O documento discute os impactos sociais e ambientais da globalização segundo autores como Hervé Juvin e Maurício Waldman. Juvin argumenta que a cultura-mundo leva ao esgotamento dos recursos naturais e à competição pela sobrevivência, enquanto Waldman aponta como o crescimento desordenado de cidades compromete mananciais e causam poluição. Exemplos de soluções sustentáveis em cidades dos EUA e na indústria também são apresentados.
1. Objetivos Específicos
• Identificar como a globalização cria desigualdades sociais, interfere nas relações
de trabalho e na responsabilização sobre os problemas socioambientais
Temas
Introdução
1 Prenúncios da cultura-mundo: novos rumos
2 Soluções para as cidades
3 Modelos de soluções no brasil: indústria que reutiliza água
Considerações finais
Referências
Mônica Rodrigues da Costa
Ética, Cidadania e Sustentabilidade
Aula 13
Professor
Globalização II
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Introdução
Nesta aula estudaremos conceitos sobre a segunda etapa da globalização, a cultura-
mundo, e suas consequências na vida do homem, individualmente e em sociedade, e também
os impactos ambientais provocados pelo fenômeno da globalização.
Estudo realizado a partir do pensamento do economista e ambientalista Hervé Juvin,
que apresenta as ameaças da cultura-mundo, em que se molda um modo de vida que tem
como princípio a economia competitiva e o individualismo. Para o autor, a cultura ocidental é
pautada pela produção e pelo consumo. A cultura em que vivemos passa a ser uma questão
de preço. A natureza é ameaçada.
O estudo também feito a partir do geógrafo e ambientalista Maurício Waldman, que
discute problemas do meio ambiente nas grandes cidades brasileiras. Vemos com o estudo
do capítulo “Cidadania Ambiental”, do livro História da cidadania, escrito por Jaime Pinsky
e Carla Pinsky, que o crescimento desordenado das regiões metropolitanas compromete os
rios e mananciais, entre outras consequências graves.
Para contrabalancear os efeitos negativos da globalização e do crescimento desordenado
apresentados por Juvin e Waldman, trazemos exemplos de iniciativas que buscam solucionar
problemas e impedir novos malefícios adotando práticas sustentáveis, apresentadas pelo
jornalista André Trigueiro no programa Cidades e soluções, da rede de TV paga Globonews.
Assim, verificamos como o problema da escassez da água é revertido por meio do tratamento
do esgoto, nos Estados Unidos, e também como uma indústria de bebidas como a Ambev
reutiliza a água nos seus processos de trabalho – o que representa economias financeiras e
benefícios ambientais.
A presente aula traça um panorama sobre algumas facetas do século XXI. De um lado,
o individualismo, a competitividade, o liberalismo econômico. De outro, o crescimento
desordenado. Ainda, algumas soluções para problemas ambientais. Conhecer a relação entre
tais conceitos e realidades nos faz perceber onde estamos e aonde queremos chegar.
Bons estudos!
1 Prenúncios da cultura-mundo: novos rumos
Estudamos anteriormente a cultura-mundo, conceito explorado por Gilles Lipovetsky, faz
parte do que o autor chama de “segunda etapa da globalização”, que inclui também a ideia
de “capitalismo cultural”.
No capítulo “Cultura e Globalização”, do livro Globalização ocidental: controvérsia
sobre a cultura planetária, o economista, ensaísta e presidente da empresa de consultoria
Eurogroup Hervé Juvin apresenta algumas consequências sociais e ambientais provocadas
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pela adoção da cultura-mundo.
No século XXI, explica Juvin, deparamo-nos com a sensação de que o mundo é
pequeno – ciência, tecnologia e informação nos tornam cientes disso. Recebemos notícias
instantaneamente como se estivéssemos em uma aldeia global – conceito do cientista da
comunicação Marshall McLuhan. Mas percebemos que está em curso o esgotamento da
natureza. A noção de crescimento é posta em xeque. Hoje, notamos algo que possivelmente
nossos antepassados não percebiam: a natureza é finita.
