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#12 MUZAMBINHO:O MARTÍRIO DE UMA
CIDADE
Carlos Lacerda
Comentários de Otávio Luciano Camargo Sales de Magalhães
Muzambinho, o martírio de uma cidade: série de artigos do jornalista Carlos
Lacerda
Trata-se de uma série de artigos escritos pelo próprio jornalista Carlos Lacerda,
maior nome da UDN nacional, que anos depois se tornaria governador do Rio de
Janeiro. Carlos Lacerda, para atacar Juscelino Kubitscheck, toma partido dos Tucanos,
que por COINCIDÊNCIA eram udenistas (e isso depois eu provo).
Nesses artigos há sérias críticas contra Lauro Campedelli, Ismael Coimbra, Jane
Cipriane, José Januário de Magalhães, e, principalmente, contra Frei Querubim, que ele
chega a dizer que era santo no nome, mas um demônio na atitude.
O artigo enaltece Salatiel de Almeida, Antônio Magalhães Alves, Lycurgo Leite,
José Maria Armond, Messias Gomes e outros tucanos.
Devemos tomar muito cuidado ao nos posicionarmos contrários aos nomes
relacionados, pois trata de uma crítica editorial, com posicionamento político definido.
É evidente que, nos episódios narrados sobre o fechamento do Ginásio Mineiro
(Lyceu) em 1937 e na expulsão de Salatiel de Almeida de Muzambinho, eu concordo
que os pica-paus agiram de forma absurda, mas, precisamos olhar o contexto, que
coincide com o mesmo mês foi deflagrada a ditadura do Estado Novo.
Também concordo que algumas atitudes de José Januário de Magalhães eram
absolutamente inadequadas, mas, ele agiu apenas pela busca de poder, e, fez também
coisas positivas para cidade. Quanto ao Frei Querubim, também era ganancioso e
totalitário, porém, tem também suas parcelas de contribuições.
Ressalto isso, pois, apesar de me posicionar em algumas situações de forma
simpática aos tucanos, não vejo os pica-paus da forma que são narrados. Houveram
pica-paus brilhantes que muito fizeram por nossa cidade, e, no plano nacional, eles
estavam com o lado mais a esquerda (apesar de estarem mais a direita no sua própria
visão de mundo). De igual forma, é obvio que sou mais simpático a Getúlio do que a
Carlos Lacerda.
Precisamos tomarmuito cuidado, pois, nem tudo que Lacerda narra é verdadeiro
– há muita fantasia, há muita versão tucana, sem possibilidade de defesa. Da mesma
forma que precisamos tomar cuidado com a versão narrada pelo Vonzico da morte de
Saint Clair, colocando o “professor de desenho” que ele não nomina como vilão.
O contexto da morte de Saint Clair era um regime de exceção. Tanto que já
recebi cartas do filho dele onde ele cita o nome de José Maria Armond se fazer qualquer
crítica. José Maria Armond, como vocês poderão ver, não era vilão ou mal, tanto que
ele foi absolvido do processo, não ficou preso, e, foi reconduzido ao cargo público no
Colégio Estadual de Muzambinho após o fim da Ditadura Vargas. Além disso, seu
advogado foi o próprio irmão do morto, o Prof. Antônio Magalhães Alves.
Sem contar que ambos foram companheiros na revolução de 1932, e, há uma
edição de “O Muzambinhense” onde José Maria Armond, que era diretor e colunista do
jornal, elogia Saint Clair.
A versão de Vonzico nos dá um tom de vilania ao professor de desenho José
Maria Armond, o que é falso. Felizmente, Geraldo Vanderlei Falcucci, com um livro
maravilhoso, aquela da história das ruas, resgata a história retirando o caráter de vilão
de Armond. Vonzico alega que estava lá, era uma criança de 11 anos, assistindo tudo,
e, sabemos, que os adultos não contam tudo que acontece para uma criança de 11
anos, e, sequer é possível alguém saber tudo que está acontecendo com essa idade e
fora do contexto.
Em primeiro lugar, antes de iniciar a leitura, 3 apontamentos são importantes:
1º Carlos Lacerda era o maior adversário de Vargas e o pivô do suicídio de
Vargas em agosto de 1954. Vargas estava sendo ameaçado de impeachment pois sua
guarda pessoal e seu irmão estavam envolvidos com a tentativa de assassinato de
Carlos Lacerda na Rua Tonelero.
Vale a pena assistir o filme “Getúlio”, onde Carlos Lacerda é representado por
Alexandre Borges. Esse personagem de Borges é o mesmo Lacerda que escreve esse
artigo sobre Muzambinho.
Lacerda também aparece em muitos outros filmes. No seriado JK ele foi
representado por José de Abreu, no filme “Flores Raras” foi Marcelo Airoldi e no filme
“Bela Noite para Voar” foi Marcos Palmeira. Este mesmo que é o autor desses textos
que transcrevemos.
2º A Tribuna da Imprensa era o principal veículo no Brasil que atacava Getúlio
Vargas e todos seus companheiros, inclusive Juscelino Kubitschek. O diário existe até
hoje.
O jornal também aparece no filme “Getúlio” e no seriado JK nominalmente citado,
“vejam agora o que saiu na Tribuna da Imprensa”, é algo recorrente.
É importante repetir que esse jornal era de propriedade e de direção de Lacerda.
3º Carlos Lacerda não tinha compromisso com a verdade, mas sim com atacar
o adversário e destruir todos que fossem dos partidos de Getúlio Vargas. Isso significa
que o que estáescrito é mentira? Não! Os artigos trazem importantíssimas contribuições
para a História de Muzambinho.
JORNALISTA CARLOS LACERDA
Foto da Revista Época
TRIBUNADAIMPRENSA – 26 de fevereiro de 1951
Anuncio das reportagens
DIAS DE AGONIA em Muzambinho
O ginásio ocupado pelos soldados por ordem do governador – Benedito e a
Inconfidência – O Frei Querubim, o Rasputine pessedista – A história de uma cidade do
sudoeste mineiro que perdeu o direito de existir porque ali o povo derrotou o partido
oficial.
A partir de amanhã, na TRIBUNA DA IMPRENSA, as reportagens do nosso
enviado especial sobre o drama de Muzambinho.
TRIBUNADAIMPRENSA – 27 de fevereiro de 1951
PARTE I – Muzambinho, ou o martírio de uma cidade
Muzambinho, ou o martírio de uma cidade
Depois que o avião desce em Guaxupé, a
cercade duas horas de São Paulo, entramos numa
dessas trilhas que em Minas chamam-seestradas.
Cerca de três horas depois chagamos a
Muzambinho. A cidade tem uns oito mil habitantes,
o município 22 mil. A renda municipal é de Cr$ 1
milhão. O Estado arrecada três vezes mais. Ali o
ministro Daniel Carvalho fez construir uma escola
agri-industrial que, se for concluída, dará impulso
à região.
Mas a cidade anda triste. A imensapraça
ao fim da qual assenta a igreja matriz, assistida
pelos franciscanos holandeses que tanto serviço
ali têm prestado, as ruas de barro, sujando as
casas que ao levantando, novas e teimosas,
abrigam uma população atormentada.
Uma estranha maldição caiu sobre
Muzambinho. Todos estão contrafeitos. Fala-se
A escola agri-industrial citada é
a futura Escola Agrotécnica
Federal, hoje IFSULDEMINAS.
Os franciscanos administraram
a paróquia durante muito tempo,
a partir dos anos 30 até 1988,
quando entraram os padres
Francisco e Guaraciba. Os
franciscanos que mais se
destacaram foi o Frei Florentino,
nos anos 30, que tinha visão
revolucionária e humanista,
fundando uma escola para
meninos pobres; o Frei Rafael,
mais recente que ajudou a
fundar a Escola Superior de
nas esquinas, murmura-se– e ninguém pode fazer
coisa alguma para que a cidade volta a sair do
esponto que a atordoa.
Pela segunda vez, em treze anos, a
cidade querida no que ela tem de mais necessário
e mais ilustre. Ferida ela foi na própria fonte de
toda a sua alegria.
É uma historia que não parece daqui.
Parece um relato das aldeias sobre as quais Hitler
impôs penalidades arrasadoras para puni-las por
sua altivez.
O COMEÇO
Em 1937, o governador Benedito
Valadares fechou o Ginásio e Muzambinho e
mandou ocupar o prédio por um batalhão da Força
Pública, então especialmente criado. Nos pátios já
não circularam crianças,mas soldados – os pobres
praças, miseravelmente pagos, da Força Pública
mineira, e um árdego capitão que ao sair, em 49,
jurou voltar para tirar vingança.
Depois de sair Valadares e voltar a
Constituição, o ginásio foi reaberto. Em 1949, tudo
voltou a ser como dantes. Apenas, para que isto
acontecesse, dois reitores morreram e um
professor matou.
E o povo de Muzambinho sofreu. E gente
do sudoeste mineiro não teve mis ginásio de graça.
E isto que agora volta. E isto que tira o sono do
povo de Muzambinho.
O FIM
Agora, quem manda é Juscelino
Kubitschek.
Então o Ginásio de Muzambinho está
para ser novamente fechado. E de novo ali se
instalam os soldados do novamente criado
Batalhão da Força Pública. Já lá estão 20 praças.
O resto chegando. E o capitão troveja. Ele se
vingou, o capitão.
O COMEÇO DO GOVERNO
Em 1896, um jovem professor mineiro,
Salatiel Ramos de Almeida, filho de Campanha,
chegou a Muzambinho e fundou umaescola, quem
em 1902 se transformou em ginásio.
Não sei se compreendem o que era,
então, como até hoje, um ginásio no interior do
Brasil. Em resumo, um ginásio na região significa
a possibilidade de mandar os filhos estudarem sem
ter que pagar internamentos no Rio, em São
Paulo, em Belo Horizonte. E para toda a
população, mesmo os que não tem filhos, um
ginásio representa tanto ou mis que a luz elétrica.
Educação Fisica; e, mais antigo,
o Frei Querubim Beumelhof,
bastante citado nessa
reportagem, que era proprietário
na época de três escolas na
cidade, o Ginásio São José, a
Escola Normal e a Escola
Paroquial Frei Florentino.
Importante dizer que esse ano
de 1951 foi o último ano de
funcionamento do Ginásio São
José, e, nos anos seguintes a
Escola Paroquial foi
estadualizada e se tornou a EE
Frei Florentino, e, a Escola
Normal foi incorporada ao
Colégio Estadual de
Muzambinho (futura EE Prof.
Salatiel de Almeida). Frei
Querubim também foi embora
dessa cidade neste ano.
Vale ressaltar que Querubim
chegou em Muzambinho para
substituir o carismático Frei
Florentino, falecido em 1937.
Na realidade, Salatiel de
Almeida chegou em
Muzambinho depois disso, em
1899 ou 1900.
NOÉ DE AZEVEDO (Foto da
OAB-SP)
Noé de Azevedo, jurista e
professor universitário de
Direito, é presidente emérito da
Salatiel Ramos de Almeida foi um reitor
digno da dignidade de sua obra. O povo ajudou-o,
é verdade. Ele formou uma elite, que se espalhou
por todos os cantos. Nóe de Azevedo, de São
Paulo, saiu das mãos de Salatiel de Almeida. E
Carlos Góis. E Mário Magalhães, da Academia
Mineira.
GINÁSIO GRATUITO
No governo do Estado, Antônio Carlos
Ribeiro de Andrada fêz, ponto de vista
administrativo, um dos dois ou três grandes
governos de Minas – talvez o maior. Ao perceber o
alcance da obra de Salatiel de Almeida, o
presidente Antônio Carlos encampou o Ginásio.
Com isto, a região passou a ter ensino ginasial
gratuito. E para garantir a continuidade do esforço,
o governo fez de Salatiel de Almeida o reitor do
Ginásio Estadual.
AS TERTÚLIAS DE JACKSON
Um dia Jackson de Figueiredo foi, como
parte da banca examinadora do Pedro II argüir
alunos em Muzambinho. Apaixonou-se pela
cidade. Ali converteu Hamilton Nogueira, o
senador. Ali se empenhou naquelas grandes
conversas da farmácia, na qual citava, com sua
espantosa memória, os versos dos poetas que a
ronda do acaso ia evocando. Um centro literário, a
par da consciência profissional, formou-se em
Muzambinho.
PROFESSOR NÃO PODE PROFESSAR
Mas em 1937 abriu-se o problema da
sucessão presidencial. O sr. Getúlio Vargas já
estava há muito tempo no poder, parecia enjoado.
Acreditaram que ele quisesse eleições. O
presidente de São Paulo, Armando de Sales
Oliveira, candidatou-se. Do outro lado, lançado â
rua pelo governador de Minas, surgiu um
candidato oficioso, o sr. José Américo de Almeida.
Os professores do Ginásio Estadual de
Muzambinho não se filiaram os partidos que então
se formaram. Mas simpatizavam abertamente com
a UDB, que assim se designava o partido de
Armando de Sales Oliveira. Todos os professores,
menos três.
A REPRESÁLIA
Benedito Valadares, então, ainda não
era o autor de “O Espiridião”. Era apenas pouco
mais que analfabeto e odiava com a força de um
primário. Um dia, a leitura de certa carta irritou-o
tanto que ele atirou a cara de seu secretário de
OAB-SP, e teve a mais longa
gestão da entidade no estado de
São Paulo, entre 1939 e 1965.
Ele inaugurou a sede da OAB na
praça da Sé. Participou da
elaboração do ante-projeto do
Estatuto da OAB, Lei Federal
4215/63. Fez o ginásio em
Muzambinho.
JACKSON DE FIGUEIREDO
Foto de “O Camponês”
Jackson de Figueiredo Martins,
filósofo cristão, considerado de
extrema direita. Fundou o
Centro Dom Vidal no Rio de
Janeiro e tem uma obra
vastíssima. Foi ele que
converteu Tristão de Ataíde
(Alceu Amoroso de Lima) ao
cristianismo.
Carlos Góis, filólogo e poeta, foi
promotor e professor e
Muzambinho. Escreveu muitos
livros e gramáticas, é citado no
poema “Aula de Português” de
Carlos Drummond de Andrade.
Foi membro de várias
academias de letras, entre elas,
a mineira.
Mário Magalhães Gomes, poeta,
membro da Academia Mineira
de Letras. Foi professor do
Lyceu do Prof. Salatiel de
Almeida.
Hamilton Lacerda Nogueira, foi
deputado federal e senador da
Educação uma bandeja de café. O secretário era o
sr. Cristiano Machado.
A notícia eu os professores do ginásio
estadual de Muzambinho pareciam inclinados a
votar em Armando de Sales Oliveira despertou em
Benedito Valadares aquele impulso, bem –
chamemo-lo o ímpeto da bandeja de café.
Valadares demitiu o Reitor do Ginásio.
Nomeou um substituto.
OS ESTUDANTES NÃO QUERIAM
Salatiel de Barros, demitido, tinha então,
quase 70 anos de idade. Além da idade, tinha de
seu, de quando havia dado ao sudoeste de Minas,
onde é visto como uma espécie de apóstolo, uma
pequena Escola Normal, que era ainda sua, e uma
chacrinha, onde morava com a família.
Os estudantes, meninos e meninas
choraram quando Salatiel foi demitido. E
resolveram reagir. Entrarem em greve.
EXPULSÃO DE SALATIEL
Mas não basta demiti-lo. É preciso
expulsar da cidade o reitor tangido da escola que
havia fundado. Como, porém, intervir na sua vida
privada? Como desarmar, de todo a quem armas
não tinha senão o amor dos alunos que formara?
FREI QUERUBIM TOMADO DE PAIXÃO
Frei Querubim, de nacionalidade
holandesa, entre os franciscanos da casa
paroquial de Muzambinho é o que mais se destaca
– porque é o vigário.
Mas frei Querubim não é apenas o
vigário. Ele se deixou formar pela paixão política.
Frei Querubim era o chefe, por assim dizer a alma
do domínio de Benedito Valadares em
Muzambinho.
Na campanha eleitoral de 45, no
domingo, 2 de dezembro, dia da eleição, violando
portanto o Código Eleitoral, mas sobretudo
violando outras leis a que não deva faltar, frei
Querubim afirmou, dentro da Igreja, do púlpito, que
ninguém deveria votar no Brigadeiro Eduardo
Gomes, porque este é comunista. E há pouco, na
campanha eleitoral, falando num comício ele disse:
“A oposição aqui está reduzida a seis bestas.”
A violência da linguagem corresponde,
segundo a descrição de cerca de quarenta
pessoas que ouvimos em Muzambinho, a violência
de seus sentimentos. É um homem digno de
admiração, pelos serviços que prestou ao seu
rebanho. Mas está tomado pela paixão política.
SALATIEL CERCADO E VENCIDO
república. Era médico e escrevia
sobre medicina, ajudando a
fundar a Academia Brasileira de
Medicos Escritores. Estudou no
Lyceu. Foi senador entre 1946-
1955 e deputado federal entre
1959-1967 (dois mandatos).
Apenas três professores
apoiavam o candidato de
Getúlio Vargas e Benedito
Valadares: Correia Pinto,
Armando Coimbra e Saint Clair!
O motivo era simples. Getúlio
Vargas foi eleito pela Aliança
Liberal com apoio de Antônio
Carlos Ribeiro de Andrada,
mineiro. Os tucanos, liderados
por Dr. Lycurgo Leite, apoiaram
Getúlio, por ser candidato de
Antônio Carlos. Já os pica-paus,
liderados pela família Coimbra,
apoiaram o paulista Júlio
Prestes, candidato oficial de
Washington Luís. Só que
Getúlio rompeu com Antônio
Carlos, que seria sucessor
natural de Getúlio, e lançou o
poeta José Américo de Almeida
para candidato. Lycurgo Leite
seria fiel com Antônio Carlos,
mas morreu em 1936 – e todos
os tucanos acompanharam
Antônio Carlos, desta vez,
contra Getúlio, apoiando
Armando de Sales Oliveira.
Nesse meio tempo, o prefeito
José Januário de Magalhães,
que era tucano, migrou para o
grupo dos pica-pau, pois, queria
continuar com o apoio de
Valladares, que era o interventor
do estado. Essa inversão de
grupos políticos (leia mais em
minha dissertação de mestrado
e outros textos) foi problemática
e fez com que Salathiel ficasse
com Antônio Carlos também, e
levou à sua demissão.
Perdendo o ginásio, Salatiel de Almeida
ainda possuía a pequena Escola Normal e sua
chacrinha. E uma resignação de bom católico.
Mas Salatiel possuía também uma
dívida. De 50 contos de réis, era a dívida, na Caixa
Econômica de Minas Gerais. Lá de cima, de Belo
Horizonte, começaram a apertar o devedor. E
Salatiel não tinha com que pagar..
Frei Querubim ofereceu-separa comprar
a Escola Normal. Por 40 mil cruzeiros. Foi ao
Banco de Crédito Real e trouxe o dinheiro para
pagar a Salatiel. Era menos 10 contos do que a
dívida do velho reitor.
Mas na hora de pagar suscitou-se um
problema: a chácara. De lá vinha a água para a
Escola Normal. Logo, ela era essencial para
Escola. Logo, devia ser compreendida na venda.
Salatiel conformou-se. Ia receber o
dinheiro para pagar a dívida que fizera ensinando
a mocidade mineira.
Surgiu, porém, outra dúvida. E frei
Querubim, que a suscitou, resolveu-a logo com a
seguinte cláusula, que figura no contrato de venda
da Escola Normal:
“e ainda se obrigam os outorgantes
vendedores a não mais fundarem
estabelecimento de ensino nesta
cidade”.
Esta cláusula consta do contrato de
venda escritura, lavrada a 1 de dezembro de 43,
no 2º tabeliã, livro 83, folhas 54 a 58, em
Muzambinho.
DESTERRADO
Assim Salatiel de Barros saiu da terra
que fizera sua, pelos colégios que lá fundara. Não
podendo, por sua idade, ser nomeado, foi
imediatamente contratado pelo governo de São
Paulo (1943), para dirigir o ginásio de São Simão.
Sozinho ficou frei Querubim, que fundou
e dirige um ginásio franciscano,com mensalidades
pagas.
ARRAZADO
Quanto ao Ginásio Estadual, gratuito
estava parado, com os alunos em greve.
