SlideShare uma empresa Scribd logo
Relações existentes entre o poema
“Estudos para uma Bailadora Andaluza” de João Cabral de
Melo Neto
e a dança flamenca
Departamento de Ciências Humanas
Letras
Orientação de Estágio
Professora Dr. Rodrigo Garcia Barbosa
Aleques Mateus
Ana Carolina de Abreu
Cila Tâmara da Silva
Keila Aparecida Pereira
Yele Mesquita
Lavras
2014/1
Um dos poemas do poeta que retrata a dança flamenca, e as bailarinas é
o poema “Estudos para uma Bailadora Andaluza”. O título do poema já é uma
referencia que o poeta faz a bailarina da região onde surgiu o Flamenco, ou
seja, a Andaluza.
Dir-se-ia, quando aparece
dançando por siguiriyas,
que com a imagem do fogo
inteira se identifica.
Todos os gestos do fogo
que então possui dir-se-ia:
gestos das folhas do fogo,
de seu cabelo, sua língua;
gestos do corpo do fogo,
de sua carne em agonia,
carne de fogo, só nervos,
carne toda em carne viva.
Então, o caráter do fogo
nela também se adivinha:
mesmo gosto dos extremos,
de natureza faminta,
gosto de chegar ao fim do que
dele se aproxima,
gosto de chegar-se ao fim,
de atingir a própria cinza.
Porém a imagem do fogo
é num ponto desmentida:
que o fogo não é capaz
como ela é, nas siguiriyas,
de arrancar-se de si mesmo
numa primeira faísca,
nessa que, quando ela quer,
vem e acende-a fibra a fibra,
que somente ela é capaz
de acender-se estando
fria, de
incendiar-se com nada,
de incendiar-se sozinha.
Subida ao dorso da dança
(vai carregada ou a carrega?)
é impossível se dizer
se é a cavaleira ou a égua.
Ela tem na sua dança
toda a energia retesa
e todo o nervo de quando
algum cavalo se encrespa.
Isto é: tanto a tensão
de quem vai montado em sela,
de quem monta um animal
e só a custo o debela,
como a tensão do animal
dominado sob a rédea,
que ressente ser mandado
e obedecendo protesta.
Então, como declarar
se ela é égua ou cavaleira:
há uma tal conformidade
entre o que é animal e é ela,
entre a parte que domina
e a parte que se rebela,
entre o que nela cavalga
e o que é cavalgado nela,
que o melhor será dizer
de ambas, cavaleira e égua,
que são de uma mesma coisa
e que um só nervo as inerva,
 
e que é impossível traçar
nenhuma linha fronteira
entre ela e a montaria:
ela é a égua e a cavaleira.
Quando está taconeando,
a cabeça, atenta, inclina,
como se buscasse ouvir
alguma voz indistinta.
Há nessa atenção curvada
muito de telegrafista,
atento para não perder
a mensagem transmitida.
Mas o que faz duvidar
possa ser telegrafia
aquelas respostas que
suas pernas pronunciam
é que a mensagem de quem
lá do outro lado da linha
ela responde tão séria
nos passa despercebida.
Mas depois já não há dúvida:
é mesmo telegrafia:
mesmo que não se perceba
a mensagem recebida,
se vem de um ponto no fundo
do tablado ou de sua vida,
se a linguagem do diálogo
é em código ou ostensiva,
já não cabe duvidar:
deve ser telegrafia:
basta escutar a dicção
tão morse e tão desflorida,
linear, numa só corda,
em ponto e traço, concisa,
a dicção em preto e branco
de sua perna polida
Ela não pisa na terra
como quem a propicia
para que lhe seja leve
quando se enterre, num dia.
Ela a trata com a dura
e muscular energia
do camponês que cavando
sabe que a terra amacia.
Do camponês de quem tem
sotaque andaluz caipira
e o tornozelo robusto
que mais se planta que pisa.
Assim, em vez dessa ave
assexuada e mofina,
coisa a que parece sempre
aspirar a bailarina,
esta se quer uma árvore
firme na terra, nativa,
que não quer negar a terra
nem, como ave, fugi-la.
Árvore que estima a terra
de que se sabe família
e por isso trata a terra
com tanta dureza íntima.
Mais: que ao se saber da terra
não só na terra se afinca
pelos troncos dessas pernas
fortes, terrenas, maciças,
mas se orgulha de ser terra
e dela se reafirma,
batendo-a enquanto dança,
para vencer quem duvida.
Sua dança sempre acaba
igual como começa,
tal esses livros de iguais
coberta e contra-coberta:
com a mesma posição
como que talhada em pedra:
um momento está estátua,
desafiante, à espera.
Mas se essas duas estátuas
mesma atitude observam,
aquilo que desafiam
parece coisas diversas.
A primeira das estátuas
que ela é, quando começa,
parece desafiar
alguma presença interna
que no fundo dela própria,
fluindo, informe e sem regra,
por sua vez a desafia
a ver quem é que a modela.
Enquanto a estátua final,
por igual que ela pareça,
que ela é, quando um estilo
já impôs à íntima presa,
 
