Este documento resume uma série de artigos escritos por Carlos Lacerda criticando o fechamento do Ginásio de Muzambinho em 1937 e 1951 sob os governos de Benedito Valadares e Juscelino Kubitschek. Lacerda acusa os governadores de perseguição política aos professores e populares que apoiavam a oposição. O documento também fornece contexto histórico sobre a fundação do ginásio e sua importância para a cidade.
Esse slide foi feito para a disciplina de teatro na educação VI.
A recepção na cultura gaucha: Vagner Vargas.
Este trabalho foi desenvolvido pensando como explorar a introdução de peças de teatro/dança aos espectadores.
Foi mostrado um pouco da cultura gaucha na visãop de Simões Lopes Neto para que assim depois assistisem um espetáculo chamado "Tatá dança Simões"
Esse slide foi feito para a disciplina de teatro na educação VI.
A recepção na cultura gaucha: Vagner Vargas.
Este trabalho foi desenvolvido pensando como explorar a introdução de peças de teatro/dança aos espectadores.
Foi mostrado um pouco da cultura gaucha na visãop de Simões Lopes Neto para que assim depois assistisem um espetáculo chamado "Tatá dança Simões"
Seminário apresentado pelos alunos da 3ª série A, da E. E. Profa. Irene Dias Ribeiro, em Ribeirão Preto - SP - Brasil, na Disciplina de Língua Portuguesa - Profa. Maria Inês de Souza Vitorino Justino
Seminário apresentado pelos alunos da 3ª série A, da E. E. Profa. Irene Dias Ribeiro, em Ribeirão Preto - SP - Brasil, na Disciplina de Língua Portuguesa - Profa. Maria Inês de Souza Vitorino Justino
Apostila do Curso de Verão: VB, realizado em 2018, em Passos.
VB.1(a) – Radiciação, Propriedades da Radiciação, Simplificação de Radicais, Introdução do Fator Externo no Radicando, Racionalização de Denominadores, Potência de Expoente Fracionário
VB.2(a) – Equações Fracionárias do 1º Grau, Equações Literais, Lei dos Produtos Nulos, Resolução de Equações utilizando-se da Fatoração, Resolução da Equações binômias, Equações do 2º Grau incompletas, Métodos de resolução da Equação do 2º Grau (fatoração, completando quadrados e pela fórmula resolutiva)
VB.3(a) – Teorema de Pitágoras, Relações Métricas no Triângulo Retângulo, Relações Métricas no Triângulo Qualquer, Natureza dos Triângulos, Cevianas e Relação de Stewart, Razões Trigonométricas no Triângulo Retângulo, Razões Trigonométricas de ângulos notáveis, Aplicações na Área do Triângulo, Lei dos Senos e Lei dos Cossenos.
VB.1(b) – Cálculo com Radicais: operações com radicais com índices não necessariamente iguais, Comparação de Radicais, Radical Duplo, Casos Complicados de Radiciação
VB.2(b) – Resolução de Equações do 2º Grau de diversos tipos, Equações literais do 2º Grau, Fatoração do Polinômio do 2º Grau, Equações Biquadradas, Equaçóes Irracionais, Problemas com Equações do 2º Grau (problemas diretos, média geométrica, diagonais, problemas geométricos). Problemas envolvendo equações do 2º Grau - Equações fracionárias - equacionamento.
VB.3(b) – Conceitos sobre circunferência (raio, diâmetro, arco, corda, flecha). Posições relativas entre circunferência e ponto, circunferência e reta, circunferência e circunferência. Média Geométrica na circunferência. Relação entre cordas. Relação entre secantes. Relação entre secante e tangente. Potência de um ponto. Polígonos Regulares Inscritos e Circunscritos. Apótema. Relações Métricas nos Polígonos Regulares e demonstração das fórmulas por Teorema de Pitágoras e por trigonometria. Pequeno Teorema de Tales. Triângulo Circunscrito: propriedades, Lei dos Senos e Área. Área do Triângulo Inscrito. Quadriláteros Inscritos e suas relações angulares. Teorema de Pitot e Quadriláteros Circunscritos. Teorema de Ptolomeu. Relação de Hiparco. Polígonos Regulares Circunscritos.
Apostila do B9 do PODEMOS.
B9.1 - Função do 2º Grau e Complementos sobre Funções. Função do 2º Grau. Concavidade da Parábola. Vértice da Parábola. Ponto máximo e mínimo da parábola. Aplicação e revisão de Função polinomial do 2º grau. Inequações do 2º grau. Função Composta. Função Inversa.
B9.2 - Demonstrações em Matemática. Noções de Lógica: proposições, valor verdade, princípios básicos das proposições (princípio da não-contradição, princípio do terceiro excluído), negação de uma proposição, conectivos (conjunção, disjunção, condicional, bicondicional), tabela verdade, sentença aberta, quantificadores (quantificador universal, quantificador existencial). Leis de De Morgan. Demonstrações: direta, contraposição, redução por absurdo, exaustão, provas geométricas simples (argumentos angulares e combinatórios), demonstração por casos. Paradoxos. Princípio da Indução Finita. Propriedades da Igualdade e da Desigualdade. Relação de Equivalência e de Ordem. O problema das Definições.
B9.2 - Noções sobre Sólidos Geométricos e Volumes. Noções de Geometria Espacial. Bloco Retangular. Prismas e Pirâmides. Relação de Euler. Corpos Redondos e Sólidos de Revolução. Poliedros de Platão. Poliedros de Arquimedes. Volumes dos Sólidos Geométricos. Área e Volume do bloco retangular, prismas, pirâmides, cone, cilindro, esfera, toro. Medidas de Capacidade e Volumes. Princípio de Cavaliéri. Demonstração intuitiva do Volume da Pirâmide. Elementos e partes da esfera. Constrauções em malhas. Noções de Perspectiva (linha de horizonte, ponto de fuga, vistas). Poliedros e a probabilidade.
14 qa introducao aos poliedros - aula 1Otávio Sales
Um texto único em língua portuguesa, sobre um assunto vasto e pouco explorado no ensino brasileiro. Prismas, Antiprismas, Pirâmides, Poliedros de Platão, Poliedros de Kepler-Poinsot, Dualidade, Conceitos, Operações sobre Sólidos. Veja as outras aulas.
13 qa teoria matematica das eleicoes - aula 2 - versao 17052020Otávio Sales
Teoria Matemática das Eleições: único texto em língua portuguesa no Brasil que apresenta o tópico de ELEIÇÕES MAJORITÁRIAS para o Ensino Médio. Em breve ELEIÇÕES PROPORCIONAIS. Esse assunto é matéria básica em muitos países do mundo. Votação Plural. Votação Antiplural. Votação Maioritária em Duas Voltas. Método RunOff. Método de Condorcet. Contagem de Borda. Vetores Eleitorais
1. #12 MUZAMBINHO:O MARTÍRIO DE UMA
CIDADE
Carlos Lacerda
Comentários de Otávio Luciano Camargo Sales de Magalhães
Muzambinho, o martírio de uma cidade: série de artigos do jornalista Carlos
Lacerda
Trata-se de uma série de artigos escritos pelo próprio jornalista Carlos Lacerda,
maior nome da UDN nacional, que anos depois se tornaria governador do Rio de
Janeiro. Carlos Lacerda, para atacar Juscelino Kubitscheck, toma partido dos Tucanos,
que por COINCIDÊNCIA eram udenistas (e isso depois eu provo).
Nesses artigos há sérias críticas contra Lauro Campedelli, Ismael Coimbra, Jane
Cipriane, José Januário de Magalhães, e, principalmente, contra Frei Querubim, que ele
chega a dizer que era santo no nome, mas um demônio na atitude.
O artigo enaltece Salatiel de Almeida, Antônio Magalhães Alves, Lycurgo Leite,
José Maria Armond, Messias Gomes e outros tucanos.
Devemos tomar muito cuidado ao nos posicionarmos contrários aos nomes
relacionados, pois trata de uma crítica editorial, com posicionamento político definido.
É evidente que, nos episódios narrados sobre o fechamento do Ginásio Mineiro
(Lyceu) em 1937 e na expulsão de Salatiel de Almeida de Muzambinho, eu concordo
que os pica-paus agiram de forma absurda, mas, precisamos olhar o contexto, que
coincide com o mesmo mês foi deflagrada a ditadura do Estado Novo.
Também concordo que algumas atitudes de José Januário de Magalhães eram
absolutamente inadequadas, mas, ele agiu apenas pela busca de poder, e, fez também
coisas positivas para cidade. Quanto ao Frei Querubim, também era ganancioso e
totalitário, porém, tem também suas parcelas de contribuições.
Ressalto isso, pois, apesar de me posicionar em algumas situações de forma
simpática aos tucanos, não vejo os pica-paus da forma que são narrados. Houveram
pica-paus brilhantes que muito fizeram por nossa cidade, e, no plano nacional, eles
estavam com o lado mais a esquerda (apesar de estarem mais a direita no sua própria
visão de mundo). De igual forma, é obvio que sou mais simpático a Getúlio do que a
Carlos Lacerda.
Precisamos tomarmuito cuidado, pois, nem tudo que Lacerda narra é verdadeiro
– há muita fantasia, há muita versão tucana, sem possibilidade de defesa. Da mesma
forma que precisamos tomar cuidado com a versão narrada pelo Vonzico da morte de
Saint Clair, colocando o “professor de desenho” que ele não nomina como vilão.
O contexto da morte de Saint Clair era um regime de exceção. Tanto que já
recebi cartas do filho dele onde ele cita o nome de José Maria Armond se fazer qualquer
crítica. José Maria Armond, como vocês poderão ver, não era vilão ou mal, tanto que
ele foi absolvido do processo, não ficou preso, e, foi reconduzido ao cargo público no
Colégio Estadual de Muzambinho após o fim da Ditadura Vargas. Além disso, seu
advogado foi o próprio irmão do morto, o Prof. Antônio Magalhães Alves.
Sem contar que ambos foram companheiros na revolução de 1932, e, há uma
edição de “O Muzambinhense” onde José Maria Armond, que era diretor e colunista do
jornal, elogia Saint Clair.
A versão de Vonzico nos dá um tom de vilania ao professor de desenho José
Maria Armond, o que é falso. Felizmente, Geraldo Vanderlei Falcucci, com um livro
maravilhoso, aquela da história das ruas, resgata a história retirando o caráter de vilão
de Armond. Vonzico alega que estava lá, era uma criança de 11 anos, assistindo tudo,
e, sabemos, que os adultos não contam tudo que acontece para uma criança de 11
2. anos, e, sequer é possível alguém saber tudo que está acontecendo com essa idade e
fora do contexto.
Em primeiro lugar, antes de iniciar a leitura, 3 apontamentos são importantes:
1º Carlos Lacerda era o maior adversário de Vargas e o pivô do suicídio de
Vargas em agosto de 1954. Vargas estava sendo ameaçado de impeachment pois sua
guarda pessoal e seu irmão estavam envolvidos com a tentativa de assassinato de
Carlos Lacerda na Rua Tonelero.
Vale a pena assistir o filme “Getúlio”, onde Carlos Lacerda é representado por
Alexandre Borges. Esse personagem de Borges é o mesmo Lacerda que escreve esse
artigo sobre Muzambinho.
