1. OS OLHOS DOS NAMORADOS
TÊM UM CERTO NÃO SEI QUÊ
QUE SERVE DE SOBRESCRITO
Á CARTA QUE SE NÃO LÊ
Alíria Filomena Pinto Lopes M ar tins R iba Nobre
2.
3. Para o meu filho, Paulo César, in memoriam
18-03-1964 - 30-11-2014
Para vós,
4. Foi a recolha que despertada pela memória da minha avó
Rosalina (que, tantas e tão lindas histórias me contou ), me levou
a, durante muitos anos, anotar e arquivar estes pequenos e
grandes Nadas.
Testemunhos ingénuos, puros, lindos que são um Grito de
Presença da nossa cultura popular e regional.
Saibamos amá-la, conservá-la, fazê-la renascer e reviver.
Possamos assim transmiti-la ao “ Futuro “ para que, a par “do saber das Altas Tecnologias “, as
saibam estimar.
São os sentimentos de pureza, saudade, amores felizes ou não, que rompiam da alma e do
coração de quem sabia e queria “ Gostar d' Alguém “.
Quero render homenagem ao Passado em memória da Ricardina, da velha Clara; da tia
Vitória; à “enciclopédia rural e viva“ de saberes que foi a Dª. Isabel de Mata Sete; à tia Maria
Nobre ( a centenária avó do meu marido ) e sobretudo à saudosa Manina.
A tantos “ velhotes “ de Gandra, de Cerdal, de Valença, de Subportela que viveram e
sentiram aquilo que me transmitiram.
A outros e outros.
Que descanseis em Paz.
Ao Presente: a mim, à minha filha, ao meu genro, ao César, a todos os que gostam destas
coisas, a todos que dão vida e expansão a estas tradições, usos e costumes. Aqueles que
lutam e trabalham carinhosamente para promover chamadas de atenção e mostras, dando
vida a um Passado que já passou mas ainda quer Viver.
Parabéns. Não percais o animo. Só as coisas difíceis merecem o “ Louro da Vitória “ as
fáceis são “ banais e vulgares “ recheadas de pouco valor e trabalho.
Ao Futuro: - Aos meus queridos netos Paulo Manuel e José Miguel ( quando puderes, vós e
os vossos amigos, perdei um pouco de tempo e ganhai mais SABER com a “ rudimentar “
cultura dos vossos antepassados. Vereis merece a pena!... ) Aliai o passado ao futuro.
Valença – Fevereiro dos Namorados – ano de 2012
Com carinho;
Alíria Filomena Pinto Lopes Martins Riba Nobre
2
6. Puros, brancos, levando Amor e deixando Esperança e Saudade.
E, eram conhecidos, por:
Lenços de Namorados
Lenços de pedido
Lenços de conversado
Lenços de comprometimento
Lenços de Amor
Foi no Minho que:
-tiveram a maior expressão e expansão
-mais divulgaram sentimentos; mais espalharam e os espalham, valorizando a valorização e
divulgação do património artístico e cultural desta região.
De raiz popular, simbologia campestre e amorosa, levavam afecto...
Surpreendem-nos, encantam-nos e maravilham-nos com tanta beleza e ingenuidade.
Vamos nós também, dar-lhes a Vida que merecem?...
Sou
a felis
brebuleta
pouzada no teu ulhar
num me deiches de
cá sair, o teu
curação é
o meu lugar!
4
Axi tens meu curasson
E a chabe pró abrir
Num teinho mais pra te dar
Nem tu mais pra me pedir
7. As quadras – de raiz puramente popular e até pessoal (eram rimas das próprias
bordadeiras). São verdadeiros tesouros de saber querer, ingenuidade e franqueza.
São lindas! Ditadas pelo coração para o “ seu Bem “ continham, quase sempre “erros
ortográficos“. Algumas bem difíceis de “ traduzir “ quantas e quantas jovens eram
analfabetas!...
Conservemos esses “ lindos defeitos “ porque não são eles que vão “ estragar “ a língua da
nossa Terra!
Escreviam como diziam ( pronunciavam ) e quantas vezes essas “falas” 1 eram diferentes
dumas para outras localidades.
