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O BREGA FUNK COMO DIFUSÃO DA CULTURA POPULAR MIDIÁTICA DO
NORDESTE
Resumo
O presente trabalho trata sobre a difusão midiática do universo cultural e estético do
Brega Funk, estilo que movimenta o mercado musical e que mobiliza as populações
periféricas do nordeste brasileiro. O movimento constitui-se a partir da mistura
de dois gêneros musicais nascidos na periferia. Porém, o caráter popular
não caracteriza o movimento como “vazio” de cultura, muito pelo contrário,
demonstra uma riqueza cultural de duas regiões. Os objetivos gerais e específicos se
formam através da discussão sobre a maneira como as novas tecnologias digitais têm
sido importantes na forma de produzir e consumir cultura, uma vez que a difusão
do Brega Funk rompeu barreiras geográficas e se instalou no cenário da música
popular brasileira. Pode-se dizer, portanto, que o fenômeno Brega Funk demonstrou o
poder das novas mídias sociais como difusão de manifestações culturais
periféricas.
Palavras-chave: Brega funk; Nordeste; Manifestação cultural; Periferia; Mídias
sociais.
ABSTRACT
This paper deals with the media diffusion of Brega Funk's cultural and aesthetic
universe, a style that moves the music market and mobilizes the peripheral
populations of northeastern Brazil. The movement is formed from the mixture of two
musical genres born in the periphery. However, the popular character does not
characterize the movement as a “void” of culture, quite the opposite, demonstrates a
cultural richness of two regions. The general and specific objectives are formed by
discussing how new digital technologies have been important in the way of producing
and consuming culture, since the spread of brega funk broke geographical barriers and
settled in the Brazilian popular music scene. . It can be said, therefore, that the tacky
funk phenomenon demonstrated the power of new social media as a diffusion of
peripheral cultural manifestations.
Keywords: Tacky funk; Northeast; Cultural manifestation; Periphery, Social media.
Realização Apoio
2
1. INTRODUÇÃO
Esta pesquisa trata sobre a difusão midiática do universo cultural e estético
do Brega Funk do nordeste brasileiro. O estilo musical que movimenta o mercado brasileiro
e que mobiliza as populações periféricas. Vale ressaltar a falta de material acadêmico e de
pesquisas relacionadas ao movimento cultural e suas particularidades. Observa-se um
interesse por parte da academia e até mesmo da imprensa por esse olhar criterioso
e científico. Hermano Viana, dono da primeira pesquisa acadêmica sobre o Funk carioca,
cita em seu trabalho que
Era a primeira vez que os jornais fizeram alarde em torno do fenômeno Black Rio,
em 1976, que alguém escrevia na imprensa sobre essas numerosas e gigantescas
festas suburbanas em sua nova fase hip hop. Outros artigos, que se seguiram ao
meu, chegaram a se referir ao baile funk da Estácio de Sá como minha
“descoberta”. Esse termo denuncia a relação que a grande imprensa do Rio
mantém com os subúrbios, considerados sempre um território inexplorado,
selvagem, onde um antropólogo pode descobrir “tribos” desconhecidas, como se
estivesse na floresta Amazônica (VIANNA,1987, p.11 e 12).
O Brega Funk constitui-se a partir da mistura de dois gêneros musicais nascidos na
periferia. Porém, o caráter popular não caracteriza o movimento como “vazio” de cultura,
muito pelo contrário, demonstra uma riqueza cultural de duas regiões do Brasil
concebidas por diferentes fenômenos, o que justifica a necessidade de uma análise:
Sempre fiquei irritado ao ouvir políticos em campanha prometendo que vão “levar
cultura para as favelas”, como se houvesse lugares sem cultura, terrenos baldios,
vazios a serem preenchidos com o que vem de fora, uma dádiva sem
reciprocidade, em caminho de mão única, sempre de dentro (o centro civilizador)
para fora (as periferias iletradas, incultas, definidas apenas por sua “carência”). E
nesse discurso o que está subentendido é que a cultura é o que se chamava de “alta
cultura” (VIANNA, 2014, p.15).
A primeira seção desse artigo tem a função de exibir a história do Brega
Funk, através da conceituação individual dos dois estilos musicais que o formam. E
as subseções tratam das características artísticas do movimento em questão. A
segunda seção da pesquisa exibe como o Brega Funk se difundiu no mercado musical.
O motivo que antecede a produção da pesquisa relaciona-se com a carência
de informações e análises acerca desta manifestação cultural no meio acadêmico,
argumentando assim o porquê de sua realização.
Os objetivos gerais e específicos se formam através da discussão sobre a maneira
como as novas tecnologias digitais têm sido importantes na forma de produzir e consumir
cultura, uma vez que a difusão do Brega Funk rompeu barreiras geográficas e se instalou
no cenário da música popular brasileira.
Espera-se que esta pesquisa contribua socialmente, ao ratificar o Brega Funk como
uma manifestação cultural, da população subalterna do Nordeste. E dessa forma,
qualifique e demonstre a riqueza cultural da periferia de duas regiões do Brasil.
2. HISTÓRIA DO BREGA FUNK
A fim de iniciar os estudos sobre o Brega Funk, é necessário conceituar
separadamente os dois estilos musicais que o formam.
Dessa forma, de acordo com o historiador Paulo César Araújo (ARAÚJO, 2000,
p.18 e p. 20), a denominação “brega” surgiu a partir da década de 80, para nomear a nova
vertente da música cafona, vocábulo que é definido pelo dicionário Aurélio como algo ‘‘de
3
péssimo gosto; sem elegância”. Os artistas conhecidos como “cafonas” surgiram no final
da década 1960, preenchendo o espaço vazio deixado pelo movimento da jovem guarda.