Lacerda também aparece em muitos outros filmes. No seriado JK ele foi
representado por José de Abreu, no filme “Flores Raras” foi Marcelo Airoldi e no filme
“Bela Noite para Voar” foi Marcos Palmeira. Este mesmo que é o autor desses textos
que transcrevemos.
2º A Tribuna da Imprensa era o principal veículo no Brasil que atacava Getúlio
Vargas e todos seus companheiros, inclusive Juscelino Kubitschek. O diário existe até
hoje.
O jornal também aparece no filme “Getúlio” e no seriado JK nominalmente citado,
“vejam agora o que saiu na Tribuna da Imprensa”, é algo recorrente.
É importante repetir que esse jornal era de propriedade e de direção de Lacerda.
3º Carlos Lacerda não tinha compromisso com a verdade, mas sim com atacar
o adversário e destruir todos que fossem dos partidos de Getúlio Vargas. Isso significa
que o que estáescrito é mentira? Não! Os artigos trazem importantíssimas contribuições
para a História de Muzambinho.
JORNALISTA CARLOS LACERDA
Foto da Revista Época
TRIBUNADAIMPRENSA – 26 de fevereiro de 1951
Anuncio das reportagens
DIAS DE AGONIA em Muzambinho
O ginásio ocupado pelos soldados por ordem do governador – Benedito e a
Inconfidência – O Frei Querubim, o Rasputine pessedista – A história de uma cidade do
sudoeste mineiro que perdeu o direito de existir porque ali o povo derrotou o partido
oficial.
A partir de amanhã, na TRIBUNA DA IMPRENSA, as reportagens do nosso
enviado especial sobre o drama de Muzambinho.
3. TRIBUNADAIMPRENSA – 27 de fevereiro de 1951
PARTE I – Muzambinho, ou o martírio de uma cidade
Muzambinho, ou o martírio de uma cidade
Depois que o avião desce em Guaxupé, a
cercade duas horas de São Paulo, entramos numa
dessas trilhas que em Minas chamam-seestradas.
Cerca de três horas depois chagamos a
Muzambinho. A cidade tem uns oito mil habitantes,
o município 22 mil. A renda municipal é de Cr$ 1
milhão. O Estado arrecada três vezes mais. Ali o
ministro Daniel Carvalho fez construir uma escola
agri-industrial que, se for concluída, dará impulso
à região.
Mas a cidade anda triste. A imensapraça
ao fim da qual assenta a igreja matriz, assistida
pelos franciscanos holandeses que tanto serviço
ali têm prestado, as ruas de barro, sujando as
casas que ao levantando, novas e teimosas,
abrigam uma população atormentada.
Uma estranha maldição caiu sobre
Muzambinho. Todos estão contrafeitos. Fala-se
A escola agri-industrial citada é
a futura Escola Agrotécnica
Federal, hoje IFSULDEMINAS.
Os franciscanos administraram
a paróquia durante muito tempo,
a partir dos anos 30 até 1988,
quando entraram os padres
Francisco e Guaraciba. Os
franciscanos que mais se
destacaram foi o Frei Florentino,
nos anos 30, que tinha visão
revolucionária e humanista,
fundando uma escola para
meninos pobres; o Frei Rafael,
mais recente que ajudou a
fundar a Escola Superior de
4. nas esquinas, murmura-se– e ninguém pode fazer
coisa alguma para que a cidade volta a sair do
esponto que a atordoa.
Pela segunda vez, em treze anos, a
cidade querida no que ela tem de mais necessário
e mais ilustre. Ferida ela foi na própria fonte de
toda a sua alegria.
É uma historia que não parece daqui.
Parece um relato das aldeias sobre as quais Hitler
impôs penalidades arrasadoras para puni-las por
sua altivez.
O COMEÇO
Em 1937, o governador Benedito
Valadares fechou o Ginásio e Muzambinho e
mandou ocupar o prédio por um batalhão da Força
Pública, então especialmente criado. Nos pátios já
não circularam crianças,mas soldados – os pobres
praças, miseravelmente pagos, da Força Pública
mineira, e um árdego capitão que ao sair, em 49,
jurou voltar para tirar vingança.
Depois de sair Valadares e voltar a
Constituição, o ginásio foi reaberto. Em 1949, tudo
voltou a ser como dantes. Apenas, para que isto
acontecesse, dois reitores morreram e um
professor matou.
E o povo de Muzambinho sofreu. E gente
do sudoeste mineiro não teve mis ginásio de graça.
E isto que agora volta. E isto que tira o sono do
povo de Muzambinho.
O FIM
Agora, quem manda é Juscelino
Kubitschek.
Então o Ginásio de Muzambinho está
para ser novamente fechado. E de novo ali se
instalam os soldados do novamente criado
Batalhão da Força Pública. Já lá estão 20 praças.
O resto chegando. E o capitão troveja. Ele se
vingou, o capitão.
O COMEÇO DO GOVERNO
Em 1896, um jovem professor mineiro,
Salatiel Ramos de Almeida, filho de Campanha,
chegou a Muzambinho e fundou umaescola, quem
em 1902 se transformou em ginásio.
Não sei se compreendem o que era,
então, como até hoje, um ginásio no interior do
Brasil. Em resumo, um ginásio na região significa
a possibilidade de mandar os filhos estudarem sem
ter que pagar internamentos no Rio, em São
Paulo, em Belo Horizonte. E para toda a
população, mesmo os que não tem filhos, um
ginásio representa tanto ou mis que a luz elétrica.
Educação Fisica; e, mais antigo,
o Frei Querubim Beumelhof,
bastante citado nessa
reportagem, que era proprietário
na época de três escolas na
cidade, o Ginásio São José, a
Escola Normal e a Escola
Paroquial Frei Florentino.
Importante dizer que esse ano
de 1951 foi o último ano de
funcionamento do Ginásio São
José, e, nos anos seguintes a
Escola Paroquial foi
estadualizada e se tornou a EE
Frei Florentino, e, a Escola
Normal foi incorporada ao
Colégio Estadual de
Muzambinho (futura EE Prof.
Salatiel de Almeida). Frei
Querubim também foi embora
dessa cidade neste ano.
Vale ressaltar que Querubim
chegou em Muzambinho para
substituir o carismático Frei
Florentino, falecido em 1937.
Na realidade, Salatiel de
Almeida chegou em
Muzambinho depois disso, em
1899 ou 1900.
NOÉ DE AZEVEDO (Foto da
OAB-SP)
Noé de Azevedo, jurista e
professor universitário de
Direito, é presidente emérito da
5. Salatiel Ramos de Almeida foi um reitor
digno da dignidade de sua obra. O povo ajudou-o,
é verdade. Ele formou uma elite, que se espalhou
por todos os cantos. Nóe de Azevedo, de São
Paulo, saiu das mãos de Salatiel de Almeida. E
Carlos Góis. E Mário Magalhães, da Academia
Mineira.
GINÁSIO GRATUITO
No governo do Estado, Antônio Carlos
Ribeiro de Andrada fêz, ponto de vista
administrativo, um dos dois ou três grandes
governos de Minas – talvez o maior. Ao perceber o
alcance da obra de Salatiel de Almeida, o
presidente Antônio Carlos encampou o Ginásio.
Com isto, a região passou a ter ensino ginasial
gratuito. E para garantir a continuidade do esforço,
o governo fez de Salatiel de Almeida o reitor do
Ginásio Estadual.
AS TERTÚLIAS DE JACKSON
Um dia Jackson de Figueiredo foi, como
parte da banca examinadora do Pedro II argüir
alunos em Muzambinho. Apaixonou-se pela
cidade. Ali converteu Hamilton Nogueira, o
senador. Ali se empenhou naquelas grandes
conversas da farmácia, na qual citava, com sua
espantosa memória, os versos dos poetas que a
ronda do acaso ia evocando. Um centro literário, a
par da consciência profissional, formou-se em
Muzambinho.
PROFESSOR NÃO PODE PROFESSAR
Mas em 1937 abriu-se o problema da
sucessão presidencial. O sr. Getúlio Vargas já
estava há muito tempo no poder, parecia enjoado.
Acreditaram que ele quisesse eleições. O
presidente de São Paulo, Armando de Sales
Oliveira, candidatou-se. Do outro lado, lançado â
rua pelo governador de Minas, surgiu um
candidato oficioso, o sr. José Américo de Almeida.
Os professores do Ginásio Estadual de
Muzambinho não se filiaram os partidos que então
se formaram. Mas simpatizavam abertamente com
a UDB, que assim se designava o partido de
Armando de Sales Oliveira. Todos os professores,
menos três.
A REPRESÁLIA
Benedito Valadares, então, ainda não
era o autor de “O Espiridião”. Era apenas pouco
mais que analfabeto e odiava com a força de um
primário. Um dia, a leitura de certa carta irritou-o
tanto que ele atirou a cara de seu secretário de
OAB-SP, e teve a mais longa
gestão da entidade no estado de
São Paulo, entre 1939 e 1965.
Ele inaugurou a sede da OAB na
praça da Sé. Participou da
elaboração do ante-projeto do
Estatuto da OAB, Lei Federal
4215/63. Fez o ginásio em
Muzambinho.
JACKSON DE FIGUEIREDO
Foto de “O Camponês”
Jackson de Figueiredo Martins,
filósofo cristão, considerado de
extrema direita. Fundou o
Centro Dom Vidal no Rio de
Janeiro e tem uma obra
vastíssima. Foi ele que
converteu Tristão de Ataíde
(Alceu Amoroso de Lima) ao
cristianismo.
Carlos Góis, filólogo e poeta, foi
promotor e professor e
Muzambinho. Escreveu muitos
livros e gramáticas, é citado no
poema “Aula de Português” de
Carlos Drummond de Andrade.
Foi membro de várias
academias de letras, entre elas,
a mineira.
Mário Magalhães Gomes, poeta,
membro da Academia Mineira
de Letras. Foi professor do
Lyceu do Prof. Salatiel de
Almeida.
Hamilton Lacerda Nogueira, foi
deputado federal e senador da
6. Educação uma bandeja de café. O secretário era o
sr. Cristiano Machado.
A notícia eu os professores do ginásio
estadual de Muzambinho pareciam inclinados a
votar em Armando de Sales Oliveira despertou em
Benedito Valadares aquele impulso, bem –
chamemo-lo o ímpeto da bandeja de café.
Valadares demitiu o Reitor do Ginásio.
Nomeou um substituto.
OS ESTUDANTES NÃO QUERIAM
Salatiel de Barros, demitido, tinha então,
quase 70 anos de idade. Além da idade, tinha de
seu, de quando havia dado ao sudoeste de Minas,
onde é visto como uma espécie de apóstolo, uma
pequena Escola Normal, que era ainda sua, e uma
chacrinha, onde morava com a família.
Os estudantes, meninos e meninas
choraram quando Salatiel foi demitido. E
resolveram reagir. Entrarem em greve.
EXPULSÃO DE SALATIEL
Mas não basta demiti-lo. É preciso
expulsar da cidade o reitor tangido da escola que
havia fundado. Como, porém, intervir na sua vida
privada? Como desarmar, de todo a quem armas
não tinha senão o amor dos alunos que formara?
FREI QUERUBIM TOMADO DE PAIXÃO
Frei Querubim, de nacionalidade
holandesa, entre os franciscanos da casa
paroquial de Muzambinho é o que mais se destaca
– porque é o vigário.
