível da Biologia e procurar as leis que regem tais
processos; os processos psíquicos devem ser descritos e entendidos ao nível da Psicologia e é função do psicólogo
cientista descobrir as leis que regem estes processos, ou será que a Psicologia é simplesmente um ramo da
Biologia? Ora, se os dois tipos de processos não podem ser descritos e entendidos isomorficamente, então as leis
que os regem também não são as mesmas. Então, quais são as leis que regem o psíquico se elas são diferentes das
leis puramente genéticas? Pois é, é precisamente a função do psicólogo descobri-las. Para que, afinal, existe a
ciência da Psicologia? Reduzir as leis do psíquico às leis genéticas me parece uma saída simples e uma fuga da
pesquisa das verdadeiras leis. Evidentemente, tal postura não resolve o problema do conhecimento dessas leis,
apenas impõe responsabilidade e seriedade no psicólogo de, em vez de fugir para explicações simples ou
simplistas, ter que procurar e escavar essas leis da realidade psíquica.
Outro problema para entender o psiquismo humano, problema tão grave quanto o do reducionismo materialista, é
a visão essencialista. Esta tendência admite o psíquico como diferente do biológico, mas o faz de uma maneira a
tornar a realidade psíquica algo totalmente distinto e independente do biológico, como já o havia feito Descartes
(1637, 1983) séculos atrás. Assim, para o essencialista, o ser humano é composto de duas coisas totalmente
distintas: uma material e outra mental. Aliás, nem se poderia dizer que ele é composto dessas duas coisas, porque
as duas existem independentemente; assim, de fato o ser humano seria um agregado e não uma composição. Aqui,
novamente o cientista está criando uma realidade por conta própria (a mente como uma espécie de fantasma!),
quando sua função consiste em descobrir a realidade como ela é. Pois, a experiência de cada ser humano não é de
que ele age independentemente com o corpo, algumas vezes, e outras com a mente; a experiência é de que nós
agimos simultaneamente (na maioria das vezes) com nosso corpo e nossa mente. Se isto é um fato, então o
cientista tem que descrevê-lo assim e procurar entendê-lo de acordo. Então, ao que parece, o ser humano, mesmo
composto de duas realidades distintas, age como uma unidade, sendo as duas realidades absolutamente
inseparáveis tanto no ser quanto no agir. Como é que é isso possível? Pois esta é função do psicólogo descobrir e
não de negar. E a Psicologia já descobriu tal realidade de um dualismo interacionista que nossa experiência diária
nos propõe? Parece que estamos ainda muito longe de tal conhecimento, o que, evidentemente, é uma desgraça
para a ciência psicológica. Daí resulta que cada psicólogo entende esta realidade de corpo e mente do seu jeito. Eu
a entendo mais ou menos da seguinte forma:
Do dito acima, parto do princípio que existe a engenharia genética no ser humano e existe também a engenharia
psíquica; ambas regidas por leis distintas, mas ambas interdependentes. A engenharia genética se rege pelas leis
genéticas, que uma teoria biológica como a da evolução pode explicar; a engenharia da mente se rege por leis
psíquicas, fundamentadas também na evolução biológica, sendo que esta, a certa altura, produziu uma realidade
distinta da realidade biológica, como uma espécie de emergência, na expressão de Popper (1977). Perguntar como
é que isto é possível é enveredar para o terreno das impossibilidades; como, entretanto, tal realidade existe, é
preciso partir do fato consumado e procurar explicar e entender como tal mecanismo funciona, numa perspectiva
evolutiva reversa, como diria Pinker (1999), isto é, partir do mecanismo existente e em funcionamento para
procurar o como e as causas de tal funcionamento, já que a partir das causas e fenômenos genéticos não dá para
construir um tal mecanismo que funcione (estou falando do mecanismo da mente, que não funciona simplesmente
pelas leis genéticas, ainda que delas dependa). O fato de que nós nem conhecemos minimamente estas leis da
mente não é motivo para negá-las. Se você se lembra, a própria Física, que se atribula há milênios para conhecer
seu objeto de estudo, apenas há mais de um século começou a realmente entendê-lo; a Psicologia não tem milênios
de história, aliás tem apenas um século. A Física já conseguiu chegar a elementos primários da realidade física, os
quarks, bosons e leptons, elementos que aparecem quase abstrações. A Psicologia apenas conseguiu até o presente
chegar a elementos do tipo idéia, imagem, sentimento e decisão, elementos que parecem ainda muito “grossos”.
Mas é atrás destes elementos que a Psicologia deve ir e explicar, descobrir sua estrutura e as leis que os regem, e
não ir à cata dos elementos da Física e nem da Biologia. A presente teoria não pretende resolver todos esses
problemas, mas ela indica, pelo menos, que os temas da mente devem ser procurados na esfera do psíquico e não
do físico e, ainda, que os mecanismos da mente e genéticos sejam conjugados em seu ser e agir. Que isso
constitui uma tarefa agigantada e assustadora, é um fato. Mas a própria Biologia, com seus séculos de vida, apenas
agora está começando a entender as leis genéticas, descobrindo os fenômenos da DNA e do genoma humano.
Quando é que a Psicologia começará a vislumbrar um genoma da mente?
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Agora, voltando ao tema da estrutura da personalidade. Uma outra vertente de diferenciação entre os indivíduos,
além do ser, poderia ser considerada a atividade, a função (como diria Jung) ou as capacidades ou faculdades deste
ser humano. E esta atividade pode ser concebida, como o tem sido na tradição histórica da Filosofia e também da
Psicologia, como tripartite, a saber, as funções de conhecer, sentir e agir, ou por outros nomes sob os quais se queira
entender estas três funções, além dos seus substantivos de conhecimento, sentimento e motivação ou vontade, ou,
ainda, faculdade cognitiva, faculdade afetiva e faculdade conativa. Nesta parte já não aparece tão clara esta
distinção em três funções, pois outros diriam que elas são em maior número. O próprio Jung fazia aqui algumas
distinções que podem parecer até estranhas ou, pelo menos, não se vê bem o por quê de tais distinções. A
armadura psicanalítica certamente é uma das causas de tais idiossincrasias de Jung. Ele distinguia as funções em
termos de energização (extroversão vs. introversão), atenção (sensação vs. intuição), decisão (pensamento vs.
sentimento) e vivência (julgamento vs. percepção). Além de conceber estes conceitos de um modo peculiar (por
exemplo, intuição estaria ligada a uma coisa chamada “sexto sentido”!), Jung parece estar amarrado à tradicional
magia do número 4, a qual vem desde Pitágoras. E outros, ainda, têm outras sugestões neste particular das funções
humanas (veja no capítulo 1, onde Allport apresenta dezenas delas). Vamos admitir a distinção tripartite da função
(conhecer, sentir, agir). Mais adiante, veremos que estas três funções na verdade são categorias de funções, porque
dentro delas muitas sub-funções podem ser diferenciadas.
2.2. As Combinações Vetoriais da Personalidade
Admitindo estes cinco vetores (2 de ser e 3 de função) na estruturação da personalidade, podemos, então,
enquadrar todos estes elementos de ser e de função do ser humano num esquema de mútua interação e divisar a
situação apresentada na tabela 3-1.
Tabela 3-1. Fatores geradores dos temperamentos ou personalidade
FUNÇÃO
SER Conhecer (C) Sentir (S) Agir (A)
Físico (Φ) Sensação Emoção Atos instintivos
Psíquico (ψ) Pensamento Sentimento Atos livres
Esta tabela quer expressar que a função de conhecimento se manifesta, ao nível físico do ser humano, no
fenômeno da percepção sensorial (a sensação) e, ao nível psíquico, na elaboração teórica da realidade (o
pensamento). O sentir se manifesta na emoção corporal e no sentimento ao nível psíquico. O agir, por sua vez, se
manifesta na ação instintiva, reflexa, ao nível físico, e na ação livre, na tomada de decisão, goal-oriented activity, ao
nível psíquico. Os símbolos gregos expressam a terminologia técnica sob a qual os níveis do ser humano têm sido
expressos durante a história: o Φ abrevia Fisis (Φυσιζ) e o ψ constitui a sigla para Psique (Ψυχη).
Como nota, vejamos como ficaria esta configuração se acrescentássemos a dimensão espiritual. A tabela 3-2 faz
esta visualização (incluindo símbolos para as funções: cabeça, coração, mãos).
O Π é a abreviação de Pneuma (Πνευµα)
Físico ( )Φ
Conhecer Sentir Agir
Sensação Emoção Atos Instintivos
Pensamento Sentimento Atos Livres
Contemplação União Mística
(Êxtase)
Ágape
SER
Tabela 3-2. Fatores geradores da personalidade
FUNÇÃO
Psíquico ( )Ψ
Espiritual ( )Π
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Para cada um desses seis tipos de atividade, o ser humano deve possuir um instrumento ou órgão, vamos chamar
de faculdade, que o qualifica para desempenhar tal função, dado que é axiomático de que a função procede da
estrutura. Assim, para a percepção ele tem os sentidos; para a teoria, ele tem a inteligência (intelecto); para a
emoção, ele possui o sistema neuroendócrino (a emoção surge espontaneamente “do intestino”, dizem os taitianos
– Levy, 1984); para o sentimento, ele tem o senso do valor (atitude?); para a ação instintiva, ele possui o instinto; e
para a ação livre, ele tem a vontade, como fica ilustrado na tabela 3-3.
Tabela 3-3. Faculdades humanas em termos de ser e função
FUNÇÃO
SER Conhecer Sentir Agir
Físico Sentidos Sistema Neuroendócrino Instinto
Psíquico Intelecto Senso de valor Vontade
Novamente, como nota, com a dimensão espiritual, este quadro seria o da tabela 3-4.
Tabela 3-4. Faculdades humanas em termos de ser e função
FUNÇÃO
SER Conhecer Sentir Agir
Físico Sentidos Sistema neuroendócrino Instinto
Psíquico Intelecto Senso de valor Vontade
Espiritual Fé Esperança Caridade
Contudo, você vê que as faculdades envolvidas na esfera do sobrenatural não são mais, digamos, dádivas da
natureza, mas dádivas diretas de Deus. Aquelas são tratadas pela Ciência e estas o são pela Teologia. De sorte que
para o psicólogo, cientista, não parece possível trabalhar racional e utilmente com o esquema da figura 3-4. A
Psicologia consegue trabalhar a experiência que o ser humano tem, por exemplo, da percepção sensorial, bem
como da percepção intelectual da realidade, mas não consegue tratar da percepção espiritual da realidade. A
Teologia é que trabalha esta última. Inclusive, ela afirma que inicialmente o ser humano tinha esta percepção
espiritual como a mais típica do seu agir, na época em que ele vivia no éden, onde a visão de Deus era o evento
corriqueiro. Mas o homem perdeu esta habilidade por uma ocorrência que é contada na saga do “pecado original”.
A Teologia também nos conta que o homem pode readquirir tal habilidade, não sendo ela mais, no presente, uma
visão, mas através da fé, pelo menos durante um certo período de tempo, isto é, enquanto o ser humano viver no
mundo mortal; depois (da morte), ele terá de volta definitivamente esta habilidade, dependendo de como ele
aproveitou esta vida mortal (esta história é contada pelo cristianismo sob os eventos da primeira e segunda vinda
de Cristo ao mundo). Infelizmente, enquanto ele viver neste mundo mortal, o ser humano já não possui (mais) esta
visão ou percepção espiritual da realidade (e com isto também não o sentir e o agir neste nível), a não ser através
da fé e das outras faculdades espirituais.
Quanto a esta estrutura, devemos finalmente observar que os instrumentos que o ser humano possui em cada uma
das 6 combinações não são um único. Na verdade, estas combinações representam categorias nas quais se situam
arsenais de instrumentos ou habilidades que o ser o humano possui em cada uma delas. Veja, por exemplo, o caso
dos sentidos: temos cinco deles. Podemos descobrir vários instrumentos também nas demais combinações, como
procura mostrar a tabela 3-5. No caso do intelecto, por exemplo, você pode ver que os instrumentos ali presentes
explicariam a distinção, que continuamente ocorre na literatura sobre a inteligência, entre racional (raciocínio) e
irracional (imaginação e intuição).
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Tabela 3-5. Faculdades humanas em termos de ser e função
FUNÇÃO
SER Conhecer Sentir Agir
Físico
Sentidos:
. Gosto
. Visão
. Gustação
. Olfato
. Audição
Sistema
Neuroendócrino:
. Simpático
. Parassimpático.
Instinto:
. Alerta
. Sobrevivência
. Acasalamento (mating)
. Exploração
. Mothering (proteção)
Psíquico
Intelecto:
. Memória
. Percepção
. Imaginação
. Intuição
. Raciocínio
Senso de valor:
. Estético (belo)
. Ético (bom)
. ? (grande)
. ? (mágico)
Vontade:
. Atenção
. Escolha
. Significado da vida
(will to meaning)
2.3. O Poliedro da Estrutura da Personalidade
As distinções acima feitas podem ser visualizadas melhor nas
figuras 3-1 a 3-5. Na figura 3-1a está ilustrado que o ser humano é
constituído de dois níveis de ser, a saber, o psíquico (Ψ) e o físico (Φ),
ambos capazes de três funções, isto é, conhecer, sentir e agir. Em figura 3-
1b todas estas distinções estão postas numa unidade corpo-mente.
Na figura 3-1c há tentativa de distinguir as três funções em
funções puras ou dominantes e funções mistas, expresso com cortes
transversais do sólido geral da figura.
Os sólidos expressos pelas arestas da figura expressam as
funções dominantes de conhecer (sólido frontal), sentir (sólido da
esquerda) e agir (sólido da direita), seja em nível psíquico ou físico; os
sólidos entre os das arestas expressam as funções mistas de conhecer-
sentir (sólido intermédio da esquerda), conhecer-agir (sólido
intermédio da direita), sentir-agir (sólido intermédio de trás), como
procura salientar a figura 3-3.
Fazendo cortes longitudinais na figura temos a situação da
figura 3-1d, a qual expressa o ser do homem em termos de psíquico
dominante (cone superior), misto (parte intermédia, do equador) e
físico dominante (cone inferior).
Olhando a figura 3-1c,d de cima, podemos visualizar o ilustrado
na figura 3-2, onde aparecem todos os tipos em termos das funções
(conhecer, sentir, agir) e dos dois níveis do ser (psíquico, físico).
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A figura 3-3 pretende mostrar como aparecem os tipos
do nível psíquico, quando este for puxado para cima.
Fazendo o mesmo com os tipos do nível físico,
teremos como visualização o apresentado nas figuras 3-
4 e 3-5, as quais mostram os 18 tipos diferentes que
surgem destas distinções feitas, como expressos nas
próprias figuras.