parece mais desafio
a quem está na assistência,
como para indagar quem
a mesma façanha tenta.
O livro de sua dança
capas iguais o encerram:
com a figura desafiante
de suas estátuas acesas.
Na sua dança se assiste
como ao processo da espiga:
verde, envolvida de palha;
madura, quase despida.
Parece que sua dança
ao ser dançada, à medida
que avança, a vai despojando
da folhagem que a vestia.
Não só da vegetação
de que ela dança vestida
(saias folhudas e crespas
do que no Brasil é chita),
mas também dessa outra flora
a que seus braços dão vida,
densa floresta de gestos
a que dão vida a agonia.
Na verdade, embora tudo
aquilo que ela leva em cima,
embora, de fato, sempre,
continue nela a vesti-la,
parece que vai perdendo
a opacidade que tinha
e, como a palha que seca,
vai aos poucos entreabrindo-a.
Ou então é que essa folhagem
vai ficando impercebida:
porque terminada a dança
embora a roupa persista,
 
a imagem que a memória
conservará em sua vista
é a espiga, nua e espigada,
rompente e esbelta, em espiga.
https://www.youtube.com/watch?v=AQ--gvIGmQA&feature=youtu.be
Relações existentes entre o poema Estudos para uma Bailadora Andaluza de João Cabral de Melo Neto e a Dança Flamenca

Mais conteúdo relacionado

Mais procurados

Texto poético: características
Texto poético: característicasTexto poético: características
Texto poético: características
inessalgado
 
Ricardo reis
Ricardo reisRicardo reis
Ricardo reis
Maria da Paz
 
Análise do poema de vinicius de morais
Análise do poema de vinicius de moraisAnálise do poema de vinicius de morais
Análise do poema de vinicius de morais
jaquelineferreiragomes
 
O texto poético 2012
O texto poético 2012O texto poético 2012
O texto poético 2012
piefohmania
 
Análise de poemas
Análise de poemasAnálise de poemas
Análise de poemas
Ana Clara San
 
O Gênero Lírico
O Gênero LíricoO Gênero Lírico
O Gênero Lírico
Karin Cristine
 
Análise do poema cecília meireles
Análise do poema  cecília meirelesAnálise do poema  cecília meireles
Análise do poema cecília meireles
Paula Angelo
 
A lirica
A liricaA lirica
A lirica
Isabel Araújo
 
05. Poesia para Início de Conversa. Ano I, Nº 05 - Volume I - Porto Velho - J...
05. Poesia para Início de Conversa. Ano I, Nº 05 - Volume I - Porto Velho - J...05. Poesia para Início de Conversa. Ano I, Nº 05 - Volume I - Porto Velho - J...
05. Poesia para Início de Conversa. Ano I, Nº 05 - Volume I - Porto Velho - J...
estevaofernandes
 
AntóNio GedeãO (ExposiçãO Pelo 9 º Ano De 2006 2007)
AntóNio GedeãO (ExposiçãO Pelo 9 º Ano De 2006 2007)AntóNio GedeãO (ExposiçãO Pelo 9 º Ano De 2006 2007)
AntóNio GedeãO (ExposiçãO Pelo 9 º Ano De 2006 2007)
luisprista
 
Gênero lírico
Gênero líricoGênero lírico
Gênero lírico
Walace Cestari
 
Análise de textos poéticos
Análise de textos poéticosAnálise de textos poéticos
Análise de textos poéticos
José Alexandre Dos Santos
 
Gêneros Literários
Gêneros LiteráriosGêneros Literários
Gêneros Literários
Marcos Feliciano
 
Características%20do%20texto%20poético%208º%20ano[1]
Características%20do%20texto%20poético%208º%20ano[1]Características%20do%20texto%20poético%208º%20ano[1]
Características%20do%20texto%20poético%208º%20ano[1]
Ilda Oliveira
 
Gêneros literários
Gêneros literáriosGêneros literários
Gêneros literários
ma.no.el.ne.ves
 
O gênero lírico
O gênero líricoO gênero lírico
O gênero lírico
Fernanda Câmara
 
Poesia e poema
Poesia e poemaPoesia e poema
Poesia e poema
ionasilva
 
Analise de poemas
Analise de poemasAnalise de poemas
Analise de poemas
Paula CAA
 
Gênero lírico - Profª Vivian Trombini
Gênero lírico - Profª Vivian TrombiniGênero lírico - Profª Vivian Trombini
Gênero lírico - Profª Vivian Trombini
VIVIAN TROMBINI
 
Construção de poemas
Construção de poemasConstrução de poemas
Construção de poemas
Eliane Salete Hirt
 

Mais procurados (20)

Texto poético: características
Texto poético: característicasTexto poético: características
Texto poético: características
 
Ricardo reis
Ricardo reisRicardo reis
Ricardo reis
 
Análise do poema de vinicius de morais
Análise do poema de vinicius de moraisAnálise do poema de vinicius de morais
Análise do poema de vinicius de morais
 
O texto poético 2012
O texto poético 2012O texto poético 2012
O texto poético 2012
 
