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O Comum como hipótese para estudo dos
movimentos net-ativistas
Projeto de Pesquisa:
Das redes para as ruas, das ruas para as redes:
o net-ativismo nos territórios urbanos
O Papel das TICs na constituição dos movimentos em defesa do Comum nas
metrópoles
Mestranda em Mudanças Social e Participação Política (Promuspp) - EACH – USP
Orientador: Dennis Oliveira
Pesquisadora Celacc/USP (Centro de Estudos Latino Americanos sobre Cultura e
Comunicação)
Comunicação
X
Transformações políticas e econômicas
da sociedade
• Escrita: fundação dos estados burocráticos e da administração econômica
centralizada
• Alfabeto grego: aparecimento da moeda, da cidade antiga e,
principalmente, da democracia
• Imprensa: formação da opinião pública, a partir da circulação massiva de
livros e jornais, e Revolução Industrial
• Mídia audiovisual de massa: surgimento da sociedade do espetáculo e da
publicidade
Tecnologias de Informação e
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• Desenvolvimento e consolidação do capitalismo
financeiro globalizado
• Novas formas de trabalho: trabalho imaterial
• Era da informação - Sociedade em rede
• Crise do sistema representativo em nível internacional e
crise das ideologias
• Nova forma de fazer política: Net-ativismo
“a última revolução comunicativa”
(...) alterou, pela primeira vez na história da humanidade, a própria
arquitetura do processo informativo, realizando a substituição da forma frontal
de repasse de informações (teatro, livro, imprensa, cinema, TV), por aquela
reticular, tecnologicamente interativa e colaborativa. Surge, portanto, não
somente uma nova forma de interação, consequência de uma inovação
tecnológica que altera o modo de comunicar e seus significados, mas também os
pressupostos e as características de uma nova arquitetura social que estimula
inéditas práticas interativas entre nós e as tecnologias de informação” (DI FELICE,
2012, p. 16).
Esfera pública
• Estrutura de mediação e controle entre o sistema político e os
setores privados do mundo da vida (Habermas), onde a mídia tem
papel preponderante na formação de opinião
• Espaço público onde se dão os embates entre poder e contrapoder,
local de interação da sociedade, campo para ação e reação (Castells)
• “Autocomunicação de massa” tira supremacia da mídia corporativa
(hegemônica) sobre o que o público deve conhecer e discutir,
abrindo espaço para a autonomia dos cidadãos
• Espaço dos fluxos – virtual e real, local e global (glocal)
Evolução da comunicação
Novas perspectivas para democracia
• Redes como facilitadoras do debate e da tomada de
decisão
• Transparência
• Maiorias se formam em torno de questões específicas
• Elaborações coletivas
• Minorias têm direito de expressão
• Expressão individual é possível
• Democracia em tempo real
O embate entre os desejos subjetivos por habitar espaços inclusivos,
sustentáveis e compartilhados e a crescente exclusão e destruição dos
espaços comuns das metrópoles e megalópoles provocadas pela
especulação imobiliária, expressão local mais aguda do capitalismo
globalizado, tem-se constituído no substrato de uma nova forma de
ação política.
O ativismo digital em rede e na rede, ou net-ativismo, é hoje uma das
peças-chave desta ação que busca superar a crise da experiência
urbana, caracterizada por espaços totalmente manipulados pelo
homem, excludentes e imersos em concreto, asfalto e poluição.
Movimentos emergentes
Tratamos aqui de ações que se originam nas redes e continuam nas ruas das
cidades, onde são filmadas, transmitidas, fotografadas, postadas e
comentadas online, mantendo seu caráter informativo-digital (DI Felice).
São ações desvinculadas de partidos políticos e governos, não ideologizadas e
operadas de forma horizontal, sem lideranças e hierarquias. Não poderiam
existir sem a internet e as redes horizontais de comunicação multimodal que
tornam possível sua ação.
Mas ao mesmo tempo são agentes do contrapoder, em acentuado contraste
com as instituições políticas hoje desacreditadas e em crise.