Dentro do esquema proposto, de fato você pode
distinguir um número ilimitado de tipos humanos, o
que eqüivaleria a dizer que cada sujeito, passado,
presente e futuro, aparece como um tipo único. Mas
uma distinção em um número menor de tipos ou
classes é útil para fins práticos e para o conheci-
mento psicológico. O número destes tipos depende
do gosto do pesquisador ser mais analítico ou sinté-
tico; aquele distinguiria um número maior de tipos e
este um número menor. Distinguimos aqui 18, não
como um número mágico, mas como um compro-
misso entre uma descrição por demais analítica ou
demasiadamente sintética. Como veremos a seguir,
18 já é um número que dificulta bastante a caracteri-
zação clara e disjuntiva, em termos substantivos ou
psicológicos, de todos estes tipos.
O que acabamos de dizer pode ser parafraseado da
seguinte maneira: Se considerarmos os dois níveis de
ser e as três funções como vetores num espaço
multidimensional, então cada ser humano poderá ser
expresso como um ponto definido pela resultante
destes 5 vetores neste mesmo espaço, o que vai
resultar em que cada sujeito representa um tipo único
dentro do espaço. Contudo, esta maneira de
expressar possibilita também visualizar que o ponto
que define a posição do sujeito neste espaço 5-
dimensional possa cair dentro ou mais próximo de
uma das 18 classes ou tipos que a figura sugere
poderem surgir da combinação dos 2 níveis de ser e
das 3 funções; assim, o sujeito poder ser classificado
dentro deste tipo, de preferência a ser considerado
cada um dos sujeitos um tipo único e peculiar.
Evidentemente, estes 18 tipos se apresentam com
matizes muito variados. Por exemplo, o indivíduo no
qual predomina a combinação vetorial do intelecto,
pode sê-lo assim por várias razões, já que o intelecto
é um sumário de várias habilidades distintas, isto é,
percepção, imaginação, intuição e raciocínio. De
sorte que sujeitos caracterizados pela função do
intelecto se apresentam muito distintos entre si,
unicamente dependendo da caracterização pelo
intelecto, além, obviamente da combinação neles dos
outros vetores da personalidade.
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Assim, a caracterização
individual de cada sujeito se
torna extremamente variada e
complexa, para a qual vamos
necessitar de instrumentos de
medida que nos forneçam
indicadores para poder
discriminar cada sujeito
individualmente.
Levando em conta a última
observação feita acima, um
instrumento que meça os vários
tipos psicológicos pode produzir
um único escore
multidimensional que
expressaria o sujeito como um
ponto neste espaço 5-
dimensional, definido pelos 2
vetores do ser (psíquico, físico) e
pelos 3 vetores das funções
(conhecer, sentir, agir). Como
não dá para geometricamente
expressar um espaço de 5
dimensões, a representação
gráfica de um tal ponto ou
escore pode ser efetuada em 6
figuras, nas quais as funções são
representadas duas a duas para
cada nível do ser, como procura
mostrar o esquema da figura 3-6.
Figura 3-6: Ψ Φ
Representação vetorial do escore em
dimensão bidimensional Sentir Sentir
Conhecer
Ψ
Conhecer
Φ
Agir Agir
Conhecer
Ψ
Conhecer
Φ
Agir Agir
Sentir Sentir
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27
Neste esquema, o escore do sujeito é representado por um ponto em cada um dos quatro quadrantes de cada
quadrado bidimensional.
A leitura e a compreensão de um tal escore e de sua representação é de difícil visibilidade. Por isso, para fins
práticos, o escore do sujeito num tal instrumento pode também ser expresso como um perfil unidimensional, nas
seis combinações vetoriais expressas na tabela 3-1 e na figura 3-7.
Este aspecto da medida será detalhado mais adiante (onde a figura 3-12 corrige a figura 3-7). Aqui cabe, apenas,
observar que esta última forma de expressar o escore tira a qualidade multidimensional do mesmo, transformando
a representação do sujeito num espaço unidimensional, no qual cada uma das seis combinações se constitui em
fator independente. Embora esta representação tire a unidade do conceito multidimensional à posição do sujeito
no campo semântico da personalidade, ela, contudo, ajuda a visualizar melhor o tipo ou tipos dominantes nos
quais o seu escore posiciona o sujeito. Entretanto, não se deve perder de vista que a expressão da posição
tipológica do sujeito expressa em perfil de 6 pontos constitui uma dissecação analítica desta sua posição espacial ou
escore multidimensional.
Sobre as representações gráficas da estrutura da personalidade (figuras 3-1 a 3- 5) cabe uma observação ou
retificação importante: as figuras dão a impressão de um dissecamento brutal entre os vários níveis do ser e das
funções. De fato, o ser humano não é um agregado que resulta da soma de componentes, mas ele é uma entidade
una, composta, sim, de elementos, sendo estes inclusive elementos heterogêneos, onde um é físico e o outro não-
físico (o psíquico), por exemplo. Como é possível que tal evento seja possível ocorrer? Bem, este é um problema
que a filosofia deve discutir. Para o cientista (psicólogo), esta unidade heterogênea tanto é possível que é e pronto.
O psicólogo procura verificar como tal unidade funciona, se estrutura e se comporta. Para melhor salvar
visualmente esta unidade do ser humano, a figura 3-1b, da qual resultam todas as outras, seria expressa melhor
como na figura 3-8. Esta ilustração visualiza a unidade do ser homem, na figura 3-8a, para o caso do “homo
philosophicus” e a figura 3-8b para o “homo theologicus”. Entretanto esta forma dificulta ilustrar os detalhes que
as figuras, em especial as 3-3 e 3-5, pretendem descrever. Este alerta serve para não perder de vista que todas as
distinções feitas em termos de estrutura e função são dissecações analíticas, não correspondendo ao
funcionamento unitário do ser humano.
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  • 3. CopyMarket.com Os Tipos Humanos: A Teoria da Personalidade – Luiz Pasquali 2 CopyMarket.com Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida sem a autorização da Editora. Título: Os Tipos Humanos: A Teoria da Personalidade Autor: Luiz Pasquali Editora: CopyMarket.com, 2000 Sumário Luiz Pasquali Prefácio Capítulo 1 - Conceito de Temperamento 1. Introdução 2. História do Temperamento 3. Teorias do Temperamento 3.1. Teoria dos humores 3.2. Teorias Morfológicas 3.3. Teorias psicológicas (tipologias psicológicas) 3.3.1. Tipologia de Jung 3.3.2. Tipologia de Thomas e Chess 3.3.3. Tipologia de Buss e Plomin 3.3.4. Modelo psicológico de temperamento e caráter Capítulo 2 - Instrumentos de Medida do Temperamento 1. Myers-Briggs Type Indicator (MBTI) 2. Keirsey-Nates Temperament Sorter (KBTS) 3. Guilford-Zimmerman Temperament Survey (GZTS) 4. Pleasure-Arousal-Dominance (PAD) 5. Pavlovian Temperament Survey (PTS) 6. Student Temperament Assessment Record (STAR) 7. Inventário Fatorial de Temperamento (IFT) 8. Outros Instrumentos Capítulo 3 - Teoria da Personalidade 1. Introdução 1.1. Preâmbulo 1.2. O objetivo 1.3. Os pressupostos 2. A Estrutura da Personalidade 2.1. Os vetores da Estrutura da personalidade 2.2. As combinações vetoriais da personalidade 2.3. O poliedro da estrutura da personalidade 3. A Dinâmica da Personalidade 3.1. A energia bio-psíquica 3.2. A ativação da energia 3.4. A dinâmica do comportamento 4. O Contexto da Personalidade 5. Caracterização dos Vetores e Combinações Vetoriais 5.1. Caracterização dos vetores 5.2. Caracterização das combinações vetoriais 5.3. Quantificação dos vetores da personalidade 5.4. Caracterização dos 18 tipos de personalidade 6. A Medida da Personalidade 6.1. Operacionalização em cima dos vetores 6.2. O perfil tipológico 6.3. Operacionalização em cima dos 18 tipos 7. (Re) Interpretação de Tipos Psicológicos Clássicos 7.1. A tipologia hipocrática 7.2. A tipologia dos Big-Five Bibliografia
  • 4. CopyMarket.com Os Tipos Humanos: A Teoria da Personalidade – Luiz Pasquali 3 CopyMarket.com Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida sem a autorização da Editora. Título: Os Tipos Humanos: A Teoria da Personalidade Autor: Luiz Pasquali Editora: CopyMarket.com, 2000 Prefácio Luiz Pasquali Em 1994, Trelau e Angleitner anotavam um interesse crescente com respeito ao tema do temperamento na última década. Isso pode ser desde a década de 50 e a de 90 inclusive. A temática sobre o temperamento vem substituindo o interesse que mais antigamente havia com respeito ao tema da personalidade, tema este que parece quase ter desaparecido na literatura e pesquisa psicológica. A razão de tal ocorrência talvez se deva ao fato de que o termo personalidade assume conotações tão amplas que, no final das contas, não chega mais a significar coisa alguma, sendo, por isso, substituído pelo termo temperamento, que parece mais restrito, concreto e útil. Contudo, com o aumento do interesse na temática do temperamento, esse veio a ser concebido tão confusamente quanto a tem sido o de personalidade, pois os autores entendem temperamento desde substituto de personalidade até reações puramente emocionais. Os interesses no tema vão desde a preocupação com o avançar a teoria psicológica até interesses financeiros, sobretudo no uso que se faz do temperamento na situação organizacional, onde, com a elaboração de instrumentos de medida do mesmo, os autores conseguem grande número de consultorias nas organizações a custos de ouro. A grande quantidade de publicações e instrumentos que vem aparecendo sobre o temperamento vem acompanhada por uma pletora de concepções sobre o mesmo, tornando a teoria sobre o mesmo uma colcha de retalhos. Isto porque os autores, com interesses e conceitos diferentes, trabalham o temperamento dentro de sua visão restrita, muitas vezes ditada por interesses mais imediatos e até comerciais, como ocorre na área da psicologia organizacional. A abundância de trabalhos sobre o temperamento é bem-vinda, mas infelizmente ela vem muito desentrosada do ponto de vista da teoria psicológica. A preocupação do presente trabalho consiste precisamente em procurar pôr alguma ordem em todos esses trabalhos sobre o temperamento, procurando desenvolver um arcabouço teórico onde todos eles possam se situar e ver o nicho em que caem, evitando, assim, que cada modo de conceber o temperamento assuma o direito de ser a teoria psicológica da personalidade humana. O livro aborda inicialmente uma discussão sobre o conceito e a história do temperamento (capítulo 1), sendo em seguida apresentada uma série de instrumentos existentes hoje no mercado para avaliar esse construto (capítulo 2). No capítulo 3 será desenvolvida uma visão de temperamento, que pretende ser a teoria psicológica da personalidade humana, apresentada numa forma formal e axiomatizada, onde qualquer concepção presente na literatura pode ser enquadrada. O livro tem como intenção procurar iniciar a convergência dos temas, da taxionomia e da linguagem sobre personalidade e temperamento entre os pesquisadores, objetivando um esforço somativo da pesquisa psicológica nessa área. Ele tem, também, como segunda intenção iniciar uma diatribe na área entre os pesquisadores, sobretudo em nível nacional, provocando maior interesse e, quiçá, avanços da teoria psicológica.