Mas frei Querubim não é apenas o
vigário. Ele se deixou formar pela paixão política.
Frei Querubim era o chefe, por assim dizer a alma
do domínio de Benedito Valadares em
Muzambinho.
Na campanha eleitoral de 45, no
domingo, 2 de dezembro, dia da eleição, violando
portanto o Código Eleitoral, mas sobretudo
violando outras leis a que não deva faltar, frei
Querubim afirmou, dentro da Igreja, do púlpito, que
ninguém deveria votar no Brigadeiro Eduardo
Gomes, porque este é comunista. E há pouco, na
campanha eleitoral, falando num comício ele disse:
“A oposição aqui está reduzida a seis bestas.”
A violência da linguagem corresponde,
segundo a descrição de cerca de quarenta
pessoas que ouvimos em Muzambinho, a violência
de seus sentimentos. É um homem digno de
admiração, pelos serviços que prestou ao seu
rebanho. Mas está tomado pela paixão política.
SALATIEL CERCADO E VENCIDO
república. Era médico e escrevia
sobre medicina, ajudando a
fundar a Academia Brasileira de
Medicos Escritores. Estudou no
Lyceu. Foi senador entre 1946-
1955 e deputado federal entre
1959-1967 (dois mandatos).
Apenas três professores
apoiavam o candidato de
Getúlio Vargas e Benedito
Valadares: Correia Pinto,
Armando Coimbra e Saint Clair!
O motivo era simples. Getúlio
Vargas foi eleito pela Aliança
Liberal com apoio de Antônio
Carlos Ribeiro de Andrada,
mineiro. Os tucanos, liderados
por Dr. Lycurgo Leite, apoiaram
Getúlio, por ser candidato de
Antônio Carlos. Já os pica-paus,
liderados pela família Coimbra,
apoiaram o paulista Júlio
Prestes, candidato oficial de
Washington Luís. Só que
Getúlio rompeu com Antônio
Carlos, que seria sucessor
natural de Getúlio, e lançou o
poeta José Américo de Almeida
para candidato. Lycurgo Leite
seria fiel com Antônio Carlos,
mas morreu em 1936 – e todos
os tucanos acompanharam
Antônio Carlos, desta vez,
contra Getúlio, apoiando
Armando de Sales Oliveira.
Nesse meio tempo, o prefeito
José Januário de Magalhães,
que era tucano, migrou para o
grupo dos pica-pau, pois, queria
continuar com o apoio de
Valladares, que era o interventor
do estado. Essa inversão de
grupos políticos (leia mais em
minha dissertação de mestrado
e outros textos) foi problemática
e fez com que Salathiel ficasse
com Antônio Carlos também, e
levou à sua demissão.
7. Perdendo o ginásio, Salatiel de Almeida
ainda possuía a pequena Escola Normal e sua
chacrinha. E uma resignação de bom católico.
Mas Salatiel possuía também uma
dívida. De 50 contos de réis, era a dívida, na Caixa
Econômica de Minas Gerais. Lá de cima, de Belo
Horizonte, começaram a apertar o devedor. E
Salatiel não tinha com que pagar..
Frei Querubim ofereceu-separa comprar
a Escola Normal. Por 40 mil cruzeiros. Foi ao
Banco de Crédito Real e trouxe o dinheiro para
pagar a Salatiel. Era menos 10 contos do que a
dívida do velho reitor.
Mas na hora de pagar suscitou-se um
problema: a chácara. De lá vinha a água para a
Escola Normal. Logo, ela era essencial para
Escola. Logo, devia ser compreendida na venda.
Salatiel conformou-se. Ia receber o
dinheiro para pagar a dívida que fizera ensinando
a mocidade mineira.
Surgiu, porém, outra dúvida. E frei
Querubim, que a suscitou, resolveu-a logo com a
seguinte cláusula, que figura no contrato de venda
da Escola Normal:
“e ainda se obrigam os outorgantes
vendedores a não mais fundarem
estabelecimento de ensino nesta
cidade”.
Esta cláusula consta do contrato de
venda escritura, lavrada a 1 de dezembro de 43,
no 2º tabeliã, livro 83, folhas 54 a 58, em
Muzambinho.
DESTERRADO
Assim Salatiel de Barros saiu da terra
que fizera sua, pelos colégios que lá fundara. Não
podendo, por sua idade, ser nomeado, foi
imediatamente contratado pelo governo de São
Paulo (1943), para dirigir o ginásio de São Simão.
Sozinho ficou frei Querubim, que fundou
e dirige um ginásio franciscano,com mensalidades
pagas.
ARRAZADO
Quanto ao Ginásio Estadual, gratuito
estava parado, com os alunos em greve.
Mas o que houve depois foi ainda mais
triste. Pois, não se iludam, está uma história muito,
mas muito triste.
A história de uma cidade do sudoeste
mineiro onde a paixão política se apossa dos
homens e os devora a ponto de um governo não
poder suportar a idéia de que tenha um ginásio a
cidade em que ganha a oposição.
BENEDITO VALADARES
Foto de “Ser Mineiro Uai”
Em 1929 foi estadualizado o
Lyceu, que se transformou em
Ginásio Mineiro de
Muzambinho, mas, Salatiel
continuou proprietário da Escola
Normal, que não foi encampada
pelo governo do Estado. Esse
fato é importante! Salatiel era ao
mesmo tempo reitor do Ginásio
oficial e dono de uma escola
particular paga, a saber: a
Escola Normal.
FREI QUERUBIM (Foto do
acervo municipal)
8. O novo governador, Juscelino
Kubitschek, que acaba de mandar soldados
ocuparem o ginásio, declarou a pessoa idônea,
cujo nome vamos divulgar, que tem compromissos
eleitorais com frei Querubim e com o bispo de
Guaxupé, dom Hugo Bressane, para exterminar o
ginásio (hoje colégio) estadual, fazendo
desaparecer dentro do ginásio de frei Querubim
que seria nomeado Reitor. Se é mentira é do
governador.
Mas o que está antes de tudo isso
precisa ser contado. Os dramas do interior têm de
ser conhecidos na capital para que o Brasil
conheça a si mesmo, para que o povo saiba que
estão fazendo com seus irmãos.
O ginásio foi arrasado, em 1937. Mas
deixemo-lo comoestava então: em greve. Amanhã
veremos a história do tiroteio, o argentino
naturalizado e a acidentada [ilegível] entrega das
chaves.
CARLOS LACERDA
PS: Será possível explorar, contra os franciscanos,
o fato de um deles ter-se deixado absorver sua
piaxão facciosa da politicagem? Será possível,
contra êle próprio lançar apodos? Creio que não.
Mas também julgo que a mais elementar prudência
recomenda ação no sentido de transferir o fardo
que esta afastando da igreja de Muzambinho as
famílias católicas, cujos chefes, como é do seu
direito, pertencem à oposição política. A UDN, ao
partido, em suma, do Prefeito livremente eleito. –
C. L.
Notícia de 23 de julho de 1937,
do “Diário de Notícias”, edição
3249.
O texto realmente fala em
Salatiel de Barros.
São Simão era a cidade do
vereador Antônio Borelli, pai de
dois futuros vereadores (Caio
Duílio Borelli e Almirio Borelli) e
avô de outro (Fernando Cláudio
Borelli), Caio Duílio e Fernando
Cláudio foram presidentes da
Câmara. Geraldo Vanderlei
Falcucci nos conta que foi
9. Antônio que providenciou a vaga
para Salatiel em São Simão.
Antônio era picapau (UDN).
TRIBUNADAIMPRENSA – 28 de fevereiro de 1951
PARTE II – Muzambinho, ou o martírio de uma cidade
Muzambinho, ou o martírio de uma cidade
II
O tiroteio na porta do ginásio – O rigoroso
inquérito, abafado – A morte do Reitor
substituto – Transferência do ginásio para a
terra de Benedito – Extinção do ginásio –
Dispersão do arquivo e do mobiliário – Entra
triunfante, o 10.ºB. da Fôrça Pública
O Ginásio, de fato, foi fechado em
1937, e transformado na sede do
10º Batalhão de Caçadores de
Minas Gerais, mas, em 1951 não
houve fechamento. O que fechou
foi o Ginásio do Frei Querubim, o
Ginásio São José, no final do ano.
Aliás, Querubim queria evitar a
10. No sudoeste de Minas, a ocupação
militar do Ginásio de Muzambinho, em 1937,
como em 1951, foi como um tiro no peito. O
Reitor, o velho Reitor que havia fundado o
ginásio e fora mantido no posto pelo presidente
Antônio Carlos, ao oficializar aquela casa da
praça principal, construída pelo seu esforço, foi
substituído, em 1937, pelo governador
Valadares, porque acusado de simpatizarcom a
candidatura de Armando de Sales Oliveira. “Ele
está muito velho!”, era a desculpa. Sim, ele
envelhecera ensinando meninos. Mas não tão
velho que não pudesse ser contratado para
dirigir um ginásio oficial em São Paulo.
Os meninos entraram em greve, para
reclamar a volta do velho Reitor. Para eles,
Salatiel de Almeida não estava assim tão velho.
Para Benedito Valadares, estava até caduco:
onde se viu professor ter opinião? Onde se viu
professor professar?
Os professores estavam todos com o
Reitor – menos três. Assim também os alunos.
Todos estavam em greve. Menos quatro. Entre
estes, o filho de um argentino naturalizado, que
era um dos chefes da política de Benedito
Valadares na cidade de Muzambinho e hoje é
um dos chefes da política de Juscelino
Kubitschek no município de Muzambinho.
Os quatro alunos dissidentes
procuraram entrar no ginásio. Os colegas
tentaram impedi-los.
O PROFESSOR DE DESENHO
Então vem lá de dentro José Maria
Armond, o professor de desenho, e procura
apaziguar os alunos.
Eis que vem chegando João Vicente
Cipriano. Este é um argentino que se
naturalizou brasileiro e tem filho no colégio, um
dos que não querem a greve porque o pai é do
Benedito. A uns vinte metros do ginásio, por lhe
parecer que estava agredindo o seu filho, ou por
impulso de prevenção que explore em cólera –
a cidade estava fervendo com esses
acontecimentos – Cipriano começou a insultar o
professor de desenho.
- Vou entrar nesse colégio nem que
seja à bala! gritou, entre um e outro impropério.
Empunhou o revolver e atirou contra o
colégio.
Deu o primeiro tiro, atravessou a rua
correndo e entrou na casa do prefeito, que era
amigo do governador Valadares e morava
defronte do ginásio.
todo custo a manutenção do
colégio público, pois prejudicava
seu colégio
ARMANDO DE SALES OLIVEIRA
Foto Wikipédia
JANE CIPRIANI (Foto do acervo
municipal)
O argentino citado é João Vicente
Cipriani, o Jane, e o filho dele é o
prof. Walter Cipriani, o seu “Títio”,
que foi diretor do Colégio Estadual
anos depois.
11. O pessoal da oposição reagiu. Eles
dizem: “a população”. Afinal, também fazem
parte dela. Começouum tiroteio da calçada para
a casa do prefeito, o médico José Januário de
Magalhães. Da janela do prefeito chovia bala
sobre a calçada do ginásio. O Prefeito não teve
nada. Mora hoje em Poços de Caldas, onde
entrou para o partido de Ademar, que o fez
candidato a deputado federal, mas foi
derrotado.
