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48 | PÚBLICO,SEX21AGO2015
Professor na Faculdade de Economia e
investigador do Centro de Estudos Sociais
da Universidade de Coimbra
DebateSociedade
ElísioEstanque
ENRIC VIVES-RUBIO
Duas classes médias
U
m olhar que pudesse
sobrevoar o Atlântico, num
desdobramento capaz de
captar a “guerra de classes”
que atinge neste momento
a Europa do Sul e a América
Latina (com especial
incidência no Brasil), talvez
possa dar visibilidade a novos
contornos da conflitualidade
sociopolítica, tomando como referência a
noção de “classe média”, que aqui sugiro
desdobrar em duas categorias.
As classes antagónicas estruturadas no
século XIX ganharam expressão política
quando as contradições socioeconómicas
começaram a coincidir com identidades
coletivas inconciliáveis. Embora as divisões
categoriais nunca tenham coincidido com
grupos homogéneos, a narrativa marxista
que, na Revolução Industrial e depois
disso, opunha burgueses e proletários só
ganhou expressão porque o operariado
faminto e explorado dos núcleos industriais
ingleses já estava em rebelião. Mais
do que a “consciência de classe”, foi a
revolta coletiva que deu sentido à utopia
socialista desenhada por Marx e Engels, e
instrumentalizada por Lenine em 1917.
Ora, o fenómeno social que, no século
XX, mais contrariou essa divisão dicotómica
da sociedade no mundo ocidental foi a
“classe média”. Esta categoria sociológica,
composta por todo um conjunto de novas
camadas profissionais assalariadas, foi a
“terceira” e pulverizou o velho conflito
industrial ao protagonizar o exemplo de
sucesso e ao comprovar a viabilidade da
sociedade meritocrática. Porém, esta
“nova” classe média não se limitou a
replicar o individualismo empreendedor
do pequeno empresariado do comércio
e indústria. Protagonizou igualmente
novos conflitos e lutas coletivas. Embora
ao arrepio da velha luta de classes, estes
setores profissionais foram conquistando
estatuto e poder económico, enquanto o
seu sindicalismo corporativista ajudava a
consolidar o Estado-providência.
É neste quadro que podemos falar
de “duas classes médias”. No passado,
o discurso dicotómico galvanizou as
lutas operárias contra o capitalismo.
Hoje, o discurso das oportunidades e do
empreendedorismo atingiu um nível tal
de irrealismo que levou a classe média
a cindir-se em dois campos opostos. Os
que pretendem ascender (ou recuperar o
seu anterior estatuto) e os que exigem o
exclusivo de um status distintivo. A guerra
instalada entre esses setores assume,
naturalmente, contornos diferentes em
função do contexto socioeconómico
e político que se vive em cada um dos
continentes onde ela decorre. Deixando
de lado por agora os EUA e o continente
asiático — onde as classes médias
constituem igualmente o barómetro do
crescimento económico —, centremo-nos na
Europa do Sul e na América Latina.
Em países como Portugal e Grécia,
onde o “Sul do Norte” tem sido vergado
ao austeritarismo da Europa central,
a força das elites e do poder alemão
empurram as classes médias-baixas para
o campo da classe trabalhadora e do
“precariado”. A resistência esporádica,
que emerge de tempos a tempos, exprime
uma nova aliança entre uma classe média
empobrecida e o novo proletariado
qualificado do século XXI (vejam-se as
rebeliões de 2011-2012). Tendo deslizado
com a crise, essa classe média debate-se
hoje entre a nuvem ideológica neoliberal
— a fatalidade da austeridade — e a revolta
latente contra as medidas espartanas
da disciplina ariana (e seus dóceis
representantes domésticos). As classes
médias do Sul da Europa perderam a sua
velha função de almofadas do modelo
social europeu, quando esse modelo
começou a ruir. É verdade que a sua
resistência foi passageira e hoje parece
resignada à inevitabilidade claustrofóbica
do Diktat instalado; mas qualquer novo
impulso de irreverência que volte a surgir
da sociedade civil pressupõe uma luta da
classe média ao lado dos segmentos mais
precarizados.