  • 5. CopyMarket.com Os Tipos Humanos: A Teoria da Personalidade – Luiz Pasquali 4 CopyMarket.com Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida sem a autorização da Editora. Título: Os Tipos Humanos: A Teoria da Personalidade Autor: Luiz Pasquali Editora: CopyMarket.com, 2000 1. Conceito de Temperamento (personalidade) Luiz Pasquali 1. Introdução Este capítulo deveria tratar de conceituar personalidade. Contudo, esta expressão “personalidade” é tão ampla em seu significado ou, melhor, tão vaga, que praticamente cada psicólogo a entende do seu modo, como, aliás, já Allport (1937) nos anos 30 comentava, ao dar as 50 diferentes definições do termo. Como a intenção do presente trabalho consiste na análise de porque as pessoas são diferentes, apesar de serem todas seres humanos, me pareceu que um conceito mais concreto pudesse melhor orientar a empreitada. Assim, escolhi o conceito de temperamento, que, apesar de apresentar diferentes opiniões entre os pesquisadores sobre seu significado, ele parece menos ambíguo que o de personalidade; ele, aliás, é entendido por alguns autores (Eysenck, Gray) como sinônimo de personalidade, com o qual a presente exposição está também de acordo, como veremos. De fato, o temperamento tem sido considerado um sinônimo de diferenças individuais no comportamento dos seres humanos. Esta linha de pensamento é defendida sobretudo por pesquisadores na área da psicologia do desenvolvimento, liderados por Chess e Thomas (1986). De qualquer forma, a palavra temperamento vem do latim “temperare” que significa “equilíbrio”. Esta noção está ligada à teoria dos humores de Empédocles e de Hipócrates, onde se defende que a saúde do ser humano depende de um equilíbrio entre os elementos que compõem este mesmo ser, como veremos ao expor esta teoria. {©Em Psicologia, temperamento é mais comumente entendido como se referindo ao aspecto da personalidade que diz respeito às disposições e reações emocionais, bem como de sua rapidez e intensidade. Este conceito mais psicológico de temperamento está ligado a psicólogos como Jung, psicanalista, e Klages no seu tratado sobre caracterologia (1929). Hoje em dia, a Psicologia dá maior ênfase, na reação emocional, à atividade do sistema nervoso autônomo, particularmente a ramo simpático. Esta acepção restritiva de temperamento em termos de reações emocionais não parece ser necessária e, quiçá, nem legítima, como veremos em capítulos posteriores, pois o temperamento pode ser entendido como um sinônimo de personalidade. Historicamente, porém, a ênfase no temperamento tem sido sobre os aspectos emocionais da personalidade. Para ser honesto, o conceito de temperamento é ainda uma destas expressões que pode significar coisas diferentes para diferentes psicólogos. Isto se tornou evidente numa mesa-redonda de psicólogos norte-americanos (Goldsmith, Buss, Plomin, Rothbart, Thomas, Chess, Hinde, & McCall, 1987). Apesar das divergências, estes pesquisadores chegaram às seguintes conclusões (Barclay, 1991): 1) o construto temperamento é útil apesar de ser praticamente inviável definir precisamente como ele interage com influências do meio ambiente; 2) temperamento inclui elementos de energia: atividade, intensidade, vigor e ritmo de movimento tanto na fala quanto no pensamento; de reatividade: aproximação e afastamento de estímulos; emocionalidade e sociabilidade; 3) a origem do temperamento deve ser procurada em disposições biológicas; 4) as manifestações do temperamento são mais estáveis durante a vida de um indivíduo do que qualquer outro aspecto da personalidade. Na história do conhecimento humano, as diferenças individuais devidas ao temperamento do sujeito têm sido atribuídas aos fatores mais diversos por autores de povos tão diversos como gregos, persas, hindus, árabes, entre outros, os quais, cada um a seu tempo, contribuíram para a estruturação da teoria do temperamento como a conhecemos hoje. A literatura aponta para um interesse cíclico no que se refere aos estudos sobre o temperamento, na medida em que as teorias da personalidade apontam para a interrelação existente entre variáveis ambientais, comportamento e caraterísticas pessoais. As teorias estruturadas mais recentemente, via de regra, estão preocupadas com a classificação e tipificação do temperamento a partir de seus resultados observáveis, a saber, o comportamento. Uma análise do material elaborado nos últimos anos aponta para a existência de diversas teorias e instrumentos
  • 6. CopyMarket.com Os Tipos Humanos: A Teoria da Personalidade – Luiz Pasquali 5 que se propõem a analisar este construto, sendo que o interesse de tais trabalhos pode ser verificado desde a idade antiga, através dos trabalhos de Empédocles, Hipócrates e Galeno, versando sobre como se comportam os indivíduos e como compreender tais comportamentos. Mais recentemente, a contribuição de Jung se afasta da estrutura hipocrática, propondo uma classificação que se aproxima de um modelo psicológico mais moderno. É preciso, contudo, que se tenha em mente que a preocupação principal do estudo do temperamento, ou seja, o interesse na individualidade humana, está bastante longe de ser compreendido, dado que as teorias existentes estão longe de fornecer uma explicação integral sobre o tema (Claridge, 1985). De fato, ciclicamente o tema temperamento entra em voga entre psicólogos e outros pesquisadores afins. E cada vez que ele surge, assume características um tanto diferentes, de sorte que, fazendo um inventário histórico sobre este conceito, nos leva a concepções muito distintas. Hoje em dia, por exemplo, parece que temperamento veio integrado dentro de um contexto da psicologia das organizações, pois é no campo da psicologia organizacional que o tema e instrumentos de medida do temperamento vêm sendo mais utilizados, além da linha da psicologia da criança liderada por Chess e Thomas (1989). De sorte que a advertência acima de Claridge faz muito sentido, embora se possa admitir que temperamento tende a ser concebido dentro de uma temática de tipologias, isto é, de classificar os sujeitos em termos de tipos em função de certas características da personalidade e até de aptidões e mesmo de comportamento. Diante desta babel, vamos inicialmente dar um pequeno apanhado histórico do tema temperamento, para em seguida tentar uma estruturação teórica do mesmo construto. 2. História do Temperamento A idéia de que os seres humanos caem dentro de classes ou tipos tem estado presente desde os tempos mais antigos entre os pesquisadores da personalidade humana. Contudo, ela não tem tido um desenvolvimento linear, mas apresenta uma evolução cíclica, na qual se observam épocas onde o interesse em tais tipologias aparece intenso e outras em que ele praticamente desaparece. Inclusive, cada novo surto de interesse neste tema parece surgir com basamento diferente resultando em teorias muito distintas, entre as quais sobressaem as teorias humorais, as teorias fisiológicas ou morfológicas e as teorias psicológicas, como veremos mais adiante. Na verdade, há teorias ou fantasias demais sobre como conceber a estrutura e a dinâmica do temperamento. Strelau (199??) menciona uma carrada delas ou, melhor, uma miríade de traços que constituiriam o temperamento, tais como: - Adaptabilidade (Thomas & Chess – NYLSQ) - Aflição, sofrimento (Buss & Plomin – EASTS) - Amizade (Guilford & Zimmerman – GZTS) - Aproximação – afastamento (Windle & Lerner – DOTS-R Adult; Wilson, Barrett, & Gray - GWPQ) - Ascendência (Guilford & Zimmerman –GZTS) - Atividade (Buss & Plomin – EASTS; Thomas & Chess – NYLSQ; Thurstone – TTS) - Atividade geral (Guilford & Zimmerman – GZTS; Windle & Lerner – DOTS-R Adult) - Atividade: nível de sono (Windle & Lerner – DOTS-R Adult) - Aventura (Sysenck, Pearson, Easting, & Allsopp – I7 Questionnaire) - Campo (span) de atenção (Thomas & Chess – NYLSQ) - Colérico (Cruise, Blitchington, & Futcher – TI) - Contenimento (Guilford & Zimmerman – GZTS) - Crivagem de estímulo (Mehrabian – SSQ) - Desinibição (Zuckerman – SSS IV e V) - Distratibilidade (Thomas & Chess – NYLSQ; Windle & Lerner – DOTS-R Adult) - Dominância (Mehrabian – MTS; Thurstone – TTS) - Emocionalidade (Feij – ATL) - Emocionalidade social (Rusalov – STQ) - Empatia (Eysenck, Pearson, Easting, & Allsopp – I7 Questionnaire) - Equilíbrio dos processos nervosos (Strelau –STI; Strelau, Angleitner, Bantelmann, & Ruch – STI-R) - Ergonicidade (Rusalov – STQ) - Ergonicidade social (Rusalov – STQ) - Esquiva ativa (Wilson, Barrett, & Gray – GWPQ)1 - Esquiva passiva (Wilson, Barret, & Gray – GWPQ) - Estabilidade (Marke & Nyman – MNT) - Estabilidade emocional (Guilford & Zimmerman – GZTS; Thurstone – TTS) 1 Veja no capítulo 2 as explicações sobre essas siglas, que representam diferentes instrumentos de medida do temperamento
  • 7. CopyMarket.com Os Tipos Humanos: A Teoria da Personalidade – Luiz Pasquali 6 - Excitação: trait-arousal (Mehrabian – SSQ, MTS) - Extinção (Wilson, Barrett, & Gray – GWPQ) - Extroversão (Eysenck & Eysenck - EPI, EPQ; Feij – ATL) - Fleumático (Cruise, Blitchington, & Futcher – TI) - Flexibilidade – rigidez (Windle & Lerner – DOTS-R Adult) - Força de excitação (Strelau – STI; Strelau, Angleitner, Bantelmann, & Ruch – STI-R) - Fuga (Wilson, Barrett, & Gray – GWPQ) - Humor (Thomas & Chess – NYLSQ; Windle & Lerner – DOTS-R Adult) - Impulsividade (Barrat – BISS-10; Eysenck, Pearson, Easting, & Allsopp – I7 Questionnaire; Feij – ATL; Thurstone - TTS) - Impulsividade cognitiva (Barrat – BIS-10) - Impulsividade motora (Barrat – BIS-10) - Impulsividade não-planejada (Barrat – BIS-10) - Intensidade (Thomas & Chess – NYLSQ) - Intensidade do afeto (Larsen & Diener – AIM) - Irritabilidade ((Caprara, Cinanni, D’Imperio, Passerini, Renzi, & Travaglia – IESS) - Limiar sensorial (Thomas & Chess – NYLSQ) - Luta (Wilson, Barrett, &Gray – GWPQ) - Masculinidade (Guilford & Zimmerman – GZTS) - Medo (Buss & Plomin – EASTS) - Melancólico (Cruise, Blitchington, & Futcher – TI) - Mobilidade (Gorynska & Strelau – TTI) - Mobilidade dos processos nervosos (Strelau – STI; Strelau, Angleitner, Bantelmann, & Ruch – STI-R) - Neuroticismo (Eysenck & Eysenck – EPI, EPQ) - Objetividade (Guilford & Zimmerman – GZTS) - Pensativo (Guilford & Zimmerman – GZTS) - Persistência (Gorynska & Strelau – TTI; Windle & Lerner – DOTS-R Adult) - Plasticidade (Rusalov – QST) - Plasticidade social (Rusalov – STQ) - Prazer (Mehrabian – MTS) - Procura de excitamento e aventura (Zuckerman – SSS IV e V) - Procura de sensação (Zuckerman – SSS IV e V) - Psicotismo (Eysenck & Eysenck – EPQ) - Raiva (Buss & Plomin – EASTS) - Rapidez (Gorynska & Strelau – TTI) - Reatividade (Kohn – RS) - Recorrência (Gorynska & Strelau – TTI) - Reduzindo – aumentando (Vando – RAS) - Refletivo (Thurstone – TTS) - Regularidade (Gorynska & Strelau – TTI) - Relações pessoais (Guilford & Zimmerman – GZTS) - Ritmicidade (Thomas & Chess – NYLSQ) - Ritmicidade: comer (Windle & Lerner – DOTS-R Adult) - Ritmicidade: hábitos diários (Windle & Lerner – DOTS-R Adult) - Ritmicidade: sono (Windle & Lerner – DOTS-R Adult) - Sangüíneo (Cruise, Blitchington, & Futcher – TI) - Sociabilidade (Buss & Plomin – EASTS; Guilford & Zimmerman – GZTS; Thurstone – TTS) - Solidez (Marke & Nyman – MNT) - Susceptibilidade ao aborrecimento (Zuckerman – SSS IV e V) - Susceptibilidade emocional (Caprara, Cinanni, D’Imperio, Passerini, Renzi, & Travaglia – IESS) - Tempo (Gorynska & Strelau – TTI; Rusalov – STQ) - Tempo social (Rusalov – STQ) - Validade (Marke & Nyman – MNT) - Vigor (Thurstone – TTS).
  • 8. CopyMarket.com Os Tipos Humanos: A Teoria da Personalidade – Luiz Pasquali 7 Allport (1937: p. 84), citando apenas três autores (Thomas Reid, Dugald Stewart, Franz Joseph Gall), também já apresentava uma série sem fim de traços (chamava de faculdades) que os teorias do temperamento ou caracterologia diziam avaliar. Enfim, é uma legião de traços que definiriam o temperamento e que aparecem dentre de contextos teóricos sem muita congruência, na maioria das vezes. Vamos, por isso, atentar melhor para algumas teorias do temperamento, que parecem se apresentar mais estruturadas, deixando para o capítulo 3 uma estruturação que cremos ser mais completa e axiomatizada. De qualquer forma, o estudo do temperamento começou a ser abordado, pelo que se tem registro, pelo filósofo grego Empédocles e seu conterrâneo o médico Hipócrates, seguidos mais tarde pelo greco-romano Galeno, dentro do que ficou sendo conhecida como a teoria dos humores. Outras tendências de definir temperamento se baseiam no formato do corpo, tendência iniciada por Kretschmer e atualizada por Sheldon, nas teorias ditas morfológicas. Finalmente, temos enfoques do temperamento baseados mais em construtos psicológicos, dentre os quais podemos salientar a teoria de Jung e as tipologias mais modernas particularmente em voga em psicologia organizacional e da criaça. Vamos detalhar um pouco algumas destas teorias. 3. Teorias do Temperamento 3.1. Teoria dos humores A teoria dos humores está ligada à tradição filosófica do número 4 de Pitágoras (572-497 a.C. - Samos)2 e da teoria cosmológica dos quatro elementos de Empédocles de Acragas (490-430 AC). Este filósofo sugere que toda a substância é composta de 4 elementos, a saber, ar, terra, fogo e água. Aristóteles (384 AC), além de concordar com os quatro elementos, acrescentou que eles possuem propriedades básicas, a saber, ao fogo estão associadas a secura e o calor, ao ar o calor e a umidade, à água a umidade e o frio, à terra o frio e a secura. O médico Hipócrates (460-377 AC) relacionou esta teoria cósmica à saúde das pessoas, criando a teoria dos humores ou dos temperamentos. Dizia ele que 4 humores físicos, isto é, sangue, bílis preta (atrabílis), bílis amarela (bílis), fleuma (linfa), estavam respectivamente ligados a 4 temperamentos da personalidade, a saber: temperamento sangüíneo de reações rápidas e débeis; temperamento melancólico, nervoso ou atrabilioso de reações lentas e intensas; temperamento colérico ou bilioso de reações rápidas e intensas, e temperamento fleumático ou linfático de reações fracas e lentas. A teoria, portanto, afirma que a química do corpo determina o tipo de temperamento. Esta teoria, depois difundida pelo greco-romano Galeno de Pérgamo (129-199 AD), perdurou por mais de 2.500 anos. Ela defendia que uma boa saúde dependia de um equilíbrio, de uma boa dosagem (temperare, dizia Galeno, donde surgiu a expressão temperamento) dos quatro humores corporais; o excesso de um dos humores provocava doenças no corpo e traços exagerados de personalidade. A biologia moderna substitui estes conceitos arcaicos da química do corpo por conceitos mais complexos, tais como, hormônios, neuro-transmissores e outras substâncias do sistema nervoso (como, endorfinas, etc.). Foi, aliás, o avanço nos conhecimentos biológicos que determinou a morte destas teorias dos humores, embora pesquisas de Pavlov (1954) e seguidores (Teplov e outros nos anos 1950, veja Cole & Maltzman, 1969) lhes tenham dado algum ânimo, mas sem maior impacto no mundo ocidental; contudo, parte da terminologia dessas teorias ainda perdura hoje em dia entre pesquisadores do tema caracterologia, tais como Heymans (1857-1930), Wiersma, Le Senne (1963), Berger (1963), o Temperament and Character Test (Institut Pédagogique Saint-Georges, Montreal, Canadá, 1952) e mesmo em tipologias modernas, como a de Keirsey e Bates (1984), o Temperament Inventory de Cruise, Blitchington e Futcher (1980). 3.2. Teorias morfológicas Estas teorias têm relação com as teorias bioquímicas, mas acentuam mais os aspectos morfológicos do corpo (tipos corporais). O psiquiatra alemão Kretschmer (1921) iniciou este modo de pensar sobre os temperamentos. De suas observações clínicas ele relacionou que o formato do corpo está associado à personalidade das pessoas, assim que um físico delgado e delicado está associado à introversão, enquanto um físico rotundo, pesado e curto está associado ao caráter ciclotímico, isto é, temperamental, extrovertido e jovial. Este autor chegou a explicitar três tipos distintos de temperamentos, os quais correspondiam a certos tipos orgânicos característicos, conforme detalha a tabela 1-1. 2 A filosofia pitagórica defendia o número como sendo a essência do universo, sendo o número 4 a expressão máxima do ser.
