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A obra cronística de Fernão Lopes
1. Introdução
2. Contexto histórico
1) Nacionalismo político: depois da crise de 1383 – 1385, que termina com a
Batalha de Aljubarrota (1385) e a independência de Portugal há um sentimento
de otimismo e esperança. Lembremos que esta independência foi conseguida
pelo povo com a ajuda do Mestre de Avis, já que a nobreza apoiou a aliança
com Castela pretendida pela rainha regente, Leonor Teles. No relato destes
feitos nas crónicas de Fernão Lopes o povo, ao que denomina arraia miúda,
volvera-se o protagonista.
2) Nacionalismo linguístico: já D. Dinis tinha promulgado leis para promover
o uso do português na prosa, face ao latim, mas são os membros da geração
de Avis os que criam uma literatura portuguesa em prosa, abrindo um caminho
que continuaria Fernão Lopes.
Vida
Da vida de Fernão Lopes temos muito poucos dados:
1) Teria nascido entre 1380 e 1390.
2) Teria pertencido ao povo e aprenderia a ler e escrever em português e
outras línguas para desempenhar o ofício de tabelião, quer dizer, de redator de
documentos oficiais.
3) Desempenhou os cargos de:
a) Guarda-mor ou arquiveiro da Torre do Tombo. Conservamos o documento
no que D. Duarte lhe dá este cargo.
b) Cronista-mor do reino de Portugal, cargo criado por D. Duarte. Também
conservamos o documento no que o rei lhe encomenda a Fernão Lopes a
redação das crónicas de todos os reis de Portugal. Durante o reinado de
2
Afonso V, sucessor de D. Duarte, Fernão Lopes continua a exercer de cronista-
-mor do reino, mas o rei nome um sucessor já que diz numa carta que Fernão
Lopes esta tam velho e fraco que precisa ser substituído. O seu sucessor seria
Gomes Eanes de Zurara.
2. Obras conservadas
Fernão Lopes, ao ser arquiveiro da Torre do Tombo, tem aceso a muitos
documentos, o que lhe facilita a redação das suas crónicas. Só conservamos
dele três crónicas:
1) Crónica do rei D. Pedro, na que pela primeira vez aparece em prosa a
história de Inês de Castro.
2) Crónica do rei D. Fernando, na que recolhe os acontecimentos do reinado
de D. Fernando e os que se passam um pouco depois da sua morte, quando
governa a rainha regente Leonor Teles, figura à que Fernão Lopes lhe presta
especial atenção.
3) Crónica do rei D. João, a mais volumosa de todas. Está dividida em duas
partes:
a) Primeira parte → pré-Aljubarrota: narra os acontecimentos que tiveram lugar
após a morte de D. Fernando até que se designa como rei de D. João I.
b) Segunda parte → pós-Aljubarrota: narra os acontecimentos do reinado de
D. João I.
Há indícios de que Fernão Lopes tivesse escrito outras crónicas anteriores à de
D. Pedro, já que ele mesmo faz nestas obras referências a crónicas como a de
D. Sancho I, que diz que ele escreveu mas que não conservamos.
A Crónica do condestabre, na que o protagonista é o condestável Nuno Álvares
Pereira, foi-lhe também atribuída a Fernão Lopes já que esta personagem tem
muito protagonismo na Crónica do rei D. João I. Porém, na atualidade não se
acredita que a autoria da Crónica do condestabre seja de Fernão Lopes e
considera-se uma crónica anónima.
3. A conceção da História
3
Prólogo da Crónica de D. João I
Grande licença deu a afeiçom a
muitos que teverom cárrego d'ordenar
estorias, moormente dos senhores em
cuja mercee e terra viviam e u forom
nados seus antigos avoos, seendo-lhe
muito favorávees no recontamento de
seus feitos; e tal favoreza como esta
nace de mundanal afeiçom, a qual
nom é salvo conformidade dalgüa
cousa ao entendimento do homem.
Assi que a terra em que os homeés
per longo costume e tempo forom
criados geera üa tal eonformidade
antre o seu entendimento e ela que,
avendo de julgar algüa sua cousa,
assim em louvor como per contrairo,
nunca per eles é dereitamente
recontada; porque, louvando-a, dizem
sempre mais daquelo que é; e, se
doutro modo, nom escrevem suas
perdas tam minguadamente como
acontecerom.
O afeto à terra pode levar à perda
da objetividade.
Outra cousa geera ainda esta
conformidade e natural inclinaçom,
segundo sentença dalguüs, dizendo
que o pregoeiro da vida, que é a
fame, recebendo refeiçom pera o
corpo, o sangue e espritos geerados
de taes virandas tem üa tal
O sentimento de dívida com a
pessoa que lhe paga ao cronista
também pode levar à perda da
objetividade.
4
semelhança antre si que causa esta
conformidade. Alguüs outros teveron
que esto decia na semente, no tempo
da geeraçom; a qual despõe per tal
guisa aquelo que dela é geerado, que
lhe fica esta conformidade tam bem
acerca da terra como de seus dívidos.
E assi parece que o sentio Túlio,
quando veo a dizer: «Nós nom somos
nados a nós meesmos, porque üa
parte de nós tem a terra e outra os
parentes.» E porém o juizo do
homem, acena de tal terra ou
pessoas, recontando seus feitos,
sempre çopega 1.
