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Claro Enigma, 1951, 41 poemas
O título
O livro é constantemente marcado pela presença do conflito eu X mundo. As
contradições permeiam a obra: o eu poético ora aparece recluso, fechado em si mesmo,
ora se desnuda, aparece com ares mundanos. O fusionismo, característica barroca, se
mostra desde o título: a tentativa de união entre claro e escuro, o encontro e o
desencontro, a aceitação e a negação. Enigma: o incompreensível, de difícil explicação,
o mistério. Estamos, assim, diante de um eu lírico de sentimentos indecifráveis,
obscuros. Claro: ausência de mistério, clareza. Ou seja, a negação do enigma. Desse
modo, tem-se um eu que procura solucionar os mistérios do mundo, resolvê-los, pois
entende assim a função do poeta. No entanto, após a leitura da obra, percebe-se que o
enigma permanece sem resolução. Em A Máquina do Mundo, pertencente à última parte
do livro, o poeta recusa as respostas propostas, levando consigo as respostas ausentes.
A epígrafe: Lés événements m’ennuient.
“Os acontecimentos me entediam”: a frase, tomada de empréstimo a Paul Valéry, poeta
simbolista, encontra-se como epígrafe do livro de poemas Claro Enigma. Já aqui a
postura desencantada de um eu lírico que precisa enfrentar a vida sem falseamentos,
sem ilusões. O sujeito quer escancarar para si e para o mundo tudo o que a vida traz,
buscando a essência das coisas. “Os acontecimentos me entediam”: é a resposta do
sujeito cansado do aparente, do meramente visível. É a tentativa drummondiana de
romper com a poesia engajada. Ao usar tal frase, o poeta confessa seu asco perante a
história, já que essa é feita de acontecimentos. Porém, pode-se questionar se esse
desgosto frente à vida é contra a História ou a própria história do poeta mineiro. Se é
um desabafo para penetrar no mais íntimo do seu ser, para se proteger do caos mundano
ou para encontrar uma esperança para a vida.
O leitor atento tem que perceber, no entanto, que Claro Enigma também abriga uma
série de poemas que parece desmentir a epígrafe tomada de Valéry. Trata-se, no caso,
daquela série reunida numa seção nomeada “Selo de Minas”, que, com os versos de
“Morte das casas de Ouro Preto”, “Museu da Inconfidência” ou “Os bens e o sangue”,
registraram, a partir de diversos acontecimentos, algo muito específico: a percepção de
feitos que, na história de Minas, antes de entediarem, terminaram provocando o espanto
diante da frágil identidade entre o presente e o passado.
Recursos literários e de linguagem
Formas clássicas:
Uso do soneto; tercetos e versos dísticos;
Intertextualidade com poetas clássicos e mitos greco-romanos;
Influência da poesia classicista e simbolista.
Recursos modernistas:
Uso do verso livre;
Períodos longos e prosaicos;
Influência do Surrealismo (universo onírico, imaginativo).
Análise das partes
O livro está organizado em seis partes, nas quais veem-se reflexões sobre o “estar no
mundo”.
Parte I: Entre Lobo e Cão
É a mais extensa parte do livro. Lobo, animal predador, avesso ao convívio social, tal
como o gauche de Drummond. Cão, o animal doméstico, amigo do homem. Aqui há a
oscilação entre os dois extremos: a solidão e a companhia. Os substantivos comuns
escritos com iniciais maiúsculas tornam-se próprios fazendo supor também uma relação
com as constelações, inscritas na bandeira nacional, representativas dos estados
nacionais.
“Dissolução”: A imagem da noite, a decomposição, a desagregação. Poema de tom
crepuscular, no qual o eu lírico aceita passivamente a escuridão, a ação demolidora do
tempo. Esse poema insere o leitor na temática filosófica existencial que permanecerá ao
longo da obra.
“Remissão”: Já no primeiro verso a presença da metalinguagem “Tua memória, pasto de
poesia”. Poema em tom de luto, pessimismo. É a memória o único alimento da poesia,
essa que aparece às vezes como inútil. O poeta perdoa-se, é a sua remissão o ato de
escrever, nada mais.
“A ingaia ciência”: negação do conhecimento e inutilidade do mesmo. A
madureza/conhecimento é um presente assustador, pois tira o sabor da vida, a
ingenuidade, a inocência, a surpresa de viver. Poema de tom melancólico, desiludido.
“Legado”: Um dos mais importantes poemas dessa parte. É a reflexão do eu no mundo.
Que fatos merecem ser lembrados no porvir? Eis o questionamento desse poema. No
poema “Legado”, pode-se perceber com evidência o que se quer dizer com
“contribuição para a construção ou o reforço de uma identidade coletiva”, ou a
presença de um elemento novo acrescentado ao edifício da chamada
“mineiridade”. Nesse poema o poeta faz alusão a outro, o famoso “No meio do
caminho” (Alguma poesia, 1930), escândalo da época e que, segundo
Drummond, dividiu as pessoas em duas categorias mentais, ficando, nas palavras do
Poeta, como um legado seu. No fecho de “Legado”, o Poeta, aludindo no último verso
ao polêmico poema publicado 21 anos antes, dá resposta às perguntas iniciais sobre o
que restaria de seu para a posterida:
Que lembrança darei ao país que me deu
tudo o que lembro e sei, tudo quanto senti?
(...)
De tudo quanto foi meu passo caprichoso
na vida, restará, pois o resto se esfuma,
Uma pedra que havia em meio do caminho.
