Este documento discute a dignidade humana, escolhas morais e o papel da consciência. Ele explica que os seres humanos podem distinguir entre o bem e o mal usando a razão e a consciência. Embora as paixões possam ser mal orientadas, elas foram dadas por Deus para nos atrair para o bem. A consciência é a voz interior que nos guia para o bem e deve ser formada, mas ninguém deve ser forçado a agir contra ela.
2. PRIMEIRA SEÇÃO
Para que estamos na Terra,
o que devemos fazer
e como nos ajuda
o Espírito Santo de Deus
3. PRIMEIRO CAPÍTULO
A dignidade do ser humano
ESCOLHA, PAIXÕES E CONSCIÊNCIA
YC 291-298
4. 291
Como pode uma pessoa distinguir se a sua ação
é boa ou má?
O ser humano tem capacidade para distinguir as ações boas
das más, porque possui razão e consciência, que lhe
permitem juízos claros. [1749-1754, 1757-1758]
Existem algumas diretrizes que ajudam a distinguir as boas das más ações:
1. Aquilo que faço deve ser bom; não basta uma boa intenção.
2. Mesmo que aquilo que eu faço seja realmente bom, a má intenção com
que o faço torna má toda ação.
3. As circunstâncias em que uma pessoa atua podem diminuir a
responsabilidade, embora não mudem em nada o bom ou mau caráter
dessa ação.
5. 292
Pode uma pessoa fazer o mal
para que daí surja um bem?
Não, não se deve fazer ou aceitar
algo mau para que daí surja algo “Se uma pessoa
bom. Muitas vezes, porém, temos de desejar
aceitar um mal menor, para impedir verdadeiramente
um maior. [1755-1756, 1759-1761] o bem, tem de
querer fazer ou
Os fins não justificam os meios. Não é sofrer tudo pelo
correto praticar adultério para bem.” (Sören
Kierkegaard)
estabilizar o casamento.
6. 293 Para que fim Deus nos deu as paixões?
As paixões existem para sermos atraídos para o bem,
mediante emoções fortes e sensibilidade clara para o que é
correto, e para sermos repelidos do que é mau e perverso.
[1762-1766, 1771-1772]
Deus fez o ser humano com capacidade para amar e odiar,
desejar ou desprezar, ser atraído por certas coisas e ter
medo de outras, estar cheio de alegria, de tristeza ou de
cólera.
7. 294
Uma pessoa é pecadora se sentir em si paixões
fortes?
Não, as paixões podem ser muito
valiosas. Só por causa de uma má
orientação é que servem o mal as
paixões que foram pensadas para
uma poderosa realização do bem.
[1767-1770, 1773-1775]
As paixões que foram orientadas para o bem
tornam-se virtudes. Elas tornam-se, então,
carburante para uma vida de luta pelo bem e
pela justiça. As paixões que dominam o ser
humano, lhe roubam a liberdade e o
desencaminham para o mal chamam-se vícios.
8. 295 O que é a consciência?
A consciência é a voz “Quando nos sentimos
interior do ser humano responsáveis,
que incondicionalmente o envergonhados e
assustados por um delito
move a procurar o bem e
contra a voz da
a evitar o mal. É também consciência, isso implica
a capacidade de distinguir que há Alguém perante o
uma coisa da outra. Deus qual somos responsáveis e
fala ao ser humano pela envergonhados, e por cujas
consciência. [1776-1779] pretensões acerca de nós
temos respeito.”
(Beato John Henry Newman)
9. 296
Podemos forçar alguém
contra a sua consciência?
Ninguém deve ser forçado a agir contra a
própria consciência, enquanto a sua ação
se desenrolar dentro dos limites do BEM
COMUM. [1780-1782, 1798]
Quem passa por cima da consciência de uma pessoa,
ignorando-a e exercendo pressão sobre ela, fere a sua
dignidade. De fato, quase nada faz uma pessoa mais
humana que o dom de poder sozinha distinguir e
escolher o bem e o mal. Isso vale até quando a decisão
é claramente má. Quando uma consciência está bem
formada, a voz interior fala um uníssono com aquilo
que, perante Deus, é razoável, justo e bom.
10. 297 Pode uma pessoa formar a sua consciência?
Sim, deve inclusivamente fazê-lo.
A consciência, inata a todo ser
“Violentar a humano, dotado de razão, pode
consciência humana
significa ferí-la ser mal orientada e anestesiada.
profundamente, Deve ser por isso formada, a fim
desferir o mais de se tornar um instrumento cada
doloroso golpe à sua
dignidade. Em certa vez mais fino de compartamento
medida é mais grave reto. [1783-1788, 1799-1800]
que matá-la.
Beato Jõao XXIII
11. 298
É culpado, perante Deus, alguém que age de
consciência errônea?
Não. Quem faz um profundo exame de si e formula um
juízo seguro deve seguir a sua voz interior em qualquer
circunstância, mesmo que corra o risco de fazer algo
errado. [1790-1794, 1801-1802]
Deus não nos culpa pela desgraça que trazemos ao mundo se a
nossa consciência estiver invencivelmente errônea. Embora, em
última análise, se deva seguir sempre a própria consciência, deve
ter-se, todavia, bem claro diante dos olhos que, apelando
abusivamente à suposta consciência errônea, já se cometeram
falsificações, assassinatos, torturas e fraudes.