Tiroteio bravo, aquele! Mas não houve
mortos nem feridos. Foi tudo rápido. A cidade
esquentou-se, ficou em brasa.
Lá, de Belo Horizonte, Benedito
Valadares viu que estava no ponto para
esmagar a oposição. Mandou um delegado
especial abrir inquérito. Chegou a Muzambinho
o delegado Moretzohn. Ouviu todo mundo e
toda gente. Voltou para Belo Horizonte, onde
concluiu o seu relatório.
O inquérito? Nunca mais se ouviu falar
nele. Conclusão lógica: o delegado concluiu
pela culpabilidade do pessoal que apoiava o
governo. Não é lógico? Onde está o inquérito
contra o Cangurú, que o general Mendes de
Morais empreitou na Polícia Municipal? Onde
está o inquérito do coronel da Diretoria do
Material, empregada no SESC, do fornecedor
da Diretoria? Ele tirou 6 meses de licença na
Aeronáutica – e o inquérito é que foi licenciado.
Não é sempre assim? Pois foi assim em
Muzambinho? Já vê que não é só no interior...
Cristiano Machado era o secretário da
Educação. Vivia no temor do Benedito, que
tinha uma grande inveja dele, e um medo
horrível de que, vindo ao Rio, o antigo
revolucionário de 30 reatasse relações com o
“doutor Getúlio” e voltasse a Belo Horizonte com
um diploma de governador, de interventor, de
qualquer coisa capaz de substituí-lo. Então,
vivia sequestrado em Belo Horizonte, na
Secretaria de Educação.
Telegrafou Cristiano para
Muzambinho suspendendo por 15 dias as aulas
do Ginásio até os ânimos se acalmarem.
Passaram-seos 15 dias. Chegou o dia
de receber dinheiro. Em Minas, os professores
do Estado não recebem diretamente. O reitor do
ginásio fornece um atestado de exercício,
dizendo que eles deram aulas e com esse
atestado eles vão à coletoria, conversam um
pouco, toam um cafezinho e recebem o
ordenado. (Vão ver que ordenado. É de matar
um cristão!).
José Januário de Magalhaes foi
embora de Muzambinho em 1945 e
nada sabemos de seu destino, a
não ser que se tornou médico
extranumerário do estado de São
Paulo, na divisão de combate à
tuberculose, nomeado por Jânio
Quadros, em 11 de setembro de
1956.
Vasculhando os artigos
historiográficos da Polícia Militar,
só pode se tratar do delegado
Orlando Moretzohn (ou
Moretzsohn) que dá nome para
uma rua de Belo Horizonte, no
bairro Buritis. Tem uma foto dele no
Arquivo Público Mineiro, mas é
classificado como documento
restrito.
CRISTIANO MACHADO
Foto de “Cinco Meia Sete”
12. A MORTE CAI SOBRE ACIDADE
Lá foram os professores à coletaria. Ali
havia uma supresa. Eles estavam descontados
nos 15 dias em que o colégio estivera fechado
por ordens do secretário de Educação. Metade
de mês, metade do pão, metade da manteiga,
metade de tudo, é de amargar, pensou o
professor de desenho José Maria Armond. Aí,
porém, ele viu que um dos três professores que
tinham ficado com o governador estava
recebendo o ordenado integral.
- Isso, não! Não pode ser! Êle disse.
(Ele era da oposição sistemática, como dizia o
Jafet local).
Foi ao ginásio. O reitor estava lá.
Interpelou-o. O reitor discutiu. Aqui, aliás, as
versões variam. Há quem diga o contrário.
Ambos já morreram. O reitor de Benedito,
instantaneamente. O professor de desenho, de
morte natural, algum tempo depois. O fato é que
José Maria Armond, o professor, compareceu a
dois juris e em todos dois foi absolvido. Não ali
em Muzambinho, onde todos estavam
apaixonados, extenuados por tanta luta. Mais
longe, em Varginha. Creio que isso prova a seu
favor, não parece? Em todo caso, respeitemos
os dois, que estão mortos.
BENEDITO QUER “EXEMPLAR”
Benedito Valadares mandou abrir
inquérito contra todos os professores.
Condenou-os como insufladores da greve dos
alunos. Sem provas. E sem defesa. Ele quer
“exemplar” a cidade.
Mas, e o ginásio?
O prédio lá estava. Os meninos e as
meninas comeavam a voltar. Tudo passa, ainda
que devagarinho. Afinal, as crianças precisam
estudar. E Muzambinho só tinha esseginásio. E
a região só tinha esse ginásio. E era grátis!
Mas Benedito não vai nisso. Aí já o
Estado Novo cantava feio e forte. Benedito, por
decreto, transferiu o ginásio estadual de
Muzambinho para Pará de Minas, que é onde
Benedito foi dado à luz. Reversão à infância,
pensou um psiquiatra. Queria ele matricular-se,
afinal, no ginásio?
Não. Benedito queria dispersar o
arquivo do ginásio, a história cultural de uma
população, gerações que desde 1896
sucediam-se naqueles bancos, aprendendo
com Salatiel e, entre tantos outros, com aquele
moço de 16 anos, Magalhães Alves, que hoje
encontra em Muzambinho, aos 5, feito reitor do
ginásio novamente ocupado pela força policial.
Foto do acervo municipal
ANTÔNIO MAGALHÃES ALVES
Foto cedida por Graco Magalhães
Alves, seu filho.
Em 1951 foi demitido Magalhães
Alves, por motivos obviamente
políticos. Magalhães Alves já tinha
saído da cidade durante o Estado
Novo. Como presidente da
Câmara, que assumiu assim que
faleceu o Dr. Lycurgo Leite, ele
moveu um processo de
impeachment de José Januário de
Magalhães, tudo em conformidade
com a Constituição Federal de
1934, e concluíram pela cassação,
no final de 1936, por sinal, tida
como a primeira do país. Ocorre
que José Januário não saiu, e
recorreu, até que foi deflagrado o
Estado Novo e nada mais poderia
ser feito. Humilhado, Magalhães
Alves, que seria nomeado prefeito
pelos vereadores, vai embora da
cidade. E volta em 1948 como
diretor do colégio onde estudou, foi
13. Arquivos, só? Não. Cadeiras também.
E mesas. E bancos. Tudo foi levado para aí
afora, e nunca chegou a Pará de Minas. Pois,
no caminho, Benedito emitiu outro decreto.
Este extinguia o ginásio estadual.
O 10º OCUPAO COLÉGIO
Dias depois entrava em Muzambinho,
recém-criado, especialmente para aquela
cerimônia, o 10º Batalhão de Caçadores da
Força Pública de Minas Gerais. Com a corneta.
E o tambor chamado surdo.
Quanto ao mudo, já estava ali mesmo.
Era o prédio do ginásio, deserto mas acuado,
possuído, violentado por 600 solados que
acamparam nas salas de aula, e por falta de
verbas nunca recolocaram um vidro partido,
nunca pintaram uma parede encardida.
Estava feita a humilhação de
Muzambinho. Era o ano de 1937. Dez longos
anos de mágua iriam escorrer sobre a cidade.
SALATIEL NÃO TINHAPAZ
Salatiel de Barros, o reitor demitido,
sofria. A Caixa Econômica apertou-o, para
pagar 50 contos que ele devia. Para pagá-los
vendeu a sua pequena Escola Normal a frei
Querubim, o vigário local, amigo do Benedito.
Na transação foi-se também a sua pequena
chácara. E para receber o dinheiro, que frei
Querubim levantou no Banco do Crédito Real de
Minas Gerais, Salatiel teve de assinar um
contrato se comprometendo a NUNCA MAIS
ABRIR ESTABELECIMENTO DE ENSINO EM
MUZAMBINHO.
O governo de S. Paulo chamou Salatiel,
contratou-o para dirigir o ginásio de S. Simão.
Estava expulso da terra onde fundara, em 1896,
o seu primeiro colégio.
Frei Querubim, de porta em porta, com
um zelo exemplar, levantou, por subscrição
pública, um novo ginásio, já que o outro estava
fechado. “Não podemos ficar sem ginásio!” ele
dizia. E em 1940 abriu, com mensalidades e
matrículas pagas, o ginásio de S. José, que
passou a dirigir. Três anos depois, pobre, velho
e triste, Salatiel era desterrado.
Dez anos se passaram....
CARLOS LACERDA
P.S. – A culpa não é minha se isso ganha um
jeito de folhetim. Também não é minha a culpa
se os fatos e até as datas, assim como os
contratos, depõe contra frei Querubim. Estimo e
prezo a obra dos franciscanos. Mas detesto a
bedel, professor e vice-diretor na
época de Salatiel.
Na realidade, o 10º Batalhão já viria
para Muzambinho, inclusive tendo
sido elogiado pelos tucanos a
iniciativa de trazê-lo para cidade.
Porém, não havia local definido
onde ele funcionaria, e, a decisão
de ocuparem o Ginásio foi
posterior.
JUSCELINO KUBITSCHEK
Fonte: Isis Renault
14. idéia de um franciscano de paixão partidária,
servir a Benedito, Kubitschek ou a quem quer
que seja.
Por outro lado, não sei se todos
estarão de acordo comigo em trazer para aqui
esta história de uma luta política no interior.
Para muitos, talvez isto não tenha importância.
Mas é dessas lutas, e dos exemplos de
resistênciahumilde, ignorada, obstinada, que se
faz a grande resistência ao abuso e à
iniquidade.
E assim que se luta contra a injustiça.
Nada é demasiado pequeno para ela, ou tudo
será suficientemente grande para fazê-la
sucumbir. Por mim, gostaria de ter tempo para
imitar Silone e escrever, à sua maneira, o
processodo facismoreduzido Às proporções da
aldeia de Fontamara.
Não abandonem, desdenhosos ou
incrédulos, o caso de Muzambinho. Ali está
crescendo a planta da iniquidade, no esterco do
ódio. – C. L.
15. TRIBUNADAIMPRENSA – 1º de março de 1951
PARTE III – Muzambinho, ou o martírio de uma cidade
Muzambinho, ou o martírio de uma cidade
III
O PERFIL DO CHEFE DO POLÍTICO
Pecuária sem boi nem vaca – As dívidas de
Campedelli – Stockler de Queiroz e a fortuna
do café – Fôrças na ocupação do ginásio pela
Fôrça Pública
O governador Juscelino Kubitscheckestá
no Rio contando que Minas não tem dinheiro, o que
é verdade, mas sem dizer que Minas não tem
dinheiro porque foi saqueada pelo governador
Benedito Valadares, que a deixou nos cascos por
Juscelino Kubitschek, o medicozinho da Força
Pública mineira que, tendo sido apenas prefeito de
Belo Horizonte e deputado faz agora donativo de
centenas de contos de réis às campanhas do sr.
Assis Chateaubriand. De onde vem o dinheiro para
os donos de Minas Gerais?
PECUÁRIA SEM GADO VACUM
Quando estava no auge a repulsa dos
mineiros ao sr. Benedito Valadares, corria Minas
inteira essta quadra:
“Minas tem gado vacum
Muitas raças cavalares
Benedito Valadares
Minas, porém, só tem um”.