  • 9. CopyMarket.com Os Tipos Humanos: A Teoria da Personalidade – Luiz Pasquali 8 Tabela 1-1. Relação entre tipo físico e tipo de personalidade segundo Kretschmer Tipo Físico: Pícnico Gordo, arredondado Leptossômico Alto, esguio Atlético Robusto, muscular Temperamento: Ciclotímico Diastésico: tristeza e alegria. • Alegre: jovial, loquaz, otimista, • Deprimido: afável, tranqüilo, silencioso Esquizotímico Psico-estésico:sensibilidade e frieza. Idealista, reformador Ixotímico Tenaz e explosivo O psicólogo norte-americano Sheldon (1942) e seus colaboradores (Sheldon et al., 1954) levou este pensamento de Kretschmer a uma grande sofisticação sobre as variedades do temperamento, embora sua teoria não tenha tido grande sucesso entre os psicólogos. Estes autores também relacionavam diretamente a forma física do corpo com tipos específicos de temperamentos. Veja na tabela 1-2 este relacionamento Tabela 1-2. Relação entre tipo físico e tipo de personalidade segundo Sheldon Tipo Físico: Endomorfo macio, redondo Mesomorfo forte, muscular, atlético Ectomorfo delgado, frágil Temperamento: Viscerotônico: gosto pelo conforto sentimental hedonista sociável Somatotônico: ativo energético orientado ao desempenho agressivo Cerebrotônico: sensitivo delicado intelectual religioso retraído 3.3. Teorias psicológicas (tipologias psicológicas) A temática tipológica explodiu entre os psicólogos nos meados deste século, particularmente na Holanda (Heymans e Wiersma com publicações na revista Zeitschrift für Angewandte Psychologie), Alemanha (Spranger que publicou, já em 1914, o Lebensformen e Klages, 1929) e sobretudo na França (Binet, 1922; Gilliland, 1939; Le Senne,1963; Berger, 1963; Le Gall, 1964). Contudo, entre as tipologias psicológicas, foi a do psiquiatra Jung (1967) que maior reconhecimento teve até o presente entre os psicólogos. Pesquisas, talvez mais empíricas, nesta área do temperamento começaram a ser mais e mais desenvolvidas baseadas em duas tendências: a) os estudos longitudinais iniciados nos finais de 1950 por Thomas, Chess e colaboradores (Plomim, 1986; Chess & Thomas, 1986) e b) os estudos de caráter pavloviano dos russos Teplov em Moscou e de Merlin em Perm, também nos meados de 1950. Pelo impacto que produziram sobre a pesquisa e a utilização do temperamento em Psicologia, detalharemos algumas destas tendências a seguir. 3.3.1. Tipologia de Jung Nesta área do temperamento, as duas dimensões psicológicas elaboradas por Jung (1967, 1974) ainda parecem ser de grande utilidade em Psicologia, a dimensão dos tipos e a dimensão das funções. Este autor desenvolveu toda uma hierarquia de tipos (Jung, 1967), mas é sobretudo sua distinção nos dois famosos tipos Extroversão e Introversão que fez e faz carreira, distinção que inclusive parece um ganho definitivo em Psicologia. A outra distinção entre quatro funções (veja o número mágico 4 de volta de novo!) também recebeu e está recebendo grande atenção entre os psicólogos. Estas quatro funções são: pensamento, sentimento, sensação e intuição. Jung caracteriza estas dimensões psicológicas do seguinte modo: • Extroversão: direcionamento da libido para o exterior; movimento positivo do sujeito para o objeto; o objeto se torna o foco de interesse ativo (o sujeito procura o objeto) e passivo (o objeto se impõe ao sujeito) do indivíduo. • Introversão: direcionamento da libido para o interior; movimento negativo do sujeito com relação ao objeto; o próprio sujeito se torna o foco de interesse ativo (o sujeito procura reclusão) e negativo (o sujeito se torna incapaz de contatar o objeto) do indivíduo.
  • 10. CopyMarket.com Os Tipos Humanos: A Teoria da Personalidade – Luiz Pasquali 9 • Pensamento (pensar, thinking): representar a realidade conceitualmente (representação intelectual). Ele pode ser . ativo (racional, consciente), chamado intelecto e consiste em procurar esta representação . passivo (irracional, inconsciente), chamado intuição intelectual e consiste em que a representação se impõe até contra a vontade do sujeito. • Sentimento (sentir, feeling): reagir diante da realidade como um valor, implicando aceitação ou rejeição. Ele também pode ser ativo, enquanto procura valorizar a realidade ou passivo, enquanto esta se impõe como valor positivo ou negativo. O sentimento com reações orgânicas se chama de afeto. • Sensação (percepção via sentidos, sensing): perceber sensorialmente a realidade (externa e interna). É a representação sensorial da realidade; é uma função irracional. • Intuição (percepção via inconsciente, intuition): percepção inconsciente de uma realidade global; é uma função irracional. O apego ao dogma psicanalítico do investimento da libido fez estas distinções interessantes de Jung, particularmente no caso das funções, um tanto confusas e inadequadamente distintas. Embaralhando os conceitos de irracional com inconsciente, tornou particularmente confusas as categorias da sensação e da intuição. Se se puder liberar da armadura psicanalítica, estas distinções de Jung parecem altamente promissoras para uma tipologia dos temperamentos, como tentaremos efetuar mais adiante. Além destes, outros psicólogos se enveredaram pelo terreno das tipologias. Entre estes, alguns tiveram pouca aceitação entre a comunidade da Psicologia, como, por exemplo, Spranger (1928) que definiu quatro valores para diferenciar os tipos humanos, a saber: religioso, teórico, econômico e artístico; Adler (Keirsey & Bates, 1984) opinou que eram quatro objetivos ou elementos os diferenciadores dos tipos humanos, a saber: reconhecimento, poder, serviço e vingança. William James propôs a distinção entre tough-minded e tender-minded. Outros autores, embora baseados em teorias nem sempre satisfatórias, estão alcançando interesse e fama sobretudo por terem desenvolvido instrumentos para medir os vários tipos que eles propõem, tornando-se assim de utilidade prática, particularmente no ambiente organizacional. Estes autores serão expostos no capítulo 2. Do ponto de vista da teoria do temperamento, duas duplas de pesquisadores talvez merecem especial atenção na área. São elas Thomas e Chess (1977) e Buss e Plomin (1975, 1984). 3.3.2. Tipologia de Thomas e Chess Estes autores se deram ao trabalho de, durante 20 anos, observar crianças desde o berço até a escola primária. Concluíram eles que as crianças manifestam características de temperamento desde a mais tenra idade. Identificaram nove categorias de comportamento, as quais lhes permitiram elaborar três grupos básicos de temperamento. As categorias são as seguintes: • nível de atividade • regularidade e ritmicidade • aproximação e esquiva • adaptabilidade • intensidade • limiar sensorial • humor • distratibilidade • duração de atenção. Através de análises fatoriais, Thomas e Chess chegaram a definir alguns tipos básicos de temperamentos, a saber, • A Criança Fácil: ela se caracteriza por “regularidade, respostas positivas de aproximação a estímulos novos, grande adaptabilidade à mudança e leves a moderados níveis de humor e preponderantemente positivos. Estas crianças desenvolvem rapidamente rotinas regulares de sono e alimentação, se acostumam facilmente a novos alimentos, adaptam-se bem a um nova escola, aceitam a maioria das frustrações sem grandes escândalos e aceitam sem dificuldades as regras de novos jogos”(Thomas & Chess, 1977, p. 23 - citados por Barclay, 1991). Este grupo de crianças perfazem 40% da totalidade;
  • 11. CopyMarket.com Os Tipos Humanos: A Teoria da Personalidade – Luiz Pasquali 10 • A Criança Difícil: este grupo é definido pelos autores (Thomas & Chess, 1977, p. 23 - citados por Barclay, 1991) como um “grupo com irregularidade em funções biológicas, respostas negativas de esquiva a novos estímulos, não-adaptabilidade ou adaptabilidade lenta a mudanças e expressões intensas de humor e freqüentemente negativas. Estas crianças mostram rotinas irregulares de sono e alimentação, lenta aceitação de novos alimentos, longos períodos para adaptação a novas rotinas, pessoas ou situações e períodos de choro relativamente freqüentes e altos. A risada também é caracteristicamente alta. Frustração produz tipicamente reações manhosas violentas”. Este grupo representa 10% da população; • Grupo intermédio entre os dois pólos acima mencionados perfaz o restante da população (45%). São óbvias as similaridades destes dois grupos de crianças com as concepções jungianas de extroversão e introversão. Vários outros autores se aproveitaram destas descobertas de Thomas e Chess, desenvolvendo instrumentos para avaliar as temperamentos das crianças. Entre eles, Martin (1984), cuja bateria foi aplicada a crianças por uma série de outros autores (Barclay, 1987; Pullis & Cadwell, 1982; Martin, Paget & Nagle, 1983; Martin, Drew, Gaddis, & Moseley, 1988), bem como por Burks e Rubenstein (1979) que a aplicaram a adultos. Estas pesquisas todas revelaram importantes relações entre os tipos de Thomas e Chess com problemas infantis, desempenho acadêmico, e dão forte suporte ao construto de temperamento. 3.3.3. Tipologia de Buss e Plomin Estes autores partiram da definição de temperamento dada por Allport (1961), a qual postula quatro componentes do temperamento, a saber, • Atividade: o total de energia utilizada • Emocionalidade: intensidade de reação • Sociabilidade: desejo de afiliação • Impulsividade: responder de forma rápida ao invés de inibida. Além disso, Buss e Plomin (1975, 1984) estabeleceram alguns critérios para discernir temperamento de outras disposições da personalidade. Estes critérios são os seguintes: • Hereditariedade: uma teoria de temperamento deve mostrar um componente genético • Estabilidade: o temperamento deve mostrar persistência durante a vida do sujeito, como qualquer traço geneticamente herdado, apesar das influências do meio ambiente e aprendizagem • Adaptabilidade: todas as características de temperamento devem poder sofrer algum grau de modificação social • Presença filogenética: se é característica de temperamento ela deve ter representação também entre os animais. Para verificar estas suas hipóteses, Buss e Plomin desenvolveram um instrumento para a pesquisa do temperamento, o EASI - Emotionality, Activity, Sociability, Impulsivity. Dos estudos com o EASI em população universitária e de adultos, os autores apresentam evidências fortes para a presença dos temperamentos de emocionalidade, atividade e sociabilidade, sendo mais fraca a evidência em prol da impulsividade. Verificaram, ainda, em estudos com crianças, a existência de correlações significativamente mais fortes de temperamento entre crianças gêmeas do que entre crianças não-gêmeas, revelando o fundamento genético do temperamento. Estes dados teóricos, empíricos e psicométricos mostram que o construto temperamento se apresenta ainda útil no contexto da teoria psicológica para descrever conglomerados de comportamentos que os indivíduos manifestam. Aliás, o interesse no estudo do temperamento nas últimas décadas tem sido extraordinário. Bates (1986) fez um levantamento dos sumários de pesquisas que tratam do temperamento somente em crianças, realizdas entre 1967 e 1983, descobriu 162 artigos, sendo que 62% deles apareceram após 1980. Plomin (1986, p. ix), analisando os Psychological Abstracts, conclui “desde 1970, o número de artigos sobre temperamento tem crescido na base de 50% cada 5 anos”. Strelau (1994) fez um ilustrativo apanhado dos vários enfoques que vêm sendo perseguidos pela pesquisa no temperamento, salientando as seguintes características: • Temperamento cobre um número enorme de traços ou dimensões, cada qual seguido de instrumentos específicos de diagnóstico (Hubert, Wachs, Peters-Martin, & Gandour, 1982; Slabach, Morrow, & Wachs);
  • 12. CopyMarket.com Os Tipos Humanos: A Teoria da Personalidade – Luiz Pasquali 11 • Os métodos psicométricos predominam nos estudos experimentais na análise do temperamento, em particular no caso de crianças (Bates, 1986; Buss & Plomin, 1984; Plomin & Dunn, 1986; Thomas & Chess, 1977; Goldsmith & Rothbart); • Muitos estudos procuram na biogética a origem das diferenças individuais no temperamento ( Goldsmith, in press; Matheny & Dolan, 1980; Plomin, 1982; Ravich-Shcherbo, 1988; Torgersen, 1985); • Procura de mecanismos fisiológicos (psicofisiológicos, eletrofisiológicos, neuropsicológicos, bioquímicos) na base do temperamento, em especial no estudo do nível de estimulação (arousal) (Grayy, 1982; Schalling, Edman, & Asberg, 1983; Simonov, 1987; Zuckerman, 1979); • Os estudos do temperamento cobrem todas as idades, havendo tendência de um enfoque de estudos longitudinais sobre a extensão toda de uma vida (Lerner & Lerner, 1983; Plomin, Pedersen, mcclearn, Nesselroade, & Bergeman, 1988; Thomas & Chess, 1977); • Procura de constâncias nas característica do temperamento, em especial no desenvolvimento infantil (Giuganino & Hindley, 1982; Hagekuell, 1989; Matheny, 1983; Plomin & Dunn, 1986; Rothbart, 1986); • Estudos da função reguladora do temperamento com enfoque contectual e interacionista (Carey, 1985; Eliasz, 1981, 1985; Klonowicz, 1987; Rothbart & Posner, 1985; Strelau, 1983ab; Thomas & Chess, 1977; Rothbart and Van Heck) • Função adaptativa do temperamento, em especial na família, escola e trabalho, e sua relação com desordens de desenvolvimento e de comportamento (Burks & Rubenstein, 1979; Carey & mcdevitt, 1989; Chess & Thomas, 1984, 1986; Eliasz & Wrzesniewski, 1986; Klonowicz, 1985, 1987; Strelau, 1983, 1987, 1988; Talwar, Nitz, Lerner, & Lerner, 1982); • Enfoque interdisciplinar na pesquisa do temperamento, em especial entre psicólogos, psicofisiólogos, neuropsicólogos, geneticistas do comportamento, psiquiatras, pediatras e pedagogos (Carey & mcdevitt, 1989; Kohnstamm, Bates, & Rothbart, 1989; Plomin & Dunn, 1986; Strelau, Farley, & Gale, 1985, 1986). 3.3.4. Modelo psicobiológico de temperamento e caráter Elaborando um modelo tridimensional da personalidade, desenvolvido em 1991, Cloniger, Svrakic e Przybeck (1998) descrevem um modelo de personalidade baseado em sete dimensões, sendo quatro de temperamento (com base mais biológica) e três de caráter (com base mais psicológica). Estas dimensões com suas sub-dimensões são as seguintes: Temperamento: - Procura de novidade (novelty seeking): fator hereditário que ativa ou inicia comportamentos e se manifesta como - Excitação exploratória vs. Rigidez (exploratory excitability vs. Reigidity) - Impulsividade vs. Reflexão (impulsiveness vs. Reflection) - Extravagância vs. Reserva (extravagance vs. Reserve) - Desordem vs. Regimentação (disorderliness vs. Regimentation) - Fuga de injúria (harm avoidance): fator hereditário que inibe ou cessa comportamentos e se manifesta como - Preocupação anticipatória vs. Otimismo (anticipatory worry vs. Optimism) - Medo da incerteza vs. Confiança (fear of uncertainty vs. Confidence) - Timidez vs. Gregariedade (shyness vs. Gregariousness) - Fatigabilidade e astenia vs. Vigor (fatigability and asthenia vs. Vigor)
  • 13. CopyMarket.com Os Tipos Humanos: A Teoria da Personalidade – Luiz Pasquali 12 - Dependência em reforço (reward dependence): fator hereditário que mantém ou continua comportamentos em andamento e se manifesta como - Sentimentalidade vs. Insensitividade (sentimentality vs. Insensitivity) - Apego vs. Desapego (attachment vs. Detachment) - Dependência vs. Independência (dependence vs. Independence) - Persistência (persistence): fator hereditário que continua comportamentos apesar de frustração e fadiga e se manifesta em - Persistência vs. Indecisão (persistence vs. Irresoluteness) Caráter: - Auto-orientação (self-directedness) - Responsabilidade vs. Acusação (responsibility vs. Blaming) - Objetividade vs. Desorientação (purposeful vs. Goal undirected) - Competência vs. Apatia (resourcefulness vs. Apathy) - Auto-aceitação vs. Auto-procura (self-acceptance vs. Self-striving) - Segunda natureza congruente - Cooperação (cooperativeness) - Aceitação social vs. Intolerância (social acceptance vs. Intolerance) - Empatia vs. Desinteresse (empathy vs. Desinterest) - Ajuda vs. Indiferença (helpfulness vs. Unhelpfulness) - compaixão vs. Vingança (compassion vs. Revengefulness) - Coração puro vs. Egoísmo (pure hearted vs. Self-serving) - Auto-transcendência (self-transcendance) - Auto-esquecimento vs. Auto-consciência (self-forgetting vs. self-conscious) - Identificação transpessoal (transpersonal identification) - Aceitação espiritual vs. Materialismo (spiritual acceptance vs. Materialism) Estes são alguns dos muitos autores que estão escrevendo sobre o temperamento. A literatura é vasta e há muito pouca integração entre todos estes autores e não parece proveitoso apresentá-los todos neste capítulo.
