Universidade Sénior Contemporânea do Porto: Cadeira de História do Porto, lecionada pelo Professor Doutor Artur Filipe dos Santos - igreja Nossa Senhora do Patrocínio, Capela e Eecolhimento do Ferro
História do Recolhimento do Ferro e da Igreja de Nossa Senhora do Patrocínio
1. Cadeira de
HISTÓRIA DO PORTO
Coleção de Manuais da Universidade
Sénior Contemporânea
Professor Doutor
Artur Filipe dos Santos
1
2. 2
Igreja de Nossa Senhora do Patrocínio, Recolhimento
Do Ferro, Capela de Nossa Senhora do Ferro
3. Igreja de Nossa Senhora do Patrocínio
e Recolhimento do Ferro
Igreja de traça barroca,
construída na segunda
metade do século XVIII.
Para aqui se transferiu o
Recolhimento do Ferro,
inicialmente situado na
Rua Escura.
3
4. • Segundo um autor do
século XVIII, o nome
advém-lhe de um ferro
que atravessava a porta
da primitiva igreja. Esta
ficava próxima das antigas
cadeias e, segundo a
tradição, o ferro livrava da
morte os condenados que
o alcançassem.
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Interior: sala anexa à escadaria do
recolhimento
5. Recolhimento de Nossa Senhora do
Patrocínio da Mãe de Deus
e Santa Maria
• O Recolhimento foi
fundado em 1681, junto
à Capela de Nossa
Senhora do Ferro, num
edifício da Rua Escura,
63.
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7. • Em 1746, recebeu
largas doações dos
Morgados do Carregal,
Luís António Girão
Teixeira Lobo Ferreira
Carneiro de
Vasconcellos e mulher
Dona Teodora Inácia de
Azevedo e Lacerda
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8. • Anos mais tarde, em
1757, transferiu-se para
as Escadas do Codeçal,
começando-se a
construção da Igreja em
1777, com a ajuda do
Bispo do Porto, Dom
João Rafael de
Mendonça
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9. • Os estatutos do novo
Recolhimento foram
aprovados em 1790,
tomando o nome de
Recolhimento de Nossa
Senhora do Patrocínio da
Mãe de Deus e Santa
Maria Madalena, mas
mantendo sempre a
designação popular de
Recolhimento de Nossa
Senhora do Ferro.
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10. • O Recolhimento do
Ferro é um antigo
edifício religioso de
assistência
(recolhimento),
localizado na freguesia
da Sé, Porto, tendo em
anexo a Igreja de Nossa
Senhora do Patrocínio.
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11. • História
Foi fundado no século
XV na zona da Sé, à
entrada da Rua Escura.
Funcionava como um
albergue de prostitutas
e mulheres
abandonadas.
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12. • Tinha uma capela
pegada, que ostentava
na frontaria o ano de
1681 que corresponde a
uma remodelação, dado
que a capela era
provavelmente mais
antiga.
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13. • Era ocupada pelos
meninos do coro da
Catedral, mas quando
eles abandonaram o
pequeno prédio, este
foi ocupado por
mulheres sem recursos
e viúvas pobres.
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14. • Em 1681, o anexo onde
se recolhiam as
mulheres é alvo de
obras e é criado o
Recolhimento do Ferro.
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15. • A capela chamava-se Capela
de Nossa Senhora do Ferro
porque tinha um ferro
atravessado de lado a lado
da porta, supostamente
mandado colocar devido a
um privilégio concedido por
um dos nossos primeiros
reis: o condenado que
saísse da Cadeia do Aljube e
por ali passasse para ser
enforcado e conseguisse
chegar a tocar no ferro já
não seria executado.
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16. • É sabido que os
condenados tinham que
passar diante da capela
em direção a Mijavelhas
onde ficava a forca. Não
consta que algum
condenado tenha
evitado a morte por
beneficiar do privilégio.
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17. • .Posteriormente, foi
também conhecida por
Capela de São Sebastião,
por causa de uma
imagem do santo
protector contra a peste
que foi ali guardada pela
Diocese no fim do século
XVIII, após a demolição da
Porta de S. Sebastião,
uma das quatro portas da
Muralha Primitiva do
Porto.
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2. Porta de São Sebastião: próxima da Antiga
Casa da Câmara; foi demolida em 1819
18. • Em 1854, com a
epidemia de cólera-
mórbus, sabe-se que os
moradores da Sé
invocaram a protecção
de São Sebastião e
escaparam
"milagrosamente",
passando a comemorar
ao santo todos os anos,
a 20 de Janeiro.