1- falas - termos próprios de cada localidade
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8. Simbologia de “ Alguns Motivos “ usados
nos lenços dos Namorados
Pombos - Paz, calma
Chaves - Fechar e/ou abrir os corações
Corações - Amor
Pássaros - Sorte, alegria
Leões - Força, poder
Cães - Fidelidade
Pavões - Beleza, brio, vaidade
Sol - Dia
Lua - Noite
Cruzes -Fé
Brasões – Valor, nobreza
Coroas -Realeza
Árvores -Fortaleza e segurança
Rosas - ( fremusura / formosura )
Flores – Beleza natural, a “força da terra”
Festões e florões – Mimos, carícias
Ancoras – Segurança
Pares – Homem / mulher – dançar
passear
acompanhar
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9. Lenços dos Namorados
Eram bordados em tecido branco ( linho do mais fino ou “merine” ( tecido de algodão). No
linho, por causa da sua textura mais fáceis de elaborar. Em algodão, (as fibras mais
comprimidas) apresentavam mais dificuldade. Acontecia – muitas vezes – recorrerem ao 2º
material dado o muito apreço e grande “poder aplicativo”do linho. Além disso, o linho era
de fabrico caseiro e, haviam suportado “mil e um” trabalhos para o conseguirem. Fazia parte
integral e indispensável de toda a casa -rica ou pobre – que se “preze 2”. Figurava em todo o
“bragal” 3 doméstico. Havia 3 “colidades” de modelos, no apresentar dos lenços.
A – rematados a baínha “cozida” e singela;
B – rematados a entremeio e renda “condizente 4” (os de moça rica);
C – de morgada ou fidalga ( os mais ricos e de mais difícil elaboração).
Os (A e B) eram do mesmo tecido; com os mesmos motivos e cores, com os desenhos
tradicionais em maior ou menor abundância. Os tons de linhas eram o vermelho e preto.
Bordados (os mais antigos – no Alto Minho – a ponto cruz). Os das morgadas ou fidalgas –
em “organdi”, ou “tule”, de tons muito claros (branco, rosado, azulado) e bordados só com
uma variedade de linha (geralmente branca). Eram quase “uma sofisticada arte”.
Bastante diferentes das do “pobo”. A parte central era apenas preenchida pela inicial do
nome da autora e/ou da pessoa a quem se destinava. Havia uma atenção e cuidado sem
limites no “afermosar 4” a “letra” a parte que mais “sobressaía”. Muitas vezes o A também
significava Amor.
Isolada, em destaque, havia que “a enfeitar”. Eram variados os modelos. O da Casa das
Lameiras é “emoldurado” por 4 triângulos com base, voltada para o interior, onde a
2- Preze – que tenha cuidado com o que tem e porque o tem
3 - Bragal – enxoval caseiro
4 - Condizente – sem desvios, iguais ou muito parecidos
5 - Afermosar um trabalho – torná-lo o mais bonito e artístico que pudermos
7
10. bordadeira aplicou todo o “seu engenho e arte” (artísticos e maravilhosos exemplares do
que se podia fazer apenas com uma agulha, uma linha e o desvelho de se “fazer bem, bonito
e com coração”.
Havia ainda outros – mais da região de Braga – na zona mais Sul do Minho. Usavam e usam
– pois estão em grande expansão – (bordados com profusão de tons sempre bastante
garridos). Os motivos são quase os mesmos – flores, pássaros, corações e sem esquecer
nunca as “preciosas quadras”.
Versos que são tão genuínos, como puros e até de sinceridade invulgares.
Atualmente há uma linha de bordadeiras ou “apaixonadas por esta arte “ - muitas, na
Ribeira Lima – que aplicam os “antigos” motivos em “artigos” de decoração para os lares
modernos: são os quadros que ficam para lembrar: nascimentos, batizados, casamentos,
favores e “graças devidas”. São conhecidos como “marcos” por “falarem” dum acontecimento
importante.
São, muitos comercializados. Uns oferecidos a quem se estima ou quer homenagear. Outros
a quem se quer mostrar gratidão por “algo de diferente” que se recebeu. Mimoseiam-se
professores, familiares, autoridades, padres, familiares ausentes, amigos especiais, médicos
a quem se deve muito, etc.
Os primeiros (os dos namorados) – mais típicos e antigos – eram uma mensagem de Amor
(do coração). Estes, os marcos, são de “estima e gratidão”. Todos eles vertentes do mesmo
Amor.