  • 14. CopyMarket.com Os Tipos Humanos: A Teoria da Personalidade – Luiz Pasquali 13 CopyMarket.com Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida sem a autorização da Editora. Título: Os Tipos Humanos: A Teoria da Personalidade Autor: Luiz Pasquali Editora: CopyMarket.com, 2000 2. Instrumentos de Medida do Temperamento Luiz Pasquali Há no mercado brasileiro poucos instrumentos para a mensuração do temperamento. Em nível mundial, entretanto, eles já são dezenas e estão aumentando em número, mas grande parte deles sendo reelaborações de alguns clássicos, como o MBTI. A seguir detalharemos alguns destes instrumentos, sendo os demais elencados no final do capítulo. 1. Myers-Briggs Type Indicator (MBTI). Este instrumento se fundamenta na teoria do temperamento proposta por Jung e foi elaborado por Briggs-Myers e Myers (1942). O MBTI se apresenta numa série de formas diferentes; numa delas ele mede até 16 tipos que resultam da combinação de 4 polaridades. As quatro polaridades são 1) - Extroversão (extroversion - E) vs. introversão (introversion - I): orientação da energia para fora (mundo exterior, das pessoas, das coisas ou atividades) ou para dentro (mundo psicológico, das idéias, emoções ou impressões) 2) - Sensação (sensing - S) vs. intuição (intuition - N): preferência por adquirir a informação através dos sentidos ou através do “sexto sentido” (percepção inconsciente, segundo Jung) 3) - Pensamento (thinking - T) vs. sentimento (feeling - F): preferência por organizar e estruturar a informação em termos lógicos ou em termos de valores, isto é, tomar decisões ou em termos da lógica ou dos valores 4) - Julgamento (judgement - J) vs. percepção (perception - P): preferência por um estilo de vida planejado, organizado ou por uma vida espontânea, flexível. Combinando estas quatro polaridades, temos os 16 tipos de temperamento: 1 - ENFJ: pedagogue, líder de grupos (5% da população) 2 - INFJ: author, desejo e prazer em ajudar os outros (1% da população) 3 - ENFP: journalist, percepção aguda da motivação dos outros; a vida é um drama (5% da população) 4 - INFP: questor, capacidade para cuidar, calmo e pacífico diante do mundo, altos padrões e sentimentos de honra (1% da população) 5 - ENTJ: field marshall, liderar, procura posição de responsabilidade e gosta de ser um executivo (5% da população) 6 - INTJ: scientist, auto-confiante e pragmático, toma decisões com facilidade, criador de sistemas e aplicador de modelos teóricos (1% da população) 7 - ENTP: inventor, interesse por tudo, sensível a todas as possibilidades, não-conformista e inovador (5% da população) 8 - INTP: architect, precisão no pensamento e linguagem, percebe facilmente contradições e inconsistências, o mundo existe primariamente para ser compreendido (1% da população) 9 - ESTJ: administrator, contato forte com o meio ambiente externo, muito responsável, baluarte de força (13% da população) 10 - ISTJ: trustee, decidido em questões práticas, guardião de instituições históricas, confiável (6% da população) 11 - ESFJ: seller, o mais sociável de todos os tipos, fomentador da harmonia, anfitrião exímio (13% da população) 12 - ISFJ: conservator, estar a serviço das necessidades dos outros, fiel (6% da população) 13 - ESTP: promotor, ativo, sua presença faz as coisas acontecerem, competitivo feroz, empreendedor, gosta de causar sensação, negociador (13% da população) 14 - ISTP: entertainer, irradia calor e otimismo, senso de humor, charmoso, esperto, é um prazer estar com ele (13% da população) 15 - ESFP: artisan, ação impulsiva, a ação é fim em si mesma, corajoso, adora excitamento, domina instrumentos (5% da população) 16 - ISFP: artist, gosto pelas artes finas, se expressa sobretudo pela ação ou arte, sentidos muito refinados (5% da população).
  • 15. CopyMarket.com Os Tipos Humanos: A Teoria da Personalidade – Luiz Pasquali 14 O MBTI teve e vem tendo grande sucesso entre os psicólogos, sobretudo os que trabalham em organizações. Os parâmetros psicométicos deste teste, contudo, não são empolgantes. Os índices de precisão giram em torno de 0,70 (Kline, 1993). Os estudos independentes sobre a validade do MBTI, sobretudo em comparação com outros testes da área (validade concorrente), não têm conseguido fundamentar a contento este parâmetro do teste (Mendelsohn, 1965; Sundberg, 1965; Carlyn, 1977; Coan, 1979; Stricker & Ross, 1964). Em especial, o teste necessita mostrar sua validade fatorial (Kline, 1993; von Eye, 1990), sem a qual a distinção em tipos psicológicos se torna bastante arbitrária. 2. Keirsey-Bates Temperament Sorter - KBTS Espelhando a tipologia hipocrática, Keirsey e Bates (1984), analisando o MBTI, apresentaram sua própria versão de um teste de temperamento, que divide os sujeitos nas quatro categorias de melancólico, sangüíneo, colérico e fleumático, dando-lhes nomes diferentes e criativos. Os quatro tipos básicos podem ser desdobrados nos 16 sub-tipos do MBTI, dividindo cada um deles em quatro tipos diferenciados. Os tipos básicos são os seguintes: SJ: Guardiães (Epimeteu “Desconfiança”- Melancólico). Focalizam-se no dever, comércio e economia. São os guardiães das tradições, defendem a hierarquia, seu mote é o dever, sendo conservadores, tradicionalistas (45% da população) SP: Artesões (Dionísio “Vamos beber vinho”- Sangüíneo). Focalizam-se na arte, estética e ventura. Procuram a diversão, a liberdade e a espontaneidade (35% da população) NT: Racionais (Prometeu “Previdência”- Colérico). Focalizam-se na ciência, no teórico. Lutam pela competência, o saber, a objetividade; necessitam liderar e controlar (5% da população) NF: Idealistas (Apolo “Aspire pelo céu”- Fleumático). Focalizam-se no espiritual, na ética. Lutam pela procura de si mesmos, da paz e da harmonia. Procuram os valores, a inspiração, a relevância na vida de si e dos outros (5% da população). O teste contém 70 itens, que aparecem com uma frase e dois complementos referentes a tipos diferentes. O sujeito deve escolher uma das duas alternativas. Os pesquisadores, em geral, consideram este teste inferior ao MBTI (Noring, 1993). 3. Guilford-Zimmerman Temperament Survey - GZTS O GZTS foi desenvolvido por Guilford et al. (1976) e é atualmente composto de 300 itens, sendo 30 para cada uma das 10 escalas que medem, a saber, • G - Atividade geral: energético, rápido vs. lento e deliberado • R - Restringido: sério vs. impulsivo • A - Ascendência: assertivo, confiante vs. submisso, hesitante • S - Sociabilidade: amigo, falador vs. tímido, retraído • E - Estabilidade emocional: jovial, com compostura vs. triste, excitável • O - Objetividade: tough- vs. tender-minded • F - Amizade: respeito pelos outros vs. hostilidade, desprezo • T - Reflexivo: reflexão vs. interesse pelo mundo exterior • P - Relações pessoais: tolerância pelas pessoas vs. cata-falhas (cricri) • M - Masculinidade: duro, emocionalmente inexpressivo vs. empático, emotivo. {©O GZTS tem se mostrado bastante preciso, o índice de consistência de suas escalas girando em torno de 0,80 ou mais. No seu livro, Guilford et al. (1976) apresentam abundante evidência da validade de construto através da análise fatorial. Mas há problemas com estas análises fatoriais; primeiramente, muitas das amostras utilizadas foram pequenas demais (Kline & Barrett, 1983) e o uso da rotação ortogonal não parece justificada. De fato, estudo feito por Cattell e Gibbons (1968) verificou que os fatores ortogonais do GZTS não apareceram, mas eles se alinharam ao longo dos fatores de Cattell numa solução oblíqua. Perry (1952) descobriu que os fatores do GZTS podem ser agrupados em 5 fatores mais gerais (de segunda ordem): neuroticismo, adaptação social, energia, introversão, masculinidade. Igualmente, Amelang e Borkenau (1982) descobriram, tanto no GZTS quanto nos sistemas de Cattell e também de Eysenck a presença dos 5 grandes fatores (the big five traits). Isto tudo quer dizer que os fatores do GZTS não se apresentam suficientemente claros para constituírem uma teoria ou explicação da personalidade.
  • 16. CopyMarket.com Os Tipos Humanos: A Teoria da Personalidade – Luiz Pasquali 15 4. Pleasure-Arousal-Dominance - PAD Mehrabian em 1978 desenvolveu um instrumento para medir o temperamento, o Trait Pleasure Scale, mais tarde atualizada no Trait Pleasure-Displeasure Scale - TPDS (1994) com 22 itens. Mehrabian (1980, 1991, 1995, 1996) baseia seu instrumento numa teoria que comporta três dimensões praticamente independentes, definidas como segue: • Prazer - Desprazer (Pleasure-Displeasure - P+ vs. P-): estados emocionais positivos vs. negativos; • Excitação - Não Excitação (Arousal-Nonarousal - A+ vs. A-): vivacidade (alertness) física vs. vivacidade mental; • Dominância - Submissão (Dominance-Submissiveness - D+ vs. D-): controle vs. falta de controle. Da combinação destas três polaridades, Mehrabian (1987, 1991, 1995, 1996) e Mehrabian e O’Reilly (1980) definiram oito temperamentos, a saber, • Exuberante (+P+A+D) vs. Aborrecido (-P-A-D), o exuberante sendo extrovertido, procura excitação, exibicionista, protetor e afiliativo • Dependente (+P+A-D) vs. Desprezador (-P-A+D), sendo o dependente agradável, excitável e submisso • Relaxado (+P-A+D) vs. Ansioso (-P+A-D), sendo o ansioso neurótico, excitável e submisso • Dócil (+P-A-D) vs. Hostil (-P+A+D), o agressivo sendo desagradável, excitável e dominante. Este instrumento é de uso mais para pesquisa. Mehrabian (1995) apresenta alguns dados de validade para seu instrumento, quais sejam: o TPDS correlaciona positivamente com afiliação, extroversão, afago, receber apoio, empatia, sensualidade e desempenho (Mehrabian & O’Reilly, 1980) e negativamente com desajustamento, isto é, neuroticismo, defensividade, agressividade (Mehrabian, 195, 1996; Mehrabian & O’Reilly, 1980) e depressão (Mehrabian, 1995, 1996; Mehrabian & Bernath, 1991). O TPDS é pouco conhecido e sua demonstração de validade é ainda bastante limitada. A teoria em que se baseia é muito peculiar, baseada mais em idiossincrasias do autor, colhida em dados esparsos da literatura sobre a personalidade, do que numa teoria racionalmente fundamentada. 5. Pavlovian Temperament Survey - PTS O inventário, elaborado por Strelau (1991), se baseia na teoria de Pavlov (1935) sobre as propriedades do sistema nervoso, a saber, a intensidade dos processos nervosos (excitação e inibição), o equilíbrio dos mesmos e a mobilidade. Ele mede três traços: força de excitação, força de inibição e mobilidade. A força de excitação consiste na capacidade do sistema nervoso central (SNC) de suportar estimulação intensa ou duradoura sem ter que apelar para a inibição protetora. A força de inibição se refere à capacidade do SNC de manter um estado de inibição condicionada. Mobilidade consiste na habilidade de responder adequadamente às mudanças contínuas do meio ambiente. O inventário consta de 252 itens e está sendo validado num programa transcultural sob a orientação do Prof. Angleitner da universidade de Bielefeld (Alemanha), estando no Brasil encarregada a PUCCAMP. 6. Student Temperament Assessment Record - STAR Baseado no instrumento de Kersey e Bates (1978), Oakland (1991) desenvolveu este inventário para avaliar quatro fatores bipolares de temperamento, a saber: - Extroversão vs. introversão - Sensação vs. intuição (sensing vs. intuitive) - Pensamento vs. sentimento (thinking vs. feeling) - Julgamento vs. perceptividade (judging vs. perceptive). O STAR é composto de 69 itens. Os itens aparecem com uma frase e dois complementos referentes a tipos diferentes. O sujeito deve escolher uma das duas alternativas. Este instrumento foi validado no Brasil por Riello (1992) com uma amostra de 606 adolescentes e utilizando a análise fatorial.