Esta mundanal afeiçom fez a alguüs
estoriadores que os feitos de Castela
com os de Portugal escreverom,
posto que 2 homeës de boa
autoridade fossem, desviar da dereita
estrada e correr per semideiros
escusos, por as mínguas das terras
de que eram em certos passos
claramente nom seerem vistas; e
espicialmente no grande desvairo que
o mui virtuoso Rei da boa memoria
Dom Joam, cujo regimento e reinado
se segue, ouve com o nobre e
poderoso Rei Dom Joam de Castela,
poendo parte de seus boõs feitos fora
do louvor que mereciam, e ëadendo3
em alguãs outros da guisa que nom
Crítica implícita a López de Ayala
pela sua parcialidade.
5
acontecerom, atrevendose a pubricar
esto em vida de taes que lhe forom
companheiros, bem sabedores de
todo o contrairo.
1 Está aí. 2 Embora.
Nós certamente levando outro modo,
posta a de parte toda a afeiçom que
por aazo das ditas razões aver
podiamos, nosso desejo foi em esta
obra escrever verdade, sem outra
mestura, leixando nos boõs
aqueecimentos todo fingido louvor, e
nuamente mostrar ao poboo
quaesquer contrairas cousas, da
guisa que aveerom.
Pretensão de objetividade.
E se o Senhor Deos a nós outorgasse
o que a alguüs escrevendo nom
negou, convem a saber, em suas
obras clara certidom da verdade, sem
duvida nom soomente mentir do que
sabemos mas ainda errando, falso
nom queriamos dizer; como assi seja
que outra cousa nom é errar salvo
cuidar que é verdade aquelo que é
falso. E nós, engando per ignorancia
de velhas escrituras e desvairados
autores, bem podiamos ditando errar;
porque, escrevendo homem do que
nom é certo, ou contará mais curto do
Diferença entre erro vs. mentira e
certeza vs. verdade. - Referência ao
importante trabalho de pesquisa e
análise das fontes, justificando
assim qualquer erro.
6
que foi, ou falará mais largo do que
deve; mas mentira em este volume é
muito afastada da nossa voontade. Ó!
com quanto cuidado e diligência
vimos grandes volumes de livros de
desvairadas linguageës e terras! e
isso meesmo púbricas escrituras de
muitos cartários e outros logares, nas
quaes, depois de longas vegilias e
grandes trabalhos mais certidom aver
não podemos da conteúda em esta
obra. E seendo achado em alguüs
livros o contrairo do que ela fala,
cuidae que nom sabedormente mas
errando muito, disserom taes cousas.
- Se outros per ventuira em esta
cronica buscam fremosura e novidade
de palavras, e nom a certidom das
estorias, desprazer-lhe-à de nosso
razoado, muito ligeiro a eles d'ouvir e
nom sem gram trabalho a nós de
ordenar. Mas nós, nom curando de
seu juizo, leixados os compostos e
afeitados razoamentos, que muito
deleitom aqueles que ouvem, ante
poemos a simprez verdade que a
afremosentada falsidade. Nem
entendaes que certificamos cousa,
salvo de muitos aprovada e per
escrituras vestidas de fé; doutra
guisa, ante nos calariamos que
Pretensão de fazer uma prosa
simples, de subordinar a formosura
formal à verdade.
7
escrever cousas falsas.
Que logar nos ficaria pera a
fremosura e afeitamento das palavras,
pois todo nosso cuidado em isto
despes4 nom basta pera ordenar a
nua verdade? Porém, apegando-nos
a ela firme, os claros feitos, dignos de
grande renembrança, do mui famoso
Rei Dom Joan, seendo Meestre, de
que guisa matou o conde Joam
Fernández, e como o poboo de
Lisboa o tomou primeiro por seu
regedor e defensor, e depois outros
alguüs do reino, e d'i em deante como
reinou e em que tempo, breve e
sãamente contados, poemos em
praça na seguinte ordem.
- Diferenciação entre as duas
partes da crónica.
4-Referência à morte do Conde
Andeeiro
5-(Joam Fernández).
3-Engadindo.
4-Usado.
5-Num dos capítulos conta-se como se produz este facto: o Mestre de Avis é
convidado a um convite no Paço, com Leornor Teles e o Conde Andeeiro. A
estratégia para matar o conde consistiu en criar confussão dizendo que íam
matar o Mestre de Avis, pelo que o povo vai socorrer o Mestre e, nessa
confussão, alguém mata o Conde Andeiro. Assim, a morte do Conde Andeeiro
da mão do Mestre de Avis ou de algum dos seus é vista como uma fazanha em
defessa própria.
8
Características gerais das suas crónicas
Fernão Lopes expõe muito pormenorizadamente no prólogo da Crónica de D.
