Machado de Assis foi o principal nome do Realismo brasileiro, o primeiro presidente da Academia Brasileira de Letras e um dos escritores mais aclamados
1. LITERATURA – CAPÍTULO 7
O REALISMO PSICOLÓGICO DE MACHADO DE ASSIS
Componente curricular: Língua Portuguesa
Professora Esp. Érika Sinara F. Lustosa
2. Formação literária e humana – contemplação dessa
necessidade.
Fazer uma travessia por um universo único de
sofisticação, inteligência e sensibilidade da literatura
brasileira.
3. Capitu deu-me as costas, voltando-se para o espelhinho. Peguei-lhe dos cabelos, colhi-
os todos e entrei a alisá-los com o pente, desde a testa até as últimas pontas, que lhe
desciam à cintura. Em pé não dava jeito: não esquecestes que ela era um nadinha mais
alta que eu, mas ainda que fosse da mesma altura. Pedi-lhe que se sentasse.
-- Senta aqui, é melhor.
Sentou-se. «Vamos ver o grande cabeleireiro», disse-me rindo. Continuei a alisar os
cabelos, com muito cuidado, e dividi-os em duas porções eguais, para compor as duas
tranças. Não as fiz logo, nem assim depressa, como podem supor os cabeleireiros de
ofício, mas devagar, devagarinho, saboreando pelo tacto aqueles fios grossos, que eram
parte dela. O trabalho era atrapalhado, às vezes por desazo, outras de propósito, para
desfazer o feito e refazê-lo. Os dedos roçavam na nuca da pequena ou nas espáduas
vestidas de chita, e a sensação era um deleite.
4. Mas, enfim, os cabelos iam acabando, por mais que eu os quisesse intermináveis. Não pedi ao
céu que eles fossem tão longos como os da Aurora, porque não conhecia ainda esta divindade
que os velhos poetas me apresentaram depois; mas, desejei penteá-los por todos os séculos dos
séculos, tecer duas tranças que pudessem envolver o infinito por um número inominável de
vezes. Se isto vos parecer enfático, desgraçado leitor, é que nunca penteastes uma pequena,
nunca pusestes as mãos adolescentes na jovem cabeça de uma ninfa...Uma ninfa! Todo eu
estou mitológico.
Ainda há pouco, falando dos seus olhos de ressaca, cheguei a escrever Tétis; risquei Tétis,
risquemos ninfas; digamos somente uma creatura amada, palavra que envolve todas as
potências cristãs e pagãs. Enfim, acabei as duas tranças. Onde estava a fita para atar-lhes as
pontas? Em cima da mesa, um triste pedaço de fita enxovalhada. Juntei as pontas das tranças,
uni-as por um laço, retoquei a obra, alargando aqui, achatando ali, até que exclamei:
5. -- Pronto!
-- Estará bom?
-- Veja no espelho.
Em vez de ir ao espelho, que pensais que fez Capitu? Não vos esqueçais que estava sentada, de
costas para mim. Capitu derreou a cabeça, a tal ponto que me foi preciso acudir com as mãos e
ampará-la; o espaldar da cadeira era baixo. Inclinei-me depois sobre ela, rosto a rosto, mas trocados,
os olhos de um na linha da boca do outro. Pedi-lhe que levantasse a cabeça, podia ficar tonta,
machucar o pescoço. Cheguei a dizer-lhe que estava feia; mas nem esta razão a moveu.
-- Levanta, Capitu!
Não quis, não levantou a cabeça, e ficámos assim a olhar um para o outro, até que ela abrochou os
lábios, eu desci os meus, e...
Grande foi a sensação do beijo; Capitu ergueu-se, rápida, eu recuei até à parede com uma espécie de
vertigem, sem fala, os olhos escuros. Quando eles me clarearam, vi que Capitu tinha os seus no chão.
Não me atrevi a dizer nada; ainda que quisesse, faltava-me língua. Preso, atordoado, não achava
gesto nem ímpeto que me descolasse da parede e me atirasse a ela com mil palavras cálidas e
mimosas...Não mofes dos meus quinze anos, leitor precoce. Com dezessete, Des Grieux (e mais era
Des Grieux) não pensava ainda na diferença dos sexos.
6. Joaquim Maria Machado de Assis – Rio de Janeiro – 69 anos.
Filho de um pintor e uma lavadeira, pobres, ficou órfão muito cedo.