“Confissão”: Desde os primeiros versos desse poema, o eu lírico confessa sua ação fria
diante do outro. O único afeto que deixou escapar de si foi destinado a um “aquele
pássaro – vinha azul e doido –/ que se esfacelou na asa do avião”. O intenso pessimismo
é marcado pela recorrência de palavras negativas: não, nem, sem.
“Perguntas em forma de cavalo marinho”: poema metalinguístico, o poeta questiona a
forma, a métrica e o conteúdo do homem, seguindo-se a possibilidade de estarmos
contidos em algo ou até mesmo se estamos de fato vivos.
“Os animais do presépio”: poema com forte tom bucólico, mas sem o elemento árcade
do pastoralismo.
“Sonetilho do falso Fernando Pessoa”: Temática da duplicidade. Presença de dois
“eus”: um que vive no presente da escrita e outro que, “morto”, vive nas recordações da
infância em Itabira.
“Um boi vê os homens: prosa poética”: o olhar manso do boi gera a compaixão e a
perplexidade diante do mundo do homem. O poeta segue assim a linha pessimista frente
ao existencialismo humano.
“Memória”: poema de conscientização da necessidade de amar tudo aquilo que se perde
ou se vai no atrito do tempo. Somente as recordações ficarão e terão morada certa em
nós.
“A tela contemplada”: Poema metalinguístico. O poeta associa o poema às artes
plásticas. Como num poema parnasiano, repleto de descritivismo.
“Ser”: poema com forte presença biográfica, já que fala de um filho que seria homem no
tempo presente, não houvesse a morte o tragado. Drummond teve um filho, Carlos
Flávio, que morreu logo após nascer.
“Contemplação do branco”: poema dividido em três partes. Um eu angustiado por não
viver para contemplar a flor que brota num chão, talvez humanizado, no qual todos
pisam.
“Sonho de um sonho”: atmosfera onírica, um sonho dentro do outro (construção em
abismo). Os sonhos, no entanto, se apresentam falsos, desiludidos, o pessimismo
próprio do mundo.
“Cantiga de enganar”: poema longo, de negação, de um mundo onde o poeta não se
encontra. Poema de desabafo do eu oprimido para um interlocutor chamado de “meu
bem”. A saída para a frustração é construir um mundo de palavras, de utopia. O
“Mundo”, grafado com letra maiúscula no final do poema, representa o lugar ideal,
produto do engano da “cantiga de enganar”.
“Oficina irritada”: poema metalinguístico. O poema como produto do trabalho, como
pregavam os parnasianos. O último verso traz a nomeação do livro “claro enigma”.
“Opaco”: o leitor é colocado dentro da noite, mas o poeta não pode contemplá-la, já que
o “edifício barra-me a vista”. A paisagem é urbana, com seus edifícios e motores.
“Aspiração”: poema que encerra a primeira parte. Escrita de recusas, desencantado.
Intertextualidade com o poeta tcheco Rilke, de vertente existencialista.
Parte II: Notícias amorosas
Parte dedicada à temática amorosa. Contudo, o amor descrito é o do desencontro,
reflexões sobre o amor que é sinônimo do eu + tu. Amores de contemplação e de
sofrimento.
“Amar”: amor como condição humana, da qual não se pode correr, mesmo em face
daquilo que parece não seduzir “e amar o inóspito, o áspero/um vaso sem flor, um chão
de ferro”.
“Entre o ser e as coisas”: no cenário poético, o eu se divide entre a contemplação do mar
e do amor. Logo, o amor que encanta também faz sofrer, restando a melancolia do fim
do dia (mais uma cena de crepúsculo).
“Tarde de maio”: poema prosaico: na presença de uma chuva que traz vida, o eu poético
dialoga com a tarde de maio sobre o fracasso de um encontro amoroso. O amor como
sinônimo de dor, de desgosto.
“Fraga e sombra”: a noite aparece aqui como matéria para a arte. O amor, entre sombras
e despenhadeiros, belo e paradoxal, é dor e beleza, que o mundo não entende.
“Canção para álbum de moça”: poema única estrofe. O eu lírico divide seu bom dia a
uma moça distante e espera uma resposta dela. No entanto, a moça permanece
indiferente. O amor tímido está envolto em um estado de escuridão, prenunciado pela
imagem da noite.
“Rapto”: poema que demonstra “outra forma de amor”; amor homoerótico. Representa
o mergulho da águia sobre sua presa. O poema pode se referir ao mito grego do rapto de
Ganimedes pela águia de Zeus, desejoso de possuir o rapaz.
“Campo de flores”: poema do amor maduro. O amor descrito “talhado em penumbra”,
luz e escuridão se fundem diante desse amor maduro, repleto de esperanças, tal como a
imagem das flores.
Parte III: O menino e os homens
Aqui, o que permeia a escrita drummondiana são os poemas memorialísticos: é a
lembrança de entes falecidos, amigos e irmãos. Permanece o tom pessimista, negativo.
“A um varão que acaba de nascer”: o poema traz a imagem de um menino que nasce e
de um amigo que morre. A vida e a morte, duas faces antagônicas da vida. Aquele que
vem ao mundo é Pedro, a quem o eu lírico chama de irmão.
“O chamado”: poema dedicado à Manuel Bandeira. Referências à Pasárgada, por
exemplo, marcam esse apontamento. O eu poético, observador, vê o poeta caminhar. Há
um rápido diálogo entre os dois, quando o eu lírico questiona para aonde vai o poeta e
Bandeira responde: “Ao meu destino”.