Mas Lauro Campedelli, o presidente do
PSD em Muzambinho, ex-prefeito do município, foi
além do que a quadra permitiria. Pois conseguiu
apresentar-se como pecuarista devendo cerca de
LAURO CAMPEDELLI, O
LALAU
Foto do Museu de Muzambinho
16. 40 milhões de cruzeiros de gado, sem ter sequer
300 reses, que ao preço médio de mil cruzeiros
representariam – se existissem – [ilegível] mil
cruzeiros.
Este [ilegível] o sr. Campedelli,
acompanha o de outros próceres locais, esteve em
Belo Horizonte, onde foi cobrar do sr. Kubitschek
as suas promessas eleitorais, que para
Muzambinho se resumem no fechamento do
colégio estadual e restabelecimento do 10º
Batalhão da Força Pública.
Mas o sr. Campedelli tem, além disto,
outro assunto pessoal a tratar com o governador.
Ele deseja, em troca do apoio que lhe dá, que o
governador se interesse no Rio pelo destino do seu
processo de candidato aos benefícios da lei de
reajustamento da pecuária. Pois o sr. Campedelli
está endividado e precisa que os brasileiros
paguem a sua dívida.
O sr. Campedelli endividou-se com café.
Mas pretende safar-se com leite, isto é, com o leite
da vaca do Estado.
O SÓCIO POLÍTICO
Ele tem um sócio em política. Um curioso
sócio. É o sr. Antônio Stockler de Queiroz, o
famoso “depositário” ou “liquidante” do
Departamento Nacional do Café, que enriqueceu
ao mesmo tempo em que era vendido,
clandestinamente, o stock de café em mãos do
DNC.
O sr. Stockler de Queiroz foi candidato a
deputado pelo sudoeste de Minas. Gastou o que
normalmente não se gastaria. Financiou a
campanha do PSD e Muzambinho. Mas foi
derrotado, dentro do próprio PSD, pelo sr. Osvaldo
Costa.
FICHA DE CAMPEDELLI
A ficha do presidente do PSD, o homem
que comanda a manobra para obter a ocupação
militar do colégio de Muzambinho, é a seguinte:
Ele tem três fazendas, num total de 630
alqueires, um prédio em Santos (Avenida
Bartolomeu de Gusmão 12) valendo 600 mil
cruzeiros, e 3 casas em Muzambinho, valendo 120
mil.
O seu passivo declarado é de Cr$
27.125.059,90, fora juros acumulados, que elevam
esse total a cerca de Cr$ 40 milhões.
Ao Banco de Crédito Real, ele deve cerca
de 12 milhões.
Ao Banco do Distrito Federal, 5 milhões.
Ao Banco Comércioe Indústria de Minas,
6.900.000 cruzeiros.
Nas eleições de 1950, Antônio
Stockler de Queiróz,
comerciante de café, foi
candidato à Câmara Federal
pelo PSD de Minas Gerais e
ficou em 34º lugar entre 37
candidatos do partido, com
4.999 votos (TRIBUNAL, 1952).
Ficou na 17ª suplência. Não há
notícia de que tenha se
candidatado em qualquer outra
ocasião.
Leis de Reajustamento da
Pecuária, são as Leis 1.002, de
28 de dezembro de 1949, 209,
de 2 de janeiro de 1948 e 457,
de 29 de outubro de 1948.
17. A Pedro Rufino de Carvalho, de Campos,
Estado do Rio, 275 mil cruzeiros. A Cia. União de
Armazens Gerais, de Santos, 390 mil.
A Antônio Stocker de Queiroz, avalista de
2 letras, ele deve 350 mil cruzeiros.
Este comerciante e proprietário agrícola,
registrado como criador a 17 de janeiro de 1941,
no ministério da Agricultura, figura na Coletoria
Estadual de Muzambinho como tendo de
pastagens apenas 1/3 (um terço) de suas
propriedades. Quer dizer: 210 alqueires. Nessa
região é um boi para cada alqueire, o que
significaria, na melhor das hipóteses, um rebanho
de 210 rezes.
Como essa área de pastagens, ele diz
que contraiu 29 milhões de cruzeiros de dívidas
coo pecuarista...
E requereu os benefícios da lei do
reajustamento da pecuária. No processo aberto no
Banco do Brasil, apenas três credores não se
habilitaram: o Banco do Distrito Federal, Pedro
Rufino de Carvalho e Stockler de Queiroz. O resto
está tudo contestando a Campedelli o título de
pecuarista.
Pois, afinal, em 210 alqueires ninguém
cria gado bastante para ter prejuízo de 29 milhões
de cruzeiros. Onde, então, Campedelli, o dono do
governador Kubitschek, o domador do urso, o dono
da enchente, pode arranjar essa dívida?
Ele fundou armazéns de café em Santos.
Negociou em café e foi mal sucedido – daí uma
parte do débito. Comprou a Pedro Rufino de
Carvalho, uma usina de açúcar em Campos. Daí
outra parte da dívida. O boi não tem nada com isso.
Mas em nome dos boizinhos que pastavam numa
terça parte de suas terras, ele quer que a Nação
pague as suas dívidas aos bancos.
O seu processo consta de certidões
assim: “é nosso fornecedor de leite em regular
quantidade”, diz uma usina. Não pleiteou o
reajustamento no tempo devido. Habilitou-se em
1950. Diz o Promotor de Muzambinho, opinando
no processo:
“Os débitos não são oriundos de
transações propriamente, pecuaristas, mas ao
contrário, procedem de altos negócios nas praças
de Santos e São Paulo, no comércio de café e de
açúcar do Estado do Rio. O seu movimento
pecuarista neste Município não comparta em
absoluto tão vultosas dívidas”...
“.... A Lei Pecuarista (do reajustamento
ou absorção das dívidas dos criadores pela União)
foi criada para proteger os pecuarista, mas dá
margens à burla e explorações. Não é, entretanto,
o pobre do Promotor de Justiça local que vai
18. montar guarda e dique aos cofres da Nação.
Assim, sugiro ao Juiz se digne converter estes
autos em diligência...”
O processo foi com cópia ao Procurador
da República em Minas Gerais. O governador
Juscelino Kubitscheck é assediado para que o café
de Campedelli vire leite.
TRIBUNADAIMPRENSA – 2 de março de 1951
PARTE IV– Muzambinho, ou o martírio de uma cidade
Muzambinho, ou o martírio de uma cidade
Muzambinho, ou o martírio e uma cidade
IV
UM RAIO CAI SOBRE APAINEIRA
Milton Campos reabre o ginásio – Triunfo e
morte do Reitor – Juscelino Kubitschek e seus
compromissos
Lauro Campedelli, hoje chefe do PSD,
um ano antes de ser prefeito de Benedito
Valadares em Muzambinho avalizou a letra com a
qual frei Querubim levantou dinheiro para comprar
os últimos bens de Salatiel de Almeida a cidade,
depois que Benedito Valadares fechou o ginásio e
demitiu Salatiel, o reitor, e os demais professores
– “a bem do serviço público”.
Para muitos que apreciam os esforços
de frei Querubim para fundar outro ginásio, depois
de fechado o do Estado, o seu afã demonstra a sua
SALATHIEL DE ALMEIDA -
Acervo Municipal
19. boa fé. Para outros, mais diretamente situados no
lado que apanha, istoé, do lado que estápor baixo;
isto apenas demonstra a sua conivência.
Não temos elementos para decidir entre
as duas opiniões. Nós nos cingimos aos fatos,
fugindo a interpretações. Fato, por exemplo, é que
frei Querubim, já está engolfado na política, em
1945, e convidado a apoiar o brigadeiro Eduardo
Gomes, disse a quem lhe fizera este apelo em
nome do interesse público que não podia porque
já tinha posição tomada ao lado da candidatura
Dutra, junto com Benedito Valadares, e isto porque
o governador de Minas que era Valadares, lhe
havia dado 200 mil cruzeiros com os quais se safou
dos compromissos financeiros assumidos para a
construção de suas obras no município, a compra
da Escola Normal, etc.
Um ano depois de avalizar a letra pela
qual financiou a compra dos bens de Salatiel de
Almeida, Lauro Campedelli, o falso “pecuarista”,
tornou-se prefeito do sr. Valadares. E hoje é o
chefe do PSD em Muzambinho
MUDAO GOVERNO
Arrastam-se os anos. Uma luta feroz, de
parte a parte, separa as duas velhas facções do
município, os “tucanos” e os “picapaus”, agora,
respectivamente, na UDN e no PSD. Frei
Querubim engaja-se a fundo na luta ao lado do
PSD, a ponto de não cumprimentar grande parte
da população que vota com a UDN.
Nem com o movimento de 29 de outubro
Muzambinho se libertou. O interventor Alcides Lins
não pode extingui-lo devido a dificuldades com o
Conselho Administrativo.
Em 1947 o sr. Milton Campos ganha a
eleição de governador e a UDN conquista, no
município, a Prefeitura.
A DIFERENÇA
Imediatamente os udenistas locais
apelam para o sr. Milton Campos, a fim de que
reabra o ginásio e retire dali o batalhão da Força
Pública que fora, durante aqueles anos todos,
desde 1937, assombração da cidade, como se ali
estivesse para lembrar-lhe a inutilidade de
qualquer resistência e o abandono de quaisquer
veleidades de voltar a ter um ginásio.
O sr. Milton Campos,porém, não acedeu
à pressa, a final bem compreensível, dos
vitoriosos.
Primeiro reuniu-se o Comando da Força
Pública de Minas e examinou a questão do 10º
Batalhão.
As eleições de 1950 tiveram
como primeiro colocado em
Muzambinho o brigadeiro
Eduardo Gomes, em segundo
lugar, Cristiano Machado.
Getúlio Vargas ficou em terceiro
lugar.
MILTON CAMPOS
Foto do Jornal da Parnaíba
20. A existência de muitos claros nas
unidades espalhadas pelo território do Estado, e a
inutilidade da presença de um batalhão em
Muzambinho, fez com que o Comando da Força
recomendasse ao governador a extinção daquela
unidade, completando com os seus elementos os
claros nos outros batalhões do Estado.
Saiu, então, a força de ocupação, ali
sediada ostensiva e exclusivamente para marcar a
vingança do governador contra o Ginásio.
INUTILIZADO
Mas o prédio estava em ruínas.
Havia ainda um companhia do batalhão em
Muzambinho, que só depois foi retirada, livrando
completamente a sede do ginásio. A Secretaria de
Educação celebra, então, com a Prefeitura de
Muzambinho, um contrato para a restauração do
prédio, a ser efetuada pela Prefeitura.
RESSURGE O GINÁSIO
Finalmente, em 1948, o governador
Milton Campos envia à Assembléia Estadual
mensagem pedindo o restabelecimento do ginásio
estadual de Muzambinho. A assembléia aprova o
projeto, o governador sanciona-a.
E ressurge O ÚNICO GINÁSIO
GRATUITO DE TODO O SUDOESTE INEIRO,
logo promovido a Colégio Estadual de
Muzambinho.
VOLTA DE SALATIEL
Milton Campos nomeia Reitor o
desterrado de S. Simão: o velho Salatiel de
Almeida, o fundador. Ei-lo que então volta de S.
Paulo para participar daquela festa, com imensa
alegria da cidade.
Ele tem, então, quase 75 anos de idade.