Se os recursos se esgotam pouco a pouco, tornam-se crescentes a disputa e a
competitividade por aquilo que resta da natureza para a produção e a sobrevivência. Para
Juvin, a escassez deixa evidente “espectro da morte” e, assim, originam-se novos mundos:
A superabundância, a gratuidade e a liberdade da natureza chegam ao fim. A surpresa
não é pequena. Ao cabo do abandono das correlações de força e dos efetivos
interesses pela compaixão e pelos bons sentimentos, irrompem desordens, ódios,
caos, fenômenos sobre os quais a razão terá perdido o controle. Ao cabo do processo
de descaracterização dos indivíduos em favor de algo que não diz respeito ao seu
querer, dá-se o choque a propósito da escassez dos bens fundamentais, e emerge o
espectro da morte. De fato, a revelação de que a morte está sempre à vista, que é uma
realidade intransponível (e que até poderia provir da força que nos impele adiante há
três séculos), é a consequência mais surpreendente e mais trágica da globalização. Ela
interpela a cultura-mundo porque modifica as condições concretas de seu espraiar-se,
assim como de seu poder de atração. E dá origem a um mundo novo. (LIPOVETSKY,
2012, p. 105).
Esse novo mundo de que fala Juvin possui quatro facetas. A primeira faceta faz “um
retorno à vida física e ao real”, em que “a escassez dos bens essenciais (arroz, madeira,
água, ar) passa a ser o fato econômico decisivo”. Juvin (2012, p.106) chama esse período,
que ele prevê como o dos próximos dez anos, de “cultura da escassez, da economia e do
protecionismo”. A segunda faceta é a do “mundo calculado, pequeno, limitado”, que é o
mundo sem bens essenciais suficientes para toda a humanidade; a escassez provoca efeitos
imprevisíveis. A terceira faceta é a do “mundo revirado de cabeça para baixo”, em que o
ocidente perde a concentração da riqueza global em suas mãos e perde a direção do mundo.
Juvin afirma que em 2030 a população europeia será três vezes inferior à africana. O autor
considera aberrante o fato de essa população ser menor e ter mais riqueza.
A quarta faceta é a do A quarta faceta é a do “mundo da decomposição-recomposição
do comum”. Juvin explica que a consequência desse mundo em decomposição-recomposição
será a da busca pela sobrevivência: as coletividades passam a priorizar o sustento em vez de
priorizar ideologias e questões ambientais.”. Juvin explica que a consequência desse mundo
em decomposição-recomposição será a da busca pela sobrevivência: as coletividades passam
a priorizar o sustento em vez de priorizar ideologias e questões ambientais.
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Figura 01: Mundo de quatro facetas
Sob a camada (com graus de espessura diversos) ideológica do liberalismo, há
uma corrente que emerge das profundezas. Esta se acha mais voltada para a
preocupação corrente – sobreviver – do que para as questões ambientais. A primeira
das instabilidades previsíveis, direta ou indiretamente, pelos efeitos que provoca
sobre os comportamentos coletivos ou individuais, será a do sustento. Ela procede
muito simplesmente das incertezas quanto à viabilidade de sobrevivência dos serem
humanos em seu meio. Sob a égide da sobrevivência, em nome da política do existir,
um fenômeno bem diverso da corrente liberal se delineia. (JUVIN, 2012, p. 109).
Essa política do existir e do sustento, para Juvin, desenha um fenômeno com quatro
características destacadas pelo autor. São elas: a “superação da economia tradicional”, a
“volta às terras de origem”, a “desestabilização da ordem econômica” e a “busca pelo poder”.