Aplicam-se em almofadões, almofadas, naperons, toalhas, quadros e tantos outros artigos
para o lar. Bordam-se em peças de roupa: - blusas, camisas, vestidos, bolsas e carteirinhas,
cintos, echarpes, xailes, toalhas de todo e qualquer tamanho, nos lencinhos que se ofertam
como “lembrança de noivos, bodas de prata e...até ouro”.Surgiram em peças de louça.
São as nossas flores, os nossos pássaros, os nossos animais, os nossos corações, a levar para
o “Mundo” aquilo que outros nos deixaram, que alguns estimam e promovem, mas que urge
não deixar morrer. Afinal são a cultura da Cultura do nosso Povo, da nossa gente.
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11. Bai lenço, felis buando
Nas azas dum paçarinho
Vai mustrar a todo o Mundo
Cumo era o nosso Minho.
Esboço de um estudo sobre “Lenços dos namorados” - (arte popular) integrado no Curso
de História d'Arte, que frequentei em Braga 1954/1956
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12. Como se bordam os Lenços
Geralmente obedeciam a certas regras. Eram “quadrados” e com vários tamanhos mas
nunca muito pequenos. Não eram lenços de “bouço ou de assuar” 1.
Na parte central bordava-se o jardim (para chamar a atenção). Podia ser um canteiro de
flores – sempre com as flores voltadas para o exterior. Até uma quadra especial!
No seu “meio – pombas, chaves, corações, monogramas, datas e coroas reais, sobretudo
motivos campestres.
Rematavam com uma silba ou silbeira 2 para fechar o Amor e que este não se escapasse!
Entre o “jardim” e o “remate”, “semeavam-se” - a gosto – os motivos de que mais se gostava
e até outra quadra e outra.
Como se usavam e quando se “exibiam”
Os homens usavam-nos ao pescoço para limpar o suor nas “festas”, romarias, bailaricos,
serões especiais e sobretudo para demonstrar “as suas amadas como continuavam” firmes e
“interessados”.
Havia também os “tabaqueiros” em tecido de cor muito escura e garrida, (estes com motivos
regionais), que serviam para o mesmo fim e também para limpar o nariz. Eram estampados.
Também podiam ser oferecidos pelas “cridas
(queridas)” mas teriam que lhes dar em troca uma
moeda de baixo valor. Se assim não fizessem
havia separação.
Com o lenço se dizia
adeus!..Estes exemplares eram comprados nas
feiras e mercados e usados diariamente durante
as fainas laborais – agrícolas ou não. Não eram de
labor manual nem com quadras.
As mulheres, ostentavam-nos orgulhosamente
em:
Paradas, desfiles, procissões, para protegerem as
velas de “mordoma”.
6 - Bouço (bolso). Assuar (limpar o nariz).
7 - Silva ou silveira – planta brava que produzia as chamadas “amoras bravas” e crescia muito.
10
13. Nos “cestos” de ofertas ou “ofertar”.
Em bailes e bailaricos, à cinta, “metidos” no cós da saia!.
11
14. A- Uma “figurante” com traje de noiva e, adornado
o ramo com um “tradicional”lenço. O “ourado”
cortejo também exibe os seus “amores”.
E este “amoroso” par? Trajo de “meia senhora”,
com sombrinha de renda e saco-substituído
hoje pela carteira – e um lindo “Lenço dos
Namorados”, metido no cós da saia sob a
“casaca”.
12
15. Uma linda minhota “revivendo suas bisavós e
avós” exibindo o traje de noiva. Na mão o
“bouquet” ou ramo abraçado por um simpático
lenço dos namorados.
Assim, a tradição não morre. Aprendemos a
recordá-la!
Este simpático “casal” revive também a
tradição. Ele “mostra” a camisa
bordada com motivos dos “Lenços dos
Namorados” nos punhos e “peitilho”.
Ela, usa blusa branca de linho, com
manga bordada “com saber e arte
minhotos” em tom de azul cinza.
13
16. O “meu” lenço da “Manina” 1
Lenço de Namorados da minha avó. Foi ela quem mais me motivou para estes temas.
Era, de moça lavradeira rica e prendada. Está velhinho. Tem mais de 100 anos!
“Lenço rico” por causa do seu remate em entremeio e bordado a “dezer”.
