1. Objetivos Específicos
• Reconhecer como a globalização altera identidades e a noção de pertencimento.
Temas
Introdução
1 Conceito de aldeia global pode estar datado
2 Tensões entre o global e o local
3 Como os antropólogos pensam a cultura na ordem globalizada?
4 O hibridismo na arte
Considerações finais
Referências
Mônica Rodrigues da Costa
Ética, Cidadania e Sustentabilidade
Aula 11
Professor
Identidade e pertencimento
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Ética, Cidadania e Sustentabilidade
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Introdução
Nesta aula abordamos os conceitos de globalização, que contribuem para a construção da
identidade de um grupo social. O estudo do conceito é feito com base na obra Globalização,
cultura e identidade, organizada pelo doutor em antropologia social Cristian Salaini. Também
são abordados conceitos do economista e curador de arte Moacir dos Anjos, a partir de
Local/global: arte em trânsito.
Destacamos o modo como os diversos tipos de cultura são evidenciados por meio do
processo de globalização que, de acordo com Salaini, contribui para reforçar a identidade
de um povo e para reafirmá-la como tal. Sendo assim, a partir de um todo, promovido pela
globalização, é possível a uma cultura comparar seus simbolismos aos de outras, bem como
reagir a eles, assimilá-los ou repeli-los.
Também abordamos o que acontece quando as culturais locais e a cultura global entram
em contato, chegando ao comportamento multicultural apresentado por Salaini. Para o autor,
quando as culturas tomam conhecimento umas das outras – fenômeno que ocorre por meio
da globalização –, grupos sociais podem definir o modo como querem se apresentar ao mundo.
O modo de observar as semelhanças e diferenças entre duas culturas ou mais ajuda a
perceber a forma com que os antropólogos pensam a cultura na ordem globalizada – este
aspecto também é discutido na aula.
Compreender e reconhecer uma cultura representa desafios nos tempos atuais, já
que fenômenos como a queda do Muro de Berlim, por exemplo, mostram que há uma
transformação geopolítica sempre em andamento e aponta para novos paradigmas das
sociedades, não mais movidas por uma sistematização que ordena culturas simplesmente
por região ou nação. Assim, Salaini explica que perceber uma cultura inclui estar atento a
aspectos dela como língua, religião, valores e sentimentos.
Estudamos, ainda, outro aspecto presente nas culturas: o hibridismo, mistura cultural
que permite o convívio; o contato e o intercâmbio entre simbolismos sem que elas se
anulem; mas, ao contrário, permitem que as culturas criem um “terceiro espaço”, conforme
o pensamento de Stuart Hall, citado por Moacir dos Anjos. Abordamos também como a
globalização altera as noções de identidade e pertencimento.
A vocês, uma ótima leitura!
1 Conceito de aldeia global pode estar datado
No livro Globalização, cultura e identidade, o antropólogo Cristian Salaini comenta a
influência das tecnologias de transporte e de comunicação sobre a dinâmica da cultura e da
tradição. Para esse autor, percebem-se na atualidade “tensões existentes entre o ‘global’ e o
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‘local’”. (SALAINI, 2012, p. X).
Para ele, há uma corrente equivocada de pensamentos e de crenças que levam a uma
associação entre o fenômeno da globalização e o fim das diversidades, como se o mundo
marchasse na direção de uma homogeneização cultural, que representaria o surgimento de
uma aldeia global: “As diversidades seriam solapadas por essa nova ordem colocada em escala
mundial. Desde o final da Segunda Guerra Mundial e, em especial, após a queda do Muro
de Berlim, um mundo ‘sem fronteiras’ e interligado difundiu o imaginário de uma ‘aldeia
global’”. (SALAINI, 2012, p. 15).
Assim como Salaini, o economista e curador Moacir dos Anjos, no livro Local/global: arte
em trânsito, não acredita na efetividade de tal homogeneização cultural, já que, para ele, as
culturas locais possuem mecanismos de reação:
Esse receio da ‘McDonaldização’ do mundo não considera, contudo, a complexidade
dos mecanismos de reação e adaptação das culturas não hegemônicas ao impulso
de anulação das diferenças que a globalização engendra, promovendo formas novas
e específicas de pertencimento ao local e criando, simultaneamente, articulações
inéditas com o fluxo global de informações. Tampouco vislumbra como a reprodução/
recriação de diferenças pode ser funcional à ampliação/diversificação constantes de
mercados de bens e de símbolos que a globalização demanda. (ANJOS, 2005, p. 11).
