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ALBERTO KORDA / CP MEMÓRIA
Coordenador Editorial: Juremir Machado da Silva | juremir@correiodopovo.com.br Editor: Luiz Gonzaga Lopes | lgferreira@correiodopovo.com.br
N
ão há como não se en-
volver com as coisas
de Cuba quando se an-
da de um lado para ou-
tro do país com um guia turísti-
co cheio de prosa, com o nome
de Che Lenin lá na certidão e na
carteira de identidade. O nome
é uma homenagem a Che Gueva-
ra e a Vladimir Ilyich Ulyanov,
conhecido pelo pseudônimo Le-
nin, revolucionário comunista e
político que serviu como chefe
de governo da República Russa
de 1917 a 1918. Ele sabe tudo so-
bre o argentino Che Guevara,
conta histórias, romances, exal-
ta a sua altivez e a sua bravura
e diz que esta paixão pelo herói
nacional de Cuba veio do pai,
consumada na hora do seu nas-
cimento, quando recebeu parte
do nome de um dos guerrilhei-
ros mais conhecidos da revolu-
ção cubana vitoriosa em 1959.
Na cidade de Santa Clara, on-
de há um memorial e um monu-
mento a Che Guevara, a emoção
de Che Lenin atinge o auge, pas-
sando para o séquito de turistas
de várias partes do mundo o
seu fervor e a sua idolatria ao
revolucionário e amigo número
um de Fidel Castro. Ali, ele con-
ta histórias e fantasia outras
tantas sobre cada arma, cada
roupa e cada detalhe do que fez
o seu ídolo Che Guevara.
Quando se viaja por Cuba, de
Havana a Santiago, de Matan-
zas a Santa Clara, de Trinidad a
Cienfuegos, de Holguín a Vara-
dero ou de Guantánamo a
Viñales, ou ainda à mítica Sier-
ra Maestra, sempre se está an-
dando com Che Guevara. Ele é
onipresente em tudo. Não há
cubano que não o admire e o
ame com uma paixão desenfrea-
da e grandiosa. Não é por nada
que ele é — ao lado de Fidel — o
produto turístico mais consumi-
do pelos turistas. Chaveiros, pos-
tais, ímãs de geladeira, calendá-
rios, CDs, pôsteres, livros e uma
infinidade gigantesca de quinqui-
lharias estão por todos os lados
e produzem milhões de dólares
para os cofres estatais. Os suve-
nires são, de certa forma, irre-
sistíveis e não há quem não com-
pre por mais que possa ter algu-
ma restrição à biografia do he-
rói cubano, morto há 50 anos na
Bolívia, quando estava envolvido
em outra revolução.
De Cuba, Che viajou pelo mun-
do alguns anos depois da revolu-
ção e de exercer vários cargos
no governo de Fidel. A sua ima-
gem viajou junto e virou ícone de
gerações de jovens dos anos 60,
70, 80 e um pouco mais adiante,
sedenta por justiça social, por
mais equilíbrio econômico entre
as pessoas e entre os povos e pe-
lo fim de ditaduras que oprimiam
e escravizavam nações. Morreu
quando tentava outra revolução,
mas a sua imagem e as suas fo-
tos definitivamente ficaram na
história por todos os lados do
mundo, associadas a um objetivo
maior: o livre transitar das ideias
e o fim de qualquer opressão.
Nesta edição do Caderno de
Sábado, o jornalista Marco Auré-
lio Villalobos, da Ong Pensamen-
to.org, teve seus 30 minutos de
entrevista com um dos irmãos
mais novos de Che, Juan Martin
Guevara, em Buenos Aires. “Na
minha casa, nunca houve espa-
ço para ideias conservadoras.
Era uma casa muito politizada”,
diz Juan, em trecho da entrevis-
ta, para humanizar e fraternizar
o mito. Juremir Machado da Sil-
va entrevistou Flávio Tavares, o
jornalista gaúcho que conheceu
Che, em Montevidéu, em 1961.
Também nesta edição, uma en-
trevista com o Nobel da Paz de
1980, Adolfo Pérez Esquivel.
HISTÓRIA
50 ANOS SEM CHE GUEVARA
Argentino,motoqueiro,inquietoeidealista,oguerrilheiroqueajudou
FidelCastroatirarFulgencioBatistadopodercubanoem1959,tornou-seuma
lenda,umautopia,umíconedegeraçõesdejovensquequeriamummundo
maisjusto.Portudoisso,esterevolucionário,mortoem9deoutubrode1967,
virouumilustrehomemdahistória.OCSlembraohomemeomito
EUGENIO BORTOLON
CScaderno de sábado
CORREIO DO POVO SÁBADO,7 de outubro de 2017
ROBERTO SANTOS / DIVULGAÇÃO / CP MEMÓRIA
JUREMIR MACHADO DA SILVA ENTREVISTA FLÁVIO TAVARES
‘Chedesmantelavaoadversáriosemagredir’
Jornalista e escritor
consagrado, o gaúcho
Flávio Tavares, nascido
em Lajeado em 1934,
costuma falar do que
viveu. A ditadura militar
implantada no Brasil em
1964 faria dele um preso,
umtorturadoeumexilado.
Em 1969, como um dos
prisioneirostrocadospelo
embaixadornorte-ameri-
cano sequestrado Char-
lesBurkeElbrick,foiviver
no México. Um dos
encontrosque marcaram
a sua vida de jornalista
aconteceu em 1961, em
Montevidéu,ondeconhe-
ceu Ernesto Che Gueva-
ra. Passados 50 anos da
execução do mítico
revolucionário argenti-
no, morto na Bolívia, em
9 de outubro de 1967,
Flávio Tavares publica
um belo livro intitulado
“As três mortes de Che
Guevara: 1. O disparo em
Cuba2. A agoniano Congo
3. A execução na Bolívia”
(L&PM) no qual analisa a
importância do
personagem e as razões
de ter saído de Cuba para
continuar a busca da sua
utopiaemcondiçõesque
nãopoderiamresultarem
êxito.Nestaentrevistaao
CadernodeSábado,Flávio
Tavaresreafirma asua ad-
miraçãoporumhomem
que para alguns
encarna o sonho de
emancipação total do
homem e a eterna e
justificada busca da
utopia e para outros não
passa de umcomunista
sanguinário.
