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12 • Público • Terça-feira, 18 de Outubro de 2016
Elísio Estanque chegou a Coimbra
em 1985, quando a reposição da
praxe já se tinha normalizado. Os
anos na cidade onde é docente
na Faculdade de Economia
e investigador do Centro de
Estudos Sociais permitiram-lhe
ir acompanhando a evolução dos
comportamentos no contexto
estudantil.
Foi com base na experiência
de observador-participante,
mas também em recolha de
informação, artigos de jornais
e entrevistas, que o sociólogo
escreveu um ensaio sobre estes
rituais académicos, editado pela
Fundação Francisco Manuel
dos Santos, com o título Praxe e
Tradições Académicas, que será
apresentado amanhã, em Coimbra.
Todas as citações referidas nas
perguntas desta entrevista são
retiradas deste livro.
“Depois de passar a usar o traje
senti-me outra.” Pedia-lhe para
comentar.
Costuma-se dizer que o hábito
faz o monge. A ideia de se ter
atingido um determinado estatuto
que, simbolicamente, representa
um reforço de poder na relação
com o grupo, com os mais novos,
acaba por influenciar a atitude. A
pessoa foi subalterna até um dado
momento e a partir dali passa a
atingir o verdadeiro estatuto de
estudante de pleno direito.
Refere que começaram a surgir
os primeiros casos de abuso
na praxe a partir dos anos
90 e início do milénio, que
corresponde a um período de
maior massificação do ensino
superior. Há uma relação?
A quantidade e qualidade nem
sempre caminham à mesma
velocidade. A partir do momento
em que se multiplica por n vezes
a presença de estudantes no
ensino superior, isso também
significa uma alteração de
qualidade. Criaram-se dinâmicas
de massificação. Note-se que
essa abertura e massificação
são resultado de democracia,
de conquistas emancipatórias
e absolutamente necessárias
para o desenvolvimento de uma
sociedade. Porém, não se pode
perder de vista que, enquanto
a universidade era mais elitista,
irreverência, violência e capital
cultural mantinham-se em algum
equilíbrio. Com o acesso ao ensino
superior, o background cultural de
muitos dos estudantes é inferior.
A modernização da sociedade
foi colocando a universidade
sobre uma lógica mercantilista.
Todo o tipo de pressões levam
a que o estudante venha para a
universidade e tenha que acabar
o curso em determinado prazo.
Por outro lado, Coimbra foi até
ao início do século XX a única
universidade do país, trazia jovens
de todas as origens geográficas, o
que ajudou a que a composição
social dos estudantes fosse muito
cosmopolita. Com a democracia
e multiplicação da oferta, as
universidades regionalizaram-
se. A proximidade estimula as
deslocações a casa semanalmente.
O período de fixação do estudante
na cidade é reduzido.
De que forma é que o menor
envolvimento com a dinâmica
da cidade se relaciona com
aumento de rituais violentos?
Não há uma relação de causa
efeito. Mas acho que isso
contribui para uma maior
superficialidade na relação do
estudante com aquilo que são
os conteúdos e o significado dos
elementos da natureza cultural,
informativa que sempre existiram
no ambiente académico — as
tertúlias, as correntes culturais
e literárias que tiveram lugar em
muitas cidades universitárias. A
sociedade de consumo estimulou
subjectividades orientadas por um
certo sentido individualista. Esse
sentimento de alguma solidão e
propensão para o consumo tem
Elísio Estanque Há uma relação entre
praxe e carreirismo político? É um dos
temas abordados num livro sobre a praxe
académica que é apresentado amanhã
Das“brincadeirasinócuas”àaceitação
do“poderdomaisforte”napraxe
A praxe não deixa
de ser um ritual
de inserção no
colectivo que
parece compensar
o excesso de
individualização
de relações sociais
Entrevista
CamiloSoldado
SOCIEDADE
vindo a ser acompanhado por
momentos e formas de atracção
que projectam as representações
da juventude e estimulam muitos
jovens a uma partilha muito
exaltada de contextos mais ou
menos lúdicos, de excitação, de
entrega identitária. A praxe não
deixa de ser um ritual de inserção
no colectivo que parece compensar
esse excesso de individualização de
relações sociais.
Nem que para isso seja
humilhado a dado ponto?
Sim. Também faço referência a
um debate em Lisboa, em que
uma estudante fala do direito
a ser humilhada. São vários
os estudantes que fazem essa
referência e são entusiasticamente
aplaudidos por toda a plateia
onde se reivindica o direito à
humilhação. Isso não deixa de
nos interpelar. Parece haver um
discurso nessas actividades que
veicula isto: “Tens que aprender a
aceitar o poder do mais forte.”
