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PRÁTICA
PROVAS-MODELO
Maurice Utrillo, O Caminho Cottin, 1910 PARTE IV
362
PREPARAR O EXAME NACIONAL
PROVA-MODELO – PROVA 1
GRUPO I
A
Leia o excerto do fragmento «Eu nunca fiz senão sonhar».
Eu nunca fiz senão sonhar. Tem sido esse, e esse apenas, o sentido da minha vida.
Nunca tive outra preocupação verdadeira senão a minha vida interior. As maiores dores
da minha vida esbatem-se-me quando, abrindo a janela para a rua do meu sonho,
esqueço a vista no seu movimento. (…)
A minha mania de criar um mundo falso acompanha-me ainda, e só na minha morte
me abandonará. Não alinho hoje nas minhas gavetas carros de linhas e peões de xadrez
– com um bispo ou um cavalo acaso sobressaindo – mas tenho pena de o não fazer…
e alinho na minha imaginação, confortavelmente, como quem no inverno se aquece
a uma lareira, figuras que habitam, e são constantes e vivas, na minha vida interior.
Tenho um mundo de amigos dentro de mim, com vidas próprias, reais, definidas e
imperfeitas.
Alguns passam dificuldades, outros têm uma vida boémia, pitoresca e humilde. Há
outros que são caixeiros-viajantes (poder sonhar-me caixeiro-viajante foi sempre uma
das minhas grandes ambições – irrealizável infelizmente!). Outros moram em aldeias e
vilas lá para as fronteiras de um Portugal dentro de mim; vêm à cidade, onde por acaso
os encontro e reconheço, abrindo-lhes os braços emotivamente… E quando sonho isto,
passeando no meu quarto, falando alto, gesticulando… quando sonho isto, e me visiono
encontrando-os, todo eu me alegro, me realizo, me pulo, brilham-me os olhos, abro os
braços e tenho uma felicidade enorme, real, incomparável. (…)
Há também as paisagens e as vidas que não foram inteiramente interiores. Certos
quadros, sem subido relevo artístico, certas oleogravuras que havia em paredes com que
convivi muitas horas – passaram a realidade dentro de mim. Aqui a sensação era outra,
mais pungente e triste. Ardia-me não poder estar ali, quer eles fossem reais ou não.
Não ser eu, ao menos, uma figura a mais desenhada ao pé daquele bosque, ao luar que
havia numa pequena gravura dum quarto onde dormi já não em pequeno! Não poder
eu pensar que estava ali oculto, no bosque à beira do rio, por aquele luar eterno (embora
mal desenhado), vendo o homem que passa num barco por baixo do debruçar-se de um
salgueiro! Aqui o não poder sonhar inteiramente doía-me. As feições da minha saudade
eram outras. Os gestos do meu desespero eram diferentes. A impossibilidade que me
torturava era de outra ordem de angústia. Ah, não ter tudo isto um sentido em Deus,
uma realização conforme o espírito de meus desejos, não sei onde, por um tempo ver-
tical, consubstanciado1
com a direção das minhas saudades e dos meus devaneios! Não
haver, pelo menos só para mim, um paraíso feito disto!
Bernardo Soares, Livro do Desassossego: composto por Bernardo Soares,
ajudante de guarda-livros na cidade de Lisboa, (ed. Richard Zenith),
7.ª ed., Lisboa, Assírio & Alvim, 2014, pp. 110-112
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Consubstanciado: unido.
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PROVA-MODELO – PROVA 1
PORTUGUÊS 12.o
ANO
1. De acordo com o conteúdo das linhas 1 a 19, explique o papel do sonho na vida de
Bernardo Soares, bem como as sensações reais que dele advêm.
2. A partir da linha 20, Soares apresenta-nos outro tipo de sonho. Explicite-o e
comente os efeitos que esse outro tipo tem no seu interior.
3. Esclareça o sentido da última frase do excerto: «Não haver, pelo menos só para
mim, um paraíso feito disto!».
4. Explique por que razão existe transfiguração poética do real na sequência «Ardia-
-me não poder estar ali, quer eles fossem reais ou não. Não ser eu, ao menos, uma
figura a mais desenhada ao pé daquele bosque, ao luar que havia numa pequena
gravura dum quarto onde dormi já em pequeno!» (linhas 23-25)
B
Leia o poema de Antero de Quental.
No Turbilhão
No meu sonho desfilam as visões,
Espectros dos meus próprios pensamentos,
Como um bando levado pelos ventos,
Arrebatado em vastos turbilhões…
Numa espiral, de estranhas contorções1
,
E donde saem gritos e lamentos,
Vejo-os passar, em grupos nevoentos,
Distingo-lhes, a espaços, as feições…
− Fantasmas de mim mesmo e da minha alma,
Que me fitais com formidável calma,
Levados na onda turva do escarcéu2
,
Quem sois vós, meus irmãos e meus algozes3
?
Quem sois, visões misérrimas e atrozes?
Ai de mim! ai de mim! e quem sou eu?!...
Antero de Quental, Sonetos Completos,
Lisboa, Ulisseia, 2002, p. 184
5
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1
Contorções: atos ou efeitos de torcer
ou contorcer-se.
2
Escarcéu: ruído das ondas; vagalhão.
3
Algozes: carrascos; executores da
pena de morte.
Cotações
16pontos
16pontos
16pontos
8pontos
364
PREPARAR O EXAME NACIONAL
PROVA-MODELO – PROVA 1
5. Explique em que medida este poema retrata a angústia existencial de Antero de
Quental.
6. Estabeleça uma comparação entre a perspetivação do sonho no Texto A e neste
Texto B, justificando a sua resposta.
C
7. O tema da reflexão existencial é uma das características típicas da poesia de
Fernando Pessoa.
Escreva uma breve exposição na qual faça um contraste entre a visão do mundo de Alberto
Caeiro e a de Ricardo Reis a propósito deste tema.
A sua exposição deve incluir:
• uma introdução ao tema;
• um desenvolvimento no qual explicite, para cada um dos heterónimos, uma característi-
ca que os permita distinguir, fundamentando as características apresentadas com, pelo
menos, um exemplo significativo;
• uma conclusão adequada ao desenvolvimento do tema
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16pontos
365
PROVA-MODELO – PROVA 1
PORTUGUÊS 12.o
ANO
GRUPO II
Leia o texto.
Índia: mais justiça para as vacas do que para as mulheres
O que faz uma mulher com uma máscara de vaca na cabeça, a posar para uma foto
junto ao simbólico Portão da Índia, em Deli? A obrigar a sua sociedade a refletir. Sobre
o quê? Sobre o facto de haver um interesse e ímpeto maiores quanto à proteção das
vacas no seu país do que para a defesa e celeridade de justiça nos casos das agressões
feitas às mulheres, cujos direitos mais básicos, incluindo a sua integridade física e emo-
cional, continuam a ser violados diariamente.
A ideia partiu do fotógrafo indiano Sujatro Ghosh, que perante a discussão acesa
quanto à criminalização das agressões feitas às vacas no seu país – animais considerados
sagrados por aqueles seguidores da religião hindu − começou a questionar-se sobre o
que levaria a que os direitos das mulheres gerassem tal entusiasmo. «Perturba-me que
no meu país as vacas sejam consideradas mais importantes do que as mulheres. Quando
uma mulher é violada demora muito mais tempo a obter justiça do que uma vaca.»
Para percebermos um bocadinho melhor o que leva o jovem fotógrafo a fazer esta
comparação, podemos olhar para alguns dados referentes à Índia. Hoje em dia, uma
agressão deliberada feita a uma vaca − sem que esse mesmo ato resulte do processo
normal da morte do animal para consumo − pode levar a uma pena de quase dez anos
de prisão. Uma lei amplamente aplaudida pelos extremistas hindus, que mesmo assim
estão atualmente a tentar fazer chegar ao parlamento a discussão da pena de morte para
estes crimes. Ou seja, há um movimento claro, ativo e com cariz de urgência para que
se dê condições de segurança e que seja feita justiça às vacas sagradas. Ao mesmo tempo,
há todo um cenário de violência perpetuado sobre o sexo feminino que – embora gere
hoje mais discussão pública e política – continua a ser socialmente aceite. Com a justiça
a falhar redondamente no que lhe compete.
Se olharmos para os dados oficiais de 2015, por exemplo, chegamos a quase 35 mil
casos de abuso sexual que foram reportados às autoridades indianas, sendo que a justiça
apenas atuou em menos de 20% destes casos. Casos esses que devem ter uma dimensão
tremendamente maior, uma vez que estes são apenas aqueles que chegam às autorida-
des. Há uns meses, um estudo sobre a realidade criminal de Deli mostrava que apenas
um em cada 13 casos de abuso sexual chegava às autoridades. Em comparação, 1 em
cada 3 roubos de telemóveis, por exemplo, era reportado à polícia. Por razões culturais,
sociais, familiares e religiosas, uma larga percentagem das mulheres e meninas vítimas
deste tipo de violência continua a não denunciar o crime. O estigma fala mais alto. E a
justiça – tal como a mentalidade discriminatória instituída naquele país − não acompa-
nha a necessidade urgente de mudança.
Tudo isto deu que pensar a Sujatro Ghosh, que decidiu então usar a sua arte e o
poder do humor para fazer um protesto, que tinha como ponto de partida fotografar
mulheres, de diferentes esferas sociais, com máscaras de vaca em vários pontos da sua
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366
PREPARAR O EXAME NACIONAL
PROVA-MODELO – PROVA 1
cidade, desde zonas turísticas, a edifícios governamentais, transportes públicos ou até
mesmo dentro das suas próprias casas. Porque não só na rua? «Porque as mulheres são
vulneráveis em todos os lugares», explica o fotógrafo.
As fotos foram publicadas na sua página de Instagram e rapidamente fizeram furor e
galgaram fronteiras. Aliás, Sujatro Ghosh já está na estrada para fazer imagens noutros
pontos do país de mulheres com cabeça de vaca. Esta comparação – acompanhada pelos
relatos pessoais das mulheres fotografadas - serve para provocar, para agitar consciên-
cias, para gerar reações imediatas. Reações que levam a uma reflexão, algo que ajudará,
certamente, a melhorar o ritmo do passado no que toca à igualdade entre géneros num
país perigosamente patriarcal.
Num país onde os números referentes a questões tão graves quanto o assédio e abuso
sexual, casamentos forçados, casamento infantil, violência doméstica ou tráfico huma-
no ganham proporções verdadeiramente abjetas, é realmente chocante que uma vaca –
por mais sagrada que possa ser considerada por determinada religião e por mais respeito
que mereça enquanto animal – tenha mais atenção do que as mulheres no que toca a
agentes de autoridade, líderes religiosos e decisores políticos.
É, contudo, importante perceber que o que está em causa nesta série de fotografias
não é uma redução de proteção aos animais no país, neste caso as vacas. Trata-se sim de
pedir mais coerência no que toca à justiça e às suas prioridades naquela sociedade, com
os seus desafios concretos (e que são tantos). No caso da Índia, uma sociedade que ainda
relega as mulheres para um segundo patamar enquanto cidadãs e, até mesmo, enquanto
seres humanos, privando-as dos seus direitos mais básicos. Entre eles, a justiça, a liber-
dade e a dignidade.
Paula Cosme Pinto, «Índia: mais justiça para as vacas do que para as mulheres»,
in Expresso, 12 de julho de 2017 (disponível em http://expresso.sapo.pt/; consultado a 12/07/2017)
1. O conteúdo das linhas 1 a 6 permite ao leitor perceber a denúncia
(A) da corrupção que envolve a Justiça no tratamento de crimes contra as vacas.
(B) da similitude entre o tratamento que a Justiça faz de crimes contra as vacas e contra
as mulheres.
(C) do contraste entre o tratamento que a Justiça faz de crimes contra as vacas e contra
as mulheres.
(D) da corrupção que envolve a Justiça no tratamento de crimes contra as crianças.
2. Entre as linhas 7 e 12, Paula Cosme Pinto
(A) explica o papel das mulheres indianas na sociedade, segundo o fotógrafo Sujatro
Ghosh.
(B) descreve a profissão do fotógrafo Sujatro Ghosh.
(C)explicaofactoeconómicoqueestevenaorigemdaatitudedofotógrafoSujatroGhosh.
(D) explica o facto político que esteve na origem da atitude do fotógrafo Sujatro Ghosh.
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PROVA-MODELO – PROVA 1
PORTUGUÊS 12.o
ANO
3. A frase «Para percebermos um bocadinho melhor o que leva o jovem fotógrafo
a fazer esta comparação, podemos olhar para alguns dados referentes à Índia.»
(linhas 13-14) prepara o leitor para a
(A) caracterização da atualidade indiana no que diz respeito à criminalidade.
(B) listagem de informações sobre a história da Índia.
(C) caracterização da sociedade indiana em geral.
(D) caracterização da atualidade indiana no que se refere a vacas/mulheres.
4. A sequência «Tudo isto» (linha 35) refere-se
(A) ao conteúdo do parágrafo anterior.
(B) ao conteúdo da frase anterior.
(C) aos estigmas indianos.
(D) à discussão política sobre agressões a vacas.
5. O parágrafo iniciado na linha 41
(A) explica o impacto que as fotografias publicadas tiveram em todo o mundo.
(B) exemplifica os resultados da pesquisa feita pelo fotógrafo.
(C) explica o impacto que as fotografias tiveram na Índia.
(D) explica o poder do Instagram.
6. Indique a função sintática desempenhada pela expressão «para um segundo
patamar» (linha 58).
7. Identifique o referente do pronome «eles» (linha 59).
GRUPO III
«A cultura assusta muito. É uma coisa apavorante para os ditadores. Um povo que lê
nunca será um povo de escravos.»
António Lobo Antunes, entrevista ao Diário de Notícias, 18 de novembro de 2003
Partindo da perspetiva exposta na citação acima reproduzida, e num texto bem estrutu-
rado, com um mínimo de duzentas e um máximo de trezentas palavras, apresente uma refle-
xão sobre a relação entre cultura, leitura e liberdade.
Fundamente o seu ponto de vista recorrendo, no mínimo, a dois argumentos, e ilustre
cada um deles com, pelo menos, um exemplo significativo.
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368
PREPARAR O EXAME NACIONAL
GRUPO I
A
Leia o poema da Mensagem, de Fernando Pessoa.
Nevoeiro
Nem rei nem lei, nem paz nem guerra,
Define com perfil e ser
Este fulgor1
baço da terra
Que é Portugal a entristecer –
Brilho sem luz e sem arder,
Como o que o fogo-fátuo2
encerra.
Ninguém sabe que coisa quer.
Ninguém conhece que alma tem,
Nem o que é mal nem o que é bem.
(Que ânsia distante perto chora?)
Tudo é incerto e derradeiro.
Tudo é disperso, nada é inteiro.
Ó Portugal, hoje és nevoeiro…
É a Hora!
Fernando Pessoa, Mensagem (ed. Fernando
Cabral Martins), Lisboa, Assírio & Alvim, 2014, p. 91
1. Explique de que forma se manifesta neste poema a natureza épico-lírica de Mensa-
gem, justificando a sua resposta com elementos textuais.
2. Esclareça a forma como a personificação de Portugal é confirmada pelas antíteses
e paradoxos.
3. Evidencie o sentido dos dois últimos versos do poema, considerando a metáfora e
o uso inesperado de maiúscula.
4. Explicite de que modo a repetição dos pronomes «Ninguém» (versos 7 e 8) está ao
serviço da caracterização global de Portugal.
PROVA-MODELO – PROVA 2
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1
Fulgor: brilho intenso; clarão.
2
Fátuo: passageiro; efémero.
Cotações
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PORTUGUÊS 12.o
ANO
PROVA-MODELO – PROVA 2
B
Leia o poema de Antero de Quental.
A um poeta
Tu que dormes, espírito sereno,
Posto à sombra dos cedros seculares,
Como um levita1
à sombra dos altares,
Longe da luta e do fragor terreno,
Acorda! é tempo! O sol, já alto e pleno,
Afugentou as larvas tumulares…
Para surgir do seio desses mares,
Um mundo novo espera só um aceno…
Escuta! é a grande voz das multidões!
São teus irmãos, que se erguem! são canções…
Mas de guerra… e são vozes de rebate2
!
Ergue-te pois, soldado do Futuro,
E dos raios de luz do sonho puro,
Sonhador, faze espada de combate!
Antero de Quental, Sonetos Completos,
Lisboa, Ulisseia, 2002, p. 163
5. Explique o conteúdo deste poema, considerando as apóstrofes e o uso de verbos
no imperativo.
6. Compare o tempo atual presente no poema B com o tempo atual do poema A, socor-
rendo-se de elementos textuais que o comprovem.C
C
7. O heterónimo pessoano Álvaro de Campos é considerado o poeta da Modernidade.
Escreva uma breve exposição na qual inclua duas características que estão ao ser-
viço dessa Modernidade.
A sua exposição deve incluir:
• uma introdução ao tema;
• um desenvolvimento no qual explicite as referidas características, fundamentando-as
com, pelo menos, um exemplo significativo;
• uma conclusão adequada ao desenvolvimento do tema.
1
Levita: sacerdote; clérigo.
2
Rebate: ataque; assalto.
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370
PREPARAR O EXAME NACIONAL
GRUPO II
Leia o texto.
Os usos e costumes já não são o que eram...
Há um ano vivíamos o primeiro dia do resto das nossas vidas como campeões euro-
peus de futebol. O momento inesquecível e o feito memorável continuarão a fazer os
portugueses felizes por muitos mais anos.
Iniciou-se por essa altura uma nova era motivacional na sociedade portuguesa, muito
aproveitada pelas classes políticas dominantes que muito capitalizaram nessa onda de
aspiração que banhou Portugal de norte a sul.
É nesse clima de êxtase nacional que surge, pouco tempo depois, a notícia sobre as
viagens de políticos, pagas pelos patrocinadores da seleção nacional, para assistirem a
jogos de Portugal no campeonato europeu de futebol em França.
Num país com tantas leis que não são cumpridas,muitas vezes por falta de fiscalização
e consequente penalização,é fácil descurar leis que (quase) nunca são aplicadas.Especial-
mente as que são feitas já com uma cláusula de salvaguarda que propositadamente dá azo
a interpretações subjetivas, tal como os usos e costumes que sejam socialmente aceites...
E como é do conhecimento geral, em Portugal existem muitos usos e costumes que
são socialmente aceites, mas que não estão inteiramente de acordo com a lei.A famosa
«cunha» ilustra bem a real dimensão da cultura de «favor» e de «vantagem» de que agora
tanto se fala.
Desta forma, os usos e costumes socialmente aceites pelos políticos, da esquerda à
direita,que aceitaram os convites desinteressados de um grande patrocinador privado,são
partilhados por deputados, membros do governo, presidentes de câmara e pela maioria
dos eleitores em Portugal.
Na altura, a reduzida pressão social aliada ao facto de quase todos os partidos políticos
terem telhados de vidro ajudou o governo a brilhar com a estrondosa ideia de elaborar
um código de conduta para referência futura. Pois, se fosse aplicado retroativamente, os
membros do governo envolvidos teriam eticamente que ser demitidos logo nesse verão.
A partir dessa altura as boas notícias não pareciam parar de chegar a Portugal.E o sen-
timento de que nada de mal podia acontecer a Portugal, ao governo e aos portugueses
em geral alastrou a todos os campeões nacionais.
Mas afinal parece que os usos e costumes já não são o que eram.Vem agora o minis-
tério público, um ano após a polémica, com interpretação legal diferente do socialmente
aceite,para choque de muitos políticos.E logo no dia de aniversário dos campeões euro-
peus de futebol.
É quase socialmente inaceitável... mas pode ajudar a renovar o sentido de ética da
sociedade portuguesa.
Paulo Barradas, Expresso, 11 de julho de 2017,
(disponível em http://expresso.sapo.pt; consultado a 11/07/2017)
PROVA-MODELO – PROVA 2
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PORTUGUÊS 12.o
ANO
PROVA-MODELO – PROVA 2
1. Os dois primeiros parágrafos têm um papel de
(A) exemplificação.
(B) contextualização.
(C) ilustração.
(D) indagação.
2. Entre as linhas 10-13, o autor refere-se às leis que
(A) são promulgadas com chamadas de atenção que protegem casos específicos.
(B) não são cumpridas por falta de fiscalização.
(C) são promulgadas com cláusulas de fiscalização específica.
(D) são cumpridas, mas sem aceitação social.
3. A frase presente nas linhas 14-16 tem por base
(A) uma constatação científica.
(B) uma evidência empírica.
(C) um resultado estatístico.
(D) uma verdade universal.
4. Nos dois últimos parágrafos do texto, Paulo Barradas considera a nova interpre-
tação da lei feita pelo ministério público com
(A) ironia relativamente à mudança do paradigma social.
(B) esperança relativamente à permanência do paradigma ético.
(C) desdém relativamente à mudança do paradigma político.
(D) esperança relativamente à mudança do paradigma ético.
5. Na expressão «A famosa “cunha” ilustra bem a real dimensão» (linhas 15-16), os
elementos destacados desempenham, respetivamente, as funções sintáticas de
(A) modificador restritivo do nome (nos dois primeiros casos) e complemento direto (no
terceiro).
(B) modificador restritivo do nome, modificador e complemento indireto.
(C) modificador restritivo do nome, modificador e complemento direto.
(D) complemento do nome, modificador e complemento indireto.
6. Identifique a função sintática da oração destacada na sequência «Mas afinal
parece que os usos e costumes já não são o que eram» (linha 29).
7. Classifique a oração iniciada por «que» (linha 10).
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372
PREPARAR O EXAME NACIONAL
PROVA-MODELO – PROVA 2
GRUPO III
Em várias das suas intervenções públicas, o Papa Francisco refere-se à «globalização
da indiferença».
Num texto bem estruturado, com um mínimo de duzentas e um máximo de trezentas pala-
vras, defenda um ponto de vista pessoal sobre a problemática apresentada.
Fundamente o seu ponto d e vista recorrendo, no mínimo, a dois argumentos, e ilustre
cada um deles com, pelo menos, um exemplo significativo.
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PORTUGUÊS 12.o
ANO
PROVA-MODELO – PROVA 3
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GRUPO I
A
Leia o excerto de O Ano da Morte de Ricardo Reis, de José Saramago.
Agora, sai, urbanamente deu as boas-tardes, e agradecendo saiu pela porta da Rua
dos Correeiros, esta que dá para a grande babilónia1
de ferro e vidro que é a Praça da
Figueira, ainda agitada, porém nada que se possa comparar com as horas da manhã,
ruidosas de gritos e pregões até ao paroxismo2
. Respira-se uma atmosfera composta de
mil cheiros intensos, a couve esmagada e murcha, a excrementos de coelho, a penas de
galinha escaldadas, a sangue, a pele esfolada. Andam a lavar as bancadas, as ruas interio-
res, com baldes e agulheta3
, e ásperos piaçabas4
, ouve-se de vez em quando um arrastar
metálico, depois um estrondo, foi uma porta ondulada que se fechou. Ricardo Reis
rodeou a praça pelo sul, entrou na Rua dos Douradores, quase não chovia já, por isso
pôde fechar o guarda-chuva, olhar para cima, e ver as altas frontarias de cinza parda, as
fileiras de janelas à mesma altura, as de peitoril, as de sacada, com as monótonas can-
tarias prolongando-se pelo enfiamento da rua, até se confundirem em delgadas faixas
verticais, cada vez mais estreitas, mas não tanto que se escondessem num ponto de fuga,
porque lá ao fundo, aparentemente cortando o caminho, levanta-se um prédio da Rua
da Conceição, igual de cor, de janelas e de grades, feito segundo o mesmo risco, ou
de mínima diferença, todos porejando sombra e humidade, libertando nos saguões5
o
cheiro dos esgotos rachados, com esparsas6
baforadas de gás, como não haveriam de ter
as faces pálidas os caixeiros que vêm até à porta das lojas, com as suas batas ou guarda-
-pós7
de paninho cinzento, o lápis de tinta entalado na orelha, o ar enfadado de ser hoje
segunda-feira e não ter o domingo valido a pena. A rua está calçada de pedra grossa,
irregular, é um basalto quase preto onde saltam os rodados metálicos das carroças e
onde, em tempo seco, não este, ferem lume as ferraduras das muares8
quando o arrasto
da carga passa as marcas e a forças.
José Saramago, O Ano da Morte de Ricardo Reis,
21.ª ed., Alfragide, Editorial Caminho, 2013, [cap. II], pp. 54-55
1. Comprove que existe deambulação geográfica, justificando a sua resposta com
elementos textuais.
1
Babilónia: cidade
grande e de ruas
irregulares; confusão;
desordem.
2
Paroxismo: ponto de
maior intensidade;
agonia antes da morte.
3
Agulheta: agulha
grossa; tubo metálico.