Nesse sentido, as tecnologias da informação e dos transportes contribuem para a
construçãodoconceitode“aldeiaglobal”,criadopelocomunicadorMarshallMcLuhanedeque
fala Salaini fala, e de “McDonaldização do mundo”, de que fala Moacir dos Anjos. Este último
autor defende, inclusive, a ideia de que os contatos entre culturas, ocorridos pelo processo
de globalização, devem ser classificados como fenômenos “transculturais”: “Mais adequado
para descrever os encontros promovidos pela globalização é o termo transculturação, o qual
invoca a contaminação mútua, em um mesmo tempo e lugar, de expressões culturais antes
apartadas por injunções históricas e geográficas”. (ANJOS, 2005, p. 16).
À medida que padrões políticos, econômicos e culturais se difundem entre as sociedades
ocidentais, comenta Salaini, outras culturas particulares correm o risco de ser classificadas
como atrasadas ou antigas pelos poderes hegemônicos de cunho político, econômico e cultural:
A difusão em velocidade espantosa das novas tecnologias de telecomunicação e
transportes apresentaria uma inevitável decadência de formas culturais particulares,
normalmente associadas a um ‘atraso’ e ao ‘não moderno’, dando lugar à hegemonia
política, econômica e cultural do ‘mundo ocidental’. A globalização, nesse sentido,
sempre esteve associada a um modelo econômico responsável pela conexão de
diferentes lugares do mundo, criando blocos e ‘ambientes’ favoráveis à expansão do
capital. (SALAINI, 2012, p. 16).
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2 Tensões entre o global e o local
Algumas das consequências advindas do processo de globalização são a consciência e
a noção de cultura. Entretanto, a globalização altera a sensação de pertencimento a uma
cultura, que é o que fortalece as identidades das pessoas no seio da vida social. O pesquisador
de políticas públicas, Leonardo, Brant define identidade:
A identidade cultural de um povo é geralmente reconhecida por seus elementos
unificadores, como território, língua e religião. Tratar do assunto sob o ponto de
vista das políticas públicas de cultura torna-se cada vez mais complexo e espinhoso.
Geralmente atrelado ao nacionalismo e utilizado como política de Estados, o
conceito passou a ser visto com certa ressalva por formuladores e pesquisadores
contemporâneos. (BRANT, 2009, p. 34).
Figura 1 – Globalização
Mas a globalização é um fenômeno em que grupos locais também tentam se reafirmar
e se autoafirmar com todas as suas diferenças perante o planeta, como um tipo de reação
àquilo que o Salaini apresenta como “forças globais”:
Segundo o antropólogo Marshall Sahlins (1997), as ameaças dirigidas a formas
tradicionais de existência pelas ‘forças globais’ provocam uma reação. Essa reação faz
com que elementos de determinada coletividade que ‘já estavam lá’ sejam tomados
de uma forma bastante ‘autoconsciente’, tornando as diferenças ainda mais visíveis.
(SALAINI, 2012, p. 17).
Salaini (2012, p. 17) fala, ainda, que esse tipo de “autoconsciência cultural” foi adquirida
pelas “antigas vítimas do colonialismo e do imperialismo, que descobriram sua cultura”:
A palavra cultura é apropriada por grupos que antes apenas viviam seus modos
particulares de existência sem, necessariamente, falar em culturas. Ao apropriarem-se
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dessa noção, porém, ganham um espaço de legitimidade e reconhecimento em face
da sociedade envolvente, ampliando ainda mais as diferenças identitárias. (SALAINI,
2012, p. 18).
Como resposta ao processo de globalização, culturas locais se apropriam de conceitos das
forças globais, como a própria noção de cultura e, por meio deles, reafirmam sua identidade
e a sensação de pertencimento cultural da população.
Desse modo, a resposta de uma cultura local diante do contato com a cultura global
só é possível graças ao caráter relacional dessas culturas, havendo, assim, um aspecto
“multicultural das sociedades contemporâneas”, conforme explica Anjos (2005, p. 15). Para
esse autor, o modo como a cultura local se posiciona perante o mundo é determinante de
sua identidade:
O que distingue uma cultura local de outras quaisquer não são mais sentimentos
de clausura, afastamento ou origem, mas as formas específicas pelas quais uma
comunidade se posiciona nesse contexto de interconexão e estabelece relações com
o outro [...]. Global e local são termos, portanto, relacionais – assim como o são centro
e periferia –, e não descrições de territórios físicos ou simbólicos bem definidos e
isolados. (ANJOS, 2005, p. 14-15).