Análise de poemas
Análise de poemasAnálise de poemas
Análise de poemas
 
O Gênero Lírico
O Gênero LíricoO Gênero Lírico
O Gênero Lírico
 
Análise do poema cecília meireles
Análise do poema  cecília meirelesAnálise do poema  cecília meireles
Análise do poema cecília meireles
 
A lirica
A liricaA lirica
A lirica
 
05. Poesia para Início de Conversa. Ano I, Nº 05 - Volume I - Porto Velho - J...
05. Poesia para Início de Conversa. Ano I, Nº 05 - Volume I - Porto Velho - J...05. Poesia para Início de Conversa. Ano I, Nº 05 - Volume I - Porto Velho - J...
05. Poesia para Início de Conversa. Ano I, Nº 05 - Volume I - Porto Velho - J...
 
AntóNio GedeãO (ExposiçãO Pelo 9 º Ano De 2006 2007)
AntóNio GedeãO (ExposiçãO Pelo 9 º Ano De 2006 2007)AntóNio GedeãO (ExposiçãO Pelo 9 º Ano De 2006 2007)
AntóNio GedeãO (ExposiçãO Pelo 9 º Ano De 2006 2007)
 
Gênero lírico
Gênero líricoGênero lírico
Gênero lírico
 
Análise de textos poéticos
Análise de textos poéticosAnálise de textos poéticos
Análise de textos poéticos
 
Gêneros Literários
Gêneros LiteráriosGêneros Literários
Gêneros Literários
 
Características%20do%20texto%20poético%208º%20ano[1]
Características%20do%20texto%20poético%208º%20ano[1]Características%20do%20texto%20poético%208º%20ano[1]
Características%20do%20texto%20poético%208º%20ano[1]
 
Gêneros literários
Gêneros literáriosGêneros literários
Gêneros literários
 
O gênero lírico
O gênero líricoO gênero lírico
O gênero lírico
 
Poesia e poema
Poesia e poemaPoesia e poema
Poesia e poema
 
Analise de poemas
Analise de poemasAnalise de poemas
Analise de poemas
 
Gênero lírico - Profª Vivian Trombini
Gênero lírico - Profª Vivian TrombiniGênero lírico - Profª Vivian Trombini
Gênero lírico - Profª Vivian Trombini
 
Construção de poemas
Construção de poemasConstrução de poemas
Construção de poemas
 

Semelhante a Relações existentes entre o poema Estudos para uma Bailadora Andaluza de João Cabral de Melo Neto e a Dança Flamenca

Marly de Oliveira: A Suave Pantera
Marly de Oliveira: A Suave PanteraMarly de Oliveira: A Suave Pantera
Marly de Oliveira: A Suave Pantera
Renata Bomfim
 
POESIA PARNASIANA.pptx
POESIA PARNASIANA.pptxPOESIA PARNASIANA.pptx
POESIA PARNASIANA.pptx
SilvanaOliveira55541
 
Salamanca do Jarau (Ensaio de Luiz Cosme)
Salamanca do Jarau (Ensaio de Luiz Cosme)Salamanca do Jarau (Ensaio de Luiz Cosme)
Salamanca do Jarau (Ensaio de Luiz Cosme)
gersonastolfi
 
Simbolismo
SimbolismoSimbolismo
Simbolismo
Érika Lúcia
 
Carla (poesia)
Carla (poesia)Carla (poesia)
Carla (poesia)
Roosevelt F. Abrantes
 
GENEROS_LITERARIOS_ANGELICA_SOARES_1.pptx
GENEROS_LITERARIOS_ANGELICA_SOARES_1.pptxGENEROS_LITERARIOS_ANGELICA_SOARES_1.pptx
GENEROS_LITERARIOS_ANGELICA_SOARES_1.pptx
Marlene Cunhada
 
Simbolismo
Simbolismo Simbolismo
Simbolismo
professorakarin2013
 
Versificação
VersificaçãoVersificação
Versificação
Juliana Lannes
 
Tipos De Poesias
Tipos De PoesiasTipos De Poesias
Tipos De Poesias
klauddia
 
Simbolismo vers ---o final
Simbolismo vers ---o finalSimbolismo vers ---o final
Simbolismo vers ---o final
Karin Cristine
 
Apresentação de Sofia de Mello Breyner Andresen
Apresentação  de  Sofia de Mello Breyner AndresenApresentação  de  Sofia de Mello Breyner Andresen
Apresentação de Sofia de Mello Breyner Andresen
Maria Costa
 
Prova aberta de literatura brasileira ufmg 2012-1
Prova aberta de literatura brasileira ufmg 2012-1Prova aberta de literatura brasileira ufmg 2012-1
Prova aberta de literatura brasileira ufmg 2012-1
ma.no.el.ne.ves
 
Prova aberta de literatura brasileira ufmg 2012-1
Prova aberta de literatura brasileira ufmg 2012-1Prova aberta de literatura brasileira ufmg 2012-1
Prova aberta de literatura brasileira ufmg 2012-1
ma.no.el.ne.ves
 