É anterior a 1900. Foi executado por R.P. conforme se lê no “jardim”. Este, de forma quadrada
é envolto em sebe que exibe flores para o lado exterior.
No interior vemos as pombas da Paz, com a chave para fechar o Amor dos 2 corações que
exibe (Ele e Ela). Lateralmente as iniciais R.P. de Rosalina Pinto. Encimado pela Coroa Real –
(é do tempo da realeza) – que quase une as asas das “rusticas” pombas que esvoaçam
desejando Paz áquele Amor. Junto à aplicação do entre-meio bordou uma “sirva ou
silveira” 9 que abrange os 4 lados do lenço. Eram a cadeia que fechava de vez a mensagem
amorosa.
A quadra que exibe, não era “brejeira” 3 mas “séria e de respeito” 11 e dizia assim:
Este Lensu Te Ufreso
Limpa Teu Rosto Um a
Preda das Amigas
Não cauza Desgosto
Os restantes motivos foram “semeados” ao “acalha” e não sob uma forma rígida. Eram flores,
jarras, corações e os “cães” com sua “fidelidade”.
Nos 4 cantos bordou ramalhetes iguais 2 a 2, assentando em estilizados “festões” brotando
duma “lira”, que desejava alegria e “satisfação”.
Para se conservar, transformei-o em decorativo quadro. Houve que o iluminar para que a luz
desse mais força ao “debotado” vermelho com que fora feito. Como era de “merine” (algodão
fino branco) e está “delido” em alguns sítios) colocou-se entre duas laminas de vidro
8 - Ver imagem pag. 15
9 -A planta que crescia nos campos – valados e produzia as “amoras bravas”. Tinha muitos picos (espinhos) e vedava com
eficácia. Era sebe quase impossível de transpor.
10 - Brejeira – com “maldade”. (beijinhos e abraços)!..
11 - Séria e de respeito – como mensagem de amor sim, mas...com as devidas cautelas
14
17. (anti-reflexo) encaixilhou-se e...vamos
guardá-lo quase como presença da
sua autora. Essa senhora – a mais
culta analfabeta que conheci – que
sabia de tudo que quis saber e fazer
mais e melhor durante toda a sua
vida. Sabia saber, sabia ensinar e
despertar o interesse dos outros para
as realidades da vida que tanto
amava.
Nasceu em Gandra – Valença aos 25
de Maio de 1881. Viveu muitos anos
em Lisboa e faleceu aos 17 de
Fevereiro de 1951 em Mondim de
Baixo-Gandra. Está sepultada em
jazigo-capela na mesma freguesia.
Este lenço foi acompanhado pela foto,
vestida à moda antiga, quando fez 18
anos e que sempre esteve junto do
mesmo. É que-para ter uso – punha-se
como “pano
de
mesinha
de
cabeceira1 e a foto em cima”. Era a
“joia da Coroa” do meu avô. A sua
“Linita”.
O lenço da Manina
A foto que o acompanhou
15
18. Lenços de Morgadas ou Fidalgas
Também uma variedade dos lenços de namorar ou noivar e que pertenciam a uma classe
social mais abastada e notável. São muito raros.
Geralmente feitos em organdi ou tule, cuidadosa e primorosamente bordados, exibiam
motivos de difícil execução.
Eram de arte manual mas, com uma “arte e saber” que nem toda a gente podia ou sabia
executar. Alguns feitos em mosteiros ou conventos.
O centro, exibia uma inicial - “a letra” - do nome de quem o bordava ou a quem era
destinado – homem ou mulher. Ladeado por “grelhas ou grades” de difícil e artístico cunho.
Rematados por finas rendas ou debruns valorizados com aplicações para lhes dar mais
relevo. Muitas vezes eram transformadas em “almofadões” e adornavam camas, cadeirões
ou banquinhas de “alcova”.
Lenço da Casa da Lameira 13
Este lindíssimo Lenço de “Namorada” ou Noiva fidalga, pensa-se que, pertenceu a Ana
Azevedo de Araújo e Gama. Faleceu em 1897, em Cerdal – Valença.
Filha de João de Azevedo Araújo e Gama que viveu em Cerdal – Valença (1808-1894).
Este o Morgado da Quinta da Lameira, foi também pai do Dr. Manuel de Azevedo Araújo e
Gama – lente da Universidade de Coimbra. Teve bastantes filhos.