“Quintana’s bar”: poema prosaico, no qual o eu lírico encontra Mário Quintana num
bar. Há uma teia de aranha sendo desenhada, a qual pode remeter ao próprio trabalho
literário, profissão dos dois autores. Há referência intertextual através da citação de
autores famoso.
“Aniversário”: aniversário de morte e não de nascimento. É a lembrança da morte de
Mário de Andrade, poeta com quem Drummond trocou cartas durante bom tempo.
Parte IV: Selo de Minas
Parte autobiográfica. Traça o percurso pelos caminhos mineiros, especialmente a Minas
do período colonial. Duas temáticas predominantes: Minas e família Drummond.
“Evocação Mariana”: o poema é uma memoração de um rito religioso, com a descrição
da cidade mineira Mariana.
“Estampa de Vila Rica”: poema dividido em cinco partes, numeradas por algarismos
romanos. Parte I: Carmo: representa o desejo de preservar os elementos da Igreja Nossa
Senhora do Carmo. Parte II: São Francisco: o poeta se deslumbra frente a beleza das
obras de Aleijadinho e Mestre Athayde, representantes da arte barroca da época. Parte
III: Mercês de cima: contraste entre o profano e o sagrado, o sensual e o espiritual, isso
na imagem da prostituta posta em frente a igreja. Parte IV: Hotel Toffolo: necessidade
de saciar a fome interior, referência à antropofagia. Parte V: tentativa de reconstruir, por
meio da memória, o passado da cidade de Ouro Preto, palco de cenas tão importantes
para a história nacional.
“Morte nas casas de Ouro Preto”: lamento sobre a destruição que o tempo e os
fenômenos naturais operam sobre as casas (monumentos e valores) de Ouro Preto. A
chuva aqui traz a ruína, a demolição das casas é uma metáfora da própria história. Há
uma referência à poética de Claudio Manoel da Costa no verso: “Sobre a ponte, sobre a
pedra / sobre a cambraia de Nise” (Nise, musa inspiradora do poeta árcade).
“Canto negro”: mostra o tempo de infância, tempo escravocrata, em que fora
amamentado pelas cativas. O eu lírico se encontra com vários “pretos” que marcaram
sua trajetória.
“Os bens e o sangue”: dividido em oito partes, o poema mistura narração e poesia, para
falar da decadência financeira da família. Poema explicitamente autobiográfico, pois
relata uma patilha de bens realmente ocorrida em 1847. O título remete à riqueza e dor.
Tem-se um sujeito preso a um passado familiar maldito, o que ecoará em toda a sua
vida de poeta esquerdo, gauche.
Parte V: Lábios cerrados
Parte que trata da memória da família Drummond. Cerrar os lábios é sinônimo de
silêncio, mudez. É o silêncio da memória, especialmente nas lembranças do pai. Há
também uma reflexão sobre o tempo e a aceitação da morte.
“Convívio”: poema prosaico. Discorre sobre a memória: aqueles que se foram, mas que
sobrevivem nas lembranças. A presença/ausência dos mortos.
“Permanência”: também em tom prosaico, segue o mesmo tema do anterior: os mortos
que sobrevivem na lembrança dos vivos.
“Perguntas”: o eu lírico pergunta a seu fantasma que razão de estar um preso ao outro.
O presente preso ao passado.
“Carta”: o poeta deseja escrever uma carta, em tom confessional, dizendo que ama, que
deseja rever o destinatário... Mas o tempo passa e o eu lírico ainda espera resposta.
“Encontro”: o sujeito lírico se encontra com o pai já morto, o ente que se perdeu na
vida, mas que foi resgatado no sonho pela imaginação.
“A mesa”: poema longo, de uma única estrofe. Assim como “Encontro”, é uma
homenagem ao pai morto. O poeta planeja uma festa para o pai, em que todos os
parentes de uma mesa, comemorariam os noventa anos do velho pai. Vê-se a descrição
da família patriarcal mineira, onde a mãe é emudecida. O poema termina com o fim da
cena imaginária: o vazio da alma, presente só a lembrança.
Parte VI: A Máquina do mundo
Parte final da obra, fala sobre o homem e seu estar no mundo. As interrogações de toda
a obra estão aqui presentes, sendo oferecidas as soluções, as quais o poeta recusa: afinal,
são os questionamentos que movem a vida.
“A máquina do mundo”: Um dos maiores poemas de Carlos Drummond de Andrade é
"A Máquina do Mundo". A ideia de que o mundo era uma máquina esteve em voga
desde a Antiguidade até a Renascença. No poema de Drummond, a máquina do mundo
abre-se para o poeta em determinado momento, oferecendo-lhe uma "total explicação da
vida". Quando isso ocorre, ele, que por longo tempo havia buscado exatamente essa
explicação, enigmaticamente a desdenha. Por quê? O poeta não só não acredita mais na
possibilidade de tal explicação como não mais a deseja. Se, na Idade Média, a máquina
do mundo ainda parecia capaz de se abrir, é porque era tida como finita e fechada.
Camões, na Renascença, no canto X, ainda a descreve como um rotundo globo cercado
por Deus. Se o poeta desdenha "colher a coisa oferta / que se abria gratuita" a seu
engenho, é que a razão já lhe mostrou que a aceitação de uma "total explicação do
mundo" não pode ser senão o mergulho em mais uma ilusão, que inevitavelmente lhe
custará mais uma desilusão. É, pois, com ironia que chama de "gratuita" a "coisa
oferta", no momento mesmo em que explica havê-la desdenhado, "incurioso e lasso".
