Michael Phelps e outros atletas olímpicos utilizam tecnologias avançadas em sua preparação para os Jogos de Londres, como câmaras hiperbáricas e roupas leves desenvolvidas com tecnologia. Exames médicos também monitoram a saúde dos atletas e podem indicar lesões. Muitas modalidades usam tecnologia na base para identificar talentos.
1. 12
e special
DOMINGO, 17 DE JUNHO DE 2012 -
Atletas na era tec
preparo: Michael Phelps e
o quarto bolha onde "treina"
a respiração enquanto dorme
RE
PR
OD
UÇ
ÃO
Às vésperas
dos Jogos
Olímpicos,
esportistas
contam com
avançados
equipamentos
e roupas para
"turbinar" seu
desempenho
e chegar ao
pódio em
Londres
Fernando Poffo
fernando.poffo@folhauniversal.com.br
M
aior campeão
olímpico
da
história,
com
14
medalhas
de ouro, o nadador norte-americano Michael Phelps
foi o mais rápido do mundo
em oito provas na Olimpíada
de Pequim, em 2008. Seu desempenho foi considerado o
mais avassalador de um atleta
nas 26 edições já realizadas
dos Jogos Olímpicos – e o fato
de ele ter usado um maiô com
tecnologia avançada, desenvolvido por engenheiros da
agência espacial americana
Nasa, causou polêmica.
A partir do dia 27 de julho,
Phelps estará nos Jogos Olímpicos de Londres, mas ele e
os demais nadadores terão de
usar sungas ou bermudas. O
supermaiô, criado para dar
maior estabilidade ao corpo
e reduzir o atrito com a água,
foi banido pela Federação Internacional da Natação em
2010. Nada, no entanto, que
impeça o campeão olímpico
e outros atletas de usarem os
avanços tecnológicos durante
os treinos e nos dias de provas.
Phelps se prepara há mais
de 1 ano para a competição
de uma maneira inusitada. Ele treina até enquanto
dorme. A cama do nadador
fica dentro de uma câmara hiperbárica, que simula a
respiração na altitude (entre
8,5 mil e 9 mil pés), situação
que deixa o ambiente com
uma menor quantidade de
oxigênio. “Isso é algo muito
importante para mim, pois
agora eu estou mais velho e
cÂMARA USADA POR
MICHEL PHELPS,
PARA SIMULAR
RESPIRAÇÃO NA
ALTITUDE, CUSTA
CERCA DE r$ 30 MIL
não me recupero tão rápido
quanto estava acostumado”,
disse o norte-americano, de
27 anos, em entrevista ao jornal americano “USA Today”,
antes de lamentar por ver a
TV embaçada de dentro da
espécie de “caixa gigante” de
vidro em que dorme.
O custo da câmara usada
por Phelps é de 15 mil dólares
(cerca de R$ 30 mil), investimento que pode fazer a diferença para o maior campeão
olímpico quebrar o recorde do
total de medalhas em Olimpíadas, que atualmente pertence à
ginasta russa Larissa Latynina
(9 medalhas de ouro, 5 de prata e 4 de bronze). Phelps tem,
além dos 14 ouros, 2 bronzes,
e precisa subir ao pódio mais
3 vezes, pelo menos, para ser
o maior medalhista da história
dos Jogos Olímpicos.
Na disputa, o nadador vai
encarar atletas que também
2. especial
13
afp
- DOMINGO, 17 DE JUNHO DE 2012
fica que o atleta poderá ter
uma lesão se fizer um treino intenso ou disputar uma
partida”, afirma.
Souza explica que o aparelho é apenas um dos vários
exames feitos por médicos do
esporte, profissionais intimamente ligados ao desempenho
de cada atleta. “A influência é
muito grande, porque ele não
atua apenas na prevenção e no
tratamento da lesão, ele fica
responsável por monito-
ae
cnológica
futebol no Brasil, por exemplo, um equipamento que
serve para medir a dosagem
de uma enzima do sangue,
a CPK”, diz o presidente da
Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte (SBMEE), Jomar Souza. “Depois do treinamento
ou de uma partida, tira-se
uma gotinha no aparelho.
Se a CPK estiver elevada é
um indicador de estresse ou
fadiga muscular, o que signi-
Performance monitorada
Não existe seleção com alto
rendimento sem o auxílio da
ciência. A afirmação é do médico Rodrigo Gerbara, da seleção feminina de basquete.
aparelho
ajuda medicina
do esporte a
identificar
estresse ou
fadiga muscular
m
Segundo ele, uma série de exames preventivos são feitos antes
de grandes competições. Nos
próprios locais de jogos, diz ele,
a Confederação Brasileira de
Basquete (CBB) mantém ao menos uma
damiris dantas:
Participação de ginecologista
sala como base para
é fundamental para ela
o pronto atendimento
dos atletas. “A recuperação deve ser a mais
rápida possível, se
ocorrer alguma lesão”, diz Gerbara.
