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O Projeto Diversidade Sexual na Escola é uma realização da Uni-
versidade Federal do Rio de Janeiro, em parceria com a Secretaria de
Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade do Ministério da
Educação (Secad/MEC). É um dos mais de 30 projetos, nacionalmente
selecionados e conveniados pela Secad/MEC, em 2007, no âmbito da
Formação de Profissionais da Educação para a Promoção da Cultura
de Reconhecimento da Diversidade Sexual e da Igualdade de Gênero,
em cumprimento ao Programa Brasil Sem Homofobia.
Universidade Federal do Rio de Janeiro
Aloísio Teixeira
Reitor
Pró-Reitoria de Extensão
Laura Tavares
Pró-Reitora
Isabel Cristina Alencar
Superintendente Geral de Extensão
Ana Inês Souza
Superintendente Acadêmica de Extensão
Programa Papo Cabeça
José Leonídio
Coordenador
Projeto Diversidade Sexual na Escola
Alexandre Bortolini
Coordenador
Bolsistas
Luan Barros Cassal
Instituto de Psicologia
João Márcio Dias
Escola de Belas Artes
Autor
Alexandre Bortolini
Colaboradores
Majorie Marchi
Regina Bortolini
Luan Barros Cassal
Projeto Gráfico
João Márcio Dias
Alexandre Bortolini
Revisão e Copydesk
Sergio Franco
1ª Edição
Pró-Reitoria de Extensão/UFRJ
Rio de Janeiro
2008
Ao longo de 2006 e 2007 o projeto realizou
uma série de oficinas em mais de 10 escolas do
interior e da região metropolitana do Rio de
Janeiro, atingindo mais de 400 profissionais da
educação e licenciandos. A partir dos relatos re-
colhidos durante essas oficinas, das dúvidas, dos
debates e da interação com os educadores, sele-
cionamos alguns temas que hoje compõem este
material de orientação.
A idéia aqui não é trazer respostas prontas,
receitas de bolo, dizer o que é certo e o que é
errado, se o educador deve agir desse ou daque-
le modo. O que se pretende é criar um momento
de reflexão sobre alguns aspectos relativos à di-
versidade sexual na Escola.
Como em tudo que se faz, foi necessário tam-
bém aqui fazer escolhas. Muitas questões não
couberam nas páginas, vários assuntos acabaram
ficando de fora, para que pudéssemos fazer um
material leve e acessível. Mas isto com certeza
será apenas um estímulo para aqueles que quise-
rem se aprofundar nos temas.
O que a gente espera é que, depois de ler
este material, de alguma forma, você possa re-
pensar, reconstruir o seu olhar sobre alguns dos
assuntos aqui abordados. E que este trabalho
não sirva apenas como um material de leitura,
mas como um incentivo à ação, à ação transfor-
madora.
Como a escola pode lidar com situações liga-
das à orientação sexual dos alunos? A sexualidade
dos alunos e alunas é um problema da Escola? E a
discriminação e a violência que sofrem os jovens
homossexuais dentro da Escola? O que uma pro-
fessora pode fazer diante de um ato de discrimi-
nação?
SEXUALIDADE
por todos os cantos
Nos anos 60, teve início um pro-
cesso de aprofundamento das mu-
danças sociais com relação ao com-
portamento e à sexualidade. Os dois
movimentos que mais contribuíram
para essas transformações foram o
movimento feminista e, mais tarde,
os movimentos gay e lésbico . Ain-
da hoje, vivemos um momento de
transição, de transformação dos pa-
radigmas de comportamento sexual
e afetivo da nossa sociedade.
Como em todo momento de
mudança, a realidade de hoje guar-
da várias contradições. Ao mesmo
tempo em que vemos e convivemos
cada dia mais com uma diversidade
sexual cada vez mais rica e menos
rotulada, se mantêm e até se re-
forçam atitudes preconceituosas,
discriminatórias e violentas de pes-
soas, grupos e instituições conser-
vadoras. Esse embate entre o novo
e o conservador, entre a conquista
dos direitos e a repressão dos pre-
conceitos se dá em todo o corpo
social, em diferentes lugares e mo-
mentos. Na família, no círculo de
amigos, na comunidade, no traba-
lho e, é claro, na Escola.
Mas a Escola fala sobre sexo?
Fala sobre sexualidade? Michel
Foucault, em seu livro História da
Sexualidade, defende que, nos
últimos séculos, ao contrário de
uma sistemática repressão sexu-
al, o que houve foi uma produção
massiva de discursos sobre o sexo.
O sexo tornou-se objeto de análi-
se científica, alvo da medicina, da
psiquiatria, da pedagogia. Se antes
as relações de poder que perpas-
savam a questão sexual estavam
focadas na aliança, nos laços de
matrimônio e na oficialização de
uma parceria, agora as relações de
poder se projetam sobre o corpo,
sobre o prazer e suas manifesta-
ções. Produzem-se discursos sobre
o corpo da mulher, a sua afetivi-
dade, o seu papel de “mãe”; a
sexualidade infantil é vista como
algo precoce e se torna alvo da pe-
dagogia; a reprodução e o sexo se
tornam de interesse das políticas
públicas de saúde e população e a
psiquiatria cria uma série de cate-
gorias, conceitos e nomenclaturas
específicas para descrever com-
portamentos sexuais “perversos”.
Ou seja, a rede de poder que per-
passa a sexualidade seria baseada,
portanto, não em um movimento
de repressão, de silêncio, de mu-
tismo e até de invisibilidade. Mas,
mais que isso, numa dinâmica po-
sitiva, de produção de discursos e
comportamentos.
Nesse contexto, a Escola, enten-
dida como uma instituição formada
por seres humanos, pais e mães,
professores, alunos e funcionários,
muitas vezes não é vista como um
lugar onde a sexualidade deva ser
expressada ou discutida. Em seu
aparente silêncio, na verdade, ela
fala o tempo todo sobre sexuali-
dade. “O espaço da sala, a forma
das mesas, o arranjo dos pátios de
recreio, a distribuição dos dormi-
tórios, os regulamentos elaborados
para a vigilância do recolhimento e
do sono, tudo fala silenciosamente
da maneira mais prolixa da sexu-
alidade das crianças.” Para citar
exemplos mais modernos, a divisão
por sexo nas aulas de Educação Físi-
ca - e os esportes atribuídos a meni-
nos ou meninas; as filas de meninos
e de meninas na Educação Infantil;
as distinções sexistas de vestuário
- meninos não podem usar brincos
nem cabelo comprido; a forma dos
professores tratarem alunos ho-
mens ou mulheres, com rispidez
ou com delicadeza; a tolerância da
violência, verbal e até mesmo físi-
ca, entre meninos; a preocupação
constante com a manifestação da
sensualidade das adolescentes. Só
para citar alguns exemplos.
Por outro lado, uma pesquisa
recente da UNESCO levantou que,
se para alguns pais a escola não é
“lugar para ensinar saliências”,
a maior parte dos responsáveis e,
em maior escala, de educadores e
estudantes, é favorável à discussão
direta sobre sexualidade na Escola.
Nesse debate se opõem, de um
lado, uma visão higienista, biolo-
gizante, onde se apresenta uma
verdade única e “científica” e onde
cabe apenas a um professor, o de
Ciências, a responsabilidade de
tratar o tema. De outro lado, uma
perspectiva interdisciplinar, onde
a sexualidade seja tratada em di-
ferentes momentos e sob diversas
perspectivas, em todos os seus as-
pectos (biológicos, sociológicos,
culturais, afetivos, etc.) numa idéia
de pluralidade e tolerância.
Tudo isso nos mostra que a Es-
cola, a despeito do que se creia, é
sim um espaço onde a sexualidade se
manifesta e mais, onde se produzem
comportamentos, onde se instigam
ou superam preconceitos, onde se
difundem conhecimentos e valores.
E a Escola, com seu papel formativo,
tem sobre si uma enorme responsa-
bilidade, proporcional aos seus desa-
fios, no que diz respeito à superação
dos preconceitos e à defesa irrestrita
dos direitos humanos.
Mas o que orienta as posições
institucionais da Escola? Como cada
estabelecimento se coloca dian-
te das questões da sexualidade e,
especificamente, da diversidade
sexual de seus/suas alunos/as e
professores/as? Como cada escola
lida com episódios de conflito, de
agressão e de discriminação? A es-
cola trabalha para a superação des-
ses preconceitos ou, ao contrário,
adota, nas suas práticas cotidianas,
regras, rótulos e posturas que ten-
dem a reproduzir, afirmar e incre-
mentar atitudes discriminatórias,
sexistas e homofóbicas?
Eu dei aula numa escola de 1ª a 4ª, justamente o primeiro segmento, e eu
tive uma situação em que ficou nítido, por falta de argumento do professor,
aí você sai por aquele caminho do senso-comum. Uma aluna fazendo uma ba-
gunça, perturbando, perturbando, perturbando, aí chegou uma hora em que
não agüentei mais e fiz assim “porque você não pára com isso, que saco, vê
isso fica bem, uma menina agindo dessa forma!”. E aí a turma virou e falou
assim: “professor, é um menino”. Aí minha cara foi no chão, não por eu ter
errado o sexo, mas aí eu percebi o quanto de preconceito estava naquela
fala. “Do mesmo jeito, tanto faz se é menino ou menina”. Aí, na verdade,
eu já tava dando esporro em mim mesmo. Mas tem essa coisa, eu acho que a
gente acaba reforçando a postura social e cultural. Por não ter argumento,
acabei falando “vê se fica bem numa menina”. Não interessa se ela é menina
ou se é menino.
Professor
Para começar: você sabe qual a
diferença entre SEXO e GÊNERO? O
que você sabe sobre estes dois con-
ceitos?
Bom, num primeiro momento
vamos pensar que sexo é tudo aqui-
lo que está relacionado às caracte-
rísticas físicas de um ser humano. O
órgão sexual, o genoma, o formato
do corpo, dos seios, enfim, tudo
aquilo que é característica relacio-
nada diretamente à materialidade.
Assim, teríamos pessoas do sexo
masculino, do sexo feminino ou
(raramente) intersexuais.
E gênero? O conceito de gêne-
ro, por outro lado, está ligado às
características comportamentais,
culturais, sociais e históricas, cons-
truídas socialmente. Entre um bebê
do sexo masculino e um homem, na
forma como a nossa sociedade o
concebe – no seu jeito de ser, de
falar, de andar, de vestir, de agir
– há uma grande distância. Antes
mesmo de uma criança nascer ela
já tem um nome, que é masculino
ou feminino; já tem um enxoval,
que é mais rosa ou mais azul; já
tem expectativas de vida dos seus
pais sobre ela, que tem a ver com o
fato dela ser menino ou menina.
Não há nada na genética do ca-
belo da mulher que diga que ele é
mais propenso a ficar comprido do
que o do homem. Não há nada no
formato do quadril de um homem
que o impeça de usar saia. Essas
convenções são construídas social-
mente, através da História e das
nossas culturas.
Poderíamos aqui dividir as pes-
soas no gênero masculino ou femi-
nino, mas, nesse caso, esta divisão
se torna cada vez mais artificial.
Afinal, para que ela faça sentido é
preciso que a gente tenha um perfil
de masculinidade e de feminilidade
claramente estabelecidos. Apesar
destes estereótipos existirem, eles
são a cada dia mais e mais ques-
tionados. Esta divisão estanque
entre masculino e feminino vai
sendo relativizada e vão se criando
identidades de gênero que não se
encaixam exatamente em nenhum
extremo.
Complicado? Pois ainda dá para
complicar um pouco mais. Por
exemplo: qual é o sexo hoje de
uma pessoa que nasceu com o sexo
masculino, mas fez uma operação
de mudança de sexo? É masculino
ou feminino? O que é determinante
nesse caso? O sexo de nascença? O
sexo que ela tem agora? As caracte-
rísticas físicas? Mas quais? O genó-
tipo? (Ela continua XY) Ou o fenó-
tipo? (Ela tem seios, quadril, rosto,
vagina, toda a compleição física de
uma mulher) Mas ela não pode ter
filhos. E as mulheres que nascem
ou ficam estéreis? Não são mulhe-
res? O que define uma mulher? É a
sua capacidade de reproduzir? Ou
seja, num caso como esse, há ar-
gumentos físicos e biológicos para
afirmar que essa pessoa é do sexo
masculino. E há argumentos físicos
e biológicos para afirmar que ela é
do sexo feminino. No fim de tudo,
percebemos que o sexo também
não é um conceito tão definitivo as-
sim e pode ser tão relativo quanto
o conceito de gênero.
A Biologia, como todas as ciên-
cias, foi criada pelos seres humanos,
num determinado momento da His-
tória, num determinado tipo de so-
ciedade. Ela é, portanto, assim como
todas as outras ciências, relativa.
No fim, o que percebemos é que
os conceitos de sexo e gênero, ape-
sar de distintos, são ambos relativos e
a percepção sobre eles irá mudar de
acordo com o momento histórico, a
cultura e a visão pessoal de cada um.
Sobre a transexual, pense ape-
nas uma coisa: se você decidir que
o sexo dela é masculino, vai fazer
alguma diferença para você na sua
vida cotidiana? E para ela? Se você
decidir que o sexo dela é feminino,
vai fazer alguma diferença para você
na sua vida cotidiana? E para ela?
Um grupo de cientistas colocou cinco macacos numa jaula.
No meio da jaula, uma escada e sobre ela, um cacho de bananas.
Quando um macaco subia na escada para pegar as bananas, os
cientistas jogavam um jato de água fria, não no que subia, nos que
estavam no chão. Depois de alguns jatos d»água, quando um macaco
tentava subir a escada, os outros o espancavam. Com mais algum
tempo, nenhum macaco subia mais a escada, apesar da tentação
das bananas.
Então, os cientistas substituíram um dos macacos por um novo.
A primeira coisa que o novato fez foi, logicamente, subir a escada.
Mas foi imediatamente surrado pelos outros. Depois de algumas
surras, o novo integrante do grupo também não subia mais na
escada. Em seguida, os cientistas substituíram outro macaco. Claro,
o novato foi direto tentar subir a escada. E claro, foi espancado por
todos os outros, inclusive aquele primeiro macaco trocado.
E assim foi, macaco a macaco, os cientistas substituíram todos
por novos integrantes. No final de tudo, o grupo de cinco macacos,
todos trocados, mesmo nunca tendo tomado um único banho frio,
continuavam batendo em qualquer um que tentassem pegar as
bananas.
Se desse para a gente perguntar para algum deles porque eles
espancavam quem tentasse subir a escada, provavelmente um deles
ia responder: «não sei, só sei que sempre foi assim.»
BREVE HISTÓRIA DO MACACO
A cor de menino é azul e de me-
nina, rosa. Homem usa calça, mu-
lher usa saia. É o homem que tem
que pagar a conta. Menina brinca
de boneca, menino de carrinho.
Homens são mais brutos. Mulheres
mais delicadas. Estas são só algu-
mas das idéias que existem, que
nós acreditamos e reproduzimos,
mas que a gente não faz idéia de
onde surgiram. Em que momento
da história se decidiu que azul era
cor de menino e rosa cor de meni-
na? Você sabe? Ninguém sabe, mas
nós agimos como se isso fosse a
coisa mais óbvia do mundo. Basta
esticar um pouco o olhar sobre ou-
tros povos ou sobre a nossa própria
história para que a gente perceba
como esses conceitos são relativos.
E, se são relativos, eles podem ser
transformados...
Os seres humanos não são com-
pletos em si mesmos, e buscam
prazer em muitas fontes externas
– a gente viaja, come, trabalha,
estuda, vê filmes, tem filhos... O
porquê das pessoas terem vonta-
des tão variadas e as diferenças
na sua realização é um complexo
que combina elementos culturais,
biológicos e sociais. A ciência ain-
da não dá conta dessas respostas.
Esses sentimentos são direcionados
a um objeto externo a si mesmo, e
não dizem respeito ao que a pessoa
é ou o que ela faz, mas é uma von-
tade subjetiva.
Uma das formas de encontrar-
mos prazer e completude nas nos-
sas vidas é o amor e o sexo. O de-
sejo, nesse caso, é pelo outro. Para
dar um nome acadêmico, a gente
chama esse desejo de orientação
sexual e afetiva. A partir de um de-
terminado momento, começamos
a criar categorias que tentassem
classificar a enorme diversidade
desses desejos.
O termo orientação sexual (ago-
ra acrescido da expressão afetiva)
é usado com uma infinidade de sig-
nificados – até mesmo com o senti-
do de educação sexual. Aqui vamos
trabalhar com este conceito signifi-
cando a atração, o desejo sexual e
afetivo que uma pessoa sente por
outras. Para montar as “catego-
rias” nós vamos nos basear no gê-
nero e não no sexo, no papel social
interpretado e não na genitália.
Assim podemos dividir as orien-
tações (se é que isso é possível de
fato) basicamente em:
ORIENTAÇÃO SEXUAL E AFETIVA
Outro conceito importante para
começarmos a entender toda essa
história é o de identidade sexual.
Cada um de nós possui uma diver-
sidade de identidades: profissional,
religiosa, étnica, racial, familiar
e, dentre tantas, uma identidade
sexual. Diferente da orientação
sexual e afetiva, que está direta-
mente relacionada ao meu desejo
pelo outro, a identidade sexual tem
a ver com como eu me coloco dian-
te da sociedade, com quais grupos,
representações e imagens eu me
identifico e me reconheço.
Claro que a nossa cultura, ávida
por classificações, foi, ao longo dos
tempos, em especial das últimas dé-
cadas, criando identidades sexuais.
Algumas das mais conhecidas são:
HOMOSSEXUAL
quem sente atração por pessoas do mesmo gênero
HETEROSSEXUAL
quem sente atração por pessoas do gênero oposto
BISSEXUAL
quem sente atração por pessoas de ambos os gêneros
Essas categorias, assim como to-
das as classificações, não dá conta
da enorme diversidade humana. Se
pensarmos no campo do desejo se-
xual e afetivo, provavelmente um
heterossexual é tão diferente de
um homossexual quanto de outro
hetero. Para viajar um pouco mais,
podemos então pensar que existem
heterossexualidades, homossexu-
alidades, etc. Ou que talvez o de-
sejo humano possa ser como um
gradiente, que vai da homossexua-
lidade absoluta à heterossexualida-
de absoluta (com a bissexualidade
absoluta exatamente no meio). A
maioria de nós estaria em algum
lugar dentro deste degradê.
IDENTIDADE SEXUAL
O mais importante aqui é que a gente consiga diferenciar na nossa cabeça
o que são esses quatro conceitos: SEXO / GÊNERO / ORIENTAÇÃO SEXUAL E
AFETIVA / IDENTIDADE SEXUAL. A maioria de nós, desde criança foi ensinada
que só existiam duas possibilidade de combinações aí: SEXO: MASCULINO +
GÊNERO: MASCULINO + ORIENTAÇÃO: HETERO + IDENTIDADE: HOMEM HETERO
ou SEXO: FEMININO + GÊNERO: FEMININO + ORIENTAÇÃO: HETERO + IDENTIDA-
DE: MULHER HETERO
Mas as coisas não são tão simples assim – para o desespero de alguns e para
a felicidade de muitos. Assim, diferentes seres humanos foram inventando
diferentes formas de combinar todas essas experiências.
Gay
Homem heterossexual
Bissexual
Travesti
Transexual
Lésbica
Mulher heterossexual
Estas identidades não têm a ver só
com a atração sexual e afetiva, mas,
mais do que isso, têm a ver com um
jeito de ser, de se sentir, de vivenciar
o seu afeto, com o compartilhamento
de uma determinada cultura, música,
lugares de encontro, até mesmo com
uma atitude política.
É daí que vem a siglaGLBTT, que significagays,lésbicas,bissexuais,travestis e transexuais.
Ao longo destes textos você vai
poder perceber que nós sempre usa-
remos a palavra homossexualidade,
ao invés de homossexualismo. O su-
fixo ISMO é de origem grega e car-
rega dois sentidos principais: a idéia
de uma doutrina, seita ou conjunto
de idéias (Cristianismo, Judaísmo,
Marxismo) ou a idéia de doença (ta-
bagismo, alcoolismo, botulismo). Já
o sufixo DADE traz um sentido de ex-
pressão, manifestação humana (iden-
tidade, felicidade, espontaneidade,
sexualidade).
Assim, o termo homossexualis-
mo carrega uma idéia conservadora
que enxerga os homossexuais como
doentes ou desviantes. Já a pala-
vra homossexualidade nos remete à
idéia de que ela é apenas mais uma
expressão da sexualidade ou da
identidade humana.
O termo homossexualismo foi cria-
do no final do século XIX por médicos,
como a classificação de uma doença.
Nas últimas décadas do século XX,
os códigos de doenças (CID-X e DSM
IV) retiraram a homossexualidade
de suas classificações e, em 1990, a
Organização Mundial de Saúde (OMS)
aboliu a homossexualidade como do-
ença de todas suas listas. Além dis-
so, em 2001 o Conselho Federal de
Psicologia do Brasil proibiu todos os
profissionais da área de realizarem
qualquer tratamento que vise uma
possível “cura” da homossexualida-
de, visto que não é uma doença. O
profissional que faça isso pode até
mesmo ter seu registro cassado.
ISMOS E DADES
Quando o assunto é homossexu-
alidade ou transexualidade, o que
não falta são opiniões. Algumas ba-
seadas em conceitos, idéias e cren-
ças. Outras, construídas em cima
apenas do senso comum e mesmo
do completo desconhecimento.
Colocamos aqui então algumas das
“idéias” que rondam a imagem da
homossexualidade, para a gente
discutir um pouco cada uma delas.
Entre os diferentes estereotipos
que cercam os homens homosse-
xuais há alguns que são aparente-
mente positivos – aparentemente.
E esse é um deles. Pessoas sensí-
veis e amigas existem em todas as
orientações sexuais. Assim como
antipáticas também. Não há nada
na orientação sexual de uma pessoa
que a torne necessariamente mais
ou menos amiga.
Talvez possamos pensar que um
homem gay, por ser gay, já rompeu
com talvez o maior componente do
estereotipo da masculinidade, qual
seja, gostar de mulher. Assim, tal-
vez fique mais fácil romper com ou-
tros, como a dificuldade de expres-
sar seus sentimentos, de chorar, de
demonstrar afeto, etc.
Por outro lado, essa idéia pare-
ce funcionar quase como uma com-
pensação. Como a idéia de que todo
gordo é alegre. Por que todo gordo
tem que ser alegre?! Por que, para
ser aceito como gay, o sujeito pre-
cisasse ser sensível, amigo, inteli-
gente, bonito, rico e bem sucedido?
Como se essas grandes qualidades
“compensassem” aquele pequeno
defeito. E se ele for pobre, chato
e nada inteligente? Não merece ser
respeitado?
OS HOMENS GAYS SÃO MAIS SENSÍVEIS E ÓTIMOS AMIGOS
Essa idéia, apesar de aparen-
temente sem sentido, está muito
presente no senso comum da nossa
sociedade. E o que importa nessa
questão é conseguirmos perceber o
que está por trás dessa idéia.
Na nossa sociedade há um papel
para o homem e um papel para a
mulher. Entre os estereótipos que
compõem o papel do homem está o
fato de ter de ser forte, viril, prove-
dor, dominante e ativo sexualmente.
Entre os estereótipos que compõem
o papel da mulher está a idéia de
ser mais sensível, romântica, mãe,
frágil e passiva sexualmente. Quan-
do esses papéis são transgredidos,
aí começa o problema.
Duas mulheres femininas transan-
do é parte inclusive da fantasia sexu-
al de muitos homens heterossexuais.
E duas mulheres masculinizadas? Se-
rão alvo certo de preconceitos. Mui-
tos homens que se relacionam sexu-
almente com outros, mas se mantém
na posição de ativo, não vão se en-
tender como homossexuais. Dentre
os próprios gays uma forma cômica e
pejorativa de brincar com os colegas
é chamar de “passiva”.
O depoimento a seguir exemplifi-
ca um pouco o que estamos dizendo.