AULA - TRABALHANDO POESIA E POEMA.pptx
AULA - TRABALHANDO POESIA E POEMA.pptxAULA - TRABALHANDO POESIA E POEMA.pptx
AULA - TRABALHANDO POESIA E POEMA.pptx
RenildoLima2
 
Tipos De Poesias
Tipos De PoesiasTipos De Poesias
Tipos De Poesias
klauddia
 
Simbolismo
SimbolismoSimbolismo
Simbolismo
Gustavo Cuin
 
Amor, Pois Que é Palavra Essencial; Carlos Drummond De Andrade
Amor, Pois Que é Palavra Essencial; Carlos Drummond De AndradeAmor, Pois Que é Palavra Essencial; Carlos Drummond De Andrade
Amor, Pois Que é Palavra Essencial; Carlos Drummond De Andrade
catiasgs
 
O mito florbela espanca
O mito florbela espancaO mito florbela espanca
O mito florbela espanca
Fernanda Pantoja
 
Entrevista: Descobrindo os segredos do livro "As mulheres de Poe"
Entrevista: Descobrindo os segredos do livro "As mulheres de Poe"Entrevista: Descobrindo os segredos do livro "As mulheres de Poe"
Entrevista: Descobrindo os segredos do livro "As mulheres de Poe"
Raquel Alves
 
cântico dos cânticos
cântico dos cânticoscântico dos cânticos
cântico dos cânticos
welingtonjh
 

Semelhante a Relações existentes entre o poema Estudos para uma Bailadora Andaluza de João Cabral de Melo Neto e a Dança Flamenca (20)

Marly de Oliveira: A Suave Pantera
Marly de Oliveira: A Suave PanteraMarly de Oliveira: A Suave Pantera
Marly de Oliveira: A Suave Pantera
 
POESIA PARNASIANA.pptx
POESIA PARNASIANA.pptxPOESIA PARNASIANA.pptx
POESIA PARNASIANA.pptx
 
Salamanca do Jarau (Ensaio de Luiz Cosme)
Salamanca do Jarau (Ensaio de Luiz Cosme)Salamanca do Jarau (Ensaio de Luiz Cosme)
Salamanca do Jarau (Ensaio de Luiz Cosme)
 
Simbolismo
SimbolismoSimbolismo
Simbolismo
 
Carla (poesia)
Carla (poesia)Carla (poesia)
Carla (poesia)
 
GENEROS_LITERARIOS_ANGELICA_SOARES_1.pptx
GENEROS_LITERARIOS_ANGELICA_SOARES_1.pptxGENEROS_LITERARIOS_ANGELICA_SOARES_1.pptx
GENEROS_LITERARIOS_ANGELICA_SOARES_1.pptx
 
Simbolismo
Simbolismo Simbolismo
Simbolismo
 
Versificação
VersificaçãoVersificação
Versificação
 
Tipos De Poesias
Tipos De PoesiasTipos De Poesias
Tipos De Poesias
 
Simbolismo vers ---o final
Simbolismo vers ---o finalSimbolismo vers ---o final
Simbolismo vers ---o final
 
Apresentação de Sofia de Mello Breyner Andresen
Apresentação  de  Sofia de Mello Breyner AndresenApresentação  de  Sofia de Mello Breyner Andresen
Apresentação de Sofia de Mello Breyner Andresen
 
Prova aberta de literatura brasileira ufmg 2012-1
Prova aberta de literatura brasileira ufmg 2012-1Prova aberta de literatura brasileira ufmg 2012-1
Prova aberta de literatura brasileira ufmg 2012-1
 
Prova aberta de literatura brasileira ufmg 2012-1
Prova aberta de literatura brasileira ufmg 2012-1Prova aberta de literatura brasileira ufmg 2012-1
Prova aberta de literatura brasileira ufmg 2012-1
 
AULA - TRABALHANDO POESIA E POEMA.pptx
AULA - TRABALHANDO POESIA E POEMA.pptxAULA - TRABALHANDO POESIA E POEMA.pptx
AULA - TRABALHANDO POESIA E POEMA.pptx
 
Tipos De Poesias
Tipos De PoesiasTipos De Poesias
Tipos De Poesias
 
Simbolismo
SimbolismoSimbolismo
Simbolismo
 
Amor, Pois Que é Palavra Essencial; Carlos Drummond De Andrade
Amor, Pois Que é Palavra Essencial; Carlos Drummond De AndradeAmor, Pois Que é Palavra Essencial; Carlos Drummond De Andrade
Amor, Pois Que é Palavra Essencial; Carlos Drummond De Andrade
 
O mito florbela espanca
O mito florbela espancaO mito florbela espanca
O mito florbela espanca
 
Entrevista: Descobrindo os segredos do livro "As mulheres de Poe"
Entrevista: Descobrindo os segredos do livro "As mulheres de Poe"Entrevista: Descobrindo os segredos do livro "As mulheres de Poe"
Entrevista: Descobrindo os segredos do livro "As mulheres de Poe"
 
cântico dos cânticos
cântico dos cânticoscântico dos cânticos
cântico dos cânticos
 