João I qual é a sua conceção da História, mas o que ele diz na teoria não
sempre coincide com o que faz na prática:
1) Perda da objetividade pelo afeto à terra e o sentimento de dívida perante a
pessoa que encarrega as crónicas, o que faz que se exagere o positivo e
reduza o negativo. Diz Fernão Lopes que isto é que lhe passa a López de
Ayala na sua Crónica del rei D. Juan I, na que considera que privilegia os feitos
de D. Juan I de Castilha por cima dos de D. João I de Portugal. Ele diz que
quer evitar isto, mas não sempre o consegue já que é evidente o favoritismo
pela Casa de Avis, como podemos comprovar nalguns trechos:
a) Quando faz o cômputo das vítimas de Aljubarrota diz que alguns
castelhanos foram encontrados mortos e não tinham qualquer ferimento porque
morreram de medo perante os portugueses.
b) Menciona que em Aljubarrota os castelhanos fugiam só porque os
portugueses gritavam.
c) No retrato duma batalha menor diz que os portugueses lutavam contra os
castelhanos numa proporção de um português por cada seis castelhanos.
Entre os castelhanos houve centenares de mortos, mais de dez prisioneiros e
um ferido, mentes que do lado dos portugueses só houve um morto e um
ferido.
2) Faz referência à diferença entre verdade e certeza, comprometendo-se a
contar a verdade mas não a certeza, já que pode que os dados lhe cheguem
transformados, de jeito que não pode estar seguro de que conta a certeza
absoluta. Nega a mentira, mas não desbota a possibilidade de cair em erros:
Verdade/ mentira
certeza /erro
9
3) Em relação com o anterior, Fernão Lopes consulta multidão e variedade de
fontes, já que faz apuradas investigações. Faz referência a que muitas das
fontes estão em pergaminhos muito antigos e é possível que não as interprete
corretamente. Assim, quando há dúvida em quanto às fontes expõe-lhe ao
leitor as diversas versões das diferentes fontes para que ele escolha.
a) Tipos de fontes:
1. Narrativas: crónicas doutros autores, em especial de López de Ayala, ou
anónimas, às que tem aceso por ser o guarda-mor da Torre do Tombo. Assim,
cita até cinco narrativas anónimas que consulta sobre o tema de Aljubarrota e
são frequentes expressões como alguns dizem ou outros historiadores dizem
que.
2. Documentais: atas de conselhos ou das Cortes, bulas eclesiásticas,
correspondência epistolar ou epitáfios que ele denomina bitafes antigos.
b) Análise crítica das fontes:
1. Confronta a documentação contraditória e decide-se pela mais razoável.
2. Em caso de dúvida:
■ Expõe as diferentes versões para que o leitor escolha qual quiser. Um
exemplo disto encontramo-lo na narração do matrimónio póstumo de Inês de
Castro e D. Pedro I na Crónica do rei D. Pedro.
■ Prefere os documentos oficiais à opinião de narrativas literárias.
4) No prólogo expõe a sua pretensão de usar uma prosa simples, sem
ornamentação que possa levar a ambiguidade ou falsas interpretações. Porém,
na prática não sempre faz isto já que há ocasiões nas que usa metáforas,
comparações, muita adjetivação ornamental. É frequente também uma prosa
emotiva (exclamações, implicação emocional), por isso se diz dele que chora
com os que choram e ri com os que rim.
5) Pormenorização na que em muitas ocasiões se descobrem dados fictícios:
a) Transcrição de diálogos diretos.
10
b) Descrição de pormenores dificilmente comprováveis: sentimentos dos
soldados, número exato de pedradas contra um forte...
6) Protagonismo do povo, que denomina arraia miúda:
a) Faz ouvir a voz de alfaiates, pastores... Exemplos: insultos a Leonor Teles
perante o casamento da sua filha com o rei castelão; gritaria quando se pensa
que o Mestre de Avis vai ser assassinado. Isto tem também uma certa dose de
subjetividade.
b) Denomina-o ventres ao sol quando sai à rua com espírito revolucionário.
c) Apesar do seu protagonismo, também critica o povo quando exerce uma
violência injusta. Exemplo: “Alvoroço popular”
Alvoroço popular
Primeira parte da Crónica do rei D. João
Protagonismo do povo (arraia miúda e ventres ao sol), mas é criticado pela sua
violência injusta com uma abadessa por ser parente de Leonor Teles.
Subjetividade dos diálogos
- Vamos matar a aleivosa da
abadesa, que é parenta da Rainha, e
sua criada! - Eis os bêbados! Andam
com a sua bebedice... Deixai-os vós
que ainda se êles mal hão-de achar,
por estas cousas que andam fazendo!
Linguagem simples
Descrições pormenorizadas
[...] de um mosteiro não longe dêsse
lugar, dentro na cidade, em umas
suas casas, que são no muro
quebrado [...]
11
Variedade de fontes: parece expor várias, para
decidir-se pela mais razoável
- segundo alguns
recontam
- outros dizem doutra
maneira
7) Comunicação direta com o leitor, pretendendo relatar as cenas num tom
coloquial e de forma visual. Assim, destaca a expressão e ora guardai como se
fôsses presente, ou outras como vejamos ou escutemos.
***
Fernão Lopes é considerado o iniciador da história moderna, já que nas suas
crónicas inclui todas as categorias sociais portuguesas, atingindo o povo um
grande protagonismo e, ademais, defende a verdade nua e crua.
Comentário de textos
“El-Rei de Castela, com tal propósito [...] mandou-os todos decepar”
Crónica de D. João I, primeira parte:
narração da entrada dos castelhanos
em Portugal (arredor de 1383)
Ausência de objetividade:
- são muitos e muito perigosos os
castelhanos, mas os portugueses
vencerão (expressões hiperbólicas). -
Descrição dos castelhanos como um
povo muito cruel: provocam
escaramuças e roubos e decepam
lavradores (criação duma
ambientação bélica).