Segundo ele, um dom tão dúbio e tardio - não apenas em relação à idade individual do
poeta, mas, principalmente, em relação à época moderna do mundo - já não lhe era
"apetecível, antes despiciendo". Sem abrir mão da sua liberdade e ironia, avaliando o
que perdeu ao abandonar o mundo fechado, o poeta segue o seu caminho "de mãos
pensas" ou, como se lê no poema "Legado", "a vagar taciturno entre o talvez e o se".
‘Relógio do rosário”: esse poema se liga diretamente ao anterior. O relógio da igreja
remete ao tempo e o olho do poeta, a consciência. É o choro do mundo misturado ao seu
próprio choro. São as dores de existir e de amar em suas diversas vertentes: o social, a
memória, a morte, a condição humana.
Uma das formas de compreender o conjunto dos 41 poemas que formam a coletânea
de Claro Enigma, de 1951, é comparar este livro com A Rosa do Povo, livro publicado
em 1945. Se na lírica dos anos 40 predominava a postura de engajamento e
compromisso social, agora o questionamento em torno desse posicionamento ganha
espaço na poesia drummondiana.
Assim, a poesia abandona o desejo de buscar respostas e passa a focalizar as perguntas
que precisam ser feitas. Ao invés da comunhão anterior, vigora a certeza melancólica da
dissolução iminente. A esperança é substituída pelo desencanto. As referências mais
diretas ao mundo concreto, historicamente localizado, são preteridas em nome de um
universo metafísico, que pesquisa o ser humano em si, independente de seu entorno.
A relativa perda de certezas políticas representa um passo no sentido da formulação de
um novo projeto literário, capaz de se colocar de forma perplexa diante das
possibilidades que se apresentam. Além de tematizar exatamente a angústia das
incertezas quanto ao rumo a ser seguido.
Questões
1 (UFA).
Onde nasci, morri.
Onde morri, existo.
E das peles que visto
muitas há que não vi.
Sem mim como sem ti
posso durar. Desisto
de tudo quanto é misto
e que odiei ou senti.
Nem Fausto nem Mefisto,
à deusa que se ri
deste nosso oaristo,
eis-me a dizer: assisto
além, nenhum, aqui
mas não sou eu, nem isto.
ANDRADE, Carlos Drummond de. “Sonetilho do Falso Fernando
Pessoa”. In Claro Enigma. ed. 10. Rio de Janeiro: Record, 2001.
O poema acima integra o livro Claro Enigma, de 1951, obra em que Carlos Drummond
de Andrade opera uma mudança de direção em relação à sua trajetória poética anterior,
mais ligada ao engajamento social, como se evidencia num livro como A Rosa do Povo.
Diante disso, as escolhas linguísticas feitas pelo autor confere ao texto:
a) Elabora uma rede intertextual com a obra de Fernando Pessoa, poeta representante da
segunda geração romântica brasileira, ao fazer referência à “falsidade” da poesia,
evidente no último verso.
b) Nega a estética do Modernismo, movimento a que se pode associar Drummond, ao
fazer uso do soneto, uma forma poética fixa, muito comum em movimentos como o
Barroco, Arcadismo e Romantismo.
c) Representa a dificuldade do homem moderno em se estabelecer enquanto uma
unidade e o consequente estado de depressão que esse fato acarreta, evidenciado nos
dois primeiros versos.
d) Dialoga, por meio de versos como “E das peles que visto / muitas há que não vi”,
com a heteronímia de Fernando Pessoa, fenômeno pelo qual o poeta português se
multiplicava em outros poetas, cada um com personalidade diversa da dos outros.
e) Oferece uma visão poética das dificuldades de entendimento entre variantes da língua
portuguesa, uma vez que Drummond é brasileiro e Fernando Pessoa, português.
2 (UFRGS). O poema “Legado” integra a primeira parte do livro Claro
Enigma (1951), a que o autor denominou “Entre lobo e cão”.
Legado
Que lembrança darei ao país que me deu
tudo que lembro e sei, tudo quanto senti?
Na noite do sem-fim, breve o tempo esqueceu
minha incerta medalha, e a meu nome se ri.
E mereço esperar mais do que os outros, eu?
Tu não me enganas, mundo, e não te engano a ti.
Esses monstros atuais, não os cativa Orfeu,
a vagar, taciturno, entre o talvez e o se.
Não deixarei de mim nenhum canto radioso,
uma voz matinal palpitando na bruma
e que arranque de alguém seu mais secreto espinho.
De tudo quanto foi meu passo caprichoso
na vida, restará, pois o resto se esfuma,
uma pedra que havia em meio do caminho.
ANDRADE, Carlos Drummond de, Claro enigma. São Paulo:
Companhia das Letras, 2012, p. 19.
Considerando o poema, sua relação com o livro, e a poética de Carlos Drummond
de Andrade, assinale a alternativa correta.
a) O livro Claro Enigma é considerado pela crítica como um marco na redefinição
da poesia de Drummond por instaurar diálogo com as poéticas clássicas.
b) Se anos antes Drummond havia escrito “no meio do caminho tinha uma pedra”, no
verso final de “Legado” observa-se a opção por uma expressão mais coloquial.
c) O poema “Legado” tematiza a identidade nacional, vinculando-se aos modelos e
perspectivas próprios do movimento Antropofágico.
d) O poema “Legado” tematiza a inconstância do eu do poeta e das coisas do mundo e
inaugura a vertente autobiográfica da poesia de Drummond.
e) O último terceto trai a norma clássica de um soneto, pois apresenta a síntese do
poema, da biografia e da trajetória poética de Carlos Drummond de Andrade.