CADERNODESÁBADO
Tavares sobre o que marcou no encontro com Che: ‘Mais do que tudo, a capacidade de ouvir e o estilo e tom do que dizia’
C
aderno de Sábado –
Eis um livro elegante,
minucioso e amparado
na leitura de outras
obras e em encontros inesque-
cíveis: com o próprio Che Gue-
vara, em Punta del Este, com
a mãe dele, em Porto Alegre,
e com o ex-guerrilheiro Dariel
Alarcón Ramírez, em Paris.
Debulhadas essas preciosas
referências e lembranças,
quem foi Che? Um idealista?
Um aventureiro? O verdadeiro
revolucionário?
Flávio Tavares – O ser hu-
mano é sempre uma soma e Che
encarnou as três situações, sem
que uma exclua a outra. Foi
idealista por ter uma meta, um
ideal e, com ele, forjou um novo
mundo. Um aventureiro por ter
vivido a aventura maior de en-
tregar a própria vida. A soma
disso faz dele um revolucionário
que se rebela contra um mundo
que não distingue o justo do in-
justo. Jean Paul Sartre dizia
que o Che foi “o mais completo
ser humano da nossa época”.
CS – Che morreu três ve-
zes? Por quê? Fidel foi o pri-
meiro a matá-lo?
Tavares – Sim, três vezes
morreu. Primeiro, ao não poder
levar adiante a revolução do “ho-
mem novo” numa ilha pequena,
pobre e monocultora. Enxotado
de Cuba, foi ao Congo em busca
da utopia e saiu por pressão
dos soviéticos, que viam nele
um adepto do modelo socialista
chinês. Chegou à Bolívia às pres-
sas, guiado por informações fal-
sas da direção comunista bolivia-
na, fiel a Moscou. Fidel não o
matou, mas o sacrificou, o en-
viou ao patíbulo para assegurar
o apoio dos russos.
CS – Muitos críticos do Che
tentam apresentá-lo como um
homem impiedoso, irascível e
até preconceituoso com ho-
mossexuais. No seu livro, ele
é um ser irrequieto, um tanto
desiludido com os rumos da
revolução cubana e disposto a
tudo para prosseguir sua luta.
Che foi um revolucionário frio
ou vítima da sua utopia?
Tavares – Ele mesmo se defi-
niu naquela frase “há que ser
duro, mas sem perder a ternura
jamais”. Impiedosa é a guerra,
mais do que o guerreiro. Um so-
brevivente da guerrilha me con-
tou como ele era irascível e
acho que a asma colaborava nis-
so. Quanto ao homossexualis-
mo, na época o preconceito era
comum até entre os homosse-
xuais. O Che talvez os evitasse,
mas não os perseguiu. Se fosse
um homem frio, teria eliminado
os três majores que capturou na
Bolívia. Conheci um deles, que
se tornou “guevarista” anos
após. Em plena Guerra Fria,
Che foi vítima da disputa entre
China e Rússia, gigantes comu-
nistas da época e, assim, foi víti-
ma da utopia.
CS – Che morreu por estar
mais perto da China maoísta
que da União Soviética stali-
nista?
Tavares – Em termos políti-
cos, sim. Os dois governos dispu-
tavam o controle do “movimento
comunista internacional”. A Chi-
na era “Terceiro Mundo”, como
a América Latina, e serviu de es-
pelho ou modelo a Guevara. Mas
a prepotência dos Estados Uni-
dos tinha feito de Fidel um ser-
vo da superpotência soviética.
CS – Por que mesmo era de-
sinteressante para a URSS
apoiar mais uma revolução co-
munista na América Latina?
Tavares – Na “convivência”
da Guerra Fria, a área de in-
fluência da URSS era a Europa
Oriental, a dos Estados Unidos
era a América Latina. Os comu-
nistas cubanos só apoiaram Fi-
del ao final da luta. O Kremlin
ganhou Cuba “de presente”
quando a reforma agrária expro-
priou a norte-americana United
Fruit, mas já não se interessava
em derrubar o capitalismo. Que-
ria apenas comerciar, comprar
e vender.
CS – Como entender que
um revolucionário experiente
tenha cometido tantos erros
na sua luta no Congo e quase
os mesmos erros na Bolívia,
país onde se instalou às pres-
sas e no lugar inadequado?
Tavares – Esta pergunta ex-
plica, por si só, tudo o que conto
no livro. Sob pressão, Che sai de
Cuba às pressas, sem que os
guerrilheiros do Congo soubes-
sem que era ele, e lá foi sempre
um clandestino. Depois, apren-
deu quéchua para ir à Bolívia,
mas – por indicação do líder co-
munista boliviano – foi dar na
zona de idioma guarani e híper
conservadora, com armas ve-
lhas e meia dúzia de bolivianos.
E sem qualquer contato com a
população. Quem está em fuga e
sob pressão, improvisa e fanta-
sia tudo para fugir à dor da rea-
lidade.
CS – Passados 50 anos da
morte do Che, por que ele vive
tão intensamente no imaginá-
rio de tantas pessoas pelo
mundo?
Tavares – Pelo sacrifício, pe-
lo gesto de se imolar
por uma causa sem
nada pretender para
si, além da causa. Al-
guém pode imaginar
Che Guevara trôpego,
com gota, caminhan-
do com dificuldade,
tratado com antibióti-
cos e morrendo na ca-
ma, velho e alquebra-
do? Teria ele o respei-
to que, hoje, tem até
dos adversários?
CS – O que o marcou mais
no seu encontro com Che em
1961?