Chega, para ele, o fim da vida na plenitude da
justiça que lhe fizeram. Os professores, ao seu
redor, estão todos reintegrados por Milton
Campos. De toda parte chegaram avós e que
foram alunos, pais conduzindo as crianças, para
saudar Salatiel de Almeida, o colégio, o antigo
ginásio, o primitivo liceu “da paineira”, como lhe
chama, comovidamente, em carta a um amigo, o
reitor Salatiel, em memória daquela grande
paineira, que por lá havia.
A PAINEIRA
Dias antes de ser fechado o ginásio, em
1937, uma faísca elétrica desceu sobre a paineira
e rachou-a do alto a baixo, a velha árvore a que se
referia. Salatiel numa carta, “com os olhos
ORLANDO MAGALHÃES DE
CARVALHO
Orlando Magalhães de
Carvalho, importante cientista
político brasileiro, formado em
Direito, foi reitor da UFMG. Em
2010 a Assembléia Legislativa
de Minas Gerais fez sessão
especial para comemoração de
seu centenário.
21. marejados de lágrimas” e uma letra trêmula, já
como uma despedida.
MENSAGEM
A 7 de abril de 1949 ele escreve aos ex-
alunos:
“No momento em que retorno à cidade de
S. Simão, em gozo de licença, endereço a todos
os meus amigos e aos meus ex-alunos um convite
e um apelo para que nos reunamos todos em
Muzambinho por ocasião das projetadas e
grandiosas festividades com que a sociedade
pretende comemorar dignamente a vitória da
justiça e do direito representada pela volta do seu
tradicional estabelecimento de ensino e
educação”.
UM TREM ESPECIAL
Mas em S. Simão, em novembro do ano
passado, Salatiel morreu. Um trem especial vai
buscá-lo, porque o povo não quer que ele fique
para sempre longe daquele ginásio; a cidade quer
guardá-lo, morto, para resgatar as injustiças que
em vida lhe fizeram.
O povo chorava nas ruas de terra batida,
quando chegou o trem que trazia à cidade pela
qual vivera, o Reitor de Muzambinho.
NOVO REITOR.
Para substituí-lo, o governador Milton
nomeou um veterano do colégio, o professor
Magalhães Alves, que ali começou aos 16 anos,
trabalhando e estudando. Vimo-lo agora em
Muzambinho, aos 55 anos, muito discreto, tímido
embora firme, evitando declarações para não
acirrar os ânimos e não parecer que está se
insurgindo.
CHEGAJUSCELINO
A 31 de janeiro, toma posse do governo
do Estado o candidato eleito, Juscelino
Kubitschek.
Muzambinho ainda estava entregue ao
pesar da morte do Reitor. Nas conversas, nas
esquinas, nos serões, lembram os que passaram
pelo Ginásio e aí estão, por toda parte, brilhando.
Odilon Azevedo, o ator. Orlando M.
Carvalho, o professor. Marcelo Ulisses Rodrigues,
que foi secretário do governo Ademar, Gabriel
Costa Carvalho, advogado no Rio, tantos nomes
desfilam – e tantas recordações, naquela zona de
velhos cafezais e terras escalavradas pela erosão.
Em Belo Horizonte, porém, desembarca
uma comissão do PSD de Muzambinho, com
Marcelo Ulisses Rodrigues,
advogado e consultor jurídico foi
secretário de estado em São
Paulo. Tentou se eleger em
1950, mas ficou na 10ª
suplência da UDN.
ODILON AZEVEDO
Foto: Museu da TV Brasileira
Odilon Azevedo, artista de teatro
e TV, foi o responsável pelo
lançamento de várias pessoas
na TV brasileira, inclusive Nicete
Bruno, Mauro Mendonça e
Fernanda Montenegro.
22. Campedelli à frente. Inflexíveis, decididos, certos
de que cumprem o mais sagrado dos deveres.
Vão cobrar de Juscelino os seus
compromissos eleitorais.
O compromisso de criar novamente o
10º Batalhão da Força Pública.
O compromisso de mandá-lo novamente
ocupar o ginásio.
O compromisso de extinguir novamente
o colégio estadual, gratuito, de Muzambinho.
E Juscelino?
Veremos amanhã o que fez – e comofez
– Juscelino.
Mas foi uma coisa feia. Um ato capaz de
envergonhar um homem e de marcar, para
sempre, o governo que não tiver o coragem de
corrigir a tempo o erro a que foi induzido, e a
bravura, enfim, o alto valor de aceitar um bom
conselho.
CARLOS LACERDA
23. Abaixo da gravura acima, consta o seguinte texto:
Soldado não é Bedel
Eis a sentinela a porta do Colégio Estadual de Muzambinho ocupado militarmente pelo
governado Juscelino Kubitschek em sinal de vingança por ter a oposição obtido maioria
no município. Em 37, Benedito Valadares fez a mesmacoisa. Dentro do colégio já estão
20 soldados. Os outros estão a caminho. E assim fecha-se o colégio estadual de
Muzambinho. CARLOS LACERDA
24. Sobre o texto acima, tive disponível o xeróx de uma ata que diz o seguinte, em livro
numerado, na página 184 e data 8-2-51:
Espalhou-se na cidade o jornal Tribuna da Imprensa com artigo político atacando
falsamente o frei Querubim, assinado pelo jornalista Carlos Lacerda. Há uma
semana o mesmo fez uma visita rápida na cidade. Em um livro de ata numerado
com 184, e data 8-2-51.
TRIBUNADAIMPRENSA – 6 de março de 1951
PARTE Final – Muzambinho, ou o martírio de uma cidade
IMPORTANTE: Não sabemos se foi publicado algum artigo nos dias 3, 4 e 5 de
março.
Muzambinho, ou o martírio de uma cidade
FINAL
O FECHAMENTO DO GINÁSIO E O
DEPOIMENTO DO REITOR
Fechado em 1937, o ginásio estadual,
gratuito, de Muzambinho foi reaberto pelo governo
Milton Campos, que dali retirou a Força Pública,
com plena aprovação do comando desta Força.
O reitor que fora demitido “a bem do
serviço publico” pelo sr.Benedito Valadares, voltou
a Muzambinho e reassumiua reitoria. Mas, doente,
velho e amargurado, morreu pouco depois. De São
Lourenço, então, foi chamado um antigo aluno e
professor do velho Liceu, depois Ginásio,
atualmente Colégio de Muzambinho. O professor
Magalhães Alves, depois de 25 anos no Liceu
fundado por Salatiel de Almeida, mais oito no
ginásio estadual, assumiu a direção do Colégio
Estadual.
ISMAEL DE OLIVEIRA
COIMBRA
25. A matrícula em 1950 foi de 222 alunos,
inclusive 50 do curso de admissão. Aos poucos,
refeitos os pais do traumatismo das crises
sucessivas por que passou o ginásio, matrícula
subia tendendo a voltar ao antigo apogeu, quando
chegou a ter 600 alunos matriculados.
ENTREGUE ACHAVE!
No domingo, 11 de fevereiro último, o
reitor Magalhães Alves chegou a Muzambinho e já
na segunda-feira estava no seu gabinete, no
Colégio, quando entrou o capitão-médico Ismael,
do extinto 10º B. C. da Força Pública, e candidato
pelo PSD à Prefeitura Municipal, tendo sido
derrotado.
O capitão Ismael entrou e disse ter em
casa um radiograma do Comando para receber,
das mãos do reitor, as chaves do Colégio Estadual
de Muzambinho.
O sr. Messias Gomes de Melo, ex-
prefeito, atual vice-presidente da Câmara local,
disse que a chave do colégio já não estava com
ele, mas se estivessenão a daria, pois a Prefeitura
tem contrato com a Secretaria de Estado da
Educação, para efetuar as obras no prédio do
Colégio; e como a Secretaria não pagou, a
Prefeitura não poderia entregar as chaves.
Mas o capitão Ismael mostrou, já em sua
casa, o radiograma que dizia: “Deveis receber as
chaves”...
UMAEXTREMAPRUDÊNCIA
O reitor do colégio recusou-se a fazê-lo
sem ordem de autoridade superior, que no caso é
o secretário de Educação. Mas até essa data
(agora é que se fala na solução da crise, em Belo
Horizonte) o sr. Juscelino Kubitschek não
conseguira nomear um secretário de Educação. O
capitão disse que ia comunicar-se com o comando
da Força. O reitor, por sua vez, comunicou-se com
o chefe do gabinete do secretário da Educação. Eis
a resposta, de ordem do Palácio da Liberdade:
“Radiograma do Serviço Radiográfico do
Estado de Minas, n. 119, de 14-2-51, 10 horas:
“Reitor Magalhães Alves, Muzambinho:
De ordem do sr. Secretário (da Educação
inexistente), fiscais autorizado a entregar as
chaves do edifício onde estava alojado o 10º B.C.
ao capitão Ismael Coimbra. Aguardo comunicação.
Saudações cordiais. (a) Luiz Melo Viana Sobrinho,
chefe do gabinete”.
O edifício em que “estava alojado” o
batalhão é o do Colégio Estadual de Muzambinho.
Foto do Acervo Municipal
MESSIAS GOMES DE MELO
Foto do Acervo Municipal
Aqui é importante dizer que o
batalhão continuou instalado em
parte do prédio do antigo
Ginásio, e, funcionava
concomitantemente o Colégio e
o Batalhão, e, pelo que dá para
inferir, a Prefeitura fazia obras
em alguma das partes. O museu
tem as fotos da reforma, que
construiu onde hoje são as salas
de 9 até 16. É importante
dizermos que as chaves
solicitadas podem ser apenas as
que o batalhão utilizava na
época. Não investiguei.
Ressalte que em Muzambinho
Getúlio Vargas ficou em 3º lugar
na eleição, com cerca de 20%
dos votos válidos, na eleição de
1950 (Em 1930, foi o contrário).
Entre 1930 e 1964 os tucanos
26. TROPELIAS
Nos dias de carnaval, chegou a
Muzambinho um delegado especial, militar, Mário
Cardoso. Um grupo de retirantes empregados em
obras do Departamento Nacional de Estradas de
Rodagem procurou invadir a sede da Associação
Operária local, aos gritos de
“Viva o dr. Juscelino!”
- Viva, que é meu irmão de leite,
respondeu o presidente da Associação Operária.
- Viva o dr. Getúlio Vargas! gritavam os
capangas.
- Viva, que é o novo presidente,
respondeu o presidente da Associação Operária.
- Mas nós “viemos” aqui para escurecer
isso de bala. Vamos quebrar o retrato daquele
bugio lá (e mostravam o retrato do sr. Gabriel
Passos, candidato da UDN, derrotado, à
presidência do Estado, e patrono da Associação
Operária de Muzambinho, que foi inaugurada
quando de sua visita ao município).
- Isto, não! disse o presidente.
Os capangas mostraram as armas.
Começaram a insultar os presentes, numa
provocação crescente.
A mulher do presidente conta-nos
detalhes da história que toda a população de
Muzambinho conhece. Ela conta que foi comunicar
ao Prefeito que a Associação Operária estava em
risco de ser assaltadas pelos “baianos” (assim
chamam os retirantes empregados na rodovia).