Mas o que houve depois foi ainda mais
triste. Pois, não se iludam, está uma história muito,
mas muito triste.
A história de uma cidade do sudoeste
mineiro onde a paixão política se apossa dos
homens e os devora a ponto de um governo não
poder suportar a idéia de que tenha um ginásio a
cidade em que ganha a oposição.
BENEDITO VALADARES
Foto de “Ser Mineiro Uai”
Em 1929 foi estadualizado o
Lyceu, que se transformou em
Ginásio Mineiro de
Muzambinho, mas, Salatiel
continuou proprietário da Escola
Normal, que não foi encampada
pelo governo do Estado. Esse
fato é importante! Salatiel era ao
mesmo tempo reitor do Ginásio
oficial e dono de uma escola
particular paga, a saber: a
Escola Normal.
FREI QUERUBIM (Foto do
acervo municipal)
O novo governador, Juscelino
Kubitschek, que acaba de mandar soldados
ocuparem o ginásio, declarou a pessoa idônea,
cujo nome vamos divulgar, que tem compromissos
eleitorais com frei Querubim e com o bispo de
Guaxupé, dom Hugo Bressane, para exterminar o
ginásio (hoje colégio) estadual, fazendo
desaparecer dentro do ginásio de frei Querubim
que seria nomeado Reitor. Se é mentira é do
governador.
Mas o que está antes de tudo isso
precisa ser contado. Os dramas do interior têm de
ser conhecidos na capital para que o Brasil
conheça a si mesmo, para que o povo saiba que
estão fazendo com seus irmãos.
O ginásio foi arrasado, em 1937. Mas
deixemo-lo comoestava então: em greve. Amanhã
veremos a história do tiroteio, o argentino
naturalizado e a acidentada [ilegível] entrega das
chaves.
CARLOS LACERDA
PS: Será possível explorar, contra os franciscanos,
o fato de um deles ter-se deixado absorver sua
piaxão facciosa da politicagem? Será possível,
contra êle próprio lançar apodos? Creio que não.
Mas também julgo que a mais elementar prudência
recomenda ação no sentido de transferir o fardo
que esta afastando da igreja de Muzambinho as
famílias católicas, cujos chefes, como é do seu
direito, pertencem à oposição política. A UDN, ao
partido, em suma, do Prefeito livremente eleito. –
C. L.
Notícia de 23 de julho de 1937,
do “Diário de Notícias”, edição
3249.
O texto realmente fala em
Salatiel de Barros.
São Simão era a cidade do
vereador Antônio Borelli, pai de
dois futuros vereadores (Caio
Duílio Borelli e Almirio Borelli) e
avô de outro (Fernando Cláudio
Borelli), Caio Duílio e Fernando
Cláudio foram presidentes da
Câmara. Geraldo Vanderlei
Falcucci nos conta que foi
Antônio que providenciou a vaga
para Salatiel em São Simão.
Antônio era picapau (UDN).
TRIBUNADAIMPRENSA – 28 de fevereiro de 1951
PARTE II – Muzambinho, ou o martírio de uma cidade
Muzambinho, ou o martírio de uma cidade
II
O tiroteio na porta do ginásio – O rigoroso
inquérito, abafado – A morte do Reitor
substituto – Transferência do ginásio para a
terra de Benedito – Extinção do ginásio –
Dispersão do arquivo e do mobiliário – Entra
triunfante, o 10.ºB. da Fôrça Pública
O Ginásio, de fato, foi fechado em
1937, e transformado na sede do
10º Batalhão de Caçadores de
Minas Gerais, mas, em 1951 não
houve fechamento. O que fechou
foi o Ginásio do Frei Querubim, o
Ginásio São José, no final do ano.
Aliás, Querubim queria evitar a
No sudoeste de Minas, a ocupação
militar do Ginásio de Muzambinho, em 1937,
como em 1951, foi como um tiro no peito. O
Reitor, o velho Reitor que havia fundado o
ginásio e fora mantido no posto pelo presidente
Antônio Carlos, ao oficializar aquela casa da
praça principal, construída pelo seu esforço, foi
substituído, em 1937, pelo governador
Valadares, porque acusado de simpatizarcom a
candidatura de Armando de Sales Oliveira. “Ele
está muito velho!”, era a desculpa. Sim, ele
envelhecera ensinando meninos. Mas não tão
velho que não pudesse ser contratado para
dirigir um ginásio oficial em São Paulo.
Os meninos entraram em greve, para
reclamar a volta do velho Reitor. Para eles,
Salatiel de Almeida não estava assim tão velho.
Para Benedito Valadares, estava até caduco:
onde se viu professor ter opinião? Onde se viu
professor professar?
Os professores estavam todos com o
Reitor – menos três. Assim também os alunos.
Todos estavam em greve. Menos quatro. Entre
estes, o filho de um argentino naturalizado, que
era um dos chefes da política de Benedito
Valadares na cidade de Muzambinho e hoje é
um dos chefes da política de Juscelino
Kubitschek no município de Muzambinho.
Os quatro alunos dissidentes
procuraram entrar no ginásio. Os colegas
tentaram impedi-los.
O PROFESSOR DE DESENHO
Então vem lá de dentro José Maria
Armond, o professor de desenho, e procura
apaziguar os alunos.
Eis que vem chegando João Vicente
Cipriano. Este é um argentino que se
naturalizou brasileiro e tem filho no colégio, um
dos que não querem a greve porque o pai é do
Benedito. A uns vinte metros do ginásio, por lhe
parecer que estava agredindo o seu filho, ou por
impulso de prevenção que explore em cólera –
a cidade estava fervendo com esses
acontecimentos – Cipriano começou a insultar o
professor de desenho.
- Vou entrar nesse colégio nem que
seja à bala! gritou, entre um e outro impropério.
Empunhou o revolver e atirou contra o
colégio.
Deu o primeiro tiro, atravessou a rua
correndo e entrou na casa do prefeito, que era
amigo do governador Valadares e morava
defronte do ginásio.
todo custo a manutenção do
colégio público, pois prejudicava
seu colégio
ARMANDO DE SALES OLIVEIRA
Foto Wikipédia
JANE CIPRIANI (Foto do acervo
municipal)
O argentino citado é João Vicente
Cipriani, o Jane, e o filho dele é o
prof. Walter Cipriani, o seu “Títio”,
que foi diretor do Colégio Estadual
anos depois.
O pessoal da oposição reagiu. Eles
dizem: “a população”. Afinal, também fazem
parte dela. Começouum tiroteio da calçada para
a casa do prefeito, o médico José Januário de
Magalhães. Da janela do prefeito chovia bala
sobre a calçada do ginásio. O Prefeito não teve
nada. Mora hoje em Poços de Caldas, onde
entrou para o partido de Ademar, que o fez
candidato a deputado federal, mas foi
derrotado.
Tiroteio bravo, aquele! Mas não houve
mortos nem feridos. Foi tudo rápido. A cidade
esquentou-se, ficou em brasa.
Lá, de Belo Horizonte, Benedito
Valadares viu que estava no ponto para
esmagar a oposição. Mandou um delegado
especial abrir inquérito. Chegou a Muzambinho
o delegado Moretzohn. Ouviu todo mundo e
toda gente. Voltou para Belo Horizonte, onde
concluiu o seu relatório.
O inquérito? Nunca mais se ouviu falar
nele. Conclusão lógica: o delegado concluiu
pela culpabilidade do pessoal que apoiava o
governo. Não é lógico? Onde está o inquérito
contra o Cangurú, que o general Mendes de
Morais empreitou na Polícia Municipal? Onde
está o inquérito do coronel da Diretoria do
Material, empregada no SESC, do fornecedor
da Diretoria? Ele tirou 6 meses de licença na
Aeronáutica – e o inquérito é que foi licenciado.
Não é sempre assim? Pois foi assim em
Muzambinho? Já vê que não é só no interior...
Cristiano Machado era o secretário da
Educação. Vivia no temor do Benedito, que
tinha uma grande inveja dele, e um medo
horrível de que, vindo ao Rio, o antigo
revolucionário de 30 reatasse relações com o
“doutor Getúlio” e voltasse a Belo Horizonte com
um diploma de governador, de interventor, de
qualquer coisa capaz de substituí-lo. Então,
vivia sequestrado em Belo Horizonte, na
Secretaria de Educação.
Telegrafou Cristiano para
Muzambinho suspendendo por 15 dias as aulas
do Ginásio até os ânimos se acalmarem.
Passaram-seos 15 dias. Chegou o dia
de receber dinheiro. Em Minas, os professores
do Estado não recebem diretamente. O reitor do
ginásio fornece um atestado de exercício,
dizendo que eles deram aulas e com esse
atestado eles vão à coletoria, conversam um
pouco, toam um cafezinho e recebem o
ordenado. (Vão ver que ordenado. É de matar
um cristão!).
José Januário de Magalhaes foi
embora de Muzambinho em 1945 e
nada sabemos de seu destino, a
não ser que se tornou médico
extranumerário do estado de São
Paulo, na divisão de combate à
tuberculose, nomeado por Jânio
Quadros, em 11 de setembro de
1956.
Vasculhando os artigos
historiográficos da Polícia Militar,
só pode se tratar do delegado
Orlando Moretzohn (ou
Moretzsohn) que dá nome para
uma rua de Belo Horizonte, no
bairro Buritis. Tem uma foto dele no
Arquivo Público Mineiro, mas é
classificado como documento
restrito.
CRISTIANO MACHADO
Foto de “Cinco Meia Sete”
A MORTE CAI SOBRE ACIDADE
Lá foram os professores à coletaria. Ali
havia uma supresa. Eles estavam descontados
nos 15 dias em que o colégio estivera fechado
por ordens do secretário de Educação. Metade
de mês, metade do pão, metade da manteiga,
metade de tudo, é de amargar, pensou o
professor de desenho José Maria Armond. Aí,
porém, ele viu que um dos três professores que
tinham ficado com o governador estava
recebendo o ordenado integral.
- Isso, não! Não pode ser! Êle disse.
(Ele era da oposição sistemática, como dizia o
Jafet local).
Foi ao ginásio. O reitor estava lá.
Interpelou-o. O reitor discutiu. Aqui, aliás, as
versões variam. Há quem diga o contrário.
Ambos já morreram. O reitor de Benedito,
instantaneamente. O professor de desenho, de
morte natural, algum tempo depois. O fato é que
José Maria Armond, o professor, compareceu a
dois juris e em todos dois foi absolvido. Não ali
em Muzambinho, onde todos estavam
apaixonados, extenuados por tanta luta. Mais
longe, em Varginha. Creio que isso prova a seu
favor, não parece? Em todo caso, respeitemos
os dois, que estão mortos.
BENEDITO QUER “EXEMPLAR”
Benedito Valadares mandou abrir
inquérito contra todos os professores.
Condenou-os como insufladores da greve dos
alunos. Sem provas. E sem defesa. Ele quer
“exemplar” a cidade.
Mas, e o ginásio?
O prédio lá estava. Os meninos e as
meninas comeavam a voltar. Tudo passa, ainda
que devagarinho. Afinal, as crianças precisam
estudar. E Muzambinho só tinha esseginásio. E
a região só tinha esse ginásio. E era grátis!
Mas Benedito não vai nisso. Aí já o
Estado Novo cantava feio e forte. Benedito, por
decreto, transferiu o ginásio estadual de
Muzambinho para Pará de Minas, que é onde
Benedito foi dado à luz. Reversão à infância,
pensou um psiquiatra. Queria ele matricular-se,
afinal, no ginásio?
Não. Benedito queria dispersar o
arquivo do ginásio, a história cultural de uma
população, gerações que desde 1896
sucediam-se naqueles bancos, aprendendo
com Salatiel e, entre tantos outros, com aquele
moço de 16 anos, Magalhães Alves, que hoje
encontra em Muzambinho, aos 5, feito reitor do
ginásio novamente ocupado pela força policial.
Foto do acervo municipal
ANTÔNIO MAGALHÃES ALVES
Foto cedida por Graco Magalhães
Alves, seu filho.
Em 1951 foi demitido Magalhães
Alves, por motivos obviamente
políticos. Magalhães Alves já tinha
saído da cidade durante o Estado
Novo. Como presidente da
Câmara, que assumiu assim que
faleceu o Dr. Lycurgo Leite, ele
moveu um processo de
impeachment de José Januário de
Magalhães, tudo em conformidade
com a Constituição Federal de
1934, e concluíram pela cassação,
no final de 1936, por sinal, tida
como a primeira do país. Ocorre
que José Januário não saiu, e
recorreu, até que foi deflagrado o
Estado Novo e nada mais poderia
ser feito. Humilhado, Magalhães
Alves, que seria nomeado prefeito
pelos vereadores, vai embora da
cidade. E volta em 1948 como
diretor do colégio onde estudou, foi
Arquivos, só? Não. Cadeiras também.
E mesas. E bancos. Tudo foi levado para aí
afora, e nunca chegou a Pará de Minas. Pois,
no caminho, Benedito emitiu outro decreto.
Este extinguia o ginásio estadual.
O 10º OCUPAO COLÉGIO
Dias depois entrava em Muzambinho,
recém-criado, especialmente para aquela
cerimônia, o 10º Batalhão de Caçadores da
Força Pública de Minas Gerais. Com a corneta.
E o tambor chamado surdo.
Quanto ao mudo, já estava ali mesmo.
Era o prédio do ginásio, deserto mas acuado,
possuído, violentado por 600 solados que
acamparam nas salas de aula, e por falta de
verbas nunca recolocaram um vidro partido,
nunca pintaram uma parede encardida.
Estava feita a humilhação de
Muzambinho. Era o ano de 1937. Dez longos
anos de mágua iriam escorrer sobre a cidade.
SALATIEL NÃO TINHAPAZ
Salatiel de Barros, o reitor demitido,
sofria. A Caixa Econômica apertou-o, para
pagar 50 contos que ele devia. Para pagá-los
vendeu a sua pequena Escola Normal a frei
Querubim, o vigário local, amigo do Benedito.
Na transação foi-se também a sua pequena
chácara. E para receber o dinheiro, que frei
Querubim levantou no Banco do Crédito Real de
Minas Gerais, Salatiel teve de assinar um
contrato se comprometendo a NUNCA MAIS
ABRIR ESTABELECIMENTO DE ENSINO EM
MUZAMBINHO.
O governo de S. Paulo chamou Salatiel,
contratou-o para dirigir o ginásio de S. Simão.
Estava expulso da terra onde fundara, em 1896,
o seu primeiro colégio.
Frei Querubim, de porta em porta, com
um zelo exemplar, levantou, por subscrição
pública, um novo ginásio, já que o outro estava
fechado. “Não podemos ficar sem ginásio!” ele
dizia. E em 1940 abriu, com mensalidades e
matrículas pagas, o ginásio de S. José, que
passou a dirigir. Três anos depois, pobre, velho
e triste, Salatiel era desterrado.
Dez anos se passaram....
CARLOS LACERDA
P.S. – A culpa não é minha se isso ganha um
jeito de folhetim. Também não é minha a culpa
se os fatos e até as datas, assim como os
contratos, depõe contra frei Querubim. Estimo e
prezo a obra dos franciscanos. Mas detesto a
bedel, professor e vice-diretor na
época de Salatiel.
Na realidade, o 10º Batalhão já viria
para Muzambinho, inclusive tendo
sido elogiado pelos tucanos a
iniciativa de trazê-lo para cidade.
Porém, não havia local definido
onde ele funcionaria, e, a decisão
de ocuparem o Ginásio foi
posterior.
JUSCELINO KUBITSCHEK
Fonte: Isis Renault
idéia de um franciscano de paixão partidária,
servir a Benedito, Kubitschek ou a quem quer
que seja.
Por outro lado, não sei se todos
estarão de acordo comigo em trazer para aqui
esta história de uma luta política no interior.
Para muitos, talvez isto não tenha importância.
Mas é dessas lutas, e dos exemplos de
resistênciahumilde, ignorada, obstinada, que se
faz a grande resistência ao abuso e à
iniquidade.
E assim que se luta contra a injustiça.
Nada é demasiado pequeno para ela, ou tudo
será suficientemente grande para fazê-la
sucumbir. Por mim, gostaria de ter tempo para
imitar Silone e escrever, à sua maneira, o
processodo facismoreduzido Às proporções da
aldeia de Fontamara.
Não abandonem, desdenhosos ou
incrédulos, o caso de Muzambinho. Ali está
crescendo a planta da iniquidade, no esterco do
ódio. – C. L.
TRIBUNADAIMPRENSA – 1º de março de 1951
PARTE III – Muzambinho, ou o martírio de uma cidade
Muzambinho, ou o martírio de uma cidade
III
O PERFIL DO CHEFE DO POLÍTICO
Pecuária sem boi nem vaca – As dívidas de
Campedelli – Stockler de Queiroz e a fortuna
do café – Fôrças na ocupação do ginásio pela
Fôrça Pública
O governador Juscelino Kubitscheckestá
no Rio contando que Minas não tem dinheiro, o que
é verdade, mas sem dizer que Minas não tem
dinheiro porque foi saqueada pelo governador
Benedito Valadares, que a deixou nos cascos por
Juscelino Kubitschek, o medicozinho da Força
Pública mineira que, tendo sido apenas prefeito de
Belo Horizonte e deputado faz agora donativo de
centenas de contos de réis às campanhas do sr.
Assis Chateaubriand. De onde vem o dinheiro para
os donos de Minas Gerais?
PECUÁRIA SEM GADO VACUM
Quando estava no auge a repulsa dos
mineiros ao sr. Benedito Valadares, corria Minas
inteira essta quadra:
“Minas tem gado vacum
Muitas raças cavalares
Benedito Valadares
Minas, porém, só tem um”.
Mas Lauro Campedelli, o presidente do
PSD em Muzambinho, ex-prefeito do município, foi
além do que a quadra permitiria. Pois conseguiu
apresentar-se como pecuarista devendo cerca de
LAURO CAMPEDELLI, O
LALAU
Foto do Museu de Muzambinho
40 milhões de cruzeiros de gado, sem ter sequer
300 reses, que ao preço médio de mil cruzeiros
representariam – se existissem – [ilegível] mil
cruzeiros.
Este [ilegível] o sr. Campedelli,
acompanha o de outros próceres locais, esteve em
Belo Horizonte, onde foi cobrar do sr. Kubitschek
as suas promessas eleitorais, que para
Muzambinho se resumem no fechamento do
colégio estadual e restabelecimento do 10º
Batalhão da Força Pública.
Mas o sr. Campedelli tem, além disto,
outro assunto pessoal a tratar com o governador.
Ele deseja, em troca do apoio que lhe dá, que o
governador se interesse no Rio pelo destino do seu
processo de candidato aos benefícios da lei de
reajustamento da pecuária. Pois o sr. Campedelli
está endividado e precisa que os brasileiros
paguem a sua dívida.
O sr. Campedelli endividou-se com café.
Mas pretende safar-se com leite, isto é, com o leite
da vaca do Estado.
O SÓCIO POLÍTICO
Ele tem um sócio em política. Um curioso
sócio. É o sr. Antônio Stockler de Queiroz, o
famoso “depositário” ou “liquidante” do
Departamento Nacional do Café, que enriqueceu
ao mesmo tempo em que era vendido,
clandestinamente, o stock de café em mãos do
DNC.
O sr. Stockler de Queiroz foi candidato a
deputado pelo sudoeste de Minas. Gastou o que
normalmente não se gastaria. Financiou a
campanha do PSD e Muzambinho. Mas foi
derrotado, dentro do próprio PSD, pelo sr. Osvaldo
Costa.
FICHA DE CAMPEDELLI
A ficha do presidente do PSD, o homem
que comanda a manobra para obter a ocupação
militar do colégio de Muzambinho, é a seguinte:
Ele tem três fazendas, num total de 630
alqueires, um prédio em Santos (Avenida
Bartolomeu de Gusmão 12) valendo 600 mil
cruzeiros, e 3 casas em Muzambinho, valendo 120
mil.
O seu passivo declarado é de Cr$
27.125.059,90, fora juros acumulados, que elevam
esse total a cerca de Cr$ 40 milhões.
Ao Banco de Crédito Real, ele deve cerca
de 12 milhões.
Ao Banco do Distrito Federal, 5 milhões.
Ao Banco Comércioe Indústria de Minas,
6.900.000 cruzeiros.