Respostas: 1.b; 2.a.

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  • 1. Claro Enigma, 1951, 41 poemas O título O livro é constantemente marcado pela presença do conflito eu X mundo. As contradições permeiam a obra: o eu poético ora aparece recluso, fechado em si mesmo, ora se desnuda, aparece com ares mundanos. O fusionismo, característica barroca, se mostra desde o título: a tentativa de união entre claro e escuro, o encontro e o desencontro, a aceitação e a negação. Enigma: o incompreensível, de difícil explicação, o mistério. Estamos, assim, diante de um eu lírico de sentimentos indecifráveis, obscuros. Claro: ausência de mistério, clareza. Ou seja, a negação do enigma. Desse modo, tem-se um eu que procura solucionar os mistérios do mundo, resolvê-los, pois entende assim a função do poeta. No entanto, após a leitura da obra, percebe-se que o enigma permanece sem resolução. Em A Máquina do Mundo, pertencente à última parte do livro, o poeta recusa as respostas propostas, levando consigo as respostas ausentes. A epígrafe: Lés événements m’ennuient. “Os acontecimentos me entediam”: a frase, tomada de empréstimo a Paul Valéry, poeta simbolista, encontra-se como epígrafe do livro de poemas Claro Enigma. Já aqui a postura desencantada de um eu lírico que precisa enfrentar a vida sem falseamentos, sem ilusões. O sujeito quer escancarar para si e para o mundo tudo o que a vida traz, buscando a essência das coisas. “Os acontecimentos me entediam”: é a resposta do sujeito cansado do aparente, do meramente visível. É a tentativa drummondiana de romper com a poesia engajada. Ao usar tal frase, o poeta confessa seu asco perante a história, já que essa é feita de acontecimentos. Porém, pode-se questionar se esse desgosto frente à vida é contra a História ou a própria história do poeta mineiro. Se é um desabafo para penetrar no mais íntimo do seu ser, para se proteger do caos mundano ou para encontrar uma esperança para a vida. O leitor atento tem que perceber, no entanto, que Claro Enigma também abriga uma série de poemas que parece desmentir a epígrafe tomada de Valéry. Trata-se, no caso, daquela série reunida numa seção nomeada “Selo de Minas”, que, com os versos de “Morte das casas de Ouro Preto”, “Museu da Inconfidência” ou “Os bens e o sangue”, registraram, a partir de diversos acontecimentos, algo muito específico: a percepção de feitos que, na história de Minas, antes de entediarem, terminaram provocando o espanto diante da frágil identidade entre o presente e o passado. Recursos literários e de linguagem Formas clássicas: Uso do soneto; tercetos e versos dísticos; Intertextualidade com poetas clássicos e mitos greco-romanos; Influência da poesia classicista e simbolista. Recursos modernistas: Uso do verso livre; Períodos longos e prosaicos; Influência do Surrealismo (universo onírico, imaginativo). Análise das partes O livro está organizado em seis partes, nas quais veem-se reflexões sobre o “estar no mundo”.
  • 2. Parte I: Entre Lobo e Cão É a mais extensa parte do livro. Lobo, animal predador, avesso ao convívio social, tal como o gauche de Drummond. Cão, o animal doméstico, amigo do homem. Aqui há a oscilação entre os dois extremos: a solidão e a companhia. Os substantivos comuns escritos com iniciais maiúsculas tornam-se próprios fazendo supor também uma relação com as constelações, inscritas na bandeira nacional, representativas dos estados nacionais. “Dissolução”: A imagem da noite, a decomposição, a desagregação. Poema de tom crepuscular, no qual o eu lírico aceita passivamente a escuridão, a ação demolidora do tempo. Esse poema insere o leitor na temática filosófica existencial que permanecerá ao longo da obra. “Remissão”: Já no primeiro verso a presença da metalinguagem “Tua memória, pasto de poesia”. Poema em tom de luto, pessimismo. É a memória o único alimento da poesia, essa que aparece às vezes como inútil. O poeta perdoa-se, é a sua remissão o ato de escrever, nada mais. “A ingaia ciência”: negação do conhecimento e inutilidade do mesmo. A madureza/conhecimento é um presente assustador, pois tira o sabor da vida, a ingenuidade, a inocência, a surpresa de viver. Poema de tom melancólico, desiludido. “Legado”: Um dos mais importantes poemas dessa parte. É a reflexão do eu no mundo. Que fatos merecem ser lembrados no porvir? Eis o questionamento desse poema. No poema “Legado”, pode-se perceber com evidência o que se quer dizer com “contribuição para a construção ou o reforço de uma identidade coletiva”, ou a presença de um elemento novo acrescentado ao edifício da chamada “mineiridade”. Nesse poema o poeta faz alusão a outro, o famoso “No meio do caminho” (Alguma poesia, 1930), escândalo da época e que, segundo Drummond, dividiu as pessoas em duas categorias mentais, ficando, nas palavras do Poeta, como um legado seu. No fecho de “Legado”, o Poeta, aludindo no último verso ao polêmico poema publicado 21 anos antes, dá resposta às perguntas iniciais sobre o que restaria de seu para a posterida: Que lembrança darei ao país que me deu tudo o que lembro e sei, tudo quanto senti? (...) De tudo quanto foi meu passo caprichoso na vida, restará, pois o resto se esfuma, Uma pedra que havia em meio do caminho. “Confissão”: Desde os primeiros versos desse poema, o eu lírico confessa sua ação fria diante do outro. O único afeto que deixou escapar de si foi destinado a um “aquele pássaro – vinha azul e doido –/ que se esfacelou na asa do avião”. O intenso pessimismo é marcado pela recorrência de palavras negativas: não, nem, sem. “Perguntas em forma de cavalo marinho”: poema metalinguístico, o poeta questiona a forma, a métrica e o conteúdo do homem, seguindo-se a possibilidade de estarmos contidos em algo ou até mesmo se estamos de fato vivos. “Os animais do presépio”: poema com forte tom bucólico, mas sem o elemento árcade do pastoralismo. “Sonetilho do falso Fernando Pessoa”: Temática da duplicidade. Presença de dois “eus”: um que vive no presente da escrita e outro que, “morto”, vive nas recordações da infância em Itabira.