Os cafonas fizeram um grande sucesso na época, com músicas que seguiam
a temática romântica e batiam recordes em execuções nas rádios, além de sempre
aparecerem entre os discos mais vendidos do mercado fonográfico. Mesmo com todo
esse sucesso entre a massa, Araújo salienta o desinteresse em tratar desse estilo musical
na história da música brasileira:
Sucesso de norte a sul do país, patrimônio afetivo de grandes contingentes das
camadas populares, esta vertente da nossa canção romântica tem sido
sistematicamente esquecida pela historiografia da música popular brasileira. Nas
publicações referentes à década de 70, de maneira geral são focalizados nomes
como de Chico Buarque, Elis Regina, Gilberto Gil, Milton Nascimento, e discos
como “Sinal Fechado”, “Falso Brilhante”, “Clube da Esquina”, todos, sem dúvida,
representativos, mas que na época eram consumidos por um segmento mais
restrito de público, localizado na classe média. O que a maioria da população
brasileira ouvia eram outras vozes e outros discos (ARAÚJO, 2002, p.15).
O Brega fez um grande sucesso até a década de 90, após esse período o estilo
musical foi desaparecendo da mídia de massa e foram surgindo no nordeste do país
variações que fugiam do Brega ‘tradicional”, compostas por uma mistura da temática
romântica do Brega com ritmos caribenhos, arranjos, aceleração de batidas e inclusão da
instrumentalização advinda do Rock, como guitarras. Surgindo assim o “bregacalypso” e
posteriormente o “tecnobrega”, variações paraenses que se espalharam pela cidade do
Recife.
O movimento Funk, caracterizado como uma manifestação cultural da periferia do
Brasil, não possui origem brasileira. Foi nos Estados Unidos, a partir de derivações
do estilo musical soul, mistura da música do Rhythm e Blues e da música gospel, que nasce
o Funk (MEDEIROS, 2006, p.14).
O termo “Funk” surgiu como uma “gíria” dos negros americanos, para se referir ao
odor do corpo durante as relações sexuais, desde sua origem o Funk esteve ligado ao sexo
e práticas sexuais. Foi em 1968 que a gíria perdeu esse caráter meramente sexual e passou
a ser designado como orgulho negro. Segundo Hermano Vianna “tudo pode ser Funk: uma
roupa, um bairro da cidade, o jeito de andar e uma maneira de tocar música, que ficou
conhecido como Funk” (VIANNA,1988, p.20).
No final dos anos 1970 o Funk começa a se difundir pelo Brasil. Inicialmente, os
primeiros bailes foram realizados na Zona Sul da cidade do Rio de Janeiro. Após o
crescimento da MPB em conjunto com a “‘ocupação’ do local nomeado de Canecão,
recinto onde normalmente os bailes aconteciam, que o gênero musical se espalhou para o
subúrbio através dos ‘Bailes da Pesada’” (VIANNA,1988, p.20).
É importante ressaltar que até 1976 o Funk era um movimento realizado e
consumido pela massa, sendo descoberto pela imprensa e consequentemente pela
indústria fonográfica alguns anos depois. Com o intuito de imperar sobre o mercado do
Funk, as gravadoras – em uma tentativa fracassada – investiram em artistas nacionais de
soul, o que não agradou a massa (VIANNA, 1988, p.31),
Com esse fracasso, passou-se a misturar músicas americanas tocadas em versões
instrumentais, como os refrões cantados em português (SÁ, 2009, p.6). Até que surge a
figura de Marlboro, ou melhor, DJ Marlboro, com letras em português fugindo assim do
hibridismo americano e com o uso de baterias eletrônicas, dando início ao Funk como é
conhecido na atualidade.
2.1 O Brega funk
4
Tomando como base os conceitos acerca dos estilos musicais citados
anteriormente, entende-se que ambos possuem suas particularidades, mas os dois detém
uma característica marcante, que diz muito sobre os respectivos gêneros musicais e os
tornam classificáveis como manifestações culturais subalternas, que é o caráter periférico
da sua produção e consumo.
A fusão entre o Brega e o Funk ocorreu na cidade de Recife, quando os
MC’s sentiram a necessidade de mudar a forma como realizavam os bailes, pois se fazia
muita incitação à violência, relato presente na VICE1
, grupo de mídia global do mundo
focada em jovens.
Apesar de estarem imersos e de fato curtirem toda a cultura dos bailes de corredor,
os MCs entendiam que a violência entre as galeras impossibilitava o futuro do funk. Não
havia possibilidade de expansão, não era possível desenvolver uma carreira artística
cantando apenas pra vizinhança. Leozinho foi um dos que perceberam esse momento e
tentou cavar brechas. “‘Eu meio que não podia ir pra todos os cantos, porque eu era do lado
de cá [Maranguape, bairro de Paulista] e tinha a rivalidade dos bairros’, diz ele, que chegou
a ter um amigo baleado e morto ao seu lado” (VICE, 2018).
Mesmo com a mudança no conteúdo dos Funks, a aceitação desse estilo ainda era
baixa, e desse modo, os funkeiros não conseguiam fazer apresentações em casas
de shows de Recife em virtude da má fama. Além do mais:
Somando-se, enfim, à crescente disputa entre bairros e à violenta repressão
policial, havia o problema de que o funk, com exceções, não rendia cachês aos MCs.
O dinheiro estava nas casas de shows, mas os funkeiros, estigmatizados pela
imagem violenta dos bailes de corredor, não conseguiam entrar no circuito
(VICE, 2018).
Dessa forma, no decorrer dos anos 2000 o “Brega-pop” estava fazendo um grande
sucesso nas casas noturnas de Recife e foi nesse momento que MC Leozinho, a fim de
adentrar no mercado Brega, decide lançar a música “Dois Corações”, que ainda seguia o
estilo lento do Brega-Pop. Logo após o sucesso de “Dois Corações”, Leozinho iniciou a
fusão entre o Brega e o Funk com a música “DNA”, harmonizando a instrumentação do
Brega (baixo, guitarra, bateria) com a mixagem, tamborzão e aceleração do ritmo.
Só que Leozinho e Serginho aproveitaram o embalo para propor uma nova levada.