18
19. • Nos começos do século
XVIII pensou-se em
remodelar e melhorar
as instalações. Mas a
ideia não foi por diante.
19
20. • Em frente, na rua de S.
Sebastião, do Aljube, era
possível ver o que se
passava no interior do
recolhimento, pelo que o
novo recolhimento seria
construído nas Escadas
do Codeçal em terrenos
que uma senhora D.
Josefa Maria doara por
escritura de 17 de Março
de 1729.
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21. • A doadora impôs por
condição que o
recolhimento tomasse
por padroeira Santa
Maria Madalena, por
recolher prostitutas que
desejassem abandonar a
"velha profissão", bem
como mulheres casadas e
de família com o avalo
dos maridos.
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22. • Hoje chega a dizer-se,
erradamente, que aqui
eram enclausuradas as
adulteras pelos seus
maridos. Aqui as
internadas viviam
modestamente,
sustentando-se "com o
produto do seu
trabalho" Observavam
regras muito rígidas.
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23. • As regentes da
instituição eram eleitas
por todas as internas
mas os estatutos não
permitiam a realização
de festas para festejar a
eleição da dita regente.
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24. • No século XIX o edificio foi
abandonado por causa das
Invasões Francesas e das
Lutas Liberais. Extinto, ficou
abandonado. Nos anos 30
do século XX, os
rebentamentos de
explosivos para a abertura
do Túnel da Ribeira
abalaram-no, tendo sido
restaurado e sendo hoje
propriedade da Junta de
Freguesia da Sé, que lá
instalou o seu centro social
e cultural.
24
25. • Quem não ouviu já falar
do Recolhimento do Ferro
e da antiquíssima Capela
de Nossa Senhora do
Ferro, que existiram
numa reentrância da Rua
Escura, à entrada da
antiga Viela dos Gatos e
que hoje, muito
modificada, se chama
Travessa de São Sebastião
? Já lá vai tudo, capela e
recolhimento.
25
26. • Nos começos do século
XVIII pensou em
remodelar-se e melhorar-
se as instalações da Rua
Escura. Mas a ideia não
foi por diante. Em frente,
na rua de S. Sebastião,
ficava o aljube e das
janelas deste presídio era
possível devassar tudo o
que se passava no interior
do antigo recolhimento.
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27. • Decidiu-se, então, pela
construção de novas
instalações em sítio
adequado. O edifício pa-ra a
instalação do novo
recolhimento seria
construído no Codessal (era
esta a grafia antiga) em
terrenos que uma tal Josefa
Maria doara gratuitamente,
por escritura de 17 de
Março de 1729, " às
recolhidas e convertidas do
Recolhimento de Nossa
Senhora do Ferro".
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28. • Algumas condições foram impostas
pela doadora. Uma delas era a de
que o Recolhimento tomasse por
padroeira "a grande exemplar da
castidade" Santa Maria Madalena. E
porquê? Porque na instituição
deviam ser recebidas "todas aquelas
mulheres que arrependidas da má
vida e costumes dissolutos do
mundo, se quisessem naquele
Recolhimento" que era destinado,
sobretudo, "às mulheres de idade de
15 até 30 anos e bem parecidas e que
por tais (serem) servissem de maior
ruína das almas..."
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29. • A instituição, depois da
transferência da Rua escura para
o Codeçal, passou a ser
conhecida pela designação de
Recolhimento de Nossa Senhora
do Patrocínio e Santa Maria
Madalena. Mas em alguns
documentos e livros também é
designada por Recolhimento do
Patrocínio da Mãe de Deus. Mas
por regra era conhecida
simplesmente por Recolhimento
do Ferro, como o era quando
estava na Rua Escura.
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Interior da igreja: retábulo-mor
30. • A construção da igreja e do
recolhimento naquele lugar airoso e
alegre, debruçado sobre o rio, não
foi de todo pacífica.
• As obras começaram antes de 1752.
Inicialmente, a ideia era a de
construir a igreja e o edifício do
recolhimento no sentido de um
paredão que se ergueu voltado para
o rio. Mas os autores do projecto e
as próprias recolhidas entenderam,
algum tempo depois, que seria
melhor construir o templo e as novas
instalações à face da rua, que é como
quem diz, das escadas.
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31. • Esta medida acarretou
outros inconvenientes,
dos quais o mais
complicado foi levantado
por um alferes da
Guarnição do Porto que
morava do outro lado da
rua e se queixou de que a
obra lhe tirava as vistas
sobre o rio. Este óbice,
porém, acabaria por ser
resolvido e a obra
prosseguiu.