Mais de Aleques Mateus

Unidade de inglês
Unidade de inglêsUnidade de inglês
Unidade de inglês
Aleques Mateus
 
Unidade didática português
Unidade didática portuguêsUnidade didática português
Unidade didática português
Aleques Mateus
 
Papéis dos aprendizes e dos educadores em ambientes de aprendizagem baseados ...
Papéis dos aprendizes e dos educadores em ambientes de aprendizagem baseados ...Papéis dos aprendizes e dos educadores em ambientes de aprendizagem baseados ...
Papéis dos aprendizes e dos educadores em ambientes de aprendizagem baseados ...
Aleques Mateus
 
Pista textual
Pista textualPista textual
Pista textual
Aleques Mateus
 
Cloze
ClozeCloze
Pausa protocolada
Pausa protocoladaPausa protocolada
Pausa protocolada
Aleques Mateus
 
Sequência didática
Sequência didáticaSequência didática
Sequência didática
Aleques Mateus
 

Mais de Aleques Mateus (7)

Unidade de inglês
Unidade de inglêsUnidade de inglês
Unidade de inglês
 
Unidade didática português
Unidade didática portuguêsUnidade didática português
Unidade didática português
 
Papéis dos aprendizes e dos educadores em ambientes de aprendizagem baseados ...
Papéis dos aprendizes e dos educadores em ambientes de aprendizagem baseados ...Papéis dos aprendizes e dos educadores em ambientes de aprendizagem baseados ...
Papéis dos aprendizes e dos educadores em ambientes de aprendizagem baseados ...
 
Pista textual
Pista textualPista textual
Pista textual
 
Cloze
ClozeCloze
Cloze
 
Pausa protocolada
Pausa protocoladaPausa protocolada
Pausa protocolada
 
Sequência didática
Sequência didáticaSequência didática
Sequência didática
 

Último

UFCD_3546_Prevenção e primeiros socorros_geriatria.pdf
UFCD_3546_Prevenção e primeiros socorros_geriatria.pdfUFCD_3546_Prevenção e primeiros socorros_geriatria.pdf
UFCD_3546_Prevenção e primeiros socorros_geriatria.pdf
Manuais Formação
 
Leonardo da Vinci .pptx
Leonardo da Vinci                  .pptxLeonardo da Vinci                  .pptx
Leonardo da Vinci .pptx
TomasSousa7
 
A festa junina é uma tradicional festividade popular que acontece durante o m...
A festa junina é uma tradicional festividade popular que acontece durante o m...A festa junina é uma tradicional festividade popular que acontece durante o m...
A festa junina é uma tradicional festividade popular que acontece durante o m...
ANDRÉA FERREIRA
 
PP Slides Lição 11, Betel, Ordenança para exercer a fé, 2Tr24.pptx
PP Slides Lição 11, Betel, Ordenança para exercer a fé, 2Tr24.pptxPP Slides Lição 11, Betel, Ordenança para exercer a fé, 2Tr24.pptx
PP Slides Lição 11, Betel, Ordenança para exercer a fé, 2Tr24.pptx
LuizHenriquedeAlmeid6
 
Fernão Lopes. pptx
Fernão Lopes.                       pptxFernão Lopes.                       pptx
Fernão Lopes. pptx
TomasSousa7
 
Slides Lição 11, Central Gospel, Os Mortos Em CRISTO, 2Tr24.pptx
Slides Lição 11, Central Gospel, Os Mortos Em CRISTO, 2Tr24.pptxSlides Lição 11, Central Gospel, Os Mortos Em CRISTO, 2Tr24.pptx
Slides Lição 11, Central Gospel, Os Mortos Em CRISTO, 2Tr24.pptx
LuizHenriquedeAlmeid6
 
REGULAMENTO DO CONCURSO DESENHOS AFRO/2024 - 14ª edição - CEIRI /UREI (ficha...
REGULAMENTO  DO CONCURSO DESENHOS AFRO/2024 - 14ª edição - CEIRI /UREI (ficha...REGULAMENTO  DO CONCURSO DESENHOS AFRO/2024 - 14ª edição - CEIRI /UREI (ficha...
REGULAMENTO DO CONCURSO DESENHOS AFRO/2024 - 14ª edição - CEIRI /UREI (ficha...
Eró Cunha
 
Reino-Vegetal plantas e demais conceitos .pptx
Reino-Vegetal plantas e demais conceitos .pptxReino-Vegetal plantas e demais conceitos .pptx
Reino-Vegetal plantas e demais conceitos .pptx
CarinaSantos916505
 
Telepsiquismo Utilize seu poder extrassensorial para atrair prosperidade (Jos...
Telepsiquismo Utilize seu poder extrassensorial para atrair prosperidade (Jos...Telepsiquismo Utilize seu poder extrassensorial para atrair prosperidade (Jos...
Telepsiquismo Utilize seu poder extrassensorial para atrair prosperidade (Jos...
fran0410
 
As sequências didáticas: práticas educativas
As sequências didáticas: práticas educativasAs sequências didáticas: práticas educativas
As sequências didáticas: práticas educativas
rloureiro1
 