  • 3. “Um boi vê os homens: prosa poética”: o olhar manso do boi gera a compaixão e a perplexidade diante do mundo do homem. O poeta segue assim a linha pessimista frente ao existencialismo humano. “Memória”: poema de conscientização da necessidade de amar tudo aquilo que se perde ou se vai no atrito do tempo. Somente as recordações ficarão e terão morada certa em nós. “A tela contemplada”: Poema metalinguístico. O poeta associa o poema às artes plásticas. Como num poema parnasiano, repleto de descritivismo. “Ser”: poema com forte presença biográfica, já que fala de um filho que seria homem no tempo presente, não houvesse a morte o tragado. Drummond teve um filho, Carlos Flávio, que morreu logo após nascer. “Contemplação do branco”: poema dividido em três partes. Um eu angustiado por não viver para contemplar a flor que brota num chão, talvez humanizado, no qual todos pisam. “Sonho de um sonho”: atmosfera onírica, um sonho dentro do outro (construção em abismo). Os sonhos, no entanto, se apresentam falsos, desiludidos, o pessimismo próprio do mundo. “Cantiga de enganar”: poema longo, de negação, de um mundo onde o poeta não se encontra. Poema de desabafo do eu oprimido para um interlocutor chamado de “meu bem”. A saída para a frustração é construir um mundo de palavras, de utopia. O “Mundo”, grafado com letra maiúscula no final do poema, representa o lugar ideal, produto do engano da “cantiga de enganar”. “Oficina irritada”: poema metalinguístico. O poema como produto do trabalho, como pregavam os parnasianos. O último verso traz a nomeação do livro “claro enigma”. “Opaco”: o leitor é colocado dentro da noite, mas o poeta não pode contemplá-la, já que o “edifício barra-me a vista”. A paisagem é urbana, com seus edifícios e motores. “Aspiração”: poema que encerra a primeira parte. Escrita de recusas, desencantado. Intertextualidade com o poeta tcheco Rilke, de vertente existencialista. Parte II: Notícias amorosas Parte dedicada à temática amorosa. Contudo, o amor descrito é o do desencontro, reflexões sobre o amor que é sinônimo do eu + tu. Amores de contemplação e de sofrimento. “Amar”: amor como condição humana, da qual não se pode correr, mesmo em face daquilo que parece não seduzir “e amar o inóspito, o áspero/um vaso sem flor, um chão de ferro”. “Entre o ser e as coisas”: no cenário poético, o eu se divide entre a contemplação do mar e do amor. Logo, o amor que encanta também faz sofrer, restando a melancolia do fim do dia (mais uma cena de crepúsculo). “Tarde de maio”: poema prosaico: na presença de uma chuva que traz vida, o eu poético dialoga com a tarde de maio sobre o fracasso de um encontro amoroso. O amor como sinônimo de dor, de desgosto. “Fraga e sombra”: a noite aparece aqui como matéria para a arte. O amor, entre sombras e despenhadeiros, belo e paradoxal, é dor e beleza, que o mundo não entende. “Canção para álbum de moça”: poema única estrofe. O eu lírico divide seu bom dia a uma moça distante e espera uma resposta dela. No entanto, a moça permanece indiferente. O amor tímido está envolto em um estado de escuridão, prenunciado pela imagem da noite.