Tavares – Mais do que tudo,
a capacidade de ouvir e o estilo
e tom do que dizia. Profundo e
simples, com uma ironia didáti-
ca que convencia por um lado e,
por outro, desmantelava o adver-
sário sem agredir. As recepcio-
nistas da conferência, todas da
oligarquia uruguaia, literalmen-
te se apaixonaram por ele, a co-
meçar pela elegante displicência
da túnica guerrilheira numa reu-
nião de engravatados ministros.
CS – O tempo das revolu-
ções acabou definitivamente?
Tavares – Hoje, na sociedade
de consumo a grande revolução
é ter o celular de última gera-
ção, o computador e o carro
mais moderno e extravagante. A
revolução passou a ser isso e a
utopia é ter tudo isso. Os gran-
des valores desapareceram da
política e do dia a dia. Pensar e
raciocinar dá preguiça e quere-
mos ser robô para que a máqui-
na pense por nós.
CS – Che é um persona-
gem que ainda lhe parece ad-
mirável?
Tavares – Cada vez mais ad-
mirável, até na ingênua boa-fé
com que acreditou em mentiras
ou ilusões. É claro que teve er-
ros, e muitos. Perfeitos são ape-
nas os anjos, que – se existem –
não são terrenais e vivem no Pa-
raíso, muito longe daqui.
CS – Che Guevera morreu
em 8 ou 9 de outubro de 1967?
Tavares – A data EXATA da
execução é 9 de Outubro, ainda
que haja discussões sobre isto,
pois o dia 8 ficou marcado co-
mo tal. Dia 8 é a data do feri-
mento e captura em 1967. Anos
mais tarde, o cubano agente da
CIA Félix Rodríguez colocou os
pontos nos ii ao explicar deta-
lhes que os generais bolivianos
escondiam, como a execução
do prisioneiro. Até Rodríguez
mostrar as fotos do quase irre-
conhecível Che, de mãos atadas
e preso, ele “havia morrido em
combate”.
SÁBADO,7 de outubro de 2017
RODRIGO VILLALOBOS / PENSAMENTO / CP
MEMÓRIAS DE UM IRMÃO
Mortedeumhomem,nascimentodeummito
EmBuenosAires,o
irmãodeChefalade
acertoseerrosdo
comandanteedoseu
ladohumanoefamiliar
CADERNODESÁBADO
MARCO ANTÔNIO VILLALOBOS *
De Buenos Aires | Argentina
E
rnesto ou Che? Irmão ou
Comandante? Cinquenta
anos após a morte do
símbolo que desperta,
até hoje, amor e ódio, fomos até
Buenos Aires para descobrir co-
mo era a relação de um revolu-
cionário com a sua família. “Ele
como o irmão, 15 anos mais ve-
lho, não era daqueles que que-
ria ser como teu pai ou do tipo
que fica o tempo inteiro te con-
trolando. Pelo contrário. Era um
companheiro, um amigo com
quem se divertir”. A frase pode-
ria definir apenas uma forma de
relação existente em várias famí-
lias, a diferença é que não esta-
mos falando de um irmão qual-
quer. O depoimento de Juan
Martin é sobre ninguém menos
do que um símbolo para milhões
de pessoas, por várias gerações,
nos quatro cantos do mundo: o
mítico Ernesto Guevara de la
Serna, o Comandante Che. O
simpático e falante Juan nos re-
cebe em seu pequeno escritório
no coração de Buenos Aires, na
esquina das avenidas Corrien-
tes e 9 de Julho. Com 74 anos,
ele é o mais novo de cinco ir-
mãos (além de mais três do se-
gundo casamento do pai). Logo
no início da conversa explica
que ser irmão de um persona-
gem que povoa a imaginação de
todos os românticos que so-
nham com um mundo mais
igual, mas que ao mesmo tem-
po é motivo de ódio para quem
prefere manter as desigualda-
des, não é ser o irmão de qual-
quer um.
“Ser irmão do Che é sempre
chamar atenção”. Isto há muito
tempo faz parte de seu dia a
dia. “Quando me apresentam pa-
ra alguém e anunciam que sou
irmão do Che vem a surpresa
acompanhada da indefectível
pergunta: mas irmão de pai e
mãe?” Juan conta que em segui-
da muitos ainda ficam em dúvi-
da e fazem uma espécie de teste
visual o revisando de cima a bai-
xo, muitas vezes, “pensando,
acho eu: mas ele não pode ser ir-
mão do Che”. O revolucionário
deve muito da sua forma de pen-
sar e agir em função das circuns-
tâncias de sua família, somadas
ao contexto internacional de um
mundo onde a Guerra Fria se
mostrava cada dia mais quente.
“Nossa família era muito ativa
politicamente do ponto de vista
da discussão, da abertura e de
estar discutindo sempre o que
estava acontecendo em todo o
cenário mundial”, destaca Juan.
A América Latina garroteada
por ditaduras ou, no mínimo,
por regimes que flertavam aber-
tamente com a falta de liberda-
de, cobrou um alto preço para
quem levava na assinatura o so-
brenome Guevara. Não são pou-
cas e muito menos agradáveis
as lembranças de Juan. Na Ar-
gentina, depois da década de 30,
virou moda a predominância de
governos que nem de perto pode-
riam ser considerados democrá-
ticos. “Para nós as coisas piora-
ram a partir do momento em
que o Che se envolveu na Revo-
lução Cubana”. Na década de 60
a residência dos Guevara, em
Buenos Aires, sofreu atentados
com bombas e também foi metra-
lhada. “Na minha casa nunca
houve espaço para ideias conser-
vadoras. Era uma casa muito po-
litizada, mas não por um parti-
do especificamente”. Exemplos
de luta são fáceis de encontrar
entre os Guevara. Um tio lutou
em uma Brigada Internacional a
favor da República e contra o
fascismo na Guerra Civil Espa-
nhola; a mãe sempre foi solidá-
ria com as lutas populares; o
pai, um tipo que rompia com os
esquemas tradicionais da época;
o irmão Roberto foi preso no Mé-
xico, e Juan, por mais de oito
anos, foi o prisioneiro número
449 da ditadura argentina.