Movimentos emergentes
Movimentos políticos emergentes
Movimentos emergentes
• Espontâneos na origem, desencadeados por fagulhas de indignação ou
revolta contra a ação dos governantes – “Em todos os casos, eles se
originam de um chamado à ação do espaço dos fluxos que visa criar uma
comunidade instantânea de prática insurgente no espaço dos lugares”
(Castells, 2015, 50).
• São autoreflexivos, questionando-se como movimentos e as pessoas
como indivíduos, revisando práticas permanentemente
• Não violentos, envolvidos em desobediência civil pacífica, são vítimas da
repressão, arbitrariedade e impunidade policial
Movimentos políticos emergentes
Movimentos políticos emergentes
• Movimento Zapatista
• Occupy
• 15M/indignados
• Primavera árabe
• Yo soy 132
• Jornadas de Junho
• Parque Gezi
• Nuit Debout
Da unidade para o comum
“Redes horizontais multimodais, tanto na internet quanto no espaço
urbano, criam sentimento de unidade; isso é importante porque é através
da unidade que as pessoas superam o medo e descobrem a esperança.
Unidade não é o mesmo que comunidade, uma vez que esta última implica
um conjunto de valores comuns, que, dentro do movimento, é algo que está
em processo, já que a maior parte dos participantes chega com seus
próprios objetivos e motivações e, então, partem para descobrir o potencial
comum na prática do movimento. Dessa forma, a comunidade é um objetivo
a se alcançar, enquanto unidade é o ponto de partida e a fonte de
empoderamento: Juntas podemos.” (Castells, 2015, p. 50)
O Comum
(commons, bien común)
• Aquilo que não é público nem privado
• A riqueza material derivada da natureza (água, ar, frutos da terra),
que deve ser usufruída e administrada de forma compartilhada
(Elinor Ostrom, “Governing the commons”, 1990)
• Os saberes, as linguagens, os códigos, a informação, os afetos... -
aquilo que é necessário para a interação social e a vida em comum
junto à natureza (Hardt e Negri, Commonwealth, 2010)
O Comum no capitalismo
•Capitalismo financeiro globalizado está ancorado no comum – códigos
abertos, informações comuns, amplas conexões e interatividade
•Trabalho imaterial, feminização da mão de obra (jornadas mais
flexíveis, tarefas “afetivas”), imigração e mescla social
•Relações sociais em formas de vida (biopolítica)
•Ponto de partida e de chegada – a riqueza que da comunicade brota –
linguagens, criações coletivas, produção imaterial – é a riqueza posta
para circular
Um projeto de multidão
Este comum só se realiza a partir da “Multidão” - “um sujeito social
internamente diferente e múltiplo, cuja constituição e ação não se
baseiam na identidade ou na unidade (muito menos na diferença),
mas naquilo que têm em comum” (HARDT & NEGRI, 2014, pp 140-
141).
Projeto político alternativo e diagonal à falsa dicotomia entre
propriedade pública (socialismo) e propriedade privada (capitalismo)
Projeto de multidão
“O formato Multidão não é a chave mágica que abre todas as portas,
mas lida adequadamente com um problema político real e postula
como modelo para abordá-lo um conjunto aberto de singularidades
sociais que são autônomas e iguais, capazes conjuntamente, por meio
da articulação de suas ações em caminhos paralelos em uma rede
horizontal, de transformar a sociedade”. (NEGRI&HARDT, 2010, p.
124,).
Cidades rebeldes
O spectro do comum ronda as cidades, onde sua produção é mais intensa e
direta, pois é ali que as pessoas vivem juntas, compartilham recursos, se
comunicam e trocam bens e ideias:
•Externalidades positivas - práticas culturais, circuitos intelectuais, redes
afetivas, instituições sociais
•Externalidades negativas - bens imobiliários e suas localizações, serviços e
facilidades, mas também violência, poluição, trânsito
As dualidades abrem caminho para que a cidade seja o palco de encontro e de
organização política
Cidades rebeldes
Os dois movimentos que estudamos neste momento seriam, assim, emblemáticos
desta luta da Multidão:
•Surgiram nas metrópoles em luta contra a especulação imobiliária e a privatização
do Comum (área histórica ou parque).