Nas eleições de 1950, Antônio
Stockler de Queiróz,
comerciante de café, foi
candidato à Câmara Federal
pelo PSD de Minas Gerais e
ficou em 34º lugar entre 37
candidatos do partido, com
4.999 votos (TRIBUNAL, 1952).
Ficou na 17ª suplência. Não há
notícia de que tenha se
candidatado em qualquer outra
ocasião.
Leis de Reajustamento da
Pecuária, são as Leis 1.002, de
28 de dezembro de 1949, 209,
de 2 de janeiro de 1948 e 457,
de 29 de outubro de 1948.
A Pedro Rufino de Carvalho, de Campos,
Estado do Rio, 275 mil cruzeiros. A Cia. União de
Armazens Gerais, de Santos, 390 mil.
A Antônio Stocker de Queiroz, avalista de
2 letras, ele deve 350 mil cruzeiros.
Este comerciante e proprietário agrícola,
registrado como criador a 17 de janeiro de 1941,
no ministério da Agricultura, figura na Coletoria
Estadual de Muzambinho como tendo de
pastagens apenas 1/3 (um terço) de suas
propriedades. Quer dizer: 210 alqueires. Nessa
região é um boi para cada alqueire, o que
significaria, na melhor das hipóteses, um rebanho
de 210 rezes.
Como essa área de pastagens, ele diz
que contraiu 29 milhões de cruzeiros de dívidas
coo pecuarista...
E requereu os benefícios da lei do
reajustamento da pecuária. No processo aberto no
Banco do Brasil, apenas três credores não se
habilitaram: o Banco do Distrito Federal, Pedro
Rufino de Carvalho e Stockler de Queiroz. O resto
está tudo contestando a Campedelli o título de
pecuarista.
Pois, afinal, em 210 alqueires ninguém
cria gado bastante para ter prejuízo de 29 milhões
de cruzeiros. Onde, então, Campedelli, o dono do
governador Kubitschek, o domador do urso, o dono
da enchente, pode arranjar essa dívida?
Ele fundou armazéns de café em Santos.
Negociou em café e foi mal sucedido – daí uma
parte do débito. Comprou a Pedro Rufino de
Carvalho, uma usina de açúcar em Campos. Daí
outra parte da dívida. O boi não tem nada com isso.
Mas em nome dos boizinhos que pastavam numa
terça parte de suas terras, ele quer que a Nação
pague as suas dívidas aos bancos.
O seu processo consta de certidões
assim: “é nosso fornecedor de leite em regular
quantidade”, diz uma usina. Não pleiteou o
reajustamento no tempo devido. Habilitou-se em
1950. Diz o Promotor de Muzambinho, opinando
no processo:
“Os débitos não são oriundos de
transações propriamente, pecuaristas, mas ao
contrário, procedem de altos negócios nas praças
de Santos e São Paulo, no comércio de café e de
açúcar do Estado do Rio. O seu movimento
pecuarista neste Município não comparta em
absoluto tão vultosas dívidas”...
“.... A Lei Pecuarista (do reajustamento
ou absorção das dívidas dos criadores pela União)
foi criada para proteger os pecuarista, mas dá
margens à burla e explorações. Não é, entretanto,
o pobre do Promotor de Justiça local que vai
montar guarda e dique aos cofres da Nação.
Assim, sugiro ao Juiz se digne converter estes
autos em diligência...”
O processo foi com cópia ao Procurador
da República em Minas Gerais. O governador
Juscelino Kubitscheck é assediado para que o café
de Campedelli vire leite.
TRIBUNADAIMPRENSA – 2 de março de 1951
PARTE IV– Muzambinho, ou o martírio de uma cidade
Muzambinho, ou o martírio de uma cidade
Muzambinho, ou o martírio e uma cidade
IV
UM RAIO CAI SOBRE APAINEIRA
Milton Campos reabre o ginásio – Triunfo e
morte do Reitor – Juscelino Kubitschek e seus
compromissos
Lauro Campedelli, hoje chefe do PSD,
um ano antes de ser prefeito de Benedito
Valadares em Muzambinho avalizou a letra com a
qual frei Querubim levantou dinheiro para comprar
os últimos bens de Salatiel de Almeida a cidade,
depois que Benedito Valadares fechou o ginásio e
demitiu Salatiel, o reitor, e os demais professores
– “a bem do serviço público”.
Para muitos que apreciam os esforços
de frei Querubim para fundar outro ginásio, depois
de fechado o do Estado, o seu afã demonstra a sua
SALATHIEL DE ALMEIDA -
Acervo Municipal
boa fé. Para outros, mais diretamente situados no
lado que apanha, istoé, do lado que estápor baixo;
isto apenas demonstra a sua conivência.
Não temos elementos para decidir entre
as duas opiniões. Nós nos cingimos aos fatos,
fugindo a interpretações. Fato, por exemplo, é que
frei Querubim, já está engolfado na política, em
1945, e convidado a apoiar o brigadeiro Eduardo
Gomes, disse a quem lhe fizera este apelo em
nome do interesse público que não podia porque
já tinha posição tomada ao lado da candidatura
Dutra, junto com Benedito Valadares, e isto porque
o governador de Minas que era Valadares, lhe
havia dado 200 mil cruzeiros com os quais se safou
dos compromissos financeiros assumidos para a
construção de suas obras no município, a compra
da Escola Normal, etc.
Um ano depois de avalizar a letra pela
qual financiou a compra dos bens de Salatiel de
Almeida, Lauro Campedelli, o falso “pecuarista”,
tornou-se prefeito do sr. Valadares. E hoje é o
chefe do PSD em Muzambinho
MUDAO GOVERNO
Arrastam-se os anos. Uma luta feroz, de
parte a parte, separa as duas velhas facções do
município, os “tucanos” e os “picapaus”, agora,
respectivamente, na UDN e no PSD. Frei
Querubim engaja-se a fundo na luta ao lado do
PSD, a ponto de não cumprimentar grande parte
da população que vota com a UDN.
Nem com o movimento de 29 de outubro
Muzambinho se libertou. O interventor Alcides Lins
não pode extingui-lo devido a dificuldades com o
Conselho Administrativo.
Em 1947 o sr. Milton Campos ganha a
eleição de governador e a UDN conquista, no
município, a Prefeitura.
A DIFERENÇA
Imediatamente os udenistas locais
apelam para o sr. Milton Campos, a fim de que
reabra o ginásio e retire dali o batalhão da Força
Pública que fora, durante aqueles anos todos,
desde 1937, assombração da cidade, como se ali
estivesse para lembrar-lhe a inutilidade de
qualquer resistência e o abandono de quaisquer
veleidades de voltar a ter um ginásio.
O sr. Milton Campos,porém, não acedeu
à pressa, a final bem compreensível, dos
vitoriosos.
Primeiro reuniu-se o Comando da Força
Pública de Minas e examinou a questão do 10º
Batalhão.
As eleições de 1950 tiveram
como primeiro colocado em
Muzambinho o brigadeiro
Eduardo Gomes, em segundo
lugar, Cristiano Machado.
Getúlio Vargas ficou em terceiro
lugar.
MILTON CAMPOS
Foto do Jornal da Parnaíba
A existência de muitos claros nas
unidades espalhadas pelo território do Estado, e a
inutilidade da presença de um batalhão em
Muzambinho, fez com que o Comando da Força
recomendasse ao governador a extinção daquela
unidade, completando com os seus elementos os
claros nos outros batalhões do Estado.
Saiu, então, a força de ocupação, ali
sediada ostensiva e exclusivamente para marcar a
vingança do governador contra o Ginásio.
INUTILIZADO
Mas o prédio estava em ruínas.
Havia ainda um companhia do batalhão em
Muzambinho, que só depois foi retirada, livrando
completamente a sede do ginásio. A Secretaria de
Educação celebra, então, com a Prefeitura de
Muzambinho, um contrato para a restauração do
prédio, a ser efetuada pela Prefeitura.
RESSURGE O GINÁSIO
Finalmente, em 1948, o governador
Milton Campos envia à Assembléia Estadual
mensagem pedindo o restabelecimento do ginásio
estadual de Muzambinho. A assembléia aprova o
projeto, o governador sanciona-a.
E ressurge O ÚNICO GINÁSIO
GRATUITO DE TODO O SUDOESTE INEIRO,
logo promovido a Colégio Estadual de
Muzambinho.
VOLTA DE SALATIEL
Milton Campos nomeia Reitor o
desterrado de S. Simão: o velho Salatiel de
Almeida, o fundador. Ei-lo que então volta de S.
Paulo para participar daquela festa, com imensa
alegria da cidade.
Ele tem, então, quase 75 anos de idade.
Chega, para ele, o fim da vida na plenitude da
justiça que lhe fizeram. Os professores, ao seu
redor, estão todos reintegrados por Milton
Campos. De toda parte chegaram avós e que
foram alunos, pais conduzindo as crianças, para
saudar Salatiel de Almeida, o colégio, o antigo
ginásio, o primitivo liceu “da paineira”, como lhe
chama, comovidamente, em carta a um amigo, o
reitor Salatiel, em memória daquela grande
paineira, que por lá havia.
A PAINEIRA
Dias antes de ser fechado o ginásio, em
1937, uma faísca elétrica desceu sobre a paineira
e rachou-a do alto a baixo, a velha árvore a que se
referia. Salatiel numa carta, “com os olhos
ORLANDO MAGALHÃES DE
CARVALHO
Orlando Magalhães de
Carvalho, importante cientista
político brasileiro, formado em
Direito, foi reitor da UFMG. Em
2010 a Assembléia Legislativa
de Minas Gerais fez sessão
especial para comemoração de
seu centenário.
marejados de lágrimas” e uma letra trêmula, já
como uma despedida.
MENSAGEM
A 7 de abril de 1949 ele escreve aos ex-
alunos:
“No momento em que retorno à cidade de
S. Simão, em gozo de licença, endereço a todos
os meus amigos e aos meus ex-alunos um convite
e um apelo para que nos reunamos todos em
Muzambinho por ocasião das projetadas e
grandiosas festividades com que a sociedade
pretende comemorar dignamente a vitória da
justiça e do direito representada pela volta do seu
tradicional estabelecimento de ensino e
educação”.
UM TREM ESPECIAL
Mas em S. Simão, em novembro do ano
passado, Salatiel morreu. Um trem especial vai
buscá-lo, porque o povo não quer que ele fique
para sempre longe daquele ginásio; a cidade quer
guardá-lo, morto, para resgatar as injustiças que
em vida lhe fizeram.
O povo chorava nas ruas de terra batida,
quando chegou o trem que trazia à cidade pela
qual vivera, o Reitor de Muzambinho.
NOVO REITOR.
Para substituí-lo, o governador Milton
nomeou um veterano do colégio, o professor
Magalhães Alves, que ali começou aos 16 anos,
trabalhando e estudando. Vimo-lo agora em
Muzambinho, aos 55 anos, muito discreto, tímido
embora firme, evitando declarações para não
acirrar os ânimos e não parecer que está se
insurgindo.
CHEGAJUSCELINO
A 31 de janeiro, toma posse do governo
do Estado o candidato eleito, Juscelino
Kubitschek.
Muzambinho ainda estava entregue ao
pesar da morte do Reitor. Nas conversas, nas
esquinas, nos serões, lembram os que passaram
pelo Ginásio e aí estão, por toda parte, brilhando.
Odilon Azevedo, o ator. Orlando M.
Carvalho, o professor. Marcelo Ulisses Rodrigues,
que foi secretário do governo Ademar, Gabriel
Costa Carvalho, advogado no Rio, tantos nomes
desfilam – e tantas recordações, naquela zona de
velhos cafezais e terras escalavradas pela erosão.
Em Belo Horizonte, porém, desembarca
uma comissão do PSD de Muzambinho, com
Marcelo Ulisses Rodrigues,
advogado e consultor jurídico foi
secretário de estado em São
Paulo. Tentou se eleger em
1950, mas ficou na 10ª
suplência da UDN.
ODILON AZEVEDO
Foto: Museu da TV Brasileira
Odilon Azevedo, artista de teatro
e TV, foi o responsável pelo
lançamento de várias pessoas
na TV brasileira, inclusive Nicete
Bruno, Mauro Mendonça e
Fernanda Montenegro.
Campedelli à frente. Inflexíveis, decididos, certos
de que cumprem o mais sagrado dos deveres.
Vão cobrar de Juscelino os seus
compromissos eleitorais.
O compromisso de criar novamente o
10º Batalhão da Força Pública.
O compromisso de mandá-lo novamente
ocupar o ginásio.
O compromisso de extinguir novamente
o colégio estadual, gratuito, de Muzambinho.
E Juscelino?
Veremos amanhã o que fez – e comofez
– Juscelino.
Mas foi uma coisa feia. Um ato capaz de
envergonhar um homem e de marcar, para
sempre, o governo que não tiver o coragem de
corrigir a tempo o erro a que foi induzido, e a
bravura, enfim, o alto valor de aceitar um bom
conselho.
CARLOS LACERDA
Abaixo da gravura acima, consta o seguinte texto:
Soldado não é Bedel
Eis a sentinela a porta do Colégio Estadual de Muzambinho ocupado militarmente pelo
governado Juscelino Kubitschek em sinal de vingança por ter a oposição obtido maioria
no município. Em 37, Benedito Valadares fez a mesmacoisa. Dentro do colégio já estão
20 soldados. Os outros estão a caminho. E assim fecha-se o colégio estadual de
Muzambinho. CARLOS LACERDA
Sobre o texto acima, tive disponível o xeróx de uma ata que diz o seguinte, em livro
numerado, na página 184 e data 8-2-51:
Espalhou-se na cidade o jornal Tribuna da Imprensa com artigo político atacando
falsamente o frei Querubim, assinado pelo jornalista Carlos Lacerda. Há uma
semana o mesmo fez uma visita rápida na cidade. Em um livro de ata numerado
com 184, e data 8-2-51.
TRIBUNADAIMPRENSA – 6 de março de 1951
PARTE Final – Muzambinho, ou o martírio de uma cidade
IMPORTANTE: Não sabemos se foi publicado algum artigo nos dias 3, 4 e 5 de
março.
Muzambinho, ou o martírio de uma cidade
FINAL
O FECHAMENTO DO GINÁSIO E O
DEPOIMENTO DO REITOR
Fechado em 1937, o ginásio estadual,
gratuito, de Muzambinho foi reaberto pelo governo
Milton Campos, que dali retirou a Força Pública,
com plena aprovação do comando desta Força.
O reitor que fora demitido “a bem do
serviço publico” pelo sr.Benedito Valadares, voltou
a Muzambinho e reassumiua reitoria. Mas, doente,
velho e amargurado, morreu pouco depois. De São
Lourenço, então, foi chamado um antigo aluno e
professor do velho Liceu, depois Ginásio,
atualmente Colégio de Muzambinho. O professor
Magalhães Alves, depois de 25 anos no Liceu
fundado por Salatiel de Almeida, mais oito no
ginásio estadual, assumiu a direção do Colégio
Estadual.
ISMAEL DE OLIVEIRA
COIMBRA
A matrícula em 1950 foi de 222 alunos,
inclusive 50 do curso de admissão. Aos poucos,
refeitos os pais do traumatismo das crises
sucessivas por que passou o ginásio, matrícula
subia tendendo a voltar ao antigo apogeu, quando
chegou a ter 600 alunos matriculados.
ENTREGUE ACHAVE!
No domingo, 11 de fevereiro último, o
reitor Magalhães Alves chegou a Muzambinho e já
na segunda-feira estava no seu gabinete, no
Colégio, quando entrou o capitão-médico Ismael,
do extinto 10º B. C. da Força Pública, e candidato
pelo PSD à Prefeitura Municipal, tendo sido
derrotado.
O capitão Ismael entrou e disse ter em
casa um radiograma do Comando para receber,
das mãos do reitor, as chaves do Colégio Estadual
de Muzambinho.
O sr. Messias Gomes de Melo, ex-
prefeito, atual vice-presidente da Câmara local,
disse que a chave do colégio já não estava com
ele, mas se estivessenão a daria, pois a Prefeitura
tem contrato com a Secretaria de Estado da
Educação, para efetuar as obras no prédio do
Colégio; e como a Secretaria não pagou, a
Prefeitura não poderia entregar as chaves.
Mas o capitão Ismael mostrou, já em sua
casa, o radiograma que dizia: “Deveis receber as
chaves”...
UMAEXTREMAPRUDÊNCIA
O reitor do colégio recusou-se a fazê-lo
sem ordem de autoridade superior, que no caso é
o secretário de Educação. Mas até essa data
(agora é que se fala na solução da crise, em Belo
Horizonte) o sr. Juscelino Kubitschek não
conseguira nomear um secretário de Educação. O
capitão disse que ia comunicar-se com o comando
da Força. O reitor, por sua vez, comunicou-se com
o chefe do gabinete do secretário da Educação. Eis
a resposta, de ordem do Palácio da Liberdade:
“Radiograma do Serviço Radiográfico do
Estado de Minas, n. 119, de 14-2-51, 10 horas:
“Reitor Magalhães Alves, Muzambinho:
De ordem do sr. Secretário (da Educação
inexistente), fiscais autorizado a entregar as
chaves do edifício onde estava alojado o 10º B.C.
ao capitão Ismael Coimbra. Aguardo comunicação.
Saudações cordiais. (a) Luiz Melo Viana Sobrinho,
chefe do gabinete”.
O edifício em que “estava alojado” o
batalhão é o do Colégio Estadual de Muzambinho.
Foto do Acervo Municipal
MESSIAS GOMES DE MELO
Foto do Acervo Municipal
Aqui é importante dizer que o
batalhão continuou instalado em
parte do prédio do antigo
Ginásio, e, funcionava
concomitantemente o Colégio e
o Batalhão, e, pelo que dá para
inferir, a Prefeitura fazia obras
em alguma das partes. O museu
tem as fotos da reforma, que
construiu onde hoje são as salas
de 9 até 16. É importante
dizermos que as chaves
solicitadas podem ser apenas as
que o batalhão utilizava na
época. Não investiguei.
Ressalte que em Muzambinho
Getúlio Vargas ficou em 3º lugar
na eleição, com cerca de 20%
dos votos válidos, na eleição de
1950 (Em 1930, foi o contrário).
Entre 1930 e 1964 os tucanos
TROPELIAS
Nos dias de carnaval, chegou a
Muzambinho um delegado especial, militar, Mário
Cardoso. Um grupo de retirantes empregados em
obras do Departamento Nacional de Estradas de
Rodagem procurou invadir a sede da Associação
Operária local, aos gritos de
“Viva o dr. Juscelino!”
- Viva, que é meu irmão de leite,
respondeu o presidente da Associação Operária.
- Viva o dr. Getúlio Vargas! gritavam os
capangas.
- Viva, que é o novo presidente,
respondeu o presidente da Associação Operária.
- Mas nós “viemos” aqui para escurecer
isso de bala. Vamos quebrar o retrato daquele
bugio lá (e mostravam o retrato do sr. Gabriel
Passos, candidato da UDN, derrotado, à
presidência do Estado, e patrono da Associação
Operária de Muzambinho, que foi inaugurada
quando de sua visita ao município).
- Isto, não! disse o presidente.
Os capangas mostraram as armas.
Começaram a insultar os presentes, numa
provocação crescente.
A mulher do presidente conta-nos
detalhes da história que toda a população de
Muzambinho conhece. Ela conta que foi comunicar
ao Prefeito que a Associação Operária estava em
risco de ser assaltadas pelos “baianos” (assim
chamam os retirantes empregados na rodovia).
O Prefeito (então da UDN) disse a ela
que comunicasse ao delegado. Procurou o
delegado. Não queriam deixa-la falar com ele, no
Automóvel Clube, onde também se dançava. Na
confusão do carnaval, ela sentia que ia haver bala.
“Que é que você quer?”, perguntou o delegado
especial, quando afinal ela o localizou.
“Os nortistas foram lá quebrar a
Associação, dizendo que é ordem sua”.
“Quem toma conta daquilo lá?” perguntou
o delegado.
- Nós.
- Vocês não são dignos de tomar conta
de uma sociedade!
E a jovem mulher do presidente da
Associação Operária, no contar desse episódio,
refez a atitude de dignidade com que ela repeliu o
insulto desse delegado “especial”:
- Se é por eu ser preta, o sr. não tem o
direito de falar assim.