Em vez de tentar imitar a sonoridade das bandas românticas, os dois deram uma
nova cara tanto ao funk quanto ao brega na música “DNA”. “Foi quando a gente
começou a fazer o beat. Já tinha uma batida do bregafunk. Até então nóis
não tinha dado o nome, mas já tinha essa batida”, afirma Leozinho (VICE, 2018).
O Brega Funk fugiu da temática romântica, presente no brega-pop e foi
incorporando o viés mais sexual, denominado de “putaria”, trazido pelo Funk, como
descreve Mc Elloco, em entrevista ao VICE, além de já evidenciar o “passinho” como
característica dançante desse movimento:
Reginaldo Rossi foi a sofrência de um cara que gostava de uma mulher e ficava só
insistindo naquela mulher, ficava cantando aquela voz de ‘tô sofrendo’.
O bregafunk é o contrário, é como fosse a revolta do homem. O cara vai pra putaria
ou vai pra outra mulher, é o passinho, ele tá na doidera e não quer nem saber. É
mais pra cima, dançante, passinho (VICE, 2018).
Vale ressaltar que o início da fama dessa junção entre os gêneros musicais ocorreu
na cidade de Recife, ou seja, atingiu um público regional, não conseguindo alcançar um
sucesso de escala nacional. Até que em janeiro de 2018 Paloma, popularmente
conhecida como MC Loma e suas amigas Marielly e Mirella, as “gêmeas lacração”,
1 Globalmente, opera uma plataforma de conteúdo digital (o VICE.COM), uma branded content house, uma produtora
de filmes, uma gravadora, uma revista e uma produtora de brandedexperience.
5
decidem publicar o clipe da música “Envolvimento” no Youtube. O clipe alcançou mais de
40 milhões de visualizações e conseguiu colocar o Brega Funk no topo das playlists “As
50 Mais Ouvidas do Brasil” e “As 50 Virais do Mundo”.
As músicas, em sua maioria, apresentam letras com um viés erótico, em que sexo é
tratado sem pudor e sem idealizações, como um ato que deve proporcionar prazer de forma
rápida e intensa. Além disso, as músicas afirmam e reafirmam a importância de um
envolvimento sexual sem nenhum tipo de compromisso, como aparece no trecho “… Mas
eu não min apego porque sou da putaria, a minha mente é sem sentimento, só fico uma vez
se tu gamar eu só lamento…” da música “Vai Sentando” dos MC’s, Balakinha Biel e Roger.
Na maioria das canções, os fragmentos escritos pelos MC’s nordestinos são
combinados com algum Funk preexistente, por exemplo, na canção “Ritmo Contagiante”,
que faz uso da música “Evolui”, do funkeiro carioca Kevin o Chris, mas também possui
trechos produzido pelo MC nordestino Felipe Original.
Mesmo com essa junção, o produto final “Brega Funk” se distingue dos sons
eletrônicos programados, presente na maioria dos Funks, como afirma um dos grandes
nomes do Brega Funk, Dadá Boladão, em entrevista ao VICE (2018): “O funk é
mais aquela batida seca, com teclado e um pontinho. É mais simples. O bregafunk já é mais
acelerado e com mais instrumentos. É uma mistura de um monte de ritmo: tem funk, axé,
misturado com brega, forró e pagode”.
2.2 Dança bregueira
As manifestações populares permitem a compreensão daquilo que é denominado de
cultura, pois elas não simbolizam só uma simples expressão regional, mas também
representam as características e os aspectos de uma determinada realidade social, assim
a
cultura se define como todo el complejo de rasgos espirituales, materiales,
intelectuales y emocionales que destinguen a una sociedad o grupo social. No solo
incluye las artes e las letras, sino también los modos de vida, los derechos
fundamentales del ser humano, los sistemas de valores, las tradiciones y las
creencias (ARIZPE, 2009, p. 40).
A dança Bregueira é a representação dançante da manifestação cultural “Brega
Funk” e está intrínseca nessa forma de manifestação as particularidades sociais e
culturais de um povo, mais especificamente da população da cidade de Recife.
O que denomina-se de dança bregueira, é popularmente conhecido como
“passinho dos maloka”, variante dançante do Brega Funk, a qual ganhou mais visibilidade
após o sucesso do hit “Envolvimento” e passou a aparecer na maioria dos lançamentos do
gênero Brega Funk.
De acordo com o jornalista Joseildo Henrique (2009), o termo “Maloka” é uma
variação da termologia “maloqueiro”, “utilizado de forma pejorativa para referir-se aos
jovens de periferia envolvidos em criminalidade”.
A dança constitui-se a partir de giros rápidos, balanceio dos ombros e “sarradas”
pélvicas, com a movimentação das mãos e dos braços, que fazem menção ao ato sexual.
É de suma importância reiterar a definição de cultura para Arizpe mencionada
acima para compreender “O passinho dos maloka” como uma manifestação cultural, uma
vez que os movimentos da dança mostram-se particulares ao povo pernambucano, sendo
facilmente notado quando realizado por algum individuo de outra região do país.
6
Um dos destaques do “passinho dos maloka” refere-se a realização da dança por
grupos de pessoas, geralmente composto por homens, que se reúnem para gravar vídeos
dançando com intuito de postar nas redes sociais.
A viralização, através das mídias sociais, apresenta-se como uma das
singularidades mais marcantes dessa manifestação cultural, pois “é na internet que
circulam novas demandas do público, que antes só tinha acesso às músicas brega
executadas nas rádios ou nas ruas” (SOARES, 2017, p. 122).
Foi através da viralização que o Brega Funk e sua variação dançante, ganharam
visibilidade no cenário nacional, demonstrando a importância das novas mídias para
difusão de cultura. Segundo Ribeiro:
Viralizar um conteúdo não se resumiria à sorte de observar uma publicação
ultrapassar amplamente os padrões médios de leitura e compartilhamento,
alcançando milhões de usuários. A viralização seria uma propriedade dos
conteúdos formatados para as mídias digitais. Nesse sentido, a ideia de
viralização passou a permear todo o processo comunicativo. Desde a otimização do
site, que se volta para a sociabilidade virtual, à seleção de conteúdo, estilo e
packaging de distribuição (RIBEIRO, 2018, p. 40).