Estão todos sepultados no cemitério paroquial de Cerdal, bem como outros familiares em
sepultura/jazigo próprios.
Como este exemplar apresenta um notável estado de conservação e, para que não se
detiorasse, foi emoldurado recentemente tendo-se tido um cuidado especial nesse
trabalho. Haveria que o aplicar em “fundo” e “moldura” de sabor antigos, com tons muito
sóbrios, claros e lisos, para não se correr o risco de gerar contrastes fortes, que ofuscassem
e prejudicassem a “suave e delicada” beleza do exemplar.
13 - Ver imagem pag. 19
16
19. Outra reprodução dum lenço “fino”. Este em “tule”
Descrição do Lenço: Lenço de Tule de Vila Verde
Origem: Vila Verde
Local onde foi encontrado: Centro Educação Familiar de Vila Verde
História: foi bordado com o véu de um fato regional de noiva.
Dimensões: 100x100
Material Utilizado: tule de algodão, linhas de bordar de cor branca
Pontos: ponto de alinhavo, fantasia, recorte
Transcrição das Escritas: não tem
Bordadeira: Maria de Almeida
17
20. Marco assinalando o aniversário de casamento de
uma ex-aluna e grande amiga. Está aplicado num
“quadro” com banda em vermelho baço e moldura
negra. Pertence à Graça e ao Diogo Faria.
18
22. O Lenço da Tércinha
Propriedade de Dª Natércia de Jesus Pinto Lopes Martins Figueiredo. Foi professora em
Paredes de Coura, onde constituiu família e onde reside. Herdou-o da Casa de Mondim de
Baixo – Gandra – Valença onde nasceu aos 12/01/1945.
Deve ter pertencido à Bísavó- Rosa Florinda da Enes. “Aventamos” duas hipóteses sobre a
época em que foi feito.
Seria ainda como noiva ou “conversada” de José António Pinto ou já como sua mulher? Em
qualquer dos casos é muito antigo (no quarto deste casal há – na casa mais antiga como
remate do tecto uma elucidativa data) – (em relevo, um rectangulo trabalhado que tem,
num dos lados menores, J: 14 A. P. do outro lado 1904. Ao centro artistica pequena rosacea).
Esta era a data da reconstrução.
Na descrição dos “motivos” que adornam o “jardim” deste lenço, explicarei o que me fez
surgir a dúvida sobre a sua execução.
Rematado nos 4 lados, por uma curiosa cadeia de 5 frisos brancos, finos, paralelos e com um
pouco de “sabor” a “barra”; 3 desses frisos, são evidentes, os 2 restantes cosidos sob a
baínha que também esconde os “cruzamentos” dos mesmos nos cantos do lenço.
Foi bordado num lenço branco (não em tecido “solto”), dos de trazer ao pescoço no caso de
ser homem – ou na algibeira da mulher).
Foi executado pelo lado do avesso. Usaram “minucioso e perfeitissimo” ponto de cadeira em
tons muito claros (apenas branco e amarelo suave e um pouco torrado).
Como seria possível, meu Deus, tal perfeição “alumiadas pela luz frouxa das candeias de
azeite”? Os “labores” eram, quase todos realizados ao “serão” pois de dia havia mil e um
trabalhos que não davam descanso.
No jardim central há 5 chaves (3 amarelas e 2 brancas). A presença destas é que faz surgir a
hipótese de ter sido feito já como casada – seria que estes símbolos se referiam (como
noutros casos) ao nascimento de crianças? Este casal teve 5 filhos – 3 rapazes (serão
lembrados nas 3 chaves amareladas?). As 2 raparigas (serão as chaves brancas?) Os filhos
14 - Foi – talvez posteriormente “embaínhado” e cosido à máquina. Na altura da “obra” primitiva seria quase impossível
fazê-lo. Seria talvez para lhe dar mais consistência? Foi rematado por pequena espiguilha branca.
20
23. foram o António José o Manuel Joaquim e Bento José. A 1ª filha foi a Florinda Rosa – a mais
jovem foi a avó da Dª Natércia nascida a 25 de Maio de 1881. Exibe ainda “singelo” brasão,
encimado pelo desenho duma “custódia” que remata por pequenina cruz. À volta, 2 ramos
de flores, entrelaçados na base rematando junto aos corações (2- Ele e Ela) que são
salpicados com pétalas brancas muito pequeninas.