•Decorrem de encontros afetivos entre pessoas da cidade sem distinção de classe
social, cor da pele, idade etc., aquilo que Hardt e Negri chamam de “singularidades
cooperantes”.
•Nasceram nas redes digitais, símbolo da economia colaborativa e do Comum na
Era da Informação, habitando o que se convencionou chamar de espaço dos fluxos
e se constituindo em movimentos glocais (locais e globais, simultaneamente).
Cidades rebeldes
Não são apenas locais, porque estão nas redes, se relacionam e somam com
movimentos e causas semelhantes não só no país, como ao redor do mundo -
vide a conexão digital e entrelaçamento de objetivos entre os ocupantes do
Parque Augusta e do Parque Gezi, em Istambul, só possível pelas ações em
redes sociais como Twitter.
Não são apenas globais, porque lutam por causas específicas das cidades que
habitam, com suas singularidades, ainda que no bojo de uma causa global - a
luta contra a especulação imobiliária, tradução urbana (e não só) da
privatização da vida.
Juntxs podemos
“Redes horizontais multimodais, tanto na internet quanto no espaço urbano,
criam sentimento de unidade; isso é importante porque é através da unidade
que as pessoas superam o medo e descobrem a esperança. Unidade não é o
mesmo que comunidade, uma vez que esta última implica um conjunto de
valores comuns, que, dentro do movimento, é algo que está em processo, já que
a maior parte dos participantes chega com seus próprios objetivos e motivações
e, então, partem para descobrir o potencial comum na prática do movimento.
Dessa forma, a comunidade é um objetivo a se alcançar, enquanto unidade é o
ponto de partida e a fonte de empoderamento: Juntas podemos. (CASTELLS”,
2015, p.50)
Movimento#OcupeEstelita
https://www.facebook.com/MovimentoOcupeEstelita/videos/646378822175768/
 
https://www.facebook.com/MovimentoOcupeEstelita/?fref=ts
Movimento#OcupeEstelita
Movimento#OcupeEstelita
Movimento#OcupeEstelita
Parque Augusta
Parque Augusta
Rede de redes
Malu Oliveira
Mestranda do Promuspp (EACH-USP) e pesquisadora Celacc
Twitter: @MaluOliveira
Facebook: MaluOliveira
maluoliveira@usp.br
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  • 1. O Comum como hipótese para estudo dos movimentos net-ativistas
  • 2. Projeto de Pesquisa: Das redes para as ruas, das ruas para as redes: o net-ativismo nos territórios urbanos O Papel das TICs na constituição dos movimentos em defesa do Comum nas metrópoles Mestranda em Mudanças Social e Participação Política (Promuspp) - EACH – USP Orientador: Dennis Oliveira Pesquisadora Celacc/USP (Centro de Estudos Latino Americanos sobre Cultura e Comunicação)
  • 4. • Escrita: fundação dos estados burocráticos e da administração econômica centralizada • Alfabeto grego: aparecimento da moeda, da cidade antiga e, principalmente, da democracia • Imprensa: formação da opinião pública, a partir da circulação massiva de livros e jornais, e Revolução Industrial • Mídia audiovisual de massa: surgimento da sociedade do espetáculo e da publicidade
  • 5. Tecnologias de Informação e Comunicação • Desenvolvimento e consolidação do capitalismo financeiro globalizado • Novas formas de trabalho: trabalho imaterial • Era da informação - Sociedade em rede • Crise do sistema representativo em nível internacional e crise das ideologias • Nova forma de fazer política: Net-ativismo
  • 6. “a última revolução comunicativa” (...) alterou, pela primeira vez na história da humanidade, a própria arquitetura do processo informativo, realizando a substituição da forma frontal de repasse de informações (teatro, livro, imprensa, cinema, TV), por aquela reticular, tecnologicamente interativa e colaborativa. Surge, portanto, não somente uma nova forma de interação, consequência de uma inovação tecnológica que altera o modo de comunicar e seus significados, mas também os pressupostos e as características de uma nova arquitetura social que estimula inéditas práticas interativas entre nós e as tecnologias de informação” (DI FELICE, 2012, p. 16).