A
atuação
dos médicos é
tão importante
junto aos atletas que alguns
têm em mãos
até um aparelhinho capaz de
influenciar mais
do que o próprio é oura
treinador na hora da
escalação da equipe. “Hoje
é muito comum em clubes de
dr
an
esbanjam tecnologia em sua
preparação e que igualmente
utilizam a altitude para treinar.
Além das particularidades da
modalidade – como tecnologia
para melhorar a qualidade da
água, o bloco de partida e até as
transmissões de televisão, com
luzes que vão ser acesas para
mostrar os três primeiros colocados ao final da prova, e a linha
do recorde em tempo real –, os
atletas têm à sua disposição uma
equipe formada por médicos,
comum em todas as modalidades, para ajudar na preparação
física, com psicólogos, nutricionistas, técnicos, fisioterapeutas,
fisiologistas e até profissionais
de áreas mais específicas da medicina, caso o atleta precise de
atenção especial.
3. especial
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afp
14
rar uma série de parâmetros
para melhorar a performance,
analisar aptidão física, fazer
exames e testes laboratoriais
para prevenir lesão muscular
e acompanhar a recuperação,
além de ajudar no desenvolvimento de equipamentos de
atividades esportivas e até de
roupas e calçados.”
No caso da seleção feminina
atendida por Rodrigo Gerbara,
a equipe interdisciplinar conta
ainda com uma ginecologista – além do tradicional estafe
de quase todas as modalidades.
“É superimportante esse atendimento para prevenir lesões e
para melhorar o rendimento. E
no trabalho com a ginecologista, eu já aviso que prefiro jogar
sem TPM, senão eu fico muito
chorona”, confidencia a maior
nas quadras. “No meu caso,
a medicina ajuda em 50% do
meu jogo. Os outros 50% são
a minha técnica”, mensura a
jogadora, que também está na
fase de preparação final para
os Jogos Olímpicos de Londres,
capital da Inglaterra.
Exames revelam talentos
Muitas vezes, o trabalho
com os atletas que chegam à
Olimpíada para conquistar
uma medalha começa bem
cedo. E é comum já haver
um trabalho na base para caçar talentos. A Confederação
Brasileira de Tênis (CBT), por
exemplo, de olho na Olimpíada de 2016, passou a realizar
com os atletas da base o exame
de dermatoglifia, já comum
na formação de craques
do vôlei, esporte que está
entre os que mais evoluíram no Brasil nas últimas 2 décadas.
“A dermatoglifia é
um exame no qual a
promessa do basquete nacional, a jovem
iziane marques:
Damiris Dantas, de
Medicina responde por 50%
19 anos, referindo-se
de sua atuação nas quadras
ao trabalho feito pela
ginecologista da CBB
e da Universidade Federal de São Paulo
(Unifesp), Tathiana Parmigiano.
Uma
das
principais jogadoras da seleção brasileira
de
basquete,
a ala Iziane
Marques é outra que reconhece
a importância do
acompanhamento méra
ou
ém
ndr
a
dico na sua performance
divulgação
CONFEDERAÇÃO
DE Tênis utiliza
coleta de digitais
para investigar
o potencial
de atletas
gente coleta as digitais dos atletas para investigar as variáveis
genéticas de cada um para tentar determinar as características relacionadas com as potencialidades físicas aproximadas,
pois já coletamos as digitais dos
maiores tenistas do Brasil nos
últimos 10 anos para servir de
referência”, explica o coordenador do Núcleo de Ciências
Aplicadas ao Tênis da CBT,
Mark Caldeira, indicando que
as digitais poderão apontar, por
exemplo, se o tenista tem boa
resistência ou não, fator que
poderá ser explorado ou aperfeiçoado em seu jogo.
Mark acrescenta que a
CBT, em parceria com seis
universidades, faz outros trabalhos para lapidar os futuros
tenistas, como análises psicológicas de cada jogador, uma
questão bem importante no
tênis, esporte em que a tecnologia está presente em equipamentos desde a base, com
bolas mais lentas sendo
COMUM EM
MODALIDADES DE
VELOCIDADE, EXAME
VO2 MEDE CONSUMO
DE OXIGÊNIO NO
ORGANISMO
Se você tem informações sobre alguma criança desaparecida, entre em contato com o
S.O.S. Criança Desaparecida: Rua Voluntários da Pátria, 120 – Botafogo – Rio de Janeiro.
Tel.: (21) 2286-8337 - email: soscriancasdesaparecidas@fia.rj.gov.br
fotos: arquivo
sos criança desaparecida
DERMATOGLIFIA: Exame que capta digitais indica
se tenista tem ou não boa resistência
Alex Moreira da Silva
(17 anos)
Desap: 6/1/2012
Zona oeste (RJ).
Saiu de casa e não
retornou
Gessilene de Aquino
Souza Basilio
(13 anos)
Desap: 28/9/2011
B. Fluminense (RJ). Saiu
de casa e não retornou
Larissa Gonçalves
Santos
(16 anos)
Desap: 31/1/2008
Zona norte (RJ).