Nos 4 cantos exteriores, 4 ramalhetes todos desiguais. Entre estes, os versos da “Mensagem
de Amor” - bordados a ponto de cruz – que assim “reza”.
Amor és meu jura
mento De te Amar
Qon Lialdade Até
Urtimo mumento
Filha – Natércia de Jesus Pinto Lopes Martins Figueiredo
Mãe – Alaíde das Dores Pinto L. Martins
Avó – Rosalina Pinto Lopes
Bisavó – Rosa Florinda Enes
O lenço da Tércinha
(feito pela bisavó)
21
24. O Lenço prá Elisabete
O desenho executado a vermelho, em ponto cruz, foi bordado pela mãe. Foi copiado à lupa
e desenhado em papel quadriculado pelo original (lenço da Manina).
A “recuperação” dos motivos levou cerca de 2 meses pela sua complexidade, minúcia e fraca
visibilidade.
Havia que o fazer lentamente para lhe não roubar “fidelidade”.
Quis fazê-lo o mais corretamente possivel. Bordados em linho industrial foram elaborados
2 exemplares. Um para a filha. Outro para a médica que tratava tão sábia e carinhosamente
seu filho Paulo César. Para a querida Drª. Luisa Viterbo- IPO, Porto.
Os dois eram iguais. Diferiam apenas na mensagem que transmitiam.
Um dizia assim:
Bai Lenço felis Buando
Lubar amor e gratidão
O lugar dus “Bos Amigos”
É dentro do Curação 15
O outro:
Bai lenço feliz Buando
De Valença a Ribeirão
Leba deseijus de saúde
E amor no Coração 16
15 - Dr.ª Luisa Viterbo
16 - Da Beta
22
25. Fez-se também um “Marco” (quadro de carinho e amor) para o meu filho Paulo César, oferecer aos amigos queridos do Piso 10 (IPO – Porto) onde esteve internado.
Bai lensu felis buando
Nas azas du passarinho
Bai lubar ó “Piso 10”
A gratidão do Paulinho
23
26. Algumas quadras de Lenços dos Namorados
E “rezavam” assim
Bai 17
Amor
Felis buando
No vico 18 dum passarinho
Bai amodo 19 e cum caurma 20
Num bás cair nu caminho A
Também esta quadra podia terminar com:
A – Num te percas no caminho
ou
A – Bé se num cais no caminho
ou
Tem coidado Amorzinho
A jura que nós trucamos
Birou fonte d'alegria
Feluresceu, deu reventus
Temos tanto Amor na Bida
Estas coizas du Amor
Estas sinas do Amor
Som coizas cum tanta forsa
Que ninguém save mudar
17 - recolha efetuada em Gandra – Subportela, Cerdal e D. Isabel (Mata Sete – Valença)
18 - vico (e ou também azas)
19 - amodo (devagar)
20 - caurma (com calma – tranquilo)
24
27. Meu Amor precura ser
Peçoa hunesta e pura
O gado de boua rês
Tem sempre grande precura
Meu Amor, precura ser
Um home d'embregadura
Animal do boa rês
Tem sempre grande precura
Garda todo este Amor
Num olhes á fremusora
Sentimentos são da aurma 21
A belesa pouco dura
Toma lá este lensinho
Bordadinho a presseito
Leba dentro grande Amor
Mete-o dentro do teu peito
As augas do rio corrím
Depressinha para o mar
Meu curasson pra ti corre
Num o queiras despresar
Bai, lensu, felis depreça
bai le dezer que le quero
Tras me resposta das boas
Que m'asseita assim ispero
21 - São da aurma - alma
25
28. Este lensinho de Gandra
Ingauzinho òs de Cerdal
Significam grandes amores
Falam d'amores sem igual
Asseita, meu Bem, asseita
Este amor sem condissões
Seremos munto felizes
Oube os nossos curações
Este lensu leba Amor
Mesturado com Çaudade
Asseita a minha franqueza
De quem te quer cum Berdade
Este lensu, leba Amor
Meu Amor, não digas Não
Se não me queres asseitar
Rebentas me o curassão
Este lensu branco a Buar
Iscrito cum tanto ferbor
Leba nas letras bordadas
Carinho, Pas e Amor
À tua sinta 22 meu Bem
Pendura este lensu bordado
Leba-te, porque lo pessu,
O Amor do teu Amado
22 - na cinta da saia-cós
26
29. Ai quem diga meu Amor
Dar lensus é separação
Mais eu sei qu'assim não é
Nas coisas do curação
Este lensu, vranco e puro
A bermeilho burdadinho
Bai luvar, ó meu Amor
Um avrassu e um beijinho
O vermeilho é cor de sangue
O negro cor da paixão
Burdei açim este lensu
Pr'ofresser ó meu João
Meu Amor. Tem. Confiança
Na. Promeça, Que te Fis
Brebemente. Hei-de . Ser. Tua.