NUMA TRANSA ENTRE DOIS HOMENS, QUEM É PASSIVO
É MAIS HOMOSSEXUAL DO QUE QUEM É ATIVO
O que está embutido nesse pen-
samento? A idéia de que, se o filho
é o ativo nas relações, ele ainda se
mantém dentro do papel social de
homem, ainda dentro do estereotipo
da masculinidade, e precisa apenas
se livrar desse “mau hábito”. Se ele
é passivo nas relações, já teria então
rompido com esse papel masculino,
sendo, portanto, “irrecuperável”.
E mesmo que você diga que não
concorda, que é absurdo, talvez aca-
be se pegando com um pensamento
muito parecido. Quando você vê um
casal gay andando pela rua. Um com
um estereotipo mais masculino, o ou-
tro, mais feminino. Provavelmente
você, como grande parte das pesso-
as, fará também um julgamento de
quem é o ativo e quem é o passivo,
mesmo sabendo que pode estar com-
pletamente enganado.
Isso tudo deixa claro que os pre-
conceitos com relação à orientação
sexual estão intrinsecamente ligados
às questões de gênero. Mais do que
quem faz sexo com quem, impor-
ta saber qual o papel que essa pes-
soa ocupa. Quanto mais o indivíduo
rompe os papéis de gênero, mais ele
será notado, estigmatizado e, muitas
vezes, discriminado e agredido. Não
é à toa que, dentre todo o segmento
GLBTT, sem dúvida são as travestis e
transexuais – que subvertem radical-
mente os papéis pré-estabelecidos -
que carregam os maiores índices de
agressão e violência.
Quando eu contei para os meus pais que eu era gay, meu pai, que
nunca falava nada, disse que só queria me fazer uma pergunta: se eu era
ativo ou passivo. Porque se eu era ativo, ainda dava pra recuperar...
Jovem homossexual
A HOMOSSEXUALIDADE É UMA OPÇÃO DE VIDA.
UMA ESCOLHA.
O que é uma escolha? Escolha
é uma simples decisão, sobre algo
que pode ser decidido. Eu escolho
se vou vestir uma camisa azul ou
vermelha. Mas será que é possível
escolher por quem eu quero sentir
atração sexual ou afeto?
Há uma série de pesquisas, es-
tudos, discussões e debates sobre o
que leva uma pessoa a ser homosse-
xual. Há quem atribua a caracterís-
ticas biológicas, mesmo genéticas;
há quem defenda que toda a sexua-
lidade é uma construção social; há
os que juntem um pouco de tudo.
Seja como for, todas essas questões
estão ligadas a processos (físicos ou
psicológicos) que estão para além
da simples vontade.
A escolha em questão tem a ver
não com sentir ou não sentir atração,
mas com vivenciar ou reprimir, assu-
mir ou esconder, um determinado
desejo afetivo ou sexual. Desejo que
não é determinável pela vontade.
O problema da idéia de escolha
é que ela ignora a subjetividade e
muitas vezes culpabiliza o sujei-
to. Por outro lado, a visão de que
a orientação sexual é algo que está
para além da determinação da pes-
soa, pode gerar uma idéia de pena
– “coitado, ele não têm escolha...”
– o que também não é uma relação
positiva.
Talvez o melhor seja pensarmos
que as orientações sexuais, todas
elas, têm origens e determinantes
que ainda não conhecemos muito
bem, mas que, mais importante do
que isso, é podermos viver a nossa
sexualidade, seja qual for, de uma
forma livre, respeitosa, tranqüila e
saudável.
Como a gente já viu antes,
orientação sexual e identidade são
coisas diferentes. A identidade de
gay vai além de fazer sexo com
outro homem. Tem a ver com um
jeito de ser, uma determinada cul-
tura, música, lugares de encontro,
até mesmo com uma determinada
atitude política. Nem todo homem
que faz sexo com outro homem tem
essa identidade e, portanto, não
pode ser imediatamente considera-
do como gay. Assim como nem toda
mulher que faz sexo com outra mu-
lher tem a identidade de lésbica.
Isso não significa que eles sejam mal
resolvidos. Simplesmente que não
se identificam com essa imagem.
Algumas ações de prevenção a
DST/AIDS usam hoje os conceitos
de HSH (homens que fazem sexo
com homens) e MSM (mulheres que
fazem sexo com mulheres), já que
entende que, na hora de fazer um
cartaz ou produzir um texto, não se
pode atribuir a todos esses homens
e mulheres a identidade de gays ou
lésbicas.
TODO HOMEM QUE FAZ SEXO COM OUTRO HOMEM É GAY.
Ainda há no imaginário de mui-
tas pessoas aquela imagem do ho-
mossexual que faz pegação no ba-
nheiro, que se agarra em lugares
públicos no meio da noite – e essa
cultura ainda existe bastante den-
tro da comunidade GLBTT.
Então, vamos pensar o seguinte:
há trinta anos atrás, quais eram os
espaços onde os homossexuais po-
diam vivenciar a sua sexualidade ou
o seu afeto? Dava para namorar na
pracinha? Andar de mão dada na fes-
ta da escola? Apresentar o namora-
EXISTE MUITA PROMISCUIDADE ENTRE OS HOMOSSEXUAIS.
do ou namorada para a família? Claro
que não. Mesmo a maioria dos motéis
não permitia a entrada de casais do
mesmo sexo. Ou seja, gays e lésbicas
não podiam viver a sua sexualidade
e o seu carinho nos espaços onde to-
dos outros vivenciavam. Essa vivência
acabava sempre se dando de forma
marginal. Ou nos guetos ou na sur-
dina, muitas vezes em lugares nada
adequados, mas que restavam como
única possibilidade. Mesmo hoje, a
manifestação do afeto público ainda
é muito difícil e reprimida.
Assim, se um funcionário pega
dois meninos se agarrando no ba-
nheiro da escola, seria interessante
ele imaginar que, se esses dois me-
ninos pudesses se beijar e namorar
em público como todas as outras
pessoas, eles talvez não precisas-
sem fazer isso no banheiro. Que esse
tipo de atitude não é conseqüência
de uma perversão e safadeza nata à
homossexualidade, mas conseqüên-
cia sim da realidade de repressão e
discriminação a qual gays e lésbicas
estão submetidos.
Qual a forma de contágio do HIV
pelo sexo? Relação sexual desprote-
gida com alguém portador do vírus.
E qual a única forma de prevenção?
Sexo com camisinha, e ponto. Não
importa com quem você esteja fa-
zendo sexo, nem quantas relações
você tem, nem quantos parceiros. O
que importa neste caso é apenas se
você está usando preservativo em
todas as relações.
O pensamento, ainda muito co-
mum hoje em dia, de que homos-
sexuais têm mais chances de pegar
AIDS trabalha ainda com a idéia de
grupo de risco. E qual o problema
desse conceito – além de ser um
pensamento alimentado por muito
preconceito? Se você trabalha com
idéia de que existem determinados
grupos que estão mais propensos a
se contagiar, e se você não faz par-
te de nenhum deles, então você não
precisa se prevenir. “Se AIDS é coisa
de prostitutas, usuários de drogas
e homossexuais e eu não sou nada
disso, então não preciso me preo-
cupar, posso transar à vontade que
nunca vou pegar o HIV”. Esse é o
pensamento alimentado pela idéia
de grupo de risco, pensamento que
ainda leva muitos homens e mulhe-
res a manterem relações completa-
mente desprevenidos.
Hoje nós trabalhamos com o
conceito de comportamento de
risco, ou seja, o que o torna vul-
nerável à contaminação pelo HIV
não é a sua orientação sexual, sua
profissão, o número de parceiros ou
nada disso, mas comportamentos
de risco, como manter relações sem
camisinha e compartilhar seringas.
São estes comportamentos que o
tornam vulnerável.
Só alguns dados, uma pesquisa
O RISCO DE PEGAR AIDS É MAIOR ENTRE HOMOSSEXUAIS.
feita entre homossexuais durante
a Parada do Orgulho GLBT do Rio
constatou que 72% dos que respon-
deram à enquete afirmaram usar
preservativos em TODAS as relações
. Segundo o Ministério da Saúde, a
prática heterossexual é responsável
por 46% dos novos casos de AIDS
OS JOVENS BISSEXUAIS NA VERDADE ESTÃO PASSANDO
POR UMA FASE DE INDECISÃO. LOGO VÃO OPTAR POR
UM LADO OU PELO OUTRO.
Há uma tendência errônea de
se entender os bissexuais como se
fossem pessoas mal resolvidas. Ho-
mossexuais não assumidos ou he-
terossexuais que não sabem o que
querem. É difícil para muitas pesso-
as entenderam a bissexualidade de
fato porque a gente ainda trabalha
muito com uma idéia dicotômica da
sexualidade. Não dá para a gente
criar categorias, como homo e hete-
ro, e achar que todo o desejo sexual
e afetivo da humanidade vai caber
dentro delas. É claro que não.
Como já dissemos antes, vamos
pensar que desejo humano possa ser
como um gradiente, que vai da ho-
mossexualidade absoluta à heteros-
sexualidade absoluta (com a bisse-
xualidade absoluta exatamente no
meio). A maioria de nós estaria em
algum lugar dentro desse degradê.
Ninguém precisa se encaixar nes-
se ou naquele lugar, nem decidir por
qualquer lado que seja. Uma pessoa
simplesmente pode sentir atração
por ambos os gêneros. E isso não
quer dizer que um bissexual precise
estar permanentemente se relacio-
nando com homens e com mulhe-
res. Isso significa que essa pessoa é
capaz de se satisfazer numa relação
de afeto e de sexo com outra pes-
soa, seja qual for o seu gênero.
Compreender e aprender a res-
peitar a diversidade sexual humana
não é apenas incluir mais alguns
modelos de relacionamento na
nossa caixinha de aceitáveis, mas
compreender que a sexualidade e
o afeto são experiências muito di-
versificadas, múltiplas e que podem
produzir uma série de possibilida-
des.
Se voltarmos 50 anos atrás, de
fato naquela época essa possibili-
dade não existia. Duas mulheres vi-
vendo juntas, compartilhando uma
casa, uma vida, uma cama, era algo
inconcebível e inaceitável social-
HOMOSSEXUAIS TÊM DIFICULDADE DE MANTER RELAÇÕES
AFETIVAS ESTÁVEIS, COMO UM CASAMENTO, POR EXEMPLO.
mente. Uma pesquisa realizada com
homens homossexuais com mais de
50 anos apontou que a maioria deles
não conseguiu, na sua época, tornar
as relações amorosas em relações
conjugais. Não que não houvesse o
desejo, mas a repressão social – in-
ternalizada inclusive – era tamanha
que essa idéia se tornava inviável.
Hoje, muitos adolescentes e
jovens homossexuais já conseguem
vivenciar, desde cedo, o afeto, o
namoro, o carinho. Aquelas coisas
bem bobas de adolescente, que se
apaixona, que namora, que termi-
na, chora, apaixona de novo, namo-
ra de novo. Coisas tão simples, mas
que foram completamente negadas
à maioria dos homossexuais na sua
juventude, e que hoje já vão se tor-
nando cada vez mais possíveis.
O desejo pelo amor, pela convi-
vência, por compartilhar a vida com
alguém que se ama independe da
orientação sexual. Na mesma pes-
quisa realizada na Parada do Orgu-
lho GLBT do Rio, 46% dos homosse-
xuais responderam que mantém um
relacionamento estável, 24% vivem
com um companheiro. Quarenta
por cento dos relacionamentos têm
mais de 1 ano. 8% mais de 6 e 10%
mais de 10 anos de convivência .
A união civil entre pessoas do mesmo sexo já existe hoje na Dina-
marca, na Noruega, na Suécia, na França, na Alemanha, na Bélgica, na
Argentina, no Reino Unido (Inglaterra), no México e em alguns lugares
dos Estados Unidos. Já o casamento – ou seja, a lei não faz distinção
mais entre homossexuais ou heterossexuais - existe na Holanda e na
Espanha. No Brasil, o projeto de parceria civil ainda se arrasta no
Congresso Nacional...
Quando se fala sobre homosse-
xualidade numa roda de amigos,
numa mesa de bar, num almoço de
família, mais cedo ou mais tarde
começam as especulações sobre
que motivos levaram essa ou aque-
la pessoa a se tornar gay, lésbica,
travesti...
Há dezenas de pesquisas em
todo o mundo que tentam explicar
a “origem” da homossexualidade.
Algumas vão apontar para fatores
biológicos, genéticos, neurológicos.
Outras vão condicioná-la a aspectos
sociais, educacionais ou psicológi-
cos. Mais algumas vão articular um
pouco de tudo isso.
A primeira coisa que devemos
nos questionar é porque é tão im-
portante ou instigante para muitas
pessoas desvendarem uma suposta
“causa” da homossexualidade. Será
que essas mesmas pessoas se preo-
cupariam em desvendar as “causas”
da heterossexualidade?
Há nessa discussão um pensa-
mento forte de heteronormativida-
de. Heteronormatividade é a idéia
de que, a princípio, todos são he-
terossexuais, de que a heterosse-
xualidade seria a sexualidade nata,
natural, padrão dos seres humanos
– e todas as demais desvios dessa
norma.
É essa idéia que alimenta a visão
de que todos nós nascemos heteros-
sexuais e que, por alguma razão,
problema ou acidente de percurso,
alguns se “tornam” homossexuais.
Como se tivéssemos já um caminho
pressuposto para o desenvolvimento
da nossa sexualidade e que ele teria
sido desviado em algum momento.
Precisaríamos então, descobrir o
que causou esse desvio.
Nessa discussão toda é preciso
que fique claro que não temos nada
contra a pesquisa científica e a bus-
ca por entendermos melhor a nós
mesmos. Mas quando buscamos en-
tender apenas as razões da homos-
sexualidade acabamos afirmando,
por outro lado, que a heterossexu-
alidade não precisa ser pesquisada
nem entendida, “ela é natural e
óbvia”. Talvez o ideal seja pensar a
sexualidade humana como um todo
e que ela vai sendo construída, por
diversos fatores, ao longo da vida
de cada indivíduo. Todas as sexua-
lidades são construídas.
Nas discussões sobre as “causas”
da homossexualidade ou da transe-
xualidade se desdobram uma série
de argumentos preconceituosos e
que muitas vezes não são percebi-
dos como tal. Se prestarmos mesmo
atenção aos termos que as pessoas
geralmente usam nessas discussões
isso já vai ficando claro: sintomas
de homossexualidade (o que tem
sintoma é doença), indícios (o que
tem indício é crime) e suspeitas
(você suspeita de quem cometeu
algum delito).
A “clara homossexualidade”
percebida por alguns educadores
em seus relatos está muito mais no
olhar destes professores do que no
seu aluno de fato. Os professores
descrevem meninos que brincam de
boneca, que se vestem com roupas
femininas nas brincadeiras, etc.
Não há em nada disso nenhum re-
lato que diga respeito à orientação
sexual ou afetiva dessas crianças,
mas sim aos papéis de gênero que
nós atribuímos a eles e que, de al-
guma forma, eles estão contradi-
zendo. Uma criança de cinco anos é
nova demais para saber se vai que-
rer casar ou fazer sexo com homens
ou com mulheres.
O que todos esses relatos trazem
são comportamentos que vão contra
as normas de gênero estabelecidas.
O que assusta nas brincadeiras é a
subversão das normas de gênero as
quais o educador está acostumado,
ou seja, do que ele (professor) es-
pera que meninos façam e que me-
ninas façam. Esta contradição está
muito mais em quem vê do que na
criança. E varia de pessoa para pes-
soa, dependendo dos seus próprios
conceitos de gênero. Para alguns
um menino brincando de boneca é
um “claro indício de homossexua-
lidade”. Para outros, é apenas um
menino brincando de boneca. O im-
portante aqui é perceber o quanto
essa questão está muito mais ligada
ao conceito de gênero – o papel so-
cial do homem e da mulher – do que
à orientação sexual em si.
A idéia de que um menino criado
apenas pela mãe conseqüentemente
se converte em um adulto homosse-
xual guarda duas visões preconcei-
tuosas. A primeira, de que tornar-se
gay é um problema, algo que deu
errado na criação dessa criança. A
segunda, de que famílias chefia-
das por mulheres, que tenham pais
ausentes ou que a figura feminina
seja a dominante geram filhos “com
problemas”. Novamente a questão
é de gênero. Ou seja, para se criar
“bem” os filhos, é preciso que haja
um homem como chefe da família,
uma figura masculina presente e
dominante. Fica claro assim como é
machista esse pensamento.
A idéia de que homossexuais são
homossexuais porque foram agre-
didos sexualmente como crianças
é muito perigosa. Primeiro porque
coloca o sentimento e o desejo de
uma pessoa, a forma como ela vive
o amor e o afeto em sua vida como
conseqüência de um ato de brutali-
dade e violência. É uma idéia que
entende ainda a homossexualidade
como uma perversão sexual, que é
conseqüência de uma perversão ini-
cialmente sofrida. Nessa lógica se
misturam homossexualidade e pe-
dofilia, coisas completamente dife-
rentes. A maioria dos abusos sexuais
registrados são cometidos por ho-
mens contra meninas, ou seja, por
heterossexuais. Essa associação é
extremamente absurda, revoltante
e é a causa de muito da discrimina-
ção e da violência a que são subme-
tidos homens homossexuais.
Alguns educadores ficam absolu-
tamente perdidos quando o assunto
é transexualidade ou travestilida-
de. Grande parte das pessoas nun-
ca conheceu ou conviveu com uma
travesti. Formam suas idéias apenas
a partir do que aparece na mídia
e do senso comum. Então, que tal
conhecermos mais quem são essas
meninas?
Travestilidade e Transexualidade
são termologias adotadas pelos seg-
mentos de Travestis e Transexuais
para representar tudo que se refere
a essas identidades, com o objetivo
de substituir as termologias Traves-
tismo e Transexualismo – o sufixo
ismo, como já vimos, traz uma idéia
de doença e portanto pejorativa.
IDENTIDADES TRANS
As Travestis são pessoas com
identidade de gênero oposta ao
seu sexo biológico. Realizam modi-
ficações corporais temporárias ou
permanentes (mas não rejeitam o
seu órgão sexual), vivem e apresen-
tam-se socialmente como do gênero
oposto ao que lhe seria convencio-
nado, desejando serem identifica-
das cotidianamente pelo resultado
desta expressão.
As Transexuais são pessoas de
sexo genital determinado, mas que
psicologicamente pertencem ao
sexo oposto. A maioria dos casos
tem como características, a rejeição
pelo órgão genital e a necessidade
da cirurgia de transgenitalização.
Lembrando, podemos ter tanto ho-
mens como mulheres transexuais.
A operação de mudança de sexo
é autorizada pelo Conselho Federal
de Medicina desde 1997, sendo mais
comum na mudança de homem para
mulher e ainda considerada expe-
rimental de mulher para homem. A
pessoa que quiser passar pelo pro-
cedimento precisa de pelo menos
dois anos de acompanhamento de
profissionais de saúde antes da ci-
rurgia. A operação é financiada pelo
Sistema Único de Saúde. No Rio de
Janeiro, os Hospitais Universitários
Pedro Ernesto (da UERJ) e Clemen-
tino Fraga Filho (da UFRJ), além do
Instituto de Ginecologia da UFRJ,
fazem esta cirurgia.
Ainda hoje se vincula o fato de
uma pessoa ser ou não transexu-
al a realização ou não da cirurgia
de transgenitalização (readequa-
ção sexual), o que não é verdade.
A transexualidade tem a ver com
identidade, com como a pessoa se
reconhece, independente dela ter
feito ou não a cirurgia. A transexua-
lidade tem a ver com a identidade,
como a pessoa se reconhece. Ela
pode ter o desejo de fazer a cirur-
gia, mas ainda não ter realizado por
várias razões. A questão é como ela
se sente.”
	
IDENTIDADES CONFUNDIDAS COM
IDENTIDADES TRANS
Travestismo fetichista: É exer-
cido por aqueles que se travestem
por motivação erótica. Homens ou
mulheres que, como fantasia ou
jogo sexual, se caracterizam como
o gênero oposto, sem que para isso
tenham práticas ou orientação ho-
mossexual, ou transportem esse com-
QUEM SÃO ESSAS MENINAS?
portamento para sua vida cotidiana .
Transformistas: São pessoas,
homo ou heterossexuais, que se
vestem como do sexo oposto, de
forma exagerada ou simplesmente
travestidos e caracterizados apenas
para participação em manifesta-
ções, artísticas ou não.
Os mais conhecidos são as DRAG
QUEENS, homens excessivamente
caracterizados, e os DRAG KINGS
mulheres que se travestem como o
grupo anterior.
A prática de vestir-se igual ao
gênero oposto não é invenção mo-
derna. Faz parte da nossa história.
Há hipóteses de que os primeiros
casos de travestilidade tenham
ocorrido na pré-historia.
Com o início do uso de peles de
animais, criou-se o hábito de que os
homens usavam a pele pendurada
no ombro direito e as mulheres no
ombro esquerdo. Ao inverter essa
norma social desenvolvida, ocorreu
então o que pode ter sido a primeira
identificação do homem com o pa-
pel social da mulher ou vice versa.
Historiadores portugueses falam
dos hábitos de travestilidade em
Portugal no século XVI. Um cinqüen-
tenário cirurgião, Felipe Corrêa, que
em 1553 simulava ter seios e dizia ter
“natura de mulher” para conquistar
seus parceiros e a travesti Vitória
(Antônio de batismo), que em 1556
disputava o espaço e a clientela com
as prostitutas do local, foram ambos
denunciados pela Inquisição .
Na América, antes da chegada
dos espanhóis, já encontramos re-
gistros entre os habitantes originais
do continente, através da descrição
de um frei franciscano:
“(...) eram todos los demas
dellos sométicos, en especial los
que viviam en la costa y tierra
caliente en tanta manera que
andabam vestidos em hábito de
mujeres.”
Antônio Paquena, o primeiro es-
tudioso das “anormalidades sexua-
les de los aborígines americanos”,
concluiu que são inúmeros os casos
e relatos de cronistas, viajantes e
missionários descrevendo a presen-
ça de travestis e transexuais entre
tribos e nações da América do Nor-
te. Como acontecia na Península
Ibérica, também em Nueva Espanha
os “sométicos” de diversas etnias
assumiam traços e características
do gênero feminino, trazendo vesti-
dos de mulheres e tratando-se com
nomes femininos.
TRAVESTIS E TRANSEXUAIS ATRAVÉS DOS TEMPOS
Não só no Brasil como em partes
meridionais da América do Sul, são
vários os registros de travestis antes
mesmos da chegada de colonizado-
res europeus, e podemos encontrar
também registros de travestilidade
e transexualidade masculina e fe-
minina.
Muitas foram as tribos e nações
indígenas nas quais foram registra-
das - por missionários, colonizado-
res e cronistas - práticas de inver-
são do papel social do homem com
a mulher e vice-versa, sem que isso
pudesse causar algum tipo de ex-
clusão ou de perseguição entre os
indígenas.
Entre os Tupinambás, os índios
afeminados recebiam o nome de
Tibiras. Entre as mulheres, haviam
também as Çacoaimbeguiras, con-
sideradas por alguns historiadores
como lésbicas e por outros como
transexuais.
Outro registro de transexualida-
de seriam os “cudinhos”, índios de
sexo masculino que abraçavam os
hábitos e comportamentos do gê-
nero feminino. Vestiam-se de mu-
lher, se enfeitavam, viviam entre
elas e faziam os mesmos trabalhos.
Tinham um marido e uma vez por
mês simulavam uma menstruação,
quando não comiam nem peixe,
nem carne, como todas as outras
mulheres.
A primeira travesti não índia que
temos notícia no Brasil foi Francisco
Manicongo, negro, escravo de um
sapateiro residente em Salvador,
denunciado na visita da Inquisição
de 1591:
“(...) recusava-se trazer vestido
de homem que lhe dava seu senhor,
conservando os costumes dos negros
gentios de Angola e do Congo, onde
negros que servem de mulheres são
chamados quimbandas”.