Destacamos aqui o fenômeno da superação da economia tradicional, afetada pela noção de
que a natureza e seus recursos não são infinitos, fazendo valer, conforme explica Juvin, novos
modelos na economia:
Era essa noção em que se fundavam as comparações internacionais, as medidas
de desenvolvimento, sobretudo aquilo que tomou de fato a dianteira de nossos
organismos sociais, a partir do momento em que o liberalismo transformou a noção de
crescimento num dever absoluto. Iremos reaprender que o mercado é uma instituição,
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isto é, uma entidade moral dotada de um poder convencionado entre todos, assim
como reaprenderemos que a nossa economia de mercado cessou de existir sob os
moldes configurados pela primeira revolução industrial. Até então, ela postulava a
gratuidade da natureza e dos recursos naturais. Mas estes são limitados, encontrando-
se ademais em processo de extinção. Por isso, a questão da sobrevivência é o ponto
capital a ser discutido; e a segunda se refere às garantias esperadas. A corrida aos bens
reais já começou e trará consequências incríveis. Viver no isolamento, afastar-se dos
demais, sobreviver sozinho, eis o que se tornará exceção à regra. De fato, aquilo que a
saturação do mundo real coíbe somente será possível no mundo virtual. (JUVIN, idem).
A respeito da volta às terras de origem, Juvin (2012, p. 110) explica que se trata do retorno
ao território como meio ou busca por um novo modo de vida, voltado para o que realmente
importa: “Viver, respirar, proteger-se, alimentar-se, encontrar-se”, conforme elenca o autor.
Juvin destaca o fato de que a sobrevivência passa a ser associada ao território e, como
consequência disso, os padrões da cultura-mundo – associados às instâncias internacionais
– mudam de modo a reforçar e a dar maior importância aos domínios territoriais de cada
Estado.
A política da sobrevivência não será nada mais do que uma política territorial,
relativa à cidade e às autoridades locais. Descobrimos este paradoxo: para resolver
os problemas universais e coletivos do meio ambiente, importa bem mais que haja
Estados com pleno domínio sobre os seus territórios do que uma miríade de instâncias
internacionais. Aqui entra por inteiro o tema do State’sbuilding, que ocupa papel de
destaque entre os princípios norteadores do Ministério da Defesa dos Estados Unidos.
(JUVIN, 2012, p. 110).
Hervé Juvin apresenta o homem da atualidade como um produtor-consumidor. O autor
afirma que ninguém está a salvo de “prestar contas de sua produtividade” – o que realmente
importa não são valores ou culturas milenares, por exemplo, mas, sim, uma atuação do
indivíduo em nome do progresso econômico:
O mundo é convocado para prestar contas de sua produtividade. Nada fica a salvo
dessa sanha avassaladora: terra, vegetal, animal, tudo que vive, move-se, cresce,
respira, neste mundo, é chamado ao tribunal do utilitarismo econômico. Tudo será
pesado, medido e julgado. E a cultura se transforma naquilo que faz recrudescer o
progresso econômico. (JUVIN, 2012, p. 11).
O valor do homem é calculado por meio daquilo que ele produz. Cada homem, em um
ambiente ao mesmo tempo individualizado e globalizado, consome e interfere na natureza,
limitada, de modo que talvez nem perceba os efeitos de suas ações.
Os impactos que o homem provoca na natureza são reduzidos pelo universo virtual e
individualizado.Virtualmente,nãosepercebemoslimitesdomeioambienteeindividualmente,
não é possível perceber os efeitos da ação do homem no meio ambiente. Assim, com pouca
percepção sobre a real amplitude dos problemas ambientais e da real situação da natureza,
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ações e participações políticas também ficam comprometidas pelos aspectos econômicos
que regem a vida do homem na Terra. Diz Juvin (2012, p. 120): “Cabe imaginar que a cultura-
mundo corresponde ao espaço virtual que, de forma acelerada, substitui os espaços reais
limitados e raros, o que torna a política (tal qual a conhecemos e como alguns ainda a
entendem) um dispêndio inútil e vão de dinheiro”.
Para entender melhor o texto contextualizador, acesse a Biblioteca Digital
e leia o livro História da cidadania, entre as páginas 545 e 550.