Pormenorização e realismo descritivo
no seguimento do itinerário dos
castelhanos.
- Comunicação direta com o leitor
“que era esanto d’oolhar” “nom havia
homem que as visse [...] que não
julgasse em breves dias todo Portugal
por perdido”
“como dissemos”
12
“Onde sabee [...] sua honra acrecentava”
Crónica de D. João I, primeira parte
1383)
Alusão às fontes
Glorificação dos portugueses: visão
dos castelhanos como crueis,
vingativos e mesmo escabrosos
Comunicação direta com o leitor
“alguns afirmam”
“assi em homeẽs como molheres e
moços pequenos, mandando-lhe
decepar as mãos e cortar as lingoas e
outras semelhantes crueldades”
“onde sabee”
“já ouvistes”
“Nenhum falamento! [...] de muitos virotões”
Crónica de D. João I, primeira parte:
narração da preparação do povo de
Lisboa para o cerco.
Protagonismo coletivo da arraia
miúda, que se prepara para o cerco
com esforço.
Pormenorização e realismo descritivo
no que faz o povo para procurar
comida e fortificar a cidade.
Usa também numerais: “setenta e
sete torres”
Comunicação direta com o leitor “nenhum falamento”
“que haveis ouvido”
“onde savei que”
13
“Oh, que formosa cousa [...] anos ata aquele tempo”
Crónica de D. João I, primeira parte:
narração do começo do cerco de
Lisboa.
Ausência de objetividade -
admirações, hipérboles e juízos de
valor. –
Referência à grandeza de Castela, o
qual glorifica aos portugueses que
suportam um exército grandioso.
Pormenorização e realismo descritivo
Comunicação direta com o leitor
Referência às fontes
Protagonismo da arraia miúda
“Oh, que formosa cousa era de ver!”
“como dissemos”
“os que o viram”
“Estando a cidade assim cercada [...] cinco mil homens”
Crónica de D. João I, primeira parte:
narração do começo do cerco de
Lisboa. Protagonismo da arraia
miúda: estratégias para conseguir
água, alimentos e defender-se dos
castelhanos durante o Cerco de
Lisboa.
Pormenorização e realismo descritivo
(sobrevivência da arraia miúda)
Alusões bíblicas
“houvera mester de o multiplicar como
fez Jesus Cristo aos pães, com que
fartou os cinco mil homens”
“Que maneira tinha a Rainha D. Leonor com o Mestre e com alguns
outros a que não tinha bom desejo”
Crónica de D. João I, primeira
14
parte: refere-se ao que seria rei como
Mestre
Protagonismo individual de D.
Leonor Teles, exemplo de
hipocrisia:
- Mostra-se amável para que não se
descubram as suas intenções de
vingança.
- Engana muito bem, é bonita por fora
e feia por dentro, já que finge não
sentir rancor pelo assassinato do seu
amante e aliado politico, João
Fernandes (Conde Andeiro) a mãos
do Mestre de Avis
“Oh, que formosa cousa era de ver!”
“Ela havia certos fundamentos [...]
feito nenhum desprazer”
“Como el-rei quisera meter hũu bispo a tormento, porque dormia com hũa
molher casada”
Crónica de D. Pedro
Protagonismo individual de D.
Pedro (o protagonismo coletivo é
mais frequente na Crónica de D. João
I do que nas outras)
Comunicação direta e coloquial com o
Conta-se como rei D. Pedro,
conhecido como o Cru e o Justiceiro,
fez “justiça” com um bispo que dormia
com uma mulher casada, mas ele não
tinha jurisdição sobre o bispo. Por
isso, os seus conselheiros advertem
que o que ele fez pode ser perigoso
perante a Igreja e perante o povo que
o poderia ver como um algoz (que
toma a justiça pelas próprias mãos)
“que vos contaremos” (linhas 12 – 13)
“e nom ponhades duvida” (linha 14)
“e nom ponhades duvida” (linha 14)
15
leitor
Importância da verdade
Descritivismo visual e pormenorização
que: - pretende dar ideia de verdade
(o autor dispõe de muitos dados); -
pode fazer suspeitar duma falta de
objetividade (pormenorização
excessiva)
Descrição pormenorizada de como o
rei e o abade se dirigem ao quarto, de
como o rei lhe tira as roupas ao abade
e como o açouta...
“Como Diego Lopez Pacheco escapou de seer preso, e forom entregues
os outros e logo mortos cruellmente”
Crónica do rei D. Pedro
Protagonismo individual Descrição
e pormenorização
Importância das fontes
É um novo exemplo da crueldade da
forma de fazer justiça de D. Pedro,
neste caso com os conselheiros que
aconselharam a Afonso IV matar a
Inês de Castro. Estes conselheiros
são Pero Coelho, Alvaro Gonçalvez e
Diego Lopez, dos quais só consegue
escapar o último. Os dois primeiros
são justiçados cruelmente.
Detalhes da jornada de caça de Diego
Lopez.
