O documento analisa o poema "Profundamente", de Manuel Bandeira. Abrange a quebra de paradigmas do poema com versos livres e quebra de métrica fixa, além de tratar da saudade da infância do eu lírico e ideais modernistas. Interpreta o poema como apresentando dois tempos distintos através de advérbios nas primeiras estrofes.
1. O poema “Profundamente”, do autor pernambucano Manuel Bandeira, que
está incluso no livro “Estrela da Vida Inteira”, já mostra, além de um
saudosismo pela infância do eu-lírico de forma melancólica, ideais
modernistas, pela quebra de paradigmas com a forma fixa e a métrica
(versos livres) e a brincadeira com o campo semântico das palavras em
contexto.
Interpretando o poema, pode-se dizer que o mesmo se apresenta em dois
tempos distintos: o passado (quando tinha seis anos) e o presente (hoje);
bem destacados pelos advérbios que aparecem no início da 1ª e da 5ª
estrofes, respectivamente.
O início do texto mostra algumas lembranças do eu-lírico vividas na noite de
São João, quando ele tinha seis anos e não pôde ver o final da festa, porque
tinha adormecido. Então, ao acordar (possivelmente, no meio da
madrugada), toda a alegria produzida pelas músicas, risadas e brincadeiras
do cotidiano das pessoas daquela época tinha desaparecido, porque todos da
casa estavam dormindo profundamente (no sentido literal - denotativo). No
entanto, a partir da 5ª estrofe, percebe-se a mudança de tempo e a mesma
angústia vivida pelo eu-lírico de não ouvir mais as vozes daquele tempo e se
questiona até perceber que eles não estavam mais lá, pois haviam morrido
(“dormido profundamente” no sentindo conotativo).
É interessante a brincadeira que o poeta faz com as palavras em seu sentido
denotativo e conotativo (“dormir profundamente”- 4ª e 7ª estrofes);
percebe-se, portanto, que se trata de um bom entendedor das palavras que
o cercam e que, através de um vocabulário simples, consegue atingir temas
tão profundos como a morte e a saudade.
Além disso, ele utiliza-se de alguns recursos estilísticos, como o som e, para
tal, a terceira estrofe pode ajudar, pois nos quatro primeiros versos, dá para
notar a constante repetição do som “s” que provoca a idéia do queimar da
pólvora produzida pelo balão (“[...] Estrondos de bombas luzes de Bengala /
Vozes, cantigas e risos/ Ao pé das fogueiras acesas. / No meio da noite
despertei / Não ouvi mais vozes nem risos / Apenas balões /Passavam,
errantes /Silenciosamente [...]”), cuja zoada é cortada pelo advérbio de
modo “Silenciosamente”, pois o som do fonema “s”, nesse caso, transmite a
idéia do pedir silêncio (a onomatopéia do silêncio “siiii...”), uma vez que,
tudo estava calmo, sem zoadas ou sons e quando acontecia algum ruído, era
porque um ou outro bonde que passava “cortando o silêncio como um túnel”
(comparação).
O poema, através de um simples vocabulário, atinge temas tão profundos, de
forma criativa, simples (utiliza-se de fatos do cotidiano das pessoas daquela
época na noite de São João) e saudosista; típicas características desse autor
pernambucano que não só marcou a literatura local, como a do Brasil como
um todo.
http://www.recantodasletras.com.br/teorialiteraria/417676
2. O homem e a morte
“O homem e a morte” – romance desentranhado de “Um retrato da morte”, de Fidelino de
Figueiredo (Belo belo),
Ao vislumbrar o poema podemos notar que parece subdividir-se em duas
partes. Com relação a primeira estamos mais acostumados. Fala do pavor
provocado pela idéia de morrer e do quanto podemos buscar mecanismos
(reais e/ou imaginários) para fugir o máximo possível da morte. Ele não quer
abrir a porta ao terrível esqueleto...pelo contrário, refugia-se no leito como
um símbolo que nega a morte e ao mesmo tempo parece trazer refúgio e
conforto. No entanto, quer queiramos ou não, a morte sempre está presente
em nossas vidas.