Entre os assuntos abordados pelo professor, pesquisador e consultor ambiental Maurício
Waldman está a cidadania ambiental. Para o autor do capítulo “Cidadania Ambiental”, do livro
História da cidadania, organizado por Jayme Pinsky e Carla Pinsky, a cidadania ambiental
vai além da conscios abordados pelo professor, pesquisador e consultor ambiental Maurício
Waldman está a cidentização do homem acerca dos limites de recursos da natureza ou meio
ambiente, como a floresta, os bichos e os mares, por exemplo. A cidadania ambiental também
tem sua essência na cidade, a morada do homem e não apenas fora dela.
“No Brasil, as cidades estão no centro da problemática ambiental, a qual se articula
também com o quadro de exclusão social que tem se aprofundado nas últimas décadas”,
afirma Waldman (2010, p. 550), que, entre outros assuntos, apresenta um mapeamento da
população que mora em favelas, loteamentos ilegais e áreas invadidas.
Conforme explica Waldman (2010, p. 551), o crescimento da população nas regiões
metropolitanasrepresentaumriscodesordenadoporquecausaimpactosambientais.Exemplo
disso é o que acontece em São Paulo e Curitiba, por exemplo, onde a população cresce em
Áreas de Proteção dos Mananciais, o que “compromete o abastecimento de água doce dessas
metrópoles”. Explica o autor (2010, p. 551): “Esta forma de ocupação territorial contribui
decisivamente para acentuar processos de assoreamento da rede hídrica dos reservatórios
de água doce, intensificando também o efeito de determinados processos naturais, tais como
a erosão e a contaminação das águas das represas”.
Os problemas urbanos aparecem indissociáveis de problemas ambientais. Surgem, a
partir de então, questões como a destinação dos resíduos sólidos, dos recursos hídricos e da
poluição do ar, conforme elenca Waldman (2010, p. 551): “Na ausência dessa compreensão,
as proposições ambientalistas tornam-se simplesmente elitistas e desfocadas dos problemas
ambientais que de fato acometem o conjunto da população do nosso país”.
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Nas cidades, homens e mulheres trabalham e, com o dinheiro, consomem os mais
diversos produtos. Surge a questão do consumo de embalagens, da indústria de embalagens
e do tipo de material utilizado para a produção das embalagens, como o plástico e o alumínio,
por exemplo. Outros problemas sérios, no que diz respeito ao meio ambiente e à cidade,
estão associados ao lixo gerado e descartado bem como ao saneamento básico.
Os resultados da análise de Waldman mostram que o lixo nos bairros ricos é coletado;
o lixo dos bairros pobres é descartado de qualquer maneira, nas ruas ou terrenos baldios,
contaminando o solo, provocando doenças e impactos ambientais. Sobre o saneamento,
aponta o autor que apenas 10% do total do esgotamento sanitário recebe tratamento
adequado. Desse modo, os rios, o solo, os lençóis freáticos e o mar são contaminados:
Estima-se em cem mil toneladas diárias a quantidade de lixo produzido nas cidades
brasileiras, das quais cerca de doze mil toneladas são geradas pela capital paulista.