“dizem que” (linha 91)
Diz em algumas ocasiões que não
conta tudo o que sabe: - “e d’outras
cousas que lhe aveherom nom
curamos de dizer mais por nom sair
fora de propósitos” - “A maneira de
sua morte [...] seria mui estranha e
crua de contar ”
16
Afastamento da objetividade Diálogos diretos
“Leonor Teles”
Crónica do rei D. Fernando
Protagonismo individual de Leonor
Teles
- Mal vista pelo povo desde que casa
com o rei, já que era uma mulher
divorciada.
- Vista como a rainha da hipocrisia:
“lavrador de Vénus”

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A objetividade histórica em Fernão Lopes

  • 1. 1 A obra cronística de Fernão Lopes 1. Introdução 2. Contexto histórico 1) Nacionalismo político: depois da crise de 1383 – 1385, que termina com a Batalha de Aljubarrota (1385) e a independência de Portugal há um sentimento de otimismo e esperança. Lembremos que esta independência foi conseguida pelo povo com a ajuda do Mestre de Avis, já que a nobreza apoiou a aliança com Castela pretendida pela rainha regente, Leonor Teles. No relato destes feitos nas crónicas de Fernão Lopes o povo, ao que denomina arraia miúda, volvera-se o protagonista. 2) Nacionalismo linguístico: já D. Dinis tinha promulgado leis para promover o uso do português na prosa, face ao latim, mas são os membros da geração de Avis os que criam uma literatura portuguesa em prosa, abrindo um caminho que continuaria Fernão Lopes. Vida Da vida de Fernão Lopes temos muito poucos dados: 1) Teria nascido entre 1380 e 1390. 2) Teria pertencido ao povo e aprenderia a ler e escrever em português e outras línguas para desempenhar o ofício de tabelião, quer dizer, de redator de documentos oficiais. 3) Desempenhou os cargos de: a) Guarda-mor ou arquiveiro da Torre do Tombo. Conservamos o documento no que D. Duarte lhe dá este cargo. b) Cronista-mor do reino de Portugal, cargo criado por D. Duarte. Também conservamos o documento no que o rei lhe encomenda a Fernão Lopes a redação das crónicas de todos os reis de Portugal. Durante o reinado de
  • 2. 2 Afonso V, sucessor de D. Duarte, Fernão Lopes continua a exercer de cronista- -mor do reino, mas o rei nome um sucessor já que diz numa carta que Fernão Lopes esta tam velho e fraco que precisa ser substituído. O seu sucessor seria Gomes Eanes de Zurara. 2. Obras conservadas Fernão Lopes, ao ser arquiveiro da Torre do Tombo, tem aceso a muitos documentos, o que lhe facilita a redação das suas crónicas. Só conservamos dele três crónicas: 1) Crónica do rei D. Pedro, na que pela primeira vez aparece em prosa a história de Inês de Castro. 2) Crónica do rei D. Fernando, na que recolhe os acontecimentos do reinado de D. Fernando e os que se passam um pouco depois da sua morte, quando governa a rainha regente Leonor Teles, figura à que Fernão Lopes lhe presta especial atenção. 3) Crónica do rei D. João, a mais volumosa de todas. Está dividida em duas partes: a) Primeira parte → pré-Aljubarrota: narra os acontecimentos que tiveram lugar após a morte de D. Fernando até que se designa como rei de D. João I. b) Segunda parte → pós-Aljubarrota: narra os acontecimentos do reinado de D. João I. Há indícios de que Fernão Lopes tivesse escrito outras crónicas anteriores à de D. Pedro, já que ele mesmo faz nestas obras referências a crónicas como a de D. Sancho I, que diz que ele escreveu mas que não conservamos. A Crónica do condestabre, na que o protagonista é o condestável Nuno Álvares Pereira, foi-lhe também atribuída a Fernão Lopes já que esta personagem tem muito protagonismo na Crónica do rei D. João I. Porém, na atualidade não se acredita que a autoria da Crónica do condestabre seja de Fernão Lopes e considera-se uma crónica anónima. 3. A conceção da História
  • 3. 3 Prólogo da Crónica de D. João I Grande licença deu a afeiçom a muitos que teverom cárrego d'ordenar estorias, moormente dos senhores em cuja mercee e terra viviam e u forom nados seus antigos avoos, seendo-lhe muito favorávees no recontamento de seus feitos; e tal favoreza como esta nace de mundanal afeiçom, a qual nom é salvo conformidade dalgüa cousa ao entendimento do homem. Assi que a terra em que os homeés per longo costume e tempo forom criados geera üa tal eonformidade antre o seu entendimento e ela que, avendo de julgar algüa sua cousa, assim em louvor como per contrairo, nunca per eles é dereitamente recontada; porque, louvando-a, dizem sempre mais daquelo que é; e, se doutro modo, nom escrevem suas perdas tam minguadamente como acontecerom. O afeto à terra pode levar à perda da objetividade. Outra cousa geera ainda esta conformidade e natural inclinaçom, segundo sentença dalguüs, dizendo que o pregoeiro da vida, que é a fame, recebendo refeiçom pera o corpo, o sangue e espritos geerados de taes virandas tem üa tal O sentimento de dívida com a pessoa que lhe paga ao cronista também pode levar à perda da objetividade.