O Prefeito (então da UDN) disse a ela
que comunicasse ao delegado. Procurou o
delegado. Não queriam deixa-la falar com ele, no
Automóvel Clube, onde também se dançava. Na
confusão do carnaval, ela sentia que ia haver bala.
“Que é que você quer?”, perguntou o delegado
especial, quando afinal ela o localizou.
“Os nortistas foram lá quebrar a
Associação, dizendo que é ordem sua”.
“Quem toma conta daquilo lá?” perguntou
o delegado.
- Nós.
- Vocês não são dignos de tomar conta
de uma sociedade!
E a jovem mulher do presidente da
Associação Operária, no contar desse episódio,
refez a atitude de dignidade com que ela repeliu o
insulto desse delegado “especial”:
- Se é por eu ser preta, o sr. não tem o
direito de falar assim.
Ela chorava e dizia que a provocação ia
acabar mal. O delegado, afinal chamou o cabo
ganharam todas eleições, para
todos os cargos, e Muzambinho,
inclusive quem eles apoiavam
para o governo federal e
estadual, sempre eram os mais
votados na cidade.
JOSÉ ERNESTO
Foto do Acervo Municipal
CELINA ERNESTO
Foto de Cleusa Ely Soares
ASSOCIAÇÃO OPERÁRIA
Foto do Acervo Municipal
27. João e disse-lhe: “Vai lá, fala para eles dançarem
direitinho, não prenda ninguém”.
- Então o sr vai deixar aqueles
desordeiros lá?
Em torno dela, no Automóvel Clube, uma
rede do delegado vaiava: “Acaba mesmo, acaba
mesmo com aquilo!”
Dois dias depois o engenheiro Lincoln do
DNER, recebeu a queixa contra os diaristas da
rodovia, apresentada por José Ernesto, o
presidente da Associação Operária, cujo crime é
ter votado pelo Brigadeiro, e sua mulher, d. Celina
Ernesto, a quem o delegado disse:
“Se não ficar do jeito que eu quero, eu
fecho aquilo lá!”.
AMOSTRA
Isso é apenas uma amostra do que vai ser
de Muzambinho, com as represálias adotadas pelo
governo estadual para se vingar de sua derrota no
município...
NO AEROPORTO
O dr. Samuel de Assis Toledo, ex-
presidente da Câmara local, procurou o
governador Kubitschek em Belo Horizonte, mas
não foi recebido. Avistou-o, porém, no aeroporto,
quando chegava o ministro da Justiça e o dr.
Samuel embarcava para o Rio. Abordou o
governador, que é seu antigo condiscípulo. Expôs,
rapidamente, a situação de Muzambinho. O
ambiente de apreensão, a grave ofensa e o
prejuízo do fechamento do ginásio gratuito.
O governador Juscelino pôs as mãos na
cabeça e disse:
- Que horror! Mas que é que vou fazer?
Tenho compromisso com o frei Querubim! Prometi
fechar o ginásio para oficializar o de frei Querubim,
fazendo dele o Reitor!
Em Belo Horizonte, na ocasião, estava
uma comissão de próceres do PSD, instando com
o governador para que ele cumprisse o
“compromisso”. Compunha-se de Lauro
Campedelli, cuja ficha vimos outro dia, e que foi
tratar com o governador, de passagem, da sua
tentativa de fazer pagar, pelo Tesouro Nacional,
passando por pecuarista, os prejuízos que deu à
praça como especulador em café; João Vicente
Cipriano, parente de Campedelli, argentino,
naturalizado, autor do primeiro tiro contra o
Ginásio, em 1937, que desencadeou o tiroteio
partido da casa do Prefeito de então.
GABRIEL PASSOS
Foto do Acervo Municipal
SAMUEL DE ASSIS TOLEDO
Foto da Galeria da Câmara
Municipal
Em 1937, depois do tiroteiro,
greve e morte de Saint Clair
foram exonerados vários
funcionários, todos readmitidos
em 1946 por anistia:
1ª Exoneração
Professores:Salatiel Ramos de
Almeida (Trigonometria e
Geometria), Nestor Lacerda
(Francês), Antônio Magalhães
Alves (Geografia), José Braz
Cesarino Filho (Matemática),
José Maria Armond (Desenho)
Inspetor: Zacharias Alberto
Magalhães
Funcionário: Antônio Milhão
2ª Exoneração
28. E na penumbra, o frei Querubim, contra o
qual posso agora formular uma acusação direta e
formal, PORQUE TENHO PROVAS.
“ANJO NO NOME, DEMÔNIO NAAÇÃO”
Até aqui tenho-me abstido de envolver
diretamente o frade Querubim na trama de
corrupção e opróbrio com que se cobre o sudoeste
mineiro.
Citei a seu respeito, fatos, apenas fatos.
Por exemplo:
1. Ele comprou todos os bens que
restavam ao Reitor demitido por Valadares, de
acordo com um contrato onde foi incluído uma
cláusula pela qual o Reitor nunca mais poderia
abrir estabelecimento de ensino em Muzambinho.
2. Ele levantou o dinheiro para esse
negócio no Banco do Crédito Real, numa letra
avalisada por Lauro Campedelli, falso pecuarista,
que um ano depois já era prefeito de Valadares em
Muzambinho e hoje é o grande homem do PSD
local.
3. Chefe político “doublé” de franciscano,
ele alegou não poder apoiar o Brigadeiro, em 45,
por haver recebido 200 contos de Valadares para
atender às suas obras.
4. Tomado de uma paixão político-
partidária fora de toda medida, ele está causando
grave dano aos sentimentos religiosos da
população. Sendo, além do mais, a maioria da
população udenista, é fácil imaginar o que
acontece à religião numa cidade onde a sua
principal figura eclesiástica recusa o cumprimento,
vira o rosto na rua quando passa por alguém,
homem ou mulher, que pertence a partido diferente
do que dá prestígio e fortuna a seu protetor
financeiro, Campedelli.
5. Ele insulta, dentro da igreja, os
adversários políticos, a ponto das famílias desses
adversários não mais frequentarem a Igreja para
não sofrerem esse constrangimento.
Eis alguns fatos. Fatos, entenderam?
Irretorquíveis.
Restava, porém, uma dúvida.
A DÚVIDA
Teria o frei Querubim tocado para fora de
Muzambinho o reitor do ginásio que Benedito
Valadares fechou? Não teria sido apenas para
ajuda-lo a compra de sua pequena Escola Normal,
de sua humilde chacrinha, e aquela cláusula
inócua – mas por isso mesmo duplamente imoral,
já por mim citada?
Professores: Talcídio de
Oliveira (Química), José Ary de
Almeida (Fisica), Antero
Veríssimo da Costa (História
Natural = Biologia)
Datilógrafa-Arquivista: Maria
Corina de Almeida.
Obviamente não foram
exonerados Correia Pinto
(Latim) e nem Armando Coimbra
(Língua Pátria). Quando Salatiel
foi demitido, colocaram ele para
lecionar Trigonometria e
Geometria no lugar de Olga
Cerávolo, que já havia sido
demitida.
PROFESSORES PICA-PAUS
Antônio Joaquim Correa Pinto
Foto: Lyceu (1917)
Armando Coimbra
Foto: Capri (1917)
29. Como apurar esse fato, em torno do qual
as opiniões variam? Frei Querubim, quando
cheguei a Muzambinho, foi correndo a Guaxupé
conferenciar com o Bispo, por isso não pude vê-lo,
embora procurasse. Quanto a Salatiel, está morto.
A CERTEZA
Eis que agora tenho a certeza. E quem a
não terá, à vista da prova?
Esta nos vem, por assim dizer, do outro
mundo.
Salatiel de Almeida, o reitor demitido,
banido de Muzambinho, e que morreu logo após a
sua consagração pelo povo e pelo governo de
Milton Campos, estava em S. Simão, dirigindo o
ginásio estadual daquele município paulista,
quando a 23 de setembro de 1948 – cinco anos
após os fatos que temos relatado, três anos antes
da nova ocupação militar pelas tropas do sr.
Juscelino Kubitschek -, ele, com a sua assinatura,
escreveu a um amigo de Muzambinho uma carta
cujo original está hoje em meu poder.
Esta carta dá a certeza de que tudo
quanto afirmamos é pouco e nos autoriza a
concluir pela inconveniência da ação de frei
Querubim em Muzambinho, depois dos
testemunhos que temos citado e dos fatos que
temos coligido.
Dizia, na sua carta, o professor Salatiel,
católico praticante – diga-se para melhor evitar
qualquer sofisma:
“Não concordarão com a abertura de um
estabelecimento que irá prejudicar o seu e
hostilizarão a idéia e, vencedora que fosse esta,
haveria o Ginásio de suportar uma luta tremenda
movida pelo seu atual diretor, o frade Cherubim,
anjo no nome e demônio na ação.
... Este é o meu modo de ver, suscetível
de estar enganado, pelo fato de há quase cinco
anos viver fora de Minas, de que, aliás, sinto
profunda saudade. Em sua carta, Maria Corina fêz
sentir que não temos desejo de residir novamente
naquela cidade, de que conservamos gratíssimas
recordações. Temos receio de se repetirem as
injustiças e ingratidões de que fomos vítimas,
partidas, exatamente, daquele que fora fiador de
uma paz feita em nome de Nosso Senhor Jesus
Cristo”.
Essa carta é de tal ordem que mais vale
coloca-la à disposição daqueles que tenham a
menor dúvida sobre essa conclusão a que
chegamos,inclusive das autoridades eclesiásticas.
José Saint Clair Magalhães
Alves
Foto: EE Prof. Salatiel de
Almeida
PROFESSORES DEMITIDOS
Salatiel de Almeida
Foto: EE Prof. Salatiel de
Almeida
Antônio Magalhães Alves
Foto: EE Prof. Salatiel de
Almeida
30. Mas quero apenas destacar mais um
trecho, que serve de confirmação, gravada pela
solenidade da morte, do que aqui foi por mim
relatado:
“Quando me lembro de que fui forçado
pelas circunstâncias a assinar uma escritura de
venda da Escola Normal em que figurava um
imóvel que não fora vendido: que fora forçado a
assinar uma escritura em que figurava a cláusula
pela qual me comprometia a não mais exercer o
magistério em Muzambinho, quando me lembro de
tudo isso, dessa coação material e moral de que
era conhecedor o bispo da minha Diocese, um dos
intermediários do negócio, sinto-me
desencorajado de voltar a Muzambinho e,
principalmente, para exercer uma função pública.”
“Almejo tornar a Muzambinho como
simples visitante, para rever bons amigos que
incontestavelmente ali deixei e, sobretudo, para
beijar as sepulturas no cemitério, onde lá pousam
as cinzas de tantas pessoas de minha família e de
tantos amigos”....
Ele de fato voltou, mas não como
visitante. Lá está ele, naquele cemitério, entre
“pessoas da família e tantos amigos”. Afrontado,
perseguido, escorraçado em vida, novamente lhe
fazem agora afronta e perseguição, com a
reocupação militar do ginásio, do seu ginásio,
tramada pelo frei Querubim, pelo solerte
Campedelli e alguns outros, à sobra da autoridade
do governador de Minas Gerais.
O sr. Benedito Valadares, que tem no
prelo o seu romance “O Espiridião”, nunca se
limpará da culpa de haver fechado o ginásio
estadual de Muzambinho e perseguido, ou deixado
que perseguissem, até a morte, o fundador, o
professor, o reitor, o criador desse único ginásio
gratuito do sudoeste mineiro. O martírio de
Muzambinho tornou-se, por isto mesmo, um
símbolo.