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32. • Em 21 de Agosto de 1764,
os mestres pedreiros José
da Costa e António da Silva
assumiram a obrigação de
fazerem as obras da
portaria onde deviam ficar a
roda e a grade através da
qual as recolhidas podiam
falar com as pessoas que as
procurassem. Esta
empreitada foi ajustada
àqueles mestres pela
quantia de 130 mil reis. A
obra que foi construída é a
que ainda subsiste.
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33. • Henrique Duarte de Sousa Reis,
que escreveu em meados do
século XIX, deixou escrito que o
Recolhimento se destinava, no
seu tempo, "à clausura de
senhoras e meninas que seus
superiores, por conveniências
públicas ou particulares,
entendessem dever retirar do
século e que nele (recolhimento)
também se fazem depósitos
judiciais de desposadas, quando
é preciso..."
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34. IGREJA E RECOLHIMENTO DE NOSSA SENHORA DO
PATROCÍNIO / IGREJA E RECOLHIMENTO DO FERRO /
RECOLHIMENTO DE NOSSA SENHORA DO PATROCÍNIO DA
MÃE DE DEUS E DE SANTA MARIA MADALENA /
RECOLHIMENTO DAS CONVERTIDAS DO FERRO
• Arquitectura religiosa
barroca e rococó. Edifício
de planta composta, que
resulta da associação do
corpo da igreja, de nave e
capela-mor rectangulares,
como corpo do anterior
recolhimento de planta
alongada
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35. • O portal principal com
pórtico de colunas coríntias
duplas, uma delas
encastrada, suporta frontão
curvo interrompido com
concheados no tímpano.
Um janelão engradado
abre-se sobre a padieira
decorada com volutas e
concheados. A sobrepujar o
janelão, frontão
contracurvado
interrompido.
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36. • Os janelões que
ladeiam o portal
principal e os três
janelões da capela-mor,
com tímpanos elevados
decorados com
conchas, frisos e
acantos, apresentam-se
encimados por frontões
ondulados e com
volutas.
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37. • Predominância de
capitéis coríntios até no
interior da igreja.
Profusão de conchas,
concheados e folhas de
acanto em todos os vãos
das paredes laterais da
igreja. Portal barroco no
interior da portaria,
encimado por
exuberantes volutas
intercaladas por flores.
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39. Capela de Nossa Senhora do Ferro
• Quem não ouviu já falar do
Recolhimento do Ferro e da
antiquíssima Capela de
Nossa Senhora do Ferro,
que existiram numa
reentrância da Rua Escura, à
entrada da antiga Viela dos
Gatos (chamava-se
anteriornente Viela do
Forno) e que hoje, muito
modificada, se chama
Travessa de São Sebastião?
Já lá vai tudo, capela e
recolhimento.
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40. Capela de Nossa Senhora do Ferro
• A esta capela andava ligada
uma lenda, segundo a qual
os condenados a morrer na
forca, que ficava em
Mijavelhas (Campo de 24 de
Agosto), livravam-se da
morte se conseguissem
deitar a mão a um ferro que
atravessava a porta do
templo à altura da padieira.
Daí a designação de Capela
do Ferro.
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41. • A capela atrás referida, chamava-
se, inicialmente, Capela da
Senhora do Ferro mas,
posteriormente, foi também
conhecida por Capela de S.
Sebastião - por causa de uma
imagem que nela havia do santo
protector contra a peste.
Essa imagem, segundo uma velha
tradição, estivera numa edícula
situada na parte cimeira da porta
da cerca velha que, por isso
mesmo, tinha o nome de Porta
de S. Sebastião.
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42. • Os devotos chegaram,
inclusivamente, a
substituir a antiga
imagem de S.
Sebastião por uma mais
moderna que, após a
demolição da capela, em
1928,
foi levada
para a Capela de Nossa
Senhora dos Anjos ou de
Santa Catarina, em
Lordelo do Ouro.
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43. • O cortejo com os presos
condenados à morte tinha
obrigatoriamente que passar
pela Rua Escura por que as
prisões ficavam ali perto, na
Rua de S. Sebastião. Segundo
uma crónica de Frei Agostinho
de Santa Maria, os homens da
Justiça "iam todos encostados à
parte oposta da capela, para
que o padecente que por ali
passasse não pudesse deitar a
mão ao ferro da capela…"
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