Chegando. Um Dia Feliz.
Este lensu te ofressu
Cum amor e gratidão
O teu lugar, meu Amigo
É dentro do coração
Meu Amor bai pró Brasil
Eu tamem bou no bapor
Gardada no coração
Daquele qu'é meu Amor
Este lensu eu Vurdei
Cum todo o meu Ferbor
Coloca-o ao pescosso
Pra seres o meu Amor
27
30. Num sei se terás outros lensus
Dados por outro Amor
Mas cum tanto centimento
Num o terás, não sinhor...
Amor, asseita este lensu
Vurdado com pombas mansas
Lebam-te amor e pas
E Bentura no que aucansas 23
Nossa Sinhora deu um lensu
De respeito ó Bom Jesus
Eu cumpro igual centimento
No carinho qu'aqui pus
Tu és rico, eu sou povre
Pouco tenho pra te dar
Mesmo assim bordei-te um lenço
Que te pessu, bás uzar!
Este lensu te ufressu
Num digas que eu to dei
Porque num tenho dinheiro
E pensam qu'eu o tirei 24
23 - naquilo que se pretendia
24 - tirei - roubei
28
31. Sou
felis
borboleta
pousada no teu
olhar
Não me deiches de
cá sair, o teu
curação é
o meu lugar
Este
lençu tem
quatro
enfeites
e esta quadra
para te fazer
saber
O meu curação
tem quatro
cantos
todos te chamão
e querem
prender 25
Desenhos da autora de 1955
29
32. E virão mais e mais
Vamos descobri-las!...
Pra Valença, eu vurdei
Um lensinho case nobo
Em cada ponta um suspiro
E no meio...eu te adoro
A siuva com seu areo
No caminho prende a roupa
Assim tu me prendeste a mim
Com uma forsa de ...louca
Valença aventurosa
Amores do meu curaçon
Cheia de velhas muralhas
Faz biber a tradição
O setru nasceu pró Rei
E a crooa pró coroar
Tudo nasce cum destino
eu nassi “Pra t'amar”
Bai Amor, feliz buando
Nas asas do corassão
Bai beijar esta Valença
Cheiinha de tradição
Toma lá esta lemvrança
E um raminho de flores
Se puderes leba-os a Valença
Pra rebiber belhus Amores
30
33. O rio mai las muralhas
iternos apaichonados
Desserto, tamem trucaram
Um lensu de namorados
Valença e o rio Minho
Iternos apaixonados
Grabaram o seu grande Amor
Num lensu de namorados
Já num teinho curaçon
Que mu tirarum du peito
Onde eu tinha o coração
Nasçeu – mum amor prufeito
31
34. Uns lenços tinham quadras, outros
...mensagens que falavam de Amor!...
Ás vezes a “Quadra” era substituída por um pensamento ou apenas mensagem como a do
escritor minhoto “Camilo Castelo Branco” que está escrita neste exemplar e diz:
“A rosa lá a lh'a deixei...
Terei eu na terra quem...
Uma flor me dê também!?...”
Ou esta, com raízes em Camões e que dizia:
Na Terra Amei-te
e Tu...
Alma Minha gentil
Tão cedo partiste!
No céu, recebe, este lenço de Amor. Envolvia um “bouquet” colocado na sepultura do seu
Amor.
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35. Ás vezes os Amores não corriam bem!
(Davam pró torto!...)
Meu amor, manda-mo lensu
O lensu que te bordei!...