Do lixo urbano brasileiro, cerca de 60% é coletado, geralmente, nos bairros de maior
poder aquisitivo, permanecendo o restante junto às casas ou atirados nas ruas,
terrenos baldios, encostas, mananciais, córregos e rios. Nesses lugares, popularmente
denominados lixeiras, vazadouros ou lixões, são comuns os deslizamentos, as
enchentes, os focos de doenças, cheiros pestilentos e uma paisagem infernal. Não
fosse suficiente, existe também a calamitosa situação da disposição ilegal de lixo
industrial. Além dos rumorosos caos envolvendo a construção de moradias em
terrenos contaminados, são registrados com frequência irregularidades que podem
comprometer efetivamente a saúde de milhões de brasileiros. Outra questão
relacionada à expansão urbana é a do saneamento básico. Os esgotos constituem
uma causa de notórios problemas ambientais. Nas grandes e médias cidades, os
rios, córregos, lagos, mangues e praias tornaram-se canais ou destino das águas
servidas domésticas. Mesmo considerando que o esgotamento sanitário atinge 54%
dos domicílios em todo o Brasil, no entanto, apenas 10% do total recebe tratamento
adequado. O restante é lançado in natura nos rios, contaminando também o solo, os
lençóis freáticos e, finalmente, as massas oceânicas. (WALDMAN, 2010, p. 552)
2 Soluções para as cidades
Autores como Maurício Waldman e Hervé Juvin apresentam o aspecto crítico do meio
ambiente e do desenvolvimento da sociedade que segue em curso e é reflexo, na maioria
das vezes, do crescimento desordenado que visa apenas ao lucro, à produção e ao consumo
e que, também na maioria das vezes, descarta o planejamento e as preocupações com a
natureza, como se esta fosse uma fonte infinita de recursos.
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Apesar de já presenciarmos os impactos negativos de tal crescimento na
natureza, como a poluição dos rios e do ar, a pobreza e o problema do lixo, o
século XXI apresenta algumas iniciativas voltadas para a sustentabilidade.
Algumas dessas ações são noticiadas pelo jornalista André Trigueiro no programa Cidades
e soluções, apresentado na TV Globonews. São ideias que deveriam ser passadas adiante por
muitas empresas, como a de redução do consumo da água, o destino adequado dos resíduos
e a reciclagem.
No mês de março de 2013, Trigueiro (GLOBONEWS, 2013) apresentou o especial Semana
mundial da água, com base na definição da ONU de que 2013 é o “Ano Internacional de
Cooperação pela Água”. Assim, ele traçou o seguinte panorama: 70% da superfície terrestre é
composta por água; 3% desse total é de água doce; e, desse total, grande parte não é potável.
No programa, tomamos conhecimento de que “a demanda da água aumenta na
velocidade do crescimento populacional”. Em tal contexto, a grande dificuldade é fazer com
que a oferta da água acompanhe o crescimento da população, levando em consideração de
que as ações do homem, na atualidade, subtraem números dessa equação.
Sanjay Wijesekera, do departamento de Água e Saneamento do Fundo das Nações
Unidas para a Infância (Unicef), diz que a ONU vem realizando ações para promover o acesso
à água pelas pessoas e, desse modo, nos últimos 20 anos, aproximadamente 2 bilhões de
pessoas conseguiram ter acesso a esse bem natural. Mesmo assim, revela o programa, quase
800 milhões de pessoas ainda não têm acesso à água potável.
2.1 Exemplo: norte-americanos transformam água de esgoto em
água potável
Um exemplo de solução para o fornecimento de água potável para situações em que tal
recurso é escasso, apresentado no programa Cidades e soluções, é realizado no Condado de
Orange, na região sul da Califórnia, tida como uma das regiões mais secas dos Estados Unidos.
Durante anos, a água que chegava a essa área para abastecer a população de quase
2,5 milhões de habitantes era proveniente do norte do estado, por meio de um processo
economicamente custoso. Para reverter à situação, foi desenvolvido um sistema que
transforma o esgoto doméstico em água potável. Foi criada uma estação de tratamento
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capaz de produzir 280 milhões de litros de água potável por dia. Atualmente, tal sistema é
responsável pelo abastecimento de 20% da população dessa região.
De que modo isso é feito? Passo a passo, o programa mostra que tanto a água da descarga
como a água que escorre para as sarjetas e também da pia passam por um engenhoso
processo que visa transformar essa água em algo saudável para o consumo. Basicamente,
primeiro são removidas as partes sólidas; depois a água passa por um processo biológico de
microfiltragem para reduzir a matéria orgânica e retirar bactérias (e qualquer coisa que seja
mais espessa do que um fio de cabelo); depois passa por um processo de osmose reversa
para retirar outros elementos orgânicos, como vírus, por exemplo, e inorgânicos, como cálcio,
magnésio e produtos farmacêuticos.