NO BRASIL, TRAVESTIS E TRANSEXUAIS
ANTES DE CABRAL
Isso tudo serve para que a gente supere a idéia de que
travestilidade ou transexualidade são invenções modernas,
coisa de americano, ou coisas do tipo. A travestilidade e tran-
sexualidade já fazem parte do Brasil antes mesmo dele ter
este nome. Não era privilégio dos brancos, pelo contrário, era
vivida por europeus, negros e índios. Portanto, ela também faz
parte da história do mundo e da nossa própria história.
Qual a atitude ética de um profes-
sor ou de uma diretora diante de situ-
ações que colocam em questão os seus
próprios valores pessoais, morais, ideo-
lógicos ou religiosos? Como agir quando
tudo aquilo que eu mais acredito entra
em conflito direto com a atitude ou
com o discurso de um colega profes-
sor, um funcionário ou um aluno? Como
lidar com essa contradição? Como ser
ético? E o que exatamente isso signifi-
ca? Ser ético é agir conforme os meus
valores e ponto? É agir segundo as nor-
mas e regras estabelecidas?
Para começar, o sujeito ético é aquele
consciente de si e dos outros. Consciente
de que é um ser cujas ações são orien-
tadas por valores. E que assim como as
suas ações são determinadas por idéias e
crenças, os outros também têm crenças,
idéias e valores que orientam suas ações.
E do mesmo modo que queremos
ter nossos valores respeitados, deve-
mos também respeitar os dos outros.
No caso do professor, muitas vezes, por
se acreditar mais experiente que seus
alunos, ele pode acabar considerando
que suas crenças, suas idéias “valem
mais”, são mais certas ou relevantes
do que as de seus alunos. Engano! Se
o professor quer construir a tolerância
e o respeito deve ele, antes de todos,
ser tolerante e respeitar.
O sujeito ético é um ser dotado de
vontade, com capacidade de contro-
lar e orientar seus desejos e decidir
sobre suas ações. Um educador que
pretende assumir uma postura ética,
portanto, deve saber distinguir seus
valores/desejos dos de seus alunos,
saber ponderar sobre essas diferenças
e agir em respeito a essas condições.
Além disso, se considero que tenho
direito a liberdade de pensar e assu-
mir posturas e atitudes diferenciadas
dos outros, devo também reconhecer
a liberdade e o direito do outro de
pensar, sentir e agir como sua von-
tade. Afinal, ser ético é ser livre, ou
seja, auto determinar-se, dando a si
mesmo as regras de conduta. Não são
as regras que me fazem, mas eu sou
autor das regras.
Isso não quer dizer que cada um
faz o que quer. Até porque, ser ético
é ser responsável. E ser responsável
é reconhecer que é o autor da ação,
assumindo suas conseqüências. Isso im-
plica em reconhecer que não estamos
sozinhos e que, portanto, nossas ações
devem ter por referência nossa consci-
ência e vontade, mas o reconhecimen-
to de que nossa consciência e vontade
estão na relação com outras consciên-
cias e vontades. Assim, não há “certo”
ou “errado” absoluto, mas consensos
construídos nos grupos através do res-
peito aos valores caros a TODOS que fa-
zem parte daquela realidade social. E
estes consensos vão se transformando
ao longo do tempo e da história.
A construção coletiva desses pro-
cessos, com diálogo, numa relação
horizontalizada, sem perder de vista
nosso papel formador, mas ao mes-
mo tempo assumindo uma postura de
respeito e tolerância é que faz um
educador ético, para com quaisquer
questões, inclusive as relativas à sexu-
alidade, homossexualidade e transexu-
alidade. E é ainda mais preciosa essa
discussão nesse campo apenas porque
talvez ele, mais que outros, remexa
nos mais profundos guardados, já que
fala sobre os nossos desejos mais laten-
tes, as relações mais fortes, os afetos
mais sensíveis, o nosso corpo, a nossa
força, a nossa identidade.
Um educador cuja religião nega
ou condena a homossexualidade
não pode simplesmente negar ou
condenar um aluno homossexual.
Esse educador precisa ter claro para
si que os seus valores são, antes de
tudo, seus. Que o aluno diante dele
tem outros. E que tem direito de tê-
los, assim como ele próprio.
O que é difícil nessas horas é
que os valores religiosos falam so-
bre coisas que vão muito além da
materialidade, do sistema escolar
ou da lei. Eles falam sobre valores
que muitas vezes se pretendem uni-
versais. “Deus é um só e o que ele
disse vale para todos”. O problema
é que cada povo, cada grupo, cada
ser humano, tem uma percepção e
um entendimento diferente sobre a
religião. Qual Deus é um só? O Deus
católico? O evangélico? O judeu? O
muçulmano? O umbandista? O kar-
decista? Sem esquecer que há mui-
tos que nem sequer acreditam em
um Deus. Se não entendermos que
a religião é uma escolha, e não uma
imposição, não vamos nunca con-
seguir estabelecer uma relação de
respeito com o outro.
Ao longo da nossa história mui-
to já se destruiu em nome de um
Deus. Nações indígenas tiveram
sua cultura destruída em nome de
uma salvação religiosa, cientistas
foram perseguidos e mortos, mu-
lheres queimadas em fogueiras, se
fizeram e ainda se fazem centenas
de guerras em nome da fé. Precisa-
mos aprender com a nossa própria
história e descobrir uma nova forma
de viver as nossas crenças, sem isso
significar que temos de impor aquilo
que acreditamos aos outros.
Além disso, aos educadores de
escolas públicas, vale sempre lem-
brar que a escola pública é laica e
que, portanto, não pode impor ne-
nhuma religião, nem como crença,
nem como prática, aos seus alu-
nos.
Por outro lado, também não bas-
ta simplesmente dizer que a escola
é laica e que, portanto, é contra “as
regras” que um professor deixe sua
crença religiosa interferir nas atitu-
des que ele terá diante de um aluno
ou de determinada situação.
Quantos educadores, em nome
das mais belas ideologias, também
não se rebelaram em algum momen-
to contra a regra oficial? Quantas
vezes nós mesmos não enfrentamos
a “regra estabelecida” em nome de
algo que acreditávamos ser maior
do que isso, mais certo, mais justo?
Assim, o argumento de que a
escola pública é laica vale, mais do
que como uma regra ou uma norma,
como valor, um princípio de que
uma escola, se é pública, deve res-
peitar todas as manifestações reli-
giosas, sem hierarquias, imposições
ou exclusões. Vale como princípio
de respeito e tolerância.
Um aluno soltava muito a franga. Mandava bilhetinhos pros meninos. Tive
que chamar ele pra conversar, dizer que respeito ele, mas aqui na escola
não pode fazer isso, que quando alguém faltar ao respeito com ele e ele
vier reclamar comigo não vou poder fazer nada, porque ele tem que se dar
ao respeito. Com menina a gente também chama pra conversar, porque de-
pois eles podem desrespeitar. As meninas são mais afoitas. Tenho medo de
que batam nele na escola... mas a culpa é dos agressores também.
Professora
Na escola onde
estudei, tinham dois
heteros que estavam
sacaneando dois alunos
homossexuais. Um
dos heteros passou
a mão na bunda do
outro pra zoar, mas o
diretor na hora viu.
Chamou os dois para
a coordenação. Eles
quase foram expulsos.
Eles disseram que não
eram gays, e o diretor
disse que não importa
ser ou não ser, o que
importa é parecer. Dos
homossexuais todo
mundo sabia, mas eles
não pareciam, então
não tinha problema.
Professora
Eu tinha um aluno que nunca tinhase assumido, mas tinha trejeitos. Oscolegas implicavam, ridicularizavam,e ele reclamava. Eu conversei com elee falei que ele não tem que dar satis-fação da sua vida, você que sabe desi. Ele conseguiu se formar. Encontreiele hoje advogado e assumido.
Professora
Eu cansei de chegar rouco
em casa depois da escola, de
tanto forçar para engrossar
a voz durante o dia.
Jovem homossexual
Quando falamos de uma escola
inclusiva, que acolha a todos, quem
está incluído nesse “todos”? Estão
incluídos aí também certamente os
homossexuais. Ou não?
Mas quando falamos de inclu-
são, o que exatamente isso signi-
fica? Incluir um aluno cadeirante,
por exemplo, significa que a esco-
la precisa adaptar a sua estrutura
– rampas, banheiros, portas - para
poder permitir a esse aluno que
freqüente as aulas como todos os
outros. Quando falamos de incluir
alunos com necessidades especiais,
isso significa que os professores pre-
cisam se reciclar e aprender a dar
suporte a esse aluno e a como de-
senvolver metodologias que inclu-
am as necessidades dele.
E porque então, quando fala-
mos de incluir alunos homossexuais,
transexuais ou travestis, muitos di-
zem simplesmente que a escola tem
as suas normas, a escola é assim ou
assado e são eles, os alunos, que
devem se encaixar nestes padrões
e pronto?
Em primeiro lugar, é preciso ter
claro que a escola inclusiva não é
um presente, uma boa ação, mas
a conquista gradativa de um direi-
to por parte de grupos até então
excluídos. Os alunos, sejam cadei-
rantes, surdos, ou com necessida-
des especiais não são coitadinhos,
carentes, dependentes da ajuda da
escola. São simplesmente alunos,
tão diferentes dos outros quanto
qualquer ser humano é diferente
do outro. Têm dificuldades assim
como todos nós temos. A escola in-
clusiva é apenas o entendimento de
que os seres humanos são diversos e
não existe nenhum modelo ideal de
aluno. É a idéia de que a educação
pública não pode escolher para qual
tipo de pessoa ela vai se organizar,
mas, pelo contrário, a escola tem
de desenvolver formas de atender
às necessidades de TODOS aqueles
que, por direito, queiram nela es-
tudar.
Portanto, não há dúvida de que
gays, lésbicas, transexuais e traves-
tis têm sim direito a estudar numa
escola pública que os acolha e res-
peite. Agora, isso não significa que,
para terem acesso à educação, eles
devam abrir mão de suas identida-
des. Ninguém pediria a um aluno
cadeirante para levantar-se da ca-
deira para poder assistir às aulas.
Não faria o menor sentido dizer a
um aluno surdo para ele aprender
a ouvir como todos os outros para
poder assistir às aulas. Então, por
que os alunos gays, lésbicas, tran-
sexuais e travestis deveriam abrir
mão do seu jeito de ser, de falar,
de agir para se adequar ao padrão
de comportamento de gênero que
mais agrada à equipe de professo-
res? Por que, para poder estudar,
uma travesti deve abrir mão da sua
identidade feminina, se fantasiar de
menino e reprimir toda a sua espon-
taneidade? Por que, para ser aceito,
um aluno gay tem de mudar o seu
jeito de falar? Ou uma aluna lésbica
tem de agüentar constantemente os
comentários de professoras sobre o
quanto ela não se comporta como
uma mocinha?
Em grande parte das vezes a
“aceitação” a alunos homossexuais
é condicionada – eles podem ser
gays ou lésbicas, desde que não pa-
reçam, ou seja, uma vez que não in-
comodem os olhos dos outros. Uma
inclusão onde a condição é que eles
abram mão de suas identidades e se
enquadrem em determinados pa-
drões de comportamento; padrões
estes que não têm nada a ver com
o papel de um aluno – se compor-
tar, fazer o dever, estudar, etc – mas
com papéis de gênero. Padrões de
gênero que não constam em nenhu-
ma lei ou norma escolar. Padrões
de gênero que são acriticamente
reproduzidos pelas escolas e estão
baseados tão somente nas concep-
ções pessoais dos educadores.
Obrigar um aluno ou aluna a mo-
dificar o seu jeito íntimo de ser, de
falar, de se fazer bonito para poder
estudar, é condicionar um direito
que é incondicional. É abuso de po-
der. É desrespeito. E é sinal de que
o educador ainda não entendeu que
a identidade sexual daquele aluno
não é uma firula ou uma brincadei-
ra, mas parte constitutiva da sua
própria personalidade.
Com 15 anos eu era gay e já
tomava hormônio. Quando
descobriram, eu quase fui
morta, fiquei em pânico.
Meus pais se mudaram pra
Guaratiba. Aí os meninos
começaram a zombar de
mim. Na escola onde eu es-
tudava aconteceu um roubo
e falaram que fui eu. Meu
pai não agüentava mais,
foi conversar com o diretor
e ele disse: “seu filho é
viado, e nossa escola não
aceita esse tipo de coisa”.
Minha mãe verdadeira não
aceitou, virou as costas
para mim.
Jovem travesti, 29 anos,
mora hoje em Campo
Grande. Tem vontade de
voltar a estudar.
Há no imaginário de grande
parte da população uma relação
direta entre travestilidade, tran-
sexualidade e prostituição. Em
muitos veículos da mídia a palavra
travesti aparece quase como sinô-
nimo de profissional do sexo, como
se a prostituição fosse algo intrín-
seco às travestis.
Nada contra as profissionais do
sexo. Muito pelo contrário, é um
segmento da nossa população his-
toricamente marginalizado, que
precisa ter sua cidadania e seus
direitos reconhecidos, sem que
para isso precise abrir mão de tra-
balhar como quiser. Independente
disso, vincular as travestis neces-
sariamente à prostituição é, além
de um equívoco, uma atitude pre-
conceituosa.
Aqui precisamos nos afastar da
visão estereotipada que condena
as travestis e as transexuais ape-
nas a um círculo restrito de ativi-
dades (prostituta, cabeleireira ou
artista de show), mas também não
podemos, em nome de um discur-
so politicamente correto, ignorar
uma realidade por demais injusta
e excludente.
Vamos pensar juntos então,
quais as possibilidades de tra-
balho hoje para uma travesti
ou transexual? Quantas médicas
travestis você conhece? Quantas
transexuais trabalhando como
vendedora no shopping? Quantas
professoras travestis? Provavel-
mente nenhuma.
Essa é uma exclusão que não é
“natural”. Não é parte da perso-
nalidade das travestis ou das tran-
sexuais não querer trabalhar em
diferentes profissões. O que há é
uma engrenagem de exclusão ini-
ciada desde muito cedo. E um dos
primeiros lugares de onde elas são
excluída é a Escola.
Quantas escolas hoje são capa-
zes de acolher uma aluna travesti,
respeitando a sua identidade de
gênero? Quantas escolas conse-
guem lidar com as contradições e
reações preconceituosas por parte
dos pais, mães, alunos e, princi-
palmente, educadores? Quantas
escolas conseguem rever os seus
próprios conceitos e práticas in-
ternalizadas para aprender a re-
ceber uma aluna transexual? Como
já discutimos antes, não adianta
simplesmente dizer que a escola
tem as suas regras e pronto. A tra-
vesti é uma aluna como todas as
outras, com os mesmos direitos à
educação pública de todos os ou-
tros. Portanto, a escola tem sim a
obrigação de aprender a acolher
uma aluna travesti ou transexual.
A renegação da identidade da
travesti, a opressão a que ela é
submetida para se adequar a inú-
meras regras de comportamento
de gênero, a estigmatização des-
sa aluna como “problemática” e,
em alguns casos, “potencialmente
perigosa” às inúmeras situações
de preconceito e até violência a
qual ela é submetida... Tudo isso
contribui certamente para a cris-
talização de um sentimento nessa
aluna de que ela não deveria estar
ali, e é um incômodo permanen-
te e que a única forma de superar
todos esses obstáculos é sair da
escola.
A exclusão da escola faz parte
de uma engrenagem que combina
evasão familiar, evasão escolar, o
conseqüente despreparo técnico
e profissional, discriminação no
mercado de trabalho, violências
sociais e institucionais. Tudo isso
limita enormemente as possibili-
dades de realização social e pro-
fissional de uma travesti. Não por
uma limitação pessoal, mas por
uma máquina de exclusão que a
empurra permanentemente para
a marginalidade da vida social, o
que as torna um segmento popula-
cional extremamente vulnerável.
Há sim muitos exemplos de tra-
vestis e transexuais que, enfren-
tando todas essas contradições,
conseguiram modificar o seu “des-
tino” e abrir novas possibilidades.
Mas uma travesti ou transexual
não deveria ter de enfrentar tan-
tos obstáculos para poder (talvez)
conquistar aquilo que são direitos
básicos e fundamentais de todos
nós – educação e trabalho. É pre-
ciso que se entenda, de uma vez
por todas, que não há nada na
Constituição Brasileira que diga
como homens e mulheres devem
se vestir ou qual identidade de gê-
nero eles devem assumir. Assim, as
travestis e as transexuais são tão
cidadãs como qualquer um de nós
e, como qualquer um de nós, são
sujeitos de direitos.
Eu sempre fui afemi-
nada. Desde a 1ª série
meus pais eram cha-
mados toda hora para
a secretaria, por conta
do meu jeito. Meu so-
nho sempre foi estudar.
Com 12 anos fui com
bolsa para escola par-
ticular e todo mundo
olhava estranho. Com
13 eu comecei a tomar
hormônio e isso causou
mais problema. Não
podia usar o banhei-
ro... Mas não ligava
pro que diziam. Um
dia disseram que não
aceitavam aluno assim,
não aceitavam aluno
assim, eu não podia
mais estudar lá. Fui
para rua, mas sempre
queria voltar a estudar.
Queria ter faculdade
de medicina. Hoje que-
ro me reciclar, fazer
pré-vestibular, esse
é meu sonho. Quero
chegar lá, não importa
a idade, e dizer que
tentei e consegui.
Jovem travesti
Um aluno chegou e pediu para ser chamado de Fernanda*, ou então Fê*. O nome dele
era Fernando* (o nome verdadeiro foi mantido em sigilo), então era fácil porque esse
apelido serve tanto pro masculino quanto para o feminino. De qualquer maneira,
a gente respeitou. E a direção chegou e decretou, sem consultar a gente, que não
podia, tem que chamar como está na identidade. “A sexualidade de um adolescente
de 12 anos ainda está em formação, e ele não foi diagnosticado trans”, etc. Por isso,
ele foi obrigado a cair de sunga na piscina. Ele cobria o corpo com as mãos, como
se estivesse semi nu. Dava pra ver como aquilo agredia ele. Ele fez isso três vezes
e, depois, saiu da escola. Dias depois de abandonar, ele foi num evento da escola e
deu pra ver que circulava tranquilamente entre os alunos. O preconceito está muito
mais na escola, na direção. Como se o aluno, por ter 12 anos, não fosse dotado de
direitos humanos, e não tivesse direitos sexuais e reprodutivos. Foi um tapa na cara
de todo mundo pra acordar. E disseram que ele está fazendo ponto perto da nossa
casa, mas são as mesmas pessoas que obrigaram a chamá-lo de Victor, então não sei
se é verdade.
Professora Eu estudava em bons colégios particulares. Com
18 anos eu resolvi estudar por conta própria e
procurei uma escola pública. A primeira barra
foi na diretoria. Eu não conseguia me habituar
àquele lugar. Eu não podia usar o banheiro,
tinha que ir até o shopping. Os professores me
chamavam pelo nome de menino. Tinha que
brigar todo dia. Não agüentei, saí. Voltei agora
para o supletivo, que não tem aula. Eu vou na
escola só para pegar os trabalhos e entregar.
Prefiro assim. Eu não consigo mais enfrentar.
Eu não consigo mais.
Jovem travesti
Sempre reclamavam da apa-
rência, tosei cabelo, apertei
peito com atadura e usei calça
larga. Consegui terminar o
1º grau. Entrei pro 2º grau
de enfermagem, não podia
usar o cabelo solto, saia,
unha pintada, eu aceitei. E
consegui terminar. Elas foram
me deixando mais solta com
o tempo. Quando fui para o
estágio, a supervisora - hoje
minha amiga - perguntou “o
que você tá fazendo aqui?”.
Outra, hoje também minha
amiga, mandou cortar o
cabelo e esconder os peitos.
Também aceitei. Eu me dei
bem com os médicos e era
muito competente. Sofri
alguns preconceitos, não
queriam me ensinar alguns
procedimentos. Com o tempo,
foram liberando mais. Acho
que abri mão de muita coisa,
e hoje me arrependo de não
ter lutado mais.
Jovem travesti
Mas a escola tem regras,
tem normas, e essas normas
têm de ser cumpridas por
todos. E ponto.
Professora
Eu comecei o ensino médio esse ano. No ensino
fundamental, em Bangu, é que eu comecei a
minha transformação, comecei a tomar hormô-
nio e tal. Eu tava na 4ª série. Passei por alguns
constrangimentos. Os colegas tudo bem, mas tinha
uma professora que sempre implicava comigo,
tudo era eu que fiz. Na 5ª série foi tudo normal,
usei roupa de mulher e brincos exóticos. Na 6ª os
meninos não sentavam perto nem falavam comigo.
Dali em diante foi luxo! Na chamada tava Laris-
sa, a diretora me chamava de Larissa. Troquei
de escola algumas vezes, mas nem sempre tive
problema. Nós somos taxadas de burras o tempo
todo. No ensino fundamental os professores fica-
ram boquiabertos porque eu fui a única a tirar 10
no provão e na olimpíada de matemática. Alguns
alunos brincavam: “Ah é viado!”. “Mas o viado
tirou 10, quanto você tirou?”
Travesti
Para começar aqui nossa dis-
cussão vamos pensar na diferença
entre o que são regras e o que são
práticas naturalizadas. Há uma série
de práticas na Escola que não fazem
parte de nenhuma norma, regra ou
legislação, interna ou do sistema.
Práticas que estão baseadas nos
hábitos culturais, no senso comum
ou mesmo na opinião de alguns edu-
cadores, que vão se tornando tão
constantes a ponto de ser difícil até
mesmo identificá-las.
Muitas dessas práticas e normas
se constituem como verdadeiras
violências institucionais, no mo-
mento em que provocam danos à
auto-estima, à identidade, ao de-
sempenho emocional, social e esco-
lar do aluno.
tudo isso para uma aluna travesti,
que tem uma identidade feminina,
que vive e convive em todos os ou-
tros lugares como mulher, e apenas
para ir à escola ser obrigada, aí sim,
a se “travestir” de homem. Ser for-
çada a assumir um identidade que
não é a sua.
Mas precisa? [uma aluna travesti usar o uni-
forme feminino] Tem necessidade disso?
Estagiária de Pedagogia
UNIFORME FEMININO
Uma dessas “regras” diz respei-
to ao uniforme dos alunos. Muitas
escolas já aboliram diferenciações
de gênero na roupa dos alunos, mas
algumas ainda mantêm, ou o unifor-
me diferenciado em si, ou restrições
com relação a adereços, cabelos,
brincos e outros detalhes.
Essas diferenciações não fazem
parte do currículo, não são normas
estabelecidas pela Secretaria de
Educação, muito menos pelo Minis-
tério da Educação, e, em grande
parte das vezes, nem sequer cons-
tam de um estatuto, do projeto
político pedagógico da escola ou de
qualquer outro documento normati-
vo. Essas diferenciações, principal-
mente quando chegam ao extremo
de detalhes, são fruto apenas das
concepções de gênero internaliza-
das em grande parte dos educado-
res e da direção da escola. Práticas
naturalizadas que vão se reprodu-
zindo, quase acriticamente, sem
que haja uma discussão coletiva so-
bre elas, às vezes sem sequer serem
percebidas.
Imagine o que significaria para
você ser obrigado a ir para a escola
vestindo uma roupa do gênero opos-
to. Imagine o que significaria para
um aluno heterossexual, com uma
identidade de gênero bem masculi-
na, ser obrigado a ir para a escola
vestido de mulher. Imagine o que
significaria para uma mulher que
adora os seus cabelos compridos ser
obrigada a cortar tudo para poder
freqüentar as aulas. Ou ser obrigada
a apertar os seios, usar roupas que
encobrissem a curvas do seu próprio
corpo.
Agora imagine o que significa
A mudança civil do nome é uma
das maiores lutas do movimento das
travestis e transexuais. Essa mudan-
ça significa o reconhecimento oficial
da sua identidade feminina.
Na escola muitos professores ar-
gumentam que não podem chamar
a aluna trans ou travesti por outro
nome que não seja o que está na
chamada. Mas se você tiver um alu-
no com um nome muito estranho,
que cada chamada se torne para ele
um momento de constrangimento
diante das brincadeiras dos cole-
gas e, um dia, esse aluno lhe pedir
que você o chame por um apelido
para ele poder se livrar dessa ex-
periência vexatória; será que seria
tão complicado assim simplesmente
anotar outro nome ao lado do dele?