Então, o protagonista do poema é surpreendido ao perceber que a morte não
era tão terrível assim. E lá esta ela agora representada por uma doce
mulher, um anjo, quase a imagem de uma bela mãe a trazer conforto,
carinho e paz frente a uma vida de dissabores. Bandeira parece resumir com
propriedade os extremos do sentimento com relação a morte e retoma parte
da tradição romântica e simbolista ao apresenta-la como uma mulher.
No entanto, não existe um acordo. Na verdade, a morte parece ser as duas
coisas ao mesmo tempo. Algo que traz medo pela dissolução que provoca,
pelo convite ao desconhecido, mas também algo que não poderemos a nos
furtar em encontrar um dia. Não seria melhor então investir nessa segunda
imagem, pensarmos num anjo que proporciona refúgio, mesmo que, em
certa medida ainda sejamos tomados pelo medo?
Que fique então a lição de Manuel Bandeira. A morte pode entrar em nossas
vidas a qualquer momento pois lá está ela sorrateira batendo à porta.
Quando isso acontecer, não haverá escapatória. A intensidade de sofrimento
e dor nesse instante dependerá então de qual imagem cultivaremos. Penso,
repenso e não consigo encontrar quase nada que seja mais reconfortante que
o abraço da mulher amada!
http://www.redehumanizasus.net/6930-o-homem-e-a-morte-uma-poesia-de-manuel-bandeira
O poema “O Homem e a Morte” foi escrito em 7 de dezembro de 1945 e publicado no
livro Belo Belo, que surgiu na edição de 1948 das Poesias completas. Esse belíssimo
poema foi “desentranhado”, como diria o próprio Manuel Bandeira, do livro do ensaísta
português Fidelino de Figueiredo, "Retrato da Morte" no qual ele fala de um moribundo
que viu a Morte chegar não como o esqueleto armado de foice das gravuras antigas e
sim como uma linda e doce mulher que lhe fechou os olhos com ternura.
Sua obra caracterizou-se pela simplicidade alcançada graças a um esforço de redução
às essências, quer no plano temático, quer no da linguagem. Bandeira escreve de um
modo simples, despojado. Não usa palavras rebuscadas. Possui um estilo sóbrio, seco,
direto.
3. Descreve, no poema O Homem e a Morte, uma cena típica na poesia banderiana: a morte.
Contudo, nesse poema, aparece uma nova concepção da morte a partir da concepção
tradicional.
O homem se vê diante da morte mas surpreende-se pelo fato dela aparecer como uma
mulher, ou um anjo, e não como aquele esqueleto armado de foice, que um dia levou a
mãe dele. Este critério (de a partir de uma concepção tradicional, chegar a uma
concepção nova, segundo a qual os objetos perdem o caráter óbvio que tinham
inicialmente) se justifica ante a evidente fixação do poeta com os espaços vividos e
imaginados. No caso do poema O Homem e a Morte esse espaço é o quarto.
Em seu poema, Bandeira usa da sua experiência da solidão profunda, que serve à poesia
como via de recolhimento do que é essencialmente nítido dentro do difuso e do que é
essencialmente simples dentro do complexo. É uma espécie de proximidade sensível,
onde o poeta mostra a solidão não com ressentimento, mas com solidariedade.
O título do poema remete a um resumo do próprio poema. O título “O Homem e a Morte”
remete ao homem à espera da morte. No título a conjunção “e” denuncia a proximidade,
uma espécie de anunciação, para o leitor que já sabe que haverá um “combate” entre os
termos ligados pela conjunção.
Começa o poema como se começasse uma narrativa, mas já no segundo verso —
“dentro da noite sem cor” — já mostra um adjetivo inesperado ao falar da noite “sem
cor”, algo que dá a sugestão do final da vida do homem. O poema continua como uma
narrativa, onde aparece uma primeira ação, a morte batendo à porta.
Os personagens começam a se envolver em situações, narradas pelo autor. A sintaxe é
mais próxima do discurso, porém com a presença de rimas aproxima-se mais do lirismo.
A situação inicial do poema é densa, para obter um conflito — aparece quando o homem
ouve alguém bater à porta. Essa é uma característica do gênero dramático.
O poema está dividido em duas partes: na primeira aparece a insegurança do homem em
frente a morte, seus pavores, sua expectativa. Já na segunda parte, que tem início no
seguinte verso: “Figura toda banhada”, a morte passa a se revelar como uma bela
mulher, que é banhada de luz interior, que possui um olhar inefável, não causa mais
terror naquele em que ela vem buscar.