4
Piaçabas: vassouras.
5
Saguões: pátios.
6
Esparsas: dispersas;
soltas.
7
Guarda-pós: casaco
que se veste por cima
de um fato para o
proteger da sujidade.
8
Muares: espécie de
animal híbrido – burro,
égua ou cavalo.
Cotações
16pontos
374
PREPARAR O EXAME NACIONAL
2. Caracterize, com as suas próprias palavras, o espaço da cidade como representa-
ção do século XX.
3. Evidencie a presença da intertextualidade José Saramago / Cesário Verde, comen-
tando o recurso à enumeração e pontuação saramaguianas.
4. Explique o recurso à metáfora identificada em «A rua está calçada de pedra grossa,
irregular, é um basalto quase preto».
B
Leia o excerto do poema «O sentimento dum ocidental», de Cesário Verde.
I – Ave-Marias
Nas nossas ruas, ao anoitecer,
Há tal soturnidade1
, há tal melancolia,
Que as sombras, o bulício2
, o Tejo, a maresia
Despertam-me um desejo absurdo de sofrer.
O céu parece baixo e de neblina,
O gás extravasado enjoa-me, perturba;
E os edifícios, com as chaminés, e a turba3
Toldam-se d’uma cor monótona e londrina.
(…)
Semelham-se a gaiolas, com viveiros,
As edificações somente emadeiradas:
Como morcegos, ao cair das badaladas,
Saltam de viga em viga os mestres carpinteiros.
Voltam os calafates4
, aos magotes5
,
De jaquetão ao ombro, enfarruscados, secos;
Embrenho-me, a cismar, por boqueirões6
, por becos,
Ou erro pelos cais a que se atracam botes.
Cesário Verde, Cânticos do Realismo – O Livro de Cesário Verde,
(introd. Helena Carvalhão Buescu).
Lisboa, INCM, 2015, pp. 122-123
1
Soturnidade: qualidade de ser triste
ou sombrio.
2
Bulício: rumor; murmúrio; agitação.
3
Turba: multidão.
4
Calafates: operários.
5
Magotes: multidões.
6
Boqueirões: ruas ou travessas que
vão dar ao cais, ao rio.
5
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PROVA-MODELO – PROVA 3
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PORTUGUÊS 12.o
ANO
PROVA-MODELO – PROVA 3
5. Mostre como este excerto dá vida à representação da cidade e dos tipos sociais,
apresentando transcrições que confirmem a sua resposta.
6. Explique em que medida o recurso a adjetivos e a verbos contribui para caracterizar
o sujeito poético e o recurso à comparação serve o propósito de caracterizar as
personagens que ele vê.
C
7. Os contos do século XX comungam de um mesmo traço: o da brevidade narrativa.
Escreva uma breve exposição sobre um dos contos que estudou, referindo duas caracterís-
ticas que confirmem tal brevidade.
A sua exposição deve incluir:
• uma introdução ao tema;
• um desenvolvimento no qual explicite as referidas características, fundamentando-as
com, pelo menos, um exemplo significativo;
• uma conclusão adequada ao desenvolvimento do tema.
16pontos
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376
PREPARAR O EXAME NACIONAL
PROVA-MODELO – PROVA 3
GRUPO II
Leia o texto.
A Bíblia de Frederico Lourenço
Para mim, que sempre tive com Deus uma relação complicada, que tanto me zango
com Ele, que às vezes sou tão injusto (ou talvez não, pode ser que em algumas ocasiões
a razão esteja do meu lado) que me apetece, quando me interrogam acerca da nossa
relação, responder como Voltaire (– Cumprimentamo-nos mas não nos falamos) mas
este trabalho de Frederico Lourenço fez-me aproximar mais d’Ele e de Cristo.
Este livro, a tradução da Bíblia por Frederico Lourenço, é um dos mais importantes
publicados em Portugal nos últimos muitos anos. Repito: um dos mais importantes
publicados em Portugal nos últimos muitos anos. Como leitor tenho de agradecer a
Francisco José Viegas que para além de escritor de mérito é uma das figuras fulcrais da
nossa Terra no que à literatura diz respeito, quer como difusor dela quer como diretor
de revistas literárias, quer como crítico, quer como editor. Podemos discordar dele: não
pode ser-nos indiferente e, coisa muito rara, é intelectualmente honesto. Com a publi-
cação desta Bíblia assina indelevelmente o seu nome no panorama literário português.
E agora, se me permitem, vou falar um pouco da obra em apreço.
Eu sou um colecionador e leitor de Bíblias. Devo ter duas dezenas nas línguas em
que consigo ler, julgo ter estudado um número razoável de versões do texto sagrado e
de comentários a ele, e enche-me de orgulho dizer que não conheço outro trabalho da
grandeza deste e da sua altíssima qualidade. Devemos a Frederico Lourenço um texto
excecional, de seriedade e talento imensos. Estou muito à vontade para falar disto por-
que não conheço o autor, nunca o encontrei, nunca falei com ele, vi, por junto, uma
fotografia sua no jornal. Não li os seus romances, não sabia sequer que os tinha escrito,
li dois volumes seus de estudos sobre autores gregos que me pareceram sérios e muito
bons, apreciei principalmente o que escreveu sobre Eurípedes, um dos meus diletos
(convém ter imensos diletos para não ter nenhum) e a minha amiga Sara Belo Luís ofe-
receu-me o primeiro e depois o segundo tomo da sua tradução da Bíblia.
A qualidade deste feito é excecional.
Frederico Lourenço consegue dar-nos a beleza única deste monumento único com
uma surpreendente fidelidade e uma capacidade criativa em tudo invulgar. Não encon-
trei nenhum livro comparável a este, em primeiro lugar no que à escrita diz respeito,
transmitindo-nos tanto quanto posso avaliar a sua beleza e qualidade ímpares e acom-
panhando-as de uma coleção de notas de espantosa elegância, erudição e humildade
que honram ainda mais o seu Autor. A orgulhosa modéstia de Frederico Lourenço,
o respeito absoluto e a compreensão orgânica do material fazem desta Obra qualquer
coisa de único no panorama intelectual português e do homem que a conseguiu uma
figura de cumeeira1
. Nunca tinha, que me lembre, falado assim de um Livro e de um
Escritor. (…)
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PROVA-MODELO – PROVA 3
Eu acho que Frederico Lourenço foi tocado pela Graça e invejo-o por isso, e tenho
ciúmes por isso só de imaginar que Deus o prefere a mim, mesmo achando que tem
boas razões para tal. Esta Bíblia possui todas as características para perdurar e creio que
o autor deste livro português poderá dizer, como Bocage
Isto é meu, isto não morre que, aqui para nós, é o que costumo pensar do que escrevo.
Percebi também que Frederico Lourenço é filho de M.S. Lourenço, que tão pouco
conheci mas de quem li alguma coisa. Estava a lembrar-me de uma obra chamada
O guardador de automóveis, encontrada na adolescência, de que ainda sei alguns versos
de cor, por exemplo «aceito Deus uno e trino mas não aceito Deus cabeleireiro de
senhoras» ou de um outro que me impressionou muito e continua a impressionar-me:
«Porque estais tristes: não me reconheceis?» Peço perdão se cito mal mas é assim que
os recordo. Sobretudo este último, que me tem acompanhado ao longo dos anos por
razões que não sei ou, antes, creio que sei mas não vou mencioná-las. O importante
é esta Bíblia, um grande livro que decerto perdurará muitos, muitos anos na reduzida
prateleira da Grande Arte da nossa Literatura, pelo seu rigor, pela sua beleza, pela sua
absoluta e luminosa fidelidade. Como português agradeço-lhe do coração.
Como escritor agradeço-lhe do fundo da alma. A Arte não é um desporto de com-
petição, a Casa do Pai tem muitas moradas. E sempre achei que a grandeza dos outros
aumentava o meu tamanho: muito obrigado por me ter dado alguns centímetros a mais.
Agora vejo mais longe. E, além disso, ajudou-me a sentir orgulho no meu trabalho. Isto
é meu, isto não morre. Bocage, tradutor do meu querido Ovídio, deve estar cheio de
peneiras do Frederico Lourenço.
António Lobo Antunes, «A Bíblia de Frederico Lourenço», in Visão,
22 de junho de 2017 (disponível em http://visao.sapo.pt;
consultado a 22/06/2017; texto adaptado)
1. No primeiro parágrafo, António Lobo Antunes refere que a sua relação com Deus sempre foi
(A) complexa, mas a tradução de Frederico Lourenço veio torná-la simples.
(B) complexa, mas Frederico Lourenço deu-lhe a conhecer um outro olhar sobre a figura
de Cristo.
(C) de puro cumprimento, sem diálogo, mas a tradução de Frederico Lourenço levou-o a
estar mais perto de Deus-Pai e Deus-Filho.
(D) de puro cumprimento, mas a tradução de Frederico Lourenço levou-o a uma relação
mais simples com Deus-Pai e Deus-Filho.
2. No terceiro parágrafo, o escritor
(A) salvaguarda a sua opinião sobre o tradutor com o facto de nunca ter privado com ele.
(B) explica que tem autonomia para criticar porque nunca é parcial nos seus juízos.
(C) salvaguarda a sua opinião sobre a tradução porque não conhece outras.
(D) salvaguarda a sua opinião sobre o tradutor com o facto de ela se basear na qualidade
do editor.
1
Cumeeira: cume, topo.
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PREPARAR O EXAME NACIONAL
PROVA-MODELO – PROVA 3
3. No quinto parágrafo, Lobo Antunes exalta as seguintes qualidades do tradutor:
(A) compreensão do texto grego, capacidade tecnológica, modéstia e graciosidade.
(B) fé, habilidade estética, modéstia e graciosidade.
(C) fé, criatividade, imodéstia e inspiração divina.
(D) compreensão linguística e espiritual do texto, habilidade estética, humildade e inspi-
ração divina.
4. Entre as linhas 42 e 52, Lobo Antunes rememora
(A) obras do pai do tradutor para explicar o talento do filho.
(B) obras de M.S. Lourenço para o exaltar relativamente ao filho.
(C) obras de M.S. Lourenço, mas depressa abandona essa divagação e volta ao assunto
central.
(D) obras do pai do tradutor para exaltar a superioridade do filho.
5. A referência a Bocage serve para
(A) mostrar a inveja de Lobo Antunes para com Frederico Lourenço.
(B) simbolizar o orgulho dos escritores portugueses para com esta obra de Frederico Lou-
renço.
(C) contrariar a opinião de Lobo Antunes sobre esta obra de Frederico Lourenço.
(D) simbolizar a qualidade de todas as traduções feitas por intelectuais portugueses.
6. Classifique a oração «que me parecerem muito sérios e bons» (linhas 22-23).
7. Identifique a função sintática do pronome presente em «Frederico Lourenço consegue
dar-nos a beleza única deste monumento único» (linha 27).
GRUPO III
É comummente proferida a ideia de que a Música se reveste de uma linguagem uni-
versal.
Num texto bem estruturado, com um mínimo de duzentas e um máximo de trezentas pala-
vras, defenda um ponto de vista pessoal sobre a ideia apresentada.
Fundamente o seu ponto de vista recorrendo, no mínimo, a dois argumentos, e ilustre
cada um deles com, pelo menos, um exemplo significativo.
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GRUPO I
A
Leia o excerto de «George», de Maria Judite de Carvalho.
Já não sabe, não quer saber, quando saiu da vila e partiu à descoberta da cidade gran-
de, onde, dizia-se lá em casa, as mulheres se perdem. Mais tarde partiu por além terra,
por além mar. Fez loiros os cabelos, de todos os loiros, um dia ruivos por cansaço de si,
mais tarde castanhos, loiros de novo, esverdeados, nunca escuros, quase pretos, como
dantes eram. Teve muitos amores, grandes e não tanto, definitivos e passageiros, sim-
ples amores, casou-se, divorciou-se, partiu, chegou, voltou a partir e a chegar, quantas
vezes? Agora está – estava –, até quando?, em Amsterdão.
Depois de ter deixado a vila, viveu sempre em quartos alugados mais ou menos
modestos, depois em casas mobiladas mais ou menos agradáveis. As últimas foram
mesmo francamente confortáveis. Vives numa casa mobilada sem nada teu? Mas deve ser um
horror, como podes? teria dito a mãe, se soubesse. Não o soube, porém. As cartas que lhe
escrevia nunca tinham sido minuciosas, de resto detestava escrever cartas e só muito
raramente o fazia. Depois o pai morreu e a mãe logo a seguir.
Uma casa mobilada, sempre pensou, é a certeza de uma porta aberta de par em par,
de mãos livres, de rua nova à espera dos seus pés. As pessoas ficam tão estupidamente
presas a um móvel, a um tapete já gasto de tantos passos, aos bibelots1
acumulados ao
longo das vidas e cheios de recordações, de vozes, de olhares, de mãos, de gente, enfim.
Pega-se numa jarra e ali está algo de quem um dia apareceu com rosas. Tem alguns
livros, mas poucos, como os amigos que julga sinceros, sê-lo-ão? Aos outros livros,
dá-os, vende-os a peso, que leve se sente depois!
– Parece-me que às vezes fazes isso, enfim, toda essa desertificação, com esforço,
com sofrimento – disse-lhe um dia o seu amor de então.
– Talvez – respondeu –, talvez. Mas prefiro não pensar no caso.
Queria estar sempre pronta para partir sem que os objetos a envolvessem, a seguras-
sem, a obrigassem a demorar-se mais um dia que fosse. Disponível, pensava. Senhora
de si. Para partir, para chegar. Mesmo para estar onde estava.
Maria Judite de Carvalho, «George»,
in Maria Isabel Rocheta & Serafina Martins (coord.),
Conto Português [séculos XIX-XXI]: Antologia Crítica,
vol. 3, Porto, Edições Caixotim, 2011, pp. 116-117
1
Bibelots: pequenos objetos que servem
para adornar mobília ou partes da casa.
380
PREPARAR O EXAME NACIONAL
1. Mostre que, entre as linhas 8 e 13, percebemos a relação de oposição entre George e
a família.
2. Esclareça o papel do discurso direto da Mãe e do diálogo de George com o seu
«amor de então» na tricotomia realidade / memória / imaginação.
3. Explique em que medida o conteúdo das linhas 14 a 26 revela a complexidade da
natureza de George.
4. Explicite o valor expressivo do pleonasmo presente na última frase do excerto.
B
Leia o excerto de A Ilustre Casa de Ramires, de Eça de Queirós.
Sem temor, erguido sobre o travesseiro, Gonçalo não duvidava da realidade maravi-
lhosa! Sim! Eram os seus avós Ramires, os seus formidáveis avós históricos, que, das suas
tumbas1
dispersas corriam, se juntavam na velha casa de Santa Ireneia nove vezes secular
– e formavam em torno do seu leito, do leito em que ele nascera, como a assembleia
majestosa da sua raça ressurgida. (…)
Então, por aquela ternura atenta do mais poético dos Ramires, Gonçalo sentiu que
a sua ascendência2
toda o amava – e da escuridão das tumbas dispersas acudira para o
velar e socorrer na sua fraqueza. Com um longo gemido, arrojando a roupa, desafogou,
dolorosamente contou aos seus avós ressurgidos a arrenegada3
Sorte que o combatia
e que sobre a sua vida, sem descanso, amontoava tristeza, vergonha e perda! E eis que
subitamente um ferro faiscou na treva, com um abafado brado: «−Neto, doce neto, toma
a minha lança nunca partida!...» E logo o punho duma clara espada lhe roçou o peito,
com outra grave voz que o animava: «−Neto, doce neto, toma a espada pura que lidou
em Ourique!...» (…)
Como sombras levadas num vento transcendente, todos os avós formidáveis perpassa-
vam – e arrebatadamente lhe estendiam as suas armas,rijas e provadas armas,todas,através
de toda a história… (…) «− Oh neto, toma as nossas armas e vence a Sorte inimiga!...»
Eça de Queirós, A Ilustre Casa de Ramires,
Lisboa, Imprensa Nacional Casa da Moeda, 2014,
[cap. X], pp. 296-297
1
Tumbas: túmulos; caixões.
2
Ascendência: linha de geração anterior.
3
Arrenegada: azarenta; contrária.
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PROVA-MODELO – PROVA 4
Cotações
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ANO
PROVA-MODELO – PROVA 4
5. Caracterize psicologicamente Gonçalo Mendes Ramires e os seus «avós históri-
cos», evidenciando a complexidade do protagonista.
6. Compare, servindo-se das suas próprias palavras, o binómio passado/presente nos
textos A e B.
C
7. Na obra O Ano da Morte de Ricardo Reis, José Saramago cria um verdadeiro triân-
gulo amoroso, que culmina num final infeliz.
Escreva uma breve exposição sobre esta triangulação amorosa infeliz, referindo dois
aspetos que a confirmem.
A sua exposição deve incluir:
• uma introdução ao tema;
• um desenvolvimento no qual explicite os citados aspetos, fundamentando-os com, pelo
menos, um exemplo significativo;
• uma conclusão adequada ao desenvolvimento do tema.
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PREPARAR O EXAME NACIONAL
PROVA-MODELO – PROVA 4
GRUPO II
Leia o texto.
Histórias e desabafos sobre o iPhone
Com todas as suas fraquezas tornou-se o telefone mais famoso no dia em que Steve
Jobs o apresentou ao mundo.
Um gesto, chamaram-lhe pinch. Afastamos os dedos e as coisas ficam maiores, apro-
ximamos e lá vão elas para o seu sítio. Um movimento, o discreto balanço dos gráficos
no ecrã do iPhone que faz com que pareça que estamos mesmo a interagir com objetos
físicos. O teclado virtual era odiado e gozado por quase todos. É impossível escrever
naquilo, imitavam-se os esforços dos fãs, risada certa. A máquina fotográfica de 2 Mg
não gravava vídeo. Não tinha 3G, o que já era claramente uma desvantagem técnica em
2007. Um preço tão absurdo que poucas semanas depois a Apple cortava 100 dólares, e
via-se na obrigação de indemnizar todos os que tinham pago sem esse desconto, ofen-
didos com o corte abrupto em tão pouco tempo.
Todos falavam dele e o sucesso foi relativo. Era uma máquina com inovações, sem
dúvida, mas tecnicamente fraca em muitos aspetos, em relação ao que já se usava. Com
todas as suas fraquezas tornou-se o telefone mais famoso no dia em que Steve Jobs o
apresentou ao mundo.
O descarado escolheu um dia de janeiro em que decorria a CES, a maior feira de ele-
trónica de consumo do mundo. Todos os jornalistas que interessavam nesta área estavam
em Las Vegas a ver as novidades. Todos não, Jobs escolheu bem uns poucos e convenceu-
-os, um a um, a irem ver uma coisa nova, supostamente sem lhes dizer sequer o que era.
Ainda hoje os que não aceitaram se arrependem e são de certa forma gozados pelos que
correram o risco. Só alguns anos depois teriam a certeza de ter de facto assistido a um
momento histórico. Vale a pena ver essa apresentação, Jobs no seu melhor. Quando estava
a editar a reportagem dos 10 anos para a SIC e chegou o momento em que é revelado o
nome, a Vanda Paixão, que estava a trabalhar comigo, disse − até arrepia. E 10 anos depois
até arrepia.
Steve Jobs vai num crescendo, criando expectativa, falando do tempo que levou, da
importância que vai ter, começa por dar a entender que vai mostrar três coisas novas,
um telefone, um iPod (leitor de música) e um navegador revolucionário para a internet.
Ao longo do discurso leva facilmente a pequena multidão a concluir por si própria que
está a falar de um único aparelho. Quando revela o nome estão prontos para o delírio,
além das palmas os olhos dos convidados brilham, os sorrisos parecem paralisados em
grande parte daquelas caras. O novo aparelho fez correr tanta tinta pelo que trazia de
novo que houve gente a acampar dias à porta das lojas para estar entre os primeiros que
foram comprar no dia 29 de junho nos Estados Unidos. Hoje, estas filas, apesar do que
se vê na TV, não têm nada que ver com as originais.
O que Jobs e a sua equipa fizeram foi repensar o interface, a forma como nos rela-
cionamos com a máquina. Criaram uma relação táctil com objetos virtuais que têm
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PORTUGUÊS 12.o
ANO
PROVA-MODELO – PROVA 4
vindo a aperfeiçoar, os iPhones e até os computadores de hoje reagem à intensidade do
nosso toque e respondem com toques e vibrações na nossa pele. Na tal apresentação é
notória a forma como fala das funções de leitor, diz que é como se tocássemos na música
que vamos ouvir. Perceberam a importância que a navegação na internet iria ter. Só há
muito pouco tempo os browsers de outros telefones começaram a aproximar-se do que
o iPhone trazia. Navegar lado a lado com um iPhone e outro qualquer aparelho fazia a
outra marca parecer uma anedota. Claro que hoje já não é assim.
O golpe de génio seguinte seria a abertura da loja aos programadores. E de que
maneira. Qualquer tipo capaz de programar umas coisas, que fizesse um programa
interessante, poderia, quando muito, ganhar 30% do preço de venda. Um pouco como
acontece com os livros, mas com os livros é pior ainda. A Apple inverteu a coisa e
passou a dar 70% aos criadores. Além disso, facilitou o processo e criou ferramentas
que ajudavam. Foi só ao fim de um ano que os programadores puderam então vender
os seus pequenos programas aos utilizadores de iPhone. Isto provocou uma explosão
de funcionalidades e de escolhas. Começaram nas 500 aplicações, depois lembro-me
do dia em que só de meteorologia já existiam 400 aplicações diferentes. A certa altura
houve uma guerra com a Apple e o Android a competir no número de apps disponível
no seu sistema. Hoje já terão ultrapassado os 2 milhões e 200 mil. E o Windows Mobile
não descola em boa parte porque os programadores não investem no sistema.
Os designers da Apple acertaram em tanta coisa que obrigaram todo o mercado a
seguir. É verdade, a Apple copia muito do que o Android vai fazendo de inovador e
o inverso também. Passam a vida nisso para grande satisfação dos fãs de um ou outro
sistema que assim se podem insultar à vez. A verdade é que todos, todos os telefones
que hoje usamos são um ecrã tátil num corpo o mais fino possível. Se olharem para as
fotografias dos telefones daquele tempo verão uma maravilhosa profusão de cores e de
design, redondos, em meia-lua, quadrados, com teclas grandes ou teclas pequenas, com
teclados partidos ao meio, em concha, em tablet, metade de cada lado. Hoje caímos
numa triste monotonia, porque os designers de Jobs tinham razão e ninguém inventou
coisa melhor. Se está a pensar no último Blackberry que para aí apareceu, é apenas a
exceção necessária para confirmar a regra que acabei de enunciar. A riqueza dos apare-
lhos de hoje está nos programas que correm, cada um usa o que precisa e o que gosta,
dos milhões disponíveis, a preços ridículos, quando não gratuitos.
Só um ano depois chegaria a Portugal, com a versão 3G. Dez jornalistas portugueses
tiveram que assinar um contrato que quase parecia um pacto para terem a possibilidade
de conhecer a máquina como deve ser durante 10 dias, antes do lançamento. As notícias
aqui em Portugal sobre as novas versões são feitas como se estivéssemos a lutar contra
a marca, a tentar mesmo assim fazer um trabalho decente sem os instrumentos que
têm até os bloggers em Espanha. É um direito deles, claro, mas vamos fazendo porque
a mesma marca que tomou esta decisão soube tornar-se quase obrigatória nas notícias.
Uma escolha que confesso que me custa a entender.
Lourenço Medeiros, «Histórias e desabafos sobre o iPhone», in Visão,
5 de julho de 2017 (disponível em http://visao.sapo.pt/; consultado a 05/07/2017; texto adaptado)
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PREPARAR O EXAME NACIONAL
PROVA-MODELO – PROVA 4
1. As frases 3 e 4 do texto
(A) explicam as funcionalidades do «pinch».
(B) criticam as funcionalidades do «pinch».
(C) elogiam as funcionalidades do «pinch».
(D) explicam as vantagens e desvantagens do «pinch».
2. Entre as linhas 16 e 25, Lourenço Medeiros
(A) descreve Steve Jobs.
(B) caracteriza o novo iPhone de Steve Jobs.
(C) descreve a estratégia de apresentação do iPhone por Steve Jobs.
(D) caracteriza a relação entre Steve Jobs e os jornalistas.
3. Entre as linhas 36 e 44, o autor exalta
(A) as funcionalidades técnicas do iPhone de Steve Jobs.
(B) as funcionalidades químicas do iPhone de Steve Jobs.
(C) a relação elétrica que o utilizador tem com o iPhone de Steve Jobs.
(D) a relação física que o utilizador tem com o iPhone de Steve Jobs.
4. O conteúdo das linhas 45 a 56 integra a relação entre o novo software do iPhone e
(A) os programadores e seus efeitos.