Ou, por um preciosismo normativo,
você obrigaria aquele aluno a, co-
tidianamente, viver um constrangi-
mento?
Muitos de nós já nos rebelamos
contra algumas regras, por acredi-
tarmos que elas são injustas. Por-
que então, quando o assunto é uma
aluna travesti, as regras se tornam
completamente inflexíveis?
Quando eu decidi voltar a estudar e terminar o 2º grau, eu pensei “vou
ter que enfrentar o Renato”. Cheguei na escola, me apresentei para o
diretor. Ele disse que já tiveram alunas trans e não haveria problema. Eu
teria o meu nome feminino na chamada. Então eu relaxei. No primeiro
dia o professor foi fazer a chamada e chamou “Renato”. Aquilo me pegou
de surpresa. Eu não respondi. Não tinha me preparado pra isso. Falei com
o diretor e ele colocou o nome feminino no dia seguinte. Mas ficaram os
dois na chamada. Um professor vivia fazendo piadinhas e insistia em me
chamar de Renato. Eu fui lá na frente e fiz a franca. Falei pra todos os
colegas que eu era transexual, que isso e aquilo.
Transexual
O NOME NA CHAMADA
Eu tenho que chamar pelo nome que está na
carteira de identidade. Se ela mudar o regis-
tro civil dela, aí tudo bem.
Professora
Se a gente permitir isso, daqui a pouco cada um
vai vir vestido como quiser? E você vai ter aluno
vindo de saia de palhaçada, pra provocar...
Professora
O X DA QUESTÃO
Quando um professor diz que
não pode chamar uma aluna travesti
pelo nome feminino, porque, afinal,
na chamada e na sua identidade o
que consta é o nome masculino, ele
está mesmo respeitando as regras?
Ou essa “regra” está servindo ape-
nas como uma forma de acobertar
ou justificar a sua própria dificul-
dade de reconhecer e lidar com a
identidade daquela aluna travesti?
Durante uma das oficinas realiza-
das em escolas públicas, os profes-
sores começaram um intenso debate
sobre flexibilização ou não de nor-
mas e regras para uma aluna traves-
ti. Depois de muitas idas e vindas,
argumentos e contra-argumentos,
uma professora, já exausta, lançou
“ah! Mas ele é homem! E pronto!”.
E aí nós chegamos ao que de
fato importa nessa questão. Mudar
o nome na chamada, permitir o uso
do uniforme feminino, compartilhar
o banheiro das meninas, tudo isso,
no fundo, depende apenas de uma
coisa: se o educador reconhece ou
se rejeita a identidade feminina da
travesti. Se ele reconhece, tudo é
resolvível. Se, pelo contrário, ele
rejeita, tudo é empecilho.
Muitas vezes os professores vão
justificar no preconceito dos alunos
ou dos responsáveis a impossibilida-
de de acolher uma aluna travesti.
Em muitos casos, o preconceito dos
outros serve aí para acobertar a sua
própria dificuldade de lidar com a
questão.
Reconhecer a identidade do
outro é passo fundamental para
podermos iniciar qualquer relação
equilibrada e solidária. Tentar im-
por os nossos conceitos de gênero
a um aluno é desrespeitoso e invasi-
vo. Além de extremamente injusto,
dado à desproporção de poder numa
relação professor-aluno.
Muitos educadores
olham as alunas tra-
vestis ou transexuais
como potencialmente
perigosas. E de fato
elas são. São perigosas
a partir do momento
em que, pelo seu jeito
de ser e de vestir, elas
subvertem os padrões
de comportamento de
gênero socialmente es-
tabelecidos. Mostram
que esses padrões po-
dem ser transformados
e bastante questiona-
dos. São perigosas por-
que mostram que aqui-
lo que parecia claro e
óbvio, talvez não seja.
São perigosas porque
podem fazer pensar.
SUBVERTENDO TUDO
Depois da entrada de um aluno transexual, os pro-fessores começaram a perceber coisas novas, como
as manifestações de sexualidade, e atribuíram aele. Mas a questão é que antes eles só pensavam no
conteúdo que tinham que passar em sala.
Professor
Responda sinceramente, você
ficaria chocada ao ver duas alunas
se beijando? Se você respondeu que
sim, não se preocupe, grande parte
das pessoas hoje ainda teriam uma
grande dificuldade de lidar com
uma situação como essa. A maioria
de nós foi educado de uma forma
conservadora, onde o afeto entre
pessoas do mesmo sexo era algo, se
não errado, no mínimo desconheci-
do. Não vemos casais de homens ou
de mulheres se beijando na televi-
são até hoje. Muitas pessoas nunca
presenciaram uma relação de afe-
to entre pessoas do mesmo sexo.
E tudo o que é novo, surpreende,
assusta.
O que importa é o que você fa-
ria a partir daí. Deixaria a sua difi-
culdade pessoal guiar sua ação? Ou
tentaria lidar com aquele afeto com
naturalidade? Mandaria as meninas
para a psicóloga? Teria uma crise?
Diria que a escola não é um lugar
para namorar, mas para estudar?
A maioria das escolas não per-
mite o beijo entre os alunos (o que
era um bom assunto para a gente
discutir, se tivéssemos espaço para
isso). Mas se um menino e uma me-
nina, que são sabidamente namo-
rados, sentarem juntos no recreio
e derem as mãos, é difícil imaginar
– pelo menos na maioria das esco-
las – que um professor venha sepa-
rar os dois dizendo que escola não
é lugar para isso. Agora, e se dois
meninos, sabidamente namorados,
resolvessem dar as mãos durante o
recreio?
O que se discute aqui – pelo me-
nos nesse momento – não é permitir
ou não o beijo, mas que a tolerân-
cia para as demonstrações de afeto
não podem distinguir entre hetero
ou homossexuais. Que se um casal
hetero pode andar de mãos dadas,
um casal de meninos ou de meninas
também pode.
Dois meninos brigando no meio do pátio é algorelativamente comum ou cotidiano para a maioriados professores. Agora, e dois meninos se beijan-do? Parariam a escola, ou não? Vale aqui a gentepensar: como o afeto pode ser mais chocante paramuitos de nós do que a violência? Como um beijopode ser mais assustador do que um soco?
Duas meninas subiram no alto da escada do pátio, nahora do recreio e deram um beijo cinematográfico. Pron-to, parou a escola. Eu fiquei impressionada com a reaçãode alguns educadores que ficaram abismados, descontro-lados mesmo. Mandaram as meninas para conversaremcomigo. Eu comecei a conversar com uma delas. Pergun-tei se os pais sabiam da opção dela. Ela fez uma carafeia e me disse “olha professora, a senhora ta pensandoo quê? Eu não sou isso aí que a senhora ta pensando não.
Aquilo foi só brincadeira, zoação...
Orientadora Pedagógica
AFETO
Um professor homossexual pode
criar problemas para a escola? Pro-
vavelmente sim. Não pela sua sexu-
alidade, mas pelas reações precon-
ceituosas que podem surgir a partir
da orientação sexual declarada ou
prejulgada desse educador. O mais
importante aqui, em primeiro lugar,
é lembrar que não é o professor gay
ou professora lésbica a causa das si-
tuações de conflito. O preconceito
de alguns responsáveis, alunos/as
ou colegas é, de fato, a verdadeira
fonte dos problemas.
Muitas pessoas vão dizer que
não existe nenhum problema em
ter na escola um professor homos-
sexual, desde que ele se comporte.
Mas o que significa esse se compor-
tar? Em grande parte das vezes, se
comportar significa ser, mas não
parecer homossexual. Significa que
esse profissional, para ser aceito e
respeitado, tem que abrir mão de
ser, agir, falar do seu jeito, para se
adaptar a uma determinada norma
de comportamento de gênero. Sig-
nifica que ele ou ela tem que vestir
uma máscara, interpretar um papel
dentro da Escola que não levante
nenhum indício de sua identidade
sexual.
Alguém pode dizer que não há
necessidade de um educador ou
educadora homossexual ficar ex-
pondo a sua sexualidade na Escola.
Que isso é algo íntimo e que só diz
respeito a ele ou ela. Mas profes-
soras heterossexuais falam para os
colegas o nome do seu namorado, o
marido pode vir buscá-las de carro
na porta do colégio, ela pode andar
com uma foto dele na carteira. Pro-
fessores heterossexuais podem levar
a sua esposa na festa de final de ano
da escola e apresentá-la, não como
uma amiga, mas como sua com-
panheira a todos os colegas, pais,
mães ou alunos. Ou seja, manter a
privacidade sobre sua vida particu-
lar não significa ter que escondê-la,
como quem oculta algo de errado.
Os educadores homossexuais têm
tanto direito de falar sobre sua vida
afetiva quanto qualquer educador
heterossexual.
Profissionalismo não tem nada
a ver com falar grosso ou fino, com
andar assim ou assado, vestir essa
ou aquela cor. Profissionalismo tem
a ver com ética, compromisso com
o trabalho, dedicação, capacidade,
respeito. Educadores têm de ser jul-
gados como educadores, não como
gays, lésbicas, heterossexuais, ou o
que seja. E dizer que a identidade
sexual do profissional não impor-
ta não significa dizer que ele tem
de apagá-la, escondê-la ou negá-
la, como se fosse um algo errado,
tolerado pela escola, mas que não
quer que se torne visível. Dizer que
a identidade sexual do profissional
não importa significa que TODAS as
identidades sexuais serão respeita-
das, sejam quais forem.
A Hannah tinha a minha guarda e foi um sacrifício ela conseguir
me colocar na escola. No começo foi uma maravilha. No final do
ano eu estava organizando a festa de Dia das Bruxas, e dei meu te-
lefone para todos os colegas da turma. No dia seguinte alguns pais
começaram a me ligar e me ofender no telefone, dizer que era
uma perversão... Fiquei em pânico. Não teve festa. Um dia cheguei
na escola, quando ia entrar pelo portão um pai me puxou e falou
que eu não podia entrar, eu era uma anomalia. Veio um monte de
pai, mãe e aluno fazer isso também. Daquele dia em diante eu
nunca mais voltei pra escola.
Jovem transexualUm professor questionou a sexualidade da
aluna em reunião de pais e filhos. A mãe
pegou a menina pela garganta na frente de
todo mundo. Aquilo me apavorou.
Professora Já tivemos casos aqui na escola, e
o grande problema não é conosco,
professores. A gente ficava muito
espantado – tatuagem, roupa curta...
Agredia. E os professores conversa-
vam com ele para fazer algo mais na-
tural. Mas os alunos não aceitavam,
e ele acabou se afastando da escola,
acho que nem estuda mais.
Professora
Eu fiz um trabalho de educação ambiental
onde a gente buscava os alunos nas escolas,
levava pro núcleo, lanchava e ia pro campo.
Tava num ônibus com uma turma, aquela zona
de sempre. Tinha um menino efeminado, e
nenhum aluno discriminava, era o xodozinho
da turma. O professor da turma começou
a gritar mais alto que os outros pra ele “ô
homo, ô homo, senta aí homo sapiens”.
Professora
Mas aí a gente já teve até aqui na escola e viu que não é bom mes-
mo [ter alunos homossexuais]. Porque o menino dava sempre em
cima dos caras e os caras batiam nele. Aí ficava a maior bagunça.
Então era melhor que não tivesse. Ficava a maior pancadaria. Os
alunos não sabem lidar. Que pena que foi tirado da escola, porque
eu havia conseguido que ele se comportasse melhor...
Professor
Na 8ª série, fui chorando pra direção por causa
da perseguição dos alunos. A diretora me incenti-
vou, disse que era um bom aluno. Eu não desisti
de estudar, mas mudei de escola.
Jovem gay
Há pessoas hoje que dizem que
o preconceito contra homossexuais
diminuiu muito e quase não existe
mais. Será? Sem dúvida os homos-
sexuais estão mais visíveis hoje do
que há cinqüenta anos, mas isso
diminuiu a violência contra esse
grupo?
Uma pesquisa realizada pelo
IBOPE revelou que 56% dos entre-
vistados mudariam sua conduta
com o colega de trabalho se sou-
bessem que ele é homossexual. Um
em cada cinco se afastaria e pas-
saria a evitá-lo. 36% deixariam de
contratar um homossexual para um
cargo em sua empresa, mesmo que
ele fosse o mais qualificado entre
os pretendentes ao cargo. 45% tro-
cariam de médico se descobrissem
que ele é gay. 79% ficariam tristes
se tivessem um filho homossexual.
8% seriam capazes de castigá-lo.
62% dos entrevistados acham que o
pai deve tentar convencer seu filho
a mudar de condição quando desco-
bre que é homossexual.
Esse preconceito se reflete tam-
bém em atos, que vão do cotidiano
constrangimento e desrespeito à
violência mais extrema. Anualmen-
te, aumenta o número de gays as-
sassinados no Brasil. Não estamos
falando de crimes comuns, mas de
crimes cuja maior motivação é o
ódio contra homossexuais. Segun-
do levantamento do Grupo Gay da
Bahia, nos últimos 25 anos acon-
teceram cerca de 2.600 assassina-
tos de gays, lésbicas e travestis no
Brasil, contabilizando mais de cem
mortes por ano. Isso significa que,
a cada três dias, um homossexual é
assassinado no Brasil.
Na escola, os preconceitos e
os atos de discriminação contra
homossexuais muitas vezes são na-
turalizados e banalizados. Os pró-
prios educadores não consideram
SEXISMO E HOMOFOBIA NA ESCOLA
cido como homossexual, dado que
não abdicou do seu papel sexual
de “homem”. Duas mulheres “fe-
mininas” se beijando inclusive faz
parte da fantasia sexual de muitos
homens heterossexuais. No momen-
to em que os esteriótipos de gênero
são contrariados, em que homens e
mulheres têm um comportamento
diferente do papel culturalmente
atribuído a eles/as, eles/as se tor-
nam alvos imediatos da homofobia.
Não é à toa que as travestis, dentre
todos os segmentos da comunidade
GLBTT, são as que convivem com
uma realidade mais intensa de pre-
conceitos, discriminações e violên-
cias.
No imaginário dos entrevista-
dos, se diferencia preconceito e
discriminação. Como se uma pos-
tura preconceituosa pudesse não
interferir ou incrementar uma
realidade de situações materiais
concretas de discriminação. No
entanto, essa discriminação se dá,
não só através de regras e posturas
institucionais homofóbicas, como
em atos explícitos e muitas vezes
recorrentes, principalmente no uso
de uma linguagem pejorativa por
parte dos alunos – que visa humi-
lhar, discriminar, ofender, ignorar,
isolar, tiranizar e ameaçar - geral-
mente tolerada e muitas vezes as-
sumida pelos educadores.
A “tolerância”, quando se dá,
se expressa de uma forma interes-
sante. Os/as alunos/as homossexu-
ais são bem aceitos desde que “se
comportem”, ou seja, desde que
não expressem ou aparentem, em
nenhum momento, a sua sexualida-
de. São aceitos/as como alunos/as
assexuados/as, tolerados/as como
estudantes, mas tendo a sua sexu-
alidade e afetividade totalmente
reprimidas e rejeitadas.
Estas e outras pesquisas con-
cluem que situações de discrimina-
ção e de agressão verbal têm um
grande potencial e muitas vezes
precedem situações de violência
física. O que parece irrelevante
pode ser o prenúncio, e pior, o fun-
damento para uma cultura de vio-
lência, que exclui, agride, humilha
e mata.
Numa pesquisa recente reali-
zada durante a Parada do Orgulho
GLBT no Rio de Janeiro, 40% dos
adolescentes homossexuais entre-
vistados contaram já haver sofri-
do casos de discriminação dentro
da Escola. Entre jovens de 19 a 21
anos, 31% se referiram a discrimi-
nações na escola ou na faculdade.
Na mesma pesquisa, 65% dos ho-
mossexuais já haviam sido vítimas
de algum tipo de preconceito e 60%
já haviam sofrido alguma forma de
violência. A Escola aparece em ter-
ceiro lugar como local ou contexto
da discriminação (27% dos casos),
atrás apenas do ambiente familiar
PRECONCEITO
DISCRIMINAÇÃO
VIOLÊNCIA
estes casos como relevantes. São
brincadeiras, coisa sem importân-
cia. Muitas vezes os professores
não só silenciam, mas colaboram
ativamente na reprodução dessas
violências.
Ao contrário do que se possa
imaginar, segundo os autores da
pesquisa, “essa realidade inter-
fere no padrão das relações entre
estudantes e profissionais da edu-
cação; afeta o rendimento escolar
e a construção da identidade e da
auto-estima do aluno; afeta a vida
sócio-afetiva; pode prejudicar a
inserção no mercado de trabalho
e até mesmo a exclusão do direito
à educação pública, em casos ex-
tremos envolvendo transexuais e
transgêneros.”
O estudo da UNESCO aponta
para um alto índice de imagens ho-
mofóbicas e de intolerância quanto
à homossexualidade entre estudan-
tes e professores. “A discriminação
contra homossexuais, ao contrário
das de outros tipos, como as rela-
cionadas a racismo e a sexismo, é
não somente mais abertamente as-
sumidas, em particular por jovens
alunos, além de ser valorizada entre
eles.” Nesse estudo, um quarto dos
alunos entrevistados afirmaram que
não gostariam de ter colegas ho-
mossexuais. O percentual fica maior
ainda quando se trata apenas dos
meninos. No Rio de Janeiro, entre
os responsáveis, 40% não gostariam
que seu filho estudasse junto com
um colega homossexual. Esse per-
centual cai muito entre professores,
mas há ainda um grande número de
educadores que rejeitam a idéia
de ter um aluno gay ou uma aluna
lésbica. No Rio de Janeiro, 15% dos
estudantes acham que a homossexu-
alidade é uma doença, chegando a
23% entre os homens. O percentual
é de 16% entre os educadores.
O preconceito e a discriminação
aparecem de forma bem explícita
e se desenvolvem em grande par-
te como uma espécie de medo da
“perda de gênero”, o medo de não
ser mais considerado como um ho-
mem ou uma mulher de verdade.
“Muitos dizem que não têm pre-
conceito, desde que o homossexual
permaneça longe, não se aproxime
e, principalmente, que não insinue
que eles possam ser um igual ou um
parceiro da relação.” Na pesqui-
sa da UNESCO, quando solicitados
a indicar as formas mais graves de
violências, rapazes e moças apon-
tam os mesmos itens, com uma
singular diferença: a agressão a ho-
mossexuais. Enquanto para as me-
ninas bater em homossexuais apa-
rece como a terceira violência mais
grave, para os meninos ela aparece
em sexto e último lugar.
Isso evidencia claramente a re-
lação entre homofobia e concep-
ções de gênero, em especial de
masculinidade. São nos esteriótipos
de gênero, dos comportamentos
socialmente atribuídos a homens e
mulheres, que têm origem as bases
da homofobia.
Um homem que faça sexo com
outro homem, mas na posição de
ativo, poderá perfeitamente não se
reconhecer e mesmo ser reconhe-
e dos amigos e vizinhos. Mantém a
mesma posição como espaço onde
acontecem as agressões e outras
violências (10%) .
A pesquisa da UNESCO conclui
também que os professores de-
sempenham uma convivência não
assumida com discriminações con-
tra homossexuais, numa espécie de
cumplicidade passiva. Além disso,
desqualificam os episódios de pre-
conceito como coisa sem importân-
cia e apontam como algo que acon-
tece apenas entre os alunos, não se
vendo como agentes desse processo
de discriminação.
Por outro lado, são vários os de-
poimentos de professores sugerin-
do que a escola pode desconstruir
a discriminação, tanto através de
ações planejadas quanto na mu-
dança de posturas, num tratamen-
to pró-inclusão que valorize a auto-
estima, incentivando o respeito à
diversidade.
A diversidade, segundo o pró-
prio discurso governamental ex-
presso em documentos como a Lei
de Diretrizes e Bases da Educação e
o Programa Brasil Sem Homofobia,
precisa ser encarada como recurso
social para a transformação. Um
instrumento, algo essencial para
possibilitar o desenvolvimento hu-
mano.
A Universidade, além de um lo-
cus de produção de conhecimento,
é também uma instituição que deve
interferir na realidade que a cerca
e transpassa. Ela pode, e deve,
usar a sua bagagem, estrutura e ca-
pacidade para promover ações ex-
tensionistas que contribuam para o
desenvolvimento humano e social.
Neste sentido é que este pro-
jeto é proposto, como uma ação
de incidência política, tendo como
alvo educadores, atuantes ou em
formação, que, junto com outros
atores, compõem e constroem o
ambiente escolar. Uma contribui-
ção para modificar esse triste qua-
dro de discriminação, justamente
num espaço que deveria ser o da
plena convivência, da tolerância e
da solidariedade, do respeito e da
comunhão.
ALBUQUERQUE, F. F.; JANELLI, M. A Princesa -De-
poimentos de um travesti brasileiro a um líder das Bri-
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violência e à discriminação contra GLTB e promoção da
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riculares Nacional: Pluralidade Cultural e Orientação
Sexual. Secretaria de Educação Fundamental. Volume
10. 2ª ed. Brasília: DP&A, 2000.
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riculares Nacional: Terceiro e Quarto Ciclos do Ensino
Fundamental. Temas Transversais. Secretaria de Educa-
ção Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1998.
BRASIL. Ministério da Educação. Termo de Re-
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Projetos de Capacitação/Formação de Profissionais da
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cia e homossexualidade.Pesquisa 9ª Parada do Orgulho
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tendido no chão...”: A violência Letal contra Travestis
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6&proj=PortalIBOPE&pub=T&nome=home_materia&db
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MOTT, L. Pagode Português: a subcultura gay em
Portugal nos tempos inquisitoriais. In: Ciência e Cultura,
vol.40, fevereiro 1988b.
SILVA, H. R. S. Travesti: a invenção do feminino.
Rio de Janeiro: Relume-Dumará, 1993.
TREVISAN, J. S. Devassos no paraíso. Editora Re-
cord: 1986.
O Programa Papo Cabeça teve origem
a partir de 8 anos de existência enquanto
Projeto, desenvolvido pela Faculdade de
Medicina e Maternidade Escola da UFRJ,
atuando essencialmente nas Escolas Mu-
nicipais no âmbito da 7ª CRE e excep-
cionalmente em outras localidades. Sua
criação se deu a partir da percepção do
crescente número de adolescentes grávi-
das que chegavam à Maternidade-Escola
para atendimento. Em 1996, um professor
adjunto do Departamento de Ginecologia
e Obstetrícia da Faculdade de Medicina,
Programa Papo Cabeça
Coordenação: José Leonídio PereiraFaculdade de Medicina / UFRJ(21) 3388-5853
ppc@me.ufrj.br
www.papocabeca.me.ufrj.br
aliado a uma psicóloga e uma assistente social começaram a
desenvolver um projeto de atuação nas escolas municipais que
trabalhasse com os adolescentes a vivência de sua sexualidade
e saúde reprodutiva, sob a perspectiva da construção de uma
consciência crítica a partir da sensibilização.
Ao longo desses anos, frente às demandas apresentadas
pela realidade onde o projeto atua, este se desdobrou em vá-
rias frentes de atuação, o que lhe conferiu o caráter de Pro-
grama, com vários projetos que dão conta das diversas formas
de intervenção possíveis.
Atualmente, às vésperas de completar 12 anos, o Programa
Papo Cabeça vem se expandindo mais e mais, desenvolvendo
suas ações voltadas para os alunos, professores, pais e res-
ponsáveis, comunidade escolar e público em geral. Múltiplas
dimensões, assim como a sexualidade, que se constrói e é vi-
venciada a cada dia de uma forma nova, sob novos prismas. É
essa discussão, esse “Papo Cabeça”, que não deve silenciar.
Ao todo, fizeram parte desse “Papo Cabeça”, até hoje, cer-
ca de 3000 alunos, 4000 responsáveis e 900 docentes, através
do trabalho realizado em mais de 40 escolas. Já nos eventos
externos, estima-se que o Programa tenha atendido aproxima-
damente 140.000 pessoas.