3. VESTUÁRIO E MODA SINGULAR
A moda pode ser entendida como uma forma de manifestação cultural, pois é
através do corpo e das vestimentas que o sujeito exterioriza a necessidade de se
manifestar e também de se diferenciar do resto das pessoas. Como afirma Maffesoli:
(…) As teatralidades corporais que sobrevivem dia após dia nos rituais dos
vestuários, ou se exprimem de uma maneira paroxística nas numerosas “paradas”
urbanas enfatizam uma “ordo amoris” (Scheler 1996:63), na qual predomina
um forte sentimento de pertencimento .O ideal comunitário tem necessidade
de símbolos exteriores para traduzir a força que, interiormente, o estrutura
(MAFFESOLI, 2005, p.20).
Dessa forma, é por meio do vestuário que os manifestantes exteriorizam a
realidade periférica em que vivem. De acordo com Fontanella:
(…) O brega geralmente se refere a tentativas que os indivíduos dos estratos
populares de utilizarem práticas de subjetivação típicas da elite. A condenação do
brega na verdade está ligada a uma resistência ao deslocamento de subalternos
que tentam sair do lugar que lhes é definido pela hegemonia do gosto
(FONTANELLA, 2005, p.105).
Os grupos que realizam o “Passinho dos Maloka” apresentam os cabelos
descoloridos, as roupas com cores vibrantes e os óculos espelhados.
7
FIGURA 1 – Grupo de dança de passinho
Fonte: José Britto (2019)
4. METODOLOGIA
A presente pesquisa de caráter teórico apresenta uma abordagem de cunho
qualitativo, em que estilos musicais como Brega, Funk e Brega Funk são conceituados
pelos autores Vianna, Araújo, Matta, Lemos e Medeiros. Além de apresentar os conceitos
de viralização e passinho dos maloka, pelo autor José Henrique Ribeiro. Além de utilizar “O
VICE”, plataforma de conteúdo digital, para tratar do tema “Brega Funk”.
O objeto de estudo foi o gênero musical Brega Funk, variação que surgiu na cidade
de Recife.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir do exposto ao longo deste trabalho notamos como a internet, sobretudo por
meio das redes sociais, facilita e potencializa o acesso aos inúmeros registros culturais do
país que não estão restritos apenas ao eixo sul-sudeste. Diversas vertentes da arte
exprimem e caracterizam os laços que formam a extensa rede da cultura brasileira. Uma
análise que se propõe crítica deve, acima de tudo, considerar a diversidade das
construções sociais brasileiras, o que, diga-se de passagem, implica realçar as diferenças
ocasionadas por arranjos econômico-sociais assimétricos e injustos. A despeito da
histórica desigualdade brasileira observamos o florescimento de manifestações artísticas
que a um só tempo transmitem e escancaram os Brasis que se entrechocam
continuamente.
8
REFERÊNCIAS
ALBUQUERQUE, GG. O nascimento do bregafunk é a história de sobrevicência dos
MCs do Recife. 26 abr. 2018. Disponível em: <https://www.vice.com/pt_br/article/vbxkk3/
historia-bregafunk-parte-1>. Acesso em: 16 out. 2019.
ARAÚJO, Paulo Cesar de. Eu não sou cachorro, não: Música popular cafona e ditadura
militar. Rio de Janeiro, São Paulo: Editora Record, 2002.
ARIZPE, Lourdes. Cultura, creatividad y gobernabilidad. Cidade do México. Buenos
Aires: Consejo Latinoamericano de Ciencias Sociales, 2001.
CONCEIÇÃO, Joseildo Henrique. O “passinho dos maloka” de Recife: Um grito
de identidade e visibilidade. 2019. Disponível em:
https://medium.com/neworder/o- passinho-dos-maloka-de-recife-um-grito-de-identidade-e-
visibilidade-acfa72d77198. Acesso em: 16 out. 2019.
FONTANELLA, Fernando Israel. A estética do Brega: Cultura de Consumo e o Corpo nas
Periferias do Recife. Orientador: Angela Freire Prysthon. 2005. 145 p. Dissertação
(Mestrado em Comunicação) - Universidade Federal de Pernambuco Centro de Artes E
comunicação, Recife, 2005. Disponível em:
<https://repositorio.ufpe.br/bitstream/123456789/3455/1/arquivo4711_1.pdf>. Acesso em:
9 set. 2019.
MAFFESOLI, Michel. No fundo das aparências. Rio de janeiro: Vozes, 1996.
MEDEIROS, Janaína. Funk carioca: crime ou cultura?: O som dá medo. E prazer.. São
Paulo: Terceiro Nome, 2006.
PEREIRA DE SÁ, S. Cultura Digital, Videoclipes e a Consolidação da Rede de
Música Brasileira Pop Periférica. São Paulo: XXVI Encontro Anual da Compós, 2017.
. The Numa Numa Dance e Gangnam Style: vídeos musicais no Youtube em
múltiplas mediações. São Paulo: Galáxia, núm. 28, diciembre, 2014, pp. 159-172.
RIBEIRO, Alexandre Alvarenga. O conceito sistêmico de viralização em redes sociais na
internet. Revista Nexi, São Paulo, 2018. Disponível em:
<https://docplayer.com.br/107490934-O-conceito-sistemico-de-viralizacao-em-redes-
sociais-na-internet.html>. Acesso em: 16 out. 2019.
. A estética do videoclipe. João Pessoa: Editora UFPB, 2014.
SOARES, Thiago. Ninguém é perfeito e a vida é assim: A música brega em
Pernambuco. Recife: Outros críticos, 2017.
VIANNA, Hermano. O Baile Funk Carioca: Festas e Estilos de Vida Metropolitanos.