Esse processo que promove a troca e a relação entre culturas evidencia, no entanto,
aquilo que Salaini e Stuart Hall chamam de tensão entre o global e o local. Para Salaini, as
forças globais são menos ameaçadoras às culturas particulares do que algumas correntes de
pensamento defendem:
As forças globais não ‘apagam’ culturas. De fato, elas acabam por criar um contexto de
‘efervescimento’ de identidades locais. As culturas nunca foram puras, sempre foram
resultado de trocas efetivadas entre os grupos. O que desafia é o entendimento do
lugar dessas identidades num mundo cada vez mais conectado. (SALAINI, 2012, p. 18).
3 Como os antropólogos pensam a cultura na ordem
globalizada?
O geógrafo Milton Santos, no livro Por uma outra globalização, que será estudado mais
detalhadamente na daqui em diante, aponta para alguns aspectos negativos da globalização.
Para esse autor, as hegemonias do capital e da informação que exercem poder sobre
as sociedades são movidas por fins econômicos e mercadológicos que buscam satisfazer os
interesses de poucos pertencentes a empresas e grandes conglomerados, apenas.
Tal modo de ação dessas forças de capital e de informação deixaria de lado questões
envolvendo o aspecto humano e o bem-estar da sociedade como um todo, priorizando
apenas a satisfação e o enriquecimento de uma minoria.
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3.1 Visão mais otimista
Cristian Salaini, no entanto, apresenta uma visão mais otimista sobre o assunto e mostra
como a globalização pode ser propícia para incentivar grupos a se tornarem públicos. Esse
fenômeno também despertaria o interesse desses grupos em valorizar suas próprias culturas.
“Expressões como cultura africana, cultura brasileira, cultura baiana etc. fazem parte do
vocabulário popular e funcionam como demarcadores, elementos que procuram diferenciar
alguns grupos sociais de outros”. (SALAINI, 2012, p. 22).
Salaini defende, ainda, o ambiente global como sendo favorável à promoção de culturas
e aponta para as dificuldades encontradas por quem deseja tratar a cultura como algo
homogêneo. Para o autor, o mundo é fragmentado e dificulta a construção de totalidades:
Diante das reorganizações políticas e históricas mais recentes ocorridas no mundo,
torna-se complicado delinear uma cultura enquanto algo homogêneo. O que parece
existir é um MUNDO FRAGMENTADO, que desafia qualquer impulso no sentido da
construção da ‘totalidades culturais’. (SALAINI, 2012, p. 23).
O pesquisador Cristian Salaini aponta para a importância de fenômenos sociopolíticos,
como a queda do Muro de Berlim, para a compreensão da cultura.
Esse acontecimento reconfigurou, segundo ele [Clifford Geertz, 2001], um novo
quadro mundial em que se diluíram as macroalianças, o mundo polarizado e as
grandes potências. Observamos atualmente a proliferação de uma pluralidade do
mundo, marcado por guerras étnicas, movimentos religiosos fundamentalistas,
grande circulação de pessoas e povos e separações por motivos linguísticos. (SALAINI,
2012, p.23).
Para o autor, nessa perspectiva, o papel do observador de culturas é importante e
ele deve se ater a esses fenômenos buscando sempre uma análise detalhada de aspectos
presentes em grupos – como língua, religião, valores e sentimentos –, quando o objetivo é
reconhecer culturas e seus modus operandi. Assim, o autor delineia a função do analista ao
procurar identificar uma cultura:
O papel do analista seria o de reconstituir essas partes, buscando encontrar o sentido,
alguma ‘linha mestra’ que possa conduzir à compreensão da cultura. Ao mesmo tempo
em que a busca pela totalidade cultural não se apresenta mais como objetivo, faz-se
necessária a construção de ferramentas que possam dar sentido ao empreendimento
da análise dos fenômenos culturais. (SALAINI, 2012, p. 24).
Salaini menciona, ainda, a ideia do antropólogo norueguês Fredrik Barth, de que há um
forte diálogo entre o “novo” e o “tradicional” no mundo globalizado, apresentando um novo
paradigma de variabilidade cultural em vez de totalidade cultural.
Estamos diante de uma ‘multiplicidade de padrões parciais’, e não de uma totalidade
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coerente que possa ser interpretada de forma definitiva. A questão-chave é olhar para
as descontinuidades e ali procurar algum padrão. O que permaneceu quando tudo
mais mudou? (SALAINI, 2012, p. 25).