O Projeto Diversidade Sexual na Escola foi desenvolvido em 2005 na
Coordenação de Extensão do Centro de Ciências da Saúde da UFRJ, como
parte de uma série de ações que visavam a troca de saberes e práticas,
e a construção conjunta de conhecimentos com a Escola. O lançamento
do Projeto ocorreu no Fórum Mundial de Educação de Nova Iguaçu, em
2006. De lá para cá, foram realizadas diversas oficinas de sensibilização
com relação à diversidade sexual, em escolas da rede pública municipal
de ensino do Rio de Janeiro, organizações de educação comunitárias,
instituições de formação de professores, além de atividades pontuais
em eventos da Universidade, abrangendo a área metropolitana, a região
serrana e a região litorânea do Rio de Janeiro.
Recentemente, o Projeto Diversidade Sexual na Escola se integrou
ao Programa Papo-Cabeça, realizado pela Faculdade de Medicina e pela
Maternidade-Escola, para desenvolver ações em comum e potencializar
os seus conteúdos, unindo o debate sobre questões de gênero e sexuali-
dade mais amplas e a discussão acerca da diversidade sexual.
COMO PARTICIPAR
O público alvo do projeto são educadores de todos os níveis, estu-
dantes de cursos de formação pedagógica, diretores, coordenadores e
corpo administrativo de instituições de ensino.
Os educadores que quiserem levar uma oficina para a sua escola
devem entrar em contato pelo telefone (21) 2598-1892, ou pelo correio
eletrônico diversidadeppc@me.ufrj.br. A data para realização da oficina
será estabelecida com as instituições, com flexibilidade para se adaptar
às possibilidade de cada grupo.
A atividade dura cerca de quatro horas e é realizada em apenas um
dia. A oficina é gratuita, cabendo à instituição a viabilização das condi-
ções materiais para a sua realização (espaço, equipamento de projeção,
divulgação, etc.).
Projeto Diversidade Sexual na Escola
Coordenação: Alexandre Bortolini
(21) 2598-1892
diversidadeppc@me.ufrj.br
www.papocabeca.me.ufrj.br/diversidade
Endereço:
Av. Pedro Calmon, 500 - Sala 815 - Prédio da Reitoria
Cidade Universitária - Ilha do Fundão
Rio de Janeiro - RJ
CEP: 21941-901
A/C: Alexandre Bortolini
Telefone:
(21) 2598-1892
E-mail:
diversidadeppc@me.ufrj.br
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Diversidade sexual na escola: orientando professores

  • 1.
  • 2. O Projeto Diversidade Sexual na Escola é uma realização da Uni- versidade Federal do Rio de Janeiro, em parceria com a Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade do Ministério da Educação (Secad/MEC). É um dos mais de 30 projetos, nacionalmente selecionados e conveniados pela Secad/MEC, em 2007, no âmbito da Formação de Profissionais da Educação para a Promoção da Cultura de Reconhecimento da Diversidade Sexual e da Igualdade de Gênero, em cumprimento ao Programa Brasil Sem Homofobia. Universidade Federal do Rio de Janeiro Aloísio Teixeira Reitor Pró-Reitoria de Extensão Laura Tavares Pró-Reitora Isabel Cristina Alencar Superintendente Geral de Extensão Ana Inês Souza Superintendente Acadêmica de Extensão Programa Papo Cabeça José Leonídio Coordenador Projeto Diversidade Sexual na Escola Alexandre Bortolini Coordenador Bolsistas Luan Barros Cassal Instituto de Psicologia João Márcio Dias Escola de Belas Artes
  • 3. Autor Alexandre Bortolini Colaboradores Majorie Marchi Regina Bortolini Luan Barros Cassal Projeto Gráfico João Márcio Dias Alexandre Bortolini Revisão e Copydesk Sergio Franco 1ª Edição Pró-Reitoria de Extensão/UFRJ Rio de Janeiro 2008
  • 4. Ao longo de 2006 e 2007 o projeto realizou uma série de oficinas em mais de 10 escolas do interior e da região metropolitana do Rio de Janeiro, atingindo mais de 400 profissionais da educação e licenciandos. A partir dos relatos re- colhidos durante essas oficinas, das dúvidas, dos debates e da interação com os educadores, sele- cionamos alguns temas que hoje compõem este material de orientação. A idéia aqui não é trazer respostas prontas, receitas de bolo, dizer o que é certo e o que é errado, se o educador deve agir desse ou daque- le modo. O que se pretende é criar um momento de reflexão sobre alguns aspectos relativos à di- versidade sexual na Escola. Como em tudo que se faz, foi necessário tam- bém aqui fazer escolhas. Muitas questões não couberam nas páginas, vários assuntos acabaram ficando de fora, para que pudéssemos fazer um material leve e acessível. Mas isto com certeza será apenas um estímulo para aqueles que quise- rem se aprofundar nos temas. O que a gente espera é que, depois de ler este material, de alguma forma, você possa re- pensar, reconstruir o seu olhar sobre alguns dos assuntos aqui abordados. E que este trabalho não sirva apenas como um material de leitura, mas como um incentivo à ação, à ação transfor- madora. Como a escola pode lidar com situações liga- das à orientação sexual dos alunos? A sexualidade dos alunos e alunas é um problema da Escola? E a discriminação e a violência que sofrem os jovens homossexuais dentro da Escola? O que uma pro- fessora pode fazer diante de um ato de discrimi- nação?
  • 5. SEXUALIDADE por todos os cantos Nos anos 60, teve início um pro- cesso de aprofundamento das mu- danças sociais com relação ao com- portamento e à sexualidade. Os dois movimentos que mais contribuíram para essas transformações foram o movimento feminista e, mais tarde, os movimentos gay e lésbico . Ain- da hoje, vivemos um momento de transição, de transformação dos pa- radigmas de comportamento sexual e afetivo da nossa sociedade. Como em todo momento de mudança, a realidade de hoje guar- da várias contradições. Ao mesmo tempo em que vemos e convivemos cada dia mais com uma diversidade sexual cada vez mais rica e menos rotulada, se mantêm e até se re- forçam atitudes preconceituosas, discriminatórias e violentas de pes- soas, grupos e instituições conser- vadoras. Esse embate entre o novo e o conservador, entre a conquista dos direitos e a repressão dos pre- conceitos se dá em todo o corpo social, em diferentes lugares e mo- mentos. Na família, no círculo de amigos, na comunidade, no traba- lho e, é claro, na Escola. Mas a Escola fala sobre sexo? Fala sobre sexualidade? Michel Foucault, em seu livro História da Sexualidade, defende que, nos últimos séculos, ao contrário de uma sistemática repressão sexu- al, o que houve foi uma produção massiva de discursos sobre o sexo. O sexo tornou-se objeto de análi- se científica, alvo da medicina, da psiquiatria, da pedagogia. Se antes as relações de poder que perpas- savam a questão sexual estavam focadas na aliança, nos laços de matrimônio e na oficialização de uma parceria, agora as relações de poder se projetam sobre o corpo, sobre o prazer e suas manifesta- ções. Produzem-se discursos sobre o corpo da mulher, a sua afetivi- dade, o seu papel de “mãe”; a sexualidade infantil é vista como algo precoce e se torna alvo da pe- dagogia; a reprodução e o sexo se tornam de interesse das políticas públicas de saúde e população e a psiquiatria cria uma série de cate- gorias, conceitos e nomenclaturas específicas para descrever com- portamentos sexuais “perversos”. Ou seja, a rede de poder que per- passa a sexualidade seria baseada, portanto, não em um movimento de repressão, de silêncio, de mu- tismo e até de invisibilidade. Mas, mais que isso, numa dinâmica po-
  • 6. sitiva, de produção de discursos e comportamentos. Nesse contexto, a Escola, enten- dida como uma instituição formada por seres humanos, pais e mães, professores, alunos e funcionários, muitas vezes não é vista como um lugar onde a sexualidade deva ser expressada ou discutida. Em seu aparente silêncio, na verdade, ela fala o tempo todo sobre sexuali- dade. “O espaço da sala, a forma das mesas, o arranjo dos pátios de recreio, a distribuição dos dormi- tórios, os regulamentos elaborados para a vigilância do recolhimento e do sono, tudo fala silenciosamente da maneira mais prolixa da sexu- alidade das crianças.” Para citar exemplos mais modernos, a divisão por sexo nas aulas de Educação Físi- ca - e os esportes atribuídos a meni- nos ou meninas; as filas de meninos e de meninas na Educação Infantil; as distinções sexistas de vestuário - meninos não podem usar brincos nem cabelo comprido; a forma dos professores tratarem alunos ho- mens ou mulheres, com rispidez ou com delicadeza; a tolerância da violência, verbal e até mesmo físi- ca, entre meninos; a preocupação constante com a manifestação da sensualidade das adolescentes. Só para citar alguns exemplos. Por outro lado, uma pesquisa recente da UNESCO levantou que, se para alguns pais a escola não é “lugar para ensinar saliências”, a maior parte dos responsáveis e, em maior escala, de educadores e estudantes, é favorável à discussão direta sobre sexualidade na Escola. Nesse debate se opõem, de um lado, uma visão higienista, biolo- gizante, onde se apresenta uma verdade única e “científica” e onde cabe apenas a um professor, o de Ciências, a responsabilidade de tratar o tema. De outro lado, uma perspectiva interdisciplinar, onde a sexualidade seja tratada em di- ferentes momentos e sob diversas perspectivas, em todos os seus as- pectos (biológicos, sociológicos, culturais, afetivos, etc.) numa idéia de pluralidade e tolerância. Tudo isso nos mostra que a Es- cola, a despeito do que se creia, é sim um espaço onde a sexualidade se manifesta e mais, onde se produzem comportamentos, onde se instigam ou superam preconceitos, onde se difundem conhecimentos e valores. E a Escola, com seu papel formativo, tem sobre si uma enorme responsa- bilidade, proporcional aos seus desa- fios, no que diz respeito à superação dos preconceitos e à defesa irrestrita dos direitos humanos. Mas o que orienta as posições institucionais da Escola? Como cada estabelecimento se coloca dian- te das questões da sexualidade e, especificamente, da diversidade sexual de seus/suas alunos/as e professores/as? Como cada escola lida com episódios de conflito, de agressão e de discriminação? A es- cola trabalha para a superação des- ses preconceitos ou, ao contrário, adota, nas suas práticas cotidianas, regras, rótulos e posturas que ten- dem a reproduzir, afirmar e incre- mentar atitudes discriminatórias, sexistas e homofóbicas? Eu dei aula numa escola de 1ª a 4ª, justamente o primeiro segmento, e eu tive uma situação em que ficou nítido, por falta de argumento do professor, aí você sai por aquele caminho do senso-comum. Uma aluna fazendo uma ba- gunça, perturbando, perturbando, perturbando, aí chegou uma hora em que não agüentei mais e fiz assim “porque você não pára com isso, que saco, vê isso fica bem, uma menina agindo dessa forma!”. E aí a turma virou e falou assim: “professor, é um menino”. Aí minha cara foi no chão, não por eu ter errado o sexo, mas aí eu percebi o quanto de preconceito estava naquela fala. “Do mesmo jeito, tanto faz se é menino ou menina”. Aí, na verdade, eu já tava dando esporro em mim mesmo. Mas tem essa coisa, eu acho que a gente acaba reforçando a postura social e cultural. Por não ter argumento, acabei falando “vê se fica bem numa menina”. Não interessa se ela é menina ou se é menino. Professor
  • 7. Para começar: você sabe qual a diferença entre SEXO e GÊNERO? O que você sabe sobre estes dois con- ceitos? Bom, num primeiro momento vamos pensar que sexo é tudo aqui- lo que está relacionado às caracte- rísticas físicas de um ser humano. O órgão sexual, o genoma, o formato do corpo, dos seios, enfim, tudo aquilo que é característica relacio- nada diretamente à materialidade. Assim, teríamos pessoas do sexo masculino, do sexo feminino ou (raramente) intersexuais. E gênero? O conceito de gêne- ro, por outro lado, está ligado às características comportamentais, culturais, sociais e históricas, cons- truídas socialmente. Entre um bebê do sexo masculino e um homem, na forma como a nossa sociedade o concebe – no seu jeito de ser, de falar, de andar, de vestir, de agir – há uma grande distância. Antes mesmo de uma criança nascer ela já tem um nome, que é masculino ou feminino; já tem um enxoval, que é mais rosa ou mais azul; já tem expectativas de vida dos seus pais sobre ela, que tem a ver com o fato dela ser menino ou menina. Não há nada na genética do ca- belo da mulher que diga que ele é mais propenso a ficar comprido do que o do homem. Não há nada no formato do quadril de um homem que o impeça de usar saia. Essas convenções são construídas social- mente, através da História e das nossas culturas. Poderíamos aqui dividir as pes- soas no gênero masculino ou femi- nino, mas, nesse caso, esta divisão se torna cada vez mais artificial. Afinal, para que ela faça sentido é preciso que a gente tenha um perfil de masculinidade e de feminilidade claramente estabelecidos. Apesar destes estereótipos existirem, eles são a cada dia mais e mais ques- tionados. Esta divisão estanque entre masculino e feminino vai sendo relativizada e vão se criando identidades de gênero que não se encaixam exatamente em nenhum extremo. Complicado? Pois ainda dá para complicar um pouco mais. Por exemplo: qual é o sexo hoje de uma pessoa que nasceu com o sexo masculino, mas fez uma operação de mudança de sexo? É masculino ou feminino? O que é determinante nesse caso? O sexo de nascença? O sexo que ela tem agora? As caracte- rísticas físicas? Mas quais? O genó- tipo? (Ela continua XY) Ou o fenó- tipo? (Ela tem seios, quadril, rosto, vagina, toda a compleição física de uma mulher) Mas ela não pode ter filhos. E as mulheres que nascem ou ficam estéreis? Não são mulhe- res? O que define uma mulher? É a sua capacidade de reproduzir? Ou seja, num caso como esse, há ar- gumentos físicos e biológicos para afirmar que essa pessoa é do sexo masculino. E há argumentos físicos e biológicos para afirmar que ela é do sexo feminino. No fim de tudo, percebemos que o sexo também não é um conceito tão definitivo as- sim e pode ser tão relativo quanto o conceito de gênero. A Biologia, como todas as ciên- cias, foi criada pelos seres humanos, num determinado momento da His- tória, num determinado tipo de so- ciedade. Ela é, portanto, assim como todas as outras ciências, relativa. No fim, o que percebemos é que os conceitos de sexo e gênero, ape- sar de distintos, são ambos relativos e a percepção sobre eles irá mudar de acordo com o momento histórico, a cultura e a visão pessoal de cada um. Sobre a transexual, pense ape- nas uma coisa: se você decidir que o sexo dela é masculino, vai fazer alguma diferença para você na sua vida cotidiana? E para ela? Se você decidir que o sexo dela é feminino, vai fazer alguma diferença para você na sua vida cotidiana? E para ela? Um grupo de cientistas colocou cinco macacos numa jaula. No meio da jaula, uma escada e sobre ela, um cacho de bananas. Quando um macaco subia na escada para pegar as bananas, os cientistas jogavam um jato de água fria, não no que subia, nos que estavam no chão. Depois de alguns jatos d»água, quando um macaco tentava subir a escada, os outros o espancavam. Com mais algum tempo, nenhum macaco subia mais a escada, apesar da tentação das bananas. Então, os cientistas substituíram um dos macacos por um novo. A primeira coisa que o novato fez foi, logicamente, subir a escada. Mas foi imediatamente surrado pelos outros. Depois de algumas surras, o novo integrante do grupo também não subia mais na escada. Em seguida, os cientistas substituíram outro macaco. Claro, o novato foi direto tentar subir a escada. E claro, foi espancado por todos os outros, inclusive aquele primeiro macaco trocado. E assim foi, macaco a macaco, os cientistas substituíram todos por novos integrantes. No final de tudo, o grupo de cinco macacos, todos trocados, mesmo nunca tendo tomado um único banho frio, continuavam batendo em qualquer um que tentassem pegar as bananas. Se desse para a gente perguntar para algum deles porque eles espancavam quem tentasse subir a escada, provavelmente um deles ia responder: «não sei, só sei que sempre foi assim.» BREVE HISTÓRIA DO MACACO
  • 8. A cor de menino é azul e de me- nina, rosa. Homem usa calça, mu- lher usa saia. É o homem que tem que pagar a conta. Menina brinca de boneca, menino de carrinho. Homens são mais brutos. Mulheres mais delicadas. Estas são só algu- mas das idéias que existem, que nós acreditamos e reproduzimos, mas que a gente não faz idéia de onde surgiram. Em que momento da história se decidiu que azul era cor de menino e rosa cor de meni- na? Você sabe? Ninguém sabe, mas nós agimos como se isso fosse a coisa mais óbvia do mundo. Basta esticar um pouco o olhar sobre ou- tros povos ou sobre a nossa própria história para que a gente perceba como esses conceitos são relativos. E, se são relativos, eles podem ser transformados... Os seres humanos não são com- pletos em si mesmos, e buscam prazer em muitas fontes externas – a gente viaja, come, trabalha, estuda, vê filmes, tem filhos... O porquê das pessoas terem vonta- des tão variadas e as diferenças na sua realização é um complexo que combina elementos culturais, biológicos e sociais. A ciência ain- da não dá conta dessas respostas. Esses sentimentos são direcionados a um objeto externo a si mesmo, e não dizem respeito ao que a pessoa é ou o que ela faz, mas é uma von- tade subjetiva. Uma das formas de encontrar- mos prazer e completude nas nos- sas vidas é o amor e o sexo. O de- sejo, nesse caso, é pelo outro. Para dar um nome acadêmico, a gente chama esse desejo de orientação sexual e afetiva. A partir de um de- terminado momento, começamos a criar categorias que tentassem classificar a enorme diversidade desses desejos. O termo orientação sexual (ago- ra acrescido da expressão afetiva) é usado com uma infinidade de sig- nificados – até mesmo com o senti- do de educação sexual. Aqui vamos trabalhar com este conceito signifi- cando a atração, o desejo sexual e afetivo que uma pessoa sente por outras. Para montar as “catego- rias” nós vamos nos basear no gê- nero e não no sexo, no papel social interpretado e não na genitália. Assim podemos dividir as orien- tações (se é que isso é possível de fato) basicamente em: ORIENTAÇÃO SEXUAL E AFETIVA
  • 9. Outro conceito importante para começarmos a entender toda essa história é o de identidade sexual. Cada um de nós possui uma diver- sidade de identidades: profissional, religiosa, étnica, racial, familiar e, dentre tantas, uma identidade sexual. Diferente da orientação sexual e afetiva, que está direta- mente relacionada ao meu desejo pelo outro, a identidade sexual tem a ver com como eu me coloco dian- te da sociedade, com quais grupos, representações e imagens eu me identifico e me reconheço. Claro que a nossa cultura, ávida por classificações, foi, ao longo dos tempos, em especial das últimas dé- cadas, criando identidades sexuais. Algumas das mais conhecidas são: HOMOSSEXUAL quem sente atração por pessoas do mesmo gênero HETEROSSEXUAL quem sente atração por pessoas do gênero oposto BISSEXUAL quem sente atração por pessoas de ambos os gêneros Essas categorias, assim como to- das as classificações, não dá conta da enorme diversidade humana. Se pensarmos no campo do desejo se- xual e afetivo, provavelmente um heterossexual é tão diferente de um homossexual quanto de outro hetero. Para viajar um pouco mais, podemos então pensar que existem heterossexualidades, homossexu- alidades, etc. Ou que talvez o de- sejo humano possa ser como um gradiente, que vai da homossexua- lidade absoluta à heterossexualida- de absoluta (com a bissexualidade absoluta exatamente no meio). A maioria de nós estaria em algum lugar dentro deste degradê. IDENTIDADE SEXUAL O mais importante aqui é que a gente consiga diferenciar na nossa cabeça o que são esses quatro conceitos: SEXO / GÊNERO / ORIENTAÇÃO SEXUAL E AFETIVA / IDENTIDADE SEXUAL. A maioria de nós, desde criança foi ensinada que só existiam duas possibilidade de combinações aí: SEXO: MASCULINO + GÊNERO: MASCULINO + ORIENTAÇÃO: HETERO + IDENTIDADE: HOMEM HETERO ou SEXO: FEMININO + GÊNERO: FEMININO + ORIENTAÇÃO: HETERO + IDENTIDA- DE: MULHER HETERO Mas as coisas não são tão simples assim – para o desespero de alguns e para a felicidade de muitos. Assim, diferentes seres humanos foram inventando diferentes formas de combinar todas essas experiências. Gay Homem heterossexual Bissexual Travesti Transexual Lésbica Mulher heterossexual Estas identidades não têm a ver só com a atração sexual e afetiva, mas, mais do que isso, têm a ver com um jeito de ser, de se sentir, de vivenciar o seu afeto, com o compartilhamento de uma determinada cultura, música, lugares de encontro, até mesmo com uma atitude política. É daí que vem a siglaGLBTT, que significagays,lésbicas,bissexuais,travestis e transexuais. Ao longo destes textos você vai poder perceber que nós sempre usa- remos a palavra homossexualidade, ao invés de homossexualismo. O su- fixo ISMO é de origem grega e car- rega dois sentidos principais: a idéia de uma doutrina, seita ou conjunto de idéias (Cristianismo, Judaísmo, Marxismo) ou a idéia de doença (ta- bagismo, alcoolismo, botulismo). Já o sufixo DADE traz um sentido de ex- pressão, manifestação humana (iden- tidade, felicidade, espontaneidade, sexualidade). Assim, o termo homossexualis- mo carrega uma idéia conservadora que enxerga os homossexuais como doentes ou desviantes. Já a pala- vra homossexualidade nos remete à idéia de que ela é apenas mais uma expressão da sexualidade ou da identidade humana. O termo homossexualismo foi cria- do no final do século XIX por médicos, como a classificação de uma doença. Nas últimas décadas do século XX, os códigos de doenças (CID-X e DSM IV) retiraram a homossexualidade de suas classificações e, em 1990, a Organização Mundial de Saúde (OMS) aboliu a homossexualidade como do- ença de todas suas listas. Além dis- so, em 2001 o Conselho Federal de Psicologia do Brasil proibiu todos os profissionais da área de realizarem qualquer tratamento que vise uma possível “cura” da homossexualida- de, visto que não é uma doença. O profissional que faça isso pode até mesmo ter seu registro cassado. ISMOS E DADES
  • 10. Quando o assunto é homossexu- alidade ou transexualidade, o que não falta são opiniões. Algumas ba- seadas em conceitos, idéias e cren- ças. Outras, construídas em cima apenas do senso comum e mesmo do completo desconhecimento. Colocamos aqui então algumas das “idéias” que rondam a imagem da homossexualidade, para a gente discutir um pouco cada uma delas. Entre os diferentes estereotipos que cercam os homens homosse- xuais há alguns que são aparente- mente positivos – aparentemente. E esse é um deles. Pessoas sensí- veis e amigas existem em todas as orientações sexuais. Assim como antipáticas também. Não há nada na orientação sexual de uma pessoa que a torne necessariamente mais ou menos amiga. Talvez possamos pensar que um homem gay, por ser gay, já rompeu com talvez o maior componente do estereotipo da masculinidade, qual seja, gostar de mulher. Assim, tal- vez fique mais fácil romper com ou- tros, como a dificuldade de expres- sar seus sentimentos, de chorar, de demonstrar afeto, etc. Por outro lado, essa idéia pare- ce funcionar quase como uma com- pensação. Como a idéia de que todo gordo é alegre. Por que todo gordo tem que ser alegre?! Por que, para ser aceito como gay, o sujeito pre- cisasse ser sensível, amigo, inteli- gente, bonito, rico e bem sucedido? Como se essas grandes qualidades “compensassem” aquele pequeno defeito. E se ele for pobre, chato e nada inteligente? Não merece ser respeitado? OS HOMENS GAYS SÃO MAIS SENSÍVEIS E ÓTIMOS AMIGOS Essa idéia, apesar de aparen- temente sem sentido, está muito presente no senso comum da nossa sociedade. E o que importa nessa questão é conseguirmos perceber o que está por trás dessa idéia. Na nossa sociedade há um papel para o homem e um papel para a mulher. Entre os estereótipos que compõem o papel do homem está o fato de ter de ser forte, viril, prove- dor, dominante e ativo sexualmente. Entre os estereótipos que compõem o papel da mulher está a idéia de ser mais sensível, romântica, mãe, frágil e passiva sexualmente. Quan- do esses papéis são transgredidos, aí começa o problema. Duas mulheres femininas transan- do é parte inclusive da fantasia sexu- al de muitos homens heterossexuais. E duas mulheres masculinizadas? Se- rão alvo certo de preconceitos. Mui- tos homens que se relacionam sexu- almente com outros, mas se mantém na posição de ativo, não vão se en- tender como homossexuais. Dentre os próprios gays uma forma cômica e pejorativa de brincar com os colegas é chamar de “passiva”. O depoimento a seguir exemplifi- ca um pouco o que estamos dizendo. NUMA TRANSA ENTRE DOIS HOMENS, QUEM É PASSIVO É MAIS HOMOSSEXUAL DO QUE QUEM É ATIVO
  • 11. O que está embutido nesse pen- samento? A idéia de que, se o filho é o ativo nas relações, ele ainda se mantém dentro do papel social de homem, ainda dentro do estereotipo da masculinidade, e precisa apenas se livrar desse “mau hábito”. Se ele é passivo nas relações, já teria então rompido com esse papel masculino, sendo, portanto, “irrecuperável”. E mesmo que você diga que não concorda, que é absurdo, talvez aca- be se pegando com um pensamento muito parecido. Quando você vê um casal gay andando pela rua. Um com um estereotipo mais masculino, o ou- tro, mais feminino. Provavelmente você, como grande parte das pesso- as, fará também um julgamento de quem é o ativo e quem é o passivo, mesmo sabendo que pode estar com- pletamente enganado. Isso tudo deixa claro que os pre- conceitos com relação à orientação sexual estão intrinsecamente ligados às questões de gênero. Mais do que quem faz sexo com quem, impor- ta saber qual o papel que essa pes- soa ocupa. Quanto mais o indivíduo rompe os papéis de gênero, mais ele será notado, estigmatizado e, muitas vezes, discriminado e agredido. Não é à toa que, dentre todo o segmento GLBTT, sem dúvida são as travestis e transexuais – que subvertem radical- mente os papéis pré-estabelecidos - que carregam os maiores índices de agressão e violência. Quando eu contei para os meus pais que eu era gay, meu pai, que nunca falava nada, disse que só queria me fazer uma pergunta: se eu era ativo ou passivo. Porque se eu era ativo, ainda dava pra recuperar... Jovem homossexual A HOMOSSEXUALIDADE É UMA OPÇÃO DE VIDA. UMA ESCOLHA. O que é uma escolha? Escolha é uma simples decisão, sobre algo que pode ser decidido. Eu escolho se vou vestir uma camisa azul ou vermelha. Mas será que é possível escolher por quem eu quero sentir atração sexual ou afeto? Há uma série de pesquisas, es- tudos, discussões e debates sobre o que leva uma pessoa a ser homosse- xual. Há quem atribua a caracterís- ticas biológicas, mesmo genéticas; há quem defenda que toda a sexua- lidade é uma construção social; há os que juntem um pouco de tudo. Seja como for, todas essas questões estão ligadas a processos (físicos ou psicológicos) que estão para além da simples vontade. A escolha em questão tem a ver não com sentir ou não sentir atração, mas com vivenciar ou reprimir, assu- mir ou esconder, um determinado desejo afetivo ou sexual. Desejo que não é determinável pela vontade. O problema da idéia de escolha é que ela ignora a subjetividade e muitas vezes culpabiliza o sujei- to. Por outro lado, a visão de que a orientação sexual é algo que está para além da determinação da pes- soa, pode gerar uma idéia de pena – “coitado, ele não têm escolha...” – o que também não é uma relação positiva. Talvez o melhor seja pensarmos que as orientações sexuais, todas elas, têm origens e determinantes que ainda não conhecemos muito bem, mas que, mais importante do que isso, é podermos viver a nossa sexualidade, seja qual for, de uma forma livre, respeitosa, tranqüila e saudável. Como a gente já viu antes, orientação sexual e identidade são coisas diferentes. A identidade de gay vai além de fazer sexo com outro homem. Tem a ver com um jeito de ser, uma determinada cul- tura, música, lugares de encontro, até mesmo com uma determinada atitude política. Nem todo homem que faz sexo com outro homem tem essa identidade e, portanto, não pode ser imediatamente considera- do como gay. Assim como nem toda mulher que faz sexo com outra mu- lher tem a identidade de lésbica. Isso não significa que eles sejam mal resolvidos. Simplesmente que não se identificam com essa imagem. Algumas ações de prevenção a DST/AIDS usam hoje os conceitos de HSH (homens que fazem sexo com homens) e MSM (mulheres que fazem sexo com mulheres), já que entende que, na hora de fazer um cartaz ou produzir um texto, não se pode atribuir a todos esses homens e mulheres a identidade de gays ou lésbicas. TODO HOMEM QUE FAZ SEXO COM OUTRO HOMEM É GAY. Ainda há no imaginário de mui- tas pessoas aquela imagem do ho- mossexual que faz pegação no ba- nheiro, que se agarra em lugares públicos no meio da noite – e essa cultura ainda existe bastante den- tro da comunidade GLBTT. Então, vamos pensar o seguinte: há trinta anos atrás, quais eram os espaços onde os homossexuais po- diam vivenciar a sua sexualidade ou o seu afeto? Dava para namorar na pracinha? Andar de mão dada na fes- ta da escola? Apresentar o namora- EXISTE MUITA PROMISCUIDADE ENTRE OS HOMOSSEXUAIS.