1987. Dissertação (Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social) - Universidade
Federal do Rio de Janeiro, 1987. Disponível em:
<https://www.academia.edu/31952607/HERMANO_VIANNA_-
_O_BAILE_FUNK_CARIOCA.PDF.> Acesso em: 16 out. 2019.
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A difusão do Brega Funk nas mídias

  • 1. O BREGA FUNK COMO DIFUSÃO DA CULTURA POPULAR MIDIÁTICA DO NORDESTE Resumo O presente trabalho trata sobre a difusão midiática do universo cultural e estético do Brega Funk, estilo que movimenta o mercado musical e que mobiliza as populações periféricas do nordeste brasileiro. O movimento constitui-se a partir da mistura de dois gêneros musicais nascidos na periferia. Porém, o caráter popular não caracteriza o movimento como “vazio” de cultura, muito pelo contrário, demonstra uma riqueza cultural de duas regiões. Os objetivos gerais e específicos se formam através da discussão sobre a maneira como as novas tecnologias digitais têm sido importantes na forma de produzir e consumir cultura, uma vez que a difusão do Brega Funk rompeu barreiras geográficas e se instalou no cenário da música popular brasileira. Pode-se dizer, portanto, que o fenômeno Brega Funk demonstrou o poder das novas mídias sociais como difusão de manifestações culturais periféricas. Palavras-chave: Brega funk; Nordeste; Manifestação cultural; Periferia; Mídias sociais. ABSTRACT This paper deals with the media diffusion of Brega Funk's cultural and aesthetic universe, a style that moves the music market and mobilizes the peripheral populations of northeastern Brazil. The movement is formed from the mixture of two musical genres born in the periphery. However, the popular character does not characterize the movement as a “void” of culture, quite the opposite, demonstrates a cultural richness of two regions. The general and specific objectives are formed by discussing how new digital technologies have been important in the way of producing and consuming culture, since the spread of brega funk broke geographical barriers and settled in the Brazilian popular music scene. . It can be said, therefore, that the tacky funk phenomenon demonstrated the power of new social media as a diffusion of peripheral cultural manifestations. Keywords: Tacky funk; Northeast; Cultural manifestation; Periphery, Social media. Realização Apoio
  • 2. 2 1. INTRODUÇÃO Esta pesquisa trata sobre a difusão midiática do universo cultural e estético do Brega Funk do nordeste brasileiro. O estilo musical que movimenta o mercado brasileiro e que mobiliza as populações periféricas. Vale ressaltar a falta de material acadêmico e de pesquisas relacionadas ao movimento cultural e suas particularidades. Observa-se um interesse por parte da academia e até mesmo da imprensa por esse olhar criterioso e científico. Hermano Viana, dono da primeira pesquisa acadêmica sobre o Funk carioca, cita em seu trabalho que Era a primeira vez que os jornais fizeram alarde em torno do fenômeno Black Rio, em 1976, que alguém escrevia na imprensa sobre essas numerosas e gigantescas festas suburbanas em sua nova fase hip hop. Outros artigos, que se seguiram ao meu, chegaram a se referir ao baile funk da Estácio de Sá como minha “descoberta”. Esse termo denuncia a relação que a grande imprensa do Rio mantém com os subúrbios, considerados sempre um território inexplorado, selvagem, onde um antropólogo pode descobrir “tribos” desconhecidas, como se estivesse na floresta Amazônica (VIANNA,1987, p.11 e 12). O Brega Funk constitui-se a partir da mistura de dois gêneros musicais nascidos na periferia. Porém, o caráter popular não caracteriza o movimento como “vazio” de cultura, muito pelo contrário, demonstra uma riqueza cultural de duas regiões do Brasil concebidas por diferentes fenômenos, o que justifica a necessidade de uma análise: Sempre fiquei irritado ao ouvir políticos em campanha prometendo que vão “levar cultura para as favelas”, como se houvesse lugares sem cultura, terrenos baldios, vazios a serem preenchidos com o que vem de fora, uma dádiva sem reciprocidade, em caminho de mão única, sempre de dentro (o centro civilizador) para fora (as periferias iletradas, incultas, definidas apenas por sua “carência”). E nesse discurso o que está subentendido é que a cultura é o que se chamava de “alta cultura” (VIANNA, 2014, p.15). A primeira seção desse artigo tem a função de exibir a história do Brega Funk, através da conceituação individual dos dois estilos musicais que o formam. E as subseções tratam das características artísticas do movimento em questão. A segunda seção da pesquisa exibe como o Brega Funk se difundiu no mercado musical. O motivo que antecede a produção da pesquisa relaciona-se com a carência de informações e análises acerca desta manifestação cultural no meio acadêmico, argumentando assim o porquê de sua realização. Os objetivos gerais e específicos se formam através da discussão sobre a maneira como as novas tecnologias digitais têm sido importantes na forma de produzir e consumir cultura, uma vez que a difusão do Brega Funk rompeu barreiras geográficas e se instalou no cenário da música popular brasileira. Espera-se que esta pesquisa contribua socialmente, ao ratificar o Brega Funk como uma manifestação cultural, da população subalterna do Nordeste. E dessa forma, qualifique e demonstre a riqueza cultural da periferia de duas regiões do Brasil. 2. HISTÓRIA DO BREGA FUNK A fim de iniciar os estudos sobre o Brega Funk, é necessário conceituar separadamente os dois estilos musicais que o formam. Dessa forma, de acordo com o historiador Paulo César Araújo (ARAÚJO, 2000, p.18 e p. 20), a denominação “brega” surgiu a partir da década de 80, para nomear a nova vertente da música cafona, vocábulo que é definido pelo dicionário Aurélio como algo ‘‘de