Ela chorava e dizia que a provocação ia
acabar mal. O delegado, afinal chamou o cabo
ganharam todas eleições, para
todos os cargos, e Muzambinho,
inclusive quem eles apoiavam
para o governo federal e
estadual, sempre eram os mais
votados na cidade.
JOSÉ ERNESTO
Foto do Acervo Municipal
CELINA ERNESTO
Foto de Cleusa Ely Soares
ASSOCIAÇÃO OPERÁRIA
Foto do Acervo Municipal
João e disse-lhe: “Vai lá, fala para eles dançarem
direitinho, não prenda ninguém”.
- Então o sr vai deixar aqueles
desordeiros lá?
Em torno dela, no Automóvel Clube, uma
rede do delegado vaiava: “Acaba mesmo, acaba
mesmo com aquilo!”
Dois dias depois o engenheiro Lincoln do
DNER, recebeu a queixa contra os diaristas da
rodovia, apresentada por José Ernesto, o
presidente da Associação Operária, cujo crime é
ter votado pelo Brigadeiro, e sua mulher, d. Celina
Ernesto, a quem o delegado disse:
“Se não ficar do jeito que eu quero, eu
fecho aquilo lá!”.
AMOSTRA
Isso é apenas uma amostra do que vai ser
de Muzambinho, com as represálias adotadas pelo
governo estadual para se vingar de sua derrota no
município...
NO AEROPORTO
O dr. Samuel de Assis Toledo, ex-
presidente da Câmara local, procurou o
governador Kubitschek em Belo Horizonte, mas
não foi recebido. Avistou-o, porém, no aeroporto,
quando chegava o ministro da Justiça e o dr.
Samuel embarcava para o Rio. Abordou o
governador, que é seu antigo condiscípulo. Expôs,
rapidamente, a situação de Muzambinho. O
ambiente de apreensão, a grave ofensa e o
prejuízo do fechamento do ginásio gratuito.
O governador Juscelino pôs as mãos na
cabeça e disse:
- Que horror! Mas que é que vou fazer?
Tenho compromisso com o frei Querubim! Prometi
fechar o ginásio para oficializar o de frei Querubim,
fazendo dele o Reitor!
Em Belo Horizonte, na ocasião, estava
uma comissão de próceres do PSD, instando com
o governador para que ele cumprisse o
“compromisso”. Compunha-se de Lauro
Campedelli, cuja ficha vimos outro dia, e que foi
tratar com o governador, de passagem, da sua
tentativa de fazer pagar, pelo Tesouro Nacional,
passando por pecuarista, os prejuízos que deu à
praça como especulador em café; João Vicente
Cipriano, parente de Campedelli, argentino,
naturalizado, autor do primeiro tiro contra o
Ginásio, em 1937, que desencadeou o tiroteio
partido da casa do Prefeito de então.
GABRIEL PASSOS
Foto do Acervo Municipal
SAMUEL DE ASSIS TOLEDO
Foto da Galeria da Câmara
Municipal
Em 1937, depois do tiroteiro,
greve e morte de Saint Clair
foram exonerados vários
funcionários, todos readmitidos
em 1946 por anistia:
1ª Exoneração
Professores:Salatiel Ramos de
Almeida (Trigonometria e
Geometria), Nestor Lacerda
(Francês), Antônio Magalhães
Alves (Geografia), José Braz
Cesarino Filho (Matemática),
José Maria Armond (Desenho)
Inspetor: Zacharias Alberto
Magalhães
Funcionário: Antônio Milhão
2ª Exoneração
E na penumbra, o frei Querubim, contra o
qual posso agora formular uma acusação direta e
formal, PORQUE TENHO PROVAS.
“ANJO NO NOME, DEMÔNIO NAAÇÃO”
Até aqui tenho-me abstido de envolver
diretamente o frade Querubim na trama de
corrupção e opróbrio com que se cobre o sudoeste
mineiro.
Citei a seu respeito, fatos, apenas fatos.
Por exemplo:
1. Ele comprou todos os bens que
restavam ao Reitor demitido por Valadares, de
acordo com um contrato onde foi incluído uma
cláusula pela qual o Reitor nunca mais poderia
abrir estabelecimento de ensino em Muzambinho.
2. Ele levantou o dinheiro para esse
negócio no Banco do Crédito Real, numa letra
avalisada por Lauro Campedelli, falso pecuarista,
que um ano depois já era prefeito de Valadares em
Muzambinho e hoje é o grande homem do PSD
local.
3. Chefe político “doublé” de franciscano,
ele alegou não poder apoiar o Brigadeiro, em 45,
por haver recebido 200 contos de Valadares para
atender às suas obras.
4. Tomado de uma paixão político-
partidária fora de toda medida, ele está causando
grave dano aos sentimentos religiosos da
população. Sendo, além do mais, a maioria da
população udenista, é fácil imaginar o que
acontece à religião numa cidade onde a sua
principal figura eclesiástica recusa o cumprimento,
vira o rosto na rua quando passa por alguém,
homem ou mulher, que pertence a partido diferente
do que dá prestígio e fortuna a seu protetor
financeiro, Campedelli.
5. Ele insulta, dentro da igreja, os
adversários políticos, a ponto das famílias desses
adversários não mais frequentarem a Igreja para
não sofrerem esse constrangimento.
Eis alguns fatos. Fatos, entenderam?
Irretorquíveis.
Restava, porém, uma dúvida.
A DÚVIDA
Teria o frei Querubim tocado para fora de
Muzambinho o reitor do ginásio que Benedito
Valadares fechou? Não teria sido apenas para
ajuda-lo a compra de sua pequena Escola Normal,
de sua humilde chacrinha, e aquela cláusula
inócua – mas por isso mesmo duplamente imoral,
já por mim citada?
Professores: Talcídio de
Oliveira (Química), José Ary de
Almeida (Fisica), Antero
Veríssimo da Costa (História
Natural = Biologia)
Datilógrafa-Arquivista: Maria
Corina de Almeida.
Obviamente não foram
exonerados Correia Pinto
(Latim) e nem Armando Coimbra
(Língua Pátria). Quando Salatiel
foi demitido, colocaram ele para
lecionar Trigonometria e
Geometria no lugar de Olga
Cerávolo, que já havia sido
demitida.
PROFESSORES PICA-PAUS
Antônio Joaquim Correa Pinto
Foto: Lyceu (1917)
Armando Coimbra
Foto: Capri (1917)
Como apurar esse fato, em torno do qual
as opiniões variam? Frei Querubim, quando
cheguei a Muzambinho, foi correndo a Guaxupé
conferenciar com o Bispo, por isso não pude vê-lo,
embora procurasse. Quanto a Salatiel, está morto.
A CERTEZA
Eis que agora tenho a certeza. E quem a
não terá, à vista da prova?
Esta nos vem, por assim dizer, do outro
mundo.
Salatiel de Almeida, o reitor demitido,
banido de Muzambinho, e que morreu logo após a
sua consagração pelo povo e pelo governo de
Milton Campos, estava em S. Simão, dirigindo o
ginásio estadual daquele município paulista,
quando a 23 de setembro de 1948 – cinco anos
após os fatos que temos relatado, três anos antes
da nova ocupação militar pelas tropas do sr.
Juscelino Kubitschek -, ele, com a sua assinatura,
escreveu a um amigo de Muzambinho uma carta
cujo original está hoje em meu poder.
Esta carta dá a certeza de que tudo
quanto afirmamos é pouco e nos autoriza a
concluir pela inconveniência da ação de frei
Querubim em Muzambinho, depois dos
testemunhos que temos citado e dos fatos que
temos coligido.
Dizia, na sua carta, o professor Salatiel,
católico praticante – diga-se para melhor evitar
qualquer sofisma:
“Não concordarão com a abertura de um
estabelecimento que irá prejudicar o seu e
hostilizarão a idéia e, vencedora que fosse esta,
haveria o Ginásio de suportar uma luta tremenda
movida pelo seu atual diretor, o frade Cherubim,
anjo no nome e demônio na ação.
... Este é o meu modo de ver, suscetível
de estar enganado, pelo fato de há quase cinco
anos viver fora de Minas, de que, aliás, sinto
profunda saudade. Em sua carta, Maria Corina fêz
sentir que não temos desejo de residir novamente
naquela cidade, de que conservamos gratíssimas
recordações. Temos receio de se repetirem as
injustiças e ingratidões de que fomos vítimas,
partidas, exatamente, daquele que fora fiador de
uma paz feita em nome de Nosso Senhor Jesus
Cristo”.
Essa carta é de tal ordem que mais vale
coloca-la à disposição daqueles que tenham a
menor dúvida sobre essa conclusão a que
chegamos,inclusive das autoridades eclesiásticas.
José Saint Clair Magalhães
Alves
Foto: EE Prof. Salatiel de
Almeida
PROFESSORES DEMITIDOS
Salatiel de Almeida
Foto: EE Prof. Salatiel de
Almeida
Antônio Magalhães Alves
Foto: EE Prof. Salatiel de
Almeida
Mas quero apenas destacar mais um
trecho, que serve de confirmação, gravada pela
solenidade da morte, do que aqui foi por mim
relatado:
“Quando me lembro de que fui forçado
pelas circunstâncias a assinar uma escritura de
venda da Escola Normal em que figurava um
imóvel que não fora vendido: que fora forçado a
assinar uma escritura em que figurava a cláusula
pela qual me comprometia a não mais exercer o
magistério em Muzambinho, quando me lembro de
tudo isso, dessa coação material e moral de que
era conhecedor o bispo da minha Diocese, um dos
intermediários do negócio, sinto-me
desencorajado de voltar a Muzambinho e,
principalmente, para exercer uma função pública.”
“Almejo tornar a Muzambinho como
simples visitante, para rever bons amigos que
incontestavelmente ali deixei e, sobretudo, para
beijar as sepulturas no cemitério, onde lá pousam
as cinzas de tantas pessoas de minha família e de
tantos amigos”....
Ele de fato voltou, mas não como
visitante. Lá está ele, naquele cemitério, entre
“pessoas da família e tantos amigos”. Afrontado,
perseguido, escorraçado em vida, novamente lhe
fazem agora afronta e perseguição, com a
reocupação militar do ginásio, do seu ginásio,
tramada pelo frei Querubim, pelo solerte
Campedelli e alguns outros, à sobra da autoridade
do governador de Minas Gerais.
O sr. Benedito Valadares, que tem no
prelo o seu romance “O Espiridião”, nunca se
limpará da culpa de haver fechado o ginásio
estadual de Muzambinho e perseguido, ou deixado
que perseguissem, até a morte, o fundador, o
professor, o reitor, o criador desse único ginásio
gratuito do sudoeste mineiro. O martírio de
Muzambinho tornou-se, por isto mesmo, um
símbolo.
Pretende o sr. Juscelino Kubitschek
disputar-lhe essa glória?
Os seus antecedentes não indicam isto.
Ele será do tipo leviano, mas não parece do tipo
sinistro. Esvoaça, como um dançarino.
Politicamente, é um bom pé de valsa. Será,
quando muito, segundo os seus inimigos um ótimo
pé de cabra.
Mas não parece, até agora que seja um
pé de pato.
Vejamos o que ele é capaz de fazer, ou
antes, de não fazer, nesse caso de Muzambinho.
José Maria Armond
Foto: Acervo do Museu
Antero Veríssimo da Costa
Foto: Cleusa Ely
Talcídio de Oliveira
Foto: Acervo do Museu
Antônio Milhão
As coisas, no Brasil, dificilmente têm
consequências. Já não faltou quem dissesse ser
absurdo um jornal do Rio preocupar-se com
Muzambinho.
Ora, nós nos preocupamos com a justiça.
E esta não tem lugar certo nem incerto,
grande ou pequeno, próximo ou remoto. A justiça
contra a qual se atenta em Muzambinho é ferida,
ao mesmo tempo, por isso mesmo em toda parte.
E aí de quem não souber defende-la em
Muzambinho! Esse a não defender jamais,
verdadeiramente, em parte alguma, senão na
medida em que ela não prejudique os amigos e
atenda a uma série de pequeninas condições,bem
pequeninas, para ser suficientemente notória e, ao
mesmo tempo, suficientemente inócua.
Justiça para os alunos e os pais e os
professores de Muzambinho. Que se retire do
colégio estadual a tropa que lá está posta à espera
do restante da força de um batalhão. Que se
contenham os impulsos do frade desmandando,
induzindo-o a ter mais respeito pela dignidade dos
seus semelhantes e concitando-o a se arrepender
da sua falta de caridade e de justiça.
O ginásio estadual de Muzambinho deve
ser reaberto. No país em que o ministro da
Educação faz do Ministério alvo de ódios pessoais,
não admitira que se fechem escolas, em tempo de
paz e calmaria, para abrir casernas.
Em tudo isso, há uma trágica minúcia, a
guisa de epílogos:
- O Estado de Minas Gerais paga ao
reitor do Colégio Estadual, Cr$ 2.300,00. E aos
professores, Cr$ 1.200,00.
E ainda se julga com direito a meter
soldados da Força Pública entre os meninos, no
pátio do ginásio.
CARLOS LACERDA
Foto: EE Prof. Salatiel de
Almeida
José Ary de Almeida
(Filho mais velho de Salatiel)
Foto da EE Prof. Salatiel de
Almeida
Maria Corina de Almeida
(Segunda filha de Salathiel)
Foto da EE Prof. Salatiel de
Almeida
José Braz Cesarino Filho
Foto de MyHeritage
Não temos fotos de Zacharias
Alberto Magalhães e Nestor
Lacerda
TRIBUNADAIMPRENSA – 8 de março de 1951
CARTA DOS LEITORES – Saudade de Muzambinho
SAUDADES DE MUZAMBINHO
Venho lendo com saudade e emoção suas
crônicas sobre Muzambinho, a graciosa cidade
mineira do Liceu Municipal de Muzambinho, o
velho estabelecimento fundado por Salathiel
Ramos de Almeida, o saudosíssimoe queridíssimo
Beca.
Tudo verdade, tudo certo. Reuniu, no
começo do século, Salathiel, esse educador
extraordinário, uma verdadeira plêiade de mestres:
Carlos Góes, Júliio Bueno, G. A. Nixon, Max Heine,
Mário Duarte, Vilhena de Moraes, Atanásio Saltão,
João Baptista (que me ensinou o b-a-ba) Ernani
Domingos, Lycurgo Leite, Fernando Corrêa, J.
Tocqueville e muitos e muitos outros cujos nomes
agora não me ocorrem.
Fui para lá em 1908 e nessa época o Liceu
era incontestavelmente a primeira Escola do Sul
de Minas. De todos os pontos chegava aluno para
o Internato. Por ele passou uma verdadeira legião
de estudantes que, hoje, honra o colégio onde
estudaram.
Em São Paulo, Noé Azevedo, meu
companheiro de carteira até o sexto ano, Francisco
e Antônio Azevedo, Luiz G. do Prado, Gustavo
Corrêa, José Avelino, Mário Coutinho, Domingos
Cerávolo, Honório Soares, Aristóteles Martins,
Antenor Magalhães; em Minas, Antônio Magalhães
Alves, o legítimo sucessordeSalathiel, os Coimbra
JÚLIO BUENO
Foto da EE Prof. Salatiel de
Almeida
da Luz, Luiz Introcaso, os Paolielo, os Navarro, os
Bandeira de Melo, Jeremias Zerbini, José Barbosa
de Figueiredo, Luiz Cassiano da Silva, Lélio de
Almeida, Ary de Almeida (filhos de Salathiel)
engenheiros, advogados, dentistas, médicos;aqui,
no Rio, José Cândido de Souza, José Barbosa da
Luz, Domingos Vômero, Mário Falleiros, Talcídio
de Oliveira, todos médicos; na Câmara Federal,
Jalles Machado, Lycurgo Leite Filho.
A lista é muito grande; cito apenas alguns
nomes entre as centenas de estudantes que até
hoje cultuam e veneram a memória de Salathiel e
se indignam, tenho certeza, contra o mais nefando
crime perpetrado em 1837, por esta pústula
maligna que durante tanto tempo maculou o
Palácio da Liberdade e espalhou a sua
malignidade por todo o Estado de Minas.
A transformação do Liceu Municipal e mais
tarde Ginásio de Muzambinho, em quartel de
polícia, marca uma época e define a mentalidade
dêsse home, cujo nome não é preciso citar e que,
nas últimas eleições, chefiou a traição contra seu
próprio companheiro de partido, o inocente
Cristiano Machado, seu ex-secretário de
Educação.
(Conclui na 6ª pág.)
SAUDADES...
(Conclusão da 4ª pág.)
Mas, que o senhor Juscelino Kubitschek,
um médico, tendo por secretário de Saúde, outro
médico, reedite esta façanha e transforme o
Ginásio de Muzambinho em novo quartel, é de
pasmar! Eu não poderia acreditar nessa proeza,
mas vejo que deve ser verdade, pois estou
sabendo que na minha segunda cidade de adoção
(a primeira é Muzambinho), Santa Rita do Sapucaí,
onde a UDN venceu as eleições de ponta a ponta,
fez dois deputados: Bilac Pinto e José Cabral, fez
o prefeito Pedro Rennó Moreira, seus dignos filhos,
já começou a derruba e remoção de seus
funcionários.
Cito apenas um nome: meu colega, José
Alcides Mendes, diretor do Porto local, filho de
Santa Rita, rapaz decente e trabalhador, removido
daquela cidade para Sabará.
E a lista de outros removidos é grande.
Milton Campos ... Juscelino Kubitschek ...
um advogado-moralidade, decência, escrúpulo,
honradez, justiça.
Outro médico ... mas em política, discípulo
e cria de quem?
JALES MACHADO
Foto da empresa da família
LYCURGO LEITE FILHO
Foto do acervo municipal
Ai do meu glorioso Estado. Vae victs! Pobre
Minas Gerais! – Joaquim Barbosa Figueiredo. Rua
Itaipava, 99”
FOLHA DO POVO – 8 de abril de 1951
(Jornal de Guaxupé)
A PEDIDOS
Muzambinho, ou o Martírio de uma Cidade
C.P.
Com esse título, gênero capa e espada, vem o jornalista
Carlos Lacerda publicando em sua << Tribuna da Imprensa >>
uma novela sensacionalista, de lances épicos, que pretende
mais tarde radiofonizar por todo o pais.
Novela inteligente e imaginoso, mistura de D’Artagnan e
Tartarin, o seu folhetim está ganhando público e fazendo
sucesso. Já apareceram em letra de forma os cinco primeiros
capítulos, de títulos vistosos: - <<O Começo do Fim, Ou o Fim
do Começo>>; <<A Morte Cai Sobre a Cidade>>; <<A
Represália>>; <<O Raio e a Paineira>>; <<O Trem da Morte>>...
O título é o homem... Por aí se vê.
O texto prossegue falando sobre Carlos Lacerda, porém, sobre fatos de
Guaxupé.
CRONOLOGIADO ANO DE 1937
7.6.1936 – Eleição para vereadores
26.6.1936 – José Januário é eleito
indiretamente pela Câmara Municipal
22.10.1936 – Lycurgo Leite morre
Dez.1936 – Ruptura de José Januário
com o grupo político dele
17.1.1937 – José Januário chama
Salathiel de Almeida de parasita
privilegiado na imprensa
24.3.1937 – Difamação de Salatiel e do
Ginásio na imprensa nacional
Abr.1937 – Salatiel e professores do
Ginásio Estadual declaram apoio ao
candidato da oposição, Armando de
Sales Oliveira
26.7.1937 – Salatiel é afastado da
reitoria e em seu lugar é nomeado Saint
Clair, ele vai para cadeira de
Trigonometria e Geometria, do qual era
efetivo.