  • 12. do ou namorada para a família? Claro que não. Mesmo a maioria dos motéis não permitia a entrada de casais do mesmo sexo. Ou seja, gays e lésbicas não podiam viver a sua sexualidade e o seu carinho nos espaços onde to- dos outros vivenciavam. Essa vivência acabava sempre se dando de forma marginal. Ou nos guetos ou na sur- dina, muitas vezes em lugares nada adequados, mas que restavam como única possibilidade. Mesmo hoje, a manifestação do afeto público ainda é muito difícil e reprimida. Assim, se um funcionário pega dois meninos se agarrando no ba- nheiro da escola, seria interessante ele imaginar que, se esses dois me- ninos pudesses se beijar e namorar em público como todas as outras pessoas, eles talvez não precisas- sem fazer isso no banheiro. Que esse tipo de atitude não é conseqüência de uma perversão e safadeza nata à homossexualidade, mas conseqüên- cia sim da realidade de repressão e discriminação a qual gays e lésbicas estão submetidos. Qual a forma de contágio do HIV pelo sexo? Relação sexual desprote- gida com alguém portador do vírus. E qual a única forma de prevenção? Sexo com camisinha, e ponto. Não importa com quem você esteja fa- zendo sexo, nem quantas relações você tem, nem quantos parceiros. O que importa neste caso é apenas se você está usando preservativo em todas as relações. O pensamento, ainda muito co- mum hoje em dia, de que homos- sexuais têm mais chances de pegar AIDS trabalha ainda com a idéia de grupo de risco. E qual o problema desse conceito – além de ser um pensamento alimentado por muito preconceito? Se você trabalha com idéia de que existem determinados grupos que estão mais propensos a se contagiar, e se você não faz par- te de nenhum deles, então você não precisa se prevenir. “Se AIDS é coisa de prostitutas, usuários de drogas e homossexuais e eu não sou nada disso, então não preciso me preo- cupar, posso transar à vontade que nunca vou pegar o HIV”. Esse é o pensamento alimentado pela idéia de grupo de risco, pensamento que ainda leva muitos homens e mulhe- res a manterem relações completa- mente desprevenidos. Hoje nós trabalhamos com o conceito de comportamento de risco, ou seja, o que o torna vul- nerável à contaminação pelo HIV não é a sua orientação sexual, sua profissão, o número de parceiros ou nada disso, mas comportamentos de risco, como manter relações sem camisinha e compartilhar seringas. São estes comportamentos que o tornam vulnerável. Só alguns dados, uma pesquisa O RISCO DE PEGAR AIDS É MAIOR ENTRE HOMOSSEXUAIS. feita entre homossexuais durante a Parada do Orgulho GLBT do Rio constatou que 72% dos que respon- deram à enquete afirmaram usar preservativos em TODAS as relações . Segundo o Ministério da Saúde, a prática heterossexual é responsável por 46% dos novos casos de AIDS OS JOVENS BISSEXUAIS NA VERDADE ESTÃO PASSANDO POR UMA FASE DE INDECISÃO. LOGO VÃO OPTAR POR UM LADO OU PELO OUTRO. Há uma tendência errônea de se entender os bissexuais como se fossem pessoas mal resolvidas. Ho- mossexuais não assumidos ou he- terossexuais que não sabem o que querem. É difícil para muitas pesso- as entenderam a bissexualidade de fato porque a gente ainda trabalha muito com uma idéia dicotômica da sexualidade. Não dá para a gente criar categorias, como homo e hete- ro, e achar que todo o desejo sexual e afetivo da humanidade vai caber dentro delas. É claro que não. Como já dissemos antes, vamos pensar que desejo humano possa ser como um gradiente, que vai da ho- mossexualidade absoluta à heteros- sexualidade absoluta (com a bisse- xualidade absoluta exatamente no meio). A maioria de nós estaria em algum lugar dentro desse degradê. Ninguém precisa se encaixar nes- se ou naquele lugar, nem decidir por qualquer lado que seja. Uma pessoa simplesmente pode sentir atração por ambos os gêneros. E isso não quer dizer que um bissexual precise estar permanentemente se relacio- nando com homens e com mulhe- res. Isso significa que essa pessoa é capaz de se satisfazer numa relação de afeto e de sexo com outra pes- soa, seja qual for o seu gênero. Compreender e aprender a res- peitar a diversidade sexual humana não é apenas incluir mais alguns modelos de relacionamento na nossa caixinha de aceitáveis, mas compreender que a sexualidade e o afeto são experiências muito di- versificadas, múltiplas e que podem produzir uma série de possibilida- des. Se voltarmos 50 anos atrás, de fato naquela época essa possibili- dade não existia. Duas mulheres vi- vendo juntas, compartilhando uma casa, uma vida, uma cama, era algo inconcebível e inaceitável social- HOMOSSEXUAIS TÊM DIFICULDADE DE MANTER RELAÇÕES AFETIVAS ESTÁVEIS, COMO UM CASAMENTO, POR EXEMPLO.
  • 13. mente. Uma pesquisa realizada com homens homossexuais com mais de 50 anos apontou que a maioria deles não conseguiu, na sua época, tornar as relações amorosas em relações conjugais. Não que não houvesse o desejo, mas a repressão social – in- ternalizada inclusive – era tamanha que essa idéia se tornava inviável. Hoje, muitos adolescentes e jovens homossexuais já conseguem vivenciar, desde cedo, o afeto, o namoro, o carinho. Aquelas coisas bem bobas de adolescente, que se apaixona, que namora, que termi- na, chora, apaixona de novo, namo- ra de novo. Coisas tão simples, mas que foram completamente negadas à maioria dos homossexuais na sua juventude, e que hoje já vão se tor- nando cada vez mais possíveis. O desejo pelo amor, pela convi- vência, por compartilhar a vida com alguém que se ama independe da orientação sexual. Na mesma pes- quisa realizada na Parada do Orgu- lho GLBT do Rio, 46% dos homosse- xuais responderam que mantém um relacionamento estável, 24% vivem com um companheiro. Quarenta por cento dos relacionamentos têm mais de 1 ano. 8% mais de 6 e 10% mais de 10 anos de convivência . A união civil entre pessoas do mesmo sexo já existe hoje na Dina- marca, na Noruega, na Suécia, na França, na Alemanha, na Bélgica, na Argentina, no Reino Unido (Inglaterra), no México e em alguns lugares dos Estados Unidos. Já o casamento – ou seja, a lei não faz distinção mais entre homossexuais ou heterossexuais - existe na Holanda e na Espanha. No Brasil, o projeto de parceria civil ainda se arrasta no Congresso Nacional...
  • 14. Quando se fala sobre homosse- xualidade numa roda de amigos, numa mesa de bar, num almoço de família, mais cedo ou mais tarde começam as especulações sobre que motivos levaram essa ou aque- la pessoa a se tornar gay, lésbica, travesti... Há dezenas de pesquisas em todo o mundo que tentam explicar a “origem” da homossexualidade. Algumas vão apontar para fatores biológicos, genéticos, neurológicos. Outras vão condicioná-la a aspectos sociais, educacionais ou psicológi- cos. Mais algumas vão articular um pouco de tudo isso. A primeira coisa que devemos nos questionar é porque é tão im- portante ou instigante para muitas pessoas desvendarem uma suposta “causa” da homossexualidade. Será que essas mesmas pessoas se preo- cupariam em desvendar as “causas” da heterossexualidade? Há nessa discussão um pensa- mento forte de heteronormativida- de. Heteronormatividade é a idéia de que, a princípio, todos são he- terossexuais, de que a heterosse- xualidade seria a sexualidade nata, natural, padrão dos seres humanos – e todas as demais desvios dessa norma. É essa idéia que alimenta a visão de que todos nós nascemos heteros- sexuais e que, por alguma razão, problema ou acidente de percurso, alguns se “tornam” homossexuais. Como se tivéssemos já um caminho pressuposto para o desenvolvimento da nossa sexualidade e que ele teria sido desviado em algum momento. Precisaríamos então, descobrir o que causou esse desvio. Nessa discussão toda é preciso que fique claro que não temos nada contra a pesquisa científica e a bus- ca por entendermos melhor a nós mesmos. Mas quando buscamos en- tender apenas as razões da homos- sexualidade acabamos afirmando, por outro lado, que a heterossexu- alidade não precisa ser pesquisada nem entendida, “ela é natural e óbvia”. Talvez o ideal seja pensar a sexualidade humana como um todo e que ela vai sendo construída, por diversos fatores, ao longo da vida de cada indivíduo. Todas as sexua- lidades são construídas. Nas discussões sobre as “causas” da homossexualidade ou da transe- xualidade se desdobram uma série de argumentos preconceituosos e que muitas vezes não são percebi- dos como tal. Se prestarmos mesmo atenção aos termos que as pessoas geralmente usam nessas discussões isso já vai ficando claro: sintomas de homossexualidade (o que tem sintoma é doença), indícios (o que tem indício é crime) e suspeitas (você suspeita de quem cometeu algum delito). A “clara homossexualidade” percebida por alguns educadores em seus relatos está muito mais no olhar destes professores do que no seu aluno de fato. Os professores descrevem meninos que brincam de boneca, que se vestem com roupas femininas nas brincadeiras, etc. Não há em nada disso nenhum re- lato que diga respeito à orientação sexual ou afetiva dessas crianças, mas sim aos papéis de gênero que nós atribuímos a eles e que, de al- guma forma, eles estão contradi- zendo. Uma criança de cinco anos é nova demais para saber se vai que- rer casar ou fazer sexo com homens ou com mulheres. O que todos esses relatos trazem são comportamentos que vão contra as normas de gênero estabelecidas. O que assusta nas brincadeiras é a subversão das normas de gênero as quais o educador está acostumado, ou seja, do que ele (professor) es- pera que meninos façam e que me- ninas façam. Esta contradição está muito mais em quem vê do que na criança. E varia de pessoa para pes- soa, dependendo dos seus próprios conceitos de gênero. Para alguns um menino brincando de boneca é um “claro indício de homossexua- lidade”. Para outros, é apenas um menino brincando de boneca. O im- portante aqui é perceber o quanto essa questão está muito mais ligada ao conceito de gênero – o papel so- cial do homem e da mulher – do que à orientação sexual em si. A idéia de que um menino criado apenas pela mãe conseqüentemente se converte em um adulto homosse- xual guarda duas visões preconcei- tuosas. A primeira, de que tornar-se gay é um problema, algo que deu errado na criação dessa criança. A segunda, de que famílias chefia- das por mulheres, que tenham pais ausentes ou que a figura feminina seja a dominante geram filhos “com problemas”. Novamente a questão é de gênero. Ou seja, para se criar “bem” os filhos, é preciso que haja um homem como chefe da família, uma figura masculina presente e dominante. Fica claro assim como é machista esse pensamento. A idéia de que homossexuais são homossexuais porque foram agre- didos sexualmente como crianças é muito perigosa. Primeiro porque coloca o sentimento e o desejo de uma pessoa, a forma como ela vive o amor e o afeto em sua vida como conseqüência de um ato de brutali- dade e violência. É uma idéia que entende ainda a homossexualidade como uma perversão sexual, que é conseqüência de uma perversão ini- cialmente sofrida. Nessa lógica se misturam homossexualidade e pe- dofilia, coisas completamente dife- rentes. A maioria dos abusos sexuais registrados são cometidos por ho- mens contra meninas, ou seja, por heterossexuais. Essa associação é extremamente absurda, revoltante e é a causa de muito da discrimina- ção e da violência a que são subme- tidos homens homossexuais.
  • 15. Alguns educadores ficam absolu- tamente perdidos quando o assunto é transexualidade ou travestilida- de. Grande parte das pessoas nun- ca conheceu ou conviveu com uma travesti. Formam suas idéias apenas a partir do que aparece na mídia e do senso comum. Então, que tal conhecermos mais quem são essas meninas? Travestilidade e Transexualidade são termologias adotadas pelos seg- mentos de Travestis e Transexuais para representar tudo que se refere a essas identidades, com o objetivo de substituir as termologias Traves- tismo e Transexualismo – o sufixo ismo, como já vimos, traz uma idéia de doença e portanto pejorativa. IDENTIDADES TRANS As Travestis são pessoas com identidade de gênero oposta ao seu sexo biológico. Realizam modi- ficações corporais temporárias ou permanentes (mas não rejeitam o seu órgão sexual), vivem e apresen- tam-se socialmente como do gênero oposto ao que lhe seria convencio- nado, desejando serem identifica- das cotidianamente pelo resultado desta expressão. As Transexuais são pessoas de sexo genital determinado, mas que psicologicamente pertencem ao sexo oposto. A maioria dos casos tem como características, a rejeição pelo órgão genital e a necessidade da cirurgia de transgenitalização. Lembrando, podemos ter tanto ho- mens como mulheres transexuais. A operação de mudança de sexo é autorizada pelo Conselho Federal de Medicina desde 1997, sendo mais comum na mudança de homem para mulher e ainda considerada expe- rimental de mulher para homem. A pessoa que quiser passar pelo pro- cedimento precisa de pelo menos dois anos de acompanhamento de profissionais de saúde antes da ci- rurgia. A operação é financiada pelo Sistema Único de Saúde. No Rio de Janeiro, os Hospitais Universitários Pedro Ernesto (da UERJ) e Clemen- tino Fraga Filho (da UFRJ), além do Instituto de Ginecologia da UFRJ, fazem esta cirurgia. Ainda hoje se vincula o fato de uma pessoa ser ou não transexu- al a realização ou não da cirurgia de transgenitalização (readequa- ção sexual), o que não é verdade. A transexualidade tem a ver com identidade, com como a pessoa se reconhece, independente dela ter feito ou não a cirurgia. A transexua- lidade tem a ver com a identidade, como a pessoa se reconhece. Ela pode ter o desejo de fazer a cirur- gia, mas ainda não ter realizado por várias razões. A questão é como ela se sente.” IDENTIDADES CONFUNDIDAS COM IDENTIDADES TRANS Travestismo fetichista: É exer- cido por aqueles que se travestem por motivação erótica. Homens ou mulheres que, como fantasia ou jogo sexual, se caracterizam como o gênero oposto, sem que para isso tenham práticas ou orientação ho- mossexual, ou transportem esse com- QUEM SÃO ESSAS MENINAS?
  • 16. portamento para sua vida cotidiana . Transformistas: São pessoas, homo ou heterossexuais, que se vestem como do sexo oposto, de forma exagerada ou simplesmente travestidos e caracterizados apenas para participação em manifesta- ções, artísticas ou não. Os mais conhecidos são as DRAG QUEENS, homens excessivamente caracterizados, e os DRAG KINGS mulheres que se travestem como o grupo anterior. A prática de vestir-se igual ao gênero oposto não é invenção mo- derna. Faz parte da nossa história. Há hipóteses de que os primeiros casos de travestilidade tenham ocorrido na pré-historia. Com o início do uso de peles de animais, criou-se o hábito de que os homens usavam a pele pendurada no ombro direito e as mulheres no ombro esquerdo. Ao inverter essa norma social desenvolvida, ocorreu então o que pode ter sido a primeira identificação do homem com o pa- pel social da mulher ou vice versa. Historiadores portugueses falam dos hábitos de travestilidade em Portugal no século XVI. Um cinqüen- tenário cirurgião, Felipe Corrêa, que em 1553 simulava ter seios e dizia ter “natura de mulher” para conquistar seus parceiros e a travesti Vitória (Antônio de batismo), que em 1556 disputava o espaço e a clientela com as prostitutas do local, foram ambos denunciados pela Inquisição . Na América, antes da chegada dos espanhóis, já encontramos re- gistros entre os habitantes originais do continente, através da descrição de um frei franciscano: “(...) eram todos los demas dellos sométicos, en especial los que viviam en la costa y tierra caliente en tanta manera que andabam vestidos em hábito de mujeres.” Antônio Paquena, o primeiro es- tudioso das “anormalidades sexua- les de los aborígines americanos”, concluiu que são inúmeros os casos e relatos de cronistas, viajantes e missionários descrevendo a presen- ça de travestis e transexuais entre tribos e nações da América do Nor- te. Como acontecia na Península Ibérica, também em Nueva Espanha os “sométicos” de diversas etnias assumiam traços e características do gênero feminino, trazendo vesti- dos de mulheres e tratando-se com nomes femininos. TRAVESTIS E TRANSEXUAIS ATRAVÉS DOS TEMPOS Não só no Brasil como em partes meridionais da América do Sul, são vários os registros de travestis antes mesmos da chegada de colonizado- res europeus, e podemos encontrar também registros de travestilidade e transexualidade masculina e fe- minina. Muitas foram as tribos e nações indígenas nas quais foram registra- das - por missionários, colonizado- res e cronistas - práticas de inver- são do papel social do homem com a mulher e vice-versa, sem que isso pudesse causar algum tipo de ex- clusão ou de perseguição entre os indígenas. Entre os Tupinambás, os índios afeminados recebiam o nome de Tibiras. Entre as mulheres, haviam também as Çacoaimbeguiras, con- sideradas por alguns historiadores como lésbicas e por outros como transexuais. Outro registro de transexualida- de seriam os “cudinhos”, índios de sexo masculino que abraçavam os hábitos e comportamentos do gê- nero feminino. Vestiam-se de mu- lher, se enfeitavam, viviam entre elas e faziam os mesmos trabalhos. Tinham um marido e uma vez por mês simulavam uma menstruação, quando não comiam nem peixe, nem carne, como todas as outras mulheres. A primeira travesti não índia que temos notícia no Brasil foi Francisco Manicongo, negro, escravo de um sapateiro residente em Salvador, denunciado na visita da Inquisição de 1591: “(...) recusava-se trazer vestido de homem que lhe dava seu senhor, conservando os costumes dos negros gentios de Angola e do Congo, onde negros que servem de mulheres são chamados quimbandas”. NO BRASIL, TRAVESTIS E TRANSEXUAIS ANTES DE CABRAL Isso tudo serve para que a gente supere a idéia de que travestilidade ou transexualidade são invenções modernas, coisa de americano, ou coisas do tipo. A travestilidade e tran- sexualidade já fazem parte do Brasil antes mesmo dele ter este nome. Não era privilégio dos brancos, pelo contrário, era vivida por europeus, negros e índios. Portanto, ela também faz parte da história do mundo e da nossa própria história.