  • 3. 3 péssimo gosto; sem elegância”. Os artistas conhecidos como “cafonas” surgiram no final da década 1960, preenchendo o espaço vazio deixado pelo movimento da jovem guarda. Os cafonas fizeram um grande sucesso na época, com músicas que seguiam a temática romântica e batiam recordes em execuções nas rádios, além de sempre aparecerem entre os discos mais vendidos do mercado fonográfico. Mesmo com todo esse sucesso entre a massa, Araújo salienta o desinteresse em tratar desse estilo musical na história da música brasileira: Sucesso de norte a sul do país, patrimônio afetivo de grandes contingentes das camadas populares, esta vertente da nossa canção romântica tem sido sistematicamente esquecida pela historiografia da música popular brasileira. Nas publicações referentes à década de 70, de maneira geral são focalizados nomes como de Chico Buarque, Elis Regina, Gilberto Gil, Milton Nascimento, e discos como “Sinal Fechado”, “Falso Brilhante”, “Clube da Esquina”, todos, sem dúvida, representativos, mas que na época eram consumidos por um segmento mais restrito de público, localizado na classe média. O que a maioria da população brasileira ouvia eram outras vozes e outros discos (ARAÚJO, 2002, p.15). O Brega fez um grande sucesso até a década de 90, após esse período o estilo musical foi desaparecendo da mídia de massa e foram surgindo no nordeste do país variações que fugiam do Brega ‘tradicional”, compostas por uma mistura da temática romântica do Brega com ritmos caribenhos, arranjos, aceleração de batidas e inclusão da instrumentalização advinda do Rock, como guitarras. Surgindo assim o “bregacalypso” e posteriormente o “tecnobrega”, variações paraenses que se espalharam pela cidade do Recife. O movimento Funk, caracterizado como uma manifestação cultural da periferia do Brasil, não possui origem brasileira. Foi nos Estados Unidos, a partir de derivações do estilo musical soul, mistura da música do Rhythm e Blues e da música gospel, que nasce o Funk (MEDEIROS, 2006, p.14). O termo “Funk” surgiu como uma “gíria” dos negros americanos, para se referir ao odor do corpo durante as relações sexuais, desde sua origem o Funk esteve ligado ao sexo e práticas sexuais. Foi em 1968 que a gíria perdeu esse caráter meramente sexual e passou a ser designado como orgulho negro. Segundo Hermano Vianna “tudo pode ser Funk: uma roupa, um bairro da cidade, o jeito de andar e uma maneira de tocar música, que ficou conhecido como Funk” (VIANNA,1988, p.20). No final dos anos 1970 o Funk começa a se difundir pelo Brasil. Inicialmente, os primeiros bailes foram realizados na Zona Sul da cidade do Rio de Janeiro. Após o crescimento da MPB em conjunto com a “‘ocupação’ do local nomeado de Canecão, recinto onde normalmente os bailes aconteciam, que o gênero musical se espalhou para o subúrbio através dos ‘Bailes da Pesada’” (VIANNA,1988, p.20). É importante ressaltar que até 1976 o Funk era um movimento realizado e consumido pela massa, sendo descoberto pela imprensa e consequentemente pela indústria fonográfica alguns anos depois. Com o intuito de imperar sobre o mercado do Funk, as gravadoras – em uma tentativa fracassada – investiram em artistas nacionais de soul, o que não agradou a massa (VIANNA, 1988, p.31), Com esse fracasso, passou-se a misturar músicas americanas tocadas em versões instrumentais, como os refrões cantados em português (SÁ, 2009, p.6). Até que surge a figura de Marlboro, ou melhor, DJ Marlboro, com letras em português fugindo assim do hibridismo americano e com o uso de baterias eletrônicas, dando início ao Funk como é conhecido na atualidade. 2.1 O Brega funk
  • 4. 4 Tomando como base os conceitos acerca dos estilos musicais citados anteriormente, entende-se que ambos possuem suas particularidades, mas os dois detém uma característica marcante, que diz muito sobre os respectivos gêneros musicais e os tornam classificáveis como manifestações culturais subalternas, que é o caráter periférico da sua produção e consumo. A fusão entre o Brega e o Funk ocorreu na cidade de Recife, quando os MC’s sentiram a necessidade de mudar a forma como realizavam os bailes, pois se fazia muita incitação à violência, relato presente na VICE1 , grupo de mídia global do mundo focada em jovens. Apesar de estarem imersos e de fato curtirem toda a cultura dos bailes de corredor, os MCs entendiam que a violência entre as galeras impossibilitava o futuro do funk. Não havia possibilidade de expansão, não era possível desenvolver uma carreira artística cantando apenas pra vizinhança. Leozinho foi um dos que perceberam esse momento e tentou cavar brechas. “‘Eu meio que não podia ir pra todos os cantos, porque eu era do lado de cá [Maranguape, bairro de Paulista] e tinha a rivalidade dos bairros’, diz ele, que chegou a ter um amigo baleado e morto ao seu lado” (VICE, 2018). Mesmo com a mudança no conteúdo dos Funks, a aceitação desse estilo ainda era baixa, e desse modo, os funkeiros não conseguiam fazer apresentações em casas de shows de Recife em virtude da má fama. Além do mais: Somando-se, enfim, à crescente disputa entre bairros e à violenta repressão policial, havia o problema de que o funk, com exceções, não rendia cachês aos MCs. O dinheiro estava nas casas de shows, mas os funkeiros, estigmatizados pela imagem violenta dos bailes de corredor, não conseguiam entrar no circuito (VICE, 2018). Dessa forma, no decorrer dos anos 2000 o “Brega-pop” estava fazendo um grande sucesso nas casas noturnas de Recife e foi nesse momento que MC Leozinho, a fim de adentrar no mercado Brega, decide lançar a música “Dois Corações”, que ainda seguia o estilo lento do Brega-Pop. Logo após o sucesso de “Dois Corações”, Leozinho iniciou a fusão entre o Brega e o Funk com a música “DNA”, harmonizando a instrumentação do Brega (baixo, guitarra, bateria) com a mixagem, tamborzão e aceleração do ritmo. Só que Leozinho e Serginho aproveitaram o embalo para propor uma nova levada. Em vez de tentar imitar a sonoridade das bandas românticas, os dois deram uma nova cara tanto ao funk quanto ao brega na música “DNA”. “Foi quando a gente começou a fazer o beat. Já tinha uma batida do bregafunk. Até então nóis não tinha dado o nome, mas já tinha essa batida”, afirma Leozinho (VICE, 2018). O Brega Funk fugiu da temática romântica, presente no brega-pop e foi incorporando o viés mais sexual, denominado de “putaria”, trazido pelo Funk, como descreve Mc Elloco, em entrevista ao VICE, além de já evidenciar o “passinho” como característica dançante desse movimento: Reginaldo Rossi foi a sofrência de um cara que gostava de uma mulher e ficava só insistindo naquela mulher, ficava cantando aquela voz de ‘tô sofrendo’. O bregafunk é o contrário, é como fosse a revolta do homem. O cara vai pra putaria ou vai pra outra mulher, é o passinho, ele tá na doidera e não quer nem saber. É mais pra cima, dançante, passinho (VICE, 2018). Vale ressaltar que o início da fama dessa junção entre os gêneros musicais ocorreu na cidade de Recife, ou seja, atingiu um público regional, não conseguindo alcançar um sucesso de escala nacional. Até que em janeiro de 2018 Paloma, popularmente conhecida como MC Loma e suas amigas Marielly e Mirella, as “gêmeas lacração”, 1 Globalmente, opera uma plataforma de conteúdo digital (o VICE.COM), uma branded content house, uma produtora de filmes, uma gravadora, uma revista e uma produtora de brandedexperience.