(B) a Apple e seus efeitos.
(C) o Android e seus efeitos.
(D) o Windows Mobile e seus efeitos.
5. O último parágrafo do texto refere-se
(A) às facilidades de apresentação deste iPhone em Portugal.
(B) às desvantagens da apresentação deste iPhone em Portugal.
(C) às contingências da apresentação deste iPhone em Portugal.
(D) às contingências da comercialização deste iPhone em Portugal.
6. Classifique a oração destacada em «Uma escolha que confesso que me custa a
entender.» (linha 77).
7. Identifique as funções sintáticas dos elementos destacados em «Dez jornalis-
tas portugueses tiveram que assinar um contrato que quase parecia um pacto»
(linhas 70-71).
GRUPO III
A Idade Média é também conhecida como a «Idade das Trevas».
Num texto bem estruturado, com um mínimo de duzentas e um máximo de trezentas pala-
vras, defenda um ponto de vista pessoal sobre a ideia apresentada.
Fundamente o seu ponto de vista recorrendo, no mínimo, a dois argumentos, e ilustre
cada um deles com, pelo menos, um exemplo significativo.
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PORTUGUÊS 12.o
ANO
GRUPO I
A
Leia o poema de Ana Luísa Amaral.
Epopeias de luz
I
Queria um poema de epopeia
e luz,
escrito às duas da tarde
e num café,
um espelho à minha esquerda,
o café amarelo (que é cor de que não gosto,
mas que brilha
na tarde adolescente)
(…)
II
Mas o Adamastor era uma rocha
e as sereias não há (que as provas: mais)
Minha pobre palavra que traí:
Antes tê-la deixado
contida nessa linha a seduzir,
antes tê-la guardado no centro
do olhar,
não lhe permitir ver espelhos de sol,
não lhe falar de adolescência
e luz, navegações e sonhos
quinhentistas
Que depois: a conquista,
o coração pesado de ambições,
tortura de poderes
Minha pobre palavra
que se julgou, por minha culpa,
grande,
e que às duas da tarde e num café,
se confundiu no espelho,
tomou por ouro o amarelo em cor,
e se perdeu de amores
por réplicas de olhar
PROVA-MODELO – PROVA 5
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Ana Luísa Amaral, Inversos, poesia 1990-2010,
Lisboa, D. Quixote, 2010, pp. 185-189
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PREPARAR O EXAME NACIONAL
PROVA-MODELO – PROVA 5
1. Explique o conteúdo do excerto do poema de Ana Luísa Amaral, a partir do contras-
te existente entre «um poema de epopeia / e luz» e «a conquista, / o coração pesado
de ambições, / tortura de poderes».
2. Explicite a arte poética, tendo em conta a relação que, neste poema, existe entre
«poeta» e «palavra».
3. Esclareça o sentido dos dois últimos versos.
4. Evidencie de que forma este poema é um exemplo claro da representação do contem-
porâneo.
B
Leia a estância seguinte do canto IX d'Os Lusíadas.
93
E ponde na cobiça um freio1
duro,
E na ambição também, que indignamente
Tomais mil vezes, e no torpe2
e escuro
Vício da tirania infame3
e urgente;
Porque essas honras vãs; esse ouro puro,
Verdadeiro valor não dão à gente.
Milhor é merecê-los sem os ter,
Que possuí-los sem os merecer.
Luís de Camões, Os Lusíadas (leitura, prefácio e notas de Álvaro Júlio da Costa Pimpão),
4.ª ed., Lisboa, Ministério dos Negócios Estrangeiros/Instituto Camões, 2000, p. 410
5. Sintetize as críticas que Camões tece aos portugueses neste momento de reflexão.
6. Estabeleça uma comparação entre a mensagem desta estância e a do Texto A.
C
7. Em O Ano da Morte de Ricardo Reis, de José Saramago, existe uma relação de
intertextualidade com a poesia de Cesário Verde.
Escreva uma breve exposição sobre a referida intertextualidade Saramago / Cesário,
referindo duas características que a confirmem.
A sua exposição deve incluir:
• uma introdução ao tema;
• um desenvolvimento no qual explicite as referidas características, fundamentando-as
com, pelo menos, um exemplo significativo;
• uma conclusão adequada ao desenvolvimento do tema.
5
1
Freio: peça metálica presa às
rédeas de um cavalo para o
controlar/conduzir.
2
Torpe: desonesto.
3
Infame: vil; imoral.
Cotações
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PORTUGUÊS 12.o
ANO
PROVA-MODELO – PROVA 5
GRUPO II
Leia o texto.
Há uma nova história da chegada dos humanos à Austrália
Uma equipa de arqueólogos escavou as camadas mais profundas de um abrigo situado
no norte da Austrália, onde já tinham sido encontrados vestígios importantes da mais
antiga ocupação humana no continente, e encontrou novas provas que reescrevem a
história dos aborígenes. Segundo o artigo publicado na revista Nature, a chegada dos
humanos à Austrália aconteceu há 65 mil anos. As anteriores estimativas sugeriam que
este evento tinha acontecido mais tarde: algo entre há 47 e 60 mil anos.
Os trabalhos de escavações na camada mais funda do abrigo de rocha decorreram em
2015 e resultaram na recolha de mais de 11 mil artefactos de pedra que se encontravam
no sítio de Madjedbebe. Desta vez, foram encontradas ferramentas de pedra que desven-
dam alguns detalhes do modo de vida destes primeiros humanos a chegar à Austrália.
A equipa descobriu machados de pedra, ferramentas usadas para moagem de sementes
antigas e setas de pedra delicadamente esculpidas, entre outros achados.
«O sítio contém a tecnologia de machados de pedra mais antiga do mundo, as fer-
ramentas de moagem de sementes mais antigas conhecidas na Austrália e evidências de
setas de pedra finamente esculpidas, que podem ter servido de pontas de lança», refere
Chris Clarkson, arqueólogo da Universidade de Queensland que liderou as escavações
e principal autor do artigo, num comunicado da Corporação Aborígene Gundjeihmi
sobre o estudo.
Para a rigorosa datação, os arqueólogos avaliaram cuidadosamente a posição dos arte-
factos, garantindo que correspondem às idades dos sedimentos que os envolviam. De
acordo com um comunicado da Nature sobre o artigo, o trabalho de datação confirmou
a integridade estratigráfica (relacionada com as camadas de rochas e sedimentos) do local,
«comprovando um padrão de aumento da idade com profundidade e fornecendo idades
que são mais precisas do que antes».A parte mais profunda da escavação terá cerca de 65
mil anos, concluiu a equipa de especialistas, antecipando o tempo da primeira ocupação
na região que estava estabelecido até agora.
«Os resultados estabelecem uma nova idade mínima para a dispersão de humanos
modernos fora de África e em todo o sul da Ásia.Além disso, as descobertas indicam que
os humanos modernos chegaram ao continente antes da extinção da megafauna austra-
liana, um evento em que a participação dos humanos tem sido questionada», refere ainda
o comunicado.
Andrea Cunha Freitas, «Há uma nova história da chegada dos humanos à Austrália»,
in Público, 20 de julho de 2017 (disponível em https://www.publico.pt/;
consultado a 20/07/2017)
5
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388
PREPARAR O EXAME NACIONAL
PROVA-MODELO – PROVA 5
1. A primeira frase do texto
(A) revela estudos da História da Arte que motivam a atualização da informação sobre a
fisionomia dos autóctones australianos.
(B) critica a recente descoberta que motiva uma atualização da história dos autóctones
australianos.
(C) explica o recente estudo sobre os autóctones australianos.
(D) revela a recente descoberta que motiva uma atualização da história dos autóctones
australianos.
2. A relação existente entre a terceira e a quarta frases do texto é de
(A) realce.
(B) contraste.
(C) semelhança.
(D) igualdade.
3. De acordo com o segundo parágrafo, as ferramentas encontradas são de natureza
(A) bélica, agrícola e requintada.
(B) piscatória, agrícola e requintada.
(C) estética, agrícola e requintada.
(D) estética, piscatória e bélica.
4. Em relação ao segundo parágrafo, o terceiro apresenta-se como
(A) empírico.
(B) crítico.
(C) subjetivo.
(D) confirmador.
5. Entre as linhas 19 e 26, percebemos que a datação dos artefactos
(A) corresponde às informações geológicas já conhecidas.
(B) corresponde às informações arqueológicas já conhecidas.
(C) contraria as informações geológicas já conhecidas.
(D) corresponde às informações biológicas já conhecidas.
6. Identifique o(s) tipo(s) de deixis presente na sequência «onde já tinham sido
encontrados vestígios importantes da mais antiga ocupação humana no conti-
nente» (linhas 2-3).
7. Indique o valor da oração subordinada adjetiva relativa «que podem ter servido de
pontas de lança» (linha 15).
8pontos
8pontos
8pontos
8pontos
8pontos
8pontos
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389
PORTUGUÊS 12.o
ANO
PROVA-MODELO – PROVA 5
GRUPO III
Apesar de as federações desportivas o negarem, o investimento financeiro no Futebol
é claramente superior ao que é dado aos outros desportos/modalidades.
Num texto bem estruturado, com um mínimo de duzentas e um máximo de trezentas pala-
vras, defenda um ponto de vista pessoal sobre a ideia apresentada.
Fundamente o seu ponto de vista recorrendo, no mínimo, a dois argumentos, e ilustre
cada um deles com, pelo menos, um exemplo significativo.
40pontos
390
PREPARAR O EXAME NACIONAL
GRUPO I
A
Leia o poema de Ruy Belo.
Relatório e contas
Setembro é o teu mês, homem da tarde
anunciada em folhas como uma ameaça
Ninguém morreu ainda e tudo treme já
Ventos e chuvas rondam pelos côncavos dos céus
e brilhas como quem no próprio brilho se consome
Tens retiradas hábeis, sabes como
a maçã se arredonda e se rebola à volta do que a rói
Há uvas há o trigo e o búzio da azeitona asperge1
em leque o som
inabalável
nos leves ondulados e restritos renques2
das mais longínquas oliveiras
conhecidas
Poisas sólidos pés sobre tantas traições e no entanto foste jovem
e tinhas quem sinceramente acreditasse em ti
A consciência mói-te mais que uma doença
reúnes em redor da casa equilibrada restos de rebanhos
e voltas entre estevas3
pelos múltiplos caminhos
Há fumos névoas noites coisas que se elevam e dispersam
regressas como quem dependurado cai da sua podridão de pomo4
Reconheces o teu terrível nome as rugas do teu riso
começam já então a retalhar-te a cara
Despedias poentes por diversos pontos realmente
És aquele que no maior número possível de palavras nada disse
Comprazes-te5
contigo quando o próprio sol
desce sobre o teu pátio e passa tantas mãos na pele dos rostos que
tiveste
Ruy Belo, Boca Bilingue, Porto,
Assírio & Alvim, 2016, p. 65
1. Explicite a relação entre a Natureza e aVida do Ser Humano, socorrendo-se de cita-
ções textuais.
PROVA-MODELO – PROVA 6
5
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1
Asperge: borrifa; espalha.
2
Renques: filas.
3
Estevas: arbustos.
4
Pomo: fruto carnudo.
5
Comprazes-te: congratulas-te;
regozijas-te; orgulhas-te.
Cotações
16pontos
391
PORTUGUÊS 12.o
ANO
PROVA-MODELO – PROVA 6
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2. Evidencie a presença de preocupações metafísicas a partir da vivência física, trans-
crevendo as sequências textuais que confirmem a sua resposta.
3. Selecione vocábulos ao serviço da ideia de velhice e aproximação da morte.
4. Explique o título do poema.
B
Leia o seguinte excerto de Auto da Feira, de Gil Vicente.
Entra Roma cantando:
Roma (…)
Vejamos se nesta feira,
que Mercúrio aqui faz
acharei a vender paz
que me livre da canseira
em que a fortuna me traz.
(…)
[Roma falando com o Diabo] Porque a troco do amor
de Deos te comprei mentira
e a troco do temor
que tinha da sua ira
me deste o seu desamor1
.
E a troco da fama minha
e santas prosperidades
me deste mil torpidades2
e quantas virtudes tinha
te troquei polas maldades.
Serafim Ca3
se vós a paz quereis
senhora sereis servida
e logo a levareis
a troco de santa vida
(…)
Gil Vicente, As Obras de Gil Vicente (direção científica
de José Camões), Lisboa, INCM, 2001, pp. 167-168
1
Desamor: aborrecimento; indiferença.
2
Torpidades: cruezas, crueldades.
3
Ca: porque.
16pontos
16pontos
8pontos
392
PREPARAR O EXAME NACIONAL
PROVA-MODELO – PROVA 6
5. Tendo em conta o conteúdo dos versos 1 a 17, explique de que forma esta per-
sonagem se assume representação alegórica, socorrendo-se de transcrições que
confirmem a sua resposta.
6. Considerando a intervenção do Serafim, esclareça a perspetivação metafísica/
religiosa típica de Gil Vicente.
C
7. Na poesia de Fernando Pessoa ortónimo, encontramos a temática da nostalgia da
infância.
Escreva uma breve exposição sobre esta temática, referindo duas características que a
consigam espelhar.
A sua exposição deve incluir:
• uma introdução ao tema;
• um desenvolvimento no qual explicite as referidas características, fundamentando-as
com, pelo menos, um exemplo significativo;
• uma conclusão adequada ao desenvolvimento do tema.
16pontos
16pontos
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393
PORTUGUÊS 12.o
ANO
PROVA-MODELO – PROVA 6
GRUPO II
Leia o texto.
Estudos dizem que viajar pode ser o segredo para uma vida mais longa
Será que o facto de viajar faz com que tenha uma vida mais longa? Há quem diga
que sim. Quem tenta prová-lo é June Scott, uma apaixonada por viagens com 86 anos.
Quando lhe perguntam onde vive, a resposta, em tom de brincadeira, é simples – «esta
manhã ou em viagem?».
June já visitou os sete continentes e 87 países e promete não parar.A sua casa fica em
Illinois, nos Estados Unidos, e é para lá que vai quando regressa de viagem.As suas últi-
mas paragens foram a Palestina e Israel, depois de uma passagem por Cuba. Em dezem-
bro, teve uma experiência a que chamou única: dormiu numa tenda no maior deserto
de areia do mundo – o Rub‘ alKhali, que abrange áreas da Arábia Saudita, de Omã, dos
Emirados Árabes Unidos e do Iémen −, muitas vezes considerado um dos lugares menos
explorados do planeta. E, no verão passado, sobrevoou a Costa dos Esqueletos, na Namí-
bia, num pequeníssimo avião.
Mas June não é só uma avó com um passaporte recheado – é uma das participantes
de um estudo sobre «Super Aging», da Universidade Northwestern, em Illinois. «Super
Aging» é um termo que se aplica ao «bom envelhecimento»,isto é,à maneira de envelhe-
cer sem perder capacidades mentais ou de memória. Os «SuperAgers» (termo aplicado
pelo neurologista Marsel Mesulam) são idosos cuja memória e atenção não estão sim-
plesmente acima da média para a idade,mas equivalem a pessoas quatro ou cinco décadas
mais novas.
À medida que a maioria dos seres humanos envelhece,os seus cérebros vão encolhen-
do,o que leva a uma perda das capacidades intelectuais e cognitivas.«Pensa-se que a atro-
fia contribui, em parte, para os momentos de esquecimento que os idosos experienciam
durante o envelhecimento», afirma Emily Rogalski, doutorada em Filosofia e diretora
do estudo.
Pelo contrário, os SuperAgers como June perdem menos volume de cérebro – um
estudo descobriu que, num período de 18 meses, as pessoas mais velhas normais perdem
duas vezes mais volume no córtex (a área do cérebro ligada ao pensamento crítico) do
que os SuperAgers. Por outras palavras, o cérebro de June é considerado mais jovem do
que ela, com certas partes semelhantes aos cérebros de pessoas de cinquenta anos. Lem-
bre-se que June tem 86.
Mas afinal o que têm as viagens a ver com o caso?
June Scott dir-lhe-á que as viagens a mantêm viva e efetivamente mais nova: «Sou
uma pessoa curiosa. Quero aprender ao longo da minha vida, e as viagens tornam a
minha vida muito mais interessante», afirmou em entrevista à Condé NastTraveler.
Durante o verão, June e a família não alugavam, como muitos outros, uma casa na
praia para as crianças poderem brincar. Ela, o marido e os filhos percorriam os Parques
Nacionais norte-americanos. Quando eram novos, June ficou em casa a tomar conta
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PREPARAR O EXAME NACIONAL
PROVA-MODELO – PROVA 6
deles. Só aos 40 se tornou professora. Mas nunca deixou de viajar. Durante a sua já longa
vida, June Scott conviveu com gorilas em Ruanda, e seguiu a sua árvore genealógica até
à antiga Checoslováquia.
Claro que nem todos os SuperAgers são apaixonados por viagens.No entanto,o estu-
do sugere que «os SuperAgers tendem a ser socialmente ativos, mesmo quando fazem
voluntariado com os sem-abrigo, participam em grupos da igreja, jogam cartas, leem
histórias às crianças pequenas. E alguns, como June Scott, são viajantes ávidos», conclui
Emily Rogalski.Aliás, as conversas fazem com que os cérebros funcionem. E quando as
pessoas viajam, normalmente dialogam com o companheiro de viagem, marido e grupo
de amigos, mas também com desconhecidos.
Segundo esta apaixonada por viagens, as suas aventuras «abrem-lhe a visão e a forma
de pensar». Os pesquisadores acabam por concordar, já que os cérebros se enriquecem
com novidades e desafios. «Anteriormente pensava-se que nascíamos com uma certa
quantidade de neurónios e que esse número ia diminuindo», diz Rogalski. «Agora, esta-
mos a chegar à conclusão de que talvez não seja bem assim».
June assume ser uma felizarda por ter os meios e a energia suficientes para alimentar
a sua vontade de viajar e a constante procura de novas aventuras. «Quando não tenho
bilhetes de viagem na gaveta, sinto que estou a caminhar para a morte».Apesar de todas
as adversidades e dificuldades que vai encontrando pelo caminho, quando chega a um
lugar sente que os esforços compensam.«Eu acredito nas viagens.E acho que mais e mais
pessoas deveriam fazê-las, para que possamos todos ser embaixadores do mundo em que
vivemos», afirma.
E quais são os próximos planos desta octogenária? Uma viagem à Etiópia no próximo
outono,onde planeia explorar as igrejas escavadas na rocha e aprender sobre as diferentes
tribos do sul.«Será uma experiência muito ativa e por isso pensei:bem,quanto mais cedo,
melhor», conclui June Scott.
In Volta ao Mundo, 6 de julho de 2017
(disponível em www.voltaomundo.pt; consultado a 06/07/179)
1. Os dois primeiros parágrafos
(A) apresentam a britânica Jane Scott, realçando a sua característica mais peculiar: ser
uma viajante compulsiva.
(B) apresentam a americana Jane Scott, realçando a sua característica mais peculiar: ser
uma viajante compulsiva.
(C) apresentam e caracterizam todos os países visitados por Jane Scott.
(D) realçam as características turísticas de todos os países que Jane Scott já visitou.
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395
PORTUGUÊS 12.o
ANO
PROVA-MODELO – PROVA 6
2. O uso de parênteses na linhas 16-17 serve o propósito de
(A) definição.
(B) confirmação.
(C) contraste.
(D) enumeração.
3. A frase interrogativa presente na linha 31
(A) questiona o conceito de «Super Aging».
(B) introduz a conclusão sobre a relação viagem-envelhecimento.
(C) introduz a explicação da relação viagem-envelhecimento.
(D) introduz a crítica subjetiva sobre a relação viagem-envelhecimento.
4. O oitavo parágrafo fornece-nos duas informações sobre Jane Scott,
(A) o seu passado turístico e o seu interesse pelos antepassados.
(B) o seu passado biológico e o seu interesse pelos antepassados.
(C) o seu presente turístico e o seu interesse pelos antepassados.
(D) o seu presente turístico e o seu interesse pelos seus descendentes.
5. Entre as linhas 54 e 59, a reprodução do discurso direto
(A) mostra-nos as dificuldades vividas pelo locutor.
(B) permite-nos perceber o sarcasmo do locutor.
(C) permite-nos perceber os sentimentos e opiniões do locutor.
(D) mostra-nos os projetos futuros do locutor.
6. Identifique a função sintática do elemento destacado na frase «E alguns, como
June Scott, são viajantes ávidos», conclui Emily Rogalski.» (linhas 44-45).
7. Classifique a oração «já que os cérebros se enriquecem com novidades e desa-
fios.» (linhas 49-50).
GRUPO III
Na sociedade contemporânea, o tempo livre das crianças é quase exclusivamente
dedicado às novas tecnologias, afastando-as do hábito milenar de brincar ao ar livre.
Num texto bem estruturado, com um mínimo de duzentas e um máximo de trezentas pala-
vras, defenda um ponto de vista pessoal sobre a ideia apresentada.
Fundamente o seu ponto de vista recorrendo, no mínimo, a dois argumentos, e ilustre
cada um deles com, pelo menos, um exemplo significativo.
8pontos
8pontos
8pontos
8pontos
8pontos
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40pontos
396
PREPARAR O EXAME NACIONAL
GRUPO I
A
Leia o poema de Vasco Graça Moura.
blues1
da morte de amor
já ninguém morre de amor, eu uma vez
andei lá perto, estive mesmo quase,
era um tempo de humores bem sacudidos,
depressões sincopadas, bem graves, minha querida.
mas afinal não morri, como se vê, ah, não,
passava o tempo a ouvir deus e música de jazz2
,
emagreci bastante, mas safei-me à justa, oh yes3
,
ah, sim, pela noite dentro, minha querida.
a gente sopra e não atina, há um aperto
no coração, uma tensão no clarinete e
tão desgraçado o que senti, mas realmente,
mas realmente eu nunca tive jeito, ah, não,
eu nunca tive queda para kamikaze4
,
é tudo uma questão de swing5
, de swing minha querida,
saber sair a tempo, saber sair, é claro, mas saber,
e eu não me arrependi, minha querida, ah, não, ah, sim.
há ritmos na rua que vêm de casa em casa,
ao acender das luzes, uma aqui, outra ali.
mas pode ser que o vendaval um qualquer dia venha
no lusco-fusco da canção parar à minha casa,
o que eu nunca pedi, ah, não, manda calar a gente,
minha querida, toda a gente do bairro,
e então murmurei, a ver fugir a escala
do clarinete: — morrer ou não morrer, darling6
, ah, sim.
Vasco Graça Moura, Poesia Reunida,
vol. 1, Lisboa, Quetzal, 2012, p. 437
PROVA-MODELO – PROVA 7
5
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20
1
Blues: género musical norte-americano, do início do século
XX, que retrata em música sentimentos de dor.
2
Jazz: género de música vocal e instrumental que, tal como
o blues, foi criado por negros norte-americanos do início
do século XX e cuja maior característica é a improvisação.
3
Oh yes: «ó sim».
4
Kamikaze: piloto japonês suicida.
5
Swing: género de música semelhante ao jazz e ao blues;
baloiço de parque.
6
Darling: «querida».
397
PORTUGUÊS 12.o
ANO
PROVA-MODELO – PROVA 7
1. Esclareça, socorrendo-se das suas próprias palavras, a conceção de Amor para o
poeta, bem como a lição de vida que a acompanha. Transcreva sequências textuais
que o comprovem.
2. Explique a importância deste tipo de música como panaceia (remédio e cura) para
o amante sofredor.
3. Evidencie a expressividade da seleção de vocábulos, das interjeições e das apóstrofes.
4. Explique a expressividade do título do poema.
B
Leia o excerto da «Conclusão», de Amor de Perdição, de Camilo Castelo Branco.
Oh! Simão,de que céu tão lindo caímos? À hora que te escrevo,estás tu para entrar na
nau dos degredados, e eu na sepultura.
Que importa morrer,se não podemos jamais ter nesta vida a nossa esperança de há três
anos?! Poderias tu com desesperança e com a vida, Simão? Eu não podia. Os instantes
do dormir eram os escassos benefícios que Deus me concedia; a morte é mais que uma
necessidade; é uma misericórdia divina, uma bem-aventurança para mim.
E que farias tu da vida sem a tua companheira de martírio? Onde irás tu aviventar o
coração que a desgraça te esmagou, sem o esquecimento da imagem desta dócil mulher,
que seguiu cegamente a estrela da tua malfadada sorte?!
Tu nunca hás de amar, não, meu esposo? Terias pejo1
de ti mesmo, se uma vez visses
passar rapidamente a minha sombra por diante dos teus olhos enxutos? Sofre, sofre ao
coração da tua amiga estas derradeiras2
perguntas, a que tu responderás, no alto-mar,
quando esta carta leres.
Rompe a manhã.Vou ver a minha última aurora… A última dos meus dezoito anos!