A vitória dos “barbudos” com
a fuga do ditador cubano
Fulgêncio Batista para os Esta-
dos Unidos no primeiro dia de
1959 proporcionou o tão espera-
do encontro de toda família em
sete anos. Juan não via o irmão
desde 1953, quando ele estava
entre a Guatemala e o México
em mais uma de suas frequen-
tes viagens. Em Havana, onde o
povo comemorava o final de
uma ditadura que deixou pelo
menos 20 mil mortos, percebeu
uma grande mudança. “As lutas
revolucionárias dele fizeram
com que eu deixasse um irmão
e encontrasse um comandante”.
Juan tinha que tratar Che como
comandante, mas no pouco tem-
po que conseguiam ficar sozi-
nhos a conversa era com o Er-
nesto. “Era um bate-papo com
muita alegria quando ele me per-
guntava coisas de Buenos Aires
e mostrava também sua preocu-
pação sobre o que eu gostaria
de fazer de minha vida”.
O sorriso se abre, e nem os
58 anos que separam 1959 de
2017 conseguem diminuir o bri-
lho nos olhos de Juan ao lem-
brar, como se fosse um filme, da-
quele momento único vivido pe-
los cubanos. Estavam em um ho-
tel que se chamava Hilton e ago-
ra é Habana Libre. O térreo era
como se fosse um quartel gene-
ral dos revolucionários: todos ali
com seus uniformes esfarrapa-
dos pelas lutas que enfrentaram
na serra. De repente passa por
ali Errol Flynn, um dos grandes
artistas da história do cinema,
lado a lado com um grupo de
guerrilheiros. “Eu acho que ele
não estava entendendo nada”,
lembra Juan. Mas o tempo de
sorrir durou pouco para família
e mais uma vez o Che cometeu
o que era avaliado como um er-
ro por seu companheiro de luta,
Fidel Castro. Juan reforça que o
cubano sempre dizia que “Gue-
vara não deveria meter-se de
peito aberto em tudo.” Passados
50 anos de sua morte o que pa-
ra Fidel foi uma falha, para o ir-
mão do Che não deixa de ser
uma virtude. “Os dirigentes de-
vem se envolver diretamente na
luta, meter os peitos. Quem man-
da nos outros são os políticos.
Estar na frente, como ele sem-
pre esteve, também é saber que
pode morrer e foi isto que acon-
teceu”. Para Juan, o erro cometi-
do por Guevara foi ter confiado
no Partido Comunista Boliviano
que, por estar seguindo a linha
política e estratégica utilizada
na época pela União Soviética,
acabou traindo o revolucionário
argentino.
Um dia era verdade
Falta de apuração adequada,
estratégia para vender jornal e
até mesmo desejo de uma im-
prensa cuja linha editorial se
misturava com os ideais das di-
taduras que vigoravam na épo-
ca. Qualquer que seja o motivo,
o certo é que se dependesse de
parte da mídia, Ernesto Che
Guevara seria o homem que
morreu várias vezes. Juan desta-
ca que as notícias eram as mais
alarmantes possíveis: “todo gru-
po aniquilado e entre eles sem-
pre um médico argentino”. Mas
no dia 9 de outubro de 1967, a
informação era correta. Depois
ter sido capturado pelos Ran-
gers, grupo de elite do exército
boliviano, treinado e assessora-
do por americanos, no dia ante-
rior, durante um combate no vi-
larejo de La Higuera, Guevara
foi executado com uma rajada
de metralhadora no interior de
uma pequena escola local. A or-
dem partiu do próprio presiden-
te da Bolívia, general René Bar-
rientos.
Juan lembra como se fosse
hoje. “Dia 10 eu estava saindo
bem cedo para o trabalho quan-
do chegou a notícia e junto com
ela as fotos. Eu logo reconheci
que era ele”. Por ser o irmão
mais velho, e também pela condi-
ção de advogado, Roberto Gue-
vara viajou para o reconhecer e
providenciar a volta do corpo pa-
ra Argentina. A viagem não sur-
tiu o efeito desejado. O chefe mi-
litar local disse que não havia
corpo e que a solução só pode-
ria ser dada pelas autoridades
em La Paz. Na capital, Roberto
recebeu a informação que o cor-
po já estava enterrado. Juan
conta que o irmão respondeu
que se o corpo estava enterrado
e ele não pudesse vê-lo então
consideraria que não era o Che.
Qualquer dúvida que ainda pu-
desse existir acabou quando os
cubanos confirmaram a morte.
Guevara foi enterrado junto com
outros sete guerrilheiros em
uma cova anônima ao lado da
pista do pequeno aeroporto de
Vallegrande. Durante 30 anos o
local de seu sepultamento foi
mantido sob o mais absoluto si-
gilo, que acabou sendo quebra-
do por um general reformado do
exército boliviano. Após escava-
ções, peritos argentinos e cuba-
nos encontraram os restos mor-
tais que hoje estão enterrados
em um mausoléu na cidade
cubana de Santa Clara, onde pe-
la última vez os dois amigos re-
volucionários Fidel e Che se en-
contraram em 1966.
Missão cumprida
As paredes do escritório de
Juan cobertas com fotos e carta-
zes do irmão são a prova contun-
dente de sua admiração, comum
a milhões de pessoas em todo
mundo. A relação familiar certa-
mente garante uma situação
muito especial: “para mim, Er-
nesto é meu irmão de sangue.
Che é meu companheiro de
ideias.” O legado ele define co-
mo as melhores alternativas que
surgem a partir do pensamento
e da forma de agir do irmão.