“A praxe ensina-nos isso. Tens
uma pessoa acima de ti quer
queiras, quer não.” Estes
estudantes vêem isso como
positivo.
É isso que nos deixa algo
perplexos. Sobretudo a nós,
de gerações mais velhas, que
aprendemos a valorizar os valores
democráticos, o respeito pelo
outro, as relações horizontais
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uma sociedade que precisa de ser
vigiada, em que o indivíduo só
tem sucesso se aceitar o poder,
o que pode conduzir a práticas
despóticas. Essa possibilidade
de poder abusivo, muitas vezes,
Público • Terça-feira, 18 de Outubro de 2016 • 13
Este ano houve um número
maior de instituições de ensino
com programas alternativos à
praxe. Como vê estas iniciativas?
À partida, bem. A resposta à
praxe não pode ser a punição.
As instituições deveriam
investir mais em modalidades
de recepção aos novos alunos
oferecendo-lhes oportunidade
de aceder ao conhecimento,
estimular a curiosidade, mostrar
o potencial de património e de
cultura que têm na universidade
e nas cidades. Devia haver mais
sintonia [entre universidades e
autarquias]. Mas a dinamização
não pode ser confundida com
consumo desbragado de cerveja e
outros, que respondem também a
interesses comerciais.
Que corresponde à ideia de
mercantilização que referia.
Exacto. Às vezes, esses poderosos
interesses das marcas e dos
patrocinadores acabam por
ter uma força tal que contribui
para atenuar ou apagar o que
poderia ser uma intervenção
mais reguladora por parte das
universidades e autarquias.
Depois, essas iniciativas [novas de
acolhimento] foram mais evidentes
do que no passado também porque
o actual ministro tem uma postura
mais...
Declarada contra a praxe.
Não sei se dizer isso explicitamente
é positivo ou não.
Pode causar mais resistências?
Pode.
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estudantes?
Podem vir a ganhar relevância no
futuro se houver um maior esforço
de aproximação às estruturas
formais do associativismo
estudantil e vice-versa.
de praxe sabem que, a partir
das lealdades que se constroem
desde o início, se criam laços que
mais tarde dão frutos. Quando
mobilizam para a praxe, não há
nenhuma justificação a dar, é como
no exército. Se isso funciona assim
para um acto de praxe, pode mais
tarde funcionar para um acto
político.
Há quem argumente que a
violência que acontece no
contexto de praxe não é praxe.
Qual o seu entendimento?
Isso é a leitura que os estudantes
fazem e a justificação que os mais
sintonizados com esses rituais
veiculam frequentemente: “A
praxe é uma coisa necessária,
tem a ver com as tradições,
tem que cumprir determinada
função integradora e tem todo
um conjunto de códigos e valores
que é preciso respeitar.” No nosso
olhar, enquanto sociólogos, a
realidade é aquilo que é, mesmo
quando ela, nos seus contornos
mais particulares, distorce aquilo
que era suposto ser. Essa invocação
de uma praxe em estado puro,
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Se num dia típico de praxe
encontro uma série de meninas
a gatinhar, com as “doutoras” a
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jovens alinhados com os olhos no
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que são brincadeiras inócuas.
Mas também posso constatar que
determinados casos espelham uma
forma de imposição de um poder,
de uma hierarquia, que veicula
uma relação de poder que tende a
dizer ao mais novo “para estares
aqui tens que te submeter”.
O exercício do poder simbólico.
Que tende a ser reiterado de
geração em geração. Mas acho
que os jovens olham mais o lado
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determinados testes. O caloiro
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doutores mais velhos. No final da
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se um pouco aquela clivagem. O
jovem de repente fica com a ideia
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pelo mais velho.