Rapto por estranho
Lucas Gomes
(13 anos)
Desap: 7/7/1998
Zona norte (RJ). Rapto
por estranho
Mariana Zheng
(13 anos)
Desap: 15/2/2009
Zona norte (RJ).
Rapto por estranho
Rafael Ramos da Silva
(16 anos)
Desap: 14/12/2007
Zona norte (RJ). Saiu de
casa e não retornou
Ricardo S. M. Silva
(17 anos)
Desap: 25/1/2011
Zona oeste (RJ).
Saiu de casa e não
retornou
Sabrina Portela
Martins
(15 anos)
Desap: 15/2/1998
Centro (RJ). Rapto por
estranho
Tais Bernardino
dos Santos
(16 anos)
Desap: 24/1/2006
Centro (RJ).
Rapto por estranho
Thays Cristina
de Souza Monteiro
(14 anos)
Desap: 5/11/1998
Zona oeste (RJ).
Subtração de incapaz
4. especial
15
fotos: divulgação
- DOMINGO, 17 DE JUNHO DE 2012
usadas nas competições
entre iniciantes, e vistas nas
raquetes, calçados e até nas
quadras dos grandes torneios
– onde até a reprise é utilizada para validar ou não um
ponto, quando é solicitada
por um tenista.
Outros exames comuns
em várias modalidades desde a base são o percentual de
gordura ou ainda o VO2, que
mede o consumo máximo de
oxigênio do organismo e indica se o garoto tem potencial
para ser um velocista para
provas de curtas distâncias ou
se tem resistência para disputas como maratona – ou ainda se terá fôlego para atuar no
futebol como zagueiro, lateral
ou atacante, funções que exigem mais ou menos esforço.
Acessórios e roupas leves
Assim como no trabalho de
base, na preparação e na medicina, a tecnologia em equipamentos é outro ponto que
pode ser decisivo. No ciclismo, por exemplo, bicicletas e
equipamentos ultraleves como
roupas e capacetes foram testados à exaustão em túneis de
vento para serem utilizados na
modalidade que está entre as
que mais distribuem medalhas
entre provas de estrada, pista,
mountain-bike e BMX.
“A tendência é buscar os
equipamentos mais leves e rígidos. Atualmente o carbono
está muito presente, principalmente no quadro das bicicletas de speed e mountainbike, sendo mais fino e leve. A
aerodinâmica das bicicletas e
do próprio atleta são importantes, assim como a tecnologia dos pneus, mais finos, além
do capacete e de roupas que
ultraleves: Tecnologia
usada na confecção de
roupas prioriza leveza e
flexibilidade de materiais
no ciclismo. O quadro das
bicicletas, por exemplo,
é feito de carbono. No
atletismo, os tênis e os trajes
também são mais leves e
feitos sob medida
BICICLETAS DE ALTO
RENDIMENTO
CUSTAM r$ 40 MIL E
pesam ATÉ 7 quilos.
AS CONVENCIONAIS
PESAM O DOBRO
gerem menos atrito”, analisa
o diretor de produto e marca da Caloi, Eduardo Rocha.
Segundo ele, uma bicicleta de
alto rendimento custa R$ 40
mil e pode pesar até 7 quilos,
metade do peso das convencionais. As convencionais, por
outro lado, custam menos de
R$ 800. “Os ciclistas ainda
têm equipamentos de monitoramento de treino e provas,
como um computador de
bordo, para avaliar cada movimento e ajudar a melhorar
o desempenho.”
Se a bicicleta e as roupas
serão importantes no ciclismo,
no atletismo há até uma marca
esportiva prometendo ajudar
no desempenho em razão da
tecnologia empregada nas roupas que serão usadas por corredores. “Em um esporte em
que o mínimo de peso faz uma
diferença muito grande, vários
testes são feitos em laboratórios
para se conhecer o movimento
do corpo de cada atleta para
justamente usar o mínimo de tecido e também colocar o tecido
no lugar certo, para evitar que
o movimento do competidor fique limitado. São detalhes que
podem fazer a diferença entre
ganhar ou não uma medalha”,
diz o gerente da Mizuno, Rogério Barenco, apontando ainda
para a grande influência dos
calçados nas corridas.
CONSUMIDOR
SE BENEFICIA AO
COMPRAR PRODUTOs
TESTADOs Por
ATLETAS em grandes
competições
“Na pista, os calçados têm
cravos e na maratona, não. Nos
dois casos busca-se o mínimo de
tecido, o máximo de leveza e a
flexibilidade na medida certa.
Como os atletas têm a postura
correta, basta o mínimo
de firmeza e não precisa
de tanto amortecimento
porque ao amortecer perde-se
tempo”, diz Barenco, ao citar
que a tecnologia para absorver
impacto é mais empregada em
tênis feitos para atletas de
vôlei ou para serem vendidos ao consumidor,
que acaba sendo beneficiado com os
produtos testados
nos atletas e que
depois são colocados no mercado. “A tecnologia
que hoje rende
medalhas a superatletas também vai
servir ao consumidor
no futuro.”