Camilo Castelo Branco, Amor de Perdição,
Lisboa, D. Quixote, 2006, p. 217
5. Justifique que este excerto da «Conclusão» é prova exemplar da conceção do
amor-paixão do Romantismo.
6. Compare a visão do Amor expressa no Texto A com a do Texto B.
C
7. O «Livro do Desassossego» é considerado uma obra fragmentária.
Escreva uma breve exposição sobre a fragmentaridade do livro pessoano, referindo duas
características que a confirmem.
A sua exposição deve incluir:
• uma introdução ao tema;
• um desenvolvimento no qual explicite as referidas características, fundamentando-as
com, pelo menos, um exemplo significativo;
• uma conclusão adequada ao desenvolvimento do tema.
5
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1
Pejo: vergonha; pudor. 2
Derradeiras: últimas.
Cotações
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16pontos
16pontos
8pontos
16pontos
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16pontos
398
PREPARAR O EXAME NACIONAL
PROVA-MODELO – PROVA 7
GRUPO II
Leia o texto.
São um dos mais rápidos e eficientes predadores dos mares, os tubarões. São 23
medalhas olímpicas e 39 recordes mundiais que fazem dele o campeão da água, Michael
Phelps. O norte-americano, que já bateu todos os recordes frente a outros humanos, viu
nos tubarões adversários à altura e nadou 100 metros contra um tubarão branco para o
Discovery Channel, que esta semana recebe a Shark Week.
Entre 23 e 30 de julho em Portugal, o tema tubarões volta a ocupar a grelha do canal
como faz desde o final dos anos 1980 nos EUA. Na edição deste ano são 18 programas
inéditos que todas as noites, depois das 21h, vão encher o ecrã de tubarões.
Para já, recuemos a 1975. Foi há mais de 40 anos que o blockbuster de Steven Spielberg
deixou o mundo com medo d'O Tubarão − influenciando a opinião pública quanto ao
seu perigo. «Os tubarões são a espécie com menos ataques mortíferos em termos esta-
tísticos. Os insetos, as aranhas e outros animais provocam mais fatalidades anualmente
do que os tubarões», esclareceu o biólogo João Correia na sexta-feira, na apresentação
da Shark Week num veleiro no rio Tejo. Para tentar acabar com mitos e alertar para a
necessidade de conservação da espécie, dizimada pela pesca descontrolada e pela degra-
dação dos seus habitats, o Discovery Channel criou uma semana de programação espe-
cial com os tubarões como protagonistas.
Foi no Verão de 1988 que aconteceu a primeira Shark Week, uma semana com pro-
gramação especial que inicialmente tinha um caráter mais informativo e que com os
anos se foi aproximando do tom do entretenimento. Este ano, e pela primeira vez, a
Shark Week passa em simultâneo em 72 países no Discovery Channel. Dos 18 conteú-
dos inéditos da programação, dois contam com a participação do atleta olímpico, Escola
de Tubarões e Phelps vs Tubarão.
O arranque faz-se este domingo com Escola de Tubarões − quando Michael Phelps,
antes de enfrentar um tubarão, faz um curso intensivo com os especialistas Doc Gruber
e Tristan Guttridge. Phelps vai aprender a nadar em segurança entre estas criaturas,
inclusive quando um tubarão-martelo passa a escassos centímetros da sua cara. No pró-
ximo domingo, a maior atração: o duelo entre as duas máquinas da natureza, o tubarão
branco e o rapaz de Baltimore, Michael Phelps.
Para além destes documentários, o canal acompanhará por exemplo uma viagem até
uma praia na costa da Califórnia onde um tubarão branco tem atacado a cada dois anos
desde 2008 (O Ataque do Tubarão Branco, dia 24), tentando identificar o animal através
de tecnologia satélite.
Marisa Ferreira, «Esta semana, Michael Phelps compete
com um tubarão», in Público, 23 julho de 2017
(disponível em https://www.publico.pt/; consultado a 25/07/2017)
5
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399
PORTUGUÊS 12.o
ANO
PROVA-MODELO – PROVA 7
1. As duas primeiras frases do texto estabelecem uma relação de
(A) contraste
(B) ênfase.
(C) paralelismo.
(D) antonímia.
2. De acordo com o primeiro parágrafo, a decisão de Michael Phelps foi motivada por
(A) puro prazer desportivo.
(B) superação de um desafio para além do humano.
(C) superação de um record pessoal contra um animal.
(D) intenção de igualar um record de um surfista.
3. A opinião do biólogo João Correia
(A) desmistifica a ideia trazida pelo filme de Spielberg.
(B) desmistifica a caça ao tubarão.
(C) acompanha a ideia do filme de Spielberg.
(D) exemplifica a ideia do filme de Spielberg.
4. Os dados estatísticos provam que os ataques mortíferos
(A) dos tubarões são menos frequentes do que os dos insetos.
(B) dos insetos são menos frequentes do que os dos tubarões.
(C) dos outros animais são tão frequentes como os dos tubarões.
(D) das aranhas são mais frequentes do que os dos outros animais.
5. A expressão «as duas máquinas da natureza» (linha 28) estabelece com a expres-
são «o tubarão branco e o rapaz de Baltimore» (linhas 28-29) uma relação de
(A) holonímia / meronímia.
(B) sinonímia / antonímia.
(C) anáfora.
(D) catáfora.
6. Indique o valor da oração subordinada adjetiva relativa presente em «que esta
semana recebe a Shark Week» (linha 5).
7. Classifique a oração subordinada presente em «o tema tubarões volta a ocupar a
grelha do canal como faz desde o final dos anos 1980 nos EUA.» (linhas 6-7).
8pontos
8pontos
8pontos
8pontos
8pontos
8pontos
8pontos
400
PREPARAR O EXAME NACIONAL
PROVA-MODELO – PROVA 7
GRUPO III
O ditado popular «De poeta e de louco todos temos um pouco» ainda se adapta ple-
namente ao ser humano do século XXI.
Num texto bem estruturado, com um mínimo de duzentas e um máximo de trezentas pala-
vras, defenda um ponto de vista pessoal sobre a ideia apresentada.
Fundamente o seu ponto de vista recorrendo, no mínimo, a dois argumentos, e ilustre
cada um deles com, pelo menos, um exemplo significativo.
40pontos
401
PORTUGUÊS 12.o
ANO
GRUPO I
A
Leia o poema de Jorge de Sena.
Quem a tem...
Não hei de morrer sem saber
qual a cor da liberdade.
Eu não posso senão ser
desta terra em que nasci.
Embora ao mundo pertença
e sempre a verdade vença,
qual será ser livre aqui,
não hei de morrer sem saber.
Trocaram tudo em maldade,
é quase um crime viver.
Mas, embora escondam tudo
e me queiram cego e mudo,
não hei de morrer sem saber
qual a cor da liberdade.
Jorge de Sena, Antologia Poética,
Porto, Asa, 2001, p. 85
1. Explicite a tomada de posição do sujeito poético em relação ao contexto sociopolí-
tico seu contemporâneo.
2. Explicite a expressividade do recurso presente em «cor da liberdade» e ainda o
valor da aliteração que perpassa toda a segunda estrofe.
3. Esclareça o sentido do título do poema.
4. Esclareça o valor expressivo das conjunções «Mas» e «embora» (linha 11).
PROVA-MODELO – PROVA 8
5
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Cotações
16pontos
16pontos
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402
PREPARAR O EXAME NACIONAL
PROVA-MODELO – PROVA 8
B
Leia o excerto do capítulo V do Sermão de Santo António aos Peixes, de Padre António Vieira.
Mas já que estamos nas covas do mar, antes que saiamos delas, temos lá o irmão Polvo,
contra o qual têm suas queixas, e grandes, não menos que São Basílio, e Santo Ambrósio.
O Polvo com aquele seu capelo1
na cabeça parece um Monge, com aqueles seus raios
estendidos, parece uma Estrela; com aquele não ter osso, nem espinha, parece a mesma
brandura, a mesma mansidão. E debaixo desta aparência tão modesta, ou desta hipocri-
sia tão santa, testemunham constantemente os dois grandes Doutores da Igreja Latina,
e Grega, que o dito Polvo é o maior traidor do mar. Consiste esta traição do Polvo pri-
meiramente em se vestir, ou pintar das mesmas cores de todas aquelas cores, a que está
pegado.As cores,que no Camaleão são gala,no Polvo são malícia;(…)Vê,Peixe aleivoso2
,
e vil, qual é a tua maldade, pois Judas em tua comparação já é menos traidor. (…)Vejo,
Peixes, que pelo conhecimento, que tendes das terras, em que batem os vossos mares, me
estais respondendo, e convindo, que também nelas há falsidades, enganos, fingimentos,
embustes, ciladas, e muito maiores, e mais perniciosas3
traições.
Padre António Vieira, Sermão de Santo António,
in Obra Completa (dir. José Eduardo Franco e Pedro Calafate),
tomo II, volume X. Lisboa, Círculo de Leitores, 2014,
pp. 162-163
5. Mostre de que forma o Polvo é alegoria da sociedade do tempo de Padre António
Vieira, socorrendo-se de transcrições que comprovem a sua resposta.
6. Explique o valor do recurso expressivo presente em «hipocrisia tão santa».
C
7. Em Memorial do Convento, José Saramago adota uma visão crítica do Portugal
setecentista.
Escreva uma breve exposição sobre esta visão, referindo duas características que melhor
a revelem.
A sua exposição deve incluir:
• uma introdução ao tema;
• um desenvolvimento no qual explicite as referidas características, fundamentando-as
com, pelo menos, um exemplo significativo;
• uma conclusão adequada ao desenvolvimento do tema.
5
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1
Capelo: capuz do hábito de frades.
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Aleivoso: traidor.
3
Perniciosas: perigosas.
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PORTUGUÊS 12.o
ANO
PROVA-MODELO – PROVA8
GRUPO II
Leia o texto.
Saber como funcionam os bastidores do cérebro,que papel desempenham as emoções,
os preconceitos,a seleção de dados e outros mecanismos inconscientes poderá ajudar-nos
a lidar melhor com os dilemas do quotidiano.
Será que agimos escolhendo sempre a melhor opção para os nossos interesses? Esse
esquema reducionista, que se tornou conhecido por «conduta racional», foi o principal
paradigma utilizado pelos estudiosos durante anos. Para muitos, tratava-se de uma sim-
plificação, como indicava o filósofo e matemático britânico Bertrand Russell (1872-
-1970): «Diz-se que o homem é um animal racional. Passei toda a minha vida a procurar
evidências que apoiem tal afirmação.» Seria como afirmar que a Amazon não passa de
uma marca, sem tomar em consideração o conglomerado de armazéns, empresas distri-
buidoras e de transporte e os milhares de trabalhadores que operam nos bastidores. As
suas páginas na internet são apenas a face visível para os clientes, do mesmo modo que a
consciência humana é como a espuma que flutua sobre águas profundas.
Hoje, sabemos que o nosso comportamento é, efetivamente, muito mais complexo
do que se supunha. Estamos convencidos de que sabemos o que se passa connosco, o
que queremos e o que tencionamos fazer, mas o pensamento consciente só tem acesso
a alguns dos processos que ocorrem incessantemente no cérebro. A sua credibilidade é
igual à de um indivíduo embriagado convencido de poder caminhar em linha reta sem
cambalear.
Como quem abre o capot de um carro para entender os mecanismos que lhe permi-
tem mover-se, psicólogos, neurocientistas e economistas aperceberam-se do papel deci-
sivo desempenhado pelas emoções, os desejos e os infinitos processos que se ativam de
forma inconsciente. A marca deixada por esses fatores irracionais é percetível de cada
vez que sentimos, desejamos, pensamos ou tentamos compreender o que nos rodeia, ou
seja: sempre. Por vezes, conduzem-nos a uma solução rápida e eficaz, mas, outras vezes,
fazem-nos cair em erro por não termos avaliado calmamente todos os prós e contras.
A revelação desses bastidores mentais irá permitir-nos perceber por que motivo faze-
mos, por vezes, escolhas perniciosas, não concretizamos os nossos planos ou deixamos
de fazer algo que nos teria beneficiado. Porém, talvez se trate de um conhecimento que
nos fará sentir muito mais inseguros: como poderemos ter a certeza de não estar a ser
arrastados por fatores irresistíveis que poderão acabar por nos levar por mau caminho?
O problema é, sobretudo, o inverso: o falso sentido de segurança que acompanha os
nossos atos, em muitas ocasiões, é, como indicam os especialistas, um dos sintomas de que
nos estamos a deixar conduzir pela corrente de automatismos incontroláveis.A dúvida,pelo
contrário, provoca uma grande insatisfação, mas é sinal de que a razão tomou as rédeas.
Quando menos se espera
O psicólogo britânico RichardWiseman convidou um astrólogo especializado em finan-
ças, um analista de mercados e uma menina de quatro anos a participar numa experiência:
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PREPARAR O EXAME NACIONAL
PROVA-MODELO – PROVA 8
ofereceu-lhes dinheiro para investirem na Bolsa como quisessem. Após um período de
tempo acordado, comprovar-se-ia quem conseguira ter mais lucros, ou, se não os hou-
vesse, menos perdas.
Enquanto o astrólogo baseou a sua escolha nas datas em que as empresas tinham sido
fundadas, o investidor recorreu à sua vasta experiência. Como é óbvio, a menina, desco-
nhecendo por completo o mundo dos negócios, escolhia as suas ações ao acaso. Depois
de ganhar, a criança transformou-se numa celebridade, com pedidos de entrevistas por
parte de jornais de economia e propostas para aparecer em programas de televisão.
O mundo das finanças está sujeito a constantes abalos e turbilhões. Na opinião do
ensaísta libanês Nassim NicholasTaleb,a sabedoria exibida pelos especialistas do setor faz
«o seu valor previsível não ser maior do que o da astrologia».A menina ganha porque as
suas escolhas são aleatórias e sem preconceitos.
Visão estratégica
Primeiro, devemos tomar em consideração que há diferentes tipos de jogos. Nos que
são conhecidos como de soma zero, como o xadrez ou o póquer, apenas um vence e os
outros perdem, sem meio-termo, mas a verdade é que se produzem pouco na vida real.
O mais comum é o que se tornou conhecido por «dilema do prisioneiro».A polícia prende
dois suspeitos de um crime e, depois de os fechar em celas separadas, oferece a cada um a
possibilidade de confessar.Se um falar (trair o outro) e o outro ficar calado,o que confessou
é libertado, enquanto o cúmplice silencioso cumpre dez anos. Se ambos ficarem em silên-
cio (colaborarem um com ou outro), a polícia só pode condená-los a um ano cada um. Se
ambos confessarem (traírem o comparsa), cada um leva cinco anos de cadeia.
Este tipo de análise pode ser aplicado a uma infinidade de situações, como as alterna-
tivas à disposição dos governos para lutar contra as alterações climáticas. Neste caso, os
interesses económicos de cada país colidem com a necessidade de resolver um problema
comum.
In Superinteressante, dezembro de 2016
1. O conceito de «conduta racional» (linha 5)
(A) foi trazido por um filósofo inglês setecentista.
(B) vigora ainda na contemporaneidade.
(C) explica de forma concisa o funcionamento do cérebro humano.
(D) não é abrangente nem atual.
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PORTUGUÊS 12.o
ANO
PROVA-MODELO – PROVA 8
2. De acordo com o quarto parágrafo, a comunidade científica
(A) confirmou empiricamente a supremacia do pensamento em relação às emoções.
(B) descobriu que o comportamento humano é influenciado por questões tecnológicas.
(C) concluiu que o comportamento humano está dependente do pensamento, mas tam-
bém de mecanismos inconscientes e sensoriais.
(D) concluiu que a marca Amazon é nociva ao cérebro.
3. O recente conhecimento dos «bastidores cerebrais»
(A) trouxe mais segurança à compreensão do comportamento humano.
(B) mostra que o comportamento humano pode ser movido por «automatismos incontro-
láveis».
(C) mostra que a razão é sempre indutora dos melhores comportamentos.
(D) trouxe mais segurança ao controlo das emoções.
4. A experiência do investimento das três pessoas na Bolsa permitiu concluir que
(A) o acaso e a idade são os grandes responsáveis pelo sucesso final.
(B) o acaso e a ciência são os grandes responsáveis pelo sucesso final.
(C) o acaso e o incontrolável são os grandes responsáveis pelo sucesso final.
(D) a idade e a espiritualidade sobrepõem-se ao cálculo matemático na antecipação do
sucesso final.
5. O «dilema do prisioneiro»
(A) aplica-se ao contexto político-económico atual.
(B) contrasta com o contexto sociopolítico atual.
(C) afasta-se do contexto político atual.
(D) explica o contexto cultural atual.
6. Identifique a função sintática desempenhada pela oração subordinada presente
em «"Diz-se que o homem é um animal racional."» (linha 8).
7. Classifique a oração subordinada na sequência «ofereceu-lhes dinheiro para
investirem na Bolsa» (linha 39).
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PREPARAR O EXAME NACIONAL
PROVA-MODELO – PROVA 8
GRUPO III
Nos dias que correm, muitas pessoas optam por ebook1
, em detrimento dos livros
impressos.
Num texto bem estruturado, com um mínimo de duzentas e um máximo de trezentas pala-
vras, defenda um ponto de vista pessoal sobre a ideia apresentada.
Fundamente o seu ponto de vista recorrendo, no mínimo, a dois argumentos, e ilustre
cada um deles com, pelo menos, um exemplo significativo.
1
Ebook: livro eletrónico.
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PORTUGUÊS 12.o
ANO
Educação literária • 10.o
Ano
FICHA 1 (p. 13)
1. Trata-se de um diálogo, uma vez que existe discurso direto,
quando a donzela diz «Ai flores, ai flores do verde pino, / Se
sabedes novas do meu amigo?» (versos 1-2), desejando obter
uma resposta. Por outro lado, testemunhamos tal resposta no
discurso direto das «flores»: «– Vós preguntades polo voss’
amigo / E eu bem vos digo que é san’e vivo.» (versos 13-14)
2. Estamos perante uma personificação das «flores», visto que
a elas são atribuídas propriedades humanas, tais como a fala/
interlocução, como se verifica em «– Vós preguntades polo
voss’amigo / E eu bem vos digo (…)» (versos 13-14).
3. O tema desta composição poética prende-se com a angús-
tia de uma jovem enamorada que quer saber onde está o
seu amado. Quanto ao assunto, trata-se de uma jovem com
saudades e dúvidas acerca dos sentimentos e do regresso
do seu amado. Dirige-se a elementos da Natureza, no caso
«flores do verde pino», tentando saber do seu paradeiro.
Neste sentido, as flores prontamente a informam de que ele
se ausentou, mas está prestes a regressar e irá fazê-lo antes
do prazo combinado.
4. A jovem/amiga está muito insegura, saudosa e cética relativa-
menteaoregressodoseuamado.Asuaexpectânciarevela-sena
constante repetição do refrão. As «flores do verde pino», na sua
qualidade de confidentes, revelam-se calmas, apaziguadoras,
fornecendoinformaçãoquetornaráameninamaisconfiante.
5. Neste poema encontram-se temáticas que confirmam a sua
pertença ao género Cantigas de Amigo: a presença da Nature-
za amiga e confidente da jovem enamorada, que se sente sau-
dosa e enganada pelo seu amado; o amor com seus encontros
e desencontros; o sujeito poético é típico também: uma jovem;
a ruralidade/o cenário campestre; a saudade, que pressupõe
ausência; a presença de um refrão que dá forma a um tom mu-
sical inequívoco.
6. Vejamos as razões que dão vida às várias formas de parale-
lismo, que inclui o leixa-pren: Primeira, os 1.o
e 2.o
dísticos
reproduzem o mesmo sentido, com palavras rimantes
diferentes («amigo/comigo», «amado/jurado». Segunda, no 3.o
dístico, o 1.o
verso retoma o 2.o
verso do 1.o
dístico («Se sabe-
des novas do meu amigo») – leixa-pren, portanto. Terceira, o
4.o
dístico retoma o 2.o
verso do 2.o
dístico («se sabedes novas
do meu amado»). Quarta, cada 2.o
verso das estrofes ímpares
fazprogrediralinhadepensamentosubjacenteaestacantiga,
comosevêreproduzidoaseguir:(1)«sesabedesnovasdomeu
amigo»; (3) «Aquele que mentiu do que pôs conmigo»; (5) «E
eu bem vos digo que é san’e vivo»; (7) «será vosco ant’o prazo
saído». Quinta, a composição poética tem um número par de
estrofes/coblas (no caso, 8).
7. a) F – redondilha menor; b) V.
8.1metátese («pre» – «per»); síncope («tades – taes > tais).
FICHA 2 (p. 15)
1. O assunto é o sofrimento de amor por uma jovem apaixonada
devido à ausência do seu amado.
2. Os dois sentimentos são «cuidado» (preocupação, ânsia cons-
tantes) e «desejo» (desejo carnal, revelando erotismo).
3. A palavra que melhor exemplifica a «coita de amor» é «coita-
da», ou até «cuidado» (versos 1 e 5).
4. O sentido é o da visão, pois o sofrimento de amor agudiza-se
porque não o vê («e nom vejo» – verso 6).
5. Aliteração do som «m», que instaura sentimentos de lamento e
queixume, associados ao sofrimento provocado pela ausência
doamado.
FICHA 3 (p. 16)
1. A primeira parte corresponde às duas primeiras estrofes e
inclui as perguntas feitas pela Mãe; a segunda parte integra
as estrofes 3 e 4, pois nelas estão inseridas as respostas da
filha; a terceira parte diz respeito às duas últimas estrofes,
em que sobressai a resposta da Mãe, experiente e arguta,
que diz à jovem que nunca «cervo» foi causa de tal demora
na fonte.
2. Uma filha jovem foi à fonte com o objetivo de se encontrar
com o seu amigo e demorou-se mais do que o costume. Che-
gando a casa, a Mãe pergunta o motivo da demora e a jovem
afirma que um animal selvagem («cervo») agitou as águas e
ela teve de esperar que ele se fosse embora. A Mãe, por sua
vez, reconhece a mentira e verbaliza-o claramente.
3. O 1.o
e o 2.o
dísticos têm o mesmo sentido, apenas mudan-
do as palavras que rimam; no 3.o
dístico, o 1.o
verso retoma
o 2.o
verso do 1.o
dístico (com acréscimo de apóstrofe feita
a «mia madre»; o 4.o
dístico retoma (em sentido) o 2.o
verso
do 1.o
dístico; o pensamento lógico da cantiga progride sem-
pre no 2.o
verso de cada estrofe ímpar: «por que tardastes
na fontana fria?» (verso 2); «cervos do monte a áugua volv[i]
am» (verso 8); «nunca vi cervo que volvesse o rio» (verso 14);
o texto tem um número par de estrofes.
4. As apóstrofes confirmam o diálogo, e o binómio pergunta/
resposta não deixa margem para dúvidas: «filha, mia filha
velida»; «filha, mia filha louçana»; «mia madre»; «mia filha».
5. O recurso expressivo é a aliteração do som consonântico
«f» em «fria fontana» / «fontana fria», cujo valor expressivo
pode prender-se com a frescura do lugar onde os amantes se
encontravam, propício à aproximação dos corpos, ou ainda
com movimentações da água da fonte.
6. Em «Cervos do monte a áugua volv[i]am» vemos uma anás-
trofe ao serviço da desorganização do mover das águas, re-
fletida na intensidade dos amores vividos.
7. Nas estrofes 5 e 6 percebemos claramente a sabedoria em-
pírica da Mãe, sendo que a utilização do advérbio «nunca»
na sequência «nunca vi cervo que volvesse o rio» (verso 14)
apresenta um arg umento impossível de ser contrariado pela
jovem: a Mãe experiente provavelmente já passou pelo mes-
mo na juventude e agora conhece bem «os amores» da filha.
8. a) Movimento – aliterações do som «v» («cervos do monte
a áugua volv[i]am» – verso 8) e «s» («nunca vi cervo que vol-
vesse o rio» – verso 14). b) Lamento – aliteração do som «m»
(«Mentir, mia filha, mentir por amado» – verso 16), que revela
uma certa tristeza da Mãe por perceber que a filha lhe está a
mentir. c) Alegria, entusiasmo e nervosismo – assonância do
som vocálico «i», como em «(…) filha, mia filha velida» (verso
1) / «Tardei, mia madre, na fontana fria,» (verso 7) / «cervos
do monte a áugua volv[i]am » (verso 8) – alegria, entusiasmo
e algum nervosismo da menina ou «nunca vi cervo que vol-
vesse o rio» (verso 14) – nervosismo da Mãe por estar a con-
frontar a filha com a mentira.
9. Os vocábulos são: «fontana»; «cervos»; «monte»; «áugua»;
«rio»; «alto».