Há uma inversão de conceito ao decorrer do poema. No início a morte é assustadora,
mas ela aparece como uma figura agradável, que vai salvá-lo da vida que o humilhou —
a vida passa a ser algo ruim e a morte algo bom. Finalmente a morte cerra-lhe os olhos e
os últimos quatro versos são semelhantes a versos já escritos no poema para ampliar o
sentido. No primeiro momento em que aparecem os versos:
4. “Olhar inefável como
de quem ao peito o criou.
Sorriso igual ao da amada
que amara com mais amor”
é um momento de apresentação da Morte, momento em que ele compara com uma outra
mulher que o amara.
Ao final do poema os versos sofrem algumas modificações:
“Era o carinho inefável
de quem ao peito o criou.
Era a doçura da amada
que amara com mais amor”,
e também seu sentido parecer ser alterado. Passa a representar que aquela mulher que o
amara era a própria morte que o espreitara a sua vida toda.
É um poema onde se amplia a ambigüidade: a morte é amiga ou inimiga? Ela desperta
medo? Ela conquista? Mostra a vulnerabilidade do homem diante da morte. Nesse
poema aparece também uma certa posição de Manuel Bandeira diante da religião.
Existe uma impressão de misticismo sem falar de Deus. Bandeira mais duvida do que
nega, o mistério é o seu mundo. Ele faz essa referência nos seguintes versos:
“Figura toda banhada
De suave luz interior.
A luz de quem nessa vida
Tudo viu, tudo perdoou.”
Esse último verso faz uma pequena referência a presença de algo além, ou alguém que é
onipresente.
Quanto a forma, o poema é formado por uma única estrofe livre, onde se admitem versos
de qualquer medida. As rimas são misturadas, há presença de rimas toantes, que
possuem paridade parcial, e as rimas consoantes, que possuem paridade completa dos
sons.
A partir do livro “Ritmo Dissoluto” o poeta passa a demonstrar em seus versos a
afinação poética no verso livre — do ponto de vista da forma. No ponto de vista das
idéias e dos seus sentimentos surge a liberdade de movimento. Rimas toantes, mistura
5. de versos brancos e versos rimados, versos livres em que persiste certo ritmo de
medida.
Os poemas aplicam-se no cultivo de uma resignação que o poeta destitui de qualquer
sentido derrotista. Incorporar a experiência do sofrimento com aquele sinal positivo não
é curvar-se ao fatalismo, mas sobreviver a ele e contestá-lo com a experiência mesma do
poético, objetivado em palavras.
Nesse poema o observador vira contemplativo. E tudo conta em função da sua realidade
interior. Avisa que podemos entrar a qualquer hora na morte.
http://pre-vestibular.arteblog.com.br/51928/MANUEL-BANDEIRA-O-Homem-e-a-Morte-analise-
e-comentario/
Antes de mais nada não posso deixar de ressaltar o quanto é
bom e calmo, prazeroso ler Manoel Bandeira. Comentarei o
poema “ A morte absoluta “ que se encontra no livro Lira dos
Cinquent'anos, 1940. Comentarei ele tanto filosoficamente
como pelo seu cunho literal. Primeira mente é bom salientar
que Bandeira é amante de versos livres, ele não se prende
a métrica, o mesmo era professor de literatura, pelo o que
eu estudei dele digo que ele fez da sua vida um poema livre,
pois a mesma foi regida por métricas do acaso. Manoel
Bandeira utiliza a anáfora para construir o poema, é fácil
perceber como ele faz o uso do verbo “morrer”, ele utiliza
essa palavra 7 vezes, 6 no inicio de cada estrofe, é no
primeiro estrofe ela é reutilizada no segundo verso. Não tem
como não perceber até mesmo porque o poema parece ser
autoexplicativo que o poeta está fazendo uma alusão ao
esquecimento, um fim do “ser” Manoel Bandeira sugere que
esse ente não seja lembrado nem mesmo pelo seu nome (-
Sem deixar sequer esse nome. ), ou seja um aniquilamento
completo da identidade deste ser.
http://literaturaeobrascomentada.blogspot.com.br/2011/10/manuel-bandeira-morte-
absoluta.html
O ritmo inicialmente monótono, estancado nos seguidos pontos finais dos três primeiros
versos – dois destes, mínimos –, segue truncado pelas seguidas vírgulas e hífens a
partir do quarto verso até o escorrer na horizontalidade destacável do nono: “Nascidas
menos da saudade do que do espanto da morte”. Daí ao final, segue os borbotões, ora
contraído pela carregada pontuação, ora dilatado pelo encadeamento de um verso a
6. outros: “Morrer tão completamente/ Que um dia ao lerem o teu nome num papel/
Perguntem: ‘Quem foi?...’”; e sibila escorregadio “— Sem deixar sequer esse nome”, na
aliteração do verso conclusivo.