3.2 As culturas são híbridas e as identidades também
Como dito anteriormente, a globalização não é capaz de anular culturas ou torná-las
homogêneas. Em contato umas com as outras, as culturas provam ser híbridas, conforme
explica Salaini:
Cabe salientar que os grupos nunca são os únicos autores de sua cultura, o que nos
leva à conclusão de que todas as culturas são, por definição, híbridas. O intercâmbio
cultural ocorrido pelos inúmeros processos de interação nos distancia, mais uma vez,
de qualquer possibilidade de entender as culturas de maneira estática e fechada.
Esse elemento, porém, não é uma característica oriunda apenas do contexto de
globalização. As culturas sempre foram híbridas e sujeitas a trocas e intercâmbios.
O que ocorre na globalização é o aumento da velocidade na forma como esses
intercâmbios e mudanças ocorrem. (SALAINI, 2012, p. 25).
Mas o que é hibridismo? Para o curador Moacir dos Anjos (2005, p.28), esse termo foi
tomado da biologia e “tem sido largamente empregado para apreender o que resulta da
proximidade entre culturas”, sem que tal aproximação resulte em uma fusão total:
Como afirma Stuart Hall, uma cultura híbrida é, por definição, incontrastável quer
com uma cultura vernacular, quer com uma global, posto que não é síntese ou mero
compósito de outras construções simbólicas. Ela é resultado, ao contrário, de uma
aproximação entre diferentes que não se completa nunca, abrindo, na expressão de
HomiK.Bhabha,um‘terceiroespaço’denegociaçãoentrediferençasincomensuráveis,
ou, como elabora Silviano Santiago, criando um ‘entrelugar’. O conceito de hibridismo
é apto, assim, a capturar [...] a natureza necessariamente inconclusa do processo de
articulação social das diferenças locais no contexto de interconexão ampliada que a
globalização promove. (ANJOS, 2005, p. 29-30).
4 O hibridismo na arte
Professora doutora em teoria literária, Lucia Santaella fala, em seu livro Por que as
comunicações e as artes estão convergindo?, sobre processos de transformação da cultura
e da arte que aconteceram juntamente às transformações nos modos de produção de bens
de consumo e de bens simbólicos, que são resultados da Revolução Industrial (século XVIII)
e daquela que a professora classifica como Revolução Digital. Tais mudanças alteraram os
rumos das artes e das comunicações para sempre, entrecruzando a cultura erudita com a
cultura popular:
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Foi só no momento histórico em que a comunicação massiva começou a se
instaurar, a partir da revolução industrial, que os dois campos, comunicação e artes,
também começaram a se entrecruzar. Antes disso, desde o Renascimento, a cultura
limitava-se em uma divisão em dois campos nitidamente separados: de um lado,
a cultura erudita, isto é, a cultura superior das ‘belas letras’, privilégio das classes
economicamente dominantes; de outro, a cultura popular, produzida pelas classes
subalternas responsáveis pela preservação ritualística da memória cultural de um
povo. (SANTAELLA, 2005, p. 10).
Para Santaella, a Segunda Revolução Industrial, a eletroeletrônica, dos séculos XIX e XX,
representa o apogeu da comunicação em massa, alimentada principalmente pelo rádio e
pela televisão. Nesse sentido, as formas de comunicação se tornaram híbridas e as artes
acompanharam o processo, passando a incorporar as tecnologias da informação e da
comunicação com o propósito de elas ser meios de produção também.
Assim como é necessária uma análise detalhada para identificar as culturas em meio
à globalização e à hegemonia cultural, que chegue a levantar questões sobre essa suposta
homogeneização da cultura, também é necessária uma avaliação minuciosa a fim de
compreender o que é – e o que não é – arte, tendo em vista a perspectiva trazida pelo
modernismo do século XX.
Nesse contexto, é posta em xeque a soberania das belas artes do século XVIII: há um
novo modo de se fazer arte, que leva em conta a sociedade de consumo e a industrialização.
Afinal, um urinol é arte? E uma roda de bicicleta sobre um banquinho?
Esses trabalhos, do dadaísta Marcel Duchamp (1882-1968) são símbolos do
questionamento acerca do conceito de arte. Entre os movimentos que são
críticos à categorização das artes, estão a vanguarda dadaísta, a arte pop, a arte
conceitual, a Arte Povera, a Land Art, a arte ambiental, a BodyArt, a performance,
entre outras listadas por Santaella..
O novo modus operandi de artistas da modernidade que fazem uso de novas tecnologias
para produzir revela o aspecto híbrido dos procedimentos artísticos que contribuíram para
a popularização das artes. Apesar disso, os debates sobre os rumos que a arte ia (e ainda
vai) tomando é alvo de longos e incansáveis debates, principalmente no que diz respeito ao
impacto das máquinas – discussão essa que também faz parte da agenda da cultura como um
todo, como já mencionado anteriormente.