  • 4. “Rapto”: poema que demonstra “outra forma de amor”; amor homoerótico. Representa o mergulho da águia sobre sua presa. O poema pode se referir ao mito grego do rapto de Ganimedes pela águia de Zeus, desejoso de possuir o rapaz. “Campo de flores”: poema do amor maduro. O amor descrito “talhado em penumbra”, luz e escuridão se fundem diante desse amor maduro, repleto de esperanças, tal como a imagem das flores. Parte III: O menino e os homens Aqui, o que permeia a escrita drummondiana são os poemas memorialísticos: é a lembrança de entes falecidos, amigos e irmãos. Permanece o tom pessimista, negativo. “A um varão que acaba de nascer”: o poema traz a imagem de um menino que nasce e de um amigo que morre. A vida e a morte, duas faces antagônicas da vida. Aquele que vem ao mundo é Pedro, a quem o eu lírico chama de irmão. “O chamado”: poema dedicado à Manuel Bandeira. Referências à Pasárgada, por exemplo, marcam esse apontamento. O eu poético, observador, vê o poeta caminhar. Há um rápido diálogo entre os dois, quando o eu lírico questiona para aonde vai o poeta e Bandeira responde: “Ao meu destino”. “Quintana’s bar”: poema prosaico, no qual o eu lírico encontra Mário Quintana num bar. Há uma teia de aranha sendo desenhada, a qual pode remeter ao próprio trabalho literário, profissão dos dois autores. Há referência intertextual através da citação de autores famoso. “Aniversário”: aniversário de morte e não de nascimento. É a lembrança da morte de Mário de Andrade, poeta com quem Drummond trocou cartas durante bom tempo. Parte IV: Selo de Minas Parte autobiográfica. Traça o percurso pelos caminhos mineiros, especialmente a Minas do período colonial. Duas temáticas predominantes: Minas e família Drummond. “Evocação Mariana”: o poema é uma memoração de um rito religioso, com a descrição da cidade mineira Mariana. “Estampa de Vila Rica”: poema dividido em cinco partes, numeradas por algarismos romanos. Parte I: Carmo: representa o desejo de preservar os elementos da Igreja Nossa Senhora do Carmo. Parte II: São Francisco: o poeta se deslumbra frente a beleza das obras de Aleijadinho e Mestre Athayde, representantes da arte barroca da época. Parte III: Mercês de cima: contraste entre o profano e o sagrado, o sensual e o espiritual, isso na imagem da prostituta posta em frente a igreja. Parte IV: Hotel Toffolo: necessidade de saciar a fome interior, referência à antropofagia. Parte V: tentativa de reconstruir, por meio da memória, o passado da cidade de Ouro Preto, palco de cenas tão importantes para a história nacional. “Morte nas casas de Ouro Preto”: lamento sobre a destruição que o tempo e os fenômenos naturais operam sobre as casas (monumentos e valores) de Ouro Preto. A chuva aqui traz a ruína, a demolição das casas é uma metáfora da própria história. Há uma referência à poética de Claudio Manoel da Costa no verso: “Sobre a ponte, sobre a pedra / sobre a cambraia de Nise” (Nise, musa inspiradora do poeta árcade). “Canto negro”: mostra o tempo de infância, tempo escravocrata, em que fora amamentado pelas cativas. O eu lírico se encontra com vários “pretos” que marcaram sua trajetória. “Os bens e o sangue”: dividido em oito partes, o poema mistura narração e poesia, para falar da decadência financeira da família. Poema explicitamente autobiográfico, pois relata uma patilha de bens realmente ocorrida em 1847. O título remete à riqueza e dor.
  • 5. Tem-se um sujeito preso a um passado familiar maldito, o que ecoará em toda a sua vida de poeta esquerdo, gauche. Parte V: Lábios cerrados Parte que trata da memória da família Drummond. Cerrar os lábios é sinônimo de silêncio, mudez. É o silêncio da memória, especialmente nas lembranças do pai. Há também uma reflexão sobre o tempo e a aceitação da morte. “Convívio”: poema prosaico. Discorre sobre a memória: aqueles que se foram, mas que sobrevivem nas lembranças. A presença/ausência dos mortos. “Permanência”: também em tom prosaico, segue o mesmo tema do anterior: os mortos que sobrevivem na lembrança dos vivos. “Perguntas”: o eu lírico pergunta a seu fantasma que razão de estar um preso ao outro. O presente preso ao passado. “Carta”: o poeta deseja escrever uma carta, em tom confessional, dizendo que ama, que deseja rever o destinatário... Mas o tempo passa e o eu lírico ainda espera resposta. “Encontro”: o sujeito lírico se encontra com o pai já morto, o ente que se perdeu na vida, mas que foi resgatado no sonho pela imaginação. “A mesa”: poema longo, de uma única estrofe. Assim como “Encontro”, é uma homenagem ao pai morto. O poeta planeja uma festa para o pai, em que todos os parentes de uma mesa, comemorariam os noventa anos do velho pai. Vê-se a descrição da família patriarcal mineira, onde a mãe é emudecida. O poema termina com o fim da cena imaginária: o vazio da alma, presente só a lembrança. Parte VI: A Máquina do mundo Parte final da obra, fala sobre o homem e seu estar no mundo. As interrogações de toda a obra estão aqui presentes, sendo oferecidas as soluções, as quais o poeta recusa: afinal, são os questionamentos que movem a vida. “A máquina do mundo”: Um dos maiores poemas de Carlos Drummond de Andrade é "A Máquina do Mundo". A ideia de que o mundo era uma máquina esteve em voga desde a Antiguidade até a Renascença. No poema de Drummond, a máquina do mundo abre-se para o poeta em determinado momento, oferecendo-lhe uma "total explicação da vida". Quando isso ocorre, ele, que por longo tempo havia buscado exatamente essa explicação, enigmaticamente a desdenha. Por quê? O poeta não só não acredita mais na possibilidade de tal explicação como não mais a deseja. Se, na Idade Média, a máquina do mundo ainda parecia capaz de se abrir, é porque era tida como finita e fechada. Camões, na Renascença, no canto X, ainda a descreve como um rotundo globo cercado por Deus. Se o poeta desdenha "colher a coisa oferta / que se abria gratuita" a seu engenho, é que a razão já lhe mostrou que a aceitação de uma "total explicação do mundo" não pode ser senão o mergulho em mais uma ilusão, que inevitavelmente lhe custará mais uma desilusão. É, pois, com ironia que chama de "gratuita" a "coisa oferta", no momento mesmo em que explica havê-la desdenhado, "incurioso e lasso". Segundo ele, um dom tão dúbio e tardio - não apenas em relação à idade individual do poeta, mas, principalmente, em relação à época moderna do mundo - já não lhe era "apetecível, antes despiciendo". Sem abrir mão da sua liberdade e ironia, avaliando o que perdeu ao abandonar o mundo fechado, o poeta segue o seu caminho "de mãos pensas" ou, como se lê no poema "Legado", "a vagar taciturno entre o talvez e o se". ‘Relógio do rosário”: esse poema se liga diretamente ao anterior. O relógio da igreja remete ao tempo e o olho do poeta, a consciência. É o choro do mundo misturado ao seu próprio choro. São as dores de existir e de amar em suas diversas vertentes: o social, a memória, a morte, a condição humana.