  • 7. Esfera pública • Estrutura de mediação e controle entre o sistema político e os setores privados do mundo da vida (Habermas), onde a mídia tem papel preponderante na formação de opinião • Espaço público onde se dão os embates entre poder e contrapoder, local de interação da sociedade, campo para ação e reação (Castells) • “Autocomunicação de massa” tira supremacia da mídia corporativa (hegemônica) sobre o que o público deve conhecer e discutir, abrindo espaço para a autonomia dos cidadãos • Espaço dos fluxos – virtual e real, local e global (glocal)
  • 9. Novas perspectivas para democracia • Redes como facilitadoras do debate e da tomada de decisão • Transparência • Maiorias se formam em torno de questões específicas • Elaborações coletivas • Minorias têm direito de expressão • Expressão individual é possível • Democracia em tempo real
  • 10. O embate entre os desejos subjetivos por habitar espaços inclusivos, sustentáveis e compartilhados e a crescente exclusão e destruição dos espaços comuns das metrópoles e megalópoles provocadas pela especulação imobiliária, expressão local mais aguda do capitalismo globalizado, tem-se constituído no substrato de uma nova forma de ação política. O ativismo digital em rede e na rede, ou net-ativismo, é hoje uma das peças-chave desta ação que busca superar a crise da experiência urbana, caracterizada por espaços totalmente manipulados pelo homem, excludentes e imersos em concreto, asfalto e poluição. Movimentos emergentes
  • 11. Tratamos aqui de ações que se originam nas redes e continuam nas ruas das cidades, onde são filmadas, transmitidas, fotografadas, postadas e comentadas online, mantendo seu caráter informativo-digital (DI Felice). São ações desvinculadas de partidos políticos e governos, não ideologizadas e operadas de forma horizontal, sem lideranças e hierarquias. Não poderiam existir sem a internet e as redes horizontais de comunicação multimodal que tornam possível sua ação. Mas ao mesmo tempo são agentes do contrapoder, em acentuado contraste com as instituições políticas hoje desacreditadas e em crise. Movimentos emergentes
  • 13. Movimentos emergentes • Espontâneos na origem, desencadeados por fagulhas de indignação ou revolta contra a ação dos governantes – “Em todos os casos, eles se originam de um chamado à ação do espaço dos fluxos que visa criar uma comunidade instantânea de prática insurgente no espaço dos lugares” (Castells, 2015, 50). • São autoreflexivos, questionando-se como movimentos e as pessoas como indivíduos, revisando práticas permanentemente • Não violentos, envolvidos em desobediência civil pacífica, são vítimas da repressão, arbitrariedade e impunidade policial
  • 15. Movimentos políticos emergentes • Movimento Zapatista • Occupy • 15M/indignados • Primavera árabe • Yo soy 132 • Jornadas de Junho • Parque Gezi • Nuit Debout
  • 16. Da unidade para o comum “Redes horizontais multimodais, tanto na internet quanto no espaço urbano, criam sentimento de unidade; isso é importante porque é através da unidade que as pessoas superam o medo e descobrem a esperança. Unidade não é o mesmo que comunidade, uma vez que esta última implica um conjunto de valores comuns, que, dentro do movimento, é algo que está em processo, já que a maior parte dos participantes chega com seus próprios objetivos e motivações e, então, partem para descobrir o potencial comum na prática do movimento. Dessa forma, a comunidade é um objetivo a se alcançar, enquanto unidade é o ponto de partida e a fonte de empoderamento: Juntas podemos.” (Castells, 2015, p. 50)
  • 17. O Comum (commons, bien común) • Aquilo que não é público nem privado • A riqueza material derivada da natureza (água, ar, frutos da terra), que deve ser usufruída e administrada de forma compartilhada (Elinor Ostrom, “Governing the commons”, 1990) • Os saberes, as linguagens, os códigos, a informação, os afetos... - aquilo que é necessário para a interação social e a vida em comum junto à natureza (Hardt e Negri, Commonwealth, 2010)