  • 17. Qual a atitude ética de um profes- sor ou de uma diretora diante de situ- ações que colocam em questão os seus próprios valores pessoais, morais, ideo- lógicos ou religiosos? Como agir quando tudo aquilo que eu mais acredito entra em conflito direto com a atitude ou com o discurso de um colega profes- sor, um funcionário ou um aluno? Como lidar com essa contradição? Como ser ético? E o que exatamente isso signifi- ca? Ser ético é agir conforme os meus valores e ponto? É agir segundo as nor- mas e regras estabelecidas? Para começar, o sujeito ético é aquele consciente de si e dos outros. Consciente de que é um ser cujas ações são orien- tadas por valores. E que assim como as suas ações são determinadas por idéias e crenças, os outros também têm crenças, idéias e valores que orientam suas ações. E do mesmo modo que queremos ter nossos valores respeitados, deve- mos também respeitar os dos outros. No caso do professor, muitas vezes, por se acreditar mais experiente que seus alunos, ele pode acabar considerando que suas crenças, suas idéias “valem mais”, são mais certas ou relevantes do que as de seus alunos. Engano! Se o professor quer construir a tolerância e o respeito deve ele, antes de todos, ser tolerante e respeitar. O sujeito ético é um ser dotado de vontade, com capacidade de contro- lar e orientar seus desejos e decidir sobre suas ações. Um educador que pretende assumir uma postura ética, portanto, deve saber distinguir seus valores/desejos dos de seus alunos, saber ponderar sobre essas diferenças e agir em respeito a essas condições. Além disso, se considero que tenho direito a liberdade de pensar e assu- mir posturas e atitudes diferenciadas dos outros, devo também reconhecer a liberdade e o direito do outro de pensar, sentir e agir como sua von- tade. Afinal, ser ético é ser livre, ou seja, auto determinar-se, dando a si mesmo as regras de conduta. Não são as regras que me fazem, mas eu sou autor das regras. Isso não quer dizer que cada um faz o que quer. Até porque, ser ético é ser responsável. E ser responsável é reconhecer que é o autor da ação, assumindo suas conseqüências. Isso im- plica em reconhecer que não estamos sozinhos e que, portanto, nossas ações devem ter por referência nossa consci- ência e vontade, mas o reconhecimen- to de que nossa consciência e vontade estão na relação com outras consciên- cias e vontades. Assim, não há “certo” ou “errado” absoluto, mas consensos construídos nos grupos através do res- peito aos valores caros a TODOS que fa- zem parte daquela realidade social. E estes consensos vão se transformando ao longo do tempo e da história. A construção coletiva desses pro- cessos, com diálogo, numa relação horizontalizada, sem perder de vista nosso papel formador, mas ao mes- mo tempo assumindo uma postura de respeito e tolerância é que faz um educador ético, para com quaisquer questões, inclusive as relativas à sexu- alidade, homossexualidade e transexu- alidade. E é ainda mais preciosa essa discussão nesse campo apenas porque talvez ele, mais que outros, remexa nos mais profundos guardados, já que fala sobre os nossos desejos mais laten- tes, as relações mais fortes, os afetos mais sensíveis, o nosso corpo, a nossa força, a nossa identidade.
  • 18. Um educador cuja religião nega ou condena a homossexualidade não pode simplesmente negar ou condenar um aluno homossexual. Esse educador precisa ter claro para si que os seus valores são, antes de tudo, seus. Que o aluno diante dele tem outros. E que tem direito de tê- los, assim como ele próprio. O que é difícil nessas horas é que os valores religiosos falam so- bre coisas que vão muito além da materialidade, do sistema escolar ou da lei. Eles falam sobre valores que muitas vezes se pretendem uni- versais. “Deus é um só e o que ele disse vale para todos”. O problema é que cada povo, cada grupo, cada ser humano, tem uma percepção e um entendimento diferente sobre a religião. Qual Deus é um só? O Deus católico? O evangélico? O judeu? O muçulmano? O umbandista? O kar- decista? Sem esquecer que há mui- tos que nem sequer acreditam em um Deus. Se não entendermos que a religião é uma escolha, e não uma imposição, não vamos nunca con- seguir estabelecer uma relação de respeito com o outro. Ao longo da nossa história mui- to já se destruiu em nome de um Deus. Nações indígenas tiveram sua cultura destruída em nome de uma salvação religiosa, cientistas foram perseguidos e mortos, mu- lheres queimadas em fogueiras, se fizeram e ainda se fazem centenas de guerras em nome da fé. Precisa- mos aprender com a nossa própria história e descobrir uma nova forma de viver as nossas crenças, sem isso significar que temos de impor aquilo que acreditamos aos outros. Além disso, aos educadores de escolas públicas, vale sempre lem- brar que a escola pública é laica e que, portanto, não pode impor ne- nhuma religião, nem como crença, nem como prática, aos seus alu- nos. Por outro lado, também não bas- ta simplesmente dizer que a escola é laica e que, portanto, é contra “as regras” que um professor deixe sua crença religiosa interferir nas atitu- des que ele terá diante de um aluno ou de determinada situação. Quantos educadores, em nome das mais belas ideologias, também não se rebelaram em algum momen- to contra a regra oficial? Quantas vezes nós mesmos não enfrentamos a “regra estabelecida” em nome de algo que acreditávamos ser maior do que isso, mais certo, mais justo? Assim, o argumento de que a escola pública é laica vale, mais do que como uma regra ou uma norma, como valor, um princípio de que uma escola, se é pública, deve res- peitar todas as manifestações reli- giosas, sem hierarquias, imposições ou exclusões. Vale como princípio de respeito e tolerância.
  • 19. Um aluno soltava muito a franga. Mandava bilhetinhos pros meninos. Tive que chamar ele pra conversar, dizer que respeito ele, mas aqui na escola não pode fazer isso, que quando alguém faltar ao respeito com ele e ele vier reclamar comigo não vou poder fazer nada, porque ele tem que se dar ao respeito. Com menina a gente também chama pra conversar, porque de- pois eles podem desrespeitar. As meninas são mais afoitas. Tenho medo de que batam nele na escola... mas a culpa é dos agressores também. Professora Na escola onde estudei, tinham dois heteros que estavam sacaneando dois alunos homossexuais. Um dos heteros passou a mão na bunda do outro pra zoar, mas o diretor na hora viu. Chamou os dois para a coordenação. Eles quase foram expulsos. Eles disseram que não eram gays, e o diretor disse que não importa ser ou não ser, o que importa é parecer. Dos homossexuais todo mundo sabia, mas eles não pareciam, então não tinha problema. Professora Eu tinha um aluno que nunca tinhase assumido, mas tinha trejeitos. Oscolegas implicavam, ridicularizavam,e ele reclamava. Eu conversei com elee falei que ele não tem que dar satis-fação da sua vida, você que sabe desi. Ele conseguiu se formar. Encontreiele hoje advogado e assumido. Professora Eu cansei de chegar rouco em casa depois da escola, de tanto forçar para engrossar a voz durante o dia. Jovem homossexual Quando falamos de uma escola inclusiva, que acolha a todos, quem está incluído nesse “todos”? Estão incluídos aí também certamente os homossexuais. Ou não? Mas quando falamos de inclu- são, o que exatamente isso signi- fica? Incluir um aluno cadeirante, por exemplo, significa que a esco- la precisa adaptar a sua estrutura – rampas, banheiros, portas - para poder permitir a esse aluno que freqüente as aulas como todos os outros. Quando falamos de incluir alunos com necessidades especiais, isso significa que os professores pre- cisam se reciclar e aprender a dar suporte a esse aluno e a como de- senvolver metodologias que inclu- am as necessidades dele. E porque então, quando fala- mos de incluir alunos homossexuais, transexuais ou travestis, muitos di- zem simplesmente que a escola tem as suas normas, a escola é assim ou assado e são eles, os alunos, que devem se encaixar nestes padrões e pronto? Em primeiro lugar, é preciso ter claro que a escola inclusiva não é um presente, uma boa ação, mas a conquista gradativa de um direi-
  • 20. to por parte de grupos até então excluídos. Os alunos, sejam cadei- rantes, surdos, ou com necessida- des especiais não são coitadinhos, carentes, dependentes da ajuda da escola. São simplesmente alunos, tão diferentes dos outros quanto qualquer ser humano é diferente do outro. Têm dificuldades assim como todos nós temos. A escola in- clusiva é apenas o entendimento de que os seres humanos são diversos e não existe nenhum modelo ideal de aluno. É a idéia de que a educação pública não pode escolher para qual tipo de pessoa ela vai se organizar, mas, pelo contrário, a escola tem de desenvolver formas de atender às necessidades de TODOS aqueles que, por direito, queiram nela es- tudar. Portanto, não há dúvida de que gays, lésbicas, transexuais e traves- tis têm sim direito a estudar numa escola pública que os acolha e res- peite. Agora, isso não significa que, para terem acesso à educação, eles devam abrir mão de suas identida- des. Ninguém pediria a um aluno cadeirante para levantar-se da ca- deira para poder assistir às aulas. Não faria o menor sentido dizer a um aluno surdo para ele aprender a ouvir como todos os outros para poder assistir às aulas. Então, por que os alunos gays, lésbicas, tran- sexuais e travestis deveriam abrir mão do seu jeito de ser, de falar, de agir para se adequar ao padrão de comportamento de gênero que mais agrada à equipe de professo- res? Por que, para poder estudar, uma travesti deve abrir mão da sua identidade feminina, se fantasiar de menino e reprimir toda a sua espon- taneidade? Por que, para ser aceito, um aluno gay tem de mudar o seu jeito de falar? Ou uma aluna lésbica tem de agüentar constantemente os comentários de professoras sobre o quanto ela não se comporta como uma mocinha? Em grande parte das vezes a “aceitação” a alunos homossexuais é condicionada – eles podem ser gays ou lésbicas, desde que não pa- reçam, ou seja, uma vez que não in- comodem os olhos dos outros. Uma inclusão onde a condição é que eles abram mão de suas identidades e se enquadrem em determinados pa- drões de comportamento; padrões estes que não têm nada a ver com o papel de um aluno – se compor- tar, fazer o dever, estudar, etc – mas com papéis de gênero. Padrões de gênero que não constam em nenhu- ma lei ou norma escolar. Padrões de gênero que são acriticamente reproduzidos pelas escolas e estão baseados tão somente nas concep- ções pessoais dos educadores. Obrigar um aluno ou aluna a mo- dificar o seu jeito íntimo de ser, de falar, de se fazer bonito para poder estudar, é condicionar um direito que é incondicional. É abuso de po- der. É desrespeito. E é sinal de que o educador ainda não entendeu que a identidade sexual daquele aluno não é uma firula ou uma brincadei- ra, mas parte constitutiva da sua própria personalidade. Com 15 anos eu era gay e já tomava hormônio. Quando descobriram, eu quase fui morta, fiquei em pânico. Meus pais se mudaram pra Guaratiba. Aí os meninos começaram a zombar de mim. Na escola onde eu es- tudava aconteceu um roubo e falaram que fui eu. Meu pai não agüentava mais, foi conversar com o diretor e ele disse: “seu filho é viado, e nossa escola não aceita esse tipo de coisa”. Minha mãe verdadeira não aceitou, virou as costas para mim. Jovem travesti, 29 anos, mora hoje em Campo Grande. Tem vontade de voltar a estudar.
  • 21. Há no imaginário de grande parte da população uma relação direta entre travestilidade, tran- sexualidade e prostituição. Em muitos veículos da mídia a palavra travesti aparece quase como sinô- nimo de profissional do sexo, como se a prostituição fosse algo intrín- seco às travestis. Nada contra as profissionais do sexo. Muito pelo contrário, é um segmento da nossa população his- toricamente marginalizado, que precisa ter sua cidadania e seus direitos reconhecidos, sem que para isso precise abrir mão de tra- balhar como quiser. Independente disso, vincular as travestis neces- sariamente à prostituição é, além de um equívoco, uma atitude pre- conceituosa. Aqui precisamos nos afastar da visão estereotipada que condena as travestis e as transexuais ape- nas a um círculo restrito de ativi- dades (prostituta, cabeleireira ou artista de show), mas também não podemos, em nome de um discur- so politicamente correto, ignorar uma realidade por demais injusta e excludente. Vamos pensar juntos então, quais as possibilidades de tra- balho hoje para uma travesti ou transexual? Quantas médicas travestis você conhece? Quantas transexuais trabalhando como vendedora no shopping? Quantas professoras travestis? Provavel- mente nenhuma. Essa é uma exclusão que não é “natural”. Não é parte da perso- nalidade das travestis ou das tran- sexuais não querer trabalhar em diferentes profissões. O que há é uma engrenagem de exclusão ini- ciada desde muito cedo. E um dos primeiros lugares de onde elas são excluída é a Escola. Quantas escolas hoje são capa- zes de acolher uma aluna travesti, respeitando a sua identidade de gênero? Quantas escolas conse- guem lidar com as contradições e reações preconceituosas por parte dos pais, mães, alunos e, princi- palmente, educadores? Quantas escolas conseguem rever os seus próprios conceitos e práticas in- ternalizadas para aprender a re- ceber uma aluna transexual? Como já discutimos antes, não adianta simplesmente dizer que a escola tem as suas regras e pronto. A tra- vesti é uma aluna como todas as outras, com os mesmos direitos à educação pública de todos os ou- tros. Portanto, a escola tem sim a obrigação de aprender a acolher uma aluna travesti ou transexual. A renegação da identidade da travesti, a opressão a que ela é submetida para se adequar a inú- meras regras de comportamento de gênero, a estigmatização des- sa aluna como “problemática” e, em alguns casos, “potencialmente perigosa” às inúmeras situações de preconceito e até violência a qual ela é submetida... Tudo isso contribui certamente para a cris- talização de um sentimento nessa aluna de que ela não deveria estar ali, e é um incômodo permanen- te e que a única forma de superar todos esses obstáculos é sair da escola. A exclusão da escola faz parte de uma engrenagem que combina evasão familiar, evasão escolar, o conseqüente despreparo técnico e profissional, discriminação no mercado de trabalho, violências sociais e institucionais. Tudo isso limita enormemente as possibili- dades de realização social e pro- fissional de uma travesti. Não por uma limitação pessoal, mas por uma máquina de exclusão que a empurra permanentemente para a marginalidade da vida social, o que as torna um segmento popula- cional extremamente vulnerável. Há sim muitos exemplos de tra- vestis e transexuais que, enfren- tando todas essas contradições, conseguiram modificar o seu “des- tino” e abrir novas possibilidades. Mas uma travesti ou transexual não deveria ter de enfrentar tan- tos obstáculos para poder (talvez) conquistar aquilo que são direitos básicos e fundamentais de todos nós – educação e trabalho. É pre- ciso que se entenda, de uma vez por todas, que não há nada na Constituição Brasileira que diga como homens e mulheres devem se vestir ou qual identidade de gê- nero eles devem assumir. Assim, as travestis e as transexuais são tão cidadãs como qualquer um de nós e, como qualquer um de nós, são sujeitos de direitos. Eu sempre fui afemi- nada. Desde a 1ª série meus pais eram cha- mados toda hora para a secretaria, por conta do meu jeito. Meu so- nho sempre foi estudar. Com 12 anos fui com bolsa para escola par- ticular e todo mundo olhava estranho. Com 13 eu comecei a tomar hormônio e isso causou mais problema. Não podia usar o banhei- ro... Mas não ligava pro que diziam. Um dia disseram que não aceitavam aluno assim, não aceitavam aluno assim, eu não podia mais estudar lá. Fui para rua, mas sempre queria voltar a estudar. Queria ter faculdade de medicina. Hoje que- ro me reciclar, fazer pré-vestibular, esse é meu sonho. Quero chegar lá, não importa a idade, e dizer que tentei e consegui. Jovem travesti
  • 22. Um aluno chegou e pediu para ser chamado de Fernanda*, ou então Fê*. O nome dele era Fernando* (o nome verdadeiro foi mantido em sigilo), então era fácil porque esse apelido serve tanto pro masculino quanto para o feminino. De qualquer maneira, a gente respeitou. E a direção chegou e decretou, sem consultar a gente, que não podia, tem que chamar como está na identidade. “A sexualidade de um adolescente de 12 anos ainda está em formação, e ele não foi diagnosticado trans”, etc. Por isso, ele foi obrigado a cair de sunga na piscina. Ele cobria o corpo com as mãos, como se estivesse semi nu. Dava pra ver como aquilo agredia ele. Ele fez isso três vezes e, depois, saiu da escola. Dias depois de abandonar, ele foi num evento da escola e deu pra ver que circulava tranquilamente entre os alunos. O preconceito está muito mais na escola, na direção. Como se o aluno, por ter 12 anos, não fosse dotado de direitos humanos, e não tivesse direitos sexuais e reprodutivos. Foi um tapa na cara de todo mundo pra acordar. E disseram que ele está fazendo ponto perto da nossa casa, mas são as mesmas pessoas que obrigaram a chamá-lo de Victor, então não sei se é verdade. Professora Eu estudava em bons colégios particulares. Com 18 anos eu resolvi estudar por conta própria e procurei uma escola pública. A primeira barra foi na diretoria. Eu não conseguia me habituar àquele lugar. Eu não podia usar o banheiro, tinha que ir até o shopping. Os professores me chamavam pelo nome de menino. Tinha que brigar todo dia. Não agüentei, saí. Voltei agora para o supletivo, que não tem aula. Eu vou na escola só para pegar os trabalhos e entregar. Prefiro assim. Eu não consigo mais enfrentar. Eu não consigo mais. Jovem travesti Sempre reclamavam da apa- rência, tosei cabelo, apertei peito com atadura e usei calça larga. Consegui terminar o 1º grau. Entrei pro 2º grau de enfermagem, não podia usar o cabelo solto, saia, unha pintada, eu aceitei. E consegui terminar. Elas foram me deixando mais solta com o tempo. Quando fui para o estágio, a supervisora - hoje minha amiga - perguntou “o que você tá fazendo aqui?”. Outra, hoje também minha amiga, mandou cortar o cabelo e esconder os peitos. Também aceitei. Eu me dei bem com os médicos e era muito competente. Sofri alguns preconceitos, não queriam me ensinar alguns procedimentos. Com o tempo, foram liberando mais. Acho que abri mão de muita coisa, e hoje me arrependo de não ter lutado mais. Jovem travesti Mas a escola tem regras, tem normas, e essas normas têm de ser cumpridas por todos. E ponto. Professora Eu comecei o ensino médio esse ano. No ensino fundamental, em Bangu, é que eu comecei a minha transformação, comecei a tomar hormô- nio e tal. Eu tava na 4ª série. Passei por alguns constrangimentos. Os colegas tudo bem, mas tinha uma professora que sempre implicava comigo, tudo era eu que fiz. Na 5ª série foi tudo normal, usei roupa de mulher e brincos exóticos. Na 6ª os meninos não sentavam perto nem falavam comigo. Dali em diante foi luxo! Na chamada tava Laris- sa, a diretora me chamava de Larissa. Troquei de escola algumas vezes, mas nem sempre tive problema. Nós somos taxadas de burras o tempo todo. No ensino fundamental os professores fica- ram boquiabertos porque eu fui a única a tirar 10 no provão e na olimpíada de matemática. Alguns alunos brincavam: “Ah é viado!”. “Mas o viado tirou 10, quanto você tirou?” Travesti
  • 23. Para começar aqui nossa dis- cussão vamos pensar na diferença entre o que são regras e o que são práticas naturalizadas. Há uma série de práticas na Escola que não fazem parte de nenhuma norma, regra ou legislação, interna ou do sistema. Práticas que estão baseadas nos hábitos culturais, no senso comum ou mesmo na opinião de alguns edu- cadores, que vão se tornando tão constantes a ponto de ser difícil até mesmo identificá-las. Muitas dessas práticas e normas se constituem como verdadeiras violências institucionais, no mo- mento em que provocam danos à auto-estima, à identidade, ao de- sempenho emocional, social e esco- lar do aluno. tudo isso para uma aluna travesti, que tem uma identidade feminina, que vive e convive em todos os ou- tros lugares como mulher, e apenas para ir à escola ser obrigada, aí sim, a se “travestir” de homem. Ser for- çada a assumir um identidade que não é a sua. Mas precisa? [uma aluna travesti usar o uni- forme feminino] Tem necessidade disso? Estagiária de Pedagogia UNIFORME FEMININO Uma dessas “regras” diz respei- to ao uniforme dos alunos. Muitas escolas já aboliram diferenciações de gênero na roupa dos alunos, mas algumas ainda mantêm, ou o unifor- me diferenciado em si, ou restrições com relação a adereços, cabelos, brincos e outros detalhes. Essas diferenciações não fazem parte do currículo, não são normas estabelecidas pela Secretaria de Educação, muito menos pelo Minis- tério da Educação, e, em grande parte das vezes, nem sequer cons- tam de um estatuto, do projeto político pedagógico da escola ou de qualquer outro documento normati- vo. Essas diferenciações, principal- mente quando chegam ao extremo de detalhes, são fruto apenas das concepções de gênero internaliza- das em grande parte dos educado- res e da direção da escola. Práticas naturalizadas que vão se reprodu- zindo, quase acriticamente, sem que haja uma discussão coletiva so- bre elas, às vezes sem sequer serem percebidas. Imagine o que significaria para você ser obrigado a ir para a escola vestindo uma roupa do gênero opos- to. Imagine o que significaria para um aluno heterossexual, com uma identidade de gênero bem masculi- na, ser obrigado a ir para a escola vestido de mulher. Imagine o que significaria para uma mulher que adora os seus cabelos compridos ser obrigada a cortar tudo para poder freqüentar as aulas. Ou ser obrigada a apertar os seios, usar roupas que encobrissem a curvas do seu próprio corpo. Agora imagine o que significa A mudança civil do nome é uma das maiores lutas do movimento das travestis e transexuais. Essa mudan- ça significa o reconhecimento oficial da sua identidade feminina. Na escola muitos professores ar- gumentam que não podem chamar a aluna trans ou travesti por outro nome que não seja o que está na chamada. Mas se você tiver um alu- no com um nome muito estranho, que cada chamada se torne para ele um momento de constrangimento diante das brincadeiras dos cole- gas e, um dia, esse aluno lhe pedir que você o chame por um apelido para ele poder se livrar dessa ex- periência vexatória; será que seria tão complicado assim simplesmente anotar outro nome ao lado do dele? Ou, por um preciosismo normativo, você obrigaria aquele aluno a, co- tidianamente, viver um constrangi- mento? Muitos de nós já nos rebelamos contra algumas regras, por acredi- tarmos que elas são injustas. Por- que então, quando o assunto é uma aluna travesti, as regras se tornam completamente inflexíveis? Quando eu decidi voltar a estudar e terminar o 2º grau, eu pensei “vou ter que enfrentar o Renato”. Cheguei na escola, me apresentei para o diretor. Ele disse que já tiveram alunas trans e não haveria problema. Eu teria o meu nome feminino na chamada. Então eu relaxei. No primeiro dia o professor foi fazer a chamada e chamou “Renato”. Aquilo me pegou de surpresa. Eu não respondi. Não tinha me preparado pra isso. Falei com o diretor e ele colocou o nome feminino no dia seguinte. Mas ficaram os dois na chamada. Um professor vivia fazendo piadinhas e insistia em me chamar de Renato. Eu fui lá na frente e fiz a franca. Falei pra todos os colegas que eu era transexual, que isso e aquilo. Transexual O NOME NA CHAMADA Eu tenho que chamar pelo nome que está na carteira de identidade. Se ela mudar o regis- tro civil dela, aí tudo bem. Professora
  • 24. Se a gente permitir isso, daqui a pouco cada um vai vir vestido como quiser? E você vai ter aluno vindo de saia de palhaçada, pra provocar... Professora O X DA QUESTÃO Quando um professor diz que não pode chamar uma aluna travesti pelo nome feminino, porque, afinal, na chamada e na sua identidade o que consta é o nome masculino, ele está mesmo respeitando as regras? Ou essa “regra” está servindo ape- nas como uma forma de acobertar ou justificar a sua própria dificul- dade de reconhecer e lidar com a identidade daquela aluna travesti? Durante uma das oficinas realiza- das em escolas públicas, os profes- sores começaram um intenso debate sobre flexibilização ou não de nor- mas e regras para uma aluna traves- ti. Depois de muitas idas e vindas, argumentos e contra-argumentos, uma professora, já exausta, lançou “ah! Mas ele é homem! E pronto!”. E aí nós chegamos ao que de fato importa nessa questão. Mudar o nome na chamada, permitir o uso do uniforme feminino, compartilhar o banheiro das meninas, tudo isso, no fundo, depende apenas de uma coisa: se o educador reconhece ou se rejeita a identidade feminina da travesti. Se ele reconhece, tudo é resolvível. Se, pelo contrário, ele rejeita, tudo é empecilho. Muitas vezes os professores vão justificar no preconceito dos alunos ou dos responsáveis a impossibilida- de de acolher uma aluna travesti. Em muitos casos, o preconceito dos outros serve aí para acobertar a sua própria dificuldade de lidar com a questão. Reconhecer a identidade do outro é passo fundamental para podermos iniciar qualquer relação equilibrada e solidária. Tentar im- por os nossos conceitos de gênero a um aluno é desrespeitoso e invasi- vo. Além de extremamente injusto, dado à desproporção de poder numa relação professor-aluno. Muitos educadores olham as alunas tra- vestis ou transexuais como potencialmente perigosas. E de fato elas são. São perigosas a partir do momento em que, pelo seu jeito de ser e de vestir, elas subvertem os padrões de comportamento de gênero socialmente es- tabelecidos. Mostram que esses padrões po- dem ser transformados e bastante questiona- dos. São perigosas por- que mostram que aqui- lo que parecia claro e óbvio, talvez não seja. São perigosas porque podem fazer pensar. SUBVERTENDO TUDO Depois da entrada de um aluno transexual, os pro-fessores começaram a perceber coisas novas, como as manifestações de sexualidade, e atribuíram aele. Mas a questão é que antes eles só pensavam no conteúdo que tinham que passar em sala. Professor
  • 25. Responda sinceramente, você ficaria chocada ao ver duas alunas se beijando? Se você respondeu que sim, não se preocupe, grande parte das pessoas hoje ainda teriam uma grande dificuldade de lidar com uma situação como essa. A maioria de nós foi educado de uma forma conservadora, onde o afeto entre pessoas do mesmo sexo era algo, se não errado, no mínimo desconheci- do. Não vemos casais de homens ou de mulheres se beijando na televi- são até hoje. Muitas pessoas nunca presenciaram uma relação de afe- to entre pessoas do mesmo sexo. E tudo o que é novo, surpreende, assusta. O que importa é o que você fa- ria a partir daí. Deixaria a sua difi- culdade pessoal guiar sua ação? Ou tentaria lidar com aquele afeto com naturalidade? Mandaria as meninas para a psicóloga? Teria uma crise? Diria que a escola não é um lugar para namorar, mas para estudar? A maioria das escolas não per- mite o beijo entre os alunos (o que era um bom assunto para a gente discutir, se tivéssemos espaço para isso). Mas se um menino e uma me- nina, que são sabidamente namo- rados, sentarem juntos no recreio e derem as mãos, é difícil imaginar – pelo menos na maioria das esco- las – que um professor venha sepa- rar os dois dizendo que escola não é lugar para isso. Agora, e se dois meninos, sabidamente namorados, resolvessem dar as mãos durante o recreio? O que se discute aqui – pelo me- nos nesse momento – não é permitir ou não o beijo, mas que a tolerân- cia para as demonstrações de afeto não podem distinguir entre hetero ou homossexuais. Que se um casal hetero pode andar de mãos dadas, um casal de meninos ou de meninas também pode. Dois meninos brigando no meio do pátio é algorelativamente comum ou cotidiano para a maioriados professores. Agora, e dois meninos se beijan-do? Parariam a escola, ou não? Vale aqui a gentepensar: como o afeto pode ser mais chocante paramuitos de nós do que a violência? Como um beijopode ser mais assustador do que um soco? Duas meninas subiram no alto da escada do pátio, nahora do recreio e deram um beijo cinematográfico. Pron-to, parou a escola. Eu fiquei impressionada com a reaçãode alguns educadores que ficaram abismados, descontro-lados mesmo. Mandaram as meninas para conversaremcomigo. Eu comecei a conversar com uma delas. Pergun-tei se os pais sabiam da opção dela. Ela fez uma carafeia e me disse “olha professora, a senhora ta pensandoo quê? Eu não sou isso aí que a senhora ta pensando não. Aquilo foi só brincadeira, zoação... Orientadora Pedagógica AFETO
  • 26. Um professor homossexual pode criar problemas para a escola? Pro- vavelmente sim. Não pela sua sexu- alidade, mas pelas reações precon- ceituosas que podem surgir a partir da orientação sexual declarada ou prejulgada desse educador. O mais importante aqui, em primeiro lugar, é lembrar que não é o professor gay ou professora lésbica a causa das si- tuações de conflito. O preconceito de alguns responsáveis, alunos/as ou colegas é, de fato, a verdadeira fonte dos problemas. Muitas pessoas vão dizer que não existe nenhum problema em ter na escola um professor homos- sexual, desde que ele se comporte. Mas o que significa esse se compor- tar? Em grande parte das vezes, se comportar significa ser, mas não parecer homossexual. Significa que esse profissional, para ser aceito e respeitado, tem que abrir mão de ser, agir, falar do seu jeito, para se adaptar a uma determinada norma de comportamento de gênero. Sig- nifica que ele ou ela tem que vestir uma máscara, interpretar um papel dentro da Escola que não levante nenhum indício de sua identidade sexual. Alguém pode dizer que não há necessidade de um educador ou educadora homossexual ficar ex- pondo a sua sexualidade na Escola. Que isso é algo íntimo e que só diz respeito a ele ou ela. Mas profes- soras heterossexuais falam para os colegas o nome do seu namorado, o marido pode vir buscá-las de carro na porta do colégio, ela pode andar com uma foto dele na carteira. Pro- fessores heterossexuais podem levar a sua esposa na festa de final de ano da escola e apresentá-la, não como uma amiga, mas como sua com- panheira a todos os colegas, pais, mães ou alunos. Ou seja, manter a privacidade sobre sua vida particu- lar não significa ter que escondê-la, como quem oculta algo de errado. Os educadores homossexuais têm tanto direito de falar sobre sua vida afetiva quanto qualquer educador heterossexual. Profissionalismo não tem nada a ver com falar grosso ou fino, com andar assim ou assado, vestir essa ou aquela cor. Profissionalismo tem a ver com ética, compromisso com o trabalho, dedicação, capacidade, respeito. Educadores têm de ser jul- gados como educadores, não como gays, lésbicas, heterossexuais, ou o que seja. E dizer que a identidade sexual do profissional não impor- ta não significa dizer que ele tem de apagá-la, escondê-la ou negá- la, como se fosse um algo errado, tolerado pela escola, mas que não quer que se torne visível. Dizer que a identidade sexual do profissional não importa significa que TODAS as identidades sexuais serão respeita- das, sejam quais forem.