No final desse processo, a água fica tão limpa que é preciso readicionar alguns minerais
e aumentar sua alcalinidade e o pH, por meio de um banho de luz de raios ultravioletas de
alta intensidade, a partir de um reator. Em uma sala de controle, todos os processos são
acompanhados por 24 horas, todos os dias da semana.
Por fim, a água purificada volta para os lençóis freáticos de modo a ser misturada à fonte
natural. A estação de tratamento está em etapa de expansão e futuramente abastecerá 900
mil pessoas do Condado, ou seja, pouco mais de um terço da população local.
O programa Cidades e soluções mostrou que tal modo de tratar da água e de distribuí-
la produziu, ao longo de quatro anos, 400 bilhões de litros de água e reduziu os custos do
Condado com gastos de transporte da água do rio Colorado para a região. Tal modelo já foi
copiado pelo governo de Cingapura e está sendo replicado por outras cidades americanas,
como San Diego – fato que comprova o sucesso da iniciativa.
3 Modelos de soluções no brasil: indústria que reutiliza água
Dando continuidade ao especial Semana mundial da água, apresentado e ainda
usando o exemplo do programa Cidades e soluções, da Globonews (2013), comandado pelo
jornalista André Trigueiro, há um panorama da situação da água no Brasil. Com base na
Agência Nacional de Águas, se não forem investidos R$ 22 bilhões até 2015 na proteção de
nascentes e mananciais e em melhorias nas redes de distribuição de água, haverá problemas
de abastecimento em mais da metade dos municípios brasileiros, alerta o jornalista.
Exemplos de iniciativas que buscam contornar essa situação por meio da gestão eficiente
de água podem ser encontrados na indústria e na agricultura, entre outros setores.
Conforme apresenta Trigueiro, a maioria das grandes indústrias nacionais, de diversos
setores econômicos, recicla a água utilizada. Tal medida, explica o jornalista, reduz custos e
melhora a qualidade da água servida.
A Ambev de Campo Grande, na zona oeste do Rio de Janeiro, é exemplo disso. A fábrica
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capta a água na bacia do rio Guandu e a bombeia em dutos até sua própria estação de
tratamento. Conforme a reportagem, aproximadamente 14 milhões de litros de água por dia
são tratados e bombeados para a fábrica.
Entre as 41 fábricas pertencentes ao grupo no Brasil, a Ambev de Campo Grande foi eleita
a mais eficiente em termos de redução de consumo de água. No quadro mundial, essa fábrica
é uma das três com melhores desempenhos no tratamento da água. Trata-se de quase uma
década de redução efetiva do consumo de água nas linhas de produção, com percentual de
redução do volume de água possivelmente de 50%. Assim, atualmente, a Ambev de Campo
Grande consome 3,5 litros de água para a produção de 1 litro de produto – antigamente, há
dez anos, eram consumidos sete litros d’água por cada litro de produto.
Como a fábrica conseguiu economizar tanta água? A reportagem revela que isso foi
possível graças à instalação do circuito de água fechado, que permite o reuso da água para
múltiplas aplicações, exceto para a composição das bebidas, ressalta o jornalista.
São consumidos 14 mil litros de água nobre por dia, contra 21 mil litros de água nobre
consumidos anteriormente na mesma operação, com o mesmo volume de bebidas produzido.
Isso por meio da melhoria dos processos com utilização da água, nas lavagens de garrafas e
no sistema de pasteurização, graças ao circuito fechado, que deixa de captar a água do rio
ininterruptamente.
Os custos foram reduzidos, mas a produção de bebidas não parou. Até o uso de garrafas
PET recicladas ajudou na economia de água, reduzindo 22% o consumo. No ano de 2013,
explica o Cidades e soluções, 40% de todas as embalagens de refrigerante serão feitas com
material reciclado.