  • 18. O Comum no capitalismo •Capitalismo financeiro globalizado está ancorado no comum – códigos abertos, informações comuns, amplas conexões e interatividade •Trabalho imaterial, feminização da mão de obra (jornadas mais flexíveis, tarefas “afetivas”), imigração e mescla social •Relações sociais em formas de vida (biopolítica) •Ponto de partida e de chegada – a riqueza que da comunicade brota – linguagens, criações coletivas, produção imaterial – é a riqueza posta para circular
  • 19. Um projeto de multidão Este comum só se realiza a partir da “Multidão” - “um sujeito social internamente diferente e múltiplo, cuja constituição e ação não se baseiam na identidade ou na unidade (muito menos na diferença), mas naquilo que têm em comum” (HARDT & NEGRI, 2014, pp 140- 141). Projeto político alternativo e diagonal à falsa dicotomia entre propriedade pública (socialismo) e propriedade privada (capitalismo)
  • 20. Projeto de multidão “O formato Multidão não é a chave mágica que abre todas as portas, mas lida adequadamente com um problema político real e postula como modelo para abordá-lo um conjunto aberto de singularidades sociais que são autônomas e iguais, capazes conjuntamente, por meio da articulação de suas ações em caminhos paralelos em uma rede horizontal, de transformar a sociedade”. (NEGRI&HARDT, 2010, p. 124,).
  • 21. Cidades rebeldes O spectro do comum ronda as cidades, onde sua produção é mais intensa e direta, pois é ali que as pessoas vivem juntas, compartilham recursos, se comunicam e trocam bens e ideias: •Externalidades positivas - práticas culturais, circuitos intelectuais, redes afetivas, instituições sociais •Externalidades negativas - bens imobiliários e suas localizações, serviços e facilidades, mas também violência, poluição, trânsito As dualidades abrem caminho para que a cidade seja o palco de encontro e de organização política
  • 22. Cidades rebeldes Os dois movimentos que estudamos neste momento seriam, assim, emblemáticos desta luta da Multidão: •Surgiram nas metrópoles em luta contra a especulação imobiliária e a privatização do Comum (área histórica ou parque). •Decorrem de encontros afetivos entre pessoas da cidade sem distinção de classe social, cor da pele, idade etc., aquilo que Hardt e Negri chamam de “singularidades cooperantes”. •Nasceram nas redes digitais, símbolo da economia colaborativa e do Comum na Era da Informação, habitando o que se convencionou chamar de espaço dos fluxos e se constituindo em movimentos glocais (locais e globais, simultaneamente).
  • 23. Cidades rebeldes Não são apenas locais, porque estão nas redes, se relacionam e somam com movimentos e causas semelhantes não só no país, como ao redor do mundo - vide a conexão digital e entrelaçamento de objetivos entre os ocupantes do Parque Augusta e do Parque Gezi, em Istambul, só possível pelas ações em redes sociais como Twitter. Não são apenas globais, porque lutam por causas específicas das cidades que habitam, com suas singularidades, ainda que no bojo de uma causa global - a luta contra a especulação imobiliária, tradução urbana (e não só) da privatização da vida.
  • 24. Juntxs podemos “Redes horizontais multimodais, tanto na internet quanto no espaço urbano, criam sentimento de unidade; isso é importante porque é através da unidade que as pessoas superam o medo e descobrem a esperança. Unidade não é o mesmo que comunidade, uma vez que esta última implica um conjunto de valores comuns, que, dentro do movimento, é algo que está em processo, já que a maior parte dos participantes chega com seus próprios objetivos e motivações e, então, partem para descobrir o potencial comum na prática do movimento. Dessa forma, a comunidade é um objetivo a se alcançar, enquanto unidade é o ponto de partida e a fonte de empoderamento: Juntas podemos. (CASTELLS”, 2015, p.50)