I) O conceito de região não é exclusivo da Geografia, mas também está relacionado a discussões políticas, organização cultural e representações de autonomia e soberania;
II) Gomes (1995) distinguiu três domínios onde o conceito de região está presente: no senso comum, como unidade administrativa e nas ciências;
III) A Geografia privilegia a discussão do conceito de região, sendo este um de seus conceitos-chave.
1. Breve debate sobre o conceito de Região na
ciência geográfica
Éderson Dias de Oliveira
CORRÊA, Roberto Lobato. Região e Organização do Espaço. Editora Ática, São
Paulo, 1987 – Série Princípio.
GOMES, Paulo C. da C. O conceito de região e sua discussão. In: CASTRO, Iná E.;
GOMES, Paulo C.; CORRÊA, Roberto L. Geografia: conceitos e temas. Rio de
Janeiro, Bertrand Brasil, 1995, p. 49-76.
2.
3. Região – um conceito mais que geográfico
O conceito de Região não é exclusividade da Geografia;
Esse conceito tem implicação fundadora no campo da
discussão política, da dinâmica do Estado, da organização da
cultura e do estatuto da diversidade espacial;
Também está relacionado as projeções no espaço das noções
de autonomia, soberania, direito e de suas representações;
A contemporaneidade instiga a discussão deste conceito:
redefinição do papel do Estado; quebra de pactos
territoriais dos últimos anos; ressurgimento de questões
“regionais” – nacionalismo;
A geografia é um campo privilegiado da discussão da região,
sendo a mesma um dos seus conceitos-chave;
4. • Gomes (1995) conseguiu dis-
tinguir pelo menos três gran-
des domínios nos quais a no-
ção de região está presente:
1. No senso comum, o conceito
de região está relacionado a
dois princípios: localização e
extensão de um certo
fenômeno - referência a
limites espaciais;
• Emprega-se assim termos como região mais pobre; área mon-
tanhosa e etc, como referência a uma espacialidade de domí-
nio de determinada característica que a distingue de outras;
2. A região tem também um sentido bastante conhecido
enquanto unidade administrativa - divisão regional como
hierarquia e o controle do Estado;
5. • Essa malha administrativa define competências e os limites
das autonomias dos poderes locais na gestão do território dos
Estados modernos;
• É preciso destacar que empresas e instituições utilizam os
recortes regionais para delimitação de circunscrições
hierárquicas administrativas, Ex. NRE; Jogos Escolares e etc.
3. Por fim a região está no domínio das “ciências em geral” nas
quais o seu emprego associa-se também a ideia de localização
de determinados fenômenos ou de um certo domínio;
• Ex. domínio de uma dada espécie; de um afloramento; de uma
dada propriedade da matemática; de um tipo climático;
• É possível perceber o seu emprego próximo de sua etimologia,
ou seja, área sob um certo domínio ou área definida por uma
regularidade de propriedades que a definem;
6. • O conceito de região está ligado à noção fundamental de
diferenciação de área;
• Na geografia, o uso da região é um pouco mais complexo, dada
as indefinições e a força de uso na linguagem comum;
• Umas das alternativas foi a adjetivação da noção de região
para diferencia-la do seu uso no senso comum;
• Há vários conceitos de região, e cada um tem um significado
próprio e se insere dentro de um dos paradigmas da
Geografia;
7. Região e Geografia Crítica
• Tem-se uma diferenciação causada por um desenvolvimento
distinto das sociedades: o aparecimento da divisão social do
trabalho, da propriedade da terra, dos meios e das técnicas
de produção, das classes sociais e suas lutas;
• Tudo isto se deu com enorme distância em termos espaço-
temporais, levando a uma diferenciação inter e intra grupos;
• Considera região sob uma
articulação dos modos de
produção;
• A região é uma dimensão
espacial das especificidades
sociais, em uma totalidade
espaço social;
8. • Região pode ser vista
como resultado do
desenvolvimento
desigual e combinado,
caracterizado pela sua
inserção na DIT e pela
associação da relação
de produção distintas;
• Calcado no materialismo e na dialética marxista, a região é
vista como “relações dialéticas entre formas espaciais e os
processos históricos que modelam os grupos sociais”, (Corrêa,
1995);
• Nessa concepção, o conceito de região é articulado à luz dos
modos de produção, através das conexões entre classes
sociais e acumulação capitalista, por meio das relações entre
Estado e a sociedade local;
9. • Região é considerada uma entidade concreta, resultado da
efetivação dos mecanismos de regionalização sobre um
quadro territorial já previamente ocupado;
• É a realização de um processo universal, em um quadro
territorial menor, onde combinam o modo dominante de
produção, o capitalismo, elemento uniformizador, e o
particular, as determinações já efetivadas, elemento de
diferenciação;
• A região é uma
dimensão espacial
das
especificidades
sociais em uma
totalidade
espaço-social;
10. • Diante desta “novidade”, muitos afirmaram que os novos
tempos anunciavam o fim das regiões pela homogeneização do
espaço - uniformização das relações sociais;
• Por outro lado, os movimentos regionais em geral, vistos como
movimentos de resistência à esta homogeneização, contam
com a simpatia e a adesão imediata de muitas pessoas.