FICHA 4 (p. 18)
1. Pelo título, percebemos que o autor vai imitar «a maneira
proençal», isto é, como os seus contemporâneos de Proven-
ça (sul de França) vai louvar uma mulher, servindo-se dos
mesmos modelos de conteúdos e estilo (vocabulário e sinta-
xe eruditos, como, por exemplo, «a que prez nem fremosura
nom fal» (verso 4), «comprida de bem» (verso 6) e «comunal»
(verso 11).
2. O cenário é o da corte ou, pelo menos, palaciano.
PROPOSTAS DE RESOLUÇÃO
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  • 1. PRÁTICA PROVAS-MODELO Maurice Utrillo, O Caminho Cottin, 1910 PARTE IV
  • 2. 362 PREPARAR O EXAME NACIONAL PROVA-MODELO – PROVA 1 GRUPO I A Leia o excerto do fragmento «Eu nunca fiz senão sonhar». Eu nunca fiz senão sonhar. Tem sido esse, e esse apenas, o sentido da minha vida. Nunca tive outra preocupação verdadeira senão a minha vida interior. As maiores dores da minha vida esbatem-se-me quando, abrindo a janela para a rua do meu sonho, esqueço a vista no seu movimento. (…) A minha mania de criar um mundo falso acompanha-me ainda, e só na minha morte me abandonará. Não alinho hoje nas minhas gavetas carros de linhas e peões de xadrez – com um bispo ou um cavalo acaso sobressaindo – mas tenho pena de o não fazer… e alinho na minha imaginação, confortavelmente, como quem no inverno se aquece a uma lareira, figuras que habitam, e são constantes e vivas, na minha vida interior. Tenho um mundo de amigos dentro de mim, com vidas próprias, reais, definidas e imperfeitas. Alguns passam dificuldades, outros têm uma vida boémia, pitoresca e humilde. Há outros que são caixeiros-viajantes (poder sonhar-me caixeiro-viajante foi sempre uma das minhas grandes ambições – irrealizável infelizmente!). Outros moram em aldeias e vilas lá para as fronteiras de um Portugal dentro de mim; vêm à cidade, onde por acaso os encontro e reconheço, abrindo-lhes os braços emotivamente… E quando sonho isto, passeando no meu quarto, falando alto, gesticulando… quando sonho isto, e me visiono encontrando-os, todo eu me alegro, me realizo, me pulo, brilham-me os olhos, abro os braços e tenho uma felicidade enorme, real, incomparável. (…) Há também as paisagens e as vidas que não foram inteiramente interiores. Certos quadros, sem subido relevo artístico, certas oleogravuras que havia em paredes com que convivi muitas horas – passaram a realidade dentro de mim. Aqui a sensação era outra, mais pungente e triste. Ardia-me não poder estar ali, quer eles fossem reais ou não. Não ser eu, ao menos, uma figura a mais desenhada ao pé daquele bosque, ao luar que havia numa pequena gravura dum quarto onde dormi já não em pequeno! Não poder eu pensar que estava ali oculto, no bosque à beira do rio, por aquele luar eterno (embora mal desenhado), vendo o homem que passa num barco por baixo do debruçar-se de um salgueiro! Aqui o não poder sonhar inteiramente doía-me. As feições da minha saudade eram outras. Os gestos do meu desespero eram diferentes. A impossibilidade que me torturava era de outra ordem de angústia. Ah, não ter tudo isto um sentido em Deus, uma realização conforme o espírito de meus desejos, não sei onde, por um tempo ver- tical, consubstanciado1 com a direção das minhas saudades e dos meus devaneios! Não haver, pelo menos só para mim, um paraíso feito disto! Bernardo Soares, Livro do Desassossego: composto por Bernardo Soares, ajudante de guarda-livros na cidade de Lisboa, (ed. Richard Zenith), 7.ª ed., Lisboa, Assírio & Alvim, 2014, pp. 110-112 5 10 15 20 25 30 1 Consubstanciado: unido.
  • 3. 363 PROVA-MODELO – PROVA 1 PORTUGUÊS 12.o ANO 1. De acordo com o conteúdo das linhas 1 a 19, explique o papel do sonho na vida de Bernardo Soares, bem como as sensações reais que dele advêm. 2. A partir da linha 20, Soares apresenta-nos outro tipo de sonho. Explicite-o e comente os efeitos que esse outro tipo tem no seu interior. 3. Esclareça o sentido da última frase do excerto: «Não haver, pelo menos só para mim, um paraíso feito disto!». 4. Explique por que razão existe transfiguração poética do real na sequência «Ardia- -me não poder estar ali, quer eles fossem reais ou não. Não ser eu, ao menos, uma figura a mais desenhada ao pé daquele bosque, ao luar que havia numa pequena gravura dum quarto onde dormi já em pequeno!» (linhas 23-25) B Leia o poema de Antero de Quental. No Turbilhão No meu sonho desfilam as visões, Espectros dos meus próprios pensamentos, Como um bando levado pelos ventos, Arrebatado em vastos turbilhões… Numa espiral, de estranhas contorções1 , E donde saem gritos e lamentos, Vejo-os passar, em grupos nevoentos, Distingo-lhes, a espaços, as feições… − Fantasmas de mim mesmo e da minha alma, Que me fitais com formidável calma, Levados na onda turva do escarcéu2 , Quem sois vós, meus irmãos e meus algozes3 ? Quem sois, visões misérrimas e atrozes? Ai de mim! ai de mim! e quem sou eu?!... Antero de Quental, Sonetos Completos, Lisboa, Ulisseia, 2002, p. 184 5 10 1 Contorções: atos ou efeitos de torcer ou contorcer-se. 2 Escarcéu: ruído das ondas; vagalhão. 3 Algozes: carrascos; executores da pena de morte. Cotações 16pontos 16pontos 16pontos 8pontos
  • 4. 364 PREPARAR O EXAME NACIONAL PROVA-MODELO – PROVA 1 5. Explique em que medida este poema retrata a angústia existencial de Antero de Quental. 6. Estabeleça uma comparação entre a perspetivação do sonho no Texto A e neste Texto B, justificando a sua resposta. C 7. O tema da reflexão existencial é uma das características típicas da poesia de Fernando Pessoa. Escreva uma breve exposição na qual faça um contraste entre a visão do mundo de Alberto Caeiro e a de Ricardo Reis a propósito deste tema. A sua exposição deve incluir: • uma introdução ao tema; • um desenvolvimento no qual explicite, para cada um dos heterónimos, uma característi- ca que os permita distinguir, fundamentando as características apresentadas com, pelo menos, um exemplo significativo; • uma conclusão adequada ao desenvolvimento do tema 16pontos 16pontos 16pontos
  • 5. 365 PROVA-MODELO – PROVA 1 PORTUGUÊS 12.o ANO GRUPO II Leia o texto. Índia: mais justiça para as vacas do que para as mulheres O que faz uma mulher com uma máscara de vaca na cabeça, a posar para uma foto junto ao simbólico Portão da Índia, em Deli? A obrigar a sua sociedade a refletir. Sobre o quê? Sobre o facto de haver um interesse e ímpeto maiores quanto à proteção das vacas no seu país do que para a defesa e celeridade de justiça nos casos das agressões feitas às mulheres, cujos direitos mais básicos, incluindo a sua integridade física e emo- cional, continuam a ser violados diariamente. A ideia partiu do fotógrafo indiano Sujatro Ghosh, que perante a discussão acesa quanto à criminalização das agressões feitas às vacas no seu país – animais considerados sagrados por aqueles seguidores da religião hindu − começou a questionar-se sobre o que levaria a que os direitos das mulheres gerassem tal entusiasmo. «Perturba-me que no meu país as vacas sejam consideradas mais importantes do que as mulheres. Quando uma mulher é violada demora muito mais tempo a obter justiça do que uma vaca.» Para percebermos um bocadinho melhor o que leva o jovem fotógrafo a fazer esta comparação, podemos olhar para alguns dados referentes à Índia. Hoje em dia, uma agressão deliberada feita a uma vaca − sem que esse mesmo ato resulte do processo normal da morte do animal para consumo − pode levar a uma pena de quase dez anos de prisão. Uma lei amplamente aplaudida pelos extremistas hindus, que mesmo assim estão atualmente a tentar fazer chegar ao parlamento a discussão da pena de morte para estes crimes. Ou seja, há um movimento claro, ativo e com cariz de urgência para que se dê condições de segurança e que seja feita justiça às vacas sagradas. Ao mesmo tempo, há todo um cenário de violência perpetuado sobre o sexo feminino que – embora gere hoje mais discussão pública e política – continua a ser socialmente aceite. Com a justiça a falhar redondamente no que lhe compete. Se olharmos para os dados oficiais de 2015, por exemplo, chegamos a quase 35 mil casos de abuso sexual que foram reportados às autoridades indianas, sendo que a justiça apenas atuou em menos de 20% destes casos. Casos esses que devem ter uma dimensão tremendamente maior, uma vez que estes são apenas aqueles que chegam às autorida- des. Há uns meses, um estudo sobre a realidade criminal de Deli mostrava que apenas um em cada 13 casos de abuso sexual chegava às autoridades. Em comparação, 1 em cada 3 roubos de telemóveis, por exemplo, era reportado à polícia. Por razões culturais, sociais, familiares e religiosas, uma larga percentagem das mulheres e meninas vítimas deste tipo de violência continua a não denunciar o crime. O estigma fala mais alto. E a justiça – tal como a mentalidade discriminatória instituída naquele país − não acompa- nha a necessidade urgente de mudança. Tudo isto deu que pensar a Sujatro Ghosh, que decidiu então usar a sua arte e o poder do humor para fazer um protesto, que tinha como ponto de partida fotografar mulheres, de diferentes esferas sociais, com máscaras de vaca em vários pontos da sua 5 10 15 20 25 30 35
  • 6. 366 PREPARAR O EXAME NACIONAL PROVA-MODELO – PROVA 1 cidade, desde zonas turísticas, a edifícios governamentais, transportes públicos ou até mesmo dentro das suas próprias casas. Porque não só na rua? «Porque as mulheres são vulneráveis em todos os lugares», explica o fotógrafo. As fotos foram publicadas na sua página de Instagram e rapidamente fizeram furor e galgaram fronteiras. Aliás, Sujatro Ghosh já está na estrada para fazer imagens noutros pontos do país de mulheres com cabeça de vaca. Esta comparação – acompanhada pelos relatos pessoais das mulheres fotografadas - serve para provocar, para agitar consciên- cias, para gerar reações imediatas. Reações que levam a uma reflexão, algo que ajudará, certamente, a melhorar o ritmo do passado no que toca à igualdade entre géneros num país perigosamente patriarcal. Num país onde os números referentes a questões tão graves quanto o assédio e abuso sexual, casamentos forçados, casamento infantil, violência doméstica ou tráfico huma- no ganham proporções verdadeiramente abjetas, é realmente chocante que uma vaca – por mais sagrada que possa ser considerada por determinada religião e por mais respeito que mereça enquanto animal – tenha mais atenção do que as mulheres no que toca a agentes de autoridade, líderes religiosos e decisores políticos. É, contudo, importante perceber que o que está em causa nesta série de fotografias não é uma redução de proteção aos animais no país, neste caso as vacas. Trata-se sim de pedir mais coerência no que toca à justiça e às suas prioridades naquela sociedade, com os seus desafios concretos (e que são tantos). No caso da Índia, uma sociedade que ainda relega as mulheres para um segundo patamar enquanto cidadãs e, até mesmo, enquanto seres humanos, privando-as dos seus direitos mais básicos. Entre eles, a justiça, a liber- dade e a dignidade. Paula Cosme Pinto, «Índia: mais justiça para as vacas do que para as mulheres», in Expresso, 12 de julho de 2017 (disponível em http://expresso.sapo.pt/; consultado a 12/07/2017) 1. O conteúdo das linhas 1 a 6 permite ao leitor perceber a denúncia (A) da corrupção que envolve a Justiça no tratamento de crimes contra as vacas. (B) da similitude entre o tratamento que a Justiça faz de crimes contra as vacas e contra as mulheres. (C) do contraste entre o tratamento que a Justiça faz de crimes contra as vacas e contra as mulheres. (D) da corrupção que envolve a Justiça no tratamento de crimes contra as crianças. 2. Entre as linhas 7 e 12, Paula Cosme Pinto (A) explica o papel das mulheres indianas na sociedade, segundo o fotógrafo Sujatro Ghosh. (B) descreve a profissão do fotógrafo Sujatro Ghosh. (C)explicaofactoeconómicoqueestevenaorigemdaatitudedofotógrafoSujatroGhosh. (D) explica o facto político que esteve na origem da atitude do fotógrafo Sujatro Ghosh. 40 45 50 55 60 8pontos 8pontos
  • 7. 367 PROVA-MODELO – PROVA 1 PORTUGUÊS 12.o ANO 3. A frase «Para percebermos um bocadinho melhor o que leva o jovem fotógrafo a fazer esta comparação, podemos olhar para alguns dados referentes à Índia.» (linhas 13-14) prepara o leitor para a (A) caracterização da atualidade indiana no que diz respeito à criminalidade. (B) listagem de informações sobre a história da Índia. (C) caracterização da sociedade indiana em geral. (D) caracterização da atualidade indiana no que se refere a vacas/mulheres. 4. A sequência «Tudo isto» (linha 35) refere-se (A) ao conteúdo do parágrafo anterior. (B) ao conteúdo da frase anterior. (C) aos estigmas indianos. (D) à discussão política sobre agressões a vacas. 5. O parágrafo iniciado na linha 41 (A) explica o impacto que as fotografias publicadas tiveram em todo o mundo. (B) exemplifica os resultados da pesquisa feita pelo fotógrafo. (C) explica o impacto que as fotografias tiveram na Índia. (D) explica o poder do Instagram. 6. Indique a função sintática desempenhada pela expressão «para um segundo patamar» (linha 58). 7. Identifique o referente do pronome «eles» (linha 59). GRUPO III «A cultura assusta muito. É uma coisa apavorante para os ditadores. Um povo que lê nunca será um povo de escravos.» António Lobo Antunes, entrevista ao Diário de Notícias, 18 de novembro de 2003 Partindo da perspetiva exposta na citação acima reproduzida, e num texto bem estrutu- rado, com um mínimo de duzentas e um máximo de trezentas palavras, apresente uma refle- xão sobre a relação entre cultura, leitura e liberdade. Fundamente o seu ponto de vista recorrendo, no mínimo, a dois argumentos, e ilustre cada um deles com, pelo menos, um exemplo significativo. 8pontos 8pontos 8pontos 8pontos 8pontos 40pontos
  • 8. 368 PREPARAR O EXAME NACIONAL GRUPO I A Leia o poema da Mensagem, de Fernando Pessoa. Nevoeiro Nem rei nem lei, nem paz nem guerra, Define com perfil e ser Este fulgor1 baço da terra Que é Portugal a entristecer – Brilho sem luz e sem arder, Como o que o fogo-fátuo2 encerra. Ninguém sabe que coisa quer. Ninguém conhece que alma tem, Nem o que é mal nem o que é bem. (Que ânsia distante perto chora?) Tudo é incerto e derradeiro. Tudo é disperso, nada é inteiro. Ó Portugal, hoje és nevoeiro… É a Hora! Fernando Pessoa, Mensagem (ed. Fernando Cabral Martins), Lisboa, Assírio & Alvim, 2014, p. 91 1. Explique de que forma se manifesta neste poema a natureza épico-lírica de Mensa- gem, justificando a sua resposta com elementos textuais. 2. Esclareça a forma como a personificação de Portugal é confirmada pelas antíteses e paradoxos. 3. Evidencie o sentido dos dois últimos versos do poema, considerando a metáfora e o uso inesperado de maiúscula. 4. Explicite de que modo a repetição dos pronomes «Ninguém» (versos 7 e 8) está ao serviço da caracterização global de Portugal. PROVA-MODELO – PROVA 2 5 10 1 Fulgor: brilho intenso; clarão. 2 Fátuo: passageiro; efémero. Cotações 16pontos 16pontos 16pontos 8pontos
  • 9. 369 PORTUGUÊS 12.o ANO PROVA-MODELO – PROVA 2 B Leia o poema de Antero de Quental. A um poeta Tu que dormes, espírito sereno, Posto à sombra dos cedros seculares, Como um levita1 à sombra dos altares, Longe da luta e do fragor terreno, Acorda! é tempo! O sol, já alto e pleno, Afugentou as larvas tumulares… Para surgir do seio desses mares, Um mundo novo espera só um aceno… Escuta! é a grande voz das multidões! São teus irmãos, que se erguem! são canções… Mas de guerra… e são vozes de rebate2 ! Ergue-te pois, soldado do Futuro, E dos raios de luz do sonho puro, Sonhador, faze espada de combate! Antero de Quental, Sonetos Completos, Lisboa, Ulisseia, 2002, p. 163 5. Explique o conteúdo deste poema, considerando as apóstrofes e o uso de verbos no imperativo. 6. Compare o tempo atual presente no poema B com o tempo atual do poema A, socor- rendo-se de elementos textuais que o comprovem.C C 7. O heterónimo pessoano Álvaro de Campos é considerado o poeta da Modernidade. Escreva uma breve exposição na qual inclua duas características que estão ao ser- viço dessa Modernidade. A sua exposição deve incluir: • uma introdução ao tema; • um desenvolvimento no qual explicite as referidas características, fundamentando-as com, pelo menos, um exemplo significativo; • uma conclusão adequada ao desenvolvimento do tema. 1 Levita: sacerdote; clérigo. 2 Rebate: ataque; assalto. 5 10 16pontos 16pontos 16pontos
  • 10. 370 PREPARAR O EXAME NACIONAL GRUPO II Leia o texto. Os usos e costumes já não são o que eram... Há um ano vivíamos o primeiro dia do resto das nossas vidas como campeões euro- peus de futebol. O momento inesquecível e o feito memorável continuarão a fazer os portugueses felizes por muitos mais anos. Iniciou-se por essa altura uma nova era motivacional na sociedade portuguesa, muito aproveitada pelas classes políticas dominantes que muito capitalizaram nessa onda de aspiração que banhou Portugal de norte a sul. É nesse clima de êxtase nacional que surge, pouco tempo depois, a notícia sobre as viagens de políticos, pagas pelos patrocinadores da seleção nacional, para assistirem a jogos de Portugal no campeonato europeu de futebol em França. Num país com tantas leis que não são cumpridas,muitas vezes por falta de fiscalização e consequente penalização,é fácil descurar leis que (quase) nunca são aplicadas.Especial- mente as que são feitas já com uma cláusula de salvaguarda que propositadamente dá azo a interpretações subjetivas, tal como os usos e costumes que sejam socialmente aceites... E como é do conhecimento geral, em Portugal existem muitos usos e costumes que são socialmente aceites, mas que não estão inteiramente de acordo com a lei.A famosa «cunha» ilustra bem a real dimensão da cultura de «favor» e de «vantagem» de que agora tanto se fala. Desta forma, os usos e costumes socialmente aceites pelos políticos, da esquerda à direita,que aceitaram os convites desinteressados de um grande patrocinador privado,são partilhados por deputados, membros do governo, presidentes de câmara e pela maioria dos eleitores em Portugal. Na altura, a reduzida pressão social aliada ao facto de quase todos os partidos políticos terem telhados de vidro ajudou o governo a brilhar com a estrondosa ideia de elaborar um código de conduta para referência futura. Pois, se fosse aplicado retroativamente, os membros do governo envolvidos teriam eticamente que ser demitidos logo nesse verão. A partir dessa altura as boas notícias não pareciam parar de chegar a Portugal.E o sen- timento de que nada de mal podia acontecer a Portugal, ao governo e aos portugueses em geral alastrou a todos os campeões nacionais. Mas afinal parece que os usos e costumes já não são o que eram.Vem agora o minis- tério público, um ano após a polémica, com interpretação legal diferente do socialmente aceite,para choque de muitos políticos.E logo no dia de aniversário dos campeões euro- peus de futebol. É quase socialmente inaceitável... mas pode ajudar a renovar o sentido de ética da sociedade portuguesa. Paulo Barradas, Expresso, 11 de julho de 2017, (disponível em http://expresso.sapo.pt; consultado a 11/07/2017) PROVA-MODELO – PROVA 2 5 10 15 20 25 30
  • 11. 371 PORTUGUÊS 12.o ANO PROVA-MODELO – PROVA 2 1. Os dois primeiros parágrafos têm um papel de (A) exemplificação. (B) contextualização. (C) ilustração. (D) indagação. 2. Entre as linhas 10-13, o autor refere-se às leis que (A) são promulgadas com chamadas de atenção que protegem casos específicos. (B) não são cumpridas por falta de fiscalização. (C) são promulgadas com cláusulas de fiscalização específica. (D) são cumpridas, mas sem aceitação social. 3. A frase presente nas linhas 14-16 tem por base (A) uma constatação científica. (B) uma evidência empírica. (C) um resultado estatístico. (D) uma verdade universal. 4. Nos dois últimos parágrafos do texto, Paulo Barradas considera a nova interpre- tação da lei feita pelo ministério público com (A) ironia relativamente à mudança do paradigma social. (B) esperança relativamente à permanência do paradigma ético. (C) desdém relativamente à mudança do paradigma político. (D) esperança relativamente à mudança do paradigma ético. 5. Na expressão «A famosa “cunha” ilustra bem a real dimensão» (linhas 15-16), os elementos destacados desempenham, respetivamente, as funções sintáticas de (A) modificador restritivo do nome (nos dois primeiros casos) e complemento direto (no terceiro). (B) modificador restritivo do nome, modificador e complemento indireto. (C) modificador restritivo do nome, modificador e complemento direto. (D) complemento do nome, modificador e complemento indireto. 6. Identifique a função sintática da oração destacada na sequência «Mas afinal parece que os usos e costumes já não são o que eram» (linha 29). 7. Classifique a oração iniciada por «que» (linha 10). 8pontos 8pontos 8pontos 8pontos 8pontos 8pontos 8pontos
  • 12. 372 PREPARAR O EXAME NACIONAL PROVA-MODELO – PROVA 2 GRUPO III Em várias das suas intervenções públicas, o Papa Francisco refere-se à «globalização da indiferença». Num texto bem estruturado, com um mínimo de duzentas e um máximo de trezentas pala- vras, defenda um ponto de vista pessoal sobre a problemática apresentada. Fundamente o seu ponto d e vista recorrendo, no mínimo, a dois argumentos, e ilustre cada um deles com, pelo menos, um exemplo significativo. 40pontos
  • 13. 373 PORTUGUÊS 12.o ANO PROVA-MODELO – PROVA 3 5 10 15 20 GRUPO I A Leia o excerto de O Ano da Morte de Ricardo Reis, de José Saramago. Agora, sai, urbanamente deu as boas-tardes, e agradecendo saiu pela porta da Rua dos Correeiros, esta que dá para a grande babilónia1 de ferro e vidro que é a Praça da Figueira, ainda agitada, porém nada que se possa comparar com as horas da manhã, ruidosas de gritos e pregões até ao paroxismo2 . Respira-se uma atmosfera composta de mil cheiros intensos, a couve esmagada e murcha, a excrementos de coelho, a penas de galinha escaldadas, a sangue, a pele esfolada. Andam a lavar as bancadas, as ruas interio- res, com baldes e agulheta3 , e ásperos piaçabas4 , ouve-se de vez em quando um arrastar metálico, depois um estrondo, foi uma porta ondulada que se fechou. Ricardo Reis rodeou a praça pelo sul, entrou na Rua dos Douradores, quase não chovia já, por isso pôde fechar o guarda-chuva, olhar para cima, e ver as altas frontarias de cinza parda, as fileiras de janelas à mesma altura, as de peitoril, as de sacada, com as monótonas can- tarias prolongando-se pelo enfiamento da rua, até se confundirem em delgadas faixas verticais, cada vez mais estreitas, mas não tanto que se escondessem num ponto de fuga, porque lá ao fundo, aparentemente cortando o caminho, levanta-se um prédio da Rua da Conceição, igual de cor, de janelas e de grades, feito segundo o mesmo risco, ou de mínima diferença, todos porejando sombra e humidade, libertando nos saguões5 o cheiro dos esgotos rachados, com esparsas6 baforadas de gás, como não haveriam de ter as faces pálidas os caixeiros que vêm até à porta das lojas, com as suas batas ou guarda- -pós7 de paninho cinzento, o lápis de tinta entalado na orelha, o ar enfadado de ser hoje segunda-feira e não ter o domingo valido a pena. A rua está calçada de pedra grossa, irregular, é um basalto quase preto onde saltam os rodados metálicos das carroças e onde, em tempo seco, não este, ferem lume as ferraduras das muares8 quando o arrasto da carga passa as marcas e a forças. José Saramago, O Ano da Morte de Ricardo Reis, 21.ª ed., Alfragide, Editorial Caminho, 2013, [cap. II], pp. 54-55 1. Comprove que existe deambulação geográfica, justificando a sua resposta com elementos textuais. 1 Babilónia: cidade grande e de ruas irregulares; confusão; desordem. 2 Paroxismo: ponto de maior intensidade; agonia antes da morte. 3 Agulheta: agulha grossa; tubo metálico. 4 Piaçabas: vassouras. 5 Saguões: pátios. 6 Esparsas: dispersas; soltas. 7 Guarda-pós: casaco que se veste por cima de um fato para o proteger da sujidade. 8 Muares: espécie de animal híbrido – burro, égua ou cavalo. Cotações 16pontos