  • 17. CopyMarket.com Os Tipos Humanos: A Teoria da Personalidade – Luiz Pasquali 16 Baseado no STAR, Eduardo de São Paulo (1999) desenvolveu uma tese de mestrado na UnB, elaborando uma nova forma deste instrumento, utilizando uma escala do tipo diferencial semântico. 7. Inventário Fatorial de Temperamento - IFT Inspirado no STAR, Eduardo de São Paulo (1999) desenvolveu, numa tese de mestrado, um instrumento para avaliar quatro dimensões bipolares de temperamento, a saber, 1) Introversão vs. Extroversão: escala de 43 itens para cobrir esta dimensão definida segundo as especificações de Jung, isto é, sujeitos introververtidos pensam, sentem e agem baseados no sujeito, em suas motivações pessoais (são orientados para dentro de si mesmos), enquanto os extrovertidos pensam, sentem e agem em função do seu meio ambiente (são voltados para fora); 2) Prático vs. Imaginativo (sensação vs. intuição): escala de 45 itens. Os sujeitos práticos são voltados para a realidade exterior, acreditam nos fatos, na experiência própria e dos outros, vivendo no presente do dia-a-daí, enquanto os imaginativos se orientam mais por suas fantasias, intuições e percepções subjetivas, vivendo mais para o futuro; 3) Pensamento vs. Sentimento: escala de 46 itens. Os sujeitos orientados pelo pensamento vive de idéias, se guiam pela objetividade e pelas regras, enquanto os orientados pelo sentimento vivem mais em função de valores, sensações e emoções; 4) Organizado vs. Flexível (julgador vs. percebedor): escala de 41 itens. A escala avalia o modo como o indivíduo determina os acontecimentos relativos à sua vida pessoal e profissional. Os organizados planejam tudo na vida, gostam de ordem e previsibilidade, enquanto os flexíveis deixam as coisas correr, detestando planejar e prever tudo na vida. 5) Uma análise fatorial das escalas mostrou que elas se compõem dedois ou três fatores distintos, mas os coeficientes de fidedignidade de todos eles deixam a desejar, situando-se entre 0,55 a 0,77. 6) Uma vantagem deste instrumento consiste na escala de resposta utilizada: foi usada um escala de intensidade do tipo diferencial semântico com 7 pontos, em lugar de escolha forçada corrente na maioria dos instrumentos de temperamento. 8. Outros Instrumentos (Strelau, 1994): 1) Adolescenten Temperament Lijst (ATL). Feij, J.A. & Kuiper, C.D. (1984). ATL Handleiding: Adolescenten Temperament Lijst. Lisse, Holland: Swets & Zeitlinger. Avalia: extraversão, emocionalidade, impulsividade, procura de sensação (sensation-seeking). 2) Affect Intensity Measure (AIM). Larsen, R.J. & Diener, E. (1987). Affect intensity as an individual difference characteristic: A review. Journal of Research in Personality, 21, 1-39. Avalia: intensidade do afeto. 3) Barratt Impulsiveness Scale (BIS-10). Barrat, E.S. (1985). Impulsiveness subtraits: Arousal and information processing. In J.T. Spence & C.E. Izard (Eds.), Motivation, emotion, and personality. Amsterdam, Holland: North- Holland, 137-146. Avalia: impulsividade motora, impulsividade cognitiva, impulsividade non-planning. 4) EAS Temperament Survey (EASTS). Buss A.H. & Plomin, R. (1984). Temperament: Early developing personality traits. Hillsdale, NJ: Erlbaum. Avalia: sofrimento (distress), temor, raiva, atividade, sociabilidade. 5) Eysenck Personality Inventory (EPI). Eysenck, H.J. & Eysenck, S.B.G. (1968). Manual of the Eysenck Personality Inventory. San Diego, CA: Educational and Industrial Testing Service. Avalia: extroversão, neuroticismo. 6) Eysenck Personality Questionnaire (EPQ). Eysenck, H.J. & Eysenck, S.B.G. (1975). Manual of the Eysenck Personality Questionnaire (Junior & Adult). London: Hodder & Stoughton. Avalia: extroversão, neuroticismo, psicotismo. 7) Gray-Wilson Personality Questionnaire (GWPQ). Wilson, G.D., Barrett, P.T., & Gray, G.A. (1989). Human reactions to reward and punishment: A questionnaire examination of Gray’s personality theory. British Journal of Psychology, 80, 509-515. Avalia: aproximação, esquiva ativa, esquiva passiva, extinção, luta, fuga. 8) Gregorc Style Delineator (GSD). 9) I7 Impulsiveness Questionnaire (I7 Questionnaire). Eysenck, S.B.G., Pearson, P.R., Easting, G., & Allsopp, J.F. (1985). Age norms for impulsiveness, venturesomeness and empathy in adults. Personality and Individual differences, 6, 613-619. Avalia: impulsividade, espírito de aventura, empatia. 10) Inventário Fatorial de Temperamento (IFT). São Paulo, E. de (1999). Construção e validação de um inventário de temperamento. Brasília, DF: UnB, tese de mestrado.
  • 18. CopyMarket.com Os Tipos Humanos: A Teoria da Personalidade – Luiz Pasquali 17 11) Irritability and Emotional Susceptibility Scales (IESS). Caprara, G.V., Cinanni, V., D’Imperio, G., Passerini, S., Renzi, P., & Travaglia, G. (1985). Indicators of impulsive aggression: Present status of research on irritability and emotional susceptibility scales. Personality and Individual Differences, 6, 665-674. Avalia: irritabilidade, susceptibilidade emocional. 12) Laboratory temperament assessment Battery (LAB-TAB); Pre- and locomotor versions. Goldsmith, H.H. & Rothbart, M.K.(1992). Eugene: University of Oregon. 13) Marke-Nyman-Temperamentskala (MNT). Baumann, U. & Angst, J. (1972). Die Marke-Nyman-Temperamentskala (MNT. Zeitschrift fuer klinische Psychologie, 1, 189-212. Avalia: validade, estabilidade, solidez. 14) New York Longitudinal Study Questionnaire for Early Adult Life (NYLSQ). Thomas, A., Mittleman, M., Chess, S., Korn, S.Y., & Cohen, Y. (1982). A temperament questionnaire for early adult life. Educational and Psychological Measurement, 42, 593-600. Avalia: atividade, adaptabilidade, duração de atenção, distratibilidade, humor, ritmicidade, limiar sensorial. 15) Structure of Temperament Questionnaire (STQ). Rusalov, V.M. (1989). Object-related and communicative aspects of human temperament: A new questionnaire of the structure of temperament. Personality and Individual Differences, 10, 817-827. Avalia: ergonicidade, ergonicidade social, plasticidade, plasticidade social, tempo, tempo social, emocionalidade, emocionalidade social. 16) The Reactivity Scale (RS). Kohn, P.M. (1985). Sensation seeking, augmenting-reducing, and strength of the nervous system. In J.T. Spence & C.E. Izard (Eds.), Motivation, emotion, and personality. Amsterdam, Holland: North- Holland, 167-173. Avalia: reatividade. 17) Revised Dimensions of Temperament Survey – Adult (DOTS-R Adult). Windle, M. & Lerner, R.M. (1986). Reassessing the dimensions of temperament individuality across life span: The Revised Dimensions of Temperament Survey (DOTS-R). Journal of Adolescent Research, 1, 213-230. Avalia: nível geral de atividade, nível de atividade de sono, aproximação – evitação, flexibilidade – rigidez, ritmicidade – sono, ritmicidade – comer, ritmicidade – hábitos diários, baixa distratibilidade, persistência. 18) Sensation-Seeking Scale Form IV (SSS IV). Zuckerman, M. (1979). Sensation seeking: Beyond the optimal level of arousal. Hillsdale, NJ: Erlbaum. Avalia: procura de sensação, sucpetibilidade ao aborrecimento, desinibição, procura de experiência, procura de aventura e excitamento. 19) Sensation-Seeking Scale Form V (SSS V). Zuckerman, M. (1979). Sensation seeking: Beyond the optimal level of arousal. Hillsdale, NJ: Erlbaum. Avalia: procura de sensação, sucpetibilidade ao aborrecimento, desinibição, procura de experiência, procura de aventura e excitamento. 20) Stimulus Screening Questionnaire (SSQ). Mehrabian, A. (1977). A questionnaire measure of individual differences in stimulus screening and associated differences in arousability. Environmental Psychology and Nonverbal Behavior, 1, 89-103. Avalia: estímulo de screening-arousability. 21) Strelau Temperament Inventory (STI). Strelau, J. (1983). Temperament-personality-activity. London: Academic Press. Avalia: força de excitação, força de inibição, mobilidade de processos nervosos, equilíbrio de processos nervosos. 22) Strelau Temperament Inventory – Revised STI-R). Strelau, J., Angleitner, A., Bantelmann, J., & Ruch, W. (1990). The Strelau Temperament Inventory – Revised (STI-R): Theoretical considerations and scale development. European Journal of Personality, 4, 209-235. Avalia: força de excitação, força de inibição, mobilidade de processos nervosos, equilíbrio de processos nervosos. 23) Temperament Inventory (TI). Cruise, R.J., Blitchington, W.P., & Futcher, W.G.A. (1980). Temperament Inventory: An instrument to empirically verify the four-factor hypothesis. Educational and Psychological Measurement, 40, 943- 954. Avalia: fleumático, sanguíneo, colérico, melancólico. 24) Temporal Traits Inventory (TTI). Gorynska, E. & Strelau, J. (1979). Basic traits of the temporal characteristics of behavior and their measurement by an inventory technique. Polish Psychological Bulletin, 10, 199-207. Strelau, J. (1983). Temperament-personality-activity. London: Academic Press. Avalia: persistência, reocorrência, mobilidade, regularidade, velocidades, tempo. 25) Thurstone Temperament Schedule (TTS). Thurstone, L.L. (1953). Examiner manual for the Thurstone Temperament Schedule (2nd ed.). Chicago, IL: Science Research Associates. Avalia: ativo, vigoroso, impulsivo, dominante, emocionalmente estável, sociável, reflexivo. 26) Vando Reducing-Augmenting Scale (RAS). Barnes, G.E. (1985). The Vando R-A Scale as a measure of stimulus reducing-augmenting. In J. Strelau, F.H. Farley, & A. Gale (Eds.), The biological bases of personality and behavior: Theories, measurement techniques, and development (Vol. 1, pp. 171-180). Washington, DC: Hemisphere. Avalia: reduzindo-aumentando.
  • 19. CopyMarket.com Os Tipos Humanos: A Teoria da Personalidade – Luiz Pasquali 18 CopyMarket.com Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida sem a autorização da Editora. Título: Os Tipos Humanos: A Teoria da Personalidade Autor: Luiz Pasquali Editora: CopyMarket.com, 2000 3. Teoria da Personalidade Luiz Pasquali Introdução 1.1. Preâmbulo A terminologia e os conceitos emitidos durante a história sobre a questão do temperamento e da teoria da personalidade em geral dão uma sensação de uma grande babel ou, pelo menos, de uma criatividade exorbitante, como vimos em capítulos anteriores. É muito difícil ver, por detrás de todas essas posições, uma tentativa mais axiomatizada de uma teoria que leve em conta as dimensões fundamentais de um ser como o ser humano. Elas parecem mais surtos criativos de alguns autores, baseados, quiçá, em intuições momentâneas, observações clínicas mais ou menos esporádicas, achados mais ou menos fortuitos que deram certo êxito ou preconceitos filosóficos queridos da época e, até, devaneios esotéricos. No caso do temperamento, de um modo geral os conceitos emitidos por estes autores giram basicamente em torno de dois eixos: um físico, outro psicológico, se não levarmos em conta o eixo “espiritual” dos esotéricos. O eixo físico segue duas linhas no estabelecimento dos tipos ou temperamentos, a saber, as tipologias baseadas nos humores (linha arcaica) ou nos hormônios (linha moderna) e as tipologias baseadas no tipo físico do corpo ou tipologias morfológicas. Ambas estas correntes deixaram de ser proeminentes na literatura científica hoje em dia e, ao que parece, estão em via de extinção, pelo menos como base primária para definir tipos psicológicos. Por outro lado, está aumentando o interesse na definição de tipos psicológicos tomando como fundamento características mais psicológicas da personalidade humana. As tentativas históricas nesta última área enveredaram por todas as direções, procurando eixos de estratificação os mais variados. Jung, por exemplo, trabalhava com vários eixos, a saber − Movimento da energia (libido, para ele) para dentro ou para fora − Nível racional ou irracional (isto é, inconsciente para ele) − Função de conhecimento ou de sentimento − Estilo de vida orientado pelo julgamento ou pela percepção. Outros ainda introduziram mesmo conceitos filosóficos e até religiosos nesta classificação tipológica (veja, por exemplo, Klages e Adler no capítulo 1). Enfim, conforme vimos rapidamente nos capítulos 1 e 2, os autores inventam todo o tipo de classificação, apenas que aparece difícil e quase desesperador procurar ver alguma lógica mais profunda, epistemologicamente fundamentada, para sustentar tantos modos de pensar sobre a personalidade humana. 1.2. O Objetivo {©Diante de tanta discrepância parece até uma temeridade tentar definir ou redefinir este campo do temperamento ou da personalidade. Mas vamos tentar de novo, para ver se dá para pôr alguma ordem nesta pletora de caracterizações por que passou e vem passando a teoria na área da personalidade. O objetivo primordial desta tentativa consiste em oferecer aos pesquisadores da personalidade humana um arcabouço ou contexto de referência, o mais axiomatizado possível (pelo menos formal), através do qual o estudioso da área possa se orientar e contextualizar o seu tema de interesse e pesquisa. Parece importante tal intento no sentido de incrementar a convergência das pesquisas, das temáticas e da terminologia, objetivando unir esforços e resultados para bem da teoria psicológica. A importância de um tal contexto de referência parece extremamente relevante para fundamentar e garantir um progresso mais linear, continuado e somativo da teoria e da pesquisa psicológica. Tal eixo de referência não torna teorias setoriais inúteis muito menos erradas, apenas as torna conscientes de sua regionalidade, evitando inclusive o perigo do imperialismo, isto é, de que cada teoria setorial assuma o papel da teoria psicológica pura e simplesmente, como vem ocorrendo sistematicamente na história dos sistemas em Psicologia. A utopia, “no bom sentido”, aqui defendida é finalmente a busca da teoria psicológica, superando as teorias psicológicas, de sorte que algum dia os psicólogos possam estar falando uns com os outros em linguagem e temas que não sejam ambíguos, quando não idiossincráticos.