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A industrialização, que marcou o início da era eletromecânica, provocou longos debates
entre artistas e críticos a respeito do impacto da máquina sobre a arte. Por alguns, a
máquina foi demonizada, surgindo como inimiga mortal das artes. Outros lembraram
queosartistassempreusaramferramentasdealgumaespécieequeamáquinaéapenas
uma ferramenta mais complexa” [...] “O advento da reprodutibilidade técnica maquinal
foi sem precedentes. Seu impacto destruiu a aura da obra de arte, emancipando-a da
tradição e dos rituais mágicos e religiosos. (SANTAELLA, 2005, p. 20).
Figura 2 – Impactos da fotografia sobre a pintura
Dessa maneira, entram na agenda de discussões sociais questões como a pluralidade de
estilos, o poder de absorção da história e da tradição por parte das novas tecnologias que
incluem os computadores e a distribuição em rede. Também a complexidade do sistema híbrido
computacional e a relação entre cultura popular e erudita dentro de um mesmo ciberespaço,
que garante maior acessibilidade por parte do público, e passa a ser mais amplo diversificado.
Nesse contexto, conforme relata Santaella, “as barreiras entre as artes e as mídias
perdem seus contornos, tornando-se permeáveis”. (SANTAELLA, 2005, p. 49).
Considerações finais
A partir das visões de Salaini e de Anjos, concluímos que o fenômeno da globalização não
elimina as diversidades nem promove a homogeneização cultural, já que as culturas locais
possuem mecanismos próprios de reação à dominação globalizante.
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Com a globalização e o caráter relacional de grupos que compõem o quadro das culturas
globalizadas, as sociedades e grupos ganham consciência de sua essência e podem se
autoafirmar perante o mundo, fortalecendo sua identidade.
Nesse sentido, o divisor de águas de determinada cultura deixa de ser um fator geográfico,
por exemplo, para abranger questões como a forma com que um grupo se relaciona com
outro grupo, conforme explica Salaini, em um processo de tensão entre aquilo que é local e
aquilo que é global. Muitas vezes o global é assimilado ao local originando o glocal.
A compreensão da cultura está sujeita a fatores geopolíticos como a queda do Muro
de Berlim, por exemplo, que reconfiguraram o quadro social global. Por isso, fatores como a
língua, o credo e a ideologia de um povo são tão importantes quanto sua localização no mapa
em termos de análise cultural.
A partir do presente estudo, chegamos a uma conclusão de que as culturas estão sempre
sujeitas a trocas e intercâmbios – trocas mais rápidas e potencializadas pelo fenômeno de
globalização. Assim, culturas estão mais próximas umas das outras e, conforme explica Milton
Santos e outros cientistas sociais, convivem em uma espécie de “terceiro espaço”.
Como resultado de uma cultura sujeita aos efeitos da globalização – em especial por
conta do advento das novas tecnologias da informação e da comunicação, como a fotografia,
a câmera de vídeo e o computador, por exemplo –, a arte também passa por transformações
que questionam suas próprias conceituações e procedimentos: a relação entre cultura erudita
e cultura popular no ciberespaço e a superação do preconceito no uso da tecnologia pela arte,
entre outras, questionam os cursos da produção artística e cultural da contemporaneidade.
Apresenteaulanãoapresentaumvereditoouqualquertipodejulgamentoqueclassifique
aquilo que é ou aquilo que não é cultura, aquilo que é ou que não é arte, ou, ainda, aquilo
que é uma boa cultura ou que é uma boa arte. Dentro de um mesmo contexto, observamos
diferentes estilos, técnicas, discursos, raças e credos que cada vez mais entram em evidência
perante o mundo – sem que seja prioridade o valor atribuído a tais manifestações em nosso
meio. O que interessa é saber como se dá o processo de relação entre as culturas, em que
medida mantém sua identidade e quais os rumos dos grupos sociais em meio às constantes
transformações vividas pelas sociedades graças às novas tecnologias e, ainda, como tais
mudanças promovem a construção da identidade de um indivíduo e de seu grupo.
Referências
ANJOS, M. Local/global: arte em trânsito. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005.
BRANT, L. O poder da cultura. São Paulo: Peirópolis, 2009.
SALAINI, C.J. et. al. Globalização, cultura e identidade. Curitiba: Editora Intersaberes, 2012.
SANTAELLA, L. Por que as comunicações e as artes estão convergindo?. São Paulo: Paulus, 2005.