  • 14. 374 PREPARAR O EXAME NACIONAL 2. Caracterize, com as suas próprias palavras, o espaço da cidade como representa- ção do século XX. 3. Evidencie a presença da intertextualidade José Saramago / Cesário Verde, comen- tando o recurso à enumeração e pontuação saramaguianas. 4. Explique o recurso à metáfora identificada em «A rua está calçada de pedra grossa, irregular, é um basalto quase preto». B Leia o excerto do poema «O sentimento dum ocidental», de Cesário Verde. I – Ave-Marias Nas nossas ruas, ao anoitecer, Há tal soturnidade1 , há tal melancolia, Que as sombras, o bulício2 , o Tejo, a maresia Despertam-me um desejo absurdo de sofrer. O céu parece baixo e de neblina, O gás extravasado enjoa-me, perturba; E os edifícios, com as chaminés, e a turba3 Toldam-se d’uma cor monótona e londrina. (…) Semelham-se a gaiolas, com viveiros, As edificações somente emadeiradas: Como morcegos, ao cair das badaladas, Saltam de viga em viga os mestres carpinteiros. Voltam os calafates4 , aos magotes5 , De jaquetão ao ombro, enfarruscados, secos; Embrenho-me, a cismar, por boqueirões6 , por becos, Ou erro pelos cais a que se atracam botes. Cesário Verde, Cânticos do Realismo – O Livro de Cesário Verde, (introd. Helena Carvalhão Buescu). Lisboa, INCM, 2015, pp. 122-123 1 Soturnidade: qualidade de ser triste ou sombrio. 2 Bulício: rumor; murmúrio; agitação. 3 Turba: multidão. 4 Calafates: operários. 5 Magotes: multidões. 6 Boqueirões: ruas ou travessas que vão dar ao cais, ao rio. 5 10 15 PROVA-MODELO – PROVA 3 16pontos 16pontos 8pontos
  • 15. 375 PORTUGUÊS 12.o ANO PROVA-MODELO – PROVA 3 5. Mostre como este excerto dá vida à representação da cidade e dos tipos sociais, apresentando transcrições que confirmem a sua resposta. 6. Explique em que medida o recurso a adjetivos e a verbos contribui para caracterizar o sujeito poético e o recurso à comparação serve o propósito de caracterizar as personagens que ele vê. C 7. Os contos do século XX comungam de um mesmo traço: o da brevidade narrativa. Escreva uma breve exposição sobre um dos contos que estudou, referindo duas caracterís- ticas que confirmem tal brevidade. A sua exposição deve incluir: • uma introdução ao tema; • um desenvolvimento no qual explicite as referidas características, fundamentando-as com, pelo menos, um exemplo significativo; • uma conclusão adequada ao desenvolvimento do tema. 16pontos 16pontos 16pontos
  • 16. 376 PREPARAR O EXAME NACIONAL PROVA-MODELO – PROVA 3 GRUPO II Leia o texto. A Bíblia de Frederico Lourenço Para mim, que sempre tive com Deus uma relação complicada, que tanto me zango com Ele, que às vezes sou tão injusto (ou talvez não, pode ser que em algumas ocasiões a razão esteja do meu lado) que me apetece, quando me interrogam acerca da nossa relação, responder como Voltaire (– Cumprimentamo-nos mas não nos falamos) mas este trabalho de Frederico Lourenço fez-me aproximar mais d’Ele e de Cristo. Este livro, a tradução da Bíblia por Frederico Lourenço, é um dos mais importantes publicados em Portugal nos últimos muitos anos. Repito: um dos mais importantes publicados em Portugal nos últimos muitos anos. Como leitor tenho de agradecer a Francisco José Viegas que para além de escritor de mérito é uma das figuras fulcrais da nossa Terra no que à literatura diz respeito, quer como difusor dela quer como diretor de revistas literárias, quer como crítico, quer como editor. Podemos discordar dele: não pode ser-nos indiferente e, coisa muito rara, é intelectualmente honesto. Com a publi- cação desta Bíblia assina indelevelmente o seu nome no panorama literário português. E agora, se me permitem, vou falar um pouco da obra em apreço. Eu sou um colecionador e leitor de Bíblias. Devo ter duas dezenas nas línguas em que consigo ler, julgo ter estudado um número razoável de versões do texto sagrado e de comentários a ele, e enche-me de orgulho dizer que não conheço outro trabalho da grandeza deste e da sua altíssima qualidade. Devemos a Frederico Lourenço um texto excecional, de seriedade e talento imensos. Estou muito à vontade para falar disto por- que não conheço o autor, nunca o encontrei, nunca falei com ele, vi, por junto, uma fotografia sua no jornal. Não li os seus romances, não sabia sequer que os tinha escrito, li dois volumes seus de estudos sobre autores gregos que me pareceram sérios e muito bons, apreciei principalmente o que escreveu sobre Eurípedes, um dos meus diletos (convém ter imensos diletos para não ter nenhum) e a minha amiga Sara Belo Luís ofe- receu-me o primeiro e depois o segundo tomo da sua tradução da Bíblia. A qualidade deste feito é excecional. Frederico Lourenço consegue dar-nos a beleza única deste monumento único com uma surpreendente fidelidade e uma capacidade criativa em tudo invulgar. Não encon- trei nenhum livro comparável a este, em primeiro lugar no que à escrita diz respeito, transmitindo-nos tanto quanto posso avaliar a sua beleza e qualidade ímpares e acom- panhando-as de uma coleção de notas de espantosa elegância, erudição e humildade que honram ainda mais o seu Autor. A orgulhosa modéstia de Frederico Lourenço, o respeito absoluto e a compreensão orgânica do material fazem desta Obra qualquer coisa de único no panorama intelectual português e do homem que a conseguiu uma figura de cumeeira1 . Nunca tinha, que me lembre, falado assim de um Livro e de um Escritor. (…) 5 10 15 20 25 30 35
  • 17. 377 PORTUGUÊS 12.o ANO PROVA-MODELO – PROVA 3 Eu acho que Frederico Lourenço foi tocado pela Graça e invejo-o por isso, e tenho ciúmes por isso só de imaginar que Deus o prefere a mim, mesmo achando que tem boas razões para tal. Esta Bíblia possui todas as características para perdurar e creio que o autor deste livro português poderá dizer, como Bocage Isto é meu, isto não morre que, aqui para nós, é o que costumo pensar do que escrevo. Percebi também que Frederico Lourenço é filho de M.S. Lourenço, que tão pouco conheci mas de quem li alguma coisa. Estava a lembrar-me de uma obra chamada O guardador de automóveis, encontrada na adolescência, de que ainda sei alguns versos de cor, por exemplo «aceito Deus uno e trino mas não aceito Deus cabeleireiro de senhoras» ou de um outro que me impressionou muito e continua a impressionar-me: «Porque estais tristes: não me reconheceis?» Peço perdão se cito mal mas é assim que os recordo. Sobretudo este último, que me tem acompanhado ao longo dos anos por razões que não sei ou, antes, creio que sei mas não vou mencioná-las. O importante é esta Bíblia, um grande livro que decerto perdurará muitos, muitos anos na reduzida prateleira da Grande Arte da nossa Literatura, pelo seu rigor, pela sua beleza, pela sua absoluta e luminosa fidelidade. Como português agradeço-lhe do coração. Como escritor agradeço-lhe do fundo da alma. A Arte não é um desporto de com- petição, a Casa do Pai tem muitas moradas. E sempre achei que a grandeza dos outros aumentava o meu tamanho: muito obrigado por me ter dado alguns centímetros a mais. Agora vejo mais longe. E, além disso, ajudou-me a sentir orgulho no meu trabalho. Isto é meu, isto não morre. Bocage, tradutor do meu querido Ovídio, deve estar cheio de peneiras do Frederico Lourenço. António Lobo Antunes, «A Bíblia de Frederico Lourenço», in Visão, 22 de junho de 2017 (disponível em http://visao.sapo.pt; consultado a 22/06/2017; texto adaptado) 1. No primeiro parágrafo, António Lobo Antunes refere que a sua relação com Deus sempre foi (A) complexa, mas a tradução de Frederico Lourenço veio torná-la simples. (B) complexa, mas Frederico Lourenço deu-lhe a conhecer um outro olhar sobre a figura de Cristo. (C) de puro cumprimento, sem diálogo, mas a tradução de Frederico Lourenço levou-o a estar mais perto de Deus-Pai e Deus-Filho. (D) de puro cumprimento, mas a tradução de Frederico Lourenço levou-o a uma relação mais simples com Deus-Pai e Deus-Filho. 2. No terceiro parágrafo, o escritor (A) salvaguarda a sua opinião sobre o tradutor com o facto de nunca ter privado com ele. (B) explica que tem autonomia para criticar porque nunca é parcial nos seus juízos. (C) salvaguarda a sua opinião sobre a tradução porque não conhece outras. (D) salvaguarda a sua opinião sobre o tradutor com o facto de ela se basear na qualidade do editor. 1 Cumeeira: cume, topo. 40 45 50 55 8pontos 8pontos
  • 18. 378 PREPARAR O EXAME NACIONAL PROVA-MODELO – PROVA 3 3. No quinto parágrafo, Lobo Antunes exalta as seguintes qualidades do tradutor: (A) compreensão do texto grego, capacidade tecnológica, modéstia e graciosidade. (B) fé, habilidade estética, modéstia e graciosidade. (C) fé, criatividade, imodéstia e inspiração divina. (D) compreensão linguística e espiritual do texto, habilidade estética, humildade e inspi- ração divina. 4. Entre as linhas 42 e 52, Lobo Antunes rememora (A) obras do pai do tradutor para explicar o talento do filho. (B) obras de M.S. Lourenço para o exaltar relativamente ao filho. (C) obras de M.S. Lourenço, mas depressa abandona essa divagação e volta ao assunto central. (D) obras do pai do tradutor para exaltar a superioridade do filho. 5. A referência a Bocage serve para (A) mostrar a inveja de Lobo Antunes para com Frederico Lourenço. (B) simbolizar o orgulho dos escritores portugueses para com esta obra de Frederico Lou- renço. (C) contrariar a opinião de Lobo Antunes sobre esta obra de Frederico Lourenço. (D) simbolizar a qualidade de todas as traduções feitas por intelectuais portugueses. 6. Classifique a oração «que me parecerem muito sérios e bons» (linhas 22-23). 7. Identifique a função sintática do pronome presente em «Frederico Lourenço consegue dar-nos a beleza única deste monumento único» (linha 27). GRUPO III É comummente proferida a ideia de que a Música se reveste de uma linguagem uni- versal. Num texto bem estruturado, com um mínimo de duzentas e um máximo de trezentas pala- vras, defenda um ponto de vista pessoal sobre a ideia apresentada. Fundamente o seu ponto de vista recorrendo, no mínimo, a dois argumentos, e ilustre cada um deles com, pelo menos, um exemplo significativo. 8pontos 8pontos 8pontos 8pontos 8pontos 40pontos
  • 19. 379 PORTUGUÊS 12.o ANO PROVA-MODELO – PROVA 4 5 10 15 20 25 GRUPO I A Leia o excerto de «George», de Maria Judite de Carvalho. Já não sabe, não quer saber, quando saiu da vila e partiu à descoberta da cidade gran- de, onde, dizia-se lá em casa, as mulheres se perdem. Mais tarde partiu por além terra, por além mar. Fez loiros os cabelos, de todos os loiros, um dia ruivos por cansaço de si, mais tarde castanhos, loiros de novo, esverdeados, nunca escuros, quase pretos, como dantes eram. Teve muitos amores, grandes e não tanto, definitivos e passageiros, sim- ples amores, casou-se, divorciou-se, partiu, chegou, voltou a partir e a chegar, quantas vezes? Agora está – estava –, até quando?, em Amsterdão. Depois de ter deixado a vila, viveu sempre em quartos alugados mais ou menos modestos, depois em casas mobiladas mais ou menos agradáveis. As últimas foram mesmo francamente confortáveis. Vives numa casa mobilada sem nada teu? Mas deve ser um horror, como podes? teria dito a mãe, se soubesse. Não o soube, porém. As cartas que lhe escrevia nunca tinham sido minuciosas, de resto detestava escrever cartas e só muito raramente o fazia. Depois o pai morreu e a mãe logo a seguir. Uma casa mobilada, sempre pensou, é a certeza de uma porta aberta de par em par, de mãos livres, de rua nova à espera dos seus pés. As pessoas ficam tão estupidamente presas a um móvel, a um tapete já gasto de tantos passos, aos bibelots1 acumulados ao longo das vidas e cheios de recordações, de vozes, de olhares, de mãos, de gente, enfim. Pega-se numa jarra e ali está algo de quem um dia apareceu com rosas. Tem alguns livros, mas poucos, como os amigos que julga sinceros, sê-lo-ão? Aos outros livros, dá-os, vende-os a peso, que leve se sente depois! – Parece-me que às vezes fazes isso, enfim, toda essa desertificação, com esforço, com sofrimento – disse-lhe um dia o seu amor de então. – Talvez – respondeu –, talvez. Mas prefiro não pensar no caso. Queria estar sempre pronta para partir sem que os objetos a envolvessem, a seguras- sem, a obrigassem a demorar-se mais um dia que fosse. Disponível, pensava. Senhora de si. Para partir, para chegar. Mesmo para estar onde estava. Maria Judite de Carvalho, «George», in Maria Isabel Rocheta & Serafina Martins (coord.), Conto Português [séculos XIX-XXI]: Antologia Crítica, vol. 3, Porto, Edições Caixotim, 2011, pp. 116-117 1 Bibelots: pequenos objetos que servem para adornar mobília ou partes da casa.
  • 20. 380 PREPARAR O EXAME NACIONAL 1. Mostre que, entre as linhas 8 e 13, percebemos a relação de oposição entre George e a família. 2. Esclareça o papel do discurso direto da Mãe e do diálogo de George com o seu «amor de então» na tricotomia realidade / memória / imaginação. 3. Explique em que medida o conteúdo das linhas 14 a 26 revela a complexidade da natureza de George. 4. Explicite o valor expressivo do pleonasmo presente na última frase do excerto. B Leia o excerto de A Ilustre Casa de Ramires, de Eça de Queirós. Sem temor, erguido sobre o travesseiro, Gonçalo não duvidava da realidade maravi- lhosa! Sim! Eram os seus avós Ramires, os seus formidáveis avós históricos, que, das suas tumbas1 dispersas corriam, se juntavam na velha casa de Santa Ireneia nove vezes secular – e formavam em torno do seu leito, do leito em que ele nascera, como a assembleia majestosa da sua raça ressurgida. (…) Então, por aquela ternura atenta do mais poético dos Ramires, Gonçalo sentiu que a sua ascendência2 toda o amava – e da escuridão das tumbas dispersas acudira para o velar e socorrer na sua fraqueza. Com um longo gemido, arrojando a roupa, desafogou, dolorosamente contou aos seus avós ressurgidos a arrenegada3 Sorte que o combatia e que sobre a sua vida, sem descanso, amontoava tristeza, vergonha e perda! E eis que subitamente um ferro faiscou na treva, com um abafado brado: «−Neto, doce neto, toma a minha lança nunca partida!...» E logo o punho duma clara espada lhe roçou o peito, com outra grave voz que o animava: «−Neto, doce neto, toma a espada pura que lidou em Ourique!...» (…) Como sombras levadas num vento transcendente, todos os avós formidáveis perpassa- vam – e arrebatadamente lhe estendiam as suas armas,rijas e provadas armas,todas,através de toda a história… (…) «− Oh neto, toma as nossas armas e vence a Sorte inimiga!...» Eça de Queirós, A Ilustre Casa de Ramires, Lisboa, Imprensa Nacional Casa da Moeda, 2014, [cap. X], pp. 296-297 1 Tumbas: túmulos; caixões. 2 Ascendência: linha de geração anterior. 3 Arrenegada: azarenta; contrária. 5 10 15 PROVA-MODELO – PROVA 4 Cotações 16pontos 16pontos 16pontos 8pontos
  • 21. 381 PORTUGUÊS 12.o ANO PROVA-MODELO – PROVA 4 5. Caracterize psicologicamente Gonçalo Mendes Ramires e os seus «avós históri- cos», evidenciando a complexidade do protagonista. 6. Compare, servindo-se das suas próprias palavras, o binómio passado/presente nos textos A e B. C 7. Na obra O Ano da Morte de Ricardo Reis, José Saramago cria um verdadeiro triân- gulo amoroso, que culmina num final infeliz. Escreva uma breve exposição sobre esta triangulação amorosa infeliz, referindo dois aspetos que a confirmem. A sua exposição deve incluir: • uma introdução ao tema; • um desenvolvimento no qual explicite os citados aspetos, fundamentando-os com, pelo menos, um exemplo significativo; • uma conclusão adequada ao desenvolvimento do tema. 16pontos 16pontos 16pontos
  • 22. 382 PREPARAR O EXAME NACIONAL PROVA-MODELO – PROVA 4 GRUPO II Leia o texto. Histórias e desabafos sobre o iPhone Com todas as suas fraquezas tornou-se o telefone mais famoso no dia em que Steve Jobs o apresentou ao mundo. Um gesto, chamaram-lhe pinch. Afastamos os dedos e as coisas ficam maiores, apro- ximamos e lá vão elas para o seu sítio. Um movimento, o discreto balanço dos gráficos no ecrã do iPhone que faz com que pareça que estamos mesmo a interagir com objetos físicos. O teclado virtual era odiado e gozado por quase todos. É impossível escrever naquilo, imitavam-se os esforços dos fãs, risada certa. A máquina fotográfica de 2 Mg não gravava vídeo. Não tinha 3G, o que já era claramente uma desvantagem técnica em 2007. Um preço tão absurdo que poucas semanas depois a Apple cortava 100 dólares, e via-se na obrigação de indemnizar todos os que tinham pago sem esse desconto, ofen- didos com o corte abrupto em tão pouco tempo. Todos falavam dele e o sucesso foi relativo. Era uma máquina com inovações, sem dúvida, mas tecnicamente fraca em muitos aspetos, em relação ao que já se usava. Com todas as suas fraquezas tornou-se o telefone mais famoso no dia em que Steve Jobs o apresentou ao mundo. O descarado escolheu um dia de janeiro em que decorria a CES, a maior feira de ele- trónica de consumo do mundo. Todos os jornalistas que interessavam nesta área estavam em Las Vegas a ver as novidades. Todos não, Jobs escolheu bem uns poucos e convenceu- -os, um a um, a irem ver uma coisa nova, supostamente sem lhes dizer sequer o que era. Ainda hoje os que não aceitaram se arrependem e são de certa forma gozados pelos que correram o risco. Só alguns anos depois teriam a certeza de ter de facto assistido a um momento histórico. Vale a pena ver essa apresentação, Jobs no seu melhor. Quando estava a editar a reportagem dos 10 anos para a SIC e chegou o momento em que é revelado o nome, a Vanda Paixão, que estava a trabalhar comigo, disse − até arrepia. E 10 anos depois até arrepia. Steve Jobs vai num crescendo, criando expectativa, falando do tempo que levou, da importância que vai ter, começa por dar a entender que vai mostrar três coisas novas, um telefone, um iPod (leitor de música) e um navegador revolucionário para a internet. Ao longo do discurso leva facilmente a pequena multidão a concluir por si própria que está a falar de um único aparelho. Quando revela o nome estão prontos para o delírio, além das palmas os olhos dos convidados brilham, os sorrisos parecem paralisados em grande parte daquelas caras. O novo aparelho fez correr tanta tinta pelo que trazia de novo que houve gente a acampar dias à porta das lojas para estar entre os primeiros que foram comprar no dia 29 de junho nos Estados Unidos. Hoje, estas filas, apesar do que se vê na TV, não têm nada que ver com as originais. O que Jobs e a sua equipa fizeram foi repensar o interface, a forma como nos rela- cionamos com a máquina. Criaram uma relação táctil com objetos virtuais que têm 5 10 15 20 25 30 35
  • 23. 383 PORTUGUÊS 12.o ANO PROVA-MODELO – PROVA 4 vindo a aperfeiçoar, os iPhones e até os computadores de hoje reagem à intensidade do nosso toque e respondem com toques e vibrações na nossa pele. Na tal apresentação é notória a forma como fala das funções de leitor, diz que é como se tocássemos na música que vamos ouvir. Perceberam a importância que a navegação na internet iria ter. Só há muito pouco tempo os browsers de outros telefones começaram a aproximar-se do que o iPhone trazia. Navegar lado a lado com um iPhone e outro qualquer aparelho fazia a outra marca parecer uma anedota. Claro que hoje já não é assim. O golpe de génio seguinte seria a abertura da loja aos programadores. E de que maneira. Qualquer tipo capaz de programar umas coisas, que fizesse um programa interessante, poderia, quando muito, ganhar 30% do preço de venda. Um pouco como acontece com os livros, mas com os livros é pior ainda. A Apple inverteu a coisa e passou a dar 70% aos criadores. Além disso, facilitou o processo e criou ferramentas que ajudavam. Foi só ao fim de um ano que os programadores puderam então vender os seus pequenos programas aos utilizadores de iPhone. Isto provocou uma explosão de funcionalidades e de escolhas. Começaram nas 500 aplicações, depois lembro-me do dia em que só de meteorologia já existiam 400 aplicações diferentes. A certa altura houve uma guerra com a Apple e o Android a competir no número de apps disponível no seu sistema. Hoje já terão ultrapassado os 2 milhões e 200 mil. E o Windows Mobile não descola em boa parte porque os programadores não investem no sistema. Os designers da Apple acertaram em tanta coisa que obrigaram todo o mercado a seguir. É verdade, a Apple copia muito do que o Android vai fazendo de inovador e o inverso também. Passam a vida nisso para grande satisfação dos fãs de um ou outro sistema que assim se podem insultar à vez. A verdade é que todos, todos os telefones que hoje usamos são um ecrã tátil num corpo o mais fino possível. Se olharem para as fotografias dos telefones daquele tempo verão uma maravilhosa profusão de cores e de design, redondos, em meia-lua, quadrados, com teclas grandes ou teclas pequenas, com teclados partidos ao meio, em concha, em tablet, metade de cada lado. Hoje caímos numa triste monotonia, porque os designers de Jobs tinham razão e ninguém inventou coisa melhor. Se está a pensar no último Blackberry que para aí apareceu, é apenas a exceção necessária para confirmar a regra que acabei de enunciar. A riqueza dos apare- lhos de hoje está nos programas que correm, cada um usa o que precisa e o que gosta, dos milhões disponíveis, a preços ridículos, quando não gratuitos. Só um ano depois chegaria a Portugal, com a versão 3G. Dez jornalistas portugueses tiveram que assinar um contrato que quase parecia um pacto para terem a possibilidade de conhecer a máquina como deve ser durante 10 dias, antes do lançamento. As notícias aqui em Portugal sobre as novas versões são feitas como se estivéssemos a lutar contra a marca, a tentar mesmo assim fazer um trabalho decente sem os instrumentos que têm até os bloggers em Espanha. É um direito deles, claro, mas vamos fazendo porque a mesma marca que tomou esta decisão soube tornar-se quase obrigatória nas notícias. Uma escolha que confesso que me custa a entender. Lourenço Medeiros, «Histórias e desabafos sobre o iPhone», in Visão, 5 de julho de 2017 (disponível em http://visao.sapo.pt/; consultado a 05/07/2017; texto adaptado) 40 45 50 55 60 65 70 75
