Dicionário de Genealogia, autor Gilber Rubim Rangel
Financeirização Mundial e Desemprego
1. O Fenômeno da Financeirização Mundial
O mundo globalizado vai mostrando a nova cara do capitalismo, também
global, em seu novo estágio.
Os conglomerados financeiros globais que vão substituindo a produção de
mercadorias, geradora de emprego, salário e renda, com uma ação agressiva para uma
acumulação financeira que resulta em ganhar mais dinheiro e acumular riquezas
exorbitantes. Um dos grandes protagonistas dessa ofensiva, entre outros, são os fundos
de pensão, embora, muitas vezes, esses capitais sejam também alimentados por bancos
centrais e países ricos. Só para termos uma ideia, esse capital está em torno de trinta
trilhões de dólares. Imagine esse dinheiro saindo da especulação e migrando para a
produção de alimentos para o combate á fome e á miséria, para a construção de mais
escolas e hospitais, para o investimento em pesquisa científica, para a preservação do
meio ambiente e para a criação de novas formas de trabalho.
Infelizmente, sua trajetória é inversa. Esse capital concentra cada vez mais
poder e riqueza nas mãos de uma minoria, mergulhando milhões de trabalhadores no
desemprego, na miséria e na exclusão. Vemos que se um produto não tem uma procura
que satisfaça aos interesses e lucros do grande capital em uma região do planeta, ele é
transferido para outra região onde a procura seja maior, tudo facilitado pela dispersão
geográfica da produção, que também é global, e pelo desenvolvimento tecnológico da
informação e da comunicação por meio da internet, com o uso de computadores de
última geração. É o mercado, e não as necessidades humanas, que vai determinar onde
será produzida toda a forma de mercadoria.
O discurso é o de que o capital não tem pátria, ele gira o mundo em questão de
segundos, e as grandes transnacionais querem impostos menores e mão-de-obra mais
barata. No entanto, a realidade tem mostrado que isso não é verdade, tanto o capital
especulativo quanto a produção podem estar rodando o mundo, mas os lucros auferidos
sempre retornam para as matrizes das empresas desses países detentores do capital.
Essas remessas de lucro, que migram dos países pobres para os ricos, têm aumentado
ainda mais o fosso entre os países portadores de tecnologias daqueles que dela
dependem.
2. A Reestruturação Produtiva
A globalização, pela internacionalização do processo de planejamento
econômico, traz em seu bojo todo um processo de reestruturação produtiva, que vai
acelerando e dando uma nova configuração ás empresas, que se tornam também globais,
trocando os modelos hierárquico, verticalista e piramidal por um modelo mais
participativo e circular. Com isso, vão se reestruturando e reordenando as novas formas
de produção capitalista e novas tecnologias vão sendo incorporadas, o que diminui a
necessidade da mão-de-obra humana.
Aqui, novamente o emprego e o trabalhador são as maiores vitimas. Os grandes
detentores do capital mundial já anunciam “uma sociedade global de 20 por 80”. O que
isso significa? Que 20% da população em condições de trabalhar no século XXI bastaria
para manter o ritmo da economia mundial, ou seja, 1/5 de todos os candidatos a
emprego daria conta de produzir todas as mercadorias e prestar todos os serviços
qualificados que a sociedade mundial poderá demandar.
O aumento da riqueza dos países ricos vai aprofundando o fosso de
distanciamento entre eles e os países pobres. Basta olharmos o Relatório de
Desenvolvimento da ONU, que nos mostra o Índice de Desenvolvimento Humano
(IDH) dos 174 países envolvidos. Os vinte primeiros lugares são ocupados por países do
norte, especificamente Europa e América do Norte. O Brasil aparece em 79° lugar. Os
países africanos, já excluídos da globalização, em quase sua totalidade mergulhados em
conflitos tribais e na miséria, aparecem nos últimos lugares.
Tudo isso não deixa dúvida de que o neoliberalismo e a globalização são os
grandes desafios desse início de milênio, especialmente para as regiões mais pobres do
planeta, onde as aberturas dos mercados, a integração da produção, a automoção e a
robotização, confirmam que já vivenciamos a terceira Revolução Industrial que afetam
profundamente os processos de trabalho e expulsam do emprego milhões de pessoas
que cumprem tarefas rotineiras.
Quanto mais alta a tecnologia, menos necessária a força de trabalho
especialmente a menos qualificada, já que o novo perfil e demanda do mercado de
trabalho é justamente a mão-de-obra mais aprimorada, porque a organização das
3. empresas é mais flexível e integrada ao mundo global, o que permite eliminar toda a
parte de trabalho manual, em particular os mais repetitivos.
É justamente essa nova engrenagem industrial que tem mergulhado milhões de
trabalhadores no desemprego, gerando incerteza, insegurança, desilusão e, o que é pior,
desesperança para encontrar um novo emprego.
Torna-se mais que urgente e necessário construir um novo projeto de
sociedade, orientado por valores e por projetos estratégicos capazes de promover a
distribuição de riquezas, da renda, da terra, do poder e do saber, criando oportunidades
para que todos os brasileiros possam viver com justiça, dignidade e alegria.