  • 27. A Hannah tinha a minha guarda e foi um sacrifício ela conseguir me colocar na escola. No começo foi uma maravilha. No final do ano eu estava organizando a festa de Dia das Bruxas, e dei meu te- lefone para todos os colegas da turma. No dia seguinte alguns pais começaram a me ligar e me ofender no telefone, dizer que era uma perversão... Fiquei em pânico. Não teve festa. Um dia cheguei na escola, quando ia entrar pelo portão um pai me puxou e falou que eu não podia entrar, eu era uma anomalia. Veio um monte de pai, mãe e aluno fazer isso também. Daquele dia em diante eu nunca mais voltei pra escola. Jovem transexualUm professor questionou a sexualidade da aluna em reunião de pais e filhos. A mãe pegou a menina pela garganta na frente de todo mundo. Aquilo me apavorou. Professora Já tivemos casos aqui na escola, e o grande problema não é conosco, professores. A gente ficava muito espantado – tatuagem, roupa curta... Agredia. E os professores conversa- vam com ele para fazer algo mais na- tural. Mas os alunos não aceitavam, e ele acabou se afastando da escola, acho que nem estuda mais. Professora Eu fiz um trabalho de educação ambiental onde a gente buscava os alunos nas escolas, levava pro núcleo, lanchava e ia pro campo. Tava num ônibus com uma turma, aquela zona de sempre. Tinha um menino efeminado, e nenhum aluno discriminava, era o xodozinho da turma. O professor da turma começou a gritar mais alto que os outros pra ele “ô homo, ô homo, senta aí homo sapiens”. Professora Mas aí a gente já teve até aqui na escola e viu que não é bom mes- mo [ter alunos homossexuais]. Porque o menino dava sempre em cima dos caras e os caras batiam nele. Aí ficava a maior bagunça. Então era melhor que não tivesse. Ficava a maior pancadaria. Os alunos não sabem lidar. Que pena que foi tirado da escola, porque eu havia conseguido que ele se comportasse melhor... Professor Na 8ª série, fui chorando pra direção por causa da perseguição dos alunos. A diretora me incenti- vou, disse que era um bom aluno. Eu não desisti de estudar, mas mudei de escola. Jovem gay Há pessoas hoje que dizem que o preconceito contra homossexuais diminuiu muito e quase não existe mais. Será? Sem dúvida os homos- sexuais estão mais visíveis hoje do que há cinqüenta anos, mas isso diminuiu a violência contra esse grupo? Uma pesquisa realizada pelo IBOPE revelou que 56% dos entre- vistados mudariam sua conduta com o colega de trabalho se sou- bessem que ele é homossexual. Um em cada cinco se afastaria e pas- saria a evitá-lo. 36% deixariam de contratar um homossexual para um cargo em sua empresa, mesmo que ele fosse o mais qualificado entre os pretendentes ao cargo. 45% tro- cariam de médico se descobrissem que ele é gay. 79% ficariam tristes se tivessem um filho homossexual. 8% seriam capazes de castigá-lo. 62% dos entrevistados acham que o pai deve tentar convencer seu filho a mudar de condição quando desco- bre que é homossexual. Esse preconceito se reflete tam- bém em atos, que vão do cotidiano constrangimento e desrespeito à violência mais extrema. Anualmen- te, aumenta o número de gays as- sassinados no Brasil. Não estamos falando de crimes comuns, mas de crimes cuja maior motivação é o ódio contra homossexuais. Segun- do levantamento do Grupo Gay da Bahia, nos últimos 25 anos acon- teceram cerca de 2.600 assassina- tos de gays, lésbicas e travestis no Brasil, contabilizando mais de cem mortes por ano. Isso significa que, a cada três dias, um homossexual é assassinado no Brasil. Na escola, os preconceitos e os atos de discriminação contra homossexuais muitas vezes são na- turalizados e banalizados. Os pró- prios educadores não consideram SEXISMO E HOMOFOBIA NA ESCOLA
  • 28. cido como homossexual, dado que não abdicou do seu papel sexual de “homem”. Duas mulheres “fe- mininas” se beijando inclusive faz parte da fantasia sexual de muitos homens heterossexuais. No momen- to em que os esteriótipos de gênero são contrariados, em que homens e mulheres têm um comportamento diferente do papel culturalmente atribuído a eles/as, eles/as se tor- nam alvos imediatos da homofobia. Não é à toa que as travestis, dentre todos os segmentos da comunidade GLBTT, são as que convivem com uma realidade mais intensa de pre- conceitos, discriminações e violên- cias. No imaginário dos entrevista- dos, se diferencia preconceito e discriminação. Como se uma pos- tura preconceituosa pudesse não interferir ou incrementar uma realidade de situações materiais concretas de discriminação. No entanto, essa discriminação se dá, não só através de regras e posturas institucionais homofóbicas, como em atos explícitos e muitas vezes recorrentes, principalmente no uso de uma linguagem pejorativa por parte dos alunos – que visa humi- lhar, discriminar, ofender, ignorar, isolar, tiranizar e ameaçar - geral- mente tolerada e muitas vezes as- sumida pelos educadores. A “tolerância”, quando se dá, se expressa de uma forma interes- sante. Os/as alunos/as homossexu- ais são bem aceitos desde que “se comportem”, ou seja, desde que não expressem ou aparentem, em nenhum momento, a sua sexualida- de. São aceitos/as como alunos/as assexuados/as, tolerados/as como estudantes, mas tendo a sua sexu- alidade e afetividade totalmente reprimidas e rejeitadas. Estas e outras pesquisas con- cluem que situações de discrimina- ção e de agressão verbal têm um grande potencial e muitas vezes precedem situações de violência física. O que parece irrelevante pode ser o prenúncio, e pior, o fun- damento para uma cultura de vio- lência, que exclui, agride, humilha e mata. Numa pesquisa recente reali- zada durante a Parada do Orgulho GLBT no Rio de Janeiro, 40% dos adolescentes homossexuais entre- vistados contaram já haver sofri- do casos de discriminação dentro da Escola. Entre jovens de 19 a 21 anos, 31% se referiram a discrimi- nações na escola ou na faculdade. Na mesma pesquisa, 65% dos ho- mossexuais já haviam sido vítimas de algum tipo de preconceito e 60% já haviam sofrido alguma forma de violência. A Escola aparece em ter- ceiro lugar como local ou contexto da discriminação (27% dos casos), atrás apenas do ambiente familiar PRECONCEITO DISCRIMINAÇÃO VIOLÊNCIA estes casos como relevantes. São brincadeiras, coisa sem importân- cia. Muitas vezes os professores não só silenciam, mas colaboram ativamente na reprodução dessas violências. Ao contrário do que se possa imaginar, segundo os autores da pesquisa, “essa realidade inter- fere no padrão das relações entre estudantes e profissionais da edu- cação; afeta o rendimento escolar e a construção da identidade e da auto-estima do aluno; afeta a vida sócio-afetiva; pode prejudicar a inserção no mercado de trabalho e até mesmo a exclusão do direito à educação pública, em casos ex- tremos envolvendo transexuais e transgêneros.” O estudo da UNESCO aponta para um alto índice de imagens ho- mofóbicas e de intolerância quanto à homossexualidade entre estudan- tes e professores. “A discriminação contra homossexuais, ao contrário das de outros tipos, como as rela- cionadas a racismo e a sexismo, é não somente mais abertamente as- sumidas, em particular por jovens alunos, além de ser valorizada entre eles.” Nesse estudo, um quarto dos alunos entrevistados afirmaram que não gostariam de ter colegas ho- mossexuais. O percentual fica maior ainda quando se trata apenas dos meninos. No Rio de Janeiro, entre os responsáveis, 40% não gostariam que seu filho estudasse junto com um colega homossexual. Esse per- centual cai muito entre professores, mas há ainda um grande número de educadores que rejeitam a idéia de ter um aluno gay ou uma aluna lésbica. No Rio de Janeiro, 15% dos estudantes acham que a homossexu- alidade é uma doença, chegando a 23% entre os homens. O percentual é de 16% entre os educadores. O preconceito e a discriminação aparecem de forma bem explícita e se desenvolvem em grande par- te como uma espécie de medo da “perda de gênero”, o medo de não ser mais considerado como um ho- mem ou uma mulher de verdade. “Muitos dizem que não têm pre- conceito, desde que o homossexual permaneça longe, não se aproxime e, principalmente, que não insinue que eles possam ser um igual ou um parceiro da relação.” Na pesqui- sa da UNESCO, quando solicitados a indicar as formas mais graves de violências, rapazes e moças apon- tam os mesmos itens, com uma singular diferença: a agressão a ho- mossexuais. Enquanto para as me- ninas bater em homossexuais apa- rece como a terceira violência mais grave, para os meninos ela aparece em sexto e último lugar. Isso evidencia claramente a re- lação entre homofobia e concep- ções de gênero, em especial de masculinidade. São nos esteriótipos de gênero, dos comportamentos socialmente atribuídos a homens e mulheres, que têm origem as bases da homofobia. Um homem que faça sexo com outro homem, mas na posição de ativo, poderá perfeitamente não se reconhecer e mesmo ser reconhe-
  • 29. e dos amigos e vizinhos. Mantém a mesma posição como espaço onde acontecem as agressões e outras violências (10%) . A pesquisa da UNESCO conclui também que os professores de- sempenham uma convivência não assumida com discriminações con- tra homossexuais, numa espécie de cumplicidade passiva. Além disso, desqualificam os episódios de pre- conceito como coisa sem importân- cia e apontam como algo que acon- tece apenas entre os alunos, não se vendo como agentes desse processo de discriminação. Por outro lado, são vários os de- poimentos de professores sugerin- do que a escola pode desconstruir a discriminação, tanto através de ações planejadas quanto na mu- dança de posturas, num tratamen- to pró-inclusão que valorize a auto- estima, incentivando o respeito à diversidade. A diversidade, segundo o pró- prio discurso governamental ex- presso em documentos como a Lei de Diretrizes e Bases da Educação e o Programa Brasil Sem Homofobia, precisa ser encarada como recurso social para a transformação. Um instrumento, algo essencial para possibilitar o desenvolvimento hu- mano. A Universidade, além de um lo- cus de produção de conhecimento, é também uma instituição que deve interferir na realidade que a cerca e transpassa. Ela pode, e deve, usar a sua bagagem, estrutura e ca- pacidade para promover ações ex- tensionistas que contribuam para o desenvolvimento humano e social. Neste sentido é que este pro- jeto é proposto, como uma ação de incidência política, tendo como alvo educadores, atuantes ou em formação, que, junto com outros atores, compõem e constroem o ambiente escolar. Uma contribui- ção para modificar esse triste qua- dro de discriminação, justamente num espaço que deveria ser o da plena convivência, da tolerância e da solidariedade, do respeito e da comunhão. ALBUQUERQUE, F. F.; JANELLI, M. A Princesa -De- poimentos de um travesti brasileiro a um líder das Bri- gadas Vermelhas. Rio de Janeiro: Ed. Nova Fronteira, 1995. ALVIM, M. H. Um franciscano no Novo Mundo: frei Bernardino de Sahagún e sua Historia General de las cosas de Nueva España. In: Estudos Ibero-Americanos. PUC-RS, v. XXXI, n. 1, p. 51-60, junho 2005. ARANHA, M. L. A.; e MARTINS, M. H. P. O mundo dos valores. In: ARANHA, M. L. A.; MARTINS, M. H. P. Temas em Filosofia. São Paulo: Ed. Moderna, 1992. BRASIL. Conselho Nacional de Combate à Discrimi- nação. Brasil Sem Homofobia: Programa de combate à violência e à discriminação contra GLTB e promoção da cidadania homossexual. Brasília: Ministério da Saúde, 2004. BRASIL. Ministério da Educação. Parâmetros Cur- riculares Nacional: Pluralidade Cultural e Orientação Sexual. Secretaria de Educação Fundamental. Volume 10. 2ª ed. Brasília: DP&A, 2000. BRASIL. Ministério da Educação. Parâmetros Cur- riculares Nacional: Terceiro e Quarto Ciclos do Ensino Fundamental. Temas Transversais. Secretaria de Educa- ção Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1998. BRASIL. Ministério da Educação. Termo de Re- ferência: Instruções Para Apresentação e Seleção de Projetos de Capacitação/Formação de Profissionais da Educação Para a Cidadania e a Diversidade Sexual. Bra- sília: Ministério da Educação, 2005. BRASIL. Ministério da Saúde. A travesti e o educa- dor. Cartilha informativa. Brasília, 2006. BRASIL. Ministério da Saúde. Boletim Epidemioló- gico AIDS/DST. Ano IV, nº 1. Brasília, 2007. CARRARA, S.; RAMOS, S. Política, direitos, violên- cia e homossexualidade.Pesquisa 9ª Parada do Orgulho GLBT – Rio 2004. Rio de Janeiro: CEPESC, 2005. CARRARA, S; VIANNA, A. R. 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  • 30. O Programa Papo Cabeça teve origem a partir de 8 anos de existência enquanto Projeto, desenvolvido pela Faculdade de Medicina e Maternidade Escola da UFRJ, atuando essencialmente nas Escolas Mu- nicipais no âmbito da 7ª CRE e excep- cionalmente em outras localidades. Sua criação se deu a partir da percepção do crescente número de adolescentes grávi- das que chegavam à Maternidade-Escola para atendimento. Em 1996, um professor adjunto do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia da Faculdade de Medicina, Programa Papo Cabeça Coordenação: José Leonídio PereiraFaculdade de Medicina / UFRJ(21) 3388-5853 ppc@me.ufrj.br www.papocabeca.me.ufrj.br aliado a uma psicóloga e uma assistente social começaram a desenvolver um projeto de atuação nas escolas municipais que trabalhasse com os adolescentes a vivência de sua sexualidade e saúde reprodutiva, sob a perspectiva da construção de uma consciência crítica a partir da sensibilização. Ao longo desses anos, frente às demandas apresentadas pela realidade onde o projeto atua, este se desdobrou em vá- rias frentes de atuação, o que lhe conferiu o caráter de Pro- grama, com vários projetos que dão conta das diversas formas de intervenção possíveis. Atualmente, às vésperas de completar 12 anos, o Programa Papo Cabeça vem se expandindo mais e mais, desenvolvendo suas ações voltadas para os alunos, professores, pais e res- ponsáveis, comunidade escolar e público em geral. Múltiplas dimensões, assim como a sexualidade, que se constrói e é vi- venciada a cada dia de uma forma nova, sob novos prismas. É essa discussão, esse “Papo Cabeça”, que não deve silenciar. Ao todo, fizeram parte desse “Papo Cabeça”, até hoje, cer- ca de 3000 alunos, 4000 responsáveis e 900 docentes, através do trabalho realizado em mais de 40 escolas. Já nos eventos externos, estima-se que o Programa tenha atendido aproxima- damente 140.000 pessoas.
  • 31. O Projeto Diversidade Sexual na Escola foi desenvolvido em 2005 na Coordenação de Extensão do Centro de Ciências da Saúde da UFRJ, como parte de uma série de ações que visavam a troca de saberes e práticas, e a construção conjunta de conhecimentos com a Escola. O lançamento do Projeto ocorreu no Fórum Mundial de Educação de Nova Iguaçu, em 2006. De lá para cá, foram realizadas diversas oficinas de sensibilização com relação à diversidade sexual, em escolas da rede pública municipal de ensino do Rio de Janeiro, organizações de educação comunitárias, instituições de formação de professores, além de atividades pontuais em eventos da Universidade, abrangendo a área metropolitana, a região serrana e a região litorânea do Rio de Janeiro. Recentemente, o Projeto Diversidade Sexual na Escola se integrou ao Programa Papo-Cabeça, realizado pela Faculdade de Medicina e pela Maternidade-Escola, para desenvolver ações em comum e potencializar os seus conteúdos, unindo o debate sobre questões de gênero e sexuali- dade mais amplas e a discussão acerca da diversidade sexual. COMO PARTICIPAR O público alvo do projeto são educadores de todos os níveis, estu- dantes de cursos de formação pedagógica, diretores, coordenadores e corpo administrativo de instituições de ensino. Os educadores que quiserem levar uma oficina para a sua escola devem entrar em contato pelo telefone (21) 2598-1892, ou pelo correio eletrônico diversidadeppc@me.ufrj.br. A data para realização da oficina será estabelecida com as instituições, com flexibilidade para se adaptar às possibilidade de cada grupo. A atividade dura cerca de quatro horas e é realizada em apenas um dia. A oficina é gratuita, cabendo à instituição a viabilização das condi- ções materiais para a sua realização (espaço, equipamento de projeção, divulgação, etc.). Projeto Diversidade Sexual na Escola Coordenação: Alexandre Bortolini (21) 2598-1892 diversidadeppc@me.ufrj.br www.papocabeca.me.ufrj.br/diversidade
  • 32. Endereço: Av. Pedro Calmon, 500 - Sala 815 - Prédio da Reitoria Cidade Universitária - Ilha do Fundão Rio de Janeiro - RJ CEP: 21941-901 A/C: Alexandre Bortolini Telefone: (21) 2598-1892 E-mail: diversidadeppc@me.ufrj.br Site: www.papocabeca.me.ufrj.br/diversidade