“Em 63 ele disse: somos mar-
xistas porque é o mais próximo
que se chega hoje em análise so-
cial e política.” Juan defende
que também as novas gerações
devem pensar no marxismo, no
leninismo e no guevarismo co-
mo forma de alcançar o que
seu irmão definia como o Ho-
mem Novo, um revolucionário
que deve trabalhar toda sua vi-
da em nome do bem estar so-
cial. Como guevarista, deseja:
“O feudalismo esperou mil anos
para ser derrubado pelas revo-
luções burguesas. A esperança
é que não tenhamos que espe-
rar até 2600 para que termine
este sistema de domínio globali-
zado”. O caminho foi apresenta-
do pelo Che que segundo Juan
“se definiu marxista, leninista e
só não se declarou guevarista
apenas por um detalhe. Ele era
Che Guevara”.
* Jornalista da Pensamento.org
Juan Guevara: ‘Na minha casa nunca houve espaço para ideias conservadoras. Era uma casa muito politizada’
CORREIO DO POVO

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  • 1. ALBERTO KORDA / CP MEMÓRIA Coordenador Editorial: Juremir Machado da Silva | juremir@correiodopovo.com.br Editor: Luiz Gonzaga Lopes | lgferreira@correiodopovo.com.br N ão há como não se en- volver com as coisas de Cuba quando se an- da de um lado para ou- tro do país com um guia turísti- co cheio de prosa, com o nome de Che Lenin lá na certidão e na carteira de identidade. O nome é uma homenagem a Che Gueva- ra e a Vladimir Ilyich Ulyanov, conhecido pelo pseudônimo Le- nin, revolucionário comunista e político que serviu como chefe de governo da República Russa de 1917 a 1918. Ele sabe tudo so- bre o argentino Che Guevara, conta histórias, romances, exal- ta a sua altivez e a sua bravura e diz que esta paixão pelo herói nacional de Cuba veio do pai, consumada na hora do seu nas- cimento, quando recebeu parte do nome de um dos guerrilhei- ros mais conhecidos da revolu- ção cubana vitoriosa em 1959. Na cidade de Santa Clara, on- de há um memorial e um monu- mento a Che Guevara, a emoção de Che Lenin atinge o auge, pas- sando para o séquito de turistas de várias partes do mundo o seu fervor e a sua idolatria ao revolucionário e amigo número um de Fidel Castro. Ali, ele con- ta histórias e fantasia outras tantas sobre cada arma, cada roupa e cada detalhe do que fez o seu ídolo Che Guevara. Quando se viaja por Cuba, de Havana a Santiago, de Matan- zas a Santa Clara, de Trinidad a Cienfuegos, de Holguín a Vara- dero ou de Guantánamo a Viñales, ou ainda à mítica Sier- ra Maestra, sempre se está an- dando com Che Guevara. Ele é onipresente em tudo. Não há cubano que não o admire e o ame com uma paixão desenfrea- da e grandiosa. Não é por nada que ele é — ao lado de Fidel — o produto turístico mais consumi- do pelos turistas. Chaveiros, pos- tais, ímãs de geladeira, calendá- rios, CDs, pôsteres, livros e uma infinidade gigantesca de quinqui- lharias estão por todos os lados e produzem milhões de dólares para os cofres estatais. Os suve- nires são, de certa forma, irre- sistíveis e não há quem não com- pre por mais que possa ter algu- ma restrição à biografia do he- rói cubano, morto há 50 anos na Bolívia, quando estava envolvido em outra revolução. De Cuba, Che viajou pelo mun- do alguns anos depois da revolu- ção e de exercer vários cargos no governo de Fidel. A sua ima- gem viajou junto e virou ícone de gerações de jovens dos anos 60, 70, 80 e um pouco mais adiante, sedenta por justiça social, por mais equilíbrio econômico entre as pessoas e entre os povos e pe- lo fim de ditaduras que oprimiam e escravizavam nações. Morreu quando tentava outra revolução, mas a sua imagem e as suas fo- tos definitivamente ficaram na história por todos os lados do mundo, associadas a um objetivo maior: o livre transitar das ideias e o fim de qualquer opressão. Nesta edição do Caderno de Sábado, o jornalista Marco Auré- lio Villalobos, da Ong Pensamen- to.org, teve seus 30 minutos de entrevista com um dos irmãos mais novos de Che, Juan Martin Guevara, em Buenos Aires. “Na minha casa, nunca houve espa- ço para ideias conservadoras. Era uma casa muito politizada”, diz Juan, em trecho da entrevis- ta, para humanizar e fraternizar o mito. Juremir Machado da Sil- va entrevistou Flávio Tavares, o jornalista gaúcho que conheceu Che, em Montevidéu, em 1961. Também nesta edição, uma en- trevista com o Nobel da Paz de 1980, Adolfo Pérez Esquivel. HISTÓRIA 50 ANOS SEM CHE GUEVARA Argentino,motoqueiro,inquietoeidealista,oguerrilheiroqueajudou FidelCastroatirarFulgencioBatistadopodercubanoem1959,tornou-seuma lenda,umautopia,umíconedegeraçõesdejovensquequeriamummundo maisjusto.Portudoisso,esterevolucionário,mortoem9deoutubrode1967, virouumilustrehomemdahistória.OCSlembraohomemeomito EUGENIO BORTOLON CScaderno de sábado CORREIO DO POVO SÁBADO,7 de outubro de 2017