No Brasil há outras demarcações a
considerar. Digamos que há duas classes
médias. Os quarenta milhões tirados da
miséria na era do “lulismo” são a nova
classe trabalhadora, que já incorporou
direitos laborais, mas que se move, hoje,
não tanto pelo trabalhismo ou pelo discurso
sindicalista, mas pela pulsão do consumo (e
portanto pela miragem de um estatuto de
classe média). Foi isso que ocorreu com os
amplos movimentos de junho de 2013, que
reuniram os novos segmentos descontentes
das periferias urbanas com os velhos
segmentos instalados em torno do discurso
anticorrupção. A exigência de melhores
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dos manifestantes
brasileiros há dois
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os movimentos
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“petismo” encontra-
se paralisado pela
dimensão dos
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Agora, as
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Duas classes medias

  • 1. 48 | PÚBLICO,SEX21AGO2015 Professor na Faculdade de Economia e investigador do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra DebateSociedade ElísioEstanque ENRIC VIVES-RUBIO Duas classes médias U m olhar que pudesse sobrevoar o Atlântico, num desdobramento capaz de captar a “guerra de classes” que atinge neste momento a Europa do Sul e a América Latina (com especial incidência no Brasil), talvez possa dar visibilidade a novos contornos da conflitualidade sociopolítica, tomando como referência a noção de “classe média”, que aqui sugiro desdobrar em duas categorias. As classes antagónicas estruturadas no século XIX ganharam expressão política quando as contradições socioeconómicas começaram a coincidir com identidades coletivas inconciliáveis. Embora as divisões categoriais nunca tenham coincidido com grupos homogéneos, a narrativa marxista que, na Revolução Industrial e depois disso, opunha burgueses e proletários só ganhou expressão porque o operariado faminto e explorado dos núcleos industriais ingleses já estava em rebelião. Mais do que a “consciência de classe”, foi a revolta coletiva que deu sentido à utopia socialista desenhada por Marx e Engels, e instrumentalizada por Lenine em 1917. Ora, o fenómeno social que, no século XX, mais contrariou essa divisão dicotómica da sociedade no mundo ocidental foi a “classe média”. Esta categoria sociológica, composta por todo um conjunto de novas camadas profissionais assalariadas, foi a “terceira” e pulverizou o velho conflito industrial ao protagonizar o exemplo de sucesso e ao comprovar a viabilidade da sociedade meritocrática. Porém, esta “nova” classe média não se limitou a replicar o individualismo empreendedor do pequeno empresariado do comércio e indústria. Protagonizou igualmente novos conflitos e lutas coletivas. Embora ao arrepio da velha luta de classes, estes setores profissionais foram conquistando estatuto e poder económico, enquanto o seu sindicalismo corporativista ajudava a consolidar o Estado-providência. É neste quadro que podemos falar de “duas classes médias”. No passado, o discurso dicotómico galvanizou as lutas operárias contra o capitalismo. Hoje, o discurso das oportunidades e do empreendedorismo atingiu um nível tal de irrealismo que levou a classe média a cindir-se em dois campos opostos. Os que pretendem ascender (ou recuperar o seu anterior estatuto) e os que exigem o exclusivo de um status distintivo. A guerra instalada entre esses setores assume, naturalmente, contornos diferentes em função do contexto socioeconómico e político que se vive em cada um dos continentes onde ela decorre. Deixando de lado por agora os EUA e o continente asiático — onde as classes médias constituem igualmente o barómetro do crescimento económico —, centremo-nos na Europa do Sul e na América Latina. Em países como Portugal e Grécia, onde o “Sul do Norte” tem sido vergado ao austeritarismo da Europa central, a força das elites e do poder alemão empurram as classes médias-baixas para o campo da classe trabalhadora e do “precariado”. A resistência esporádica, que emerge de tempos a tempos, exprime uma nova aliança entre uma classe média empobrecida e o novo proletariado qualificado do século XXI (vejam-se as rebeliões de 2011-2012). Tendo deslizado com a crise, essa classe média debate-se hoje entre a nuvem ideológica neoliberal — a fatalidade da austeridade — e a revolta latente contra as medidas espartanas da disciplina ariana (e seus dóceis representantes domésticos). As classes médias do Sul da Europa perderam a sua velha função de almofadas do modelo social europeu, quando esse modelo começou a ruir. É verdade que a sua resistência foi passageira e hoje parece resignada à inevitabilidade claustrofóbica do Diktat instalado; mas qualquer novo impulso de irreverência que volte a surgir da sociedade civil pressupõe uma luta da classe média ao lado dos segmentos mais precarizados. No Brasil há outras demarcações a considerar. Digamos que há duas classes médias. Os quarenta milhões tirados da miséria na era do “lulismo” são a nova classe trabalhadora, que já incorporou direitos laborais, mas que se move, hoje, não tanto pelo trabalhismo ou pelo discurso sindicalista, mas pela pulsão do consumo (e portanto pela miragem de um estatuto de classe média). Foi isso que ocorreu com os amplos movimentos de junho de 2013, que reuniram os novos segmentos descontentes das periferias urbanas com os velhos segmentos instalados em torno do discurso anticorrupção. A exigência de melhores serviços públicos, de um Estado de direito e o direito a uma vida digna, previsível e regulada, esteve entre as preocupações dos manifestantes brasileiros há dois anos. Mas em 2015 os movimentos populares perderam o ânimo, e o “petismo” encontra- se paralisado pela dimensão dos escândalos e pela força mediática da direita reacionária. Agora, as duas classes médias parecem desencontradas, mas a ausência de um projeto de esquerda, que reagrupe a classe “C” com o operariado sindicalizado, deixa o terreno livre para que a classe média instalada (classes A/B) possa bramir, de espada em punho e em registo vingativo, por uma “ordem moral” que ela própria sempre desprezou. O elitismo preconceituoso, disfarçado de nacionalismo amarelo e verde, não esconde o seu verdadeiro desígnio, visível no aplauso aos militares (e no apelo ao seu “regresso”). Asclasses médiasdo SuldaEuropa perderama funçãode almofadasdo modelosocial europeu, quando essemodelo começouaruir