  • 5. 5 decidem publicar o clipe da música “Envolvimento” no Youtube. O clipe alcançou mais de 40 milhões de visualizações e conseguiu colocar o Brega Funk no topo das playlists “As 50 Mais Ouvidas do Brasil” e “As 50 Virais do Mundo”. As músicas, em sua maioria, apresentam letras com um viés erótico, em que sexo é tratado sem pudor e sem idealizações, como um ato que deve proporcionar prazer de forma rápida e intensa. Além disso, as músicas afirmam e reafirmam a importância de um envolvimento sexual sem nenhum tipo de compromisso, como aparece no trecho “… Mas eu não min apego porque sou da putaria, a minha mente é sem sentimento, só fico uma vez se tu gamar eu só lamento…” da música “Vai Sentando” dos MC’s, Balakinha Biel e Roger. Na maioria das canções, os fragmentos escritos pelos MC’s nordestinos são combinados com algum Funk preexistente, por exemplo, na canção “Ritmo Contagiante”, que faz uso da música “Evolui”, do funkeiro carioca Kevin o Chris, mas também possui trechos produzido pelo MC nordestino Felipe Original. Mesmo com essa junção, o produto final “Brega Funk” se distingue dos sons eletrônicos programados, presente na maioria dos Funks, como afirma um dos grandes nomes do Brega Funk, Dadá Boladão, em entrevista ao VICE (2018): “O funk é mais aquela batida seca, com teclado e um pontinho. É mais simples. O bregafunk já é mais acelerado e com mais instrumentos. É uma mistura de um monte de ritmo: tem funk, axé, misturado com brega, forró e pagode”. 2.2 Dança bregueira As manifestações populares permitem a compreensão daquilo que é denominado de cultura, pois elas não simbolizam só uma simples expressão regional, mas também representam as características e os aspectos de uma determinada realidade social, assim a cultura se define como todo el complejo de rasgos espirituales, materiales, intelectuales y emocionales que destinguen a una sociedad o grupo social. No solo incluye las artes e las letras, sino también los modos de vida, los derechos fundamentales del ser humano, los sistemas de valores, las tradiciones y las creencias (ARIZPE, 2009, p. 40). A dança Bregueira é a representação dançante da manifestação cultural “Brega Funk” e está intrínseca nessa forma de manifestação as particularidades sociais e culturais de um povo, mais especificamente da população da cidade de Recife. O que denomina-se de dança bregueira, é popularmente conhecido como “passinho dos maloka”, variante dançante do Brega Funk, a qual ganhou mais visibilidade após o sucesso do hit “Envolvimento” e passou a aparecer na maioria dos lançamentos do gênero Brega Funk. De acordo com o jornalista Joseildo Henrique (2009), o termo “Maloka” é uma variação da termologia “maloqueiro”, “utilizado de forma pejorativa para referir-se aos jovens de periferia envolvidos em criminalidade”. A dança constitui-se a partir de giros rápidos, balanceio dos ombros e “sarradas” pélvicas, com a movimentação das mãos e dos braços, que fazem menção ao ato sexual. É de suma importância reiterar a definição de cultura para Arizpe mencionada acima para compreender “O passinho dos maloka” como uma manifestação cultural, uma vez que os movimentos da dança mostram-se particulares ao povo pernambucano, sendo facilmente notado quando realizado por algum individuo de outra região do país.