Pretende o sr. Juscelino Kubitschek
disputar-lhe essa glória?
Os seus antecedentes não indicam isto.
Ele será do tipo leviano, mas não parece do tipo
sinistro. Esvoaça, como um dançarino.
Politicamente, é um bom pé de valsa. Será,
quando muito, segundo os seus inimigos um ótimo
pé de cabra.
Mas não parece, até agora que seja um
pé de pato.
Vejamos o que ele é capaz de fazer, ou
antes, de não fazer, nesse caso de Muzambinho.
José Maria Armond
Foto: Acervo do Museu
Antero Veríssimo da Costa
Foto: Cleusa Ely
Talcídio de Oliveira
Foto: Acervo do Museu
Antônio Milhão
31. As coisas, no Brasil, dificilmente têm
consequências. Já não faltou quem dissesse ser
absurdo um jornal do Rio preocupar-se com
Muzambinho.
Ora, nós nos preocupamos com a justiça.
E esta não tem lugar certo nem incerto,
grande ou pequeno, próximo ou remoto. A justiça
contra a qual se atenta em Muzambinho é ferida,
ao mesmo tempo, por isso mesmo em toda parte.
E aí de quem não souber defende-la em
Muzambinho! Esse a não defender jamais,
verdadeiramente, em parte alguma, senão na
medida em que ela não prejudique os amigos e
atenda a uma série de pequeninas condições,bem
pequeninas, para ser suficientemente notória e, ao
mesmo tempo, suficientemente inócua.
Justiça para os alunos e os pais e os
professores de Muzambinho. Que se retire do
colégio estadual a tropa que lá está posta à espera
do restante da força de um batalhão. Que se
contenham os impulsos do frade desmandando,
induzindo-o a ter mais respeito pela dignidade dos
seus semelhantes e concitando-o a se arrepender
da sua falta de caridade e de justiça.
O ginásio estadual de Muzambinho deve
ser reaberto. No país em que o ministro da
Educação faz do Ministério alvo de ódios pessoais,
não admitira que se fechem escolas, em tempo de
paz e calmaria, para abrir casernas.
Em tudo isso, há uma trágica minúcia, a
guisa de epílogos:
- O Estado de Minas Gerais paga ao
reitor do Colégio Estadual, Cr$ 2.300,00. E aos
professores, Cr$ 1.200,00.
E ainda se julga com direito a meter
soldados da Força Pública entre os meninos, no
pátio do ginásio.
CARLOS LACERDA
Foto: EE Prof. Salatiel de
Almeida
José Ary de Almeida
(Filho mais velho de Salatiel)
Foto da EE Prof. Salatiel de
Almeida
Maria Corina de Almeida
(Segunda filha de Salathiel)
Foto da EE Prof. Salatiel de
Almeida
José Braz Cesarino Filho
Foto de MyHeritage
Não temos fotos de Zacharias
Alberto Magalhães e Nestor
Lacerda
32. TRIBUNADAIMPRENSA – 8 de março de 1951
CARTA DOS LEITORES – Saudade de Muzambinho
SAUDADES DE MUZAMBINHO
Venho lendo com saudade e emoção suas
crônicas sobre Muzambinho, a graciosa cidade
mineira do Liceu Municipal de Muzambinho, o
velho estabelecimento fundado por Salathiel
Ramos de Almeida, o saudosíssimoe queridíssimo
Beca.
Tudo verdade, tudo certo. Reuniu, no
começo do século, Salathiel, esse educador
extraordinário, uma verdadeira plêiade de mestres:
Carlos Góes, Júliio Bueno, G. A. Nixon, Max Heine,
Mário Duarte, Vilhena de Moraes, Atanásio Saltão,
João Baptista (que me ensinou o b-a-ba) Ernani
Domingos, Lycurgo Leite, Fernando Corrêa, J.
Tocqueville e muitos e muitos outros cujos nomes
agora não me ocorrem.
Fui para lá em 1908 e nessa época o Liceu
era incontestavelmente a primeira Escola do Sul
de Minas. De todos os pontos chegava aluno para
o Internato. Por ele passou uma verdadeira legião
de estudantes que, hoje, honra o colégio onde
estudaram.
Em São Paulo, Noé Azevedo, meu
companheiro de carteira até o sexto ano, Francisco
e Antônio Azevedo, Luiz G. do Prado, Gustavo
Corrêa, José Avelino, Mário Coutinho, Domingos
Cerávolo, Honório Soares, Aristóteles Martins,
Antenor Magalhães; em Minas, Antônio Magalhães
Alves, o legítimo sucessordeSalathiel, os Coimbra
JÚLIO BUENO
Foto da EE Prof. Salatiel de
Almeida
33. da Luz, Luiz Introcaso, os Paolielo, os Navarro, os
Bandeira de Melo, Jeremias Zerbini, José Barbosa
de Figueiredo, Luiz Cassiano da Silva, Lélio de
Almeida, Ary de Almeida (filhos de Salathiel)
engenheiros, advogados, dentistas, médicos;aqui,
no Rio, José Cândido de Souza, José Barbosa da
Luz, Domingos Vômero, Mário Falleiros, Talcídio
de Oliveira, todos médicos; na Câmara Federal,
Jalles Machado, Lycurgo Leite Filho.
A lista é muito grande; cito apenas alguns
nomes entre as centenas de estudantes que até
hoje cultuam e veneram a memória de Salathiel e
se indignam, tenho certeza, contra o mais nefando
crime perpetrado em 1837, por esta pústula
maligna que durante tanto tempo maculou o
Palácio da Liberdade e espalhou a sua
malignidade por todo o Estado de Minas.
A transformação do Liceu Municipal e mais
tarde Ginásio de Muzambinho, em quartel de
polícia, marca uma época e define a mentalidade
dêsse home, cujo nome não é preciso citar e que,
nas últimas eleições, chefiou a traição contra seu
próprio companheiro de partido, o inocente
Cristiano Machado, seu ex-secretário de
Educação.
(Conclui na 6ª pág.)
SAUDADES...
(Conclusão da 4ª pág.)
Mas, que o senhor Juscelino Kubitschek,
um médico, tendo por secretário de Saúde, outro
médico, reedite esta façanha e transforme o
Ginásio de Muzambinho em novo quartel, é de
pasmar! Eu não poderia acreditar nessa proeza,
mas vejo que deve ser verdade, pois estou
sabendo que na minha segunda cidade de adoção
(a primeira é Muzambinho), Santa Rita do Sapucaí,
onde a UDN venceu as eleições de ponta a ponta,
fez dois deputados: Bilac Pinto e José Cabral, fez
o prefeito Pedro Rennó Moreira, seus dignos filhos,
já começou a derruba e remoção de seus
funcionários.
Cito apenas um nome: meu colega, José
Alcides Mendes, diretor do Porto local, filho de
Santa Rita, rapaz decente e trabalhador, removido
daquela cidade para Sabará.
E a lista de outros removidos é grande.
Milton Campos ... Juscelino Kubitschek ...
um advogado-moralidade, decência, escrúpulo,
honradez, justiça.
Outro médico ... mas em política, discípulo
e cria de quem?
JALES MACHADO
Foto da empresa da família
LYCURGO LEITE FILHO
Foto do acervo municipal
34. Ai do meu glorioso Estado. Vae victs! Pobre
Minas Gerais! – Joaquim Barbosa Figueiredo. Rua
Itaipava, 99”
35. FOLHA DO POVO – 8 de abril de 1951
(Jornal de Guaxupé)
A PEDIDOS
Muzambinho, ou o Martírio de uma Cidade
C.P.
Com esse título, gênero capa e espada, vem o jornalista
Carlos Lacerda publicando em sua << Tribuna da Imprensa >>
uma novela sensacionalista, de lances épicos, que pretende
mais tarde radiofonizar por todo o pais.
Novela inteligente e imaginoso, mistura de D’Artagnan e
Tartarin, o seu folhetim está ganhando público e fazendo
sucesso. Já apareceram em letra de forma os cinco primeiros
capítulos, de títulos vistosos: - <<O Começo do Fim, Ou o Fim
do Começo>>; <<A Morte Cai Sobre a Cidade>>; <<A
Represália>>; <<O Raio e a Paineira>>; <<O Trem da Morte>>...
O título é o homem... Por aí se vê.
O texto prossegue falando sobre Carlos Lacerda, porém, sobre fatos de
Guaxupé.
36. CRONOLOGIADO ANO DE 1937
7.6.1936 – Eleição para vereadores
26.6.1936 – José Januário é eleito
indiretamente pela Câmara Municipal
22.10.1936 – Lycurgo Leite morre
Dez.1936 – Ruptura de José Januário
com o grupo político dele
17.1.1937 – José Januário chama
Salathiel de Almeida de parasita
privilegiado na imprensa
24.3.1937 – Difamação de Salatiel e do
Ginásio na imprensa nacional
Abr.1937 – Salatiel e professores do
Ginásio Estadual declaram apoio ao
candidato da oposição, Armando de
Sales Oliveira
26.7.1937 – Salatiel é afastado da
reitoria e em seu lugar é nomeado Saint
Clair, ele vai para cadeira de
Trigonometria e Geometria, do qual era
efetivo.
26.7.1937 – Alunos entram em Greve e
há Tiroteio na Av. Dr. Américo Luz
27.7.1937 – O secretário de educação
suspende as aulas do Ginásio por 15
dias
2.9.1937 – Saint Clair é assassinado por
José Maria Armond
13.9.1937 – morre Frei Florentino
27.9.1937 - Exoneração de Salatiel, José
Maria Armond, Antônio Milhão, Antero
Veríssimo da Costa, Antônio Magalhães
Alves e vários outros professores do
Ginásio Mineiro, "a bem do serviço
público" (todos foram reconduzidos aos
cargos em 1948)
27.9.1937 – Ginásio Mineiro é fechado e
transferido para Pará de Minas
10.11.1937 – Getúlio Vargas dá golpe e
instaura Ditadura do Estado Novo
SÉRIE DE ARTIGOS DE JORNAL QUE FALASOBRE O ANO DE 1937
IMPEACHMENT DE JOSÉ JANUÁRIO
55. REFERÊNCIAS (APENAS AS CITADAS – HÁ VÁRIAS OUTRAS)
TRIBUNAL SUPERIOR ELEITORAL. Dados Estatísticos (2º Volume). Eleições Federais
e Estaduais realizadas no Brasil em 1950. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1952.
OS TUCANOS CITADOS
DR. LYCURGO LEITE, MESSIAS GOMES, MAGALHÃES ALVES, SALATIEL
56. DR. SAMUEL DE ASSIS TOLEDO, JOSÉ MARIAARMOND, JOSÉ ERNESTO,
CELINA ERNESTO
ARMANDO DE SALES OLIVEIRA, GABRIEL PASSOS, MILTON CAMPOS
OS PICA-PAUS
57. FREI QUERUBIM, LALAU CAMPEDELLI, JANE CIPRIANI
DR. JOSÉ JANUÁRIO DE MAGALHÃES, DR. ISMAEL COIMBRA
BENEDITO VALADARES, JUSCELINO KUBITSHECK