  • 20. CopyMarket.com Os Tipos Humanos: A Teoria da Personalidade – Luiz Pasquali 19 Aliás, a teoria a ser exposta a seguir vai parecer um entrosamento de obviedades. Por serem assim, parece também que ninguém quis pô-las junto. Mas a força da teoria é precisamente entrosar tais obviedades que o saber humano criou ou descobriu sobre ele próprio. Este entrosamento de fatos sobre o ser humano visa evitar os intermináveis e frustrantes modismos que seguidamente surgem dentro da Psicologia, como os atuais Big-5, a Inteligência Emocional e outros tantos, que no final das contas tornam ridículo o papel do psicólogo no campo da ciência. Não que esses modismos estejam errados; apenas, o erro está em querer fazer desses recortes simplesmente a teoria da personalidade, sem se darem conta que são recortes; por mais legítimos e úteis que eles sejam para o conhecimento e a prática em Psicologia, são sempre recortes e seus proponentes deveriam ser capazes de se conscientizar e definir os limites de tais recortes. Os modismos surgem justamente porque falta em Psicologia um quadro de referência para a criatividade, às vezes exorbitante, dos psicólogos em sua área de pesquisa. A presente teoria quer precisamente procurar um tal quadro de referência para dar sentido a estes modismos e mostrar sua regionalidade. Agora, a teoria vai parecer pôr em evidência obviedades que o saber humano coletou sobre si mesmo na história e, por serem assim, vão de início parecer irrelevantes. Mas, vamos lá. 1.3. Os Pressupostos O problema para procurar uma tal redefinição acima proposta é o ponto de partida. Que eixos existem, os quais possam ser considerados básicos para a descrição do comportamento humano, levando em conta a totalidade do seu ser? “A totalidade do ser humano” já nos coloca numa sinuca. Isto porque posso entender esta totalidade num sentido rigoroso e, então, todas as dimensões que o conhecimento humano, ou até além dele, tem sobre tal realidade devem entrar em jogo; ou, então, entendo por totalidade do ser humano aquelas dimensões que a ciência empírica pode conceber e estudar. O conhecimento humano sobre este ser chamado “homem” provém de fontes muito distintas. De fato, o conhecimento denominado científico (as ciências empíricas) se interessa por este homem (biologia, química, ciências humanas e sociais em geral, obviamente a psicologia), mas também o conhecimento metafísico, isto é, a filosofia, se interessa pelo mesmo ser, assim como o conhecimento teológico (a teologia) se interessa e pretende produzir verdades sobre este mesmo ser humano. Todas estas formas de conhecimento se baseiam em métodos de produzir o conhecimento que não são uns redutíveis aos outros, além de possuírem critérios diferentes, e também irredutíveis uns aos outros, para demonstrarem a legitimidade das verdades que produzem. As ciências e a filosofia tratam do homem como, digamos, ser natural, enquanto a teologia a considera como ser sobrenatural, ou melhor, considera nele uma dimensão de caráter não-natural (= sobrenatural)1. Partindo da suposição razoável de que todos estes conhecimentos são legítimos, e este é o grande pressuposto no momento, surgem então de imediato, pelo menos, duas visões, talvez não contraditórias, mas muito distintas sobre este ser humano. Poderíamos chamar uma das visões de concepção do “Homo philosophicus” (a das ciências e da filosofia) e a outra do “Homo theologicus” (a da teologia). Deste alerta já surgem dois pontos de partida para a nossa problemática do conhecimento do ser humano: 1) Partindo da visão do “Homo philosophicus”, verificamos que a filosofia define o ser humano como animal racional (ou se quiser, macaco ou primata racional), e ali já podemos talvez ter uma das dimensões necessárias a serem consideradas neste contexto. Desta consideração segue, na verdade, que o ser humano tem, pelo menos, dois níveis de ser, a saber, um físico (biológico) e outro psíquico (psicológico); do contrário, o adjetivo “racional” não significaria nada de substantivo na definição do ser humano. 2) Se, contudo, partirmos de uma definição mais ampla ainda, ou seja, da visão do “Homo theologicus”, deve entrar neste contexto a dimensão espiritual. Neste caso, além das duas dimensões acima assinaladas, esta espiritual deve ser considerada também. Aliás, você viu na introdução deste tema, que estas três dimensões do ser humano já foram utilizadas para definir e caracterizar teorias de temperamento. O problema com essas teorias é que elas tornam uma das dimensões como a única e exclusiva, deixando as outras de fora ou em segundo plano. Por que não levar em conta as três e montar uma teoria completa, na qual as três dimensões têm seu dizer? 1 Uma discussão mais elaborada sobre a epistemologia do saber pode ser encontrada no capítulo 1 do livro “Delineamento de pesquisa científica” (L. Pasquali, org., 2000).
  • 21. CopyMarket.com Os Tipos Humanos: A Teoria da Personalidade – Luiz Pasquali 20 Visto dentro desta problemática, o ser humano pode ser configurado como a confluência da atividade da evolução natural e da intervenção divina. Esta pode ser visualizada numa figura que associa, de baixo para cima, a evolução do primata até o homem e, de cima para baixo, a extensão da mão de Deus tocando a do homem, como ilustrado por Miguel Ângelo na Capela Sistina de Roma. Entretanto, como a Psicologia, enquanto ciência, não possui instrumentos e metodologia para racional e utilmente trabalhar a dimensão espiritual, como cientistas devemos nos contentar com conceber o ser humano constituído simplesmente de corpo e mente. Obviamente, em existindo a dimensão espiritual, sua não inclusão torna o estudo do ser humano incompleto e, consequentemente, do seu comportamento também. Mas o conhecimento humano, qualquer que ele seja, deve sempre fazer recortes na realidade para poder estudá-la segundo seus métodos e possibilidades. A admissão da dimensão espiritual, pelo menos, torna a Psicologia consciente de que o conhecimento que ela produz sobre o ser humano é limitado, é um recorte. Então, vamos considerar o ser humano como composto de corpo e mente, como recorte que a Psicologia pode estudar deste ser. 2 - A Estrutura da Personalidade 2.1. Os Vetores da Estrutura da Personalidade Visto que o sujeito humano age como uma unidade, ainda que heterogênea, de corpo-e-mente, estes dois componentes, físico e psíquico, devem estar sempre interagindo e, de algum modo, agindo conjuntamente. Mesmo assim, pode-se visualizar a possibilidade na qual alguns indivíduos agiriam mais sobre o impacto de um dos componentes, enquanto outros agiriam mais sob o outro. Dali já surge a possibilidade de se caracterizarem os sujeitos em tipos diferenciados em termos do predomínio de um destes componentes, físico ou psíquico, no seu modo de ser e de se comportar. Por que não? Inclusive, a tipologia jungiana de extroversão vs. introversão pode ser concebida como representando esta polaridade de ser do homem, sendo a primeira a orientação para fora, para o físico, e a segunda a orientação para dentro, para o psíquico (veja a figura 3-4 e em especial a figura 3-8). De qualquer forma, a concepção filosófica caracteriza o ser humano como uma unidade composta de dois elementos heterogêneos agindo em uníssono, a saber, o físico e o psíquico. A esta distinção do ser em físico e psíquico deve estar também associada a distinção de inconsciente e consciente. A consciência, como uma nova realidade evolutiva, emergente a partir do físico e biológico (Popper, 1977; Davies, 1983), representa o psíquico, enquanto o inconsciente representa mais o biológico, o físico. Esta distinção vem também explicitada em termos de racional e irracional; o que está adequado, apenas que ela reduz a polaridade do ser (mente- corpo) ao nível da função do conhecer, deixando de fora os aspectos do sentir e do agir, como veremos a seguir. Como o ser humano é uma entidade una que pode ser analisada em sub-sistemas variados, uma dessas análises pode ser feita em termos da predominância dos componentes físico e psíquico em tais sistemas. Assim, um subsistema neste ser humano é constituído por aquela região onde predomina o físico e outra em que predomina o psíquico. Há, contudo, um momento em que o físico e o psíquico se equilibram formando um estágio, sistema ou esfera do ser humano em que ambos os níveis de ser atuam igualmente. Esta distinção bate com o que Freud descreve e chama de consciente, pré-consciente e inconsciente, sendo o consciente o predominantemente psíquico, o inconsciente o predominantemente físico e o pré-consciente a esfera entre os dois ou o ser misto físico-psíquico (veja figura 3-1d e figura 3-4). Isto daria conta do ser do indivíduo ser humano, na visão do “homo philosophicus”. Aqui se faz necessária pelo menos uma nota sobre a problemática da mente, isto é, da esfera psíquica do ser humano. A admissão e sobretudo a concepção de uma realidade mental no ser humano não é algo consensual e tranqüilo entre os psicólogos e mesmo filósofos que estudam este ser humano. Aqui existem duas tendências que me parecem nefastas e que gostaria de comentar, porque elas vêm sempre atrapalhando a compreensão do que seja o psíquico. Poderíamos chamar estas tendências de reducionismo materialista e o essencialismo reificante. O reducionismo procura, de todos os modos, reduzir os processos psíquicos a processos biológicos. A visão materialista tem feito isto sistematicamente durante toda a história do conhecimento humano; em Psicologia, além do behaviorismo, ela aparece atualmente clara no ramo da neuro-psicologia: redução dos processos mentais a processos corticais sutis ou similares. Por que isso? Porque se parte, explícita ou implicitamente, da suposição ou do preconceito que só existe o biológico e, assim, o mental vai ter que ser reduzido a ele de qualquer modo. Por que não assumir o papel de cientista?
  • 22. CopyMarket.com Os Tipos Humanos: A Teoria da Personalidade – Luiz Pasquali 21 O papel do cientista é procurar estudar e entender a realidade e não criar a realidade. Agora, os processos biológicos no ser humano devem ser descritos e entendidos ao nível da Biologia e procurar as leis que regem tais processos; os processos psíquicos devem ser descritos e entendidos ao nível da Psicologia e é função do psicólogo cientista descobrir as leis que regem estes processos, ou será que a Psicologia é simplesmente um ramo da Biologia? Ora, se os dois tipos de processos não podem ser descritos e entendidos isomorficamente, então as leis que os regem também não são as mesmas. Então, quais são as leis que regem o psíquico se elas são diferentes das leis puramente genéticas? Pois é, é precisamente a função do psicólogo descobri-las. Para que, afinal, existe a ciência da Psicologia? Reduzir as leis do psíquico às leis genéticas me parece uma saída simples e uma fuga da pesquisa das verdadeiras leis. Evidentemente, tal postura não resolve o problema do conhecimento dessas leis, apenas impõe responsabilidade e seriedade no psicólogo de, em vez de fugir para explicações simples ou simplistas, ter que procurar e escavar essas leis da realidade psíquica. Outro problema para entender o psiquismo humano, problema tão grave quanto o do reducionismo materialista, é a visão essencialista. Esta tendência admite o psíquico como diferente do biológico, mas o faz de uma maneira a tornar a realidade psíquica algo totalmente distinto e independente do biológico, como já o havia feito Descartes (1637, 1983) séculos atrás. Assim, para o essencialista, o ser humano é composto de duas coisas totalmente distintas: uma material e outra mental. Aliás, nem se poderia dizer que ele é composto dessas duas coisas, porque as duas existem independentemente; assim, de fato o ser humano seria um agregado e não uma composição. Aqui, novamente o cientista está criando uma realidade por conta própria (a mente como uma espécie de fantasma!), quando sua função consiste em descobrir a realidade como ela é. Pois, a experiência de cada ser humano não é de que ele age independentemente com o corpo, algumas vezes, e outras com a mente; a experiência é de que nós agimos simultaneamente (na maioria das vezes) com nosso corpo e nossa mente. Se isto é um fato, então o cientista tem que descrevê-lo assim e procurar entendê-lo de acordo. Então, ao que parece, o ser humano, mesmo composto de duas realidades distintas, age como uma unidade, sendo as duas realidades absolutamente inseparáveis tanto no ser quanto no agir. Como é que é isso possível? Pois esta é função do psicólogo descobrir e não de negar. E a Psicologia já descobriu tal realidade de um dualismo interacionista que nossa experiência diária nos propõe? Parece que estamos ainda muito longe de tal conhecimento, o que, evidentemente, é uma desgraça para a ciência psicológica. Daí resulta que cada psicólogo entende esta realidade de corpo e mente do seu jeito. Eu a entendo mais ou menos da seguinte forma: Do dito acima, parto do princípio que existe a engenharia genética no ser humano e existe também a engenharia psíquica; ambas regidas por leis distintas, mas ambas interdependentes. A engenharia genética se rege pelas leis genéticas, que uma teoria biológica como a da evolução pode explicar; a engenharia da mente se rege por leis psíquicas, fundamentadas também na evolução biológica, sendo que esta, a certa altura, produziu uma realidade distinta da realidade biológica, como uma espécie de emergência, na expressão de Popper (1977). Perguntar como é que isto é possível é enveredar para o terreno das impossibilidades; como, entretanto, tal realidade existe, é preciso partir do fato consumado e procurar explicar e entender como tal mecanismo funciona, numa perspectiva evolutiva reversa, como diria Pinker (1999), isto é, partir do mecanismo existente e em funcionamento para procurar o como e as causas de tal funcionamento, já que a partir das causas e fenômenos genéticos não dá para construir um tal mecanismo que funcione (estou falando do mecanismo da mente, que não funciona simplesmente pelas leis genéticas, ainda que delas dependa). O fato de que nós nem conhecemos minimamente estas leis da mente não é motivo para negá-las. Se você se lembra, a própria Física, que se atribula há milênios para conhecer seu objeto de estudo, apenas há mais de um século começou a realmente entendê-lo; a Psicologia não tem milênios de história, aliás tem apenas um século. A Física já conseguiu chegar a elementos primários da realidade física, os quarks, bosons e leptons, elementos que aparecem quase abstrações. A Psicologia apenas conseguiu até o presente chegar a elementos do tipo idéia, imagem, sentimento e decisão, elementos que parecem ainda muito “grossos”. Mas é atrás destes elementos que a Psicologia deve ir e explicar, descobrir sua estrutura e as leis que os regem, e não ir à cata dos elementos da Física e nem da Biologia. A presente teoria não pretende resolver todos esses problemas, mas ela indica, pelo menos, que os temas da mente devem ser procurados na esfera do psíquico e não do físico e, ainda, que os mecanismos da mente e genéticos sejam conjugados em seu ser e agir. Que isso constitui uma tarefa agigantada e assustadora, é um fato. Mas a própria Biologia, com seus séculos de vida, apenas agora está começando a entender as leis genéticas, descobrindo os fenômenos da DNA e do genoma humano. Quando é que a Psicologia começará a vislumbrar um genoma da mente?