26.7.1937 – Alunos entram em Greve e
há Tiroteio na Av. Dr. Américo Luz
27.7.1937 – O secretário de educação
suspende as aulas do Ginásio por 15
dias
2.9.1937 – Saint Clair é assassinado por
José Maria Armond
13.9.1937 – morre Frei Florentino
27.9.1937 - Exoneração de Salatiel, José
Maria Armond, Antônio Milhão, Antero
Veríssimo da Costa, Antônio Magalhães
Alves e vários outros professores do
Ginásio Mineiro, "a bem do serviço
público" (todos foram reconduzidos aos
cargos em 1948)
27.9.1937 – Ginásio Mineiro é fechado e
transferido para Pará de Minas
10.11.1937 – Getúlio Vargas dá golpe e
instaura Ditadura do Estado Novo
SÉRIE DE ARTIGOS DE JORNAL QUE FALASOBRE O ANO DE 1937
IMPEACHMENT DE JOSÉ JANUÁRIO
APOIO A ARMANDO DE SALES OLIVEIRA (parte dos artigos)
TIROTEIO: JANE CIPRIANI X JOSÉ MARIAARMOND
Diário da Noite de 27/7/1937:
ASSASSINATO DE SAINT CLAIR
FECHAMENTO DO GINÁSIO E PUNIÇÃO DOS PROFESSORES
MUDANDO O ASSUNTO...
EM 1951 QUASE ACONTECEU DE NOVO
REFERÊNCIAS (APENAS AS CITADAS – HÁ VÁRIAS OUTRAS)
TRIBUNAL SUPERIOR ELEITORAL. Dados Estatísticos (2º Volume). Eleições Federais
e Estaduais realizadas no Brasil em 1950. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1952.
OS TUCANOS CITADOS
DR. LYCURGO LEITE, MESSIAS GOMES, MAGALHÃES ALVES, SALATIEL
DR. SAMUEL DE ASSIS TOLEDO, JOSÉ MARIAARMOND, JOSÉ ERNESTO,
CELINA ERNESTO
ARMANDO DE SALES OLIVEIRA, GABRIEL PASSOS, MILTON CAMPOS
OS PICA-PAUS
FREI QUERUBIM, LALAU CAMPEDELLI, JANE CIPRIANI
DR. JOSÉ JANUÁRIO DE MAGALHÃES, DR. ISMAEL COIMBRA
BENEDITO VALADARES, JUSCELINO KUBITSHECK
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Muzambinho ou o martírio de uma cidade 1951

  • 1. #12 MUZAMBINHO:O MARTÍRIO DE UMA CIDADE Carlos Lacerda Comentários de Otávio Luciano Camargo Sales de Magalhães Muzambinho, o martírio de uma cidade: série de artigos do jornalista Carlos Lacerda Trata-se de uma série de artigos escritos pelo próprio jornalista Carlos Lacerda, maior nome da UDN nacional, que anos depois se tornaria governador do Rio de Janeiro. Carlos Lacerda, para atacar Juscelino Kubitscheck, toma partido dos Tucanos, que por COINCIDÊNCIA eram udenistas (e isso depois eu provo). Nesses artigos há sérias críticas contra Lauro Campedelli, Ismael Coimbra, Jane Cipriane, José Januário de Magalhães, e, principalmente, contra Frei Querubim, que ele chega a dizer que era santo no nome, mas um demônio na atitude. O artigo enaltece Salatiel de Almeida, Antônio Magalhães Alves, Lycurgo Leite, José Maria Armond, Messias Gomes e outros tucanos. Devemos tomar muito cuidado ao nos posicionarmos contrários aos nomes relacionados, pois trata de uma crítica editorial, com posicionamento político definido. É evidente que, nos episódios narrados sobre o fechamento do Ginásio Mineiro (Lyceu) em 1937 e na expulsão de Salatiel de Almeida de Muzambinho, eu concordo que os pica-paus agiram de forma absurda, mas, precisamos olhar o contexto, que coincide com o mesmo mês foi deflagrada a ditadura do Estado Novo. Também concordo que algumas atitudes de José Januário de Magalhães eram absolutamente inadequadas, mas, ele agiu apenas pela busca de poder, e, fez também coisas positivas para cidade. Quanto ao Frei Querubim, também era ganancioso e totalitário, porém, tem também suas parcelas de contribuições. Ressalto isso, pois, apesar de me posicionar em algumas situações de forma simpática aos tucanos, não vejo os pica-paus da forma que são narrados. Houveram pica-paus brilhantes que muito fizeram por nossa cidade, e, no plano nacional, eles estavam com o lado mais a esquerda (apesar de estarem mais a direita no sua própria visão de mundo). De igual forma, é obvio que sou mais simpático a Getúlio do que a Carlos Lacerda. Precisamos tomarmuito cuidado, pois, nem tudo que Lacerda narra é verdadeiro – há muita fantasia, há muita versão tucana, sem possibilidade de defesa. Da mesma forma que precisamos tomar cuidado com a versão narrada pelo Vonzico da morte de Saint Clair, colocando o “professor de desenho” que ele não nomina como vilão. O contexto da morte de Saint Clair era um regime de exceção. Tanto que já recebi cartas do filho dele onde ele cita o nome de José Maria Armond se fazer qualquer crítica. José Maria Armond, como vocês poderão ver, não era vilão ou mal, tanto que ele foi absolvido do processo, não ficou preso, e, foi reconduzido ao cargo público no Colégio Estadual de Muzambinho após o fim da Ditadura Vargas. Além disso, seu advogado foi o próprio irmão do morto, o Prof. Antônio Magalhães Alves. Sem contar que ambos foram companheiros na revolução de 1932, e, há uma edição de “O Muzambinhense” onde José Maria Armond, que era diretor e colunista do jornal, elogia Saint Clair. A versão de Vonzico nos dá um tom de vilania ao professor de desenho José Maria Armond, o que é falso. Felizmente, Geraldo Vanderlei Falcucci, com um livro maravilhoso, aquela da história das ruas, resgata a história retirando o caráter de vilão de Armond. Vonzico alega que estava lá, era uma criança de 11 anos, assistindo tudo, e, sabemos, que os adultos não contam tudo que acontece para uma criança de 11
  • 2. anos, e, sequer é possível alguém saber tudo que está acontecendo com essa idade e fora do contexto. Em primeiro lugar, antes de iniciar a leitura, 3 apontamentos são importantes: 1º Carlos Lacerda era o maior adversário de Vargas e o pivô do suicídio de Vargas em agosto de 1954. Vargas estava sendo ameaçado de impeachment pois sua guarda pessoal e seu irmão estavam envolvidos com a tentativa de assassinato de Carlos Lacerda na Rua Tonelero. Vale a pena assistir o filme “Getúlio”, onde Carlos Lacerda é representado por Alexandre Borges. Esse personagem de Borges é o mesmo Lacerda que escreve esse artigo sobre Muzambinho. Lacerda também aparece em muitos outros filmes. No seriado JK ele foi representado por José de Abreu, no filme “Flores Raras” foi Marcelo Airoldi e no filme “Bela Noite para Voar” foi Marcos Palmeira. Este mesmo que é o autor desses textos que transcrevemos. 2º A Tribuna da Imprensa era o principal veículo no Brasil que atacava Getúlio Vargas e todos seus companheiros, inclusive Juscelino Kubitschek. O diário existe até hoje. O jornal também aparece no filme “Getúlio” e no seriado JK nominalmente citado, “vejam agora o que saiu na Tribuna da Imprensa”, é algo recorrente. É importante repetir que esse jornal era de propriedade e de direção de Lacerda. 3º Carlos Lacerda não tinha compromisso com a verdade, mas sim com atacar o adversário e destruir todos que fossem dos partidos de Getúlio Vargas. Isso significa que o que estáescrito é mentira? Não! Os artigos trazem importantíssimas contribuições para a História de Muzambinho. JORNALISTA CARLOS LACERDA Foto da Revista Época TRIBUNADAIMPRENSA – 26 de fevereiro de 1951 Anuncio das reportagens DIAS DE AGONIA em Muzambinho O ginásio ocupado pelos soldados por ordem do governador – Benedito e a Inconfidência – O Frei Querubim, o Rasputine pessedista – A história de uma cidade do sudoeste mineiro que perdeu o direito de existir porque ali o povo derrotou o partido oficial. A partir de amanhã, na TRIBUNA DA IMPRENSA, as reportagens do nosso enviado especial sobre o drama de Muzambinho.
  • 3. TRIBUNADAIMPRENSA – 27 de fevereiro de 1951 PARTE I – Muzambinho, ou o martírio de uma cidade Muzambinho, ou o martírio de uma cidade Depois que o avião desce em Guaxupé, a cercade duas horas de São Paulo, entramos numa dessas trilhas que em Minas chamam-seestradas. Cerca de três horas depois chagamos a Muzambinho. A cidade tem uns oito mil habitantes, o município 22 mil. A renda municipal é de Cr$ 1 milhão. O Estado arrecada três vezes mais. Ali o ministro Daniel Carvalho fez construir uma escola agri-industrial que, se for concluída, dará impulso à região. Mas a cidade anda triste. A imensapraça ao fim da qual assenta a igreja matriz, assistida pelos franciscanos holandeses que tanto serviço ali têm prestado, as ruas de barro, sujando as casas que ao levantando, novas e teimosas, abrigam uma população atormentada. Uma estranha maldição caiu sobre Muzambinho. Todos estão contrafeitos. Fala-se A escola agri-industrial citada é a futura Escola Agrotécnica Federal, hoje IFSULDEMINAS. Os franciscanos administraram a paróquia durante muito tempo, a partir dos anos 30 até 1988, quando entraram os padres Francisco e Guaraciba. Os franciscanos que mais se destacaram foi o Frei Florentino, nos anos 30, que tinha visão revolucionária e humanista, fundando uma escola para meninos pobres; o Frei Rafael, mais recente que ajudou a fundar a Escola Superior de
  • 4. nas esquinas, murmura-se– e ninguém pode fazer coisa alguma para que a cidade volta a sair do esponto que a atordoa. Pela segunda vez, em treze anos, a cidade querida no que ela tem de mais necessário e mais ilustre. Ferida ela foi na própria fonte de toda a sua alegria. É uma historia que não parece daqui. Parece um relato das aldeias sobre as quais Hitler impôs penalidades arrasadoras para puni-las por sua altivez. O COMEÇO Em 1937, o governador Benedito Valadares fechou o Ginásio e Muzambinho e mandou ocupar o prédio por um batalhão da Força Pública, então especialmente criado. Nos pátios já não circularam crianças,mas soldados – os pobres praças, miseravelmente pagos, da Força Pública mineira, e um árdego capitão que ao sair, em 49, jurou voltar para tirar vingança. Depois de sair Valadares e voltar a Constituição, o ginásio foi reaberto. Em 1949, tudo voltou a ser como dantes. Apenas, para que isto acontecesse, dois reitores morreram e um professor matou. E o povo de Muzambinho sofreu. E gente do sudoeste mineiro não teve mis ginásio de graça. E isto que agora volta. E isto que tira o sono do povo de Muzambinho. O FIM Agora, quem manda é Juscelino Kubitschek. Então o Ginásio de Muzambinho está para ser novamente fechado. E de novo ali se instalam os soldados do novamente criado Batalhão da Força Pública. Já lá estão 20 praças. O resto chegando. E o capitão troveja. Ele se vingou, o capitão. O COMEÇO DO GOVERNO Em 1896, um jovem professor mineiro, Salatiel Ramos de Almeida, filho de Campanha, chegou a Muzambinho e fundou umaescola, quem em 1902 se transformou em ginásio. Não sei se compreendem o que era, então, como até hoje, um ginásio no interior do Brasil. Em resumo, um ginásio na região significa a possibilidade de mandar os filhos estudarem sem ter que pagar internamentos no Rio, em São Paulo, em Belo Horizonte. E para toda a população, mesmo os que não tem filhos, um ginásio representa tanto ou mis que a luz elétrica. Educação Fisica; e, mais antigo, o Frei Querubim Beumelhof, bastante citado nessa reportagem, que era proprietário na época de três escolas na cidade, o Ginásio São José, a Escola Normal e a Escola Paroquial Frei Florentino. Importante dizer que esse ano de 1951 foi o último ano de funcionamento do Ginásio São José, e, nos anos seguintes a Escola Paroquial foi estadualizada e se tornou a EE Frei Florentino, e, a Escola Normal foi incorporada ao Colégio Estadual de Muzambinho (futura EE Prof. Salatiel de Almeida). Frei Querubim também foi embora dessa cidade neste ano. Vale ressaltar que Querubim chegou em Muzambinho para substituir o carismático Frei Florentino, falecido em 1937. Na realidade, Salatiel de Almeida chegou em Muzambinho depois disso, em 1899 ou 1900. NOÉ DE AZEVEDO (Foto da OAB-SP) Noé de Azevedo, jurista e professor universitário de Direito, é presidente emérito da
  • 5. Salatiel Ramos de Almeida foi um reitor digno da dignidade de sua obra. O povo ajudou-o, é verdade. Ele formou uma elite, que se espalhou por todos os cantos. Nóe de Azevedo, de São Paulo, saiu das mãos de Salatiel de Almeida. E Carlos Góis. E Mário Magalhães, da Academia Mineira. GINÁSIO GRATUITO No governo do Estado, Antônio Carlos Ribeiro de Andrada fêz, ponto de vista administrativo, um dos dois ou três grandes governos de Minas – talvez o maior. Ao perceber o alcance da obra de Salatiel de Almeida, o presidente Antônio Carlos encampou o Ginásio. Com isto, a região passou a ter ensino ginasial gratuito. E para garantir a continuidade do esforço, o governo fez de Salatiel de Almeida o reitor do Ginásio Estadual. AS TERTÚLIAS DE JACKSON Um dia Jackson de Figueiredo foi, como parte da banca examinadora do Pedro II argüir alunos em Muzambinho. Apaixonou-se pela cidade. Ali converteu Hamilton Nogueira, o senador. Ali se empenhou naquelas grandes conversas da farmácia, na qual citava, com sua espantosa memória, os versos dos poetas que a ronda do acaso ia evocando. Um centro literário, a par da consciência profissional, formou-se em Muzambinho. PROFESSOR NÃO PODE PROFESSAR Mas em 1937 abriu-se o problema da sucessão presidencial. O sr. Getúlio Vargas já estava há muito tempo no poder, parecia enjoado. Acreditaram que ele quisesse eleições. O presidente de São Paulo, Armando de Sales Oliveira, candidatou-se. Do outro lado, lançado â rua pelo governador de Minas, surgiu um candidato oficioso, o sr. José Américo de Almeida. Os professores do Ginásio Estadual de Muzambinho não se filiaram os partidos que então se formaram. Mas simpatizavam abertamente com a UDB, que assim se designava o partido de Armando de Sales Oliveira. Todos os professores, menos três. A REPRESÁLIA Benedito Valadares, então, ainda não era o autor de “O Espiridião”. Era apenas pouco mais que analfabeto e odiava com a força de um primário. Um dia, a leitura de certa carta irritou-o tanto que ele atirou a cara de seu secretário de OAB-SP, e teve a mais longa gestão da entidade no estado de São Paulo, entre 1939 e 1965. Ele inaugurou a sede da OAB na praça da Sé. Participou da elaboração do ante-projeto do Estatuto da OAB, Lei Federal 4215/63. Fez o ginásio em Muzambinho. JACKSON DE FIGUEIREDO Foto de “O Camponês” Jackson de Figueiredo Martins, filósofo cristão, considerado de extrema direita. Fundou o Centro Dom Vidal no Rio de Janeiro e tem uma obra vastíssima. Foi ele que converteu Tristão de Ataíde (Alceu Amoroso de Lima) ao cristianismo. Carlos Góis, filólogo e poeta, foi promotor e professor e Muzambinho. Escreveu muitos livros e gramáticas, é citado no poema “Aula de Português” de Carlos Drummond de Andrade. Foi membro de várias academias de letras, entre elas, a mineira. Mário Magalhães Gomes, poeta, membro da Academia Mineira de Letras. Foi professor do Lyceu do Prof. Salatiel de Almeida. Hamilton Lacerda Nogueira, foi deputado federal e senador da
  • 6. Educação uma bandeja de café. O secretário era o sr. Cristiano Machado. A notícia eu os professores do ginásio estadual de Muzambinho pareciam inclinados a votar em Armando de Sales Oliveira despertou em Benedito Valadares aquele impulso, bem – chamemo-lo o ímpeto da bandeja de café. Valadares demitiu o Reitor do Ginásio. Nomeou um substituto. OS ESTUDANTES NÃO QUERIAM Salatiel de Barros, demitido, tinha então, quase 70 anos de idade. Além da idade, tinha de seu, de quando havia dado ao sudoeste de Minas, onde é visto como uma espécie de apóstolo, uma pequena Escola Normal, que era ainda sua, e uma chacrinha, onde morava com a família. Os estudantes, meninos e meninas choraram quando Salatiel foi demitido. E resolveram reagir. Entrarem em greve. EXPULSÃO DE SALATIEL Mas não basta demiti-lo. É preciso expulsar da cidade o reitor tangido da escola que havia fundado. Como, porém, intervir na sua vida privada? Como desarmar, de todo a quem armas não tinha senão o amor dos alunos que formara? FREI QUERUBIM TOMADO DE PAIXÃO Frei Querubim, de nacionalidade holandesa, entre os franciscanos da casa paroquial de Muzambinho é o que mais se destaca – porque é o vigário. Mas frei Querubim não é apenas o vigário. Ele se deixou formar pela paixão política. Frei Querubim era o chefe, por assim dizer a alma do domínio de Benedito Valadares em Muzambinho. Na campanha eleitoral de 45, no domingo, 2 de dezembro, dia da eleição, violando portanto o Código Eleitoral, mas sobretudo violando outras leis a que não deva faltar, frei Querubim afirmou, dentro da Igreja, do púlpito, que ninguém deveria votar no Brigadeiro Eduardo Gomes, porque este é comunista. E há pouco, na campanha eleitoral, falando num comício ele disse: “A oposição aqui está reduzida a seis bestas.” A violência da linguagem corresponde, segundo a descrição de cerca de quarenta pessoas que ouvimos em Muzambinho, a violência de seus sentimentos. É um homem digno de admiração, pelos serviços que prestou ao seu rebanho. Mas está tomado pela paixão política. SALATIEL CERCADO E VENCIDO república. Era médico e escrevia sobre medicina, ajudando a fundar a Academia Brasileira de Medicos Escritores. Estudou no Lyceu. Foi senador entre 1946- 1955 e deputado federal entre 1959-1967 (dois mandatos). Apenas três professores apoiavam o candidato de Getúlio Vargas e Benedito Valadares: Correia Pinto, Armando Coimbra e Saint Clair! O motivo era simples. Getúlio Vargas foi eleito pela Aliança Liberal com apoio de Antônio Carlos Ribeiro de Andrada, mineiro. Os tucanos, liderados por Dr. Lycurgo Leite, apoiaram Getúlio, por ser candidato de Antônio Carlos. Já os pica-paus, liderados pela família Coimbra, apoiaram o paulista Júlio Prestes, candidato oficial de Washington Luís. Só que Getúlio rompeu com Antônio Carlos, que seria sucessor natural de Getúlio, e lançou o poeta José Américo de Almeida para candidato. Lycurgo Leite seria fiel com Antônio Carlos, mas morreu em 1936 – e todos os tucanos acompanharam Antônio Carlos, desta vez, contra Getúlio, apoiando Armando de Sales Oliveira. Nesse meio tempo, o prefeito José Januário de Magalhães, que era tucano, migrou para o grupo dos pica-pau, pois, queria continuar com o apoio de Valladares, que era o interventor do estado. Essa inversão de grupos políticos (leia mais em minha dissertação de mestrado e outros textos) foi problemática e fez com que Salathiel ficasse com Antônio Carlos também, e levou à sua demissão.