Mulato, tímido, gago e epilético.
Funcionário público e escritor.
Autodidata – vasta cultura literária.
Escrevia críticas teatrais e literárias, crônicas, artigos políticos, contos e
peças. Ganhou nome como poeta.
7. Aos 30 anos – casou-se (Carolina Xavier) - fez carreira burocrática – ascendeu –
permaneceu até a morte.
Foi um dos fundadores e presidente da Academia Brasileira de Letras (ABL).
Colaborou com inúmeros jornais e revistas.
8. O estilo machadiano tradicional é o Realismo, no entanto sua vida literária foi caracterizada,
inicialmente, pelo Romantismo. A primeira parte de sua carreira foi marcada por poemas, peças
teatrais e romances de caráter romântico, tais como:
O poema “Ela”, escrito em 1863;
As peças teatrais de comédia “O protocolo” e “O caminho da porta” (1863);
Seu primeiro livro de versos, “Crisálidas” (1864);
Seu primeiro romance, “Ressurreição” (1872);
O livro de contos “Histórias da meia-noite” (1873);
O romance “Iaiá Garcia” (1878).
Por volta de 1881, Machado adoentou-se devido à epilepsia. Com a saúde abalada, também por
causa dos remédios fortes que tomava, passou por um período pessimista, dando início à sua
fase realista com o romance “Memórias Póstumas de Brás Cubas”.
“Memórias póstumas de Brás Cubas” (1881);
“Quincas Borba” (1891);
“Dom Casmurro” (1899);
“Esaú e Jacó” (1904).
9. Antecipação da modernidade literária.
Enredo não linear.
Presença constante de digressões.
Metalinguagem.
Diálogo com o leitor e com as tradições literárias.
Sua obra também é bastante conhecida pelo chamado realismo psicológico, que se caracteriza pelos aspectos
psicológicos dos personagens, os quais, até então, eram explorados apenas a nível físico e costumeiro. Por ser um
escritor que também era jornalista e cronista, sua visão da sociedade, a qual rotineiramente observava,
influenciava muito o que abordava em suas obras: a sociedade burguesa carioca do século XIX.
10. Análise psicológica/psicanalítica dos personagens.
Humor sutil e permanente.
Ironia fina e corrosiva.
Visão metafísica relativista dos valores humanos (pessimismo).
11. CONTOS
Uns Braços é um dos contos mais famosos de Machado de Assis. Publicado
primeiramente em 1885 na Gazeta de Notícia.
A Cartomante é um conto do escritor brasileiro Machado de Assis, que foi publicado
originalmente na Gazeta de Notícias do Rio de Janeiro, em 28 de novembro de 1884.
12. REALISMO NO BRASIL
O Realismo no Brasil teve o seu início, oficialmente, em 1881, com a publicação
de Memórias Póstumas de Brás Cubas, de seu mais célebre autor, Machado de
Assis. Essa escola somente entra em declínio com o surgimento do
Parnasianismo, por volta de 1890.
O Realismo foi um movimento antiburguês, no qual denunciava as falsas bases que
sustentavam as relações burguesas da época. Com a introdução do estilo realista,
assim como do naturalista, o romance, no Brasil, ganhou um novo alcance: a
observação. Começou-se a escrever buscando a verdade, e não mais para ocupar os
ócios dos leitores.
13. O Realismo é a escola literária que analisa a realidade. Tem origem na França e, no
Brasil, surge depois do Romantismo e antes do Simbolismo, compreendendo os anos
1881 a 1893 - o mesmo período em que o Naturalismo e o Parnasianismo também
ocorreram.
Marcado pelo objetivismo, pela veracidade e pela denúncia social, o Realismo brasileiro
tem início com a obra de Machado de Assis “Memórias Póstumas de Brás Cubas”,
publicada em 1881.
REALISMO NO BRASIL
14. CARACTERÍSTICAS DO REALISMO
BRASILEIRO
Inversão dos ideais do Romantismo;
Enfoque no homem e no seu cotidiano;
Crítica social;
Linguagem simples e objetiva;
Personagens e ambientes descritos de forma detalhada.
O Realismo no Brasil dá enfoque ao homem, ao seu cotidiano e à crítica social. Assim,
por meio de uma linguagem simples e objetiva, as obras são ricas na descrição de
detalhes - características que visam aproximar o leitor o mais possível da realidade.