  • 24. 384 PREPARAR O EXAME NACIONAL PROVA-MODELO – PROVA 4 1. As frases 3 e 4 do texto (A) explicam as funcionalidades do «pinch». (B) criticam as funcionalidades do «pinch». (C) elogiam as funcionalidades do «pinch». (D) explicam as vantagens e desvantagens do «pinch». 2. Entre as linhas 16 e 25, Lourenço Medeiros (A) descreve Steve Jobs. (B) caracteriza o novo iPhone de Steve Jobs. (C) descreve a estratégia de apresentação do iPhone por Steve Jobs. (D) caracteriza a relação entre Steve Jobs e os jornalistas. 3. Entre as linhas 36 e 44, o autor exalta (A) as funcionalidades técnicas do iPhone de Steve Jobs. (B) as funcionalidades químicas do iPhone de Steve Jobs. (C) a relação elétrica que o utilizador tem com o iPhone de Steve Jobs. (D) a relação física que o utilizador tem com o iPhone de Steve Jobs. 4. O conteúdo das linhas 45 a 56 integra a relação entre o novo software do iPhone e (A) os programadores e seus efeitos. (B) a Apple e seus efeitos. (C) o Android e seus efeitos. (D) o Windows Mobile e seus efeitos. 5. O último parágrafo do texto refere-se (A) às facilidades de apresentação deste iPhone em Portugal. (B) às desvantagens da apresentação deste iPhone em Portugal. (C) às contingências da apresentação deste iPhone em Portugal. (D) às contingências da comercialização deste iPhone em Portugal. 6. Classifique a oração destacada em «Uma escolha que confesso que me custa a entender.» (linha 77). 7. Identifique as funções sintáticas dos elementos destacados em «Dez jornalis- tas portugueses tiveram que assinar um contrato que quase parecia um pacto» (linhas 70-71). GRUPO III A Idade Média é também conhecida como a «Idade das Trevas». Num texto bem estruturado, com um mínimo de duzentas e um máximo de trezentas pala- vras, defenda um ponto de vista pessoal sobre a ideia apresentada. Fundamente o seu ponto de vista recorrendo, no mínimo, a dois argumentos, e ilustre cada um deles com, pelo menos, um exemplo significativo. 8pontos 8pontos 8pontos 8pontos 8pontos 8pontos 8pontos 40pontos
  • 25. 385 PORTUGUÊS 12.o ANO GRUPO I A Leia o poema de Ana Luísa Amaral. Epopeias de luz I Queria um poema de epopeia e luz, escrito às duas da tarde e num café, um espelho à minha esquerda, o café amarelo (que é cor de que não gosto, mas que brilha na tarde adolescente) (…) II Mas o Adamastor era uma rocha e as sereias não há (que as provas: mais) Minha pobre palavra que traí: Antes tê-la deixado contida nessa linha a seduzir, antes tê-la guardado no centro do olhar, não lhe permitir ver espelhos de sol, não lhe falar de adolescência e luz, navegações e sonhos quinhentistas Que depois: a conquista, o coração pesado de ambições, tortura de poderes Minha pobre palavra que se julgou, por minha culpa, grande, e que às duas da tarde e num café, se confundiu no espelho, tomou por ouro o amarelo em cor, e se perdeu de amores por réplicas de olhar PROVA-MODELO – PROVA 5 5 10 15 20 25 30 Ana Luísa Amaral, Inversos, poesia 1990-2010, Lisboa, D. Quixote, 2010, pp. 185-189
  • 26. 386 PREPARAR O EXAME NACIONAL PROVA-MODELO – PROVA 5 1. Explique o conteúdo do excerto do poema de Ana Luísa Amaral, a partir do contras- te existente entre «um poema de epopeia / e luz» e «a conquista, / o coração pesado de ambições, / tortura de poderes». 2. Explicite a arte poética, tendo em conta a relação que, neste poema, existe entre «poeta» e «palavra». 3. Esclareça o sentido dos dois últimos versos. 4. Evidencie de que forma este poema é um exemplo claro da representação do contem- porâneo. B Leia a estância seguinte do canto IX d'Os Lusíadas. 93 E ponde na cobiça um freio1 duro, E na ambição também, que indignamente Tomais mil vezes, e no torpe2 e escuro Vício da tirania infame3 e urgente; Porque essas honras vãs; esse ouro puro, Verdadeiro valor não dão à gente. Milhor é merecê-los sem os ter, Que possuí-los sem os merecer. Luís de Camões, Os Lusíadas (leitura, prefácio e notas de Álvaro Júlio da Costa Pimpão), 4.ª ed., Lisboa, Ministério dos Negócios Estrangeiros/Instituto Camões, 2000, p. 410 5. Sintetize as críticas que Camões tece aos portugueses neste momento de reflexão. 6. Estabeleça uma comparação entre a mensagem desta estância e a do Texto A. C 7. Em O Ano da Morte de Ricardo Reis, de José Saramago, existe uma relação de intertextualidade com a poesia de Cesário Verde. Escreva uma breve exposição sobre a referida intertextualidade Saramago / Cesário, referindo duas características que a confirmem. A sua exposição deve incluir: • uma introdução ao tema; • um desenvolvimento no qual explicite as referidas características, fundamentando-as com, pelo menos, um exemplo significativo; • uma conclusão adequada ao desenvolvimento do tema. 5 1 Freio: peça metálica presa às rédeas de um cavalo para o controlar/conduzir. 2 Torpe: desonesto. 3 Infame: vil; imoral. Cotações 16pontos 16pontos 16pontos 8pontos 16pontos 16pontos 16pontos
  • 27. 387 PORTUGUÊS 12.o ANO PROVA-MODELO – PROVA 5 GRUPO II Leia o texto. Há uma nova história da chegada dos humanos à Austrália Uma equipa de arqueólogos escavou as camadas mais profundas de um abrigo situado no norte da Austrália, onde já tinham sido encontrados vestígios importantes da mais antiga ocupação humana no continente, e encontrou novas provas que reescrevem a história dos aborígenes. Segundo o artigo publicado na revista Nature, a chegada dos humanos à Austrália aconteceu há 65 mil anos. As anteriores estimativas sugeriam que este evento tinha acontecido mais tarde: algo entre há 47 e 60 mil anos. Os trabalhos de escavações na camada mais funda do abrigo de rocha decorreram em 2015 e resultaram na recolha de mais de 11 mil artefactos de pedra que se encontravam no sítio de Madjedbebe. Desta vez, foram encontradas ferramentas de pedra que desven- dam alguns detalhes do modo de vida destes primeiros humanos a chegar à Austrália. A equipa descobriu machados de pedra, ferramentas usadas para moagem de sementes antigas e setas de pedra delicadamente esculpidas, entre outros achados. «O sítio contém a tecnologia de machados de pedra mais antiga do mundo, as fer- ramentas de moagem de sementes mais antigas conhecidas na Austrália e evidências de setas de pedra finamente esculpidas, que podem ter servido de pontas de lança», refere Chris Clarkson, arqueólogo da Universidade de Queensland que liderou as escavações e principal autor do artigo, num comunicado da Corporação Aborígene Gundjeihmi sobre o estudo. Para a rigorosa datação, os arqueólogos avaliaram cuidadosamente a posição dos arte- factos, garantindo que correspondem às idades dos sedimentos que os envolviam. De acordo com um comunicado da Nature sobre o artigo, o trabalho de datação confirmou a integridade estratigráfica (relacionada com as camadas de rochas e sedimentos) do local, «comprovando um padrão de aumento da idade com profundidade e fornecendo idades que são mais precisas do que antes».A parte mais profunda da escavação terá cerca de 65 mil anos, concluiu a equipa de especialistas, antecipando o tempo da primeira ocupação na região que estava estabelecido até agora. «Os resultados estabelecem uma nova idade mínima para a dispersão de humanos modernos fora de África e em todo o sul da Ásia.Além disso, as descobertas indicam que os humanos modernos chegaram ao continente antes da extinção da megafauna austra- liana, um evento em que a participação dos humanos tem sido questionada», refere ainda o comunicado. Andrea Cunha Freitas, «Há uma nova história da chegada dos humanos à Austrália», in Público, 20 de julho de 2017 (disponível em https://www.publico.pt/; consultado a 20/07/2017) 5 10 15 20 25 30
  • 28. 388 PREPARAR O EXAME NACIONAL PROVA-MODELO – PROVA 5 1. A primeira frase do texto (A) revela estudos da História da Arte que motivam a atualização da informação sobre a fisionomia dos autóctones australianos. (B) critica a recente descoberta que motiva uma atualização da história dos autóctones australianos. (C) explica o recente estudo sobre os autóctones australianos. (D) revela a recente descoberta que motiva uma atualização da história dos autóctones australianos. 2. A relação existente entre a terceira e a quarta frases do texto é de (A) realce. (B) contraste. (C) semelhança. (D) igualdade. 3. De acordo com o segundo parágrafo, as ferramentas encontradas são de natureza (A) bélica, agrícola e requintada. (B) piscatória, agrícola e requintada. (C) estética, agrícola e requintada. (D) estética, piscatória e bélica. 4. Em relação ao segundo parágrafo, o terceiro apresenta-se como (A) empírico. (B) crítico. (C) subjetivo. (D) confirmador. 5. Entre as linhas 19 e 26, percebemos que a datação dos artefactos (A) corresponde às informações geológicas já conhecidas. (B) corresponde às informações arqueológicas já conhecidas. (C) contraria as informações geológicas já conhecidas. (D) corresponde às informações biológicas já conhecidas. 6. Identifique o(s) tipo(s) de deixis presente na sequência «onde já tinham sido encontrados vestígios importantes da mais antiga ocupação humana no conti- nente» (linhas 2-3). 7. Indique o valor da oração subordinada adjetiva relativa «que podem ter servido de pontas de lança» (linha 15). 8pontos 8pontos 8pontos 8pontos 8pontos 8pontos 8pontos
  • 29. 389 PORTUGUÊS 12.o ANO PROVA-MODELO – PROVA 5 GRUPO III Apesar de as federações desportivas o negarem, o investimento financeiro no Futebol é claramente superior ao que é dado aos outros desportos/modalidades. Num texto bem estruturado, com um mínimo de duzentas e um máximo de trezentas pala- vras, defenda um ponto de vista pessoal sobre a ideia apresentada. Fundamente o seu ponto de vista recorrendo, no mínimo, a dois argumentos, e ilustre cada um deles com, pelo menos, um exemplo significativo. 40pontos
  • 30. 390 PREPARAR O EXAME NACIONAL GRUPO I A Leia o poema de Ruy Belo. Relatório e contas Setembro é o teu mês, homem da tarde anunciada em folhas como uma ameaça Ninguém morreu ainda e tudo treme já Ventos e chuvas rondam pelos côncavos dos céus e brilhas como quem no próprio brilho se consome Tens retiradas hábeis, sabes como a maçã se arredonda e se rebola à volta do que a rói Há uvas há o trigo e o búzio da azeitona asperge1 em leque o som inabalável nos leves ondulados e restritos renques2 das mais longínquas oliveiras conhecidas Poisas sólidos pés sobre tantas traições e no entanto foste jovem e tinhas quem sinceramente acreditasse em ti A consciência mói-te mais que uma doença reúnes em redor da casa equilibrada restos de rebanhos e voltas entre estevas3 pelos múltiplos caminhos Há fumos névoas noites coisas que se elevam e dispersam regressas como quem dependurado cai da sua podridão de pomo4 Reconheces o teu terrível nome as rugas do teu riso começam já então a retalhar-te a cara Despedias poentes por diversos pontos realmente És aquele que no maior número possível de palavras nada disse Comprazes-te5 contigo quando o próprio sol desce sobre o teu pátio e passa tantas mãos na pele dos rostos que tiveste Ruy Belo, Boca Bilingue, Porto, Assírio & Alvim, 2016, p. 65 1. Explicite a relação entre a Natureza e aVida do Ser Humano, socorrendo-se de cita- ções textuais. PROVA-MODELO – PROVA 6 5 10 15 20 1 Asperge: borrifa; espalha. 2 Renques: filas. 3 Estevas: arbustos. 4 Pomo: fruto carnudo. 5 Comprazes-te: congratulas-te; regozijas-te; orgulhas-te. Cotações 16pontos
  • 31. 391 PORTUGUÊS 12.o ANO PROVA-MODELO – PROVA 6 5 10 15 20 2. Evidencie a presença de preocupações metafísicas a partir da vivência física, trans- crevendo as sequências textuais que confirmem a sua resposta. 3. Selecione vocábulos ao serviço da ideia de velhice e aproximação da morte. 4. Explique o título do poema. B Leia o seguinte excerto de Auto da Feira, de Gil Vicente. Entra Roma cantando: Roma (…) Vejamos se nesta feira, que Mercúrio aqui faz acharei a vender paz que me livre da canseira em que a fortuna me traz. (…) [Roma falando com o Diabo] Porque a troco do amor de Deos te comprei mentira e a troco do temor que tinha da sua ira me deste o seu desamor1 . E a troco da fama minha e santas prosperidades me deste mil torpidades2 e quantas virtudes tinha te troquei polas maldades. Serafim Ca3 se vós a paz quereis senhora sereis servida e logo a levareis a troco de santa vida (…) Gil Vicente, As Obras de Gil Vicente (direção científica de José Camões), Lisboa, INCM, 2001, pp. 167-168 1 Desamor: aborrecimento; indiferença. 2 Torpidades: cruezas, crueldades. 3 Ca: porque. 16pontos 16pontos 8pontos
  • 32. 392 PREPARAR O EXAME NACIONAL PROVA-MODELO – PROVA 6 5. Tendo em conta o conteúdo dos versos 1 a 17, explique de que forma esta per- sonagem se assume representação alegórica, socorrendo-se de transcrições que confirmem a sua resposta. 6. Considerando a intervenção do Serafim, esclareça a perspetivação metafísica/ religiosa típica de Gil Vicente. C 7. Na poesia de Fernando Pessoa ortónimo, encontramos a temática da nostalgia da infância. Escreva uma breve exposição sobre esta temática, referindo duas características que a consigam espelhar. A sua exposição deve incluir: • uma introdução ao tema; • um desenvolvimento no qual explicite as referidas características, fundamentando-as com, pelo menos, um exemplo significativo; • uma conclusão adequada ao desenvolvimento do tema. 16pontos 16pontos 16pontos
  • 33. 393 PORTUGUÊS 12.o ANO PROVA-MODELO – PROVA 6 GRUPO II Leia o texto. Estudos dizem que viajar pode ser o segredo para uma vida mais longa Será que o facto de viajar faz com que tenha uma vida mais longa? Há quem diga que sim. Quem tenta prová-lo é June Scott, uma apaixonada por viagens com 86 anos. Quando lhe perguntam onde vive, a resposta, em tom de brincadeira, é simples – «esta manhã ou em viagem?». June já visitou os sete continentes e 87 países e promete não parar.A sua casa fica em Illinois, nos Estados Unidos, e é para lá que vai quando regressa de viagem.As suas últi- mas paragens foram a Palestina e Israel, depois de uma passagem por Cuba. Em dezem- bro, teve uma experiência a que chamou única: dormiu numa tenda no maior deserto de areia do mundo – o Rub‘ alKhali, que abrange áreas da Arábia Saudita, de Omã, dos Emirados Árabes Unidos e do Iémen −, muitas vezes considerado um dos lugares menos explorados do planeta. E, no verão passado, sobrevoou a Costa dos Esqueletos, na Namí- bia, num pequeníssimo avião. Mas June não é só uma avó com um passaporte recheado – é uma das participantes de um estudo sobre «Super Aging», da Universidade Northwestern, em Illinois. «Super Aging» é um termo que se aplica ao «bom envelhecimento»,isto é,à maneira de envelhe- cer sem perder capacidades mentais ou de memória. Os «SuperAgers» (termo aplicado pelo neurologista Marsel Mesulam) são idosos cuja memória e atenção não estão sim- plesmente acima da média para a idade,mas equivalem a pessoas quatro ou cinco décadas mais novas. À medida que a maioria dos seres humanos envelhece,os seus cérebros vão encolhen- do,o que leva a uma perda das capacidades intelectuais e cognitivas.«Pensa-se que a atro- fia contribui, em parte, para os momentos de esquecimento que os idosos experienciam durante o envelhecimento», afirma Emily Rogalski, doutorada em Filosofia e diretora do estudo. Pelo contrário, os SuperAgers como June perdem menos volume de cérebro – um estudo descobriu que, num período de 18 meses, as pessoas mais velhas normais perdem duas vezes mais volume no córtex (a área do cérebro ligada ao pensamento crítico) do que os SuperAgers. Por outras palavras, o cérebro de June é considerado mais jovem do que ela, com certas partes semelhantes aos cérebros de pessoas de cinquenta anos. Lem- bre-se que June tem 86. Mas afinal o que têm as viagens a ver com o caso? June Scott dir-lhe-á que as viagens a mantêm viva e efetivamente mais nova: «Sou uma pessoa curiosa. Quero aprender ao longo da minha vida, e as viagens tornam a minha vida muito mais interessante», afirmou em entrevista à Condé NastTraveler. Durante o verão, June e a família não alugavam, como muitos outros, uma casa na praia para as crianças poderem brincar. Ela, o marido e os filhos percorriam os Parques Nacionais norte-americanos. Quando eram novos, June ficou em casa a tomar conta 5 10 15 20 25 30 35
  • 34. 394 PREPARAR O EXAME NACIONAL PROVA-MODELO – PROVA 6 deles. Só aos 40 se tornou professora. Mas nunca deixou de viajar. Durante a sua já longa vida, June Scott conviveu com gorilas em Ruanda, e seguiu a sua árvore genealógica até à antiga Checoslováquia. Claro que nem todos os SuperAgers são apaixonados por viagens.No entanto,o estu- do sugere que «os SuperAgers tendem a ser socialmente ativos, mesmo quando fazem voluntariado com os sem-abrigo, participam em grupos da igreja, jogam cartas, leem histórias às crianças pequenas. E alguns, como June Scott, são viajantes ávidos», conclui Emily Rogalski.Aliás, as conversas fazem com que os cérebros funcionem. E quando as pessoas viajam, normalmente dialogam com o companheiro de viagem, marido e grupo de amigos, mas também com desconhecidos. Segundo esta apaixonada por viagens, as suas aventuras «abrem-lhe a visão e a forma de pensar». Os pesquisadores acabam por concordar, já que os cérebros se enriquecem com novidades e desafios. «Anteriormente pensava-se que nascíamos com uma certa quantidade de neurónios e que esse número ia diminuindo», diz Rogalski. «Agora, esta- mos a chegar à conclusão de que talvez não seja bem assim». June assume ser uma felizarda por ter os meios e a energia suficientes para alimentar a sua vontade de viajar e a constante procura de novas aventuras. «Quando não tenho bilhetes de viagem na gaveta, sinto que estou a caminhar para a morte».Apesar de todas as adversidades e dificuldades que vai encontrando pelo caminho, quando chega a um lugar sente que os esforços compensam.«Eu acredito nas viagens.E acho que mais e mais pessoas deveriam fazê-las, para que possamos todos ser embaixadores do mundo em que vivemos», afirma. E quais são os próximos planos desta octogenária? Uma viagem à Etiópia no próximo outono,onde planeia explorar as igrejas escavadas na rocha e aprender sobre as diferentes tribos do sul.«Será uma experiência muito ativa e por isso pensei:bem,quanto mais cedo, melhor», conclui June Scott. In Volta ao Mundo, 6 de julho de 2017 (disponível em www.voltaomundo.pt; consultado a 06/07/179) 1. Os dois primeiros parágrafos (A) apresentam a britânica Jane Scott, realçando a sua característica mais peculiar: ser uma viajante compulsiva. (B) apresentam a americana Jane Scott, realçando a sua característica mais peculiar: ser uma viajante compulsiva. (C) apresentam e caracterizam todos os países visitados por Jane Scott. (D) realçam as características turísticas de todos os países que Jane Scott já visitou. 40 45 50 55 60 8pontos
  • 35. 395 PORTUGUÊS 12.o ANO PROVA-MODELO – PROVA 6 2. O uso de parênteses na linhas 16-17 serve o propósito de (A) definição. (B) confirmação. (C) contraste. (D) enumeração. 3. A frase interrogativa presente na linha 31 (A) questiona o conceito de «Super Aging». (B) introduz a conclusão sobre a relação viagem-envelhecimento. (C) introduz a explicação da relação viagem-envelhecimento. (D) introduz a crítica subjetiva sobre a relação viagem-envelhecimento. 4. O oitavo parágrafo fornece-nos duas informações sobre Jane Scott, (A) o seu passado turístico e o seu interesse pelos antepassados. (B) o seu passado biológico e o seu interesse pelos antepassados. (C) o seu presente turístico e o seu interesse pelos antepassados. (D) o seu presente turístico e o seu interesse pelos seus descendentes. 5. Entre as linhas 54 e 59, a reprodução do discurso direto (A) mostra-nos as dificuldades vividas pelo locutor. (B) permite-nos perceber o sarcasmo do locutor. (C) permite-nos perceber os sentimentos e opiniões do locutor. (D) mostra-nos os projetos futuros do locutor. 6. Identifique a função sintática do elemento destacado na frase «E alguns, como June Scott, são viajantes ávidos», conclui Emily Rogalski.» (linhas 44-45). 7. Classifique a oração «já que os cérebros se enriquecem com novidades e desa- fios.» (linhas 49-50). GRUPO III Na sociedade contemporânea, o tempo livre das crianças é quase exclusivamente dedicado às novas tecnologias, afastando-as do hábito milenar de brincar ao ar livre. Num texto bem estruturado, com um mínimo de duzentas e um máximo de trezentas pala- vras, defenda um ponto de vista pessoal sobre a ideia apresentada. Fundamente o seu ponto de vista recorrendo, no mínimo, a dois argumentos, e ilustre cada um deles com, pelo menos, um exemplo significativo. 8pontos 8pontos 8pontos 8pontos 8pontos 8pontos 40pontos
  • 36. 396 PREPARAR O EXAME NACIONAL GRUPO I A Leia o poema de Vasco Graça Moura. blues1 da morte de amor já ninguém morre de amor, eu uma vez andei lá perto, estive mesmo quase, era um tempo de humores bem sacudidos, depressões sincopadas, bem graves, minha querida. mas afinal não morri, como se vê, ah, não, passava o tempo a ouvir deus e música de jazz2 , emagreci bastante, mas safei-me à justa, oh yes3 , ah, sim, pela noite dentro, minha querida. a gente sopra e não atina, há um aperto no coração, uma tensão no clarinete e tão desgraçado o que senti, mas realmente, mas realmente eu nunca tive jeito, ah, não, eu nunca tive queda para kamikaze4 , é tudo uma questão de swing5 , de swing minha querida, saber sair a tempo, saber sair, é claro, mas saber, e eu não me arrependi, minha querida, ah, não, ah, sim. há ritmos na rua que vêm de casa em casa, ao acender das luzes, uma aqui, outra ali. mas pode ser que o vendaval um qualquer dia venha no lusco-fusco da canção parar à minha casa, o que eu nunca pedi, ah, não, manda calar a gente, minha querida, toda a gente do bairro, e então murmurei, a ver fugir a escala do clarinete: — morrer ou não morrer, darling6 , ah, sim. Vasco Graça Moura, Poesia Reunida, vol. 1, Lisboa, Quetzal, 2012, p. 437 PROVA-MODELO – PROVA 7 5 10 15 20 1 Blues: género musical norte-americano, do início do século XX, que retrata em música sentimentos de dor. 2 Jazz: género de música vocal e instrumental que, tal como o blues, foi criado por negros norte-americanos do início do século XX e cuja maior característica é a improvisação. 3 Oh yes: «ó sim». 4 Kamikaze: piloto japonês suicida. 5 Swing: género de música semelhante ao jazz e ao blues; baloiço de parque. 6 Darling: «querida».