  • 7. Perdendo o ginásio, Salatiel de Almeida ainda possuía a pequena Escola Normal e sua chacrinha. E uma resignação de bom católico. Mas Salatiel possuía também uma dívida. De 50 contos de réis, era a dívida, na Caixa Econômica de Minas Gerais. Lá de cima, de Belo Horizonte, começaram a apertar o devedor. E Salatiel não tinha com que pagar.. Frei Querubim ofereceu-separa comprar a Escola Normal. Por 40 mil cruzeiros. Foi ao Banco de Crédito Real e trouxe o dinheiro para pagar a Salatiel. Era menos 10 contos do que a dívida do velho reitor. Mas na hora de pagar suscitou-se um problema: a chácara. De lá vinha a água para a Escola Normal. Logo, ela era essencial para Escola. Logo, devia ser compreendida na venda. Salatiel conformou-se. Ia receber o dinheiro para pagar a dívida que fizera ensinando a mocidade mineira. Surgiu, porém, outra dúvida. E frei Querubim, que a suscitou, resolveu-a logo com a seguinte cláusula, que figura no contrato de venda da Escola Normal: “e ainda se obrigam os outorgantes vendedores a não mais fundarem estabelecimento de ensino nesta cidade”. Esta cláusula consta do contrato de venda escritura, lavrada a 1 de dezembro de 43, no 2º tabeliã, livro 83, folhas 54 a 58, em Muzambinho. DESTERRADO Assim Salatiel de Barros saiu da terra que fizera sua, pelos colégios que lá fundara. Não podendo, por sua idade, ser nomeado, foi imediatamente contratado pelo governo de São Paulo (1943), para dirigir o ginásio de São Simão. Sozinho ficou frei Querubim, que fundou e dirige um ginásio franciscano,com mensalidades pagas. ARRAZADO Quanto ao Ginásio Estadual, gratuito estava parado, com os alunos em greve. Mas o que houve depois foi ainda mais triste. Pois, não se iludam, está uma história muito, mas muito triste. A história de uma cidade do sudoeste mineiro onde a paixão política se apossa dos homens e os devora a ponto de um governo não poder suportar a idéia de que tenha um ginásio a cidade em que ganha a oposição. BENEDITO VALADARES Foto de “Ser Mineiro Uai” Em 1929 foi estadualizado o Lyceu, que se transformou em Ginásio Mineiro de Muzambinho, mas, Salatiel continuou proprietário da Escola Normal, que não foi encampada pelo governo do Estado. Esse fato é importante! Salatiel era ao mesmo tempo reitor do Ginásio oficial e dono de uma escola particular paga, a saber: a Escola Normal. FREI QUERUBIM (Foto do acervo municipal)
  • 8. O novo governador, Juscelino Kubitschek, que acaba de mandar soldados ocuparem o ginásio, declarou a pessoa idônea, cujo nome vamos divulgar, que tem compromissos eleitorais com frei Querubim e com o bispo de Guaxupé, dom Hugo Bressane, para exterminar o ginásio (hoje colégio) estadual, fazendo desaparecer dentro do ginásio de frei Querubim que seria nomeado Reitor. Se é mentira é do governador. Mas o que está antes de tudo isso precisa ser contado. Os dramas do interior têm de ser conhecidos na capital para que o Brasil conheça a si mesmo, para que o povo saiba que estão fazendo com seus irmãos. O ginásio foi arrasado, em 1937. Mas deixemo-lo comoestava então: em greve. Amanhã veremos a história do tiroteio, o argentino naturalizado e a acidentada [ilegível] entrega das chaves. CARLOS LACERDA PS: Será possível explorar, contra os franciscanos, o fato de um deles ter-se deixado absorver sua piaxão facciosa da politicagem? Será possível, contra êle próprio lançar apodos? Creio que não. Mas também julgo que a mais elementar prudência recomenda ação no sentido de transferir o fardo que esta afastando da igreja de Muzambinho as famílias católicas, cujos chefes, como é do seu direito, pertencem à oposição política. A UDN, ao partido, em suma, do Prefeito livremente eleito. – C. L. Notícia de 23 de julho de 1937, do “Diário de Notícias”, edição 3249. O texto realmente fala em Salatiel de Barros. São Simão era a cidade do vereador Antônio Borelli, pai de dois futuros vereadores (Caio Duílio Borelli e Almirio Borelli) e avô de outro (Fernando Cláudio Borelli), Caio Duílio e Fernando Cláudio foram presidentes da Câmara. Geraldo Vanderlei Falcucci nos conta que foi
  • 9. Antônio que providenciou a vaga para Salatiel em São Simão. Antônio era picapau (UDN). TRIBUNADAIMPRENSA – 28 de fevereiro de 1951 PARTE II – Muzambinho, ou o martírio de uma cidade Muzambinho, ou o martírio de uma cidade II O tiroteio na porta do ginásio – O rigoroso inquérito, abafado – A morte do Reitor substituto – Transferência do ginásio para a terra de Benedito – Extinção do ginásio – Dispersão do arquivo e do mobiliário – Entra triunfante, o 10.ºB. da Fôrça Pública O Ginásio, de fato, foi fechado em 1937, e transformado na sede do 10º Batalhão de Caçadores de Minas Gerais, mas, em 1951 não houve fechamento. O que fechou foi o Ginásio do Frei Querubim, o Ginásio São José, no final do ano. Aliás, Querubim queria evitar a
  • 10. No sudoeste de Minas, a ocupação militar do Ginásio de Muzambinho, em 1937, como em 1951, foi como um tiro no peito. O Reitor, o velho Reitor que havia fundado o ginásio e fora mantido no posto pelo presidente Antônio Carlos, ao oficializar aquela casa da praça principal, construída pelo seu esforço, foi substituído, em 1937, pelo governador Valadares, porque acusado de simpatizarcom a candidatura de Armando de Sales Oliveira. “Ele está muito velho!”, era a desculpa. Sim, ele envelhecera ensinando meninos. Mas não tão velho que não pudesse ser contratado para dirigir um ginásio oficial em São Paulo. Os meninos entraram em greve, para reclamar a volta do velho Reitor. Para eles, Salatiel de Almeida não estava assim tão velho. Para Benedito Valadares, estava até caduco: onde se viu professor ter opinião? Onde se viu professor professar? Os professores estavam todos com o Reitor – menos três. Assim também os alunos. Todos estavam em greve. Menos quatro. Entre estes, o filho de um argentino naturalizado, que era um dos chefes da política de Benedito Valadares na cidade de Muzambinho e hoje é um dos chefes da política de Juscelino Kubitschek no município de Muzambinho. Os quatro alunos dissidentes procuraram entrar no ginásio. Os colegas tentaram impedi-los. O PROFESSOR DE DESENHO Então vem lá de dentro José Maria Armond, o professor de desenho, e procura apaziguar os alunos. Eis que vem chegando João Vicente Cipriano. Este é um argentino que se naturalizou brasileiro e tem filho no colégio, um dos que não querem a greve porque o pai é do Benedito. A uns vinte metros do ginásio, por lhe parecer que estava agredindo o seu filho, ou por impulso de prevenção que explore em cólera – a cidade estava fervendo com esses acontecimentos – Cipriano começou a insultar o professor de desenho. - Vou entrar nesse colégio nem que seja à bala! gritou, entre um e outro impropério. Empunhou o revolver e atirou contra o colégio. Deu o primeiro tiro, atravessou a rua correndo e entrou na casa do prefeito, que era amigo do governador Valadares e morava defronte do ginásio. todo custo a manutenção do colégio público, pois prejudicava seu colégio ARMANDO DE SALES OLIVEIRA Foto Wikipédia JANE CIPRIANI (Foto do acervo municipal) O argentino citado é João Vicente Cipriani, o Jane, e o filho dele é o prof. Walter Cipriani, o seu “Títio”, que foi diretor do Colégio Estadual anos depois.
  • 11. O pessoal da oposição reagiu. Eles dizem: “a população”. Afinal, também fazem parte dela. Começouum tiroteio da calçada para a casa do prefeito, o médico José Januário de Magalhães. Da janela do prefeito chovia bala sobre a calçada do ginásio. O Prefeito não teve nada. Mora hoje em Poços de Caldas, onde entrou para o partido de Ademar, que o fez candidato a deputado federal, mas foi derrotado. Tiroteio bravo, aquele! Mas não houve mortos nem feridos. Foi tudo rápido. A cidade esquentou-se, ficou em brasa. Lá, de Belo Horizonte, Benedito Valadares viu que estava no ponto para esmagar a oposição. Mandou um delegado especial abrir inquérito. Chegou a Muzambinho o delegado Moretzohn. Ouviu todo mundo e toda gente. Voltou para Belo Horizonte, onde concluiu o seu relatório. O inquérito? Nunca mais se ouviu falar nele. Conclusão lógica: o delegado concluiu pela culpabilidade do pessoal que apoiava o governo. Não é lógico? Onde está o inquérito contra o Cangurú, que o general Mendes de Morais empreitou na Polícia Municipal? Onde está o inquérito do coronel da Diretoria do Material, empregada no SESC, do fornecedor da Diretoria? Ele tirou 6 meses de licença na Aeronáutica – e o inquérito é que foi licenciado. Não é sempre assim? Pois foi assim em Muzambinho? Já vê que não é só no interior... Cristiano Machado era o secretário da Educação. Vivia no temor do Benedito, que tinha uma grande inveja dele, e um medo horrível de que, vindo ao Rio, o antigo revolucionário de 30 reatasse relações com o “doutor Getúlio” e voltasse a Belo Horizonte com um diploma de governador, de interventor, de qualquer coisa capaz de substituí-lo. Então, vivia sequestrado em Belo Horizonte, na Secretaria de Educação. Telegrafou Cristiano para Muzambinho suspendendo por 15 dias as aulas do Ginásio até os ânimos se acalmarem. Passaram-seos 15 dias. Chegou o dia de receber dinheiro. Em Minas, os professores do Estado não recebem diretamente. O reitor do ginásio fornece um atestado de exercício, dizendo que eles deram aulas e com esse atestado eles vão à coletoria, conversam um pouco, toam um cafezinho e recebem o ordenado. (Vão ver que ordenado. É de matar um cristão!). José Januário de Magalhaes foi embora de Muzambinho em 1945 e nada sabemos de seu destino, a não ser que se tornou médico extranumerário do estado de São Paulo, na divisão de combate à tuberculose, nomeado por Jânio Quadros, em 11 de setembro de 1956. Vasculhando os artigos historiográficos da Polícia Militar, só pode se tratar do delegado Orlando Moretzohn (ou Moretzsohn) que dá nome para uma rua de Belo Horizonte, no bairro Buritis. Tem uma foto dele no Arquivo Público Mineiro, mas é classificado como documento restrito. CRISTIANO MACHADO Foto de “Cinco Meia Sete”
  • 12. A MORTE CAI SOBRE ACIDADE Lá foram os professores à coletaria. Ali havia uma supresa. Eles estavam descontados nos 15 dias em que o colégio estivera fechado por ordens do secretário de Educação. Metade de mês, metade do pão, metade da manteiga, metade de tudo, é de amargar, pensou o professor de desenho José Maria Armond. Aí, porém, ele viu que um dos três professores que tinham ficado com o governador estava recebendo o ordenado integral. - Isso, não! Não pode ser! Êle disse. (Ele era da oposição sistemática, como dizia o Jafet local). Foi ao ginásio. O reitor estava lá. Interpelou-o. O reitor discutiu. Aqui, aliás, as versões variam. Há quem diga o contrário. Ambos já morreram. O reitor de Benedito, instantaneamente. O professor de desenho, de morte natural, algum tempo depois. O fato é que José Maria Armond, o professor, compareceu a dois juris e em todos dois foi absolvido. Não ali em Muzambinho, onde todos estavam apaixonados, extenuados por tanta luta. Mais longe, em Varginha. Creio que isso prova a seu favor, não parece? Em todo caso, respeitemos os dois, que estão mortos. BENEDITO QUER “EXEMPLAR” Benedito Valadares mandou abrir inquérito contra todos os professores. Condenou-os como insufladores da greve dos alunos. Sem provas. E sem defesa. Ele quer “exemplar” a cidade. Mas, e o ginásio? O prédio lá estava. Os meninos e as meninas comeavam a voltar. Tudo passa, ainda que devagarinho. Afinal, as crianças precisam estudar. E Muzambinho só tinha esseginásio. E a região só tinha esse ginásio. E era grátis! Mas Benedito não vai nisso. Aí já o Estado Novo cantava feio e forte. Benedito, por decreto, transferiu o ginásio estadual de Muzambinho para Pará de Minas, que é onde Benedito foi dado à luz. Reversão à infância, pensou um psiquiatra. Queria ele matricular-se, afinal, no ginásio? Não. Benedito queria dispersar o arquivo do ginásio, a história cultural de uma população, gerações que desde 1896 sucediam-se naqueles bancos, aprendendo com Salatiel e, entre tantos outros, com aquele moço de 16 anos, Magalhães Alves, que hoje encontra em Muzambinho, aos 5, feito reitor do ginásio novamente ocupado pela força policial. Foto do acervo municipal ANTÔNIO MAGALHÃES ALVES Foto cedida por Graco Magalhães Alves, seu filho. Em 1951 foi demitido Magalhães Alves, por motivos obviamente políticos. Magalhães Alves já tinha saído da cidade durante o Estado Novo. Como presidente da Câmara, que assumiu assim que faleceu o Dr. Lycurgo Leite, ele moveu um processo de impeachment de José Januário de Magalhães, tudo em conformidade com a Constituição Federal de 1934, e concluíram pela cassação, no final de 1936, por sinal, tida como a primeira do país. Ocorre que José Januário não saiu, e recorreu, até que foi deflagrado o Estado Novo e nada mais poderia ser feito. Humilhado, Magalhães Alves, que seria nomeado prefeito pelos vereadores, vai embora da cidade. E volta em 1948 como diretor do colégio onde estudou, foi
  • 13. Arquivos, só? Não. Cadeiras também. E mesas. E bancos. Tudo foi levado para aí afora, e nunca chegou a Pará de Minas. Pois, no caminho, Benedito emitiu outro decreto. Este extinguia o ginásio estadual. O 10º OCUPAO COLÉGIO Dias depois entrava em Muzambinho, recém-criado, especialmente para aquela cerimônia, o 10º Batalhão de Caçadores da Força Pública de Minas Gerais. Com a corneta. E o tambor chamado surdo. Quanto ao mudo, já estava ali mesmo. Era o prédio do ginásio, deserto mas acuado, possuído, violentado por 600 solados que acamparam nas salas de aula, e por falta de verbas nunca recolocaram um vidro partido, nunca pintaram uma parede encardida. Estava feita a humilhação de Muzambinho. Era o ano de 1937. Dez longos anos de mágua iriam escorrer sobre a cidade. SALATIEL NÃO TINHAPAZ Salatiel de Barros, o reitor demitido, sofria. A Caixa Econômica apertou-o, para pagar 50 contos que ele devia. Para pagá-los vendeu a sua pequena Escola Normal a frei Querubim, o vigário local, amigo do Benedito. Na transação foi-se também a sua pequena chácara. E para receber o dinheiro, que frei Querubim levantou no Banco do Crédito Real de Minas Gerais, Salatiel teve de assinar um contrato se comprometendo a NUNCA MAIS ABRIR ESTABELECIMENTO DE ENSINO EM MUZAMBINHO. O governo de S. Paulo chamou Salatiel, contratou-o para dirigir o ginásio de S. Simão. Estava expulso da terra onde fundara, em 1896, o seu primeiro colégio. Frei Querubim, de porta em porta, com um zelo exemplar, levantou, por subscrição pública, um novo ginásio, já que o outro estava fechado. “Não podemos ficar sem ginásio!” ele dizia. E em 1940 abriu, com mensalidades e matrículas pagas, o ginásio de S. José, que passou a dirigir. Três anos depois, pobre, velho e triste, Salatiel era desterrado. Dez anos se passaram.... CARLOS LACERDA P.S. – A culpa não é minha se isso ganha um jeito de folhetim. Também não é minha a culpa se os fatos e até as datas, assim como os contratos, depõe contra frei Querubim. Estimo e prezo a obra dos franciscanos. Mas detesto a bedel, professor e vice-diretor na época de Salatiel. Na realidade, o 10º Batalhão já viria para Muzambinho, inclusive tendo sido elogiado pelos tucanos a iniciativa de trazê-lo para cidade. Porém, não havia local definido onde ele funcionaria, e, a decisão de ocuparem o Ginásio foi posterior. JUSCELINO KUBITSCHEK Fonte: Isis Renault
  • 14. idéia de um franciscano de paixão partidária, servir a Benedito, Kubitschek ou a quem quer que seja. Por outro lado, não sei se todos estarão de acordo comigo em trazer para aqui esta história de uma luta política no interior. Para muitos, talvez isto não tenha importância. Mas é dessas lutas, e dos exemplos de resistênciahumilde, ignorada, obstinada, que se faz a grande resistência ao abuso e à iniquidade. E assim que se luta contra a injustiça. Nada é demasiado pequeno para ela, ou tudo será suficientemente grande para fazê-la sucumbir. Por mim, gostaria de ter tempo para imitar Silone e escrever, à sua maneira, o processodo facismoreduzido Às proporções da aldeia de Fontamara. Não abandonem, desdenhosos ou incrédulos, o caso de Muzambinho. Ali está crescendo a planta da iniquidade, no esterco do ódio. – C. L.
  • 15. TRIBUNADAIMPRENSA – 1º de março de 1951 PARTE III – Muzambinho, ou o martírio de uma cidade Muzambinho, ou o martírio de uma cidade III O PERFIL DO CHEFE DO POLÍTICO Pecuária sem boi nem vaca – As dívidas de Campedelli – Stockler de Queiroz e a fortuna do café – Fôrças na ocupação do ginásio pela Fôrça Pública O governador Juscelino Kubitscheckestá no Rio contando que Minas não tem dinheiro, o que é verdade, mas sem dizer que Minas não tem dinheiro porque foi saqueada pelo governador Benedito Valadares, que a deixou nos cascos por Juscelino Kubitschek, o medicozinho da Força Pública mineira que, tendo sido apenas prefeito de Belo Horizonte e deputado faz agora donativo de centenas de contos de réis às campanhas do sr. Assis Chateaubriand. De onde vem o dinheiro para os donos de Minas Gerais? PECUÁRIA SEM GADO VACUM Quando estava no auge a repulsa dos mineiros ao sr. Benedito Valadares, corria Minas inteira essta quadra: “Minas tem gado vacum Muitas raças cavalares Benedito Valadares Minas, porém, só tem um”. Mas Lauro Campedelli, o presidente do PSD em Muzambinho, ex-prefeito do município, foi além do que a quadra permitiria. Pois conseguiu apresentar-se como pecuarista devendo cerca de LAURO CAMPEDELLI, O LALAU Foto do Museu de Muzambinho
  • 16. 40 milhões de cruzeiros de gado, sem ter sequer 300 reses, que ao preço médio de mil cruzeiros representariam – se existissem – [ilegível] mil cruzeiros. Este [ilegível] o sr. Campedelli, acompanha o de outros próceres locais, esteve em Belo Horizonte, onde foi cobrar do sr. Kubitschek as suas promessas eleitorais, que para Muzambinho se resumem no fechamento do colégio estadual e restabelecimento do 10º Batalhão da Força Pública. Mas o sr. Campedelli tem, além disto, outro assunto pessoal a tratar com o governador. Ele deseja, em troca do apoio que lhe dá, que o governador se interesse no Rio pelo destino do seu processo de candidato aos benefícios da lei de reajustamento da pecuária. Pois o sr. Campedelli está endividado e precisa que os brasileiros paguem a sua dívida. O sr. Campedelli endividou-se com café. Mas pretende safar-se com leite, isto é, com o leite da vaca do Estado. O SÓCIO POLÍTICO Ele tem um sócio em política. Um curioso sócio. É o sr. Antônio Stockler de Queiroz, o famoso “depositário” ou “liquidante” do Departamento Nacional do Café, que enriqueceu ao mesmo tempo em que era vendido, clandestinamente, o stock de café em mãos do DNC. O sr. Stockler de Queiroz foi candidato a deputado pelo sudoeste de Minas. Gastou o que normalmente não se gastaria. Financiou a campanha do PSD e Muzambinho. Mas foi derrotado, dentro do próprio PSD, pelo sr. Osvaldo Costa. FICHA DE CAMPEDELLI A ficha do presidente do PSD, o homem que comanda a manobra para obter a ocupação militar do colégio de Muzambinho, é a seguinte: Ele tem três fazendas, num total de 630 alqueires, um prédio em Santos (Avenida Bartolomeu de Gusmão 12) valendo 600 mil cruzeiros, e 3 casas em Muzambinho, valendo 120 mil. O seu passivo declarado é de Cr$ 27.125.059,90, fora juros acumulados, que elevam esse total a cerca de Cr$ 40 milhões. Ao Banco de Crédito Real, ele deve cerca de 12 milhões. Ao Banco do Distrito Federal, 5 milhões. Ao Banco Comércioe Indústria de Minas, 6.900.000 cruzeiros. Nas eleições de 1950, Antônio Stockler de Queiróz, comerciante de café, foi candidato à Câmara Federal pelo PSD de Minas Gerais e ficou em 34º lugar entre 37 candidatos do partido, com 4.999 votos (TRIBUNAL, 1952). Ficou na 17ª suplência. Não há notícia de que tenha se candidatado em qualquer outra ocasião. Leis de Reajustamento da Pecuária, são as Leis 1.002, de 28 de dezembro de 1949, 209, de 2 de janeiro de 1948 e 457, de 29 de outubro de 1948.