  • 2. ROBERTO SANTOS / DIVULGAÇÃO / CP MEMÓRIA JUREMIR MACHADO DA SILVA ENTREVISTA FLÁVIO TAVARES ‘Chedesmantelavaoadversáriosemagredir’ Jornalista e escritor consagrado, o gaúcho Flávio Tavares, nascido em Lajeado em 1934, costuma falar do que viveu. A ditadura militar implantada no Brasil em 1964 faria dele um preso, umtorturadoeumexilado. Em 1969, como um dos prisioneirostrocadospelo embaixadornorte-ameri- cano sequestrado Char- lesBurkeElbrick,foiviver no México. Um dos encontrosque marcaram a sua vida de jornalista aconteceu em 1961, em Montevidéu,ondeconhe- ceu Ernesto Che Gueva- ra. Passados 50 anos da execução do mítico revolucionário argenti- no, morto na Bolívia, em 9 de outubro de 1967, Flávio Tavares publica um belo livro intitulado “As três mortes de Che Guevara: 1. O disparo em Cuba2. A agoniano Congo 3. A execução na Bolívia” (L&PM) no qual analisa a importância do personagem e as razões de ter saído de Cuba para continuar a busca da sua utopiaemcondiçõesque nãopoderiamresultarem êxito.Nestaentrevistaao CadernodeSábado,Flávio Tavaresreafirma asua ad- miraçãoporumhomem que para alguns encarna o sonho de emancipação total do homem e a eterna e justificada busca da utopia e para outros não passa de umcomunista sanguinário. CADERNODESÁBADO Tavares sobre o que marcou no encontro com Che: ‘Mais do que tudo, a capacidade de ouvir e o estilo e tom do que dizia’ C aderno de Sábado – Eis um livro elegante, minucioso e amparado na leitura de outras obras e em encontros inesque- cíveis: com o próprio Che Gue- vara, em Punta del Este, com a mãe dele, em Porto Alegre, e com o ex-guerrilheiro Dariel Alarcón Ramírez, em Paris. Debulhadas essas preciosas referências e lembranças, quem foi Che? Um idealista? Um aventureiro? O verdadeiro revolucionário? Flávio Tavares – O ser hu- mano é sempre uma soma e Che encarnou as três situações, sem que uma exclua a outra. Foi idealista por ter uma meta, um ideal e, com ele, forjou um novo mundo. Um aventureiro por ter vivido a aventura maior de en- tregar a própria vida. A soma disso faz dele um revolucionário que se rebela contra um mundo que não distingue o justo do in- justo. Jean Paul Sartre dizia que o Che foi “o mais completo ser humano da nossa época”. CS – Che morreu três ve- zes? Por quê? Fidel foi o pri- meiro a matá-lo? Tavares – Sim, três vezes morreu. Primeiro, ao não poder levar adiante a revolução do “ho- mem novo” numa ilha pequena, pobre e monocultora. Enxotado de Cuba, foi ao Congo em busca da utopia e saiu por pressão dos soviéticos, que viam nele um adepto do modelo socialista chinês. Chegou à Bolívia às pres- sas, guiado por informações fal- sas da direção comunista bolivia- na, fiel a Moscou. Fidel não o matou, mas o sacrificou, o en- viou ao patíbulo para assegurar o apoio dos russos. CS – Muitos críticos do Che tentam apresentá-lo como um homem impiedoso, irascível e até preconceituoso com ho- mossexuais. No seu livro, ele é um ser irrequieto, um tanto desiludido com os rumos da revolução cubana e disposto a tudo para prosseguir sua luta. Che foi um revolucionário frio ou vítima da sua utopia? Tavares – Ele mesmo se defi- niu naquela frase “há que ser duro, mas sem perder a ternura jamais”. Impiedosa é a guerra, mais do que o guerreiro. Um so- brevivente da guerrilha me con- tou como ele era irascível e acho que a asma colaborava nis- so. Quanto ao homossexualis- mo, na época o preconceito era comum até entre os homosse- xuais. O Che talvez os evitasse, mas não os perseguiu. Se fosse um homem frio, teria eliminado os três majores que capturou na Bolívia. Conheci um deles, que se tornou “guevarista” anos após. Em plena Guerra Fria, Che foi vítima da disputa entre China e Rússia, gigantes comu- nistas da época e, assim, foi víti- ma da utopia. CS – Che morreu por estar mais perto da China maoísta que da União Soviética stali- nista? Tavares – Em termos políti- cos, sim. Os dois governos dispu- tavam o controle do “movimento comunista internacional”. A Chi- na era “Terceiro Mundo”, como a América Latina, e serviu de es- pelho ou modelo a Guevara. Mas a prepotência dos Estados Uni- dos tinha feito de Fidel um ser- vo da superpotência soviética. CS – Por que mesmo era de- sinteressante para a URSS apoiar mais uma revolução co- munista na América Latina? Tavares – Na “convivência” da Guerra Fria, a área de in- fluência da URSS era a Europa Oriental, a dos Estados Unidos era a América Latina. Os comu- nistas cubanos só apoiaram Fi- del ao final da luta. O Kremlin ganhou Cuba “de presente” quando a reforma agrária expro- priou a norte-americana United Fruit, mas já não se interessava em derrubar o capitalismo. Que- ria apenas comerciar, comprar e vender. CS – Como entender que um revolucionário experiente tenha cometido tantos erros na sua luta no Congo e quase os mesmos erros na Bolívia, país onde se instalou às pres- sas e no lugar inadequado? Tavares – Esta pergunta ex- plica, por si só, tudo o que conto no livro. Sob pressão, Che sai de Cuba às pressas, sem que os guerrilheiros do Congo soubes- sem que era ele, e lá foi sempre um clandestino. Depois, apren- deu quéchua para ir à Bolívia, mas – por indicação do líder co- munista boliviano – foi dar na zona de idioma guarani e híper conservadora, com armas ve- lhas e meia dúzia de bolivianos. E sem qualquer contato com a população. Quem está em fuga e sob pressão, improvisa e fanta- sia tudo para fugir à dor da rea- lidade. CS – Passados 50 anos da morte do Che, por que ele vive tão intensamente no imaginá- rio de tantas pessoas pelo mundo? Tavares – Pelo sacrifício, pe- lo gesto de se imolar por uma causa sem nada pretender para si, além da causa. Al- guém pode imaginar Che Guevara trôpego, com gota, caminhan- do com dificuldade, tratado com antibióti- cos e morrendo na ca- ma, velho e alquebra- do? Teria ele o respei- to que, hoje, tem até dos adversários? CS – O que o marcou mais no seu encontro com Che em 1961? Tavares – Mais do que tudo, a capacidade de ouvir e o estilo e tom do que dizia. Profundo e simples, com uma ironia didáti- ca que convencia por um lado e, por outro, desmantelava