camilo.soldado@publico.pt
Entrevistasa
alunoseartigos
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aobservação
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emCoimbra,
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trabalhodeElísio
Estanque
ADRIANO MIRANDA
“A resposta não pode ser a punição”
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não é posta em prática. Mas há
um pormenor: o mais velho, que
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pode condescender e não aplicar
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facto de estar a mostrar ao mais
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  • 1. 12 • Público • Terça-feira, 18 de Outubro de 2016 Elísio Estanque chegou a Coimbra em 1985, quando a reposição da praxe já se tinha normalizado. Os anos na cidade onde é docente na Faculdade de Economia e investigador do Centro de Estudos Sociais permitiram-lhe ir acompanhando a evolução dos comportamentos no contexto estudantil. Foi com base na experiência de observador-participante, mas também em recolha de informação, artigos de jornais e entrevistas, que o sociólogo escreveu um ensaio sobre estes rituais académicos, editado pela Fundação Francisco Manuel dos Santos, com o título Praxe e Tradições Académicas, que será apresentado amanhã, em Coimbra. Todas as citações referidas nas perguntas desta entrevista são retiradas deste livro. “Depois de passar a usar o traje senti-me outra.” Pedia-lhe para comentar. Costuma-se dizer que o hábito faz o monge. A ideia de se ter atingido um determinado estatuto que, simbolicamente, representa um reforço de poder na relação com o grupo, com os mais novos, acaba por influenciar a atitude. A pessoa foi subalterna até um dado momento e a partir dali passa a atingir o verdadeiro estatuto de estudante de pleno direito. Refere que começaram a surgir os primeiros casos de abuso na praxe a partir dos anos 90 e início do milénio, que corresponde a um período de maior massificação do ensino superior. Há uma relação? A quantidade e qualidade nem sempre caminham à mesma velocidade. A partir do momento em que se multiplica por n vezes a presença de estudantes no ensino superior, isso também significa uma alteração de qualidade. Criaram-se dinâmicas de massificação. Note-se que essa abertura e massificação são resultado de democracia, de conquistas emancipatórias e absolutamente necessárias para o desenvolvimento de uma sociedade. Porém, não se pode perder de vista que, enquanto a universidade era mais elitista, irreverência, violência e capital cultural mantinham-se em algum equilíbrio. Com o acesso ao ensino superior, o background cultural de muitos dos estudantes é inferior. A modernização da sociedade foi colocando a universidade sobre uma lógica mercantilista. Todo o tipo de pressões levam a que o estudante venha para a universidade e tenha que acabar o curso em determinado prazo. Por outro lado, Coimbra foi até ao início do século XX a única universidade do país, trazia jovens de todas as origens geográficas, o que ajudou a que a composição social dos estudantes fosse muito cosmopolita. Com a democracia e multiplicação da oferta, as universidades regionalizaram- se. A proximidade estimula as deslocações a casa semanalmente. O período de fixação do estudante na cidade é reduzido. De que forma é que o menor envolvimento com a dinâmica da cidade se relaciona com aumento de rituais violentos? Não há uma relação de causa efeito. Mas acho que isso contribui para uma maior superficialidade na relação do estudante com aquilo que são os conteúdos e o significado dos elementos da natureza cultural, informativa que sempre existiram no ambiente académico — as tertúlias, as correntes culturais e literárias que tiveram lugar em muitas cidades universitárias. A sociedade de consumo estimulou subjectividades orientadas por um certo sentido individualista. Esse sentimento de alguma solidão e propensão para o consumo tem Elísio Estanque Há uma relação entre praxe e carreirismo político? É um dos temas abordados num livro sobre a praxe académica que é apresentado amanhã Das“brincadeirasinócuas”àaceitação do“poderdomaisforte”napraxe A praxe não deixa de ser um ritual de inserção no colectivo que parece compensar o excesso de individualização de relações sociais Entrevista CamiloSoldado SOCIEDADE vindo a ser acompanhado por momentos e formas de atracção que projectam as representações da juventude e estimulam muitos jovens a uma partilha muito exaltada de contextos mais ou menos lúdicos, de excitação, de entrega identitária. A praxe não deixa de ser um ritual de inserção no colectivo que parece compensar esse excesso de individualização de relações sociais. Nem que para isso seja humilhado a dado ponto? Sim. Também faço referência a um debate em Lisboa, em que uma estudante fala do direito a ser humilhada. São vários os estudantes que fazem essa referência e são entusiasticamente aplaudidos por toda a plateia onde se reivindica o direito à humilhação. Isso não deixa de nos interpelar. Parece haver um discurso nessas actividades que veicula isto: “Tens que aprender a aceitar o poder do mais forte.” “A praxe ensina-nos isso. Tens uma pessoa acima de ti quer queiras, quer não.” Estes estudantes vêem isso como positivo. É isso que nos deixa algo perplexos. Sobretudo a nós, de gerações mais velhas, que aprendemos a valorizar os valores democráticos, o respeito pelo outro, as relações horizontais e de igualdade. Preocupa-me. Procura-se naturalizar a ideia de uma sociedade que precisa de ser vigiada, em que o indivíduo só tem sucesso se aceitar o poder, o que pode conduzir a práticas despóticas. Essa possibilidade de poder abusivo, muitas vezes,