  • 6. 6 Um dos destaques do “passinho dos maloka” refere-se a realização da dança por grupos de pessoas, geralmente composto por homens, que se reúnem para gravar vídeos dançando com intuito de postar nas redes sociais. A viralização, através das mídias sociais, apresenta-se como uma das singularidades mais marcantes dessa manifestação cultural, pois “é na internet que circulam novas demandas do público, que antes só tinha acesso às músicas brega executadas nas rádios ou nas ruas” (SOARES, 2017, p. 122). Foi através da viralização que o Brega Funk e sua variação dançante, ganharam visibilidade no cenário nacional, demonstrando a importância das novas mídias para difusão de cultura. Segundo Ribeiro: Viralizar um conteúdo não se resumiria à sorte de observar uma publicação ultrapassar amplamente os padrões médios de leitura e compartilhamento, alcançando milhões de usuários. A viralização seria uma propriedade dos conteúdos formatados para as mídias digitais. Nesse sentido, a ideia de viralização passou a permear todo o processo comunicativo. Desde a otimização do site, que se volta para a sociabilidade virtual, à seleção de conteúdo, estilo e packaging de distribuição (RIBEIRO, 2018, p. 40). 3. VESTUÁRIO E MODA SINGULAR A moda pode ser entendida como uma forma de manifestação cultural, pois é através do corpo e das vestimentas que o sujeito exterioriza a necessidade de se manifestar e também de se diferenciar do resto das pessoas. Como afirma Maffesoli: (…) As teatralidades corporais que sobrevivem dia após dia nos rituais dos vestuários, ou se exprimem de uma maneira paroxística nas numerosas “paradas” urbanas enfatizam uma “ordo amoris” (Scheler 1996:63), na qual predomina um forte sentimento de pertencimento .O ideal comunitário tem necessidade de símbolos exteriores para traduzir a força que, interiormente, o estrutura (MAFFESOLI, 2005, p.20). Dessa forma, é por meio do vestuário que os manifestantes exteriorizam a realidade periférica em que vivem. De acordo com Fontanella: (…) O brega geralmente se refere a tentativas que os indivíduos dos estratos populares de utilizarem práticas de subjetivação típicas da elite. A condenação do brega na verdade está ligada a uma resistência ao deslocamento de subalternos que tentam sair do lugar que lhes é definido pela hegemonia do gosto (FONTANELLA, 2005, p.105). Os grupos que realizam o “Passinho dos Maloka” apresentam os cabelos descoloridos, as roupas com cores vibrantes e os óculos espelhados.
  • 7. 7 FIGURA 1 – Grupo de dança de passinho Fonte: José Britto (2019) 4. METODOLOGIA A presente pesquisa de caráter teórico apresenta uma abordagem de cunho qualitativo, em que estilos musicais como Brega, Funk e Brega Funk são conceituados pelos autores Vianna, Araújo, Matta, Lemos e Medeiros. Além de apresentar os conceitos de viralização e passinho dos maloka, pelo autor José Henrique Ribeiro. Além de utilizar “O VICE”, plataforma de conteúdo digital, para tratar do tema “Brega Funk”. O objeto de estudo foi o gênero musical Brega Funk, variação que surgiu na cidade de Recife. 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS A partir do exposto ao longo deste trabalho notamos como a internet, sobretudo por meio das redes sociais, facilita e potencializa o acesso aos inúmeros registros culturais do país que não estão restritos apenas ao eixo sul-sudeste. Diversas vertentes da arte exprimem e caracterizam os laços que formam a extensa rede da cultura brasileira. Uma análise que se propõe crítica deve, acima de tudo, considerar a diversidade das construções sociais brasileiras, o que, diga-se de passagem, implica realçar as diferenças ocasionadas por arranjos econômico-sociais assimétricos e injustos. A despeito da histórica desigualdade brasileira observamos o florescimento de manifestações artísticas que a um só tempo transmitem e escancaram os Brasis que se entrechocam continuamente.
  • 8. 8 REFERÊNCIAS ALBUQUERQUE, GG. O nascimento do bregafunk é a história de sobrevicência dos MCs do Recife. 26 abr. 2018. Disponível em: <https://www.vice.com/pt_br/article/vbxkk3/ historia-bregafunk-parte-1>. Acesso em: 16 out. 2019. ARAÚJO, Paulo Cesar de. Eu não sou cachorro, não: Música popular cafona e ditadura militar. Rio de Janeiro, São Paulo: Editora Record, 2002. ARIZPE, Lourdes. Cultura, creatividad y gobernabilidad. Cidade do México. Buenos Aires: Consejo Latinoamericano de Ciencias Sociales, 2001. CONCEIÇÃO, Joseildo Henrique. O “passinho dos maloka” de Recife: Um grito de identidade e visibilidade. 2019. Disponível em: https://medium.com/neworder/o- passinho-dos-maloka-de-recife-um-grito-de-identidade-e- visibilidade-acfa72d77198. Acesso em: 16 out. 2019. FONTANELLA, Fernando Israel. A estética do Brega: Cultura de Consumo e o Corpo nas Periferias do Recife. Orientador: Angela Freire Prysthon. 2005. 145 p. Dissertação (Mestrado em Comunicação) - Universidade Federal de Pernambuco Centro de Artes E comunicação, Recife, 2005. Disponível em: <https://repositorio.ufpe.br/bitstream/123456789/3455/1/arquivo4711_1.pdf>. Acesso em: 9 set. 2019. MAFFESOLI, Michel. No fundo das aparências. Rio de janeiro: Vozes, 1996. MEDEIROS, Janaína. Funk carioca: crime ou cultura?: O som dá medo. E prazer.. São Paulo: Terceiro Nome, 2006. PEREIRA DE SÁ, S. Cultura Digital, Videoclipes e a Consolidação da Rede de Música Brasileira Pop Periférica. São Paulo: XXVI Encontro Anual da Compós, 2017. . The Numa Numa Dance e Gangnam Style: vídeos musicais no Youtube em múltiplas mediações. São Paulo: Galáxia, núm. 28, diciembre, 2014, pp. 159-172. RIBEIRO, Alexandre Alvarenga. O conceito sistêmico de viralização em redes sociais na internet. Revista Nexi, São Paulo, 2018. Disponível em: <https://docplayer.com.br/107490934-O-conceito-sistemico-de-viralizacao-em-redes- sociais-na-internet.html>. Acesso em: 16 out. 2019. . A estética do videoclipe. João Pessoa: Editora UFPB, 2014. SOARES, Thiago. Ninguém é perfeito e a vida é assim: A música brega em Pernambuco. Recife: Outros críticos, 2017. VIANNA, Hermano. O Baile Funk Carioca: Festas e Estilos de Vida Metropolitanos. 1987. Dissertação (Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social) - Universidade Federal do Rio de Janeiro, 1987. Disponível em: <https://www.academia.edu/31952607/HERMANO_VIANNA_- _O_BAILE_FUNK_CARIOCA.PDF.> Acesso em: 16 out. 2019.
  • 9. 9