o adver- sário sem agredir. As recepcio- nistas da conferência, todas da oligarquia uruguaia, literalmen- te se apaixonaram por ele, a co- meçar pela elegante displicência da túnica guerrilheira numa reu- nião de engravatados ministros. CS – O tempo das revolu- ções acabou definitivamente? Tavares – Hoje, na sociedade de consumo a grande revolução é ter o celular de última gera- ção, o computador e o carro mais moderno e extravagante. A revolução passou a ser isso e a utopia é ter tudo isso. Os gran- des valores desapareceram da política e do dia a dia. Pensar e raciocinar dá preguiça e quere- mos ser robô para que a máqui- na pense por nós. CS – Che é um persona- gem que ainda lhe parece ad- mirável? Tavares – Cada vez mais ad- mirável, até na ingênua boa-fé com que acreditou em mentiras ou ilusões. É claro que teve er- ros, e muitos. Perfeitos são ape- nas os anjos, que – se existem – não são terrenais e vivem no Pa- raíso, muito longe daqui. CS – Che Guevera morreu em 8 ou 9 de outubro de 1967? Tavares – A data EXATA da execução é 9 de Outubro, ainda que haja discussões sobre isto, pois o dia 8 ficou marcado co- mo tal. Dia 8 é a data do feri- mento e captura em 1967. Anos mais tarde, o cubano agente da CIA Félix Rodríguez colocou os pontos nos ii ao explicar deta- lhes que os generais bolivianos escondiam, como a execução do prisioneiro. Até Rodríguez mostrar as fotos do quase irre- conhecível Che, de mãos atadas e preso, ele “havia morrido em combate”. SÁBADO,7 de outubro de 2017
  • 3. RODRIGO VILLALOBOS / PENSAMENTO / CP MEMÓRIAS DE UM IRMÃO Mortedeumhomem,nascimentodeummito EmBuenosAires,o irmãodeChefalade acertoseerrosdo comandanteedoseu ladohumanoefamiliar CADERNODESÁBADO MARCO ANTÔNIO VILLALOBOS * De Buenos Aires | Argentina E rnesto ou Che? Irmão ou Comandante? Cinquenta anos após a morte do símbolo que desperta, até hoje, amor e ódio, fomos até Buenos Aires para descobrir co- mo era a relação de um revolu- cionário com a sua família. “Ele como o irmão, 15 anos mais ve- lho, não era daqueles que que- ria ser como teu pai ou do tipo que fica o tempo inteiro te con- trolando. Pelo contrário. Era um companheiro, um amigo com quem se divertir”. A frase pode- ria definir apenas uma forma de relação existente em várias famí- lias, a diferença é que não esta- mos falando de um irmão qual- quer. O depoimento de Juan Martin é sobre ninguém menos do que um símbolo para milhões de pessoas, por várias gerações, nos quatro cantos do mundo: o mítico Ernesto Guevara de la Serna, o Comandante Che. O simpático e falante Juan nos re- cebe em seu pequeno escritório no coração de Buenos Aires, na esquina das avenidas Corrien- tes e 9 de Julho. Com 74 anos, ele é o mais novo de cinco ir- mãos (além de mais três do se- gundo casamento do pai). Logo no início da conversa explica que ser irmão de um persona- gem que povoa a imaginação de todos os românticos que so- nham com um mundo mais igual, mas que ao mesmo tem- po é motivo de ódio para quem prefere manter as desigualda- des, não é ser o irmão de qual- quer um. “Ser irmão do Che é sempre chamar atenção”. Isto há muito tempo faz parte de seu dia a dia. “Quando me apresentam pa- ra alguém e anunciam que sou irmão do Che vem a surpresa acompanhada da indefectível pergunta: mas irmão de pai e mãe?” Juan conta que em segui- da muitos ainda ficam em dúvi- da e fazem uma espécie de teste visual o revisando de cima a bai- xo, muitas vezes, “pensando, acho eu: mas ele não pode ser ir- mão do Che”. O revolucionário deve muito da sua forma de pen- sar e agir em função das circuns- tâncias de sua família, somadas ao contexto internacional de um mundo onde a Guerra Fria se mostrava cada dia mais quente. “Nossa família era muito ativa politicamente do ponto de vista da discussão, da abertura e de estar discutindo sempre o que estava acontecendo em todo o cenário mundial”, destaca Juan. A América Latina garroteada por ditaduras ou, no mínimo, por regimes que flertavam aber- tamente com a falta de liberda- de, cobrou um alto preço para quem levava na assinatura o so- brenome Guevara. Não são pou- cas e muito menos agradáveis as lembranças de Juan. Na Ar- gentina, depois da década de 30, virou moda a predominância de governos que nem de perto pode- riam ser considerados democrá- ticos. “Para nós as coisas piora- ram a partir do momento em que o Che se envolveu na Revo- lução Cubana”. Na década de 60 a residência dos Guevara, em Buenos Aires, sofreu atentados com bombas e também foi metra- lhada. “Na minha casa nunca houve espaço para ideias conser- vadoras. Era uma casa muito po- litizada, mas não por um parti- do especificamente”. Exemplos de luta são fáceis de encontrar entre os Guevara. Um tio lutou em uma Brigada Internacional a favor da República e contra o fascismo na Guerra Civil Espa- nhola; a mãe sempre foi solidá- ria com as lutas populares; o pai, um tipo que rompia com os esquemas tradicionais da época; o irmão Roberto foi preso no Mé- xico, e Juan, por mais de oito anos, foi o prisioneiro número 449 da ditadura argentina. A vitória dos “barbudos” com a fuga do ditador cubano Fulgêncio Batista para os Esta- dos Unidos no primeiro dia de 1959 proporcionou o tão espera- do encontro de toda família em sete anos. Juan não via o irmão desde 1953, quando ele estava entre a Guatemala e o México em mais uma de suas frequen- tes viagens. Em Havana, onde o povo comemorava o final de uma ditadura