Buscando padronizar boas práticas, a Ambev pretende levar o modelo para outras fábricas.
Vale ressaltar que, nas indústrias de bebidas, a água representa 95% da matéria-prima.
Considerações finais
Na presente aula, vimos com o economista Hervé Juvin que a cultura é ameaçada à
medida que a natureza é destruída pelo desenvolvimento econômico predatório e pelo modo
de vida imposto pelo liberalismo econômico. Vimos que o homem perdeu valores milenares
e o senso político e ético que o guiava anteriormente. Perdeu-se, também de acordo com o
autor, o senso de coletividade e houve uma supervalorização do capital – sob o paradigma da
prestação de contas da produtividade humana e empreendedora a qualquer custo.
O geógrafo e ambientalista Maurício Waldman mostra as ameaças do crescimento
desordenado nas grandes cidades contra o meio ambiente. Observa-se que, quanto menos
envolvido o homem estiver – social e politicamente –, mais alheio estará dos acontecimentos
em sua cidade e no mundo e, assim, mais propenso estará às atividades que contribuem para
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prejudicar a natureza.
O homem mal instruído não se preocupa com o lixo que joga na rua ou no rio. Ele não
se importa com a situação de seu vizinho – mais pobre ou mais rico, mais triste ou mais feliz;
o homem eticamente mal instruído apenas se importa com a própria felicidade e, às vezes,
passa por cima de outro homem para atingir tal fim.
O homem mal instruído não percebe que, quando desperdiça água, ameaça o futuro do
planeta. Ele não se importa se as empresas em que trabalha, ou que lhe fornecem produtos,
são predadores. Também não se importa com a emissão de poluentes no ar nem com os
animais. Não vê que a miséria mora ao lado e é desprovido de valores éticos e morais que
sejam fortes o suficiente para guiá-lo ao Bem Supremo, conforme define Aristóteles – assunto
da Aula 1.
A humanidade está perdida? Não, porque ainda estamos vivos e sobrevivemos a duas
guerras mundiais; sobrevivemos a ditaduras; a catástrofes ambientais e, felizmente, ainda
vemos organizações, coletivos e pessoas realmente conscientizadas e preocupadas em
reverter situações difíceis nas sociedades – como aqueles que oferecem soluções para
questões ambientais apresentadas pelo jornalista André Trigueiro, por exemplo.
É importante, no entanto, ressaltar que os problemas ambientais não são problemas
efetivamente da natureza. Sua essência se encontra no interior do próprio indivíduo, de seu
grupo e sua cidade. Não se trata de peixes, pássaros, insetos, água e Sol. Trata-se de uma
transformação que precisa surgir de dentro para fora. Diz respeito a uma busca, uma análise
e um estudo sobre o real sentido da vida, que é efêmera, mas pode ser boa se lutarmos para
isso – pensando em nós mesmos e nos outros, para, assim, atingirmos a felicidade suprema
– objeto maior da ética conforme Aristóteles.
Referências
Cidades e soluções. Especial: “Semana Mundial da Água”. Disponível em: <http://g1.globo.
com/globo-news/cidades-e-solucoes/platb/2013/03/21/especial-semana-mundial-da-agua/>.
Acesso em: 18 mar. 2013.
____________________.. Especial: “Semana Mundial da Água 2”. Disponível em: <http://
g1.globo.com/globo-news/cidades-e-solucoes/platb/2013/04/01/especial-semana-mundial-
da-agua-2/<. Acesso em: 18 mar. 2013.
LIPOVETSKY, G.; JUVIN, H. Globalização ocidental: controvérsia sobre a cultura planetária.
Tradução de Armando Braio Ara. Barueri: Manole, 2012.
WALDMAN, Maurício. “Cidadania Ambiental”. In: PINSKY, J.; PINSKY, C.B.(Org.). História da
cidadania. 5. ed. São Paulo: Contexto, 2010.