  • 4. 4 semelhança antre si que causa esta conformidade. Alguüs outros teveron que esto decia na semente, no tempo da geeraçom; a qual despõe per tal guisa aquelo que dela é geerado, que lhe fica esta conformidade tam bem acerca da terra como de seus dívidos. E assi parece que o sentio Túlio, quando veo a dizer: «Nós nom somos nados a nós meesmos, porque üa parte de nós tem a terra e outra os parentes.» E porém o juizo do homem, acena de tal terra ou pessoas, recontando seus feitos, sempre çopega 1. Esta mundanal afeiçom fez a alguüs estoriadores que os feitos de Castela com os de Portugal escreverom, posto que 2 homeës de boa autoridade fossem, desviar da dereita estrada e correr per semideiros escusos, por as mínguas das terras de que eram em certos passos claramente nom seerem vistas; e espicialmente no grande desvairo que o mui virtuoso Rei da boa memoria Dom Joam, cujo regimento e reinado se segue, ouve com o nobre e poderoso Rei Dom Joam de Castela, poendo parte de seus boõs feitos fora do louvor que mereciam, e ëadendo3 em alguãs outros da guisa que nom Crítica implícita a López de Ayala pela sua parcialidade.
  • 5. 5 acontecerom, atrevendose a pubricar esto em vida de taes que lhe forom companheiros, bem sabedores de todo o contrairo. 1 Está aí. 2 Embora. Nós certamente levando outro modo, posta a de parte toda a afeiçom que por aazo das ditas razões aver podiamos, nosso desejo foi em esta obra escrever verdade, sem outra mestura, leixando nos boõs aqueecimentos todo fingido louvor, e nuamente mostrar ao poboo quaesquer contrairas cousas, da guisa que aveerom. Pretensão de objetividade. E se o Senhor Deos a nós outorgasse o que a alguüs escrevendo nom negou, convem a saber, em suas obras clara certidom da verdade, sem duvida nom soomente mentir do que sabemos mas ainda errando, falso nom queriamos dizer; como assi seja que outra cousa nom é errar salvo cuidar que é verdade aquelo que é falso. E nós, engando per ignorancia de velhas escrituras e desvairados autores, bem podiamos ditando errar; porque, escrevendo homem do que nom é certo, ou contará mais curto do Diferença entre erro vs. mentira e certeza vs. verdade. - Referência ao importante trabalho de pesquisa e análise das fontes, justificando assim qualquer erro.
  • 6. 6 que foi, ou falará mais largo do que deve; mas mentira em este volume é muito afastada da nossa voontade. Ó! com quanto cuidado e diligência vimos grandes volumes de livros de desvairadas linguageës e terras! e isso meesmo púbricas escrituras de muitos cartários e outros logares, nas quaes, depois de longas vegilias e grandes trabalhos mais certidom aver não podemos da conteúda em esta obra. E seendo achado em alguüs livros o contrairo do que ela fala, cuidae que nom sabedormente mas errando muito, disserom taes cousas. - Se outros per ventuira em esta cronica buscam fremosura e novidade de palavras, e nom a certidom das estorias, desprazer-lhe-à de nosso razoado, muito ligeiro a eles d'ouvir e nom sem gram trabalho a nós de ordenar. Mas nós, nom curando de seu juizo, leixados os compostos e afeitados razoamentos, que muito deleitom aqueles que ouvem, ante poemos a simprez verdade que a afremosentada falsidade. Nem entendaes que certificamos cousa, salvo de muitos aprovada e per escrituras vestidas de fé; doutra guisa, ante nos calariamos que Pretensão de fazer uma prosa simples, de subordinar a formosura formal à verdade.
  • 7. 7 escrever cousas falsas. Que logar nos ficaria pera a fremosura e afeitamento das palavras, pois todo nosso cuidado em isto despes4 nom basta pera ordenar a nua verdade? Porém, apegando-nos a ela firme, os claros feitos, dignos de grande renembrança, do mui famoso Rei Dom Joan, seendo Meestre, de que guisa matou o conde Joam Fernández, e como o poboo de Lisboa o tomou primeiro por seu regedor e defensor, e depois outros alguüs do reino, e d'i em deante como reinou e em que tempo, breve e sãamente contados, poemos em praça na seguinte ordem. - Diferenciação entre as duas partes da crónica. 4-Referência à morte do Conde Andeeiro 5-(Joam Fernández). 3-Engadindo. 4-Usado. 5-Num dos capítulos conta-se como se produz este facto: o Mestre de Avis é convidado a um convite no Paço, com Leornor Teles e o Conde Andeeiro. A estratégia para matar o conde consistiu en criar confussão dizendo que íam matar o Mestre de Avis, pelo que o povo vai socorrer o Mestre e, nessa confussão, alguém mata o Conde Andeiro. Assim, a morte do Conde Andeeiro da mão do Mestre de Avis ou de algum dos seus é vista como uma fazanha em defessa própria.