que deixou pelo menos 20 mil mortos, percebeu uma grande mudança. “As lutas revolucionárias dele fizeram com que eu deixasse um irmão e encontrasse um comandante”. Juan tinha que tratar Che como comandante, mas no pouco tem- po que conseguiam ficar sozi- nhos a conversa era com o Er- nesto. “Era um bate-papo com muita alegria quando ele me per- guntava coisas de Buenos Aires e mostrava também sua preocu- pação sobre o que eu gostaria de fazer de minha vida”. O sorriso se abre, e nem os 58 anos que separam 1959 de 2017 conseguem diminuir o bri- lho nos olhos de Juan ao lem- brar, como se fosse um filme, da- quele momento único vivido pe- los cubanos. Estavam em um ho- tel que se chamava Hilton e ago- ra é Habana Libre. O térreo era como se fosse um quartel gene- ral dos revolucionários: todos ali com seus uniformes esfarrapa- dos pelas lutas que enfrentaram na serra. De repente passa por ali Errol Flynn, um dos grandes artistas da história do cinema, lado a lado com um grupo de guerrilheiros. “Eu acho que ele não estava entendendo nada”, lembra Juan. Mas o tempo de sorrir durou pouco para família e mais uma vez o Che cometeu o que era avaliado como um er- ro por seu companheiro de luta, Fidel Castro. Juan reforça que o cubano sempre dizia que “Gue- vara não deveria meter-se de peito aberto em tudo.” Passados 50 anos de sua morte o que pa- ra Fidel foi uma falha, para o ir- mão do Che não deixa de ser uma virtude. “Os dirigentes de- vem se envolver diretamente na luta, meter os peitos. Quem man- da nos outros são os políticos. Estar na frente, como ele sem- pre esteve, também é saber que pode morrer e foi isto que acon- teceu”. Para Juan, o erro cometi- do por Guevara foi ter confiado no Partido Comunista Boliviano que, por estar seguindo a linha política e estratégica utilizada na época pela União Soviética, acabou traindo o revolucionário argentino. Um dia era verdade Falta de apuração adequada, estratégia para vender jornal e até mesmo desejo de uma im- prensa cuja linha editorial se misturava com os ideais das di- taduras que vigoravam na épo- ca. Qualquer que seja o motivo, o certo é que se dependesse de parte da mídia, Ernesto Che Guevara seria o homem que morreu várias vezes. Juan desta- ca que as notícias eram as mais alarmantes possíveis: “todo gru- po aniquilado e entre eles sem- pre um médico argentino”. Mas no dia 9 de outubro de 1967, a informação era correta. Depois ter sido capturado pelos Ran- gers, grupo de elite do exército boliviano, treinado e assessora- do por americanos, no dia ante- rior, durante um combate no vi- larejo de La Higuera, Guevara foi executado com uma rajada de metralhadora no interior de uma pequena escola local. A or- dem partiu do próprio presiden- te da Bolívia, general René Bar- rientos. Juan lembra como se fosse hoje. “Dia 10 eu estava saindo bem cedo para o trabalho quan- do chegou a notícia e junto com ela as fotos. Eu logo reconheci que era ele”. Por ser o irmão mais velho, e também pela condi- ção de advogado, Roberto Gue- vara viajou para o reconhecer e providenciar a volta do corpo pa- ra Argentina. A viagem não sur- tiu o efeito desejado. O chefe mi- litar local disse que não havia corpo e que a solução só pode- ria ser dada pelas autoridades em La Paz. Na capital, Roberto recebeu a informação que o cor- po já estava enterrado. Juan conta que o irmão respondeu que se o corpo estava enterrado e ele não pudesse vê-lo então consideraria que não era o Che. Qualquer dúvida que ainda pu- desse existir acabou quando os cubanos confirmaram a morte. Guevara foi enterrado junto com outros sete guerrilheiros em uma cova anônima ao lado da pista do pequeno aeroporto de Vallegrande. Durante 30 anos o local de seu sepultamento foi mantido sob o mais absoluto si- gilo, que acabou sendo quebra- do por um general reformado do exército boliviano. Após escava- ções, peritos argentinos e cuba- nos encontraram os restos mor- tais que hoje estão enterrados em um mausoléu na cidade cubana de Santa Clara, onde pe- la última vez os dois amigos re- volucionários Fidel e Che se en- contraram em 1966. Missão cumprida As paredes do escritório de Juan cobertas com fotos e carta- zes do irmão são a prova contun- dente de sua admiração, comum a milhões de pessoas em todo mundo. A relação familiar certa- mente garante uma situação muito especial: “para mim, Er- nesto é meu irmão de sangue. Che é meu companheiro de ideias.” O legado ele define co- mo as melhores alternativas que surgem a partir do pensamento e da forma de agir do irmão. “Em 63 ele disse: somos mar- xistas porque é o mais próximo que se chega hoje em análise so- cial e política.” Juan defende que também as novas gerações devem pensar no marxismo, no leninismo e no guevarismo co- mo forma de alcançar o que seu irmão definia como o Ho- mem Novo, um revolucionário que deve trabalhar toda sua vi- da em nome do bem estar so- cial. Como guevarista, deseja: “O feudalismo esperou mil anos para ser derrubado pelas revo- luções burguesas. A esperança é que não tenhamos que espe- rar até 2600 para que termine este sistema de domínio globali- zado”. O caminho foi apresenta- do pelo Che que segundo Juan “se definiu marxista, leninista e só não se declarou guevarista apenas por um detalhe. Ele era Che Guevara”. * Jornalista da Pensamento.org Juan Guevara: ‘Na minha casa nunca houve espaço para ideias conservadoras. Era uma casa muito politizada’ CORREIO DO POVO