  • 6. Uma das formas de compreender o conjunto dos 41 poemas que formam a coletânea de Claro Enigma, de 1951, é comparar este livro com A Rosa do Povo, livro publicado em 1945. Se na lírica dos anos 40 predominava a postura de engajamento e compromisso social, agora o questionamento em torno desse posicionamento ganha espaço na poesia drummondiana. Assim, a poesia abandona o desejo de buscar respostas e passa a focalizar as perguntas que precisam ser feitas. Ao invés da comunhão anterior, vigora a certeza melancólica da dissolução iminente. A esperança é substituída pelo desencanto. As referências mais diretas ao mundo concreto, historicamente localizado, são preteridas em nome de um universo metafísico, que pesquisa o ser humano em si, independente de seu entorno. A relativa perda de certezas políticas representa um passo no sentido da formulação de um novo projeto literário, capaz de se colocar de forma perplexa diante das possibilidades que se apresentam. Além de tematizar exatamente a angústia das incertezas quanto ao rumo a ser seguido. Questões 1 (UFA). Onde nasci, morri. Onde morri, existo. E das peles que visto muitas há que não vi. Sem mim como sem ti posso durar. Desisto de tudo quanto é misto e que odiei ou senti. Nem Fausto nem Mefisto, à deusa que se ri deste nosso oaristo, eis-me a dizer: assisto além, nenhum, aqui mas não sou eu, nem isto. ANDRADE, Carlos Drummond de. “Sonetilho do Falso Fernando Pessoa”. In Claro Enigma. ed. 10. Rio de Janeiro: Record, 2001. O poema acima integra o livro Claro Enigma, de 1951, obra em que Carlos Drummond de Andrade opera uma mudança de direção em relação à sua trajetória poética anterior, mais ligada ao engajamento social, como se evidencia num livro como A Rosa do Povo. Diante disso, as escolhas linguísticas feitas pelo autor confere ao texto:
  • 7. a) Elabora uma rede intertextual com a obra de Fernando Pessoa, poeta representante da segunda geração romântica brasileira, ao fazer referência à “falsidade” da poesia, evidente no último verso. b) Nega a estética do Modernismo, movimento a que se pode associar Drummond, ao fazer uso do soneto, uma forma poética fixa, muito comum em movimentos como o Barroco, Arcadismo e Romantismo. c) Representa a dificuldade do homem moderno em se estabelecer enquanto uma unidade e o consequente estado de depressão que esse fato acarreta, evidenciado nos dois primeiros versos. d) Dialoga, por meio de versos como “E das peles que visto / muitas há que não vi”, com a heteronímia de Fernando Pessoa, fenômeno pelo qual o poeta português se multiplicava em outros poetas, cada um com personalidade diversa da dos outros. e) Oferece uma visão poética das dificuldades de entendimento entre variantes da língua portuguesa, uma vez que Drummond é brasileiro e Fernando Pessoa, português. 2 (UFRGS). O poema “Legado” integra a primeira parte do livro Claro Enigma (1951), a que o autor denominou “Entre lobo e cão”. Legado Que lembrança darei ao país que me deu tudo que lembro e sei, tudo quanto senti? Na noite do sem-fim, breve o tempo esqueceu minha incerta medalha, e a meu nome se ri. E mereço esperar mais do que os outros, eu? Tu não me enganas, mundo, e não te engano a ti. Esses monstros atuais, não os cativa Orfeu, a vagar, taciturno, entre o talvez e o se. Não deixarei de mim nenhum canto radioso, uma voz matinal palpitando na bruma e que arranque de alguém seu mais secreto espinho. De tudo quanto foi meu passo caprichoso na vida, restará, pois o resto se esfuma, uma pedra que havia em meio do caminho. ANDRADE, Carlos Drummond de, Claro enigma. São Paulo: Companhia das Letras, 2012, p. 19.
  • 8. Considerando o poema, sua relação com o livro, e a poética de Carlos Drummond de Andrade, assinale a alternativa correta. a) O livro Claro Enigma é considerado pela crítica como um marco na redefinição da poesia de Drummond por instaurar diálogo com as poéticas clássicas. b) Se anos antes Drummond havia escrito “no meio do caminho tinha uma pedra”, no verso final de “Legado” observa-se a opção por uma expressão mais coloquial. c) O poema “Legado” tematiza a identidade nacional, vinculando-se aos modelos e perspectivas próprios do movimento Antropofágico. d) O poema “Legado” tematiza a inconstância do eu do poeta e das coisas do mundo e inaugura a vertente autobiográfica da poesia de Drummond. e) O último terceto trai a norma clássica de um soneto, pois apresenta a síntese do poema, da biografia e da trajetória poética de Carlos Drummond de Andrade. Respostas: 1.b; 2.a.