UFCD_4667_Preparação e confeção de molhos e fundos de cozinha_índice.pdf
UFCD_4667_Preparação e confeção de molhos e fundos de cozinha_índice.pdfUFCD_4667_Preparação e confeção de molhos e fundos de cozinha_índice.pdf
UFCD_4667_Preparação e confeção de molhos e fundos de cozinha_índice.pdf
Manuais Formação
 
A QUESTÃO ANTROPOLÓGICA: O QUE SOMOS OU QUEM SOMOS.pdf
A QUESTÃO ANTROPOLÓGICA: O QUE SOMOS OU QUEM SOMOS.pdfA QUESTÃO ANTROPOLÓGICA: O QUE SOMOS OU QUEM SOMOS.pdf
A QUESTÃO ANTROPOLÓGICA: O QUE SOMOS OU QUEM SOMOS.pdf
AurelianoFerreirades2
 
APRESENTAÇÃO PARA AULA DE URGÊNCIA E EMERGÊNCIA
APRESENTAÇÃO PARA AULA DE URGÊNCIA E EMERGÊNCIAAPRESENTAÇÃO PARA AULA DE URGÊNCIA E EMERGÊNCIA
APRESENTAÇÃO PARA AULA DE URGÊNCIA E EMERGÊNCIA
karinenobre2033
 
Redação e Leitura_7º ano_58_Produção de cordel .pptx
Redação e Leitura_7º ano_58_Produção de cordel .pptxRedação e Leitura_7º ano_58_Produção de cordel .pptx
Redação e Leitura_7º ano_58_Produção de cordel .pptx
DECIOMAURINARAMOS
 
-Rudolf-Laban-e-a-teoria-do-movimento.ppt
-Rudolf-Laban-e-a-teoria-do-movimento.ppt-Rudolf-Laban-e-a-teoria-do-movimento.ppt
-Rudolf-Laban-e-a-teoria-do-movimento.ppt
fagnerlopes11
 
epidemias endemia-pandemia-e-epidemia (1).ppt
epidemias endemia-pandemia-e-epidemia (1).pptepidemias endemia-pandemia-e-epidemia (1).ppt
epidemias endemia-pandemia-e-epidemia (1).ppt
MarceloMonteiro213738
 
Vogais Ilustrados para alfabetização infantil
Vogais Ilustrados para alfabetização infantilVogais Ilustrados para alfabetização infantil
Vogais Ilustrados para alfabetização infantil
mamaeieby
 
Slide de biologia aula2 2 bimestre no ano de 2024
Slide de biologia aula2  2 bimestre no ano de 2024Slide de biologia aula2  2 bimestre no ano de 2024
Slide de biologia aula2 2 bimestre no ano de 2024
vinibolado86
 
O Profeta Jeremias - A Biografia de Jeremias.pptx4
O Profeta Jeremias - A Biografia de Jeremias.pptx4O Profeta Jeremias - A Biografia de Jeremias.pptx4
O Profeta Jeremias - A Biografia de Jeremias.pptx4
DouglasMoraes54
 
cronograma-enem-2024-planejativo-estudos.pdf
cronograma-enem-2024-planejativo-estudos.pdfcronograma-enem-2024-planejativo-estudos.pdf
cronograma-enem-2024-planejativo-estudos.pdf
todorokillmepls
 

Último (20)

UFCD_3546_Prevenção e primeiros socorros_geriatria.pdf
UFCD_3546_Prevenção e primeiros socorros_geriatria.pdfUFCD_3546_Prevenção e primeiros socorros_geriatria.pdf
UFCD_3546_Prevenção e primeiros socorros_geriatria.pdf
 
Leonardo da Vinci .pptx
Leonardo da Vinci                  .pptxLeonardo da Vinci                  .pptx
Leonardo da Vinci .pptx
 
A festa junina é uma tradicional festividade popular que acontece durante o m...
A festa junina é uma tradicional festividade popular que acontece durante o m...A festa junina é uma tradicional festividade popular que acontece durante o m...
A festa junina é uma tradicional festividade popular que acontece durante o m...
 
PP Slides Lição 11, Betel, Ordenança para exercer a fé, 2Tr24.pptx
PP Slides Lição 11, Betel, Ordenança para exercer a fé, 2Tr24.pptxPP Slides Lição 11, Betel, Ordenança para exercer a fé, 2Tr24.pptx
PP Slides Lição 11, Betel, Ordenança para exercer a fé, 2Tr24.pptx
 
Fernão Lopes. pptx
Fernão Lopes.                       pptxFernão Lopes.                       pptx
Fernão Lopes. pptx
 
Slides Lição 11, Central Gospel, Os Mortos Em CRISTO, 2Tr24.pptx
Slides Lição 11, Central Gospel, Os Mortos Em CRISTO, 2Tr24.pptxSlides Lição 11, Central Gospel, Os Mortos Em CRISTO, 2Tr24.pptx
Slides Lição 11, Central Gospel, Os Mortos Em CRISTO, 2Tr24.pptx
 
REGULAMENTO DO CONCURSO DESENHOS AFRO/2024 - 14ª edição - CEIRI /UREI (ficha...
REGULAMENTO  DO CONCURSO DESENHOS AFRO/2024 - 14ª edição - CEIRI /UREI (ficha...REGULAMENTO  DO CONCURSO DESENHOS AFRO/2024 - 14ª edição - CEIRI /UREI (ficha...
REGULAMENTO DO CONCURSO DESENHOS AFRO/2024 - 14ª edição - CEIRI /UREI (ficha...
 