O poema sugere um total aniquilamento do ser, um desaparecer “de corpo e de alma”
que não deixe vestígios de sua existência nem mesmo na memória histórica dos
homens. E atem-se a destacar as peculiares características desse desaparecimento. O
uso em destaque, quase irônico, do adjetivo “felizes!”, a qualificar as flores que
apodrecerão após terem ornado um “triste despojo de carne”, provoca no leitor um
primeiro estranhamento; e a presença em anáfora do verbo intransitivo “morrer”, sete
vezes repetido, somado ao advérbio de intensidade “completamente”, três vezes
grafado ao longo do poema, transmite intensidade ao sentimento de fatalidade e à
obsessão temática de sonoridade langorosa, que acentua no poema o desejo de um
desaparecimento perfeitamente concluído.
O poema exalta a morte, mas não uma morte qualquer. Se a deseja tão completa,
absoluta, certamente necessita de uma vida que a prepare, do contrário, como não
“deixar um sulco, um risco, uma sombra”? Não por acaso, de tanto falar em morte o
poema acaba por tropeçar na vida.
Observemos que na estrofe inicial a locução do discurso é impessoal. Curtos,
enigmáticos, lacônicos, os três primeiros versos acabam por ser mais reflexivos que
apelativos, como quem diz de si para si: “Morrer./ Morrer de corpo e de alma./
Completamente.”, o que faz espargir para os versos seguintes a intimidade monológica
do eu lírico.
Ressaltemos que muito pouco nos é dado saber no poema sobre a vida desse eu lírico,
apenas que ainda vive, já que reflete sobre a morte futura, presumindo que não deixará
saudades nos vivos quando da chegada desta, já que esses certamente derramarão
lágrimas sobre seu rosto muito mais pelo “espanto” que a morte provoca que pelas
lembranças por ele deixadas. Da terceira estrofe, é possível cogitarmos que, embora o
eu lírico possa até aceitar a existência de “uma alma errante” – o que implica um
questionamento existencial, possivelmente religioso, que não sabemos qual é –, não é
seu desejo deixá-la como presença, muito menos rumo a um idealizado céu, a seu ver
impossível de satisfazer ao que dele foi idealizado: “Mas que céu pode satisfazer teu
sonho de céu?”
Nesse ponto, a primeira referência no discurso a uma segunda pessoa permite-nos lê-la
por um lado como limitante destinatária, já que na chave da reflexão interior do eu lírico
que vínhamos fazendo “teu sonho” seria substituída por “meu sonho”, com a resultante
“Mas que céu pode satisfazer meu sonho de céu?” a limitar o destino da mensagem ao
próprio eu lírico locutor, sem quebra do monólogo; ou a podemos ler como amplificante
destinatária, ao substituirmo-la por “nosso sonho”, de nós leitores, implicitamente
convidados a pensar em nossa própria idealização de céu. Assim, a reflexão em curso
no poema passa do foro particular do eu lírico para o nosso.
O verso que abre a estrofe seguinte, “Morrer sem deixar um sulco, um risco, uma
sombra”, expressa desejo que fatalmente demandaria ação em vida para efetivamente
se concretizar, como a que faz exemplarmente a tartaruga marinha após a desova na
areia da praia, que ao voltar para o mar abana o rabo sobre as suas próprias pegadas
na areia a fim de apagá-las e assim proteger seus ovos, sua espécie. A ênfase nesse
apagamento é incrementada ainda mais nas duas últimas estrofes, referência à
nomeação do ser, que se a princípio deve deste ser dissociado, ao ponto de ao lê-lo se
pergunte: “Quem foi?”, completamente deveria desaparecer – nome/ser – sem deixar
vestígio.
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