  • 17. A Pedro Rufino de Carvalho, de Campos, Estado do Rio, 275 mil cruzeiros. A Cia. União de Armazens Gerais, de Santos, 390 mil. A Antônio Stocker de Queiroz, avalista de 2 letras, ele deve 350 mil cruzeiros. Este comerciante e proprietário agrícola, registrado como criador a 17 de janeiro de 1941, no ministério da Agricultura, figura na Coletoria Estadual de Muzambinho como tendo de pastagens apenas 1/3 (um terço) de suas propriedades. Quer dizer: 210 alqueires. Nessa região é um boi para cada alqueire, o que significaria, na melhor das hipóteses, um rebanho de 210 rezes. Como essa área de pastagens, ele diz que contraiu 29 milhões de cruzeiros de dívidas coo pecuarista... E requereu os benefícios da lei do reajustamento da pecuária. No processo aberto no Banco do Brasil, apenas três credores não se habilitaram: o Banco do Distrito Federal, Pedro Rufino de Carvalho e Stockler de Queiroz. O resto está tudo contestando a Campedelli o título de pecuarista. Pois, afinal, em 210 alqueires ninguém cria gado bastante para ter prejuízo de 29 milhões de cruzeiros. Onde, então, Campedelli, o dono do governador Kubitschek, o domador do urso, o dono da enchente, pode arranjar essa dívida? Ele fundou armazéns de café em Santos. Negociou em café e foi mal sucedido – daí uma parte do débito. Comprou a Pedro Rufino de Carvalho, uma usina de açúcar em Campos. Daí outra parte da dívida. O boi não tem nada com isso. Mas em nome dos boizinhos que pastavam numa terça parte de suas terras, ele quer que a Nação pague as suas dívidas aos bancos. O seu processo consta de certidões assim: “é nosso fornecedor de leite em regular quantidade”, diz uma usina. Não pleiteou o reajustamento no tempo devido. Habilitou-se em 1950. Diz o Promotor de Muzambinho, opinando no processo: “Os débitos não são oriundos de transações propriamente, pecuaristas, mas ao contrário, procedem de altos negócios nas praças de Santos e São Paulo, no comércio de café e de açúcar do Estado do Rio. O seu movimento pecuarista neste Município não comparta em absoluto tão vultosas dívidas”... “.... A Lei Pecuarista (do reajustamento ou absorção das dívidas dos criadores pela União) foi criada para proteger os pecuarista, mas dá margens à burla e explorações. Não é, entretanto, o pobre do Promotor de Justiça local que vai
  • 18. montar guarda e dique aos cofres da Nação. Assim, sugiro ao Juiz se digne converter estes autos em diligência...” O processo foi com cópia ao Procurador da República em Minas Gerais. O governador Juscelino Kubitscheck é assediado para que o café de Campedelli vire leite. TRIBUNADAIMPRENSA – 2 de março de 1951 PARTE IV– Muzambinho, ou o martírio de uma cidade Muzambinho, ou o martírio de uma cidade Muzambinho, ou o martírio e uma cidade IV UM RAIO CAI SOBRE APAINEIRA Milton Campos reabre o ginásio – Triunfo e morte do Reitor – Juscelino Kubitschek e seus compromissos Lauro Campedelli, hoje chefe do PSD, um ano antes de ser prefeito de Benedito Valadares em Muzambinho avalizou a letra com a qual frei Querubim levantou dinheiro para comprar os últimos bens de Salatiel de Almeida a cidade, depois que Benedito Valadares fechou o ginásio e demitiu Salatiel, o reitor, e os demais professores – “a bem do serviço público”. Para muitos que apreciam os esforços de frei Querubim para fundar outro ginásio, depois de fechado o do Estado, o seu afã demonstra a sua SALATHIEL DE ALMEIDA - Acervo Municipal
  • 19. boa fé. Para outros, mais diretamente situados no lado que apanha, istoé, do lado que estápor baixo; isto apenas demonstra a sua conivência. Não temos elementos para decidir entre as duas opiniões. Nós nos cingimos aos fatos, fugindo a interpretações. Fato, por exemplo, é que frei Querubim, já está engolfado na política, em 1945, e convidado a apoiar o brigadeiro Eduardo Gomes, disse a quem lhe fizera este apelo em nome do interesse público que não podia porque já tinha posição tomada ao lado da candidatura Dutra, junto com Benedito Valadares, e isto porque o governador de Minas que era Valadares, lhe havia dado 200 mil cruzeiros com os quais se safou dos compromissos financeiros assumidos para a construção de suas obras no município, a compra da Escola Normal, etc. Um ano depois de avalizar a letra pela qual financiou a compra dos bens de Salatiel de Almeida, Lauro Campedelli, o falso “pecuarista”, tornou-se prefeito do sr. Valadares. E hoje é o chefe do PSD em Muzambinho MUDAO GOVERNO Arrastam-se os anos. Uma luta feroz, de parte a parte, separa as duas velhas facções do município, os “tucanos” e os “picapaus”, agora, respectivamente, na UDN e no PSD. Frei Querubim engaja-se a fundo na luta ao lado do PSD, a ponto de não cumprimentar grande parte da população que vota com a UDN. Nem com o movimento de 29 de outubro Muzambinho se libertou. O interventor Alcides Lins não pode extingui-lo devido a dificuldades com o Conselho Administrativo. Em 1947 o sr. Milton Campos ganha a eleição de governador e a UDN conquista, no município, a Prefeitura. A DIFERENÇA Imediatamente os udenistas locais apelam para o sr. Milton Campos, a fim de que reabra o ginásio e retire dali o batalhão da Força Pública que fora, durante aqueles anos todos, desde 1937, assombração da cidade, como se ali estivesse para lembrar-lhe a inutilidade de qualquer resistência e o abandono de quaisquer veleidades de voltar a ter um ginásio. O sr. Milton Campos,porém, não acedeu à pressa, a final bem compreensível, dos vitoriosos. Primeiro reuniu-se o Comando da Força Pública de Minas e examinou a questão do 10º Batalhão. As eleições de 1950 tiveram como primeiro colocado em Muzambinho o brigadeiro Eduardo Gomes, em segundo lugar, Cristiano Machado. Getúlio Vargas ficou em terceiro lugar. MILTON CAMPOS Foto do Jornal da Parnaíba
  • 20. A existência de muitos claros nas unidades espalhadas pelo território do Estado, e a inutilidade da presença de um batalhão em Muzambinho, fez com que o Comando da Força recomendasse ao governador a extinção daquela unidade, completando com os seus elementos os claros nos outros batalhões do Estado. Saiu, então, a força de ocupação, ali sediada ostensiva e exclusivamente para marcar a vingança do governador contra o Ginásio. INUTILIZADO Mas o prédio estava em ruínas. Havia ainda um companhia do batalhão em Muzambinho, que só depois foi retirada, livrando completamente a sede do ginásio. A Secretaria de Educação celebra, então, com a Prefeitura de Muzambinho, um contrato para a restauração do prédio, a ser efetuada pela Prefeitura. RESSURGE O GINÁSIO Finalmente, em 1948, o governador Milton Campos envia à Assembléia Estadual mensagem pedindo o restabelecimento do ginásio estadual de Muzambinho. A assembléia aprova o projeto, o governador sanciona-a. E ressurge O ÚNICO GINÁSIO GRATUITO DE TODO O SUDOESTE INEIRO, logo promovido a Colégio Estadual de Muzambinho. VOLTA DE SALATIEL Milton Campos nomeia Reitor o desterrado de S. Simão: o velho Salatiel de Almeida, o fundador. Ei-lo que então volta de S. Paulo para participar daquela festa, com imensa alegria da cidade. Ele tem, então, quase 75 anos de idade. Chega, para ele, o fim da vida na plenitude da justiça que lhe fizeram. Os professores, ao seu redor, estão todos reintegrados por Milton Campos. De toda parte chegaram avós e que foram alunos, pais conduzindo as crianças, para saudar Salatiel de Almeida, o colégio, o antigo ginásio, o primitivo liceu “da paineira”, como lhe chama, comovidamente, em carta a um amigo, o reitor Salatiel, em memória daquela grande paineira, que por lá havia. A PAINEIRA Dias antes de ser fechado o ginásio, em 1937, uma faísca elétrica desceu sobre a paineira e rachou-a do alto a baixo, a velha árvore a que se referia. Salatiel numa carta, “com os olhos ORLANDO MAGALHÃES DE CARVALHO Orlando Magalhães de Carvalho, importante cientista político brasileiro, formado em Direito, foi reitor da UFMG. Em 2010 a Assembléia Legislativa de Minas Gerais fez sessão especial para comemoração de seu centenário.
  • 21. marejados de lágrimas” e uma letra trêmula, já como uma despedida. MENSAGEM A 7 de abril de 1949 ele escreve aos ex- alunos: “No momento em que retorno à cidade de S. Simão, em gozo de licença, endereço a todos os meus amigos e aos meus ex-alunos um convite e um apelo para que nos reunamos todos em Muzambinho por ocasião das projetadas e grandiosas festividades com que a sociedade pretende comemorar dignamente a vitória da justiça e do direito representada pela volta do seu tradicional estabelecimento de ensino e educação”. UM TREM ESPECIAL Mas em S. Simão, em novembro do ano passado, Salatiel morreu. Um trem especial vai buscá-lo, porque o povo não quer que ele fique para sempre longe daquele ginásio; a cidade quer guardá-lo, morto, para resgatar as injustiças que em vida lhe fizeram. O povo chorava nas ruas de terra batida, quando chegou o trem que trazia à cidade pela qual vivera, o Reitor de Muzambinho. NOVO REITOR. Para substituí-lo, o governador Milton nomeou um veterano do colégio, o professor Magalhães Alves, que ali começou aos 16 anos, trabalhando e estudando. Vimo-lo agora em Muzambinho, aos 55 anos, muito discreto, tímido embora firme, evitando declarações para não acirrar os ânimos e não parecer que está se insurgindo. CHEGAJUSCELINO A 31 de janeiro, toma posse do governo do Estado o candidato eleito, Juscelino Kubitschek. Muzambinho ainda estava entregue ao pesar da morte do Reitor. Nas conversas, nas esquinas, nos serões, lembram os que passaram pelo Ginásio e aí estão, por toda parte, brilhando. Odilon Azevedo, o ator. Orlando M. Carvalho, o professor. Marcelo Ulisses Rodrigues, que foi secretário do governo Ademar, Gabriel Costa Carvalho, advogado no Rio, tantos nomes desfilam – e tantas recordações, naquela zona de velhos cafezais e terras escalavradas pela erosão. Em Belo Horizonte, porém, desembarca uma comissão do PSD de Muzambinho, com Marcelo Ulisses Rodrigues, advogado e consultor jurídico foi secretário de estado em São Paulo. Tentou se eleger em 1950, mas ficou na 10ª suplência da UDN. ODILON AZEVEDO Foto: Museu da TV Brasileira Odilon Azevedo, artista de teatro e TV, foi o responsável pelo lançamento de várias pessoas na TV brasileira, inclusive Nicete Bruno, Mauro Mendonça e Fernanda Montenegro.
  • 22. Campedelli à frente. Inflexíveis, decididos, certos de que cumprem o mais sagrado dos deveres. Vão cobrar de Juscelino os seus compromissos eleitorais. O compromisso de criar novamente o 10º Batalhão da Força Pública. O compromisso de mandá-lo novamente ocupar o ginásio. O compromisso de extinguir novamente o colégio estadual, gratuito, de Muzambinho. E Juscelino? Veremos amanhã o que fez – e comofez – Juscelino. Mas foi uma coisa feia. Um ato capaz de envergonhar um homem e de marcar, para sempre, o governo que não tiver o coragem de corrigir a tempo o erro a que foi induzido, e a bravura, enfim, o alto valor de aceitar um bom conselho. CARLOS LACERDA
  • 23. Abaixo da gravura acima, consta o seguinte texto: Soldado não é Bedel Eis a sentinela a porta do Colégio Estadual de Muzambinho ocupado militarmente pelo governado Juscelino Kubitschek em sinal de vingança por ter a oposição obtido maioria no município. Em 37, Benedito Valadares fez a mesmacoisa. Dentro do colégio já estão 20 soldados. Os outros estão a caminho. E assim fecha-se o colégio estadual de Muzambinho. CARLOS LACERDA
  • 24. Sobre o texto acima, tive disponível o xeróx de uma ata que diz o seguinte, em livro numerado, na página 184 e data 8-2-51: Espalhou-se na cidade o jornal Tribuna da Imprensa com artigo político atacando falsamente o frei Querubim, assinado pelo jornalista Carlos Lacerda. Há uma semana o mesmo fez uma visita rápida na cidade. Em um livro de ata numerado com 184, e data 8-2-51. TRIBUNADAIMPRENSA – 6 de março de 1951 PARTE Final – Muzambinho, ou o martírio de uma cidade IMPORTANTE: Não sabemos se foi publicado algum artigo nos dias 3, 4 e 5 de março. Muzambinho, ou o martírio de uma cidade FINAL O FECHAMENTO DO GINÁSIO E O DEPOIMENTO DO REITOR Fechado em 1937, o ginásio estadual, gratuito, de Muzambinho foi reaberto pelo governo Milton Campos, que dali retirou a Força Pública, com plena aprovação do comando desta Força. O reitor que fora demitido “a bem do serviço publico” pelo sr.Benedito Valadares, voltou a Muzambinho e reassumiua reitoria. Mas, doente, velho e amargurado, morreu pouco depois. De São Lourenço, então, foi chamado um antigo aluno e professor do velho Liceu, depois Ginásio, atualmente Colégio de Muzambinho. O professor Magalhães Alves, depois de 25 anos no Liceu fundado por Salatiel de Almeida, mais oito no ginásio estadual, assumiu a direção do Colégio Estadual. ISMAEL DE OLIVEIRA COIMBRA
  • 25. A matrícula em 1950 foi de 222 alunos, inclusive 50 do curso de admissão. Aos poucos, refeitos os pais do traumatismo das crises sucessivas por que passou o ginásio, matrícula subia tendendo a voltar ao antigo apogeu, quando chegou a ter 600 alunos matriculados. ENTREGUE ACHAVE! No domingo, 11 de fevereiro último, o reitor Magalhães Alves chegou a Muzambinho e já na segunda-feira estava no seu gabinete, no Colégio, quando entrou o capitão-médico Ismael, do extinto 10º B. C. da Força Pública, e candidato pelo PSD à Prefeitura Municipal, tendo sido derrotado. O capitão Ismael entrou e disse ter em casa um radiograma do Comando para receber, das mãos do reitor, as chaves do Colégio Estadual de Muzambinho. O sr. Messias Gomes de Melo, ex- prefeito, atual vice-presidente da Câmara local, disse que a chave do colégio já não estava com ele, mas se estivessenão a daria, pois a Prefeitura tem contrato com a Secretaria de Estado da Educação, para efetuar as obras no prédio do Colégio; e como a Secretaria não pagou, a Prefeitura não poderia entregar as chaves. Mas o capitão Ismael mostrou, já em sua casa, o radiograma que dizia: “Deveis receber as chaves”... UMAEXTREMAPRUDÊNCIA O reitor do colégio recusou-se a fazê-lo sem ordem de autoridade superior, que no caso é o secretário de Educação. Mas até essa data (agora é que se fala na solução da crise, em Belo Horizonte) o sr. Juscelino Kubitschek não conseguira nomear um secretário de Educação. O capitão disse que ia comunicar-se com o comando da Força. O reitor, por sua vez, comunicou-se com o chefe do gabinete do secretário da Educação. Eis a resposta, de ordem do Palácio da Liberdade: “Radiograma do Serviço Radiográfico do Estado de Minas, n. 119, de 14-2-51, 10 horas: “Reitor Magalhães Alves, Muzambinho: De ordem do sr. Secretário (da Educação inexistente), fiscais autorizado a entregar as chaves do edifício onde estava alojado o 10º B.C. ao capitão Ismael Coimbra. Aguardo comunicação. Saudações cordiais. (a) Luiz Melo Viana Sobrinho, chefe do gabinete”. O edifício em que “estava alojado” o batalhão é o do Colégio Estadual de Muzambinho. Foto do Acervo Municipal MESSIAS GOMES DE MELO Foto do Acervo Municipal Aqui é importante dizer que o batalhão continuou instalado em parte do prédio do antigo Ginásio, e, funcionava concomitantemente o Colégio e o Batalhão, e, pelo que dá para inferir, a Prefeitura fazia obras em alguma das partes. O museu tem as fotos da reforma, que construiu onde hoje são as salas de 9 até 16. É importante dizermos que as chaves solicitadas podem ser apenas as que o batalhão utilizava na época. Não investiguei. Ressalte que em Muzambinho Getúlio Vargas ficou em 3º lugar na eleição, com cerca de 20% dos votos válidos, na eleição de 1950 (Em 1930, foi o contrário). Entre 1930 e 1964 os tucanos
  • 26. TROPELIAS Nos dias de carnaval, chegou a Muzambinho um delegado especial, militar, Mário Cardoso. Um grupo de retirantes empregados em obras do Departamento Nacional de Estradas de Rodagem procurou invadir a sede da Associação Operária local, aos gritos de “Viva o dr. Juscelino!” - Viva, que é meu irmão de leite, respondeu o presidente da Associação Operária. - Viva o dr. Getúlio Vargas! gritavam os capangas. - Viva, que é o novo presidente, respondeu o presidente da Associação Operária. - Mas nós “viemos” aqui para escurecer isso de bala. Vamos quebrar o retrato daquele bugio lá (e mostravam o retrato do sr. Gabriel Passos, candidato da UDN, derrotado, à presidência do Estado, e patrono da Associação Operária de Muzambinho, que foi inaugurada quando de sua visita ao município). - Isto, não! disse o presidente. Os capangas mostraram as armas. Começaram a insultar os presentes, numa provocação crescente. A mulher do presidente conta-nos detalhes da história que toda a população de Muzambinho conhece. Ela conta que foi comunicar ao Prefeito que a Associação Operária estava em risco de ser assaltadas pelos “baianos” (assim chamam os retirantes empregados na rodovia). O Prefeito (então da UDN) disse a ela que comunicasse ao delegado. Procurou o delegado. Não queriam deixa-la falar com ele, no Automóvel Clube, onde também se dançava. Na confusão do carnaval, ela sentia que ia haver bala. “Que é que você quer?”, perguntou o delegado especial, quando afinal ela o localizou. “Os nortistas foram lá quebrar a Associação, dizendo que é ordem sua”. “Quem toma conta daquilo lá?” perguntou o delegado. - Nós. - Vocês não são dignos de tomar conta de uma sociedade! E a jovem mulher do presidente da Associação Operária, no contar desse episódio, refez a atitude de dignidade com que ela repeliu o insulto desse delegado “especial”: - Se é por eu ser preta, o sr. não tem o direito de falar assim. Ela chorava e dizia que a provocação ia acabar mal. O delegado, afinal chamou o cabo ganharam todas eleições, para todos os cargos, e Muzambinho, inclusive quem eles apoiavam para o governo federal e estadual, sempre eram os mais votados na cidade. JOSÉ ERNESTO Foto do Acervo Municipal CELINA ERNESTO Foto de Cleusa Ely Soares ASSOCIAÇÃO OPERÁRIA Foto do Acervo Municipal