  • 8. 8 Características gerais das suas crónicas Fernão Lopes expõe muito pormenorizadamente no prólogo da Crónica de D. João I qual é a sua conceção da História, mas o que ele diz na teoria não sempre coincide com o que faz na prática: 1) Perda da objetividade pelo afeto à terra e o sentimento de dívida perante a pessoa que encarrega as crónicas, o que faz que se exagere o positivo e reduza o negativo. Diz Fernão Lopes que isto é que lhe passa a López de Ayala na sua Crónica del rei D. Juan I, na que considera que privilegia os feitos de D. Juan I de Castilha por cima dos de D. João I de Portugal. Ele diz que quer evitar isto, mas não sempre o consegue já que é evidente o favoritismo pela Casa de Avis, como podemos comprovar nalguns trechos: a) Quando faz o cômputo das vítimas de Aljubarrota diz que alguns castelhanos foram encontrados mortos e não tinham qualquer ferimento porque morreram de medo perante os portugueses. b) Menciona que em Aljubarrota os castelhanos fugiam só porque os portugueses gritavam. c) No retrato duma batalha menor diz que os portugueses lutavam contra os castelhanos numa proporção de um português por cada seis castelhanos. Entre os castelhanos houve centenares de mortos, mais de dez prisioneiros e um ferido, mentes que do lado dos portugueses só houve um morto e um ferido. 2) Faz referência à diferença entre verdade e certeza, comprometendo-se a contar a verdade mas não a certeza, já que pode que os dados lhe cheguem transformados, de jeito que não pode estar seguro de que conta a certeza absoluta. Nega a mentira, mas não desbota a possibilidade de cair em erros: Verdade/ mentira certeza /erro
  • 9. 9 3) Em relação com o anterior, Fernão Lopes consulta multidão e variedade de fontes, já que faz apuradas investigações. Faz referência a que muitas das fontes estão em pergaminhos muito antigos e é possível que não as interprete corretamente. Assim, quando há dúvida em quanto às fontes expõe-lhe ao leitor as diversas versões das diferentes fontes para que ele escolha. a) Tipos de fontes: 1. Narrativas: crónicas doutros autores, em especial de López de Ayala, ou anónimas, às que tem aceso por ser o guarda-mor da Torre do Tombo. Assim, cita até cinco narrativas anónimas que consulta sobre o tema de Aljubarrota e são frequentes expressões como alguns dizem ou outros historiadores dizem que. 2. Documentais: atas de conselhos ou das Cortes, bulas eclesiásticas, correspondência epistolar ou epitáfios que ele denomina bitafes antigos. b) Análise crítica das fontes: 1. Confronta a documentação contraditória e decide-se pela mais razoável. 2. Em caso de dúvida: ■ Expõe as diferentes versões para que o leitor escolha qual quiser. Um exemplo disto encontramo-lo na narração do matrimónio póstumo de Inês de Castro e D. Pedro I na Crónica do rei D. Pedro. ■ Prefere os documentos oficiais à opinião de narrativas literárias. 4) No prólogo expõe a sua pretensão de usar uma prosa simples, sem ornamentação que possa levar a ambiguidade ou falsas interpretações. Porém, na prática não sempre faz isto já que há ocasiões nas que usa metáforas, comparações, muita adjetivação ornamental. É frequente também uma prosa emotiva (exclamações, implicação emocional), por isso se diz dele que chora com os que choram e ri com os que rim. 5) Pormenorização na que em muitas ocasiões se descobrem dados fictícios: a) Transcrição de diálogos diretos.
  • 10. 10 b) Descrição de pormenores dificilmente comprováveis: sentimentos dos soldados, número exato de pedradas contra um forte... 6) Protagonismo do povo, que denomina arraia miúda: a) Faz ouvir a voz de alfaiates, pastores... Exemplos: insultos a Leonor Teles perante o casamento da sua filha com o rei castelão; gritaria quando se pensa que o Mestre de Avis vai ser assassinado. Isto tem também uma certa dose de subjetividade. b) Denomina-o ventres ao sol quando sai à rua com espírito revolucionário. c) Apesar do seu protagonismo, também critica o povo quando exerce uma violência injusta. Exemplo: “Alvoroço popular” Alvoroço popular Primeira parte da Crónica do rei D. João Protagonismo do povo (arraia miúda e ventres ao sol), mas é criticado pela sua violência injusta com uma abadessa por ser parente de Leonor Teles. Subjetividade dos diálogos - Vamos matar a aleivosa da abadesa, que é parenta da Rainha, e sua criada! - Eis os bêbados! Andam com a sua bebedice... Deixai-os vós que ainda se êles mal hão-de achar, por estas cousas que andam fazendo! Linguagem simples Descrições pormenorizadas [...] de um mosteiro não longe dêsse lugar, dentro na cidade, em umas suas casas, que são no muro quebrado [...]