Reino-Vegetal plantas e demais conceitos .pptx
Reino-Vegetal plantas e demais conceitos .pptxReino-Vegetal plantas e demais conceitos .pptx
Reino-Vegetal plantas e demais conceitos .pptx
 
Telepsiquismo Utilize seu poder extrassensorial para atrair prosperidade (Jos...
Telepsiquismo Utilize seu poder extrassensorial para atrair prosperidade (Jos...Telepsiquismo Utilize seu poder extrassensorial para atrair prosperidade (Jos...
Telepsiquismo Utilize seu poder extrassensorial para atrair prosperidade (Jos...
 
As sequências didáticas: práticas educativas
As sequências didáticas: práticas educativasAs sequências didáticas: práticas educativas
As sequências didáticas: práticas educativas
 
UFCD_4667_Preparação e confeção de molhos e fundos de cozinha_índice.pdf
UFCD_4667_Preparação e confeção de molhos e fundos de cozinha_índice.pdfUFCD_4667_Preparação e confeção de molhos e fundos de cozinha_índice.pdf
UFCD_4667_Preparação e confeção de molhos e fundos de cozinha_índice.pdf
 
A QUESTÃO ANTROPOLÓGICA: O QUE SOMOS OU QUEM SOMOS.pdf
A QUESTÃO ANTROPOLÓGICA: O QUE SOMOS OU QUEM SOMOS.pdfA QUESTÃO ANTROPOLÓGICA: O QUE SOMOS OU QUEM SOMOS.pdf
A QUESTÃO ANTROPOLÓGICA: O QUE SOMOS OU QUEM SOMOS.pdf
 
APRESENTAÇÃO PARA AULA DE URGÊNCIA E EMERGÊNCIA
APRESENTAÇÃO PARA AULA DE URGÊNCIA E EMERGÊNCIAAPRESENTAÇÃO PARA AULA DE URGÊNCIA E EMERGÊNCIA
APRESENTAÇÃO PARA AULA DE URGÊNCIA E EMERGÊNCIA
 
Redação e Leitura_7º ano_58_Produção de cordel .pptx
Redação e Leitura_7º ano_58_Produção de cordel .pptxRedação e Leitura_7º ano_58_Produção de cordel .pptx
Redação e Leitura_7º ano_58_Produção de cordel .pptx
 
-Rudolf-Laban-e-a-teoria-do-movimento.ppt
-Rudolf-Laban-e-a-teoria-do-movimento.ppt-Rudolf-Laban-e-a-teoria-do-movimento.ppt
-Rudolf-Laban-e-a-teoria-do-movimento.ppt
 
epidemias endemia-pandemia-e-epidemia (1).ppt
epidemias endemia-pandemia-e-epidemia (1).pptepidemias endemia-pandemia-e-epidemia (1).ppt
epidemias endemia-pandemia-e-epidemia (1).ppt
 
Vogais Ilustrados para alfabetização infantil
Vogais Ilustrados para alfabetização infantilVogais Ilustrados para alfabetização infantil
Vogais Ilustrados para alfabetização infantil
 
Slide de biologia aula2 2 bimestre no ano de 2024
Slide de biologia aula2  2 bimestre no ano de 2024Slide de biologia aula2  2 bimestre no ano de 2024
Slide de biologia aula2 2 bimestre no ano de 2024
 
O Profeta Jeremias - A Biografia de Jeremias.pptx4
O Profeta Jeremias - A Biografia de Jeremias.pptx4O Profeta Jeremias - A Biografia de Jeremias.pptx4
O Profeta Jeremias - A Biografia de Jeremias.pptx4
 
cronograma-enem-2024-planejativo-estudos.pdf
cronograma-enem-2024-planejativo-estudos.pdfcronograma-enem-2024-planejativo-estudos.pdf
cronograma-enem-2024-planejativo-estudos.pdf
 

Relações existentes entre o poema Estudos para uma Bailadora Andaluza de João Cabral de Melo Neto e a Dança Flamenca