  • 27. João e disse-lhe: “Vai lá, fala para eles dançarem direitinho, não prenda ninguém”. - Então o sr vai deixar aqueles desordeiros lá? Em torno dela, no Automóvel Clube, uma rede do delegado vaiava: “Acaba mesmo, acaba mesmo com aquilo!” Dois dias depois o engenheiro Lincoln do DNER, recebeu a queixa contra os diaristas da rodovia, apresentada por José Ernesto, o presidente da Associação Operária, cujo crime é ter votado pelo Brigadeiro, e sua mulher, d. Celina Ernesto, a quem o delegado disse: “Se não ficar do jeito que eu quero, eu fecho aquilo lá!”. AMOSTRA Isso é apenas uma amostra do que vai ser de Muzambinho, com as represálias adotadas pelo governo estadual para se vingar de sua derrota no município... NO AEROPORTO O dr. Samuel de Assis Toledo, ex- presidente da Câmara local, procurou o governador Kubitschek em Belo Horizonte, mas não foi recebido. Avistou-o, porém, no aeroporto, quando chegava o ministro da Justiça e o dr. Samuel embarcava para o Rio. Abordou o governador, que é seu antigo condiscípulo. Expôs, rapidamente, a situação de Muzambinho. O ambiente de apreensão, a grave ofensa e o prejuízo do fechamento do ginásio gratuito. O governador Juscelino pôs as mãos na cabeça e disse: - Que horror! Mas que é que vou fazer? Tenho compromisso com o frei Querubim! Prometi fechar o ginásio para oficializar o de frei Querubim, fazendo dele o Reitor! Em Belo Horizonte, na ocasião, estava uma comissão de próceres do PSD, instando com o governador para que ele cumprisse o “compromisso”. Compunha-se de Lauro Campedelli, cuja ficha vimos outro dia, e que foi tratar com o governador, de passagem, da sua tentativa de fazer pagar, pelo Tesouro Nacional, passando por pecuarista, os prejuízos que deu à praça como especulador em café; João Vicente Cipriano, parente de Campedelli, argentino, naturalizado, autor do primeiro tiro contra o Ginásio, em 1937, que desencadeou o tiroteio partido da casa do Prefeito de então. GABRIEL PASSOS Foto do Acervo Municipal SAMUEL DE ASSIS TOLEDO Foto da Galeria da Câmara Municipal Em 1937, depois do tiroteiro, greve e morte de Saint Clair foram exonerados vários funcionários, todos readmitidos em 1946 por anistia: 1ª Exoneração Professores:Salatiel Ramos de Almeida (Trigonometria e Geometria), Nestor Lacerda (Francês), Antônio Magalhães Alves (Geografia), José Braz Cesarino Filho (Matemática), José Maria Armond (Desenho) Inspetor: Zacharias Alberto Magalhães Funcionário: Antônio Milhão 2ª Exoneração
  • 28. E na penumbra, o frei Querubim, contra o qual posso agora formular uma acusação direta e formal, PORQUE TENHO PROVAS. “ANJO NO NOME, DEMÔNIO NAAÇÃO” Até aqui tenho-me abstido de envolver diretamente o frade Querubim na trama de corrupção e opróbrio com que se cobre o sudoeste mineiro. Citei a seu respeito, fatos, apenas fatos. Por exemplo: 1. Ele comprou todos os bens que restavam ao Reitor demitido por Valadares, de acordo com um contrato onde foi incluído uma cláusula pela qual o Reitor nunca mais poderia abrir estabelecimento de ensino em Muzambinho. 2. Ele levantou o dinheiro para esse negócio no Banco do Crédito Real, numa letra avalisada por Lauro Campedelli, falso pecuarista, que um ano depois já era prefeito de Valadares em Muzambinho e hoje é o grande homem do PSD local. 3. Chefe político “doublé” de franciscano, ele alegou não poder apoiar o Brigadeiro, em 45, por haver recebido 200 contos de Valadares para atender às suas obras. 4. Tomado de uma paixão político- partidária fora de toda medida, ele está causando grave dano aos sentimentos religiosos da população. Sendo, além do mais, a maioria da população udenista, é fácil imaginar o que acontece à religião numa cidade onde a sua principal figura eclesiástica recusa o cumprimento, vira o rosto na rua quando passa por alguém, homem ou mulher, que pertence a partido diferente do que dá prestígio e fortuna a seu protetor financeiro, Campedelli. 5. Ele insulta, dentro da igreja, os adversários políticos, a ponto das famílias desses adversários não mais frequentarem a Igreja para não sofrerem esse constrangimento. Eis alguns fatos. Fatos, entenderam? Irretorquíveis. Restava, porém, uma dúvida. A DÚVIDA Teria o frei Querubim tocado para fora de Muzambinho o reitor do ginásio que Benedito Valadares fechou? Não teria sido apenas para ajuda-lo a compra de sua pequena Escola Normal, de sua humilde chacrinha, e aquela cláusula inócua – mas por isso mesmo duplamente imoral, já por mim citada? Professores: Talcídio de Oliveira (Química), José Ary de Almeida (Fisica), Antero Veríssimo da Costa (História Natural = Biologia) Datilógrafa-Arquivista: Maria Corina de Almeida. Obviamente não foram exonerados Correia Pinto (Latim) e nem Armando Coimbra (Língua Pátria). Quando Salatiel foi demitido, colocaram ele para lecionar Trigonometria e Geometria no lugar de Olga Cerávolo, que já havia sido demitida. PROFESSORES PICA-PAUS Antônio Joaquim Correa Pinto Foto: Lyceu (1917) Armando Coimbra Foto: Capri (1917)
  • 29. Como apurar esse fato, em torno do qual as opiniões variam? Frei Querubim, quando cheguei a Muzambinho, foi correndo a Guaxupé conferenciar com o Bispo, por isso não pude vê-lo, embora procurasse. Quanto a Salatiel, está morto. A CERTEZA Eis que agora tenho a certeza. E quem a não terá, à vista da prova? Esta nos vem, por assim dizer, do outro mundo. Salatiel de Almeida, o reitor demitido, banido de Muzambinho, e que morreu logo após a sua consagração pelo povo e pelo governo de Milton Campos, estava em S. Simão, dirigindo o ginásio estadual daquele município paulista, quando a 23 de setembro de 1948 – cinco anos após os fatos que temos relatado, três anos antes da nova ocupação militar pelas tropas do sr. Juscelino Kubitschek -, ele, com a sua assinatura, escreveu a um amigo de Muzambinho uma carta cujo original está hoje em meu poder. Esta carta dá a certeza de que tudo quanto afirmamos é pouco e nos autoriza a concluir pela inconveniência da ação de frei Querubim em Muzambinho, depois dos testemunhos que temos citado e dos fatos que temos coligido. Dizia, na sua carta, o professor Salatiel, católico praticante – diga-se para melhor evitar qualquer sofisma: “Não concordarão com a abertura de um estabelecimento que irá prejudicar o seu e hostilizarão a idéia e, vencedora que fosse esta, haveria o Ginásio de suportar uma luta tremenda movida pelo seu atual diretor, o frade Cherubim, anjo no nome e demônio na ação. ... Este é o meu modo de ver, suscetível de estar enganado, pelo fato de há quase cinco anos viver fora de Minas, de que, aliás, sinto profunda saudade. Em sua carta, Maria Corina fêz sentir que não temos desejo de residir novamente naquela cidade, de que conservamos gratíssimas recordações. Temos receio de se repetirem as injustiças e ingratidões de que fomos vítimas, partidas, exatamente, daquele que fora fiador de uma paz feita em nome de Nosso Senhor Jesus Cristo”. Essa carta é de tal ordem que mais vale coloca-la à disposição daqueles que tenham a menor dúvida sobre essa conclusão a que chegamos,inclusive das autoridades eclesiásticas. José Saint Clair Magalhães Alves Foto: EE Prof. Salatiel de Almeida PROFESSORES DEMITIDOS Salatiel de Almeida Foto: EE Prof. Salatiel de Almeida Antônio Magalhães Alves Foto: EE Prof. Salatiel de Almeida
  • 30. Mas quero apenas destacar mais um trecho, que serve de confirmação, gravada pela solenidade da morte, do que aqui foi por mim relatado: “Quando me lembro de que fui forçado pelas circunstâncias a assinar uma escritura de venda da Escola Normal em que figurava um imóvel que não fora vendido: que fora forçado a assinar uma escritura em que figurava a cláusula pela qual me comprometia a não mais exercer o magistério em Muzambinho, quando me lembro de tudo isso, dessa coação material e moral de que era conhecedor o bispo da minha Diocese, um dos intermediários do negócio, sinto-me desencorajado de voltar a Muzambinho e, principalmente, para exercer uma função pública.” “Almejo tornar a Muzambinho como simples visitante, para rever bons amigos que incontestavelmente ali deixei e, sobretudo, para beijar as sepulturas no cemitério, onde lá pousam as cinzas de tantas pessoas de minha família e de tantos amigos”.... Ele de fato voltou, mas não como visitante. Lá está ele, naquele cemitério, entre “pessoas da família e tantos amigos”. Afrontado, perseguido, escorraçado em vida, novamente lhe fazem agora afronta e perseguição, com a reocupação militar do ginásio, do seu ginásio, tramada pelo frei Querubim, pelo solerte Campedelli e alguns outros, à sobra da autoridade do governador de Minas Gerais. O sr. Benedito Valadares, que tem no prelo o seu romance “O Espiridião”, nunca se limpará da culpa de haver fechado o ginásio estadual de Muzambinho e perseguido, ou deixado que perseguissem, até a morte, o fundador, o professor, o reitor, o criador desse único ginásio gratuito do sudoeste mineiro. O martírio de Muzambinho tornou-se, por isto mesmo, um símbolo. Pretende o sr. Juscelino Kubitschek disputar-lhe essa glória? Os seus antecedentes não indicam isto. Ele será do tipo leviano, mas não parece do tipo sinistro. Esvoaça, como um dançarino. Politicamente, é um bom pé de valsa. Será, quando muito, segundo os seus inimigos um ótimo pé de cabra. Mas não parece, até agora que seja um pé de pato. Vejamos o que ele é capaz de fazer, ou antes, de não fazer, nesse caso de Muzambinho. José Maria Armond Foto: Acervo do Museu Antero Veríssimo da Costa Foto: Cleusa Ely Talcídio de Oliveira Foto: Acervo do Museu Antônio Milhão
  • 31. As coisas, no Brasil, dificilmente têm consequências. Já não faltou quem dissesse ser absurdo um jornal do Rio preocupar-se com Muzambinho. Ora, nós nos preocupamos com a justiça. E esta não tem lugar certo nem incerto, grande ou pequeno, próximo ou remoto. A justiça contra a qual se atenta em Muzambinho é ferida, ao mesmo tempo, por isso mesmo em toda parte. E aí de quem não souber defende-la em Muzambinho! Esse a não defender jamais, verdadeiramente, em parte alguma, senão na medida em que ela não prejudique os amigos e atenda a uma série de pequeninas condições,bem pequeninas, para ser suficientemente notória e, ao mesmo tempo, suficientemente inócua. Justiça para os alunos e os pais e os professores de Muzambinho. Que se retire do colégio estadual a tropa que lá está posta à espera do restante da força de um batalhão. Que se contenham os impulsos do frade desmandando, induzindo-o a ter mais respeito pela dignidade dos seus semelhantes e concitando-o a se arrepender da sua falta de caridade e de justiça. O ginásio estadual de Muzambinho deve ser reaberto. No país em que o ministro da Educação faz do Ministério alvo de ódios pessoais, não admitira que se fechem escolas, em tempo de paz e calmaria, para abrir casernas. Em tudo isso, há uma trágica minúcia, a guisa de epílogos: - O Estado de Minas Gerais paga ao reitor do Colégio Estadual, Cr$ 2.300,00. E aos professores, Cr$ 1.200,00. E ainda se julga com direito a meter soldados da Força Pública entre os meninos, no pátio do ginásio. CARLOS LACERDA Foto: EE Prof. Salatiel de Almeida José Ary de Almeida (Filho mais velho de Salatiel) Foto da EE Prof. Salatiel de Almeida Maria Corina de Almeida (Segunda filha de Salathiel) Foto da EE Prof. Salatiel de Almeida José Braz Cesarino Filho Foto de MyHeritage Não temos fotos de Zacharias Alberto Magalhães e Nestor Lacerda
  • 32. TRIBUNADAIMPRENSA – 8 de março de 1951 CARTA DOS LEITORES – Saudade de Muzambinho SAUDADES DE MUZAMBINHO Venho lendo com saudade e emoção suas crônicas sobre Muzambinho, a graciosa cidade mineira do Liceu Municipal de Muzambinho, o velho estabelecimento fundado por Salathiel Ramos de Almeida, o saudosíssimoe queridíssimo Beca. Tudo verdade, tudo certo. Reuniu, no começo do século, Salathiel, esse educador extraordinário, uma verdadeira plêiade de mestres: Carlos Góes, Júliio Bueno, G. A. Nixon, Max Heine, Mário Duarte, Vilhena de Moraes, Atanásio Saltão, João Baptista (que me ensinou o b-a-ba) Ernani Domingos, Lycurgo Leite, Fernando Corrêa, J. Tocqueville e muitos e muitos outros cujos nomes agora não me ocorrem. Fui para lá em 1908 e nessa época o Liceu era incontestavelmente a primeira Escola do Sul de Minas. De todos os pontos chegava aluno para o Internato. Por ele passou uma verdadeira legião de estudantes que, hoje, honra o colégio onde estudaram. Em São Paulo, Noé Azevedo, meu companheiro de carteira até o sexto ano, Francisco e Antônio Azevedo, Luiz G. do Prado, Gustavo Corrêa, José Avelino, Mário Coutinho, Domingos Cerávolo, Honório Soares, Aristóteles Martins, Antenor Magalhães; em Minas, Antônio Magalhães Alves, o legítimo sucessordeSalathiel, os Coimbra JÚLIO BUENO Foto da EE Prof. Salatiel de Almeida
  • 33. da Luz, Luiz Introcaso, os Paolielo, os Navarro, os Bandeira de Melo, Jeremias Zerbini, José Barbosa de Figueiredo, Luiz Cassiano da Silva, Lélio de Almeida, Ary de Almeida (filhos de Salathiel) engenheiros, advogados, dentistas, médicos;aqui, no Rio, José Cândido de Souza, José Barbosa da Luz, Domingos Vômero, Mário Falleiros, Talcídio de Oliveira, todos médicos; na Câmara Federal, Jalles Machado, Lycurgo Leite Filho. A lista é muito grande; cito apenas alguns nomes entre as centenas de estudantes que até hoje cultuam e veneram a memória de Salathiel e se indignam, tenho certeza, contra o mais nefando crime perpetrado em 1837, por esta pústula maligna que durante tanto tempo maculou o Palácio da Liberdade e espalhou a sua malignidade por todo o Estado de Minas. A transformação do Liceu Municipal e mais tarde Ginásio de Muzambinho, em quartel de polícia, marca uma época e define a mentalidade dêsse home, cujo nome não é preciso citar e que, nas últimas eleições, chefiou a traição contra seu próprio companheiro de partido, o inocente Cristiano Machado, seu ex-secretário de Educação. (Conclui na 6ª pág.) SAUDADES... (Conclusão da 4ª pág.) Mas, que o senhor Juscelino Kubitschek, um médico, tendo por secretário de Saúde, outro médico, reedite esta façanha e transforme o Ginásio de Muzambinho em novo quartel, é de pasmar! Eu não poderia acreditar nessa proeza, mas vejo que deve ser verdade, pois estou sabendo que na minha segunda cidade de adoção (a primeira é Muzambinho), Santa Rita do Sapucaí, onde a UDN venceu as eleições de ponta a ponta, fez dois deputados: Bilac Pinto e José Cabral, fez o prefeito Pedro Rennó Moreira, seus dignos filhos, já começou a derruba e remoção de seus funcionários. Cito apenas um nome: meu colega, José Alcides Mendes, diretor do Porto local, filho de Santa Rita, rapaz decente e trabalhador, removido daquela cidade para Sabará. E a lista de outros removidos é grande. Milton Campos ... Juscelino Kubitschek ... um advogado-moralidade, decência, escrúpulo, honradez, justiça. Outro médico ... mas em política, discípulo e cria de quem? JALES MACHADO Foto da empresa da família LYCURGO LEITE FILHO Foto do acervo municipal
  • 34. Ai do meu glorioso Estado. Vae victs! Pobre Minas Gerais! – Joaquim Barbosa Figueiredo. Rua Itaipava, 99”
  • 35. FOLHA DO POVO – 8 de abril de 1951 (Jornal de Guaxupé) A PEDIDOS Muzambinho, ou o Martírio de uma Cidade C.P. Com esse título, gênero capa e espada, vem o jornalista Carlos Lacerda publicando em sua << Tribuna da Imprensa >> uma novela sensacionalista, de lances épicos, que pretende mais tarde radiofonizar por todo o pais. Novela inteligente e imaginoso, mistura de D’Artagnan e Tartarin, o seu folhetim está ganhando público e fazendo sucesso. Já apareceram em letra de forma os cinco primeiros capítulos, de títulos vistosos: - <<O Começo do Fim, Ou o Fim do Começo>>; <<A Morte Cai Sobre a Cidade>>; <<A Represália>>; <<O Raio e a Paineira>>; <<O Trem da Morte>>... O título é o homem... Por aí se vê. O texto prossegue falando sobre Carlos Lacerda, porém, sobre fatos de Guaxupé.
  • 36. CRONOLOGIADO ANO DE 1937 7.6.1936 – Eleição para vereadores 26.6.1936 – José Januário é eleito indiretamente pela Câmara Municipal 22.10.1936 – Lycurgo Leite morre Dez.1936 – Ruptura de José Januário com o grupo político dele 17.1.1937 – José Januário chama Salathiel de Almeida de parasita privilegiado na imprensa 24.3.1937 – Difamação de Salatiel e do Ginásio na imprensa nacional Abr.1937 – Salatiel e professores do Ginásio Estadual declaram apoio ao candidato da oposição, Armando de Sales Oliveira 26.7.1937 – Salatiel é afastado da reitoria e em seu lugar é nomeado Saint Clair, ele vai para cadeira de Trigonometria e Geometria, do qual era efetivo. 26.7.1937 – Alunos entram em Greve e há Tiroteio na Av. Dr. Américo Luz 27.7.1937 – O secretário de educação suspende as aulas do Ginásio por 15 dias 2.9.1937 – Saint Clair é assassinado por José Maria Armond 13.9.1937 – morre Frei Florentino 27.9.1937 - Exoneração de Salatiel, José Maria Armond, Antônio Milhão, Antero Veríssimo da Costa, Antônio Magalhães Alves e vários outros professores do Ginásio Mineiro, "a bem do serviço público" (todos foram reconduzidos aos cargos em 1948) 27.9.1937 – Ginásio Mineiro é fechado e transferido para Pará de Minas 10.11.1937 – Getúlio Vargas dá golpe e instaura Ditadura do Estado Novo SÉRIE DE ARTIGOS DE JORNAL QUE FALASOBRE O ANO DE 1937 IMPEACHMENT DE JOSÉ JANUÁRIO
  • 37.
  • 38. APOIO A ARMANDO DE SALES OLIVEIRA (parte dos artigos)
  • 39.
  • 40. TIROTEIO: JANE CIPRIANI X JOSÉ MARIAARMOND Diário da Noite de 27/7/1937:
  • 41.
  • 42.
  • 43.
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  • 47.
  • 48.
  • 49. FECHAMENTO DO GINÁSIO E PUNIÇÃO DOS PROFESSORES
  • 50.
  • 51.
  • 52.
  • 53.
  • 54. MUDANDO O ASSUNTO... EM 1951 QUASE ACONTECEU DE NOVO
  • 55. REFERÊNCIAS (APENAS AS CITADAS – HÁ VÁRIAS OUTRAS) TRIBUNAL SUPERIOR ELEITORAL. Dados Estatísticos (2º Volume). Eleições Federais e Estaduais realizadas no Brasil em 1950. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1952. OS TUCANOS CITADOS DR. LYCURGO LEITE, MESSIAS GOMES, MAGALHÃES ALVES, SALATIEL
  • 56. DR. SAMUEL DE ASSIS TOLEDO, JOSÉ MARIAARMOND, JOSÉ ERNESTO, CELINA ERNESTO ARMANDO DE SALES OLIVEIRA, GABRIEL PASSOS, MILTON CAMPOS OS PICA-PAUS
  • 57. FREI QUERUBIM, LALAU CAMPEDELLI, JANE CIPRIANI DR. JOSÉ JANUÁRIO DE MAGALHÃES, DR. ISMAEL COIMBRA BENEDITO VALADARES, JUSCELINO KUBITSHECK