  • 2. Público • Terça-feira, 18 de Outubro de 2016 • 13 Este ano houve um número maior de instituições de ensino com programas alternativos à praxe. Como vê estas iniciativas? À partida, bem. A resposta à praxe não pode ser a punição. As instituições deveriam investir mais em modalidades de recepção aos novos alunos oferecendo-lhes oportunidade de aceder ao conhecimento, estimular a curiosidade, mostrar o potencial de património e de cultura que têm na universidade e nas cidades. Devia haver mais sintonia [entre universidades e autarquias]. Mas a dinamização não pode ser confundida com consumo desbragado de cerveja e outros, que respondem também a interesses comerciais. Que corresponde à ideia de mercantilização que referia. Exacto. Às vezes, esses poderosos interesses das marcas e dos patrocinadores acabam por ter uma força tal que contribui para atenuar ou apagar o que poderia ser uma intervenção mais reguladora por parte das universidades e autarquias. Depois, essas iniciativas [novas de acolhimento] foram mais evidentes do que no passado também porque o actual ministro tem uma postura mais... Declarada contra a praxe. Não sei se dizer isso explicitamente é positivo ou não. Pode causar mais resistências? Pode. E alternativas que partam dos estudantes? Podem vir a ganhar relevância no futuro se houver um maior esforço de aproximação às estruturas formais do associativismo estudantil e vice-versa. de praxe sabem que, a partir das lealdades que se constroem desde o início, se criam laços que mais tarde dão frutos. Quando mobilizam para a praxe, não há nenhuma justificação a dar, é como no exército. Se isso funciona assim para um acto de praxe, pode mais tarde funcionar para um acto político. Há quem argumente que a violência que acontece no contexto de praxe não é praxe. Qual o seu entendimento? Isso é a leitura que os estudantes fazem e a justificação que os mais sintonizados com esses rituais veiculam frequentemente: “A praxe é uma coisa necessária, tem a ver com as tradições, tem que cumprir determinada função integradora e tem todo um conjunto de códigos e valores que é preciso respeitar.” No nosso olhar, enquanto sociólogos, a realidade é aquilo que é, mesmo quando ela, nos seus contornos mais particulares, distorce aquilo que era suposto ser. Essa invocação de uma praxe em estado puro, por demarcação dos excessos, não deixa de ser um elemento retórico com pouca adesão à realidade. Se num dia típico de praxe encontro uma série de meninas a gatinhar, com as “doutoras” a dirigir o grupo com ordens; se vejo jovens alinhados com os olhos no chão a ouvir berros e gritaria de quem está à frente... Posso dizer que são brincadeiras inócuas. Mas também posso constatar que determinados casos espelham uma forma de imposição de um poder, de uma hierarquia, que veicula uma relação de poder que tende a dizer ao mais novo “para estares aqui tens que te submeter”. O exercício do poder simbólico. Que tende a ser reiterado de geração em geração. Mas acho que os jovens olham mais o lado lúdico, sobretudo depois de passar determinados testes. O caloiro acaba de chegar e depara-se com uma postura mais autoritária dos doutores mais velhos. No final da noite vão para os copos e ali desfaz- se um pouco aquela clivagem. O jovem de repente fica com a ideia de que, afinal, está a ser protegido pelo mais velho. camilo.soldado@publico.pt Entrevistasa alunoseartigos publicados, mastambém aobservação directadapraxe emCoimbra, sãoasbasesde trabalhodeElísio Estanque ADRIANO MIRANDA “A resposta não pode ser a punição” PUBLICIDADE não é posta em prática. Mas há um pormenor: o mais velho, que está numa posição de poder, depois de uma expectativa de imposição arbitrária do poder pode condescender e não aplicar de facto esse poder. Mas o simples facto de estar a mostrar ao mais fraco que “não te faço mal, mas se eu quisesse fazia” não deixa de ser preocupante. Associa a cultura praxista ao carreirismo político. Pode explicar? Tento questionar até que ponto há a relação de uma coisa com a outra. Entrevistei alguns protagonistas que me expressaram de forma bastante clara que os núcleos duros mais politizados, mais próximos de partidos políticos, estão atentos a tudo isso. Quando promovem iniciativas 100EmJulho,numacartaaberta, 100personalidadespediram àsuniversidadesalternativasà praxe.EmSetembrofoioministro ManuelHeitorquemescreveuàs instituiçõesapelandoaomesmo