Puzeste-me um “par de cornos”
Num o negues. Eu bem sei
O lensu que tu me destes
Era fraco e rasgou se
O Amor que tu me tinhas
Era pouco e...acabouce
O lensu que to me destes
Nem u dei nem o predi
Deitei-o da ponte abaixo
Tamém te deitaba a ti
Havia muitos “namorados” que iam para o Brasil e “Américas” e na volta traziam anéis para
as suas queridas. Mas, também acontecia haver “arrufos” e zangas.
O aneu que tu me destes
Nem o dei nem o bendi
Deitei-o da ponte abaixo
Tamem te deitava a ti
O aneu que tu mandastes
Era de bidro, cubrou-se 26
O Amor qu'ele trazia
Era pouco. Acabou-se
26 - partiu-se; quebrou-se
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36. Havia também certas “exigências” do querido que “maressiam respostas” nem sempre
muito “meiguinhas”!...
O meu Amor
quer que eu tenha
juízo e capacidade
tenha ele que é mais ve
lho Eu sou de menor idade!...
Meu Amor, num me precures
Pro coizinhas qu'eu cá sei!
Mandame aquele lensinho
O lençu qu'eu te burdei 27
27 - Quando os “namorados” se zangavam havia que devolver as prendas, mesmo as cartas trocadas entre si e sobretudo
os lenços
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37. Recolha de alguns Modelos de lenços (em ponto Cruz)
Transcrição das escritas
Exterior
AM ORH ADE NA OS
A AMI SAD EACE
BAR CUA ND OES
TAPO MBA BOA
(Amor, há-de a nossa amizade acabar quando esta pomba voar)
Interior
OT EULADOSATISFEITA
PASSOANO UTEIUDIA
SOTUES U M E U E NCANT
OAM I NHADOCE.ALEGRIA
(Ao teu lado satisfeita / passo a noite e o
dia/ só tu és o meu encanto/ a minha
doce alegria)
ANNO 1911 AMOR
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38. Transcrição das escritas
E INHORDAM
INHA AL.O A . M
.R.NHIOR AEI
. STPMTS ARM
(Só tu es u meu entanto a / minha doce
alegria ot/ Eu lado satisfeita passa a / noute
e o dia em p.)
Transcrição das escritas
Exterior:
Adeus crabo
Adeus flor
Adeus anjo
Adeus amor
Interior:
Maria das
Sinco
Xagas de
Jesus
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39. Transcrição das escritas
Interior:
VAILENÇO AVENTUTOSO
AS MAOS DO MEU DOCE BEM
EU CA FICO SUSPIRANDO
POR NÃO PODER IR TAMBÉM
Exterior:
SOU AMANTE SEI DE QUEM
SEREI MAIS SE FOR POSSIVEL
POIS SÓ TEU SEREI MEU BEM
SOU AFAVEL SOU SENSIVEL
Material Utilizado:
pano de cambraia de linho, linhas de bordar
de cor vermelha e preta, lantejoulas
Transcrição das escritas
A ROSAPE LO
UMANOEL
ISTA SE EMPRE
SUSPIRAR
(A Rosa pelo Manuel está sempre a suspirar)
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40. Transcrição das escritas
q UATRAPONTAS TEM OL
ENCOqUATRORAMOSFL
LORIDOSLANO MEIO ADEACH
ARNOSSOCORACOESU.
(Quatro pontas tem o lenço / quatro ramos
floridos/lá no meio há-de achar/ nossos
corações u. (unidos))
Transcrição das escritas
ABRE.ULENÇO.I.BERAS
qUATRO.R.AMOS.FELOR.IDOS
NO MEIU.DELE.BER.AS
NO.S.SO.qURACOIS.UNIDOS
(Abre o lenço e verás / quatro ramos
floridos/no meio dele verás/nossos corações
unidos)
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43. Transcrição das escritas
IAVAILENÇODAMINHAMAO.
VAICORRERAFREG
UESIA VAIDAREMFORMACOES DA
MINHASABEDOR
(Vai lenço da minha mão/Vai correr a
freguesia/ Vai dar a informação/Da minha
sabedoria)
1918
Transcrição das escritas
...para lisboa te mandei
Um jencinho quasi novo
Em cada ponta seu suspiro
no meio dos ais que eu morro...
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44. Transcrição das escritas
MEU AMOR TEM CONFIANCO
NA PROMECA QUE TE FIS
BREBEMENTE HEIDE SER TUA
CHEGANDO UM DIA FELIS
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