  • 23. CopyMarket.com Os Tipos Humanos: A Teoria da Personalidade – Luiz Pasquali 22 Agora, voltando ao tema da estrutura da personalidade. Uma outra vertente de diferenciação entre os indivíduos, além do ser, poderia ser considerada a atividade, a função (como diria Jung) ou as capacidades ou faculdades deste ser humano. E esta atividade pode ser concebida, como o tem sido na tradição histórica da Filosofia e também da Psicologia, como tripartite, a saber, as funções de conhecer, sentir e agir, ou por outros nomes sob os quais se queira entender estas três funções, além dos seus substantivos de conhecimento, sentimento e motivação ou vontade, ou, ainda, faculdade cognitiva, faculdade afetiva e faculdade conativa. Nesta parte já não aparece tão clara esta distinção em três funções, pois outros diriam que elas são em maior número. O próprio Jung fazia aqui algumas distinções que podem parecer até estranhas ou, pelo menos, não se vê bem o por quê de tais distinções. A armadura psicanalítica certamente é uma das causas de tais idiossincrasias de Jung. Ele distinguia as funções em termos de energização (extroversão vs. introversão), atenção (sensação vs. intuição), decisão (pensamento vs. sentimento) e vivência (julgamento vs. percepção). Além de conceber estes conceitos de um modo peculiar (por exemplo, intuição estaria ligada a uma coisa chamada “sexto sentido”!), Jung parece estar amarrado à tradicional magia do número 4, a qual vem desde Pitágoras. E outros, ainda, têm outras sugestões neste particular das funções humanas (veja no capítulo 1, onde Allport apresenta dezenas delas). Vamos admitir a distinção tripartite da função (conhecer, sentir, agir). Mais adiante, veremos que estas três funções na verdade são categorias de funções, porque dentro delas muitas sub-funções podem ser diferenciadas. 2.2. As Combinações Vetoriais da Personalidade Admitindo estes cinco vetores (2 de ser e 3 de função) na estruturação da personalidade, podemos, então, enquadrar todos estes elementos de ser e de função do ser humano num esquema de mútua interação e divisar a situação apresentada na tabela 3-1. Tabela 3-1. Fatores geradores dos temperamentos ou personalidade FUNÇÃO SER Conhecer (C) Sentir (S) Agir (A) Físico (Φ) Sensação Emoção Atos instintivos Psíquico (ψ) Pensamento Sentimento Atos livres Esta tabela quer expressar que a função de conhecimento se manifesta, ao nível físico do ser humano, no fenômeno da percepção sensorial (a sensação) e, ao nível psíquico, na elaboração teórica da realidade (o pensamento). O sentir se manifesta na emoção corporal e no sentimento ao nível psíquico. O agir, por sua vez, se manifesta na ação instintiva, reflexa, ao nível físico, e na ação livre, na tomada de decisão, goal-oriented activity, ao nível psíquico. Os símbolos gregos expressam a terminologia técnica sob a qual os níveis do ser humano têm sido expressos durante a história: o Φ abrevia Fisis (Φυσιζ) e o ψ constitui a sigla para Psique (Ψυχη). Como nota, vejamos como ficaria esta configuração se acrescentássemos a dimensão espiritual. A tabela 3-2 faz esta visualização (incluindo símbolos para as funções: cabeça, coração, mãos). O Π é a abreviação de Pneuma (Πνευµα) Físico ( )Φ Conhecer Sentir Agir Sensação Emoção Atos Instintivos Pensamento Sentimento Atos Livres Contemplação União Mística (Êxtase) Ágape SER Tabela 3-2. Fatores geradores da personalidade FUNÇÃO Psíquico ( )Ψ Espiritual ( )Π
  • 24. CopyMarket.com Os Tipos Humanos: A Teoria da Personalidade – Luiz Pasquali 23 Para cada um desses seis tipos de atividade, o ser humano deve possuir um instrumento ou órgão, vamos chamar de faculdade, que o qualifica para desempenhar tal função, dado que é axiomático de que a função procede da estrutura. Assim, para a percepção ele tem os sentidos; para a teoria, ele tem a inteligência (intelecto); para a emoção, ele possui o sistema neuroendócrino (a emoção surge espontaneamente “do intestino”, dizem os taitianos – Levy, 1984); para o sentimento, ele tem o senso do valor (atitude?); para a ação instintiva, ele possui o instinto; e para a ação livre, ele tem a vontade, como fica ilustrado na tabela 3-3. Tabela 3-3. Faculdades humanas em termos de ser e função FUNÇÃO SER Conhecer Sentir Agir Físico Sentidos Sistema Neuroendócrino Instinto Psíquico Intelecto Senso de valor Vontade Novamente, como nota, com a dimensão espiritual, este quadro seria o da tabela 3-4. Tabela 3-4. Faculdades humanas em termos de ser e função FUNÇÃO SER Conhecer Sentir Agir Físico Sentidos Sistema neuroendócrino Instinto Psíquico Intelecto Senso de valor Vontade Espiritual Fé Esperança Caridade Contudo, você vê que as faculdades envolvidas na esfera do sobrenatural não são mais, digamos, dádivas da natureza, mas dádivas diretas de Deus. Aquelas são tratadas pela Ciência e estas o são pela Teologia. De sorte que para o psicólogo, cientista, não parece possível trabalhar racional e utilmente com o esquema da figura 3-4. A Psicologia consegue trabalhar a experiência que o ser humano tem, por exemplo, da percepção sensorial, bem como da percepção intelectual da realidade, mas não consegue tratar da percepção espiritual da realidade. A Teologia é que trabalha esta última. Inclusive, ela afirma que inicialmente o ser humano tinha esta percepção espiritual como a mais típica do seu agir, na época em que ele vivia no éden, onde a visão de Deus era o evento corriqueiro. Mas o homem perdeu esta habilidade por uma ocorrência que é contada na saga do “pecado original”. A Teologia também nos conta que o homem pode readquirir tal habilidade, não sendo ela mais, no presente, uma visão, mas através da fé, pelo menos durante um certo período de tempo, isto é, enquanto o ser humano viver no mundo mortal; depois (da morte), ele terá de volta definitivamente esta habilidade, dependendo de como ele aproveitou esta vida mortal (esta história é contada pelo cristianismo sob os eventos da primeira e segunda vinda de Cristo ao mundo). Infelizmente, enquanto ele viver neste mundo mortal, o ser humano já não possui (mais) esta visão ou percepção espiritual da realidade (e com isto também não o sentir e o agir neste nível), a não ser através da fé e das outras faculdades espirituais. Quanto a esta estrutura, devemos finalmente observar que os instrumentos que o ser humano possui em cada uma das 6 combinações não são um único. Na verdade, estas combinações representam categorias nas quais se situam arsenais de instrumentos ou habilidades que o ser o humano possui em cada uma delas. Veja, por exemplo, o caso dos sentidos: temos cinco deles. Podemos descobrir vários instrumentos também nas demais combinações, como procura mostrar a tabela 3-5. No caso do intelecto, por exemplo, você pode ver que os instrumentos ali presentes explicariam a distinção, que continuamente ocorre na literatura sobre a inteligência, entre racional (raciocínio) e irracional (imaginação e intuição).
  • 25. CopyMarket.com Os Tipos Humanos: A Teoria da Personalidade – Luiz Pasquali 24 Tabela 3-5. Faculdades humanas em termos de ser e função FUNÇÃO SER Conhecer Sentir Agir Físico Sentidos: . Gosto . Visão . Gustação . Olfato . Audição Sistema Neuroendócrino: . Simpático . Parassimpático. Instinto: . Alerta . Sobrevivência . Acasalamento (mating) . Exploração . Mothering (proteção) Psíquico Intelecto: . Memória . Percepção . Imaginação . Intuição . Raciocínio Senso de valor: . Estético (belo) . Ético (bom) . ? (grande) . ? (mágico) Vontade: . Atenção . Escolha . Significado da vida (will to meaning) 2.3. O Poliedro da Estrutura da Personalidade As distinções acima feitas podem ser visualizadas melhor nas figuras 3-1 a 3-5. Na figura 3-1a está ilustrado que o ser humano é constituído de dois níveis de ser, a saber, o psíquico (Ψ) e o físico (Φ), ambos capazes de três funções, isto é, conhecer, sentir e agir. Em figura 3- 1b todas estas distinções estão postas numa unidade corpo-mente. Na figura 3-1c há tentativa de distinguir as três funções em funções puras ou dominantes e funções mistas, expresso com cortes transversais do sólido geral da figura. Os sólidos expressos pelas arestas da figura expressam as funções dominantes de conhecer (sólido frontal), sentir (sólido da esquerda) e agir (sólido da direita), seja em nível psíquico ou físico; os sólidos entre os das arestas expressam as funções mistas de conhecer- sentir (sólido intermédio da esquerda), conhecer-agir (sólido intermédio da direita), sentir-agir (sólido intermédio de trás), como procura salientar a figura 3-3. Fazendo cortes longitudinais na figura temos a situação da figura 3-1d, a qual expressa o ser do homem em termos de psíquico dominante (cone superior), misto (parte intermédia, do equador) e físico dominante (cone inferior). Olhando a figura 3-1c,d de cima, podemos visualizar o ilustrado na figura 3-2, onde aparecem todos os tipos em termos das funções (conhecer, sentir, agir) e dos dois níveis do ser (psíquico, físico).
  • 26. CopyMarket.com Os Tipos Humanos: A Teoria da Personalidade – Luiz Pasquali 25 A figura 3-3 pretende mostrar como aparecem os tipos do nível psíquico, quando este for puxado para cima. Fazendo o mesmo com os tipos do nível físico, teremos como visualização o apresentado nas figuras 3- 4 e 3-5, as quais mostram os 18 tipos diferentes que surgem destas distinções feitas, como expressos nas próprias figuras. Dentro do esquema proposto, de fato você pode distinguir um número ilimitado de tipos humanos, o que eqüivaleria a dizer que cada sujeito, passado, presente e futuro, aparece como um tipo único. Mas uma distinção em um número menor de tipos ou classes é útil para fins práticos e para o conheci- mento psicológico. O número destes tipos depende do gosto do pesquisador ser mais analítico ou sinté- tico; aquele distinguiria um número maior de tipos e este um número menor. Distinguimos aqui 18, não como um número mágico, mas como um compro- misso entre uma descrição por demais analítica ou demasiadamente sintética. Como veremos a seguir, 18 já é um número que dificulta bastante a caracteri- zação clara e disjuntiva, em termos substantivos ou psicológicos, de todos estes tipos. O que acabamos de dizer pode ser parafraseado da seguinte maneira: Se considerarmos os dois níveis de ser e as três funções como vetores num espaço multidimensional, então cada ser humano poderá ser expresso como um ponto definido pela resultante destes 5 vetores neste mesmo espaço, o que vai resultar em que cada sujeito representa um tipo único dentro do espaço. Contudo, esta maneira de expressar possibilita também visualizar que o ponto que define a posição do sujeito neste espaço 5- dimensional possa cair dentro ou mais próximo de uma das 18 classes ou tipos que a figura sugere poderem surgir da combinação dos 2 níveis de ser e das 3 funções; assim, o sujeito poder ser classificado dentro deste tipo, de preferência a ser considerado cada um dos sujeitos um tipo único e peculiar. Evidentemente, estes 18 tipos se apresentam com matizes muito variados. Por exemplo, o indivíduo no qual predomina a combinação vetorial do intelecto, pode sê-lo assim por várias razões, já que o intelecto é um sumário de várias habilidades distintas, isto é, percepção, imaginação, intuição e raciocínio. De sorte que sujeitos caracterizados pela função do intelecto se apresentam muito distintos entre si, unicamente dependendo da caracterização pelo intelecto, além, obviamente da combinação neles dos outros vetores da personalidade.
  • 27. CopyMarket.com Os Tipos Humanos: A Teoria da Personalidade – Luiz Pasquali 26 Assim, a caracterização individual de cada sujeito se torna extremamente variada e complexa, para a qual vamos necessitar de instrumentos de medida que nos forneçam indicadores para poder discriminar cada sujeito individualmente. Levando em conta a última observação feita acima, um instrumento que meça os vários tipos psicológicos pode produzir um único escore multidimensional que expressaria o sujeito como um ponto neste espaço 5- dimensional, definido pelos 2 vetores do ser (psíquico, físico) e pelos 3 vetores das funções (conhecer, sentir, agir). Como não dá para geometricamente expressar um espaço de 5 dimensões, a representação gráfica de um tal ponto ou escore pode ser efetuada em 6 figuras, nas quais as funções são representadas duas a duas para cada nível do ser, como procura mostrar o esquema da figura 3-6. Figura 3-6: Ψ Φ Representação vetorial do escore em dimensão bidimensional Sentir Sentir Conhecer Ψ Conhecer Φ Agir Agir Conhecer Ψ Conhecer Φ Agir Agir Sentir Sentir
  • 28. CopyMarket.com Os Tipos Humanos: A Teoria da Personalidade – Luiz Pasquali 27 Neste esquema, o escore do sujeito é representado por um ponto em cada um dos quatro quadrantes de cada quadrado bidimensional. A leitura e a compreensão de um tal escore e de sua representação é de difícil visibilidade. Por isso, para fins práticos, o escore do sujeito num tal instrumento pode também ser expresso como um perfil unidimensional, nas seis combinações vetoriais expressas na tabela 3-1 e na figura 3-7. Este aspecto da medida será detalhado mais adiante (onde a figura 3-12 corrige a figura 3-7). Aqui cabe, apenas, observar que esta última forma de expressar o escore tira a qualidade multidimensional do mesmo, transformando a representação do sujeito num espaço unidimensional, no qual cada uma das seis combinações se constitui em fator independente. Embora esta representação tire a unidade do conceito multidimensional à posição do sujeito no campo semântico da personalidade, ela, contudo, ajuda a visualizar melhor o tipo ou tipos dominantes nos quais o seu escore posiciona o sujeito. Entretanto, não se deve perder de vista que a expressão da posição tipológica do sujeito expressa em perfil de 6 pontos constitui uma dissecação analítica desta sua posição espacial ou escore multidimensional. Sobre as representações gráficas da estrutura da personalidade (figuras 3-1 a 3- 5) cabe uma observação ou retificação importante: as figuras dão a impressão de um dissecamento brutal entre os vários níveis do ser e das funções. De fato, o ser humano não é um agregado que resulta da soma de componentes, mas ele é uma entidade una, composta, sim, de elementos, sendo estes inclusive elementos heterogêneos, onde um é físico e o outro não- físico (o psíquico), por exemplo. Como é possível que tal evento seja possível ocorrer? Bem, este é um problema que a filosofia deve discutir. Para o cientista (psicólogo), esta unidade heterogênea tanto é possível que é e pronto. O psicólogo procura verificar como tal unidade funciona, se estrutura e se comporta. Para melhor salvar visualmente esta unidade do ser humano, a figura 3-1b, da qual resultam todas as outras, seria expressa melhor como na figura 3-8. Esta ilustração visualiza a unidade do ser homem, na figura 3-8a, para o caso do “homo philosophicus” e a figura 3-8b para o “homo theologicus”. Entretanto esta forma dificulta ilustrar os detalhes que as figuras, em especial as 3-3 e 3-5, pretendem descrever. Este alerta serve para não perder de vista que todas as distinções feitas em termos de estrutura e função são dissecações analíticas, não correspondendo ao funcionamento unitário do ser humano.