  • 1. Relações existentes entre o poema “Estudos para uma Bailadora Andaluza” de João Cabral de Melo Neto e a dança flamenca Departamento de Ciências Humanas Letras Orientação de Estágio Professora Dr. Rodrigo Garcia Barbosa Aleques Mateus Ana Carolina de Abreu Cila Tâmara da Silva Keila Aparecida Pereira Yele Mesquita Lavras 2014/1
  • 2. Um dos poemas do poeta que retrata a dança flamenca, e as bailarinas é o poema “Estudos para uma Bailadora Andaluza”. O título do poema já é uma referencia que o poeta faz a bailarina da região onde surgiu o Flamenco, ou seja, a Andaluza.
  • 3. Dir-se-ia, quando aparece dançando por siguiriyas, que com a imagem do fogo inteira se identifica. Todos os gestos do fogo que então possui dir-se-ia: gestos das folhas do fogo, de seu cabelo, sua língua; gestos do corpo do fogo, de sua carne em agonia, carne de fogo, só nervos, carne toda em carne viva. Então, o caráter do fogo nela também se adivinha: mesmo gosto dos extremos, de natureza faminta, gosto de chegar ao fim do que dele se aproxima, gosto de chegar-se ao fim, de atingir a própria cinza. Porém a imagem do fogo é num ponto desmentida: que o fogo não é capaz como ela é, nas siguiriyas, de arrancar-se de si mesmo numa primeira faísca, nessa que, quando ela quer, vem e acende-a fibra a fibra, que somente ela é capaz de acender-se estando fria, de incendiar-se com nada, de incendiar-se sozinha.
  • 4. Subida ao dorso da dança (vai carregada ou a carrega?) é impossível se dizer se é a cavaleira ou a égua. Ela tem na sua dança toda a energia retesa e todo o nervo de quando algum cavalo se encrespa. Isto é: tanto a tensão de quem vai montado em sela, de quem monta um animal e só a custo o debela, como a tensão do animal dominado sob a rédea, que ressente ser mandado e obedecendo protesta. Então, como declarar se ela é égua ou cavaleira: há uma tal conformidade entre o que é animal e é ela, entre a parte que domina e a parte que se rebela, entre o que nela cavalga e o que é cavalgado nela, que o melhor será dizer de ambas, cavaleira e égua, que são de uma mesma coisa e que um só nervo as inerva,   e que é impossível traçar nenhuma linha fronteira entre ela e a montaria: ela é a égua e a cavaleira.
  • 5. Quando está taconeando, a cabeça, atenta, inclina, como se buscasse ouvir alguma voz indistinta. Há nessa atenção curvada muito de telegrafista, atento para não perder a mensagem transmitida. Mas o que faz duvidar possa ser telegrafia aquelas respostas que suas pernas pronunciam é que a mensagem de quem lá do outro lado da linha ela responde tão séria nos passa despercebida. Mas depois já não há dúvida: é mesmo telegrafia: mesmo que não se perceba a mensagem recebida, se vem de um ponto no fundo do tablado ou de sua vida, se a linguagem do diálogo é em código ou ostensiva, já não cabe duvidar: deve ser telegrafia: basta escutar a dicção tão morse e tão desflorida, linear, numa só corda, em ponto e traço, concisa, a dicção em preto e branco de sua perna polida
  • 6. Ela não pisa na terra como quem a propicia para que lhe seja leve quando se enterre, num dia. Ela a trata com a dura e muscular energia do camponês que cavando sabe que a terra amacia. Do camponês de quem tem sotaque andaluz caipira e o tornozelo robusto que mais se planta que pisa. Assim, em vez dessa ave assexuada e mofina, coisa a que parece sempre aspirar a bailarina, esta se quer uma árvore firme na terra, nativa, que não quer negar a terra nem, como ave, fugi-la. Árvore que estima a terra de que se sabe família e por isso trata a terra com tanta dureza íntima. Mais: que ao se saber da terra não só na terra se afinca pelos troncos dessas pernas fortes, terrenas, maciças, mas se orgulha de ser terra e dela se reafirma, batendo-a enquanto dança, para vencer quem duvida.
  • 7. Sua dança sempre acaba igual como começa, tal esses livros de iguais coberta e contra-coberta: com a mesma posição como que talhada em pedra: um momento está estátua, desafiante, à espera. Mas se essas duas estátuas mesma atitude observam, aquilo que desafiam parece coisas diversas. A primeira das estátuas que ela é, quando começa, parece desafiar alguma presença interna que no fundo dela própria, fluindo, informe e sem regra, por sua vez a desafia a ver quem é que a modela. Enquanto a estátua final, por igual que ela pareça, que ela é, quando um estilo já impôs à íntima presa,   parece mais desafio a quem está na assistência, como para indagar quem a mesma façanha tenta. O livro de sua dança capas iguais o encerram: com a figura desafiante de suas estátuas acesas.
  • 8. Na sua dança se assiste como ao processo da espiga: verde, envolvida de palha; madura, quase despida. Parece que sua dança ao ser dançada, à medida que avança, a vai despojando da folhagem que a vestia. Não só da vegetação de que ela dança vestida (saias folhudas e crespas do que no Brasil é chita), mas também dessa outra flora a que seus braços dão vida, densa floresta de gestos a que dão vida a agonia. Na verdade, embora tudo aquilo que ela leva em cima, embora, de fato, sempre, continue nela a vesti-la, parece que vai perdendo a opacidade que tinha e, como a palha que seca, vai aos poucos entreabrindo-a. Ou então é que essa folhagem vai ficando impercebida: porque terminada a dança embora a roupa persista,   a imagem que a memória conservará em sua vista é a espiga, nua e espigada, rompente e esbelta, em espiga.