1. Aluno: João Victor
Professora: Antonia Ieda
Instituição: Faculdade Federal do Estado do Mato Grosso
Fichamento - "Geografia: Conceitos e Temas"
Edição Português por Iná Elias de Castro (Autor, Editor), Paulo Cesar da Costa Gomes
Roberto Lobato Corrêa (Autor, Editor)
Editora Bertrand Brasil
Data de publicação 30 março 1995
Capítulo Fichado:
O capítulo "O Conceito de Região e Sua Discussão" oferece uma reflexão profunda sobre
a complexidade inerente ao conceito de região na geografia. O autor, Paulo Cesar da Costa
Gomes, inicia o texto com uma advertência crucial contra a busca por uma definição única e
definitiva da região. Em vez disso, propõe uma abordagem que reconhece a multiplicidade de
usos do conceito tanto dentro quanto fora da geografia, ressaltando a importância de considerar
as diversas operacionalidades e recortes gerados por tais usos.
O autor destaca três consequências fundamentais dessa abordagem. Primeiro,
questiona a ideia de que o conhecimento científico deva ser normativo, defendendo que a
ciência deve explorar os diferentes usos correntes do conceito de região. Em segundo lugar,
argumenta que a busca por conceitos "puros" deve ser substituída pela exploração dos
diferentes usos do conceito. Por fim, propõe que essa abordagem permite avançar nas
discussões sem a necessidade de estabelecer uma definição única para o conceito de região.
Ao longo do capítulo, é evidenciada a necessidade de discernir os diferentes sentidos da
região em várias esferas, incluindo o senso comum, outras disciplinas e a própria geografia. O
2. autor sugere reconectar essas significações aos contextos políticos, institucionais, econômicos
e culturais em que o conceito é utilizado. Para isso, explora alguns antecedentes históricos da
palavra "região", remontando ao Império Romano, onde o conceito representava áreas
subordinadas às regras gerais de Roma, estabelecendo uma relação entre a centralização do
poder e a extensão sobre uma área diversa.
O texto também introduz a influência de Hettner, que, sob a tradição neo-kantista alemã,
defendia a geografia como uma ciência idiográfica, enfatizando a singularidade e a não
repetitividade do espaço terrestre. Destaca a importância da compreensão na ciência humana,
argumentando que essa compreensão exige proximidade entre o sujeito e o objeto,
conhecimento contextualizado e particular. Nessa perspectiva, a geografia, ao estudar o espaço
terrestre, é idiográfica e deve focar na interpretação das diferenças regionais.
O autor também aborda a controvérsia entre Hettner e outros geógrafos alemães da
época, como Passarge e Schliter, que defendiam a análise das paisagens por meio de seus
aspectos formais, seguindo uma morfologia baseada em padrões genéticos e funcionais. Esse
debate levou a uma mudança de perspectiva na geografia, em que a geografia regional passou
a ser vista como a síntese do trabalho geográfico, representando uma unidade superior que
sintetiza a ação transformadora do homem sobre um determinado ambiente.
A região geográfica, ou região-paisagem, tornou-se, então, o novo conceito central da geografia,
marcando uma mudança em relação à visão naturalista. O texto argumenta que a região, na
verdade, seria um construto intelectual, uma invenção do geógrafo, uma abstração que serve
como ponto de referência para a compreensão e análise dos fenômenos espaciais. Nesse
sentido, enquanto conceito e ferramenta metodológica, a região seria útil para a análise
geográfica, mas não teria uma existência independente como uma entidade objetiva na
realidade.
A crítica ao conceito de região se estende à sua utilização como uma unidade de estudo
na geografia. A ênfase na descrição detalhada e única de áreas específicas é considerada, muitas
vezes, limitante. Argumenta-se que, ao concentrar-se na singularidade das regiões, a geografia
tradicional negligencia a busca por padrões gerais e leis que possam explicar fenômenos
espaciais mais amplamente. Isso cria um desafio para a construção de teorias geográficas
robustas e generalizáveis.Além disso, a crítica se estende ao suposto dualismo entre ciências
naturais e sociais na geografia, conforme sugerido pelos defensores do método regional.
Argumenta-se que a separação rígida entre esses domínios pode ser artificial, e que uma
abordagem mais integrada, considerando as interações complexas entre humanos e meio
ambiente, seria mais frutífera.O debate em torno do conceito de região e do método regional
na geografia reflete a busca por uma identidade e uma abordagem metodológica mais sólida e
integrada para a disciplina. As críticas à geografia clássica e ao método regional contribuíram
para a evolução do campo, levando a novas abordagens e enfoques na disciplina geográfica
contemporânea.A discussão sobre o conceito de região é complexa e tem evoluído ao longo do
tempo, refletindo diferentes abordagens e perspectivas teóricas na geografia. O texto aborda
diversas correntes de pensamento e debates epistemológicos em torno do conceito de região.
A seguir, vou destacar alguns pontos-chave e temas abordados no texto.
Crítica ao Funcionalismo Neoclássico:
3. Críticas são feitas aos modelos econômicos neoclássicos que baseiam a regionalização em
noções de rentabilidade e mercado. A geografia radical argumenta que essa abordagem
naturaliza o capitalismo e contribui para o desenvolvimento espacial desigual.
Divisão Territorial do Trabalho:
A corrente crítica, especialmente influenciada pelo discurso marxista, destaca a
importância da divisão territorial do trabalho e da acumulação capitalista na diferenciação do
espaço.
Região como Formação Sócio-Espacial:Algumas correntes propõem uma visão da região como
uma formação sócio-espacial, relacionada aos conceitos da economia política marxista. A região
é considerada uma síntese concreta e histórica dos processos sociais, produto e meio de
produção e reprodução da vida social.
Humanismo na Geografia:
Uma abordagem humanista valoriza a noção de região como um quadro de referência
fundamental na sociedade, destacando elementos como consciência regional e sentimentos de
pertencimento.
Globalização e Regionalismo:
Discussão sobre a relação entre globalização e a preservação da diversidade espacial.
Alguns preveem o fim das regiões devido à homogeneização do espaço, enquanto outros veem
o regionalismo como uma forma de resistência.
Desafios Contemporâneos:
Questionamentos sobre o significado atual de região, considerando grupos de Estados,
unidades supranacionais e parcelas subnacionais. Destaque para a relação entre território e
política e a influência da globalização nas dinâmicas regionais.
Fundamento Político e Controle Territorial:
A sugestão de que a região sempre possui uma proposição política e está relacionada ao
controle e gestão de um território. O texto também menciona debates sobre a geografia geral
versus a geografia regional, a dualidade entre ciência do geral e ciência do singular, e a discussão
sobre critérios gerais e uniformes versus critérios mutáveis na estruturação do espaço.A
discussão sugere uma reflexão sobre a necessidade de repensar o conceito de região à luz dos
desafios contemporâneos e das mudanças nas dinâmicas espaciais. Nesse sentido, o texto de
4. Paulo Cesar da Costa Gomes proporciona uma visão abrangente das múltiplas dimensões e
complexidades envolvidas no conceito de região na geografia.