  • 37. 397 PORTUGUÊS 12.o ANO PROVA-MODELO – PROVA 7 1. Esclareça, socorrendo-se das suas próprias palavras, a conceção de Amor para o poeta, bem como a lição de vida que a acompanha. Transcreva sequências textuais que o comprovem. 2. Explique a importância deste tipo de música como panaceia (remédio e cura) para o amante sofredor. 3. Evidencie a expressividade da seleção de vocábulos, das interjeições e das apóstrofes. 4. Explique a expressividade do título do poema. B Leia o excerto da «Conclusão», de Amor de Perdição, de Camilo Castelo Branco. Oh! Simão,de que céu tão lindo caímos? À hora que te escrevo,estás tu para entrar na nau dos degredados, e eu na sepultura. Que importa morrer,se não podemos jamais ter nesta vida a nossa esperança de há três anos?! Poderias tu com desesperança e com a vida, Simão? Eu não podia. Os instantes do dormir eram os escassos benefícios que Deus me concedia; a morte é mais que uma necessidade; é uma misericórdia divina, uma bem-aventurança para mim. E que farias tu da vida sem a tua companheira de martírio? Onde irás tu aviventar o coração que a desgraça te esmagou, sem o esquecimento da imagem desta dócil mulher, que seguiu cegamente a estrela da tua malfadada sorte?! Tu nunca hás de amar, não, meu esposo? Terias pejo1 de ti mesmo, se uma vez visses passar rapidamente a minha sombra por diante dos teus olhos enxutos? Sofre, sofre ao coração da tua amiga estas derradeiras2 perguntas, a que tu responderás, no alto-mar, quando esta carta leres. Rompe a manhã.Vou ver a minha última aurora… A última dos meus dezoito anos! Camilo Castelo Branco, Amor de Perdição, Lisboa, D. Quixote, 2006, p. 217 5. Justifique que este excerto da «Conclusão» é prova exemplar da conceção do amor-paixão do Romantismo. 6. Compare a visão do Amor expressa no Texto A com a do Texto B. C 7. O «Livro do Desassossego» é considerado uma obra fragmentária. Escreva uma breve exposição sobre a fragmentaridade do livro pessoano, referindo duas características que a confirmem. A sua exposição deve incluir: • uma introdução ao tema; • um desenvolvimento no qual explicite as referidas características, fundamentando-as com, pelo menos, um exemplo significativo; • uma conclusão adequada ao desenvolvimento do tema. 5 10 1 Pejo: vergonha; pudor. 2 Derradeiras: últimas. Cotações 16pontos 16pontos 16pontos 8pontos 16pontos 16pontos 16pontos
  • 38. 398 PREPARAR O EXAME NACIONAL PROVA-MODELO – PROVA 7 GRUPO II Leia o texto. São um dos mais rápidos e eficientes predadores dos mares, os tubarões. São 23 medalhas olímpicas e 39 recordes mundiais que fazem dele o campeão da água, Michael Phelps. O norte-americano, que já bateu todos os recordes frente a outros humanos, viu nos tubarões adversários à altura e nadou 100 metros contra um tubarão branco para o Discovery Channel, que esta semana recebe a Shark Week. Entre 23 e 30 de julho em Portugal, o tema tubarões volta a ocupar a grelha do canal como faz desde o final dos anos 1980 nos EUA. Na edição deste ano são 18 programas inéditos que todas as noites, depois das 21h, vão encher o ecrã de tubarões. Para já, recuemos a 1975. Foi há mais de 40 anos que o blockbuster de Steven Spielberg deixou o mundo com medo d'O Tubarão − influenciando a opinião pública quanto ao seu perigo. «Os tubarões são a espécie com menos ataques mortíferos em termos esta- tísticos. Os insetos, as aranhas e outros animais provocam mais fatalidades anualmente do que os tubarões», esclareceu o biólogo João Correia na sexta-feira, na apresentação da Shark Week num veleiro no rio Tejo. Para tentar acabar com mitos e alertar para a necessidade de conservação da espécie, dizimada pela pesca descontrolada e pela degra- dação dos seus habitats, o Discovery Channel criou uma semana de programação espe- cial com os tubarões como protagonistas. Foi no Verão de 1988 que aconteceu a primeira Shark Week, uma semana com pro- gramação especial que inicialmente tinha um caráter mais informativo e que com os anos se foi aproximando do tom do entretenimento. Este ano, e pela primeira vez, a Shark Week passa em simultâneo em 72 países no Discovery Channel. Dos 18 conteú- dos inéditos da programação, dois contam com a participação do atleta olímpico, Escola de Tubarões e Phelps vs Tubarão. O arranque faz-se este domingo com Escola de Tubarões − quando Michael Phelps, antes de enfrentar um tubarão, faz um curso intensivo com os especialistas Doc Gruber e Tristan Guttridge. Phelps vai aprender a nadar em segurança entre estas criaturas, inclusive quando um tubarão-martelo passa a escassos centímetros da sua cara. No pró- ximo domingo, a maior atração: o duelo entre as duas máquinas da natureza, o tubarão branco e o rapaz de Baltimore, Michael Phelps. Para além destes documentários, o canal acompanhará por exemplo uma viagem até uma praia na costa da Califórnia onde um tubarão branco tem atacado a cada dois anos desde 2008 (O Ataque do Tubarão Branco, dia 24), tentando identificar o animal através de tecnologia satélite. Marisa Ferreira, «Esta semana, Michael Phelps compete com um tubarão», in Público, 23 julho de 2017 (disponível em https://www.publico.pt/; consultado a 25/07/2017) 5 10 15 20 25 30
  • 39. 399 PORTUGUÊS 12.o ANO PROVA-MODELO – PROVA 7 1. As duas primeiras frases do texto estabelecem uma relação de (A) contraste (B) ênfase. (C) paralelismo. (D) antonímia. 2. De acordo com o primeiro parágrafo, a decisão de Michael Phelps foi motivada por (A) puro prazer desportivo. (B) superação de um desafio para além do humano. (C) superação de um record pessoal contra um animal. (D) intenção de igualar um record de um surfista. 3. A opinião do biólogo João Correia (A) desmistifica a ideia trazida pelo filme de Spielberg. (B) desmistifica a caça ao tubarão. (C) acompanha a ideia do filme de Spielberg. (D) exemplifica a ideia do filme de Spielberg. 4. Os dados estatísticos provam que os ataques mortíferos (A) dos tubarões são menos frequentes do que os dos insetos. (B) dos insetos são menos frequentes do que os dos tubarões. (C) dos outros animais são tão frequentes como os dos tubarões. (D) das aranhas são mais frequentes do que os dos outros animais. 5. A expressão «as duas máquinas da natureza» (linha 28) estabelece com a expres- são «o tubarão branco e o rapaz de Baltimore» (linhas 28-29) uma relação de (A) holonímia / meronímia. (B) sinonímia / antonímia. (C) anáfora. (D) catáfora. 6. Indique o valor da oração subordinada adjetiva relativa presente em «que esta semana recebe a Shark Week» (linha 5). 7. Classifique a oração subordinada presente em «o tema tubarões volta a ocupar a grelha do canal como faz desde o final dos anos 1980 nos EUA.» (linhas 6-7). 8pontos 8pontos 8pontos 8pontos 8pontos 8pontos 8pontos
  • 40. 400 PREPARAR O EXAME NACIONAL PROVA-MODELO – PROVA 7 GRUPO III O ditado popular «De poeta e de louco todos temos um pouco» ainda se adapta ple- namente ao ser humano do século XXI. Num texto bem estruturado, com um mínimo de duzentas e um máximo de trezentas pala- vras, defenda um ponto de vista pessoal sobre a ideia apresentada. Fundamente o seu ponto de vista recorrendo, no mínimo, a dois argumentos, e ilustre cada um deles com, pelo menos, um exemplo significativo. 40pontos
  • 41. 401 PORTUGUÊS 12.o ANO GRUPO I A Leia o poema de Jorge de Sena. Quem a tem... Não hei de morrer sem saber qual a cor da liberdade. Eu não posso senão ser desta terra em que nasci. Embora ao mundo pertença e sempre a verdade vença, qual será ser livre aqui, não hei de morrer sem saber. Trocaram tudo em maldade, é quase um crime viver. Mas, embora escondam tudo e me queiram cego e mudo, não hei de morrer sem saber qual a cor da liberdade. Jorge de Sena, Antologia Poética, Porto, Asa, 2001, p. 85 1. Explicite a tomada de posição do sujeito poético em relação ao contexto sociopolí- tico seu contemporâneo. 2. Explicite a expressividade do recurso presente em «cor da liberdade» e ainda o valor da aliteração que perpassa toda a segunda estrofe. 3. Esclareça o sentido do título do poema. 4. Esclareça o valor expressivo das conjunções «Mas» e «embora» (linha 11). PROVA-MODELO – PROVA 8 5 10 Cotações 16pontos 16pontos 16pontos 8pontos
  • 42. 402 PREPARAR O EXAME NACIONAL PROVA-MODELO – PROVA 8 B Leia o excerto do capítulo V do Sermão de Santo António aos Peixes, de Padre António Vieira. Mas já que estamos nas covas do mar, antes que saiamos delas, temos lá o irmão Polvo, contra o qual têm suas queixas, e grandes, não menos que São Basílio, e Santo Ambrósio. O Polvo com aquele seu capelo1 na cabeça parece um Monge, com aqueles seus raios estendidos, parece uma Estrela; com aquele não ter osso, nem espinha, parece a mesma brandura, a mesma mansidão. E debaixo desta aparência tão modesta, ou desta hipocri- sia tão santa, testemunham constantemente os dois grandes Doutores da Igreja Latina, e Grega, que o dito Polvo é o maior traidor do mar. Consiste esta traição do Polvo pri- meiramente em se vestir, ou pintar das mesmas cores de todas aquelas cores, a que está pegado.As cores,que no Camaleão são gala,no Polvo são malícia;(…)Vê,Peixe aleivoso2 , e vil, qual é a tua maldade, pois Judas em tua comparação já é menos traidor. (…)Vejo, Peixes, que pelo conhecimento, que tendes das terras, em que batem os vossos mares, me estais respondendo, e convindo, que também nelas há falsidades, enganos, fingimentos, embustes, ciladas, e muito maiores, e mais perniciosas3 traições. Padre António Vieira, Sermão de Santo António, in Obra Completa (dir. José Eduardo Franco e Pedro Calafate), tomo II, volume X. Lisboa, Círculo de Leitores, 2014, pp. 162-163 5. Mostre de que forma o Polvo é alegoria da sociedade do tempo de Padre António Vieira, socorrendo-se de transcrições que comprovem a sua resposta. 6. Explique o valor do recurso expressivo presente em «hipocrisia tão santa». C 7. Em Memorial do Convento, José Saramago adota uma visão crítica do Portugal setecentista. Escreva uma breve exposição sobre esta visão, referindo duas características que melhor a revelem. A sua exposição deve incluir: • uma introdução ao tema; • um desenvolvimento no qual explicite as referidas características, fundamentando-as com, pelo menos, um exemplo significativo; • uma conclusão adequada ao desenvolvimento do tema. 5 10 1 Capelo: capuz do hábito de frades. 2 Aleivoso: traidor. 3 Perniciosas: perigosas. 16pontos 16pontos 16pontos
  • 43. 403 PORTUGUÊS 12.o ANO PROVA-MODELO – PROVA8 GRUPO II Leia o texto. Saber como funcionam os bastidores do cérebro,que papel desempenham as emoções, os preconceitos,a seleção de dados e outros mecanismos inconscientes poderá ajudar-nos a lidar melhor com os dilemas do quotidiano. Será que agimos escolhendo sempre a melhor opção para os nossos interesses? Esse esquema reducionista, que se tornou conhecido por «conduta racional», foi o principal paradigma utilizado pelos estudiosos durante anos. Para muitos, tratava-se de uma sim- plificação, como indicava o filósofo e matemático britânico Bertrand Russell (1872- -1970): «Diz-se que o homem é um animal racional. Passei toda a minha vida a procurar evidências que apoiem tal afirmação.» Seria como afirmar que a Amazon não passa de uma marca, sem tomar em consideração o conglomerado de armazéns, empresas distri- buidoras e de transporte e os milhares de trabalhadores que operam nos bastidores. As suas páginas na internet são apenas a face visível para os clientes, do mesmo modo que a consciência humana é como a espuma que flutua sobre águas profundas. Hoje, sabemos que o nosso comportamento é, efetivamente, muito mais complexo do que se supunha. Estamos convencidos de que sabemos o que se passa connosco, o que queremos e o que tencionamos fazer, mas o pensamento consciente só tem acesso a alguns dos processos que ocorrem incessantemente no cérebro. A sua credibilidade é igual à de um indivíduo embriagado convencido de poder caminhar em linha reta sem cambalear. Como quem abre o capot de um carro para entender os mecanismos que lhe permi- tem mover-se, psicólogos, neurocientistas e economistas aperceberam-se do papel deci- sivo desempenhado pelas emoções, os desejos e os infinitos processos que se ativam de forma inconsciente. A marca deixada por esses fatores irracionais é percetível de cada vez que sentimos, desejamos, pensamos ou tentamos compreender o que nos rodeia, ou seja: sempre. Por vezes, conduzem-nos a uma solução rápida e eficaz, mas, outras vezes, fazem-nos cair em erro por não termos avaliado calmamente todos os prós e contras. A revelação desses bastidores mentais irá permitir-nos perceber por que motivo faze- mos, por vezes, escolhas perniciosas, não concretizamos os nossos planos ou deixamos de fazer algo que nos teria beneficiado. Porém, talvez se trate de um conhecimento que nos fará sentir muito mais inseguros: como poderemos ter a certeza de não estar a ser arrastados por fatores irresistíveis que poderão acabar por nos levar por mau caminho? O problema é, sobretudo, o inverso: o falso sentido de segurança que acompanha os nossos atos, em muitas ocasiões, é, como indicam os especialistas, um dos sintomas de que nos estamos a deixar conduzir pela corrente de automatismos incontroláveis.A dúvida,pelo contrário, provoca uma grande insatisfação, mas é sinal de que a razão tomou as rédeas. Quando menos se espera O psicólogo britânico RichardWiseman convidou um astrólogo especializado em finan- ças, um analista de mercados e uma menina de quatro anos a participar numa experiência: 5 10 15 20 25 30 35
  • 44. 404 PREPARAR O EXAME NACIONAL PROVA-MODELO – PROVA 8 ofereceu-lhes dinheiro para investirem na Bolsa como quisessem. Após um período de tempo acordado, comprovar-se-ia quem conseguira ter mais lucros, ou, se não os hou- vesse, menos perdas. Enquanto o astrólogo baseou a sua escolha nas datas em que as empresas tinham sido fundadas, o investidor recorreu à sua vasta experiência. Como é óbvio, a menina, desco- nhecendo por completo o mundo dos negócios, escolhia as suas ações ao acaso. Depois de ganhar, a criança transformou-se numa celebridade, com pedidos de entrevistas por parte de jornais de economia e propostas para aparecer em programas de televisão. O mundo das finanças está sujeito a constantes abalos e turbilhões. Na opinião do ensaísta libanês Nassim NicholasTaleb,a sabedoria exibida pelos especialistas do setor faz «o seu valor previsível não ser maior do que o da astrologia».A menina ganha porque as suas escolhas são aleatórias e sem preconceitos. Visão estratégica Primeiro, devemos tomar em consideração que há diferentes tipos de jogos. Nos que são conhecidos como de soma zero, como o xadrez ou o póquer, apenas um vence e os outros perdem, sem meio-termo, mas a verdade é que se produzem pouco na vida real. O mais comum é o que se tornou conhecido por «dilema do prisioneiro».A polícia prende dois suspeitos de um crime e, depois de os fechar em celas separadas, oferece a cada um a possibilidade de confessar.Se um falar (trair o outro) e o outro ficar calado,o que confessou é libertado, enquanto o cúmplice silencioso cumpre dez anos. Se ambos ficarem em silên- cio (colaborarem um com ou outro), a polícia só pode condená-los a um ano cada um. Se ambos confessarem (traírem o comparsa), cada um leva cinco anos de cadeia. Este tipo de análise pode ser aplicado a uma infinidade de situações, como as alterna- tivas à disposição dos governos para lutar contra as alterações climáticas. Neste caso, os interesses económicos de cada país colidem com a necessidade de resolver um problema comum. In Superinteressante, dezembro de 2016 1. O conceito de «conduta racional» (linha 5) (A) foi trazido por um filósofo inglês setecentista. (B) vigora ainda na contemporaneidade. (C) explica de forma concisa o funcionamento do cérebro humano. (D) não é abrangente nem atual. 40 45 50 55 60 8pontos
  • 45. 405 PORTUGUÊS 12.o ANO PROVA-MODELO – PROVA 8 2. De acordo com o quarto parágrafo, a comunidade científica (A) confirmou empiricamente a supremacia do pensamento em relação às emoções. (B) descobriu que o comportamento humano é influenciado por questões tecnológicas. (C) concluiu que o comportamento humano está dependente do pensamento, mas tam- bém de mecanismos inconscientes e sensoriais. (D) concluiu que a marca Amazon é nociva ao cérebro. 3. O recente conhecimento dos «bastidores cerebrais» (A) trouxe mais segurança à compreensão do comportamento humano. (B) mostra que o comportamento humano pode ser movido por «automatismos incontro- láveis». (C) mostra que a razão é sempre indutora dos melhores comportamentos. (D) trouxe mais segurança ao controlo das emoções. 4. A experiência do investimento das três pessoas na Bolsa permitiu concluir que (A) o acaso e a idade são os grandes responsáveis pelo sucesso final. (B) o acaso e a ciência são os grandes responsáveis pelo sucesso final. (C) o acaso e o incontrolável são os grandes responsáveis pelo sucesso final. (D) a idade e a espiritualidade sobrepõem-se ao cálculo matemático na antecipação do sucesso final. 5. O «dilema do prisioneiro» (A) aplica-se ao contexto político-económico atual. (B) contrasta com o contexto sociopolítico atual. (C) afasta-se do contexto político atual. (D) explica o contexto cultural atual. 6. Identifique a função sintática desempenhada pela oração subordinada presente em «"Diz-se que o homem é um animal racional."» (linha 8). 7. Classifique a oração subordinada na sequência «ofereceu-lhes dinheiro para investirem na Bolsa» (linha 39). 8pontos 8pontos 8pontos 8pontos 8pontos 8pontos
  • 46. 406 PREPARAR O EXAME NACIONAL PROVA-MODELO – PROVA 8 GRUPO III Nos dias que correm, muitas pessoas optam por ebook1 , em detrimento dos livros impressos. Num texto bem estruturado, com um mínimo de duzentas e um máximo de trezentas pala- vras, defenda um ponto de vista pessoal sobre a ideia apresentada. Fundamente o seu ponto de vista recorrendo, no mínimo, a dois argumentos, e ilustre cada um deles com, pelo menos, um exemplo significativo. 1 Ebook: livro eletrónico. 40pontos
  • 47. 407 PORTUGUÊS 12.o ANO Educação literária • 10.o Ano FICHA 1 (p. 13) 1. Trata-se de um diálogo, uma vez que existe discurso direto, quando a donzela diz «Ai flores, ai flores do verde pino, / Se sabedes novas do meu amigo?» (versos 1-2), desejando obter uma resposta. Por outro lado, testemunhamos tal resposta no discurso direto das «flores»: «– Vós preguntades polo voss’ amigo / E eu bem vos digo que é san’e vivo.» (versos 13-14) 2. Estamos perante uma personificação das «flores», visto que a elas são atribuídas propriedades humanas, tais como a fala/ interlocução, como se verifica em «– Vós preguntades polo voss’amigo / E eu bem vos digo (…)» (versos 13-14). 3. O tema desta composição poética prende-se com a angús- tia de uma jovem enamorada que quer saber onde está o seu amado. Quanto ao assunto, trata-se de uma jovem com saudades e dúvidas acerca dos sentimentos e do regresso do seu amado. Dirige-se a elementos da Natureza, no caso «flores do verde pino», tentando saber do seu paradeiro. Neste sentido, as flores prontamente a informam de que ele se ausentou, mas está prestes a regressar e irá fazê-lo antes do prazo combinado. 4. A jovem/amiga está muito insegura, saudosa e cética relativa- menteaoregressodoseuamado.Asuaexpectânciarevela-sena constante repetição do refrão. As «flores do verde pino», na sua qualidade de confidentes, revelam-se calmas, apaziguadoras, fornecendoinformaçãoquetornaráameninamaisconfiante. 5. Neste poema encontram-se temáticas que confirmam a sua pertença ao género Cantigas de Amigo: a presença da Nature- za amiga e confidente da jovem enamorada, que se sente sau- dosa e enganada pelo seu amado; o amor com seus encontros e desencontros; o sujeito poético é típico também: uma jovem; a ruralidade/o cenário campestre; a saudade, que pressupõe ausência; a presença de um refrão que dá forma a um tom mu- sical inequívoco. 6. Vejamos as razões que dão vida às várias formas de parale- lismo, que inclui o leixa-pren: Primeira, os 1.o e 2.o dísticos reproduzem o mesmo sentido, com palavras rimantes diferentes («amigo/comigo», «amado/jurado». Segunda, no 3.o dístico, o 1.o verso retoma o 2.o verso do 1.o dístico («Se sabe- des novas do meu amigo») – leixa-pren, portanto. Terceira, o 4.o dístico retoma o 2.o verso do 2.o dístico («se sabedes novas do meu amado»). Quarta, cada 2.o verso das estrofes ímpares fazprogrediralinhadepensamentosubjacenteaestacantiga, comosevêreproduzidoaseguir:(1)«sesabedesnovasdomeu amigo»; (3) «Aquele que mentiu do que pôs conmigo»; (5) «E eu bem vos digo que é san’e vivo»; (7) «será vosco ant’o prazo saído». Quinta, a composição poética tem um número par de estrofes/coblas (no caso, 8). 7. a) F – redondilha menor; b) V. 8.1metátese («pre» – «per»); síncope («tades – taes > tais). FICHA 2 (p. 15) 1. O assunto é o sofrimento de amor por uma jovem apaixonada devido à ausência do seu amado. 2. Os dois sentimentos são «cuidado» (preocupação, ânsia cons- tantes) e «desejo» (desejo carnal, revelando erotismo). 3. A palavra que melhor exemplifica a «coita de amor» é «coita- da», ou até «cuidado» (versos 1 e 5). 4. O sentido é o da visão, pois o sofrimento de amor agudiza-se porque não o vê («e nom vejo» – verso 6). 5. Aliteração do som «m», que instaura sentimentos de lamento e queixume, associados ao sofrimento provocado pela ausência doamado. FICHA 3 (p. 16) 1. A primeira parte corresponde às duas primeiras estrofes e inclui as perguntas feitas pela Mãe; a segunda parte integra as estrofes 3 e 4, pois nelas estão inseridas as respostas da filha; a terceira parte diz respeito às duas últimas estrofes, em que sobressai a resposta da Mãe, experiente e arguta, que diz à jovem que nunca «cervo» foi causa de tal demora na fonte. 2. Uma filha jovem foi à fonte com o objetivo de se encontrar com o seu amigo e demorou-se mais do que o costume. Che- gando a casa, a Mãe pergunta o motivo da demora e a jovem afirma que um animal selvagem («cervo») agitou as águas e ela teve de esperar que ele se fosse embora. A Mãe, por sua vez, reconhece a mentira e verbaliza-o claramente. 3. O 1.o e o 2.o dísticos têm o mesmo sentido, apenas mudan- do as palavras que rimam; no 3.o dístico, o 1.o verso retoma o 2.o verso do 1.o dístico (com acréscimo de apóstrofe feita a «mia madre»; o 4.o dístico retoma (em sentido) o 2.o verso do 1.o dístico; o pensamento lógico da cantiga progride sem- pre no 2.o verso de cada estrofe ímpar: «por que tardastes na fontana fria?» (verso 2); «cervos do monte a áugua volv[i] am» (verso 8); «nunca vi cervo que volvesse o rio» (verso 14); o texto tem um número par de estrofes. 4. As apóstrofes confirmam o diálogo, e o binómio pergunta/ resposta não deixa margem para dúvidas: «filha, mia filha velida»; «filha, mia filha louçana»; «mia madre»; «mia filha». 5. O recurso expressivo é a aliteração do som consonântico «f» em «fria fontana» / «fontana fria», cujo valor expressivo pode prender-se com a frescura do lugar onde os amantes se encontravam, propício à aproximação dos corpos, ou ainda com movimentações da água da fonte. 6. Em «Cervos do monte a áugua volv[i]am» vemos uma anás- trofe ao serviço da desorganização do mover das águas, re- fletida na intensidade dos amores vividos. 7. Nas estrofes 5 e 6 percebemos claramente a sabedoria em- pírica da Mãe, sendo que a utilização do advérbio «nunca» na sequência «nunca vi cervo que volvesse o rio» (verso 14) apresenta um arg umento impossível de ser contrariado pela jovem: a Mãe experiente provavelmente já passou pelo mes- mo na juventude e agora conhece bem «os amores» da filha. 8. a) Movimento – aliterações do som «v» («cervos do monte a áugua volv[i]am» – verso 8) e «s» («nunca vi cervo que vol- vesse o rio» – verso 14). b) Lamento – aliteração do som «m» («Mentir, mia filha, mentir por amado» – verso 16), que revela uma certa tristeza da Mãe por perceber que a filha lhe está a mentir. c) Alegria, entusiasmo e nervosismo – assonância do som vocálico «i», como em «(…) filha, mia filha velida» (verso 1) / «Tardei, mia madre, na fontana fria,» (verso 7) / «cervos do monte a áugua volv[i]am » (verso 8) – alegria, entusiasmo e algum nervosismo da menina ou «nunca vi cervo que vol- vesse o rio» (verso 14) – nervosismo da Mãe por estar a con- frontar a filha com a mentira. 9. Os vocábulos são: «fontana»; «cervos»; «monte»; «áugua»; «rio»; «alto». FICHA 4 (p. 18) 1. Pelo título, percebemos que o autor vai imitar «a maneira proençal», isto é, como os seus contemporâneos de Proven- ça (sul de França) vai louvar uma mulher, servindo-se dos mesmos modelos de conteúdos e estilo (vocabulário e sinta- xe eruditos, como, por exemplo, «a que prez nem fremosura nom fal» (verso 4), «comprida de bem» (verso 6) e «comunal» (verso 11). 2. O cenário é o da corte ou, pelo menos, palaciano. PROPOSTAS DE RESOLUÇÃO