• Este discurso permite várias análises: regionalismo =
preservação da elite local; globalização = manutenção das
diferenças sociais, pois não conseguiu suprimir a diversidade
espacial; e a criação de novas regiões (CEE, Nafta etc).
• Temário atual, Globalização - expressa
a ideia de uma economia unificada e
hegemônica, de uma sociedade que só
pode ser compreendida como um
processo de reprodução social global.
11. Aplicação do conceito de Região
• O estabelecimento de regiões
passa a ser uma técnica da
Geografia, um meio para
demonstração de uma hipótese e
não mais um produto final de
pesquisa;
• Regionalizar passa a ser a tarefa de dividir o espaço segundo
diferentes critérios que são devidamente explicitados e que
variam segundo as intenções explicativas de cada trabalho;
• As divisões não são definitivas, nem pretendem inscrever a
totalidade da diversidade espacial, elas devem simplesmente
contribuir para um certo entendimento de um problema;
• A variabilidade das divisões possíveis é quase infinita, pois
são muitas as possibilidades que trazem novas explicações;
12. • O conceito de região tem sido largamente empregado para
fins de ação e controle;
• A medida que a história do homem acontece, marcada pela
dinâmica da sociedade de classes e de suas lutas, o processo
de regionalização torna-se mais complexo;
• No modo de produção capitalista o processo de
regionalização se acentua – simultaneidade dos processos de
diferenciação e integração;
• A Região crítica não tem nada
de harmoniosa como a vidalina,
não é única mas particular, ou
seja, é a especificação de uma
totalidade da qual faz parte
através de uma articulação que
é ao mesmo tempo funcional e
espacial;
13. • No capitalismo, as regiões de planejamento são unidades
territoriais através das quais um discurso da recuperação e
desenvolvimento é aplicado;
• Trata-se na verdade do emprego, em um dado território, de
uma ideologia que tenta restabelecer o equilíbrio rompido
com o processo de desenvolvimento;
• Este discurso esquece, que no capitalismo as desigualdades
regionais constituem, mais do que em outros modos de
produção, um elemento fundamental de organização social;
14. Há também o emprego de processos de recuperação, de
maneira que a região sob intervenção planejadora passar a
ficar sob maior controle do capital; Ex; SUDENE e SUDAM;
Diante da diversidade global-fragmentadora do mundo
contemporâneo pode-se sugerir que a regionalização, deve
utilizar diferentes critérios, ou critérios mais flexíveis,
“adaptáveis” aos distintos espaços objetos de nosso estudo;
A utilização de um
determinado critério de
“coesão”, para regionalizar
deve ser aplicado através de
escalas diferentes – o que não
implicaria, obrigatoriamente,
o “fechamento”, ou melhor, a
contiguidade das regiões.
15. III) foi na Geografia que
as discussões atingiram
maior importância, já que
região é um conceito-
chave desta ciência.
Com relação a região Gomes (1995) chega a três grandes
conclusões:
I) permitiu o surgimento das discussões políticas sobre a
dinâmica do Estado, a organização da cultura e o estatuto da
diversidade espacial;
II) permitiu a incorporação da dimensão espacial nas
discussões relativas à política, cultura e economia, e no que
se refere às noções de autonomia, soberania, direitos, etc; e