  • 11. 11 Variedade de fontes: parece expor várias, para decidir-se pela mais razoável - segundo alguns recontam - outros dizem doutra maneira 7) Comunicação direta com o leitor, pretendendo relatar as cenas num tom coloquial e de forma visual. Assim, destaca a expressão e ora guardai como se fôsses presente, ou outras como vejamos ou escutemos. *** Fernão Lopes é considerado o iniciador da história moderna, já que nas suas crónicas inclui todas as categorias sociais portuguesas, atingindo o povo um grande protagonismo e, ademais, defende a verdade nua e crua. Comentário de textos “El-Rei de Castela, com tal propósito [...] mandou-os todos decepar” Crónica de D. João I, primeira parte: narração da entrada dos castelhanos em Portugal (arredor de 1383) Ausência de objetividade: - são muitos e muito perigosos os castelhanos, mas os portugueses vencerão (expressões hiperbólicas). - Descrição dos castelhanos como um povo muito cruel: provocam escaramuças e roubos e decepam lavradores (criação duma ambientação bélica). Pormenorização e realismo descritivo no seguimento do itinerário dos castelhanos. - Comunicação direta com o leitor “que era esanto d’oolhar” “nom havia homem que as visse [...] que não julgasse em breves dias todo Portugal por perdido” “como dissemos”
  • 12. 12 “Onde sabee [...] sua honra acrecentava” Crónica de D. João I, primeira parte 1383) Alusão às fontes Glorificação dos portugueses: visão dos castelhanos como crueis, vingativos e mesmo escabrosos Comunicação direta com o leitor “alguns afirmam” “assi em homeẽs como molheres e moços pequenos, mandando-lhe decepar as mãos e cortar as lingoas e outras semelhantes crueldades” “onde sabee” “já ouvistes” “Nenhum falamento! [...] de muitos virotões” Crónica de D. João I, primeira parte: narração da preparação do povo de Lisboa para o cerco. Protagonismo coletivo da arraia miúda, que se prepara para o cerco com esforço. Pormenorização e realismo descritivo no que faz o povo para procurar comida e fortificar a cidade. Usa também numerais: “setenta e sete torres” Comunicação direta com o leitor “nenhum falamento” “que haveis ouvido” “onde savei que”
  • 13. 13 “Oh, que formosa cousa [...] anos ata aquele tempo” Crónica de D. João I, primeira parte: narração do começo do cerco de Lisboa. Ausência de objetividade - admirações, hipérboles e juízos de valor. – Referência à grandeza de Castela, o qual glorifica aos portugueses que suportam um exército grandioso. Pormenorização e realismo descritivo Comunicação direta com o leitor Referência às fontes Protagonismo da arraia miúda “Oh, que formosa cousa era de ver!” “como dissemos” “os que o viram” “Estando a cidade assim cercada [...] cinco mil homens” Crónica de D. João I, primeira parte: narração do começo do cerco de Lisboa. Protagonismo da arraia miúda: estratégias para conseguir água, alimentos e defender-se dos castelhanos durante o Cerco de Lisboa. Pormenorização e realismo descritivo (sobrevivência da arraia miúda) Alusões bíblicas “houvera mester de o multiplicar como fez Jesus Cristo aos pães, com que fartou os cinco mil homens” “Que maneira tinha a Rainha D. Leonor com o Mestre e com alguns outros a que não tinha bom desejo” Crónica de D. João I, primeira
  • 14. 14 parte: refere-se ao que seria rei como Mestre Protagonismo individual de D. Leonor Teles, exemplo de hipocrisia: - Mostra-se amável para que não se descubram as suas intenções de vingança. - Engana muito bem, é bonita por fora e feia por dentro, já que finge não sentir rancor pelo assassinato do seu amante e aliado politico, João Fernandes (Conde Andeiro) a mãos do Mestre de Avis “Oh, que formosa cousa era de ver!” “Ela havia certos fundamentos [...] feito nenhum desprazer” “Como el-rei quisera meter hũu bispo a tormento, porque dormia com hũa molher casada” Crónica de D. Pedro Protagonismo individual de D. Pedro (o protagonismo coletivo é mais frequente na Crónica de D. João I do que nas outras) Comunicação direta e coloquial com o Conta-se como rei D. Pedro, conhecido como o Cru e o Justiceiro, fez “justiça” com um bispo que dormia com uma mulher casada, mas ele não tinha jurisdição sobre o bispo. Por isso, os seus conselheiros advertem que o que ele fez pode ser perigoso perante a Igreja e perante o povo que o poderia ver como um algoz (que toma a justiça pelas próprias mãos) “que vos contaremos” (linhas 12 – 13) “e nom ponhades duvida” (linha 14) “e nom ponhades duvida” (linha 14)
  • 15. 15 leitor Importância da verdade Descritivismo visual e pormenorização que: - pretende dar ideia de verdade (o autor dispõe de muitos dados); - pode fazer suspeitar duma falta de objetividade (pormenorização excessiva) Descrição pormenorizada de como o rei e o abade se dirigem ao quarto, de como o rei lhe tira as roupas ao abade e como o açouta... “Como Diego Lopez Pacheco escapou de seer preso, e forom entregues os outros e logo mortos cruellmente” Crónica do rei D. Pedro Protagonismo individual Descrição e pormenorização Importância das fontes É um novo exemplo da crueldade da forma de fazer justiça de D. Pedro, neste caso com os conselheiros que aconselharam a Afonso IV matar a Inês de Castro. Estes conselheiros são Pero Coelho, Alvaro Gonçalvez e Diego Lopez, dos quais só consegue escapar o último. Os dois primeiros são justiçados cruelmente. Detalhes da jornada de caça de Diego Lopez. “dizem que” (linha 91) Diz em algumas ocasiões que não conta tudo o que sabe: - “e d’outras cousas que lhe aveherom nom curamos de dizer mais por nom sair fora de propósitos” - “A maneira de sua morte [...] seria mui estranha e crua de contar ”
  • 16. 16 Afastamento da objetividade Diálogos diretos “Leonor Teles” Crónica do rei D. Fernando Protagonismo individual de Leonor Teles - Mal vista pelo povo desde que casa com o rei, já que era uma mulher divorciada. - Vista como